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II LBSinais 2
II LBSinais 2
Tempos
Objetivos da Unidade:
Visitar brevemente à história das pessoas com surdez ao longo dos tempos;
Verificar como essa história tem sido marcada por uma trajetória de lutas e
conquistas.
ʪ Contextualização
ʪ Material Teórico
ʪ Material Complementar
ʪ Referências
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ʪ Contextualização
Atualmente a LIBRAS é reconhecida como a segunda língua oficial de nosso país através da Lei
10.436/02. Os surdos possuem direito a uma educação bilíngue que atenda a suas
especificidades. Porém nem sempre foi assim. Durante séculos de nossa história, os surdos não
tinham direitos como:
Casar-se;
A história da pessoa com surdez tem sido marcada por grandes lutas e conquistas. Convido você
a assistir um emocionante vídeo que retrata um pouco dessa história e das dificuldades
enfrentadas por muitos surdos.
Vídeos
Abertura CAS na 1ª Reunião Técnica – "Breve História do Surdo"
Abertura CAS na 1ª Reunião Técnica - "Breve História do Surdo"
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ʪ Material Teórico
Porém não foi sempre assim. Por longos períodos, os surdos foram proibidos de usar a Língua
de Sinais e, em algumas épocas, eram até mesmo mortos; não tinham direito à vida. Para que
você compreenda um pouco dessas lutas e conquistas da comunidade surda, nesta unidade
faremos um breve panorama histórico desse percurso ao longo dos tempos.
O Surdo na Antiguidade
De acordo com Márcia Honora (2009), para os gregos e os romanos, em linhas gerais, os surdos
não eram considerados humanos, não tinham direito à vida. A surdez era considerada uma
maldição dos deuses e, por isso, muitos surdos eram lançados em precipícios e outros eram
lançados nos rios. Nessa época, os surdos que não eram mortos viviam miseravelmente como
escravos ou eram abandonados.
Figura 1
Fonte: Getty Images
Para o filósofo Aristóteles, nesse período, o sentido mais importante para o desenvolvimento do
pensamento era a audição; assim, os nascidos surdos não poderiam jamais desenvolver o
pensamento, estavam reduzidos ao mesmo patamar que os animais.
De acordo com Éden Veloso e Valdeci Maia (2009), na China, os surdos eram lançados ao mar ou
sacrificados a “Teutates”, por ocasião da festa do Agárico. Nesse período, os surdos eram vistos
como miseráveis, doentes, amaldiçoados e incapazes de desenvolver o pensamento.
Idade Média
Neste período, muitos relatos sobre a pessoa com surdez foram perdidos, pois muitos surdos
ainda estavam sendo banidos da sociedade. A concepção de que os surdos eram incapazes e
limitados prevalecia.
Figura 2
Fonte: Getty Images
Conforme Márcia Honora e Mary Frizanco (2009), na Idade Média, os surdos eram privados do
casamento para não gerarem outros “imperfeitos”. Também não tinham direito à escolarização,
não era permitido que frequentassem os mesmos locais que os ouvintes e, ainda, não tinham
direito ao testamento, pois não possuíam uma língua inteligível. No entanto, nessa época, os
nobres, para não dividirem suas heranças com outras famílias, casavam-se entre si, o que
gerava grande número de surdos entre eles.
Os surdos também não possuíam acesso à religião, pois, por não terem uma língua inteligível
(segundo a sociedade da época), suas almas eram consideradas mortais. A partir da análise
desse contexto, a Igreja iniciou uma tentativa de educar e doutrinar os surdos, conforme o relato
a seguir:
“Os monges que estavam em clausura e haviam feito o Voto do Silêncio para não
- HONORA, 2009, p. 19
Conforme podemos observar através desse relato, uma das primeiras tentativas de educação dos
surdos foi mediada por monges, porém, muitas vezes, a base dessa educação estava centrada em
interesses econômicos e religiosos. Vale ressaltar, ainda, que, embora os monges utilizassem
uma linguagem gestual, seu foco de trabalho era voltado para oralização dos surdos.
