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FACIBRA - FACULDADE DE CIÊNCIAS DE WENCESLAU BRAZ

INSTITUTO DE APOIO SUPERIOR DO NORTE


POS-GRADUAÇÃO EM LIBRAS COM DOCÊNCIA DO ENSINO
SUPERIOR

TEMA: OS DESAFIOS DE PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE PARA O


ATENDIMENTO DE SURDO NA CIDADE DE PARINTINS
Elenilda de Souza da Silva1
Gleiciane Damasceno Reis2
Soraia Paz Reis3
Orientadora :Francisca Keila de Freitas Amoedo4
NOTA :9.0
RESUMO:
A temática apresentada traz como objetivo geral verificar as dificuldades que os profissionais
da área da saúde enfrentam para o atendimento de surdos em Parintins, a escolha deve-se
ao fato de observarmos a necessidade de profissionais da saúde capacitados para atender o
surdo, constatamos que atualmente qualquer tipo de discussão sobre inclusão social é
importante para o atendimento humanizado. A presença nos hospitais e UBS de profissionais
bilíngues permite que o surdo possa de fato estar inserido na sociedade. Como aportes
teóricos temos autores como: (Martins, 2001), (Chaveiro, 2008), (Magrini e Santos, 2014), tais
autores nos falam sobre o atendimento hoje prestado aos surdos deve ocorrer como
determina a lei, é direito do surdo o atendimento especializado. Por conta dessa dificuldade,
foi realizado um estudo que buscou analisar a assistência prestada aos surdos quando eles
procuram os serviços de saúde. O objetivo foi identificar os métodos de comunicação
utilizados para atendimento aos surdos nos serviços de saúde; investigar como se estabelece
o vínculo entre os surdos e os profissionais da saúde e verificar as percepções dos surdos
quanto ao acolhimento existente nos serviços de saúde.
Palavras-chave: Acessibilidade. Serviços de Saúde. Comunicação.

ABSTRACT:
The theme presented brings as a general objective to verify the difficulties that health
professionals face in the care of the deaf in Parintins, the choice is due to the fact that
we observe the need for trained health professionals to attend the deaf, we find that
currently any type of discussion on social inclusion is important for humanized care.

11 Graduada em Pedagogia pela Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, Pós-graduandas em Libras


com Docência do Ensino Superior. E-mail: dudaduda_22@hotmail.com
2 2 Graduada em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA, Pós-

graduandas em Libras com Docência do Ensino Superior. E-mail: gleice_dr@hotmail.com


3 3 Graduada em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade do Estado do Amazonas - UEA, Pós-

graduandas em Libras com Docência do Ensino Superior. E-mail: soraiapazreis23@gmail.com


44 Professora Doutoranda de Pós-graduação em Educação Em Ciências e Matemática através da

REAMEC Rede Amazônica de Educação em Ciências Matemática. Mestre do programa de Pós-


Graduação em Educação e Ciências na Amazônia, Graduada em Pedagogia, especialização em
Psicopedagogia, Educação Inclusiva e Libras. Professora da Universidade do Estado do Amazonas. E-
mail: keilamoedo@hotmail.com
The presence of bilingual professionals in hospitals and UBS allows the deaf to be
inserted in society. As theoretical contributions we have authors such as: (Martins,
2001), (Chaveiro, 2008), (Magrini and Santos, 2014), such authors tell us about the
care provided today to the deaf should occur as determined by law, it is the right of the
deaf to specialized service. Because of this difficulty, a study was carried out that
sought to analyze the assistance provided to the deaf when they seek health services.
The objective was to identify the communication methods used to assist the deaf in
health services; to investigate how the bond between the deaf and health professionals
is established and to verify the perceptions of the deaf regarding the reception available
in health services.
Keywords: Accessibility. Health Services. Communication

