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Resumo
Introdução
A sociedade contemporânea, centrada no mercado, tem sido impactada por rápidas e
profundas mudanças impulsionadas pelo desenvolvimento científico-tecnológico e pelo
acirramento da competitividade em escala global, os quais incidem nas atividades
econômicas, sociais, culturais, políticas, no mercado de trabalho e no cotidiano das
organizações.
As Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras são organizações que não escapam a esse
movimento. Desde os anos 70, com a crise do petróleo, as políticas educacionais têm sido
fortemente influenciadas pela ideologia neoliberal, que propõe a privatização do ensino médio
e superior, e restringe a ação do Estado à garantia da educação básica, deixando os outros
níveis de ensino sujeitos às leis da oferta e da procura.
Nesse cenário, mudanças nas IES se fazem sentir, e aquele que ensina (professor) passa a ser
visto, por muitos, como um prestador de serviço; quem aprende (aluno), como um cliente; e o
ensino, como um produto a ser oferecido ao mercado; no caso, à sociedade. Tal como no
século passado Bresser Pereira (1998), em sua proposta de uma administração pública
gerencialista, inspirada no mercado, cunhou a expressão ‘cidadão-cliente’, muitos nas IES e
fora delas cunharam a expressão ‘aluno-cliente’.
Essa nova maneira de ver o aluno tem sido objeto de polêmica na comunidade acadêmica. De
um lado, instituições de ensino e seus gestores, ao abraçarem o conceito de ‘aluno-cliente’
enfatizam a dimensão econômica, na qual a educação é vista como uma commodity. Advogam
para o aluno o status de cliente a quem devem ser concedidas as prerrogativas que, como tal,
lhe são próprias. Do outro lado, muitos dos professores, como corresponsáveis pela formação
de pessoas capazes de pensar com profundidade e coerência, levantam suas vozes para
defender uma educação-cidadã, que leve em conta os direitos dos indivíduos, sem subestimar
seus deveres. Apóiam-se em uma tradição educacional que vê o aluno como construtor de seu
existir, a partir da relação ensino-aprendizagem.
Diante desses dois posicionamentos, pergunta-se: Mas, afinal, aluno é cliente? Não é? Por
quê? A busca de resposta para essas questões foi o objetivo das reflexões e argumentações
PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2002) apresentadas neste ensaio teórico, e
amparadas em posicionamentos acerca da educação proporcionada pelas IES à luz do
mercado e sua competitividade; em concepções pedagógicas da educação brasileira, em
explicitações sobre o papel do aluno no âmbito do processo educativo, e na concepção de
‘aluno-ciente’. Tais posicionamentos são apresentados nas seções a seguir, bem como as
conclusões a que o estudo chegou, as quais respondem às questões formuladas.
Na atualidade, observa-se que IES passam a se preocupar não somente com a geração e
transmissão do conhecimento e a formação acadêmica de alto nível; elas incorporam valores e
práticas do mundo dos negócios. Sguissard (2000) destaca que o discurso institucional parece
alinhar-se aos pressupostos neoliberais de educação profissional, com ênfase na eficiência, na
concorrência e no individualismo, no qual o ensino é visto como mercadoria e a educação
como um negócio.
A qualidade educacional passa cada vez mais a ser associada aos princípios mercadológicos
de produtividade e rentabilidade, fazendo emergir a lógica da concorrência entre IES. Tal qual
uma mercadoria exposta em uma prateleira de supermercado, essas instituições precisam
revelar seus atributos tangíveis (recursos materiais e humanos) e intangíveis (qualidade,
imagem, legitimidade, experiência, credibilidade), que lhes possibilitem enfrentar os desafios
de um mercado em ebulição e garantir vantagens competitivas.
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Uma possível ênfase dada ao mercado e a tendência a considerar a educação como
‘mercadoria’ ressaltam um processo muito mais amplo de transformação do setor
educacional, contribuindo para o acirramento do nível de competitividade entre as IES
brasileiras, particularmente as de natureza privada. É crescente a oferta de cursos presenciais e
a distância e a produção de materiais instrucionais sob a forma de livros, apostilas e softwares.