Idade Moderna
Neste período, os estudos sobre a pessoa com surdez tornaram-se mais disponíveis. Muitos
estudiosos renomados começaram a investigar a surdez e traziam diferentes concepções sobre
os surdos. Alguns começaram a apontar a importância da Língua de Sinais para o
desenvolvimento das pessoas com surdez, porém a maior parte desses estudos ainda trazia a
língua oral auditiva como sendo a única capaz de libertar os surdos de seu isolamento e
possibilitar-lhes uma forma de comunicação. Muitos filósofos, professores, médicos e
pesquisadores da época recomendavam a imposição da língua oral para a educação e
comunicação dos surdos, em detrimento da Língua de Sinais.
Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons
De acordo com Moura (2000), a primeira alusão à possibilidade de o surdo aprender por meio da
Língua de Sinais ou da língua oral é encontrada em Bartolo della Marca d’Ancona, escritor e
advogado do século XIV.
Neste período, uma importante declaração foi realizada por Girolamo Cardano (1501-1576),
médico e filosofo que reconheceu que a surdez não era um impedimento para a razão e a
instrução. Afirma que “... a surdez e mudez não é o impedimento para desenvolver a
aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem é através da escrita... e que era um
crime não instruir um surdo”, conforme cita Éden Veloso (2009).
Figura 4 – Girolamo Cardano (1501-1576)
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: A Figura mostra a imagem de um quadro em preto e branco
com a caricatura em perfil de um homem dentro de uma circunferência oval, de
cabelo ondulado, rosto fino, um pouco de barba e boca entreaberta. Fim da
descrição.
O interesse nos estudos direcionados aos surdos, por parte de Girolamo Cardano, teve início
porque seu primeiro filho nasceu surdo.
Moura (2000) relata que o verdadeiro início da educação do surdo surgiu com o monge
beneditino Pedro Ponce de León (1520-1584), que se dedicou a educar e ensinar os
sacramentos sagrados a surdos de famílias nobres. Ele ensinava-os a falar, ler, escrever e rezar.
Alguns aprenderam filosofia natural e astrologia e, através de suas faculdades intelectuais,
demonstravam que eram capazes de aprender, o que, anteriormente, foi negado por Aristóteles.
Figura 5 – Pedro Ponce de León ensinando um aluno
Fonte: Wikimedia Commons
León utilizava uma metodologia pautada na escrita, datilologia (alfabeto manual) e oralização.
Inicialmente ensinou dois irmãos surdos de uma importante família aristocrata. Na época, havia
uma grande preocupação em oralizar os surdos, em especial os primogênitos, pois, legalmente,
se estes não aprendessem a falar não teriam direito à herança da família.
Conforme Honora (2009), o padre Juan Pablo Bonet (1579-1623) publicou, em 1620, em
Madrid, o tratado de ensino de surdos chamado: “Redação das Letras e Artes de Ensinar os
Mudos a Falar”. Esse tratado previa a escrita sistematizada do alfabeto como facilitador da
oralização. Bonet acreditava que seria mais fácil para os surdos aprenderem a falar e ler se cada
letra do alfabeto fosse substituída por uma forma visual.
Porém há relatos de que já havia sido publicada uma representação do alfabeto manual pelo
monge Melchor de Yebra (1526-1586) aproximadamente trinta anos antes da publicação de
Bonet em 1620. É difícil determinar uma época e um nome preciso para a criação do alfabeto
manual, uma vez que, como vimos anteriormente, os monges em clausura na Idade Média já
utilizam uma forma de linguagem gestual que representava as letras do alfabeto para que não
ficassem totalmente incomunicáveis.
