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Eurasianismo e meridionalismo, geopolítica e defesa1

Dídimo Matos2

Introdução

O Eurasianismo é uma corrente filosófica, política e, principalmente,


geopolítica russa, geralmente mal interpretada e confundida, analisemos o seguinte
trecho,

Em grandes linhas, existem actualmente duas aproximações quanto às


opções geopolíticas da Rússia: os internacionalistas liberais ou
“ocidentalizadores” (zapadniki) e os eurasianistas. Os primeiros
(Gorbatchev, Kozyrev, Yeltsin, Trenin, etc.) crêem que os valores ocidentais
do pluralismo e da democracia são universais e aplicáveis à Rússia. Os
segundos (Dugin, Zhirinovsky, Zyuganov, Solzhenitsyn, etc.) têm linhas
ideológicas nacionalistas e patrióticas que acreditam que, devido às
particularidades geográficas, históricas, culturais e mesmo psicológicas, a
Rússia não pode ser classificada como Ocidental ou Oriental, sendo um
Estado forte e dominante na Eurásia. O Eurasianismo conseguiu reconciliar
filosofias muitas vezes contraditórias como o comunismo, a religião
3
ortodoxa e o fundamentalismo nacionalista.

Examinando o termo eurasianismo, na internet, chega-se ao texto acima, do


general português Eduardo E. S. dos Santos. O curioso no trecho é sua capacidade
de ter errado em praticamente tudo, isso se deve em primeiro lugar a uma suposta
capacidade de entender o “espírito” russo, de saber o que o autor está pensando
para além do que está escrito. Não havendo contato anterior com a ideia julga-se
que o respeitado militar luso está não apenas bem informado acerca do assunto,
mas o repassa com fidedignidade aos seus leitores. Infelizmente não, discutiremos
abaixo alguns pormenores.

1
Texto para a disciplina de Geografia Política: teorias sobre o território e o poder e sua aplicação à
realidade contemporânea.
2
Dídimo George de Assis Matos é graduado e mestre em filosofia, atualmente é doutorando no
Programa de Pós Graduação em Geografia Humana da FFLCH - USP.
3
Texto retirado do artigo: A geopolítica russa: De Pedro, “O grande”, a Putin, a “Guerra- Fria”,
Eurasianismo e os Recursos Energéticos, do Tenente-General PilAv. Eduardo Eugénio Albuquerque
dos Santos, publicado em http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=267
Em primeiro lugar discordaremos da divisão feita pelo general. Ele divide a
atual geopolítica russa em duas grandes áreas, os Ocidentalizadores e
Eurasianistas, em si já é uma divisão arbitrária, mas o general vai mais longe e
coloca entre os eurasianos comunistas como Ziuganov e nacionalistas extremistas
como Zhirinovsky, tal inserção não faz sentido e é mesmo inexplicável.
O termo eurasianismo surge pela primeira vez no século XIX, cunhado pelo
movimento eslavófilo que buscava juntar a rica diversidade da Eurásia4, numa
espécie de outra via que não a europeia ou asiática, e que juntasse a cultura e
tradição da Ortodoxia e da Rússia.
Mais adiante tais ideias foram retomadas, logo após a I Guerra Mundial, por
intelectuais como o filólogo e etnólogo Nikolai S. Trubetskoy, o historiador Peter
Savitsky, o teólogo ortodoxo G.V. Florovsky e, mais a frente, pelo geógrafo,
historiador e filósofo Lev Gumilev, que defendia a luta cultural e política entre, de um
lado, o Ocidente e, do outro, o distinto subcontinente da Eurásia5, guiado pela
Rússia. Gumilev foi o criador de duas teorias: i) a da etnogénese, pela qual as
nações são originárias da regularidade do desenvolvimento da sociedade, e ii) a
teoria da paixão, sobre a capacidade humana para se sacrificar em prol de objetivos
ideológicos.
Estes teóricos do eurasianismo estudaram de modo aprofundado os impérios
de Gengis Khan, Mongol e Otomano, e se encontraram mais de uma vez com Karl
Haushofer. Baseado ainda na produção de Mackinder, esse primeiro eurasianismo,
procurou estabelecer a identidade russa, distinta da ocidental e propugnam uma
fusão das populações muçulmanas e ortodoxas.
Eles rejeitaram a proposta de integração russa à Europa, de Pedro, o Grande.
Defendiam que a Rússia era, claramente, não europeia, que era um continente em
si, separado objetivamente, tanto da Europa quanto da Ásia, pela geografia, e que
teve sua cultura moldada por influências da Ásia.
Com a revolução russa Trubetskoy tentou adaptar seu pensamento a nova
realidade, o mesmo foi feito por outros eurasianistas. Ele defendeu que o
separatismo era inaceitável e insistiu na indivisibilidade da grande região que
correspondia a Eurásia, ou seja, que a URSS deveria manter o império russo em