Às IES se acrescente o surgimento de empresas de avaliação e consultorias especializadas que
prestam assessoria para ingresso de empresas educacionais no mercado financeiro,
destinando, ainda, recursos para a educação.
Nesse contexto, IES são obrigadas a rever sua missão e seus processos. Embaladas pelos
princípios, instrumentos e estratégias de marketing, os quais preconizam que ‘clientes devem
ter suas necessidades e expectativas satisfeitas’, ou, ainda, que ‘os clientes têm sempre razão’,
IES buscam melhorar sua imagem no mercado e na sociedade e, assim, garantir sua
sobrevivência e obter vantagem competitiva.
As visões críticas de Gentili (2000) e de Alcadipani e Bresler (2000) pontuam que quando
uma instituição de ensino direciona seu compromisso para o mercado, o sentido de qualidade
se conecta com as vantagens competitivas e com a ideia de diferenciação, o que reforça a
imagem de ‘macdonaldização do ensino’, a qual privilegia a ‘pedagogia fast food’ e ignora a
necessidade de uma educação sedimentada em valores humanos.
Ao perceber educação como um serviço, Alves (1995) o representa graficamente por uma
forma concêntrica, constituída de um serviço central (programas e cursos, em geral); serviços
periféricos (secretaria, reprografia, biblioteca, cantina), e serviço global (acesso às
instalações, acompanhamento do desempenho do aluno e de suas condições financeiras para
acompanhar os cursos, credibilidade dos cursos, entre outros).
Engel, Blackwell e Miniard (2000) destacam como atributos que influenciam os ‘clientes’ na
escolha de um serviço educacional: a infraestrutura física e tecnológica, a imagem
institucional, a titulação e experiência acadêmica e profissional do corpo docente, a grade
curricular e programação do curso (tempo e duração, exigências, custos e formas de
pagamento, qualidade do atendimento), e a qualidade do processo ensino-aprendizagem, entre
outros.
Essa escolha, porém, depende do valor atribuído pelo ‘cliente’ ao serviço oferecido; ou seja,
da “percepção do consumidor sobre o que ele deseja que aconteça em uma específica situação
de uso, com a ajuda de algum produto ou oferta de serviço, no sentido de alcançar alguma
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proposta ou meta” (Woodruff; Gardial, 1996, p. 54). Portanto, essa valoração não é
determinada pelo prestador de serviços, mas pelo próprio ‘cliente’, mediante transformação
dos atributos desses serviços, como resultado de um uso relevante. Nessa perspectiva, o poder
de competitividade de uma IES encontra-se intimamente relacionado ao valor fornecido por
ela, entendido como diferença entre o valor percebido pelo ‘cliente’ e o preço por ele pago.
Xavier (1996) sustenta que, na avaliação da qualidade da educação devem ser consideradas
seis dimensões: a qualidade política e essência do serviço educacional prestado, os custos, o
atendimento dispensado aos clientes internos e externos, o moral dos profissionais que dele
fazem parte, a segurança intrínseca e extrínseca desses agentes além da ética.
Cristaliza-se a ideia segundo a qual a escola é o centro do saber, com funções bem definidas e
normas disciplinares rígidas, cuja função é preparar o indivíduo para a sociedade. O processo
educativo não tem compromisso com o cotidiano do aluno nem com as realidades sociais; seu
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foco é o conhecimento teórico. Como receptor da mensagem, cabe ao aluno a assimilação dos
conteúdos transmitidos, e ao professor, autoridade máxima, a responsabilidade de ensinar.
O apreender é visto como um ato interior do indivíduo, que surge de um processo ativo, o
qual precisa ser desenvolvido e amadurecido: a autoeducação. Nesse contexto, cabe ao
professor o mero papel de ‘facilitador’, devendo propiciar as condições ambientais favoráveis
à aprendizagem. Como pontua Saviani (1997), a ação do professor consiste em orientar e
estimular a aprendizagem, cuja iniciativa principal cabe aos alunos. Entre esses dois agentes
estabelece-se uma relação viva. Mais importante do que os conteúdos, são as relações
interpessoais.