Não obstante uma das formas mais antigas do alfabeto manual de que se tem notícia era
bimanual e utilizava as duas mãos para representá-lo. É utilizado, atualmente pelos surdos no
Reino Unido, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia e algumas zonas do Canadá. Veja ilustração a
seguir:
Essa representação do alfabeto é muito distinta da utilizada hoje em nosso país. Em LIBRAS, o
alfabeto manual é unimanual, ou seja, é realizado apenas com uma das mãos.
Em Éden Veloso e Valdeci Maia (2009), encontramos o nome do medico britânico John Bulwer
(1614-1684), pouco divulgado na história das pessoas com surdez. Ele, ao observar dois surdos
conversando, compreendeu a importância da língua gestual para a educação da pessoa com
surdez. Bulwer foi o primeiro inglês a desenvolver e defender um método de comunicação entre
ouvintes e surdos.
Figura 8 – John Bulwer (1614-1684)
Fonte: Wikimedia Commons
Em 1644, publicou o livro A Língua natural da mão e a arte da retórica manual, que defendia o
uso do alfabeto manual, da língua de sinais e da leitura labial. Jhon Bulwer acreditava que a
Língua de Sinais era capaz de expressar os mesmos conceitos que a língua oral. Tentou criar
uma academia de surdos sem ter sido bem sucedido, pois seus estudos, na época, não foram
bem vistos por seus contemporâneos, que defendiam a oralização e a língua oral auditiva.
De acordo com Moura (2000), outro importante personagem inglês na história dos surdos foi
John Wallis (1616-1703), seguidor do método de Bonet. Ele trabalhava com um pequeno grupo
de surdos na tentativa de ensiná-los a falar, porém declarou que essa fala se deteriorava, pois o
surdo necessitava constantemente de um retorno externo para monitorá-lo. Após abandonar o
ensino da fala para os surdos, passou a utilizar a Língua de Sinais para ensiná-los e considerou a
língua visual gestual fundamental para o ensino da pessoa com surdez. É muito curioso que,
embora Wallis tenha desistido de ensinar os surdos a falar, ele é considerado o fundador do
oralismo na Inglaterra.
Braidwood fundou uma escola para surdos em Edimburgo, onde trabalhava com surdos e outras
crianças com problema de fala. Suas técnicas incluíam o uso do alfabeto manual, pronúncia e
leitura orofacial. Essa escola tornou-se referência na correção dos distúrbios da fala na Europa.
Muitas outras escolas foram fundadas com base nas técnicas de Braidwood. Todas elas eram
organizadas e dirigidas por membros de sua família, que mantinham suas técnicas em segredo,
não dividiam seus métodos, pois não queriam dividir o monopólio financeiro adquirido através
de suas técnicas.
Moura (2000) conta-nos que Charles Green foi a primeira criança americana a frequentar a
escola e obter sucesso no desenvolvimento orofacial. Seu pai, Francis Green, ficou tão motivado
com o sucesso do filho que decidiu lutar pela abertura de novas escolas para surdos baseadas
nas técnicas de Braidwood. Obviamente não obteve apoio deste, que não desejava divulgar seu
método nem dividir seus lucros.
Apesar do sucesso obtido no desenvolvimento da fala, quando Charles Green voltou para os
Estados Unidos, sua fala regrediu muito e Green passou a defender a Língua de Sinais e a criticar
as técnicas de Braidwood.
No final da Idade Moderna, um grande nome apareceu: Charles Michel L’Epée (1712 – 1789).
Muitos atribuem a ele a criação da Língua de Sinais, porém, como vimos anteriormente, muitos
de seus antecessores já acreditavam e divulgavam a Língua de Sinais como sendo uma forma
real de desenvolvimento para os surdos.
Trocando Ideias...
É importante ressaltar que não podemos atribuir uma data ou um
nome específico para a criação da Língua de Sinais, pois ela existe
deste que existem surdos, ou seja, desde o início da humanidade.
Porém, conforme aponta Moura (2000), um dos grandes diferenciais de L’Epée foi ter a
humildade de aprender a Língua de Sinais com os surdos e de considerar o que eles já traziam,
além de reconhecer os sinais como uma língua que podia, efetivamente, expressar conceitos
concretos e abstratos.
