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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

LABORATÓRIO
CENTRO DE TECNOLOGIA E DE ENGENHARIA
GEOCIÊNCIAS QUÍMICA 1
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
Vol. 4 pp. 1-8

CINÉTICA QUÍMICA HOMOGÊNEA

OBJETIVO GERAL

Determinar a ordem, a constante de velocidade e a energia de ativação da reação


homogênea de decomposição do peróxido de hidrogênio em meio ácido.

OBJETIVOS ESPECIFICOS

Estudar o comportamento cinético da decomposição do peróxido de hidrogênio na


presença da concentração do componente KI em excesso e em meio ácido, no intuito de se
avaliar os parâmetros cinéticos da reação: concentração inicial do peróxido de hidrogênio,
concentração inicial do ácido sulfúrico, tempo de reação e temperatura do meio reacional.

INTRODUÇÃO

Um dos métodos experimentais para determinar a ordem de uma reação química,


consiste em utilizar em excesso todos os reagentes, exceto um. Desde modo, as concentrações
dos reagentes em excesso podem ser consideradas constantes.
Como exemplo dos conceitos teóricos previamente estudados, deve-se avaliar a cinética
de decomposição do peróxido de hidrogênio (H2O2), equação (1), em meio ácido e na presença
de iodeto de potássio em excesso. Levando em consideração diversos efeitos como:
concentração inicial do reagente limitante (H2O2), concentração inicial do ácido sulfúrico e a
temperatura do meio reacional.

H2O2 + 2 KI +H2SO4 → I2 + 2 H2O + K2SO4 (1)

Considerando que a reação avança de forma igual para todos os componentes


envolvidos na reação de decomposição do peróxido de hidrogênio, equação (2), podendo
estima-se a concentração de qualquer seja o componente, através do componente medido
durante a reação.
[𝐻2 𝑂2 ]0 −[𝐻2 𝑂2 ] [𝐼2 ]
ξ= = (2)
1 1

Neste caso em especial, a reação de decomposição do peróxido de hidrogênio será


acompanhada pela formação do iodo molecular segundo a equação (3), onde acontece a
formação do complexo iodo amido (coloração azulada).

I2-Amido + 2 Na2S2O3 → 2 NaI + Na2S4O6 (3)

Desta maneira, pode estimar de forma indireta ao final da reação, logo a reação chegue
ao equilíbrio, à concentração inicial do peróxido de hidrogênio, através do número de moles
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total de tiossulfato de sódio, gastos na titulação contínua do iodo molecular formado durante a
reação, conforme a equação (4).

𝑛𝑡 𝑁𝑎2 𝑆2 𝑂3 = 𝑉 𝑡 𝑁𝑎2 𝑆2 𝑂3 ∗ 𝑀𝑁𝑎2 𝑆2𝑂3 (4)

A partir do valor do número de moles total de tiossulfato de sódio, determinar-se o


número de moles iniciais do peróxido de hidrogênio, conforme a equação (5), respeitando a
estequiometria da reação, equação (3).
𝑛𝑡 𝑁𝑎2 𝑆2 𝑂3
𝑛0 𝐻2 𝑂2 = (5)
2

Permitindo desta maneira, calcular a concentração do peróxido de hidrogênio


decompondo-se ao longo do tempo de reação, segundo a equação (6).
𝑛0 𝐻2 𝑂2 −𝑉𝑁𝑎2 𝑆2 𝑂3 ∗𝑀𝑁𝑎2 𝑆2 𝑂3 ∗(i/2)
[𝐻2 𝑂2 ]𝑖 = (6)
𝑉𝐴𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜

Estabelecendo o volume acumulado a partir da equação (7).

𝑉𝐴𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 = 𝑉𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 + 0,002 ∗ i (7)

onde:

[𝐻2 𝑂2 ]𝑖 → concentração molar do peróxido de hidrogênio no instante, t (mol/L)

𝑉𝑁𝑎2 𝑆2 𝑂3 → volume da solução de tiossulfato, a 1M (L)

𝑀𝑁𝑎2 𝑆2 𝑂3 → molaridade da solução de tiossulfato (mol)

𝑛0 𝐻2 𝑂2 → número de moles iniciais do peróxido de hidrogênio no instante, (mol)


t0

i → número de vezes da adição da solução de tiossulfato de sódio ( )

Nestes casos recorre-se a modelos cinéticos empíricos, suficiente para determinar a


ordem da reação e a constante de velocidade, a partir das informações da evolução cinética em
função do tempo de reação.

DESCRIÇÃO DOS MÉTODOS

Os métodos experimentais, a serem utilizados devem considerar para determinação da


ordem da reação e da constante de velocidade, a evolução cinética da reação em função do
tempo infinito, tempo este em que a reação atingirá as condições de equilíbrio. Condição esta
que deve ser obedecida, no intuito de minimizar erros experimentais na determinação do
número de moles iniciais do peróxido de hidrogênio.