A escola funciona como uma agência na qual se aplica o modelo empresarial, mediante a
divisão nítida entre planejamento e execução, e se enfatiza o uso da tecnologia educacional. O
professor tem como função selecionar, estruturar e aplicar um conjunto de meios que
garantam a eficiência e eficácia do processo ensino-aprendizagem, o qual tem como meta a
busca por comportamentos desejáveis, a partir de objetivos operacionalizados e categorizados.
Ao aluno, destinatário do material preparado pelo professor, cabe a execução das tarefas de
forma eficiente e produtiva.
Nesse contexto, as práticas escolares são direcionadas para o ‘aprender a fazer’, e privilegiam
aspectos metodológicos em detrimento dos conteúdos programáticos. Programas de ensino
valem-se de tecnologias como instrução programada, computadores, máquinas de ensinar,
entre outros, como recursos de ensino. Para Saviani (1997, p. 21-25):
[...] na abordagem tecnicista o elemento principal passa a ser a organização dos meios,
ocupando professor e aluno posição secundária (...); é o processo que define o que professores
e alunos devem fazer, e assim também o que e quando o farão (...).
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exemplo do computador, “recebe, inicialmente, registros sensoriais que são processados e
armazenados na forma de esquemas, os quais são reativados e reestruturados no processo de
aprendizagem, e recuperados, quando necessário” (Filatro, 2004, p. 81).
Nessa concepção, a escola oferece condições aos alunos para que aprendam por si próprios,
dando-lhes liberdade real e material, mediante um ambiente desafiador, que lhes desperte a
motivação. Os indivíduos desempenham papel ativo no processo educativo, mediante
observação, comparação, análise, síntese, experimentação, contraponto e questionamento,
entre outras ações. O professor, como problematizador, desafiador, orientador, estimula o
desenvolvimento da colaboração e da cooperação. O processo educativo privilegia o
desenvolvimento da inteligência, enfatizando o trabalho em equipe, jogos, pesquisa, e
solução de problemas, tendo em vista o desenvolvimento da capacidade de ‘pensar’.
[...] a educação é uma atividade onde professores e alunos mediatizados pela realidade que
apreendem e da qual extraem o conteúdo da aprendizagem, atingem um nível de consciência
dessa mesma realidade, a fim de nela atuarem, num sentido de transformação social.
As diferentes concepções pedagógicas aqui apresentadas, se não dão conta de explicar todos
os aspectos relacionados ao processo educativo, põem, todavia, em destaque o papel do
professor e do aluno. Sobre este se tratará a seguir.
Mas, como vem sendo conduzido esse processo nas IES de uma forma geral? Como se
constitui a relação professor-aluno nesses espaços de aprendizagem?
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Apesar de os sistemas educacionais se esforçarem para acompanhar as mudanças decorrentes
dos avanços tecnológicos na sociedade da informação e do conhecimento, o processo ensino-
aprendizagem, em geral, continua centrado na figura do professor e sustentado em aulas
expositivas.
Não obstante sua relevância, essa metodologia sozinha, quando utilizada para descrever
experiências, sintetizar ideias sobre determinada temática, introduzir um assunto novo, ou
dialogar com o grupo, estimulando reflexões e debates com vistas a formar cidadãos críticos,
capazes de atuar na sociedade com competência, autonomia e integridade, não dá conta de
atender às necessidades e demandas dos alunos.
É comum observar-se, especialmente nas instituições de ensino superior que oferecem cursos
em nível de pós- graduação lato sensu – os chamados MBA -, pouca interação entre
professores e alunos. Os conteúdos são transmitidos, em geral, com o suporte de
equipamentos diversos, sendo o mais usado, o projetor multimídia. As aulas expositivas se
tornam monótonas e cansativas, e os alunos, por sua vez, normalmente adotam uma atitude
passiva, limitando-se a fazer algumas anotações nas ‘telas’ impressas que lhes são
distribuídas.