Éden Veloso e Valdeci Maia (2009) contam que L’Epée manteve contato com surdos carentes
que perambulavam pela cidade de Paris (nesse período não era permitido o extermínio dos
surdos como na Antiguidade, porém muitos surdos de origem humilde eram abandonados por
suas famílias), procurando aprender sua forma de comunicação e sistematizar seus estudos
sobre a Língua de Sinais.
Seu método combinava os sinais utilizados por seus alunos com a gramática da língua francesa e
foram denominados “Sinais Metódicos”, e utilizados até1830. Moura, em seu livro O Surdo:
caminhos para uma nova identidade, aponta:
método novo na educação dos Surdos, mas de ter tido a humildade de aprender a
Língua de Sinais com os Surdos para poder, através desta língua, montar o seu
próprio sistema para educá-los. Ele foi o primeiro a considerar que os Surdos
tinham uma língua, ainda que a considerasse falha para ser usada como método de
ensino. Através desta visão, em que a língua dos Surdos era reconhecida, ele
colocou os Surdos na categoria humana.”
- MOURA, 2000, p. 23
ser gasto em educação. Além disto considerava que, mesmo para aqueles que
poderiam aprender a falar, isto teria pouco utilidade, considerando-se o tempo
despendido e a utilidade real desta fala.”
- MOURA, 2000, p. 24
L’Epée fundou a primeira escola pública para surdos em Paris , o Instituto Nacional para Surdos-
Mudos, em 1760. Ele fazia demonstrações, em praça pública, de seus alunos com perguntas e
respostas através da Língua de Sinais e da escrita para provar que seu método funcionava e que
os surdos eram capazes de aprender. Dessa forma também arrecadava dinheiro para manter seu
trabalho. L’Epée morreu em 1789 quando já havia fundado 21 escolas para surdos na França e
em outras partes da Europa.
Figura 9 – Charles Michel L’Epée (1712 – 1789)
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: A Figura mostra um quadro em preto e branco fundo cinza,
um homem de meio perfil para a esquerda olhando para a frente, cabelos
brancos, rosto arredondado, trajando uma batina e uma estola curta branca. Fim
da descrição.
Idade Contemporânea
Você se recorda do Instituto de Surdos-Mudos de Paris fundado por L’Epée? Esse Instituto foi
um marco na história dos surdos e no reconhecimento da Língua de Sinais. Mas, após a morte
de seu fundador L’Epée, o que aconteceu? A Língua de Sinais foi adotada também por outros
professores, médicos e estudiosos? O que você acha? Veremos, agora, o que aconteceu com o
renomado Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris.
Importante!
Não se esqueça de que a concepção de surdez da época era diferente da
atual e o termo Surdo-Mudo, atualmente, não deve ser utilizado,
conforme vimos na unidade anterior.
Moura (2000) relata que, em 1790, Abbé Sicard (1742-1822) assumiu a direção do Instituto
Nacional de Surdos-Mudos no lugar de L’Epée. Sicard publicou dois livros: um de gramática
geral e outro com um relato de como ensinou Jean Massieu (surdo).
Jean Massieu tornou-se um renomado professor surdo da época e, após a morte de Sicard, foi o
nome mais indicado para, naturalmente, assumir a direção do Instituto. Porém isso não
aconteceu. Ele foi afastado por Jean-Marc Itard e Baron Joseph Marie de Gérando, que eram
grandes opositores da Língua de Sinais.
Após anos de trabalho e pesquisa, Itard reconheceu que a melhor forma para o ensino dos
surdos era a Língua de Sinais.