5
Esse é um dos significados do termo, Eurásia seria um subcontinente plantado entre a Europa e a
Ásia, outro, seria o de Império Russo.
toda a sua extensão, em uma ideia de globalidade distinta da europeia e da asiática,
“o substrato nacional do antigo Império Russo e atual URSS, só pode ser a
totalidade dos povos que habitam este Estado, tido como uma nação multiétnica
peculiar e que, como tal, possuía o seu próprio nacionalismo” 6.
Para Savitsky a Eurásia havia sido formada pela natureza, esta havia
condicionado, e determinado, os movimentos históricos e a interpenetração dos
povos cujo resultado foi à criação de um único estado, e derivando da natureza,
possuía a qualidade transcendente dessa mesma natureza (SANTOS, 2004).
Além dos eurasianismos descritos acima, temos o atual eurasianismo, tema
central desse texto, o qual passamos a discutir abaixo.
O Eurasianismo atual, ou neo-eurasianismo, herda dos anteriores muitas de
suas características, mas é distinto de ambos em vários sentidos. Foi, basicamente,
idealizado por Alexander Dugin.
Alexander Dugin pode ser caracterizado como geopolítico, filósofo, cientista
político e sociólogo. Ele é também considerado um importante jornalista e analista
político. É preciso enfatizar sua grande influência no pensamento geopolítico russo
pós-soviético. Seu pensamento que a geopolítica é não somente uma ciência, mas
possui muito de ideologia tem tido muita influência.
Alguns de seus livros são utilizados pelas escolas geopolíticas militares e civis
na Rússia, ocupou cargos de assessoramento na Duma e teve muita influência junto
aos assessores ocupados da política externa dos governos Putin e Medvedev,
sendo considerado o idealizador oficioso dela. Essa influência é vista nos
pronunciamentos de ambos, principalmente Putin, mas também Medvedev, que
falam abertamente em eurasianismo como guia das relações internacionais da
Rússia.
Atualmente ocupa o cargo de chefe do Departamento de Sociologia das
Relações Internacionais da Universidade Estatal de Moscou e a presidência do
Centro de Estudos Conservadores dessa mesma universidade.

O Neo-eurasianismo de Dugin

6
Citado em Santos, 2004.
O neo-eurasianismo pode ser visto de duas maneiras, seja como geopolítica
russa, seja, por outro lado como uma mundivisão que tem no seu projeto uma
reorganização internacional. Ou seja, visto de maneira integral, o neo-eurasianismo
não é apenas uma teoria geopolítica, mas uma filosofia geral que possui as
seguintes características:
a) Histórica e geograficamente é o mundo inteiro excetuando o setor
ocidental7;
b) Estratégica e militarmente é a união de todos os países que não
aprovam as políticas expansionistas dos EUA e da OTAN;
c) Culturalmente representa a preservação das tradições culturais,
nacionais, étnicas e religiosas orgânicas;
d) Socialmente representa formas diferentes de vida econômica e a
“sociedade socialmente justa” (DUGIN, s/d, s/p).
Tem por princípios:
1) Diferencialismo: pluralismo de sistema de valores contra a
dominação obrigatória de uma ideologia;
2) Tradição: contra a supressão de culturas, dogmas e descobertas das
sociedades tradicionais;
3) Os direitos das nações contra os “bilhões de ouro” e a hegemonia
neocolonial do “norte rico”;
4) As etnias como valores e sujeitos da história contra a
despersonalização das nações, aprisionadas em construções sociais
artificiais;
5) Justiça social e solidariedade humana contra a exploração e
humilhação do homem pelo homem.
Enquanto teoria geopolítica faz parte da várias vezes denominada “escola
expansionista”, entenderemos melhor essa denominação. A imagem abaixo mostra
simbolicamente as pretensões expansionistas e pode ser lida como, do coração da
Rússia para o mundo, em todas as direções.