Outro aspecto a considerar diz respeito à falta de base ou de interesse pela autoaprendizagem
e pela aprendizagem coletiva, evidentes pela ausência de questionamentos e pela precariedade
das argumentações, por parte de alguns alunos. Esses comportamentos ressaltam a não
conscientização de sua própria importância no contexto de uma educação-cidadã que, se de
um lado lhes outorga direitos, do outro lhe exige compromisso e responsabilidades, como
coparticipantes do processo educativo.
Assim, os indivíduos como responsáveis pelo seu aprendizado e pelo aprendizado do grupo,
devem assumir atitudes proativas, executando novas tarefas e dando conta das antigas com
eficácia; gerando novos conhecimentos e os colocando em prática, de forma rápida,
sistemática e alinhada aos objetivos que deseja alcançar. Vale lembrar a afirmativa de Lima
(1973, p. 37):
Ninguém informa ninguém; o indivíduo informa-se. Cada vez mais, a psicologia social mostra
que o processo de compreender, persuadir, ensinar não depende das habilidades do ‘agente’,
mas da atividade do ‘paciente’: quem se informa não é, pois, um paciente, mas um agente.
Numa outra direção e, na tentativa de encontrar uma solução para esses problemas, alguns
professores deslocam o foco de suas aulas dos conteúdos para as atividades, valorizando ‘o
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fazer em detrimento do saber’, a ação sobre a reflexão, as atividades em grupo sobre as
individuais. Nesse ambiente, não raro o professor desempenha o papel de ‘animador cultural’.
Nesse sentido, o papel dos professores como mediadores da aprendizagem tem sido cada vez
mais enfatizado pelas teorias pedagógicas que colocam o aluno como parte integrante da ação
educativa. Do ponto de vista dialético entre o que vai ser aprendido e quem aprende, a função
docente extrapola a facilitação da aprendizagem e se projeta para uma dimensão muito mais
ampla e que se refere à questão da formação. A mediação pedagógica assume, então, que seu
objetivo fundamental é instigar o aluno a aprender, articular as condições mais adequadas
para a aprendizagem, intervir quando as dificuldades se tornam muito difíceis, e orientar nas
formas de conduzir o pensamento reflexivo de modo a consolidar a autonomia crítica. Em
outras palavras, a mediação se projeta para a formação do sujeito capaz de pensar com
independência, mas também com coerência.
Mas, como provocar no aluno o entendimento de uma formação que equilibre suas demandas
imediatas com as mediatas, seu compromisso efetivo, levando-se em conta que o termo
‘cliente’ adquire uma conotação de ‘poder’, e o saber pode ser percebido como um produto
posto à venda e que se pode comprar?
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Muito embora se observe a inversão da tendência de crescimento das IES, em relação ao ano
de 2007, decorrente da queda de 12,3% do total de instituições de ensino na esfera federal, tal
diminuição se deve, em muitos casos, à fusão de Centros Federais de Educação Tecnológica.
Essa redução não se refletiu, a exemplo de 2007, na oferta de vagas e no número de ingressos,
matrículas e concluintes. Quando se toma como parâmetro o período de 2002 a 2008, fica
patente o crescimento significativo do número de IES disputando o mesmo espaço.
Outro ponto a considerar é que 93,1% das faculdades e 96% dos centros universitários são de
natureza privada. Em relação às universidades, essa distribuição atinge proporções
semelhantes, sendo 53% vinculadas ao setor público e 47% ao setor privado, como demonstra
a Tabela 2.