Reação Homogênea:

H2O2 + 2 KI + H2SO4 → I2 + 2 H2O + K2SO4

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De um modo geral define-se a velocidade de reação à densidade constante em relação


aos componentes envolvidos na reação da seguinte maneira:

d[H 2O2 ] d[KI] d[I 2 ]


r=− =− = (8)
dt dt dt

A relação de “r” com as variáveis do processo, através da equação empírica devendo


estar contida na função r = f ([H2O2], [KI], [I2], T, P).
Para a reação assim equacionada, H2O2 + 2 KI + H2SO4 ↔ I2 + 2 H2O + K2SO4, a função
velocidade de reação, relacionada às variáveis do processo, pode ser expressa conforme a
equação (9), modelos que obedecem à lei da ação das massas e outros que não obedecem a essa
lei:

r = k1 [ H 2O2 ] [ KI ] [ H 2 SO4 ] − k 2 [ KI ]
n m h j
(9)

Na qual k1 e k2 são as constantes de velocidade envolvidas na reação; n, m, h, j são as


ordens parciais de reação, sendo a concentração de H2SO4, também responsável por catalisar a
reação.

Considerando a reação irreversível: k2 → 0, e as concentrações de KI e H2SO4 em


excesso, tem-se a equação (9) modificada, para equação (10).

r = K [ H 2O2 ]
n
(10)
A ordem de reação e a constante global são parâmetros obtidos a partir de dados
experimentais válidos num certo domínio de concentrações, temperatura e pressão, sabe-se que
a constante global depende da concentração inicial do ácido sulfúrico:

K = k1 [ KI ] [ H 2 SO4 ]
m h
(11)
O modelo empírico revela o efeito da concentração, em [H2O2] e a influência da
temperatura através de K, focalizado como uma pseudoconstante, visto as influências das
concentrações e do pH do meio sobre suas ordens de grandeza.
Sob condições isotérmicas a constante de velocidade permanece invariável. Quando do
envolvimento de efeitos térmicos no processo reacional, variações de temperatura são
quantificadas através da equação de Arrhenius:

K = k 0 e − E RT (12)

a qual possui bases termodinâmicas, sendo E o parâmetro energia de ativação e k0 o fator de


frequência. Sob influência da temperatura, a equação (12) torna-se a equação (13),

r = k0e −E RT [ H 2 O2 ]n (13)

O modelo cinético representado pela equação (13) pode ser validado e formalizado
através de experiências que resultem no monitoramento da concentração [H2O2] e da
temperatura do meio de reação como uma função do tempo de reação. A presença do
componente KI em excesso, caracteriza o isolamento do componente H2O2 para fins de
monitoramento durante a evolução cinética do processo.

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MATERIAL E PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Visando avaliar o comportamento cinético do processo de decomposição do peróxido


de hidrogênio com iodeto de potássio em excesso, e em meio ácido. Busca-se tomar como
referência o componente H2O2 isolando-o em relação ao iodeto.

MATERIAL

Os materiais e equipamentos a serem utilizados no desenvolvimento prático estão


relacionados na Tabela 1.

Tabela 1 – Materiais e equipamentos

Material Quantidade
Reagentes líquidos
Água destilada 150 mL
Ácido Sulfúrico (H2SO4) 1,0 M / 2,0 M 10 mL
Iodeto de Potássio (KI) 0,5 M 20 mL
Tiossulfato de Sódio (Na2S2O3) 0,1 M 4 mL
Solução de amido a 0,5% 5 mL
Solução de Peróxido de Hidrogênio 20 mL
padronizado 0,75%, 1,0% e 1,5%
Vidraria
tubos de ensaio 74
pipeta de 5 mL 01
bureta de 50 mL 03
pipeta de 20 mL 01
béquer de 1000 mL 02
proveta de 20 mL 01
Outros materiais
Agitador magnético 02
Banho termostático 01
Banho de gelo 01
Termômetro 02
Cronômetro 02

As interações entre H2O2 e KI em meio ácido serão monitoradas cineticamente nesta


experiência, Figura 1, através da interação do complexo I2-Amido com Na2S2O3, através da
titulação contínua, sendo mudanças de cor ocorridas em diferentes e crescentes intervalos de

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tempo para o mesmo volume de tiossulfato de sódio adicionado. As indicações de mudança de


cor são representadas pelas reações assim equacionadas:

I2 + Na2S2O3 → incolor

I2 + amido → azul

Figura 1 - Dispositivo experimental

PROCEDIMENTO EXERIMENTAL

a. Adicionar em cada um dos 50 tubos de ensaio 4 mL da solução de Na2S2O3.