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Por setor ocidental deve-se entender a parte da civilização ocidental que crê que a democracia
liberal deve ser universalizada e que por homem se quer denominar exclusivamente o modelo
humano derivado do iluminismo.
O eurasianismo pretende em primeiro lugar, ser uma alternativa a
globalização. Dugin entende o modelo de globalização atual como a representação
do expansionismo dos EUA e de seus aliados da OTAN, ou seja, como a
representação de um mundo unipolar que tem nos estadunidenses o seu modelo
econômico e filosófico e que querem impor ao mundo seus valores liberais,
individualistas e democráticos.
Como alternativa ao modelo de globalização atual, fornece um novo modelo
de globalização, baseado na conjugação de ideias de Mackinder e de Haushofer.
Retira de Mackinder a ideia de luta entre a terra e o mar e a de que quem domina o
coração da Eurásia domina o mundo.
Defende, como Bzerzinski, que a Rússia é o coração da Eurásia e representa
o centro das forças terrestres (eurasianistas) em luta contra as forças
marítimas(atlantistas) guiadas pelos EUA.
De Haushofer ele se inspira na ideia de pan regiões e as redesenha para
defender, contra o mundo unipolar da globalização atual, um novo modelo de
globalização multipolar com quatro Zonas Meridionais: a zona Anglo-Americana, a
zona Euro-Africana, a zona Rússia- Ásia Central e a zona do Pacífico. A zona Anglo-
Americana (Atlantista) seria contrabalançada pelas outras três zonas.
Olhando o mapa acima percebe-se imediatamente a semelhança que se
apresenta com as pan-regiões de Haushofer. Compare-se com o mapa abaixo:

Cada zona meridional no projeto eurasiano consiste de vários “grandes


espaços” ou “impérios democráticos”. Cada um deles possui liberdade relativa e
independência, mas está estrategicamente integrado em uma zona meridiana
correspondente. Os grandes espaços correspondem às fronteiras das civilizações e
incluem vários estados-nações ou união de Estados.
A Rússia, para dominar o imenso espaço da zona meridional Rússia -
Ásia Central, precisa, no âmbito interno, originar um Estado com diversas etnias e
religiões, bem como, no plano externo, se organizar por meio de alianças, com a
elaboração de projetos especiais como o pan-europeu com a Alemanha, o pan-
árabe com o Irã e pan-asiático com o Japão (MARCU, 2007).
Devido a necessidade da integração continental, a Rússia deveria
estabelecer uma nova geopolítica no sul da Eurásia, de tal maneira que a Índia, a
Indochina e os Estados islâmicos passariam a ser um “teatro de manobras
continentais de posição”, com o fim de convergir os objetivos estratégicos dessa
região ao centro eurasiático representado por Moscou (MARCU, 2007, apud,
TEIXEIRA, 2009).
Dugin (2004) desenvolve tal ideia a partir do conceito de vetores abertos
que se originam em Moscou, passam pelos vizinhos próximos, e que chegam aos
Estados europeus, asiáticos e islâmicos.
As características estratégicas do eurasianismo, visto como geopolítica
russa, estão relacionadas a diferentes ações que devem ser tomadas respeitando
aspectos militares, econômicos, políticos, étnicos e religiosos daquela região.
Além dos eixos estratégicos com os vizinhos próximos, vetores como
Moscou-Teerã, Moscou-Nova Deli e Moscou-Ancara são considerados básicos para
essa integração, há ainda planos para o Afeganistão e Paquistão, para a região do
Cáucaso e a Ásia Central, assim como a valorização das relações com a França e a
Alemanha, vetores Moscou-Paris e Moscou-Berlim.
Eixo Moscou-Teerã8

Integração russo-asiática. A questão central deste processo é a


implementação de um eixo Moscou-Teerã. O processo interno depende do sucesso
do estabelecimento de uma parceria de médio e longo prazo com o Irã. A união dos
potenciais econômico, militar e político de Rússia e Irã aumentará o processo de
integração da zona, tornando-a irreversível e autônoma.
O eixo Moscou-Teerã será a base para uma integração posterior. Tanto
Moscou quanto o Irã são potências auto-suficientes, na visão de Dugin, aptas a criar
seu próprio modelo organizacional para a região.

Eixo Moscou-Nova Deli

A cooperação russo-indiana é o segundo mais importante eixo meridiano


de integração no continente eurasiano e em seus sistemas de segurança coletiva.
Moscou terá um papel importante, diminuindo as tensões entre Deli e Islamabad
(Kashmir). O plano eurasiano para a Índia, patrocinado por Moscou, é a criação de
uma federação que refletirá a diversidade da sociedade indiana com suas
numerosas minorias étnicas e religiosas, incluindo sikhs e muçulmanos.