INTRODUÇÃO
Falar sobre inclusão no contexto social ainda nos dias atuais vem sendo alvo
de muitas discussões especialmente no que se refere as políticas públicas que vem
tentando instalar sobre o Brasil, afim que todos possam ter direitos iguais.
Partindo das questões sociais temos como temática deste artigo “Os desafios de
profissionais da área de saúde para o atendimento de surdo na cidade de
Parintins/AM, o qual nos inquietou enquanto problemática. Quais os desafios que os
profissionais da área de saúde na UBS Tia Leó enfrentam para o atendimento de
surdos em Parintins?
A problemática está em torno de questões sociais que envolve a comunidade
surda no Município de Parintins, especificamente no âmbito da saúde, a qual vem
sendo afetada nos últimos anos por conta da pandemia causada pela Covid 19, que
passa a ser mais um problema diante do atendimento da pessoa surda que precisa
do atendimento na UBS.
Devido toda essa situação o objetivo geral foi traçado com intuito de verificar
as dificuldades que os profissionais da área da saúde enfrentam para o atendimento
de surdos em Parintins, identificar quais os desafios enfrentados pelos portadores de
surdez quando buscam atendimento nos serviços de saúde, pautados ainda nos
objetivos específicos.

Observar o atendimento dos profissionais da área da saúde na UBS Tia Leó,


para o atendimento de surdos em Parintins.

Pesquisar a formação do profissional da área da saúde para o atendimento


do surdo na cidade de Parintins.
Identificar a formação do profissional da saúde voltada para o atendimento do
surdo na cidade de Parintins.

Justificamos ainda esse trabalho por entendermos a necessidade de profissionais da


saúde capacitados para atender o surdo, constatamos que atualmente qualquer tipo
de discussão sobre inclusão social é importante para o atendimento humanizado. A
presença nos hospitais e UBSs de profissionais bilíngues permite que o surdo possa
de fato estar inserido na sociedade.
O atendimento hoje prestado aos surdos deve ocorrer como determina a lei, é direito
do surdo o atendimento especializado.
Ainda enquanto contribuições o processo de inclusão social referente ao
atendimento as pessoas surdas, nos serviços da área de saúde, estabelecem-se
como fator essencial de qualidade dos serviços prestados, enquanto que a falta
de comunicação inviabiliza um atendimento humanizado. Por isso acreditamos
que a pesquisa que culmina nesse artigo permite um olhar sobre a comunicação
com os surdos surge como um desafio aos profissionais que lhes prestam
assistência à saúde.

2-REFERENCIAL TEÓRICO

2.1-BREVE HISTÓRICO TRAJETÓRIA DOS SURDOS

No Brasil a trajetória dos surdos começou a mudar a partir da vinda do francês


Eduard Huet, também surdo, mas com um conhecimento em metodologia do ensino,
sua presença no Brasil foi a pedido do imperador Dom Pedro II, para iniciar um
trabalho educativo com os surdos, essa iniciativa se deu pelo fato de ter na família
real um parente com surdez, o que sensibilizou o imperador a ter essa iniciativa.
Entretanto essa atitude agradou a poucos, pois na época os surdos não eram
aceitos na sociedade e o fato do instrutor ser surdo ajudou no desconforto da
sociedade. Toda via isso não impediu que o Imperador fundasse em 26 de setembro
1857, a escola para os surdos que levou o nome de Imperial Instituto dos Surdos
Mudos posteriormente renomeados de Instituto Nacional de Educação de Surdos–
INES.
No Amazonas os primeiros avanços tiveram um grande marco em 1970 onde
os professores da rede estatual obtiveram capacitação oferecida pela Secretária
Estadual de Educação do Amazonas em parceria com o Ministério da Educação
(MEC) que fora realizada na cidade do Rio de Janeiro, um ganho grandioso para a
educação de alunos com deficiência visual, auditiva e mental que passaram a ser
agraciado com três classes especiais dentro da Escola Regular do Estado.
Já em 1975 o governo do estado do Amazonas criou o setor responsável pela
educação especial chamado Coordenação de Programa de Assistência ao Educando
Especial que contaria com um quadro de profissionais capacitados a atender as várias
deficiências, estes profissionais a partir de então se tornariam multiplicadores da
educação especial na capital e interior. Desde então a educação especial no
Amazonas vem crescendo e nos anos 90 outro feito importante para a inclusão foi a
integração dos alunos especiais a salas regulares e não mais em salas distintas e
isoladas.
No período compreendido entre o final do século XIX até a década de 1940, a
sociedade vivenciou a política da exclusão e segregação. Na exclusão os deficientes
eram considerados inválidos, inúteis, chegando, em algumas culturas, ao extermínio.
Já no século XX a fase da segregação se instaura, criaram-se grandes instituições
para abrigá-los, em regime de internato, um progresso da humanidade, visando
apenas ao bem-estar da pessoa com deficiência, período eminentemente assistencial.
O movimento da integração ocorreu nas décadas de 1950 a 1980 contra a
política de segregação, induzindo as pessoas com deficiência ao máximo esforço para
reverter o quadro e conseguir sua adaptação ao meio social. Em caso de êxito seriam
integradas, ao contrário, continuariam à margem da sociedade.
A fase de inclusão surgiu na década de 1980 e está em plena discussão nos
dias atuais. Surge a concepção de que a família e a sociedade devem adaptar-se às
necessidades de todas as pessoas, sejam elas deficientes ou não. A imagem da
pessoa com deficiência é de alguém que possa desenvolver e exercer sua cidadania,
com autonomia e liberdade, numa sociedade na qual ela tem direitos e sobre a qual
ele tem deveres.
O contexto histórico da educação de crianças surdas no Município de Parintins
inicia na década de 80, com a iniciativa da Diocese de Parintins, com o atendimento
educacional a 42 surdos após formação recebida em Belém/PA, com o apoio da
Unidade Educacional Estadual/SEDUC. Em 1982, a Escola de Áudio Comunicação
“Pe. Paulo Manna”.