b. Tomar em um béquer de 1000 mL e adicionar sucessivamente: 150 mL de água destilada,
20 mL da solução de KI 0,5 M, 10 mL da solução de H2SO4 1,0 M, 4 mL da solução de Na2S2O3
0,1 M e 5 mL da solução de amido.
c. Agitar lentamente e medir a temperatura da solução (temperatura ambiente).
d. Tomar em uma proveta, 20 mL da solução a 1% de H2O2 e adicionar ao béquer para dar
início ao processo, acionando-se o cronômetro ao mesmo tempo.
e. Mantendo-se em agitação a solução, anotar o tempo em que ocorreu a “virada”, ponto em
que houve a mudança de cor para azul, e adicionar mais 4 ml da solução de Na2S2O3 0,1 M de
um tubo de ensaio.
f. Anotar o novo tempo de “virada” para o azul e adicionar mais 4 ml da solução de Na2S2O3
0,1 M e repetir esta operação até que a reação tenha se completado. Anotar o volume acumulado
em função do tempo de operação.
g. Refazer a experiência para concentrações de H2O2 de 0,75%; 1,0% e 1,5%, mantendo-se a
mesma concentração do catalisador e mesma temperatura.
h. Refazer a experiência para concentração inicial do ácido de 2,0 M, mantendo-se a mesma
temperatura.
i. Refazer a experiência para temperaturas de 18°C e 38°C, mantendo-se a mesma
concentração do catalisador.

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j. A partir dos valores dos volumes da solução de Na2S2O3 acumulados no tempo de operação,
estimar as correspondentes concentrações residuais de H2O2, segundo a estequiometria da
reação.

Quadro 1- Esquema para o experimento


ENSAIO H2SO4 H2O2 T
1 2,0 M 0,75% 28°C
2 2,0 M 1,0% 28°C
3 2,0 M 1,5% 28°C
4 1,0 M 1,0% 28°C
5 2,0 M 0,75%; 1,0% e 1,5% 38°C
6 2,0 M 0,75%; 1,0% e 1,5% 18°C

CÁLCULOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os dados provenientes das experiências realizadas em sistemas descontínuos podem ser


ajustados a partir da aplicação de modelos empíricos. Determinado assim os parâmetros
cinéticos n, k, k0 e a energia de ativa (E).

Os métodos experimentais que devem conduzir à quantificação destes parâmetros,


proporcionando a avaliação do comportamento cinético da reação química são método
diferencial, método integral e o método da degeneração. A sequência formulada aplica-se a um
processo avaliado em reator descontínuo, como segue:

Modelo Cinético Empírico

rJ = kCJn (14)
- equação diferencial de balanço,

dn J
− VR rJ = (15)
dt
- equação diferencial em sistema homogêneo,

dCJ
− = kCJn (16)
dt

Método Diferencial

C J
− = kCJn (17)
t

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- formulação diferencial na forma linear, determinação de n e k, valores aproximados:

 C J 
log  −  = log k + n. log C J (18)
 t 

Método da Integração
CJ t
dC
−  nJ = k  dt (19)
CJ 0
CJ 0

- expressão integrada sujeita à utilização, determinação de k, com estimação do valor de


n:

1
n −1
 
C1J−n − C1JO−n = k.t (20)

Os valores de n e k determinados na equação (18) são aplicados na equação (20) como


partida do processo numérico de otimização.

No procedimento de cálculo, condições de operação podem ser variadas, oferecendo-se


respostas respectivas através do comportamento cinético da reação. Os efeitos dos parâmetros
[H2O2] (concentração inicial do reagente) e temperatura podem ser investigados diretamente,
além da evolução da concentração do componente de referência como função do tempo de
reação.
Os resultados provenientes da metodologia aplicada no presente trabalho prático devem
comportar os seguintes e principais itens:
- avaliação do efeito da concentração inicial do peróxido de hidrogênio na evolução
cinética da reação;
- quantificação do efeito da concentração do ácido sulfúrico;
- determinação da ordem da reação;
- determinação da constante de velocidade;
- avaliação do efeito da temperatura na evolução cinética da reação;
- aplicação da equação de Arrhenius com cálculo dos parâmetros E e k0.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LEVENSPIEL, O., Engenharia das reações químicas, Editora Edgard Blücher LTDA, São
Paulo, 1998.

FOGLER, H. S., Elementos de Engenharia das Reações Químicas, 4ª edição, Rio de Janeiro,
LTC, 2009.

WILLIE ALVES BUENO, W. A. & DEGREVE, L., Manual de Laboratório de Físico-Química,


Editora McGraw-Hill do Brasil, 1980.

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