N % N % N % N % N % N % N %
Universidade Pública 78 48,1 79 48,5 83 49,1 90 51,1 92 51,7 96 52,5 97 53,0
Privada 84 51,9 84 51,5 86 50,9 86 48,9 86 48,3 87 47,5 86 47,0
Centro Pública 3 3,9 3 3,7 3 2,8 3 2,6 4 3,4 4 3,3 5 4,0
Universitário
Privada 74 96,1 78 96,3 104 97,2 111 97,4 115 96,6 116 96,7 119 96,0
Faculdade Pública 114 8,1 125 7,7 138 8,0 138 7,4 152 7,7 149 7,5 134 6,9
Privada 1284 91,9 1490 92,3 1599 9,2 1737 92,6 1821 92,3 1829 92,5 1811 93,1
Diante desse cenário de grande competitividade, uma parte das IES procura substantivar sua
gestão, mediante a melhoria de seus produtos e serviços e o incremento da infraestrutura
tecnológica disponibilizada aos alunos atuais ou potenciais. Outras, tomando como base a
lógica capitalista de que o cliente tem sempre razão, adotam o conceito de ‘aluno-cliente’,
subvertendo a concepção de indivíduo corresponsável por sua formação. Tornam-se, dessa
forma, reféns do mercado, optando pelo caminho da ‘conveniência’, ao expandir seus
territórios, facilitando o acesso e a permanência dos alunos em seus programas, reduzindo
drasticamente os valores cobrados pelos serviços prestados, e lotando as salas de aulas com
cursos de baixa qualidade.
Nessa ambiência, é comum surgir uma série de reclamações por parte dos alunos, com ou sem
fundamento, que vão desde denúncias ao Procon, passando por atitudes não aceitáveis (como
por exemplo, negar-se a preparar um seminário sobre determinado tema para apresentação em
sala de aula, alegando ser essa uma tarefa dos professores), até propor a substituição de
docentes, cujo nível de exigências percebem como demasiado.
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Dessa forma, é fundamental conhecer demandas, mediante um processo de interação entre
esses prestadores de serviços educacionais e alunos que, em última análise, são participantes
ativos do processo de produção do referido serviço e corresponsáveis pelos resultados finais
alcançados.
Sirvanci (1996, apud Holanda Jr.; Farias; Gomes, 2006), no entanto, estabelece uma
comparação entre ‘clientes’ e alunos, apontando diferenças significativas entre esses agentes,
como visualizado no Quadro a seguir.
Clientes Alunos
Adquirem bens e serviços livremente, sem que haja Adquirem e bens e serviços mediante admissão nos
qualquer restrição de venda baseadas em atributos pessoais programas, que leva em conta desempenho, número de
vagas, trajetória curricular, etc..
Pagam o preço dos bens e serviços que são adquiridos com Não necessariamente utilizam recursos próprios, podendo
os seus próprios recursos os custos ser subsidiados pela sociedade, contribuinte de
impostos, pelas empresas em que exercem suas atividades,
por familiares ...
Não se submetem aos princípios da meritocracia e Uma vez admitidos, são continuamente testados e
elegibilidade certificados mediante avaliações. Se reprovados, são
obrigados a refazer um curso ou disciplina, ou são
impedidos de prosseguir seus estudos.
A relação de um cliente com quem lhe vende um produto Não compram o saber, pois este deve ser construído
ou presta um serviço é impessoal; esgota-se no produto, ou mediante uma relação dialógica, com o professor e demais
no serviço, propriamente dito. colegas. Portanto, são corresponsáveis pelos resultados
obtidos.
Diante dessas referências, como os alunos atuais ou potenciais devem ser considerados:
‘clientes’, ou ‘alunos’? O conceito ‘aluno-cliente’ é adequado ao processo educacional? Ora,
se os alunos representam os sujeitos da ação educativa e principais agentes de uma
experiência individualizada e coletiva, que lhes possibilita arquitetar o próprio conhecimento
e exercitar a cidadania, por que considerá-los como ‘clientes’?
Mathias (2001) argumenta que, quando as IES brasileiras tratam seus alunos apenas como
‘clientes’ abdicam de exercer o seu papel fundamental: o de conceber indivíduos cônscios de
seus direitos e deveres, que almejam, pela escolaridade, desenvolver-se de forma integral. Ao
romper com a lógica do direito, que é política, e assumir a lógica de mercado, essas
instituições deixam de contribuir para o surgimento de uma nova consciência empresarial,
governamental, acadêmica e política.