Moscou-Ankara

O principal parceiro regional no processo de integração da Ásia Central é


a Turquia. A ideia eurasiana está se tornando popular por lá atualmente devido ao
entrelaçamento das tendências ocidentais e orientais. A Turquia reconhece suas

8
Daqui em diante faz-se uma tradução livre da descrição de Dugin dos eixos em discussão.
diferenças civilizacionais com a União Europeia, seus interesses e objetivos
regionais, a ameaça da globalização, e a posterior perda de soberania.
É imperativo para a Turquia estabelecer parcerias estratégicas com a
Federação Russa e o Irã. Só assim ela será capaz de manter suas tradições no
modelo multipolar de mundo. Certas facções da sociedade turca entendem esta
situação — de elites políticas e socialistas a religiosas e militares. Assim, o eixo
Moscou – Ankara pode se tornar uma realidade geopolítica apesar do longo período
de hostilidade mútua.

O plano eurasiano para o Afeganistão e o Paquistão

O vetor de integração com o Irã tem importância vital para que a Rússia
ganhe acesso a portos de águas quentes e também para a reorganização político-
religiosa da Ásia Central (países asiáticos da CEI, Afeganistão e Paquistão).
Uma cooperação próxima com o Irã implica na transformação da área
afegão-paquistanesa em uma confederação islâmica livre, leal tanto a Moscou
quanto ao Irã. A razão desta necessidade é que os Estados independentes do
Afeganistão e Paquistão continuarão a ser fonte de desestabilização, ameaçando os
países vizinhos.
A luta geopolítica providenciará a capacidade para implementar uma nova
federação central-asiática e transformar esta região complicada em uma área de
cooperação e prosperidade.

O Cáucaso

Essa é a região mais problemática para a integração eurasiana dado seu


mosaico de culturas e etnias que facilmente leva a tensões entre as nações. Esta é
uma das principais armas usadas por aqueles que buscam parar o processo de
integração do continente eurasiano. A região é habitada por nações que pertencem
a diferentes Estados e áreas civilizacionais. Deve ser um polígono de testes de
diferentes métodos de cooperação entre os povos, pois o que for bem sucedido ali
poderá sê-lo ao longo do continente eurasiano.
A solução eurasiana para este processo jaz no desenvolvimento de uma
federação flexível fundamentada nas diferenças étnicas e culturais no interior de um
contexto estratégico comum da zona meridiana.
O resultado deste plano é um sistema de um semi-eixo entre Moscou e os
centros do Cáucaso (Moscou-Baku, Moscou-Erevan, Moscou-Tbilisi, Moscou-
Mahachkala, Moscou-Grozni etc.) e entre os centros do Cáucaso e os aliados da
Rússia no interior do projeto eurasiano (Baku-Ankara, Erevan-Teerã etc.).

O plano eurasiano para a Ásia Central

A Ásia Central deve se mover rumo à integração com a Federação Russa


em um bloco unido, estratégico e econômico no interior da estrutura de União
Eurasiana, que será a sucessora da CEI. A principal função dessa área específica é
a reaproximação da Rússia com os países do Islã continental (Irã, Paquistão,
Afeganistão).
Desde o início, o setor da Ásia Central deve possuir vários vetores de
integração. Um plano tornará a Federação Russa o principal parceiro (similaridades
de cultura, interesses econômicos e energéticos, uma estratégia comum de sistema
de segurança). O plano alternativo é colocar o foco em semelhanças étnicas e
religiosas: mundos turcos, iranianos e islâmicos.
Como disse Dugin (2004) “Este é o Eurasianismo, a política da heartland”.
O pensamento eurasianista é o que mais se alinha à política russa, isso pode ser
acompanhado diariamente nos jornais russos, consulte-se os jornais russos em
língua portuguesa, por exemplo, e teremos Putin e Medvedev não apenas pondo em
prática a teoria, mas citando-a explicitamente9.
O eurasianismo põe-se ainda como uma alternativa a filosofia ocidental e
a sua economia, bem como mistura geopolítica e espiritualidade tradicional, esses

9
Pode ver um exemplo em:
http://gazetarussa.com.br/articles/2011/10/19/o_novo_projeto_de_integracao_para_eurasia_um_futur
o_que_nasce_hoje_12701.html
itens, entretanto, fogem ao escopo do presente trabalho, mas os interessados
poderão encontrar referências aos trabalhos de René Guénon e Julius Evola
vinculados a produção intelectual de Dugin.