- MOURA, 2000, p. 27
Um Pouco da História dos Surdos nos Estados Unidos
Conforme Moura (2000), Thomas Gallaudet (1787-1851) começou a interessar-se pela surdez
após conhecer Alice Cogswell, uma menina surda que era sua vizinha e com a qual tentou
estabelecer algum tipo de comunicação através de gestos e apontado objetos. Ao longo do
tempo, seu interesse pela surdez só aumentou e ele uniu esforços com outras pessoas para criar
uma escola pública para surdos nos Estados Unidos. Gallaudet não conhecia nada sobre a surdez
e, por isso, foi para à Europa aprender o método utilizado por Braidwood (que utilizava o método
oralista, como vimos anteriormente), porém Braidwood, por interesse financeiro, não quis
revelar seu método.
Figura 10 – Laurent Clerc (1785-1869)
Fonte: Wikimedia Commons
Por essa razão Gallaudet foi para França para conhecer o método de L’Epée, que utilizava a
Língua de Sinais para o ensino dos surdos, como já vimos. No Instituto Nacional para Surdos-
Mudos, ele realizou um estágio e começou a aprender a Língua de Sinais e o sistema de Sinais
Metódicos. Seu instrutor foi o Laurent Clerc (1785-1869), surdo educado no Instituto desde os
doze anos de idade que, posteriormente, se tornou um brilhante e conhecido professor de
surdos.
Para fundar a primeira escola pública para surdos. Inicialmente eles utilizavam a Língua de
Sinais francesa e, gradativamente, foram adaptando e formando a Língua de Sinais Americana.
Essa escola recebeu o nome de Hartford School. Muitos surdos de outros estados estudavam
nessa escola e depois voltavam para suas cidades de origem. A escola possuía o regime de
internato. Em 1869, já existiam trinta escolas para surdos nos Estados Unidos.
Site
Gallaudet University
Para conhecer mais indico a visita ao site oficial, disponível a seguir.
ACESSE
Não podemos deixar de comentar que um dos mais conhecidos defensores do oralismo da época
que foi Alexander Graham Bell (1847-1922), cientista e inventor do telefone. Ele julgava que a
Língua de Sinais era inferior à língua oral e que a surdez era um desvio e, ainda, que o casamento
entre surdos era um perigo para a sociedade, embora sua própria mãe fosse surda.
Éden Veloso (2009) conta que, em 1873, Alexander Graham Bell ministrava aulas de fisiologia da
voz para surdos na Universidade de Boston quando conheceu a surda Mabel Gardiner Hulbard,
com quem se casou em 1877. Mabel era oralizada e não gostava de estar na presença de outros
surdos; para ela os surdos deveriam se passar por ouvintes encaixados no mundo. Graham Bell
criou o telefone em 1876, tentando criar um acessório para surdos.
Podemos perceber que esse período foi marcado por lutas e conquistas entre surdos e ouvintes.
Muitos dos estudiosos, professores e médicos da época que defendiam a oralização, após anos
de trabalho, compreenderam que apenas através da Língua de Sinais o surdo poderia sair de seu
isolamento e, realmente, estabelecer um processo comunicativo integral.
Infelizmente, na história das pessoas com surdez não foi dado o protagonismo ou a liberdade de
escolha para os próprios surdos. Podemos perceber que, durante muito tempo, não foi dada
“voz” aos surdos, foi lhes negado o direito de escolha, de decidir sobre sua própria vida.
Vimos um pequeno relato do percurso histórico dos surdos ao longo dos tempos em diferentes
países. Mas ... como foi esse cenário de lutas e conquistas em nosso país? Vejamos, agora, um
pouco da história dos surdos no Brasil.
Conforme Honora (2009), Hernest Huet trouxe documentos importantes referentes à Língua de
Sinais Francesa e o alfabeto manual para o nosso país. Dessa forma, ajudou a sistematizar nossa
Língua de Sinais, que sofreu grande influência da Língua de Sinais Francesa.
Huet notou que, em nosso país, não havia uma escola pública para surdos e, então, solicitou ao
Imperador Dom Pedro II um prédio para fundar o Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro
em 26 de Setembro de 1857, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos. Atualmente, nessa
data, é comemorado o Dia Nacional do Surdo.