Arquivo: https://alvoradaparintins.com.br/ 2021

2.1 .2-INCLUSÃO SOCIAL E O DIREITO A SAUDE DA PESSOA SURDA

A inclusão social referente ao atendimento aos surdos, nos serviços da área de


saúde, estabelece-se como fator essencial de qualidade dos serviços prestados,
enquanto que a falta de comunicação inviabiliza um atendimento humanizado. A
comunicação com os surdos surge como um desafio aos profissionais que lhes
prestam assistência à saúde.
Compreender o processo de inclusão social que é proposto hoje à sociedade
exige conhecimento da história sobre como foram tratadas as pessoas com
deficiências, explicitada em quatro momentos distintos, a saber: exclusão,
segregação, integração e inclusão.
De acordo com o Ministério da Educação do Brasil: as garantias individuais do
surdo e o pleno exercício da cidadania alcançaram respaldo institucional decisivo com
a Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, em que é reconhecido o estatuto da
Língua Brasileira de Sinais como língua oficial da comunidade surda, com implicações
para sua divulgação e ensino, para o acesso bilíngue à informação em ambientes
institucionais e para a capacitação dos profissionais que trabalham com os surdos.
O Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamentou a Lei
10.436/02, também denominada Lei de Libras, trata dos aspectos relativos à inclusão
dessa linguagem nos cursos superiores, à formação de professores para seu ensino,
à formação de tradutores e intérpretes de Libras, à atuação do Serviço Único de Saúde
(SUS), à capacitação de servidores públicos para o uso da Libras ou sua interpretação
e à dotação orçamentária para garantir as ações previstas nº Decreto 5.626/05.
Geralmente, o encontro clínico entre o profissional da saúde e o cidadão surdo
ocorre fora dos padrões previstos na rotina de qualquer profissional neste contexto a
situação torna-se limitada para ambos, devido os prejuízos diante das limitações de
comunicação e compreensão por parte do profissional da saúde e da pessoa surda
que recorre ao atendimento na área de saúde, especialmente nas UBS local sempre
muito procurado para atendimentos médicos.
A gravidade da situação torna-se maior se for levado em conta o fato de que a
Língua de Sinais (LS), na maioria das vezes, é desconhecida pelos profissionais
de saúde. Alguns imaginam que a solução estaria na solicitação do intérprete da
LS como intermediário, deixando subentendida a necessidade de inclusão de uma
terceira pessoa nessa relação para que se efetive a comunicação.
Cabe agora às instituições públicas e à sociedade de modo geral proporcionar
meios para que a inclusão social possa verdadeiramente acontecer. Ressalta-se, aqui,
a importância do Art. 3º da Lei Federal nº 10.436/02, descrito a seguir:

As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços


públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e
tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de
acordo com as normas legais em vigor. Brasil (2002)

A linguagem é um instrumento de poder e aos surdos não pode ser negado o


direito de usufruir os benefícios de uma língua, portanto, aceitar a diferença do surdo
e conviver com a diversidade humana é um desafio proposto à sociedade, incluindo o
adequado atendimento na área da saúde para os surdos, diante de suas
necessidades. O Decreto nº 5.296, de 02 de dezembro de 2004, e claro quando
descreve que a deficiência auditiva ou surdez