O meridionalismo

O pensamento geopolítico brasileiro tem buscado alternativas a projeção


mundial do Brasil há muito tempo. Os primeiros projetos geopolíticos visavam uma
projeção continental e já vislumbravam problemas com potências regionais, como a
Argentina, ou globais como os EUA, isso fica bem marcado no trabalho de
Travassos de 1947.
Na evolução do pensamento geopolítico brasileiro temos o trabalho do
geopolítico militar, um dos mais destacados do Brasil, Golbery do Couto e Silva que
pensava o Brasil, no contexto da guerra fria, como o grande aliado dos EUA ao Sul e
defensor do ocidente cristão contra o comunismo.
Desde esses pensadores não há mais um grande projeto geopolítico que
pense o lugar do Brasil no mundo até que o meridionalismo vem para suprir essa
lacuna no pensamento nacional.
O meridionalismo pretende pensar o Brasil como um novo “jogador” no
cenário internacional, para isso prevê ações sul-sul em um sentido estritamente
político. Para caracterizar os países e potência meridionais pincela certas
características no cenário internacional, por exemplo, não ter cadeira e veto no
Conselho de Segurança da ONU ou posição no G8.
Com essa caracteriologia em mãos encontra parceiros estratégicos em
potências regionais emergentes como a Índia, a Africa do Sul, Austrália e tem como
parceiros potenciais alguns países, como a Argentina, Venezuela e Colômbia na
América do Sul, Nigéria e Angola na África, entre outros.
Alguns itens da agenda meridionalista são: integração sulamericana,
acento no Conselho de Segurança na ONU com direito a veto, que pode, na visão
de André Martin (2007), criador do conceito, ser compartilhado com a Índia,
modificação na política ambiental acabando com os créditos de carbono e trocando
por encerramento de dívida, constituição do “Comitê Sul” com representação de
todas as potências meridionais e defesa da Antártida.
O mapa abaixo ilustra a visão merdionalista:

Um exercício de síntese e implicações na estratégia nacional de defesa

Pensar em uma possibilidade de síntese de Eurasianismo e


Meridionalismo é um exercício a ser praticado com calma e vagar que não cabem no
presente texto, mas esboçaremos algumas ideias a serem desenvolvidas em estudo
posterior10 e especularemos um pouco acerca de possíveis implicações na
estratégia nacional de defesa, objetivo fundamental do presente artigo.
Acerca da síntese possível, uma ideia que imediatamente nos ocorre é o
acréscimo de um novo polo ao eurasianismo, junto aos polos Anglo Americano, Euro
Africano, Pan Eurasiano e Pacífico Asiático figuraria o polo Meridional impondo
modificações aos demais que se circunscreveriam ao norte isso retiraria a África do
segundo polo que se tornaria exclusivamente europeu.
Acerca da Estratégia de Defesa Nacional, no documento que recebe o
mesmo nome, destacamos o item que se refere a integração da América do Sul e
10
É a ideia a ser desenvolvida na tese do autor para doutoramento em geopolítica.
vemos que o mesmo se encontra contemplado no sentido eurasiano dado ao
chamado Grande Espaço da América do Sul, destacamos ainda a previsão de
projeção rumo a África do meridionalismo que contempla outro item do mesmo
documento, o que coloca “multipolarismo euro-meridional” em consonância com o
nosso pensamento em termos de defesa.

Referências bibliográficas

COSTA, Wanderley Messias. 2005. Geografia política e geopolítica. São Paulo:


Edusp/Hucitec

DUGIN, Alexander. A Idéia Eurasiana. 2004. Disponível em:


http://pbpolitica.blogspot.com.br/2012/02/ideia-eurasiana.html.

______. A grande Guerra dos Continentes, Lisboa: Antagonista, 2006.

______. Visão Eurasianista. s/d. Disponível em:


http://pbpolitica.blogspot.com.br/2010/04/visao-eurasianista.html

MARCU, Silvia. La geopolítica de la Rusia postsoviética: desintegración,


renacimiento de una potencia y nuevas corrientes de pensamiento geopolítico.
Scripta Nova: revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Universidad de
Barcelona. v. XI, n. 253, 01 dic. 2007. Disponível em: http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-
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MARTIN, André. Qual é o nosso bloco? O Brasil procura o seu lugar no mundo. In:
SANTOS, M. O Novo Mapa do Mundo: Globalização e Espaço Latino Americano,
Hucitec: São Paulo, 1997.

______. Brasil, Geopolítica e Poder Mundial – o anti-Golbery. Tese de Livre


Docência, USP: São Paulo, 2007.

SANTOS, Eduardo Silvestre dos. O eurasianismo: a “nova” geopolítica russa. Jornal


defesa e relações internacionais. Lisboa, 20 nov. 2004. Disponível em:
http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=97.
TEIXEIRA, José A. B. J. O pensamento geopolítico da Rússia no início do século
XXI e a geopolítica clássica. Revista da Escola Superior de Guerra Naval.
Periódico Especializado em Estudos Estratégicos. Nº 13, Junho de 2009.

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