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Como núcleo de aquisição do conhecimento, para o qual convergem as dimensões do ser, da
cultura e do poder, as instituições de ensino devem adotar um modelo pedagógico no qual
todos os envolvidos no processo educativo sejam corresponsáveis pelos resultados finais
obtidos, valorizar seus profissionais, enfatizando a didática crítica, que abre espaço à reflexão
sobre a prática pedagógica. Devem estreitar o relacionamento entre os principais agentes do
processo educativo, baseado em interações contínuas e na integração de seus interesses, como
fruto da conscientização de todos em relação aos seus papéis, que devem estar fundamentados
nos princípios de uma educação voltada para a cidadania e ética profissional.
Por outro lado, para concretizar a mediação pedagógica, cabe ao professor instigar o aluno a
procurar novas relações e aplicabilidades para o conhecimento adquirido, reconstruindo-o.
Também deve incentivá-lo a compartilhar seus questionamentos, reflexões e sentimentos com
os colegas, estreitando vínculos de parceria, tendo em vista a consolidação do espírito de
colaboração, a cooperação e o respeito às individualidades.
Se educar significa, como observa Takahashi (2000), investir em competências que permitam
aos então alunos tomar decisões fundamentadas no conhecimento e no aprender a aprender, o
conceito de ‘aluno-cliente’ requer ser revisto.
Discursos como ‘o cliente tem sempre razão’, ou ‘satisfação garantida, ou seu dinheiro de
volta’, apropriados do mercado pelas IES, devem ser repensados, porque alija do processo
educativo o próprio aluno e a responsabilidade que também tem na construção da realidade
social.
À guisa de conclusão
Este ensaio teórico teve como objetivo apresentar uma reflexão que permitiu dar respostas a
questões levantadas: Aluno é cliente? Não é? Por quê?
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No entanto, essa conquista deve ser resultante de um processo educativo construído por
professores, alunos, gestores e demais membros de IES. Se esta não contribui na construção
desse processo, o aluno pode e deve proativamente dela ‘cobrar’ as condições para a tarefa de
educar que, afinal, pelo menos ontologicamente, é a razão de sua existência. O aluno pode – e
deve – promover reivindicações procedentes e contributivas.
Aluno não é cliente, porque faz parte da construção de sua própria aprendizagem. É um
indivíduo que busca na instituição de ensino superior a realização da tarefa a que esta se
propôs: educar. Se novos processos e modelos de gestão se fazem necessários, que se os
adote. Afinal, na sociedade centrada no mercado na qual vivemos, o que diferenciará os
indivíduos nesse mercado são os conhecimentos assimilados, suas habilidades técnicas e
comportamentais, evidenciados em atitudes e valores decorrentes de uma educação-cidadã.
Referências
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ENGEL, J. F.; BLACWELL, R, D.; MINIARD, P. W. Comportamento do consumidor. 8 ed.
Rio de Janeiro, 2000.
MATHIAS, A.. Aluno não é cliente. Gazeta Mercantil. Rio de Janeiro, p. 2, 2001.
SGUISSARD, A. (Org.). Educação superior: velhos e novos desafios. São Paulo: Xamã,
2000.
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SHETH, J. N. Customer behavior: consumer behavior and beyond. IE-Bryden Press, 1998.
SILVA, M. Criar e professorar um curso online: relato de experiência. In: Silva, M. (Org.).
Educação online: teorias, práticas, legislação e formação corporativa. Edições Loyola, PP.
51-73, 2003.
13
SIRVANCI, M. O valor do cliente como elemento de marketing para instituições de ensino
superior. . In: Holanda Jr., A.; Farias I. Q.; Gomes, D. M. O. A. Base - Revista de
Administração e Contabilidade da Unisinos, 3 (2): 102-111, 2006.
VARELA, F. J.; THOMPSON, E.; ROSCH, E. The embodied mind: cognitive science and
human experience. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1997.
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