Figura 12 – Instituto Nacional de Educação de Surdos
Fonte: nes.gov.br
Leitura
País tem 10,7 Milhões de Pessoas com Deficiência Auditiva, Diz Estudo
Para conhecer mais sobre o “Dia Nacional do Surdo”, veja a
reportagem realizada pela NBR Noticias publicada no site a seguir:
ACESSE
Dessa forma nossa Língua de Sinais começou a ser sistematizada, Não se esqueça de que,
conforme vimos anteriormente, a Língua de Sinais sempre existiu; Huet apenas auxiliou a
organização dessa língua através de sua experiência e de importantes documentos trazidos de
Paris. Em 1861, Huet deixou a direção do Instituto por problemas pessoais e foi para o México,
onde fundou uma escola para surdos.
Após a saída de Huet, muitos diretores com diferentes concepções passaram pelo Instituto,
conforme Moura (2000) e Honora (2009). Podemos citar alguns, como:
Tabela 1
Como você pode perceber, a história das pessoas com surdez foi e ainda continua sendo
marcada por lutas e conquistas. Esta visita à história dos surdos ajuda-nos a entender o
momento atual em que vivemos. Também podemos perceber que muitos mitos associados ao
surdo, que estudamos na unidade anterior, estão alicerçados em sua própria história e também
em concepções equivocadas que, ao longo do tempo, foram construídas.
Durante muitos anos, a educação de surdos foi essencialmente pautada em uma Concepção
Oralista, com foco no treino orofacial e desenvolvimento da fala, proibindo-se o uso de sinais. O
objetivo primordial era a busca da “normalidade” e, infelizmente, muitos professores,
pesquisadores e cientistas acreditaram que apenas a fala poderia conferir o acesso dos surdos à
sociedade. Durante séculos a Língua de Sinais foi considerada inferior à Língua Oral.
Conforme Honora (2009), a concepção oralista em nosso país perdeu força em meados de 1970,
com os estudos de Ivete Vasconcelos, educadora surda da Universidade de Gallaudet, que trouxe
para o Brasil a Concepção da Comunicação Total. Nessa abordagem, os sinais, mímicas, gestos e
expressões faciais são permitidos, porém concomitantemente ao uso da Língua Portuguesa; o
objetivo principal ainda era fazer com que o surdo desenvolvesse a fala.
Apenas a partir de 1980, em nosso país, começou a ser pensada uma Concepção Bilíngue de
educação para surdos. Nessa abordagem, a Língua de Sinais passou a ser considerada a língua
materna dos surdos congênitos e seu aprendizado, realizado de forma natural. Saiu de cena o
discurso clínico e o surdo passou a ser visto como diferente. A Libras foi reconhecida como a
segunda língua oficial de nosso país por decreto federal.
Ser surdo não é apenas uma condição audiológica, mas sim condição de pertencimento a uma
cultura diferenciada; é conceber o mundo através de uma língua visual, que hoje é garantida
como meio legal de comunicação e expressão, denotando ao surdo o pertencimento a uma
minoria linguística que deve ser respeitada e considerada. Para finalizarmos esta unidade,
gostaria de compartilhar com você o seguinte pensamento da professora e neurologista Maria
Amim:
- MOURA, 2000, p. 27
3/4
ʪ Material Complementar
Vídeos
ʪ Referências
AMIM, M. O que significa ser surdo? Conhecendo um pouco do que significa ser surdo através da
discussão do filme “Seu nome é Jonas”. In: Revista virtual de cultura surda e diversidade. Ed. 5.
Ano, 2009. Disponível em: <http://www.editora-azul-arara . araral.com.br/revista/relato.php>.
Acesso em: 06/12/2011
MOURA, M. C. O Surdo – caminhos para uma Nova Identidade. Editora Revinter - FAPESP, 2000.
VELOSO, E.; MAIA, V. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez. Curitiba: Ed. MãoSinais, 2012. 6.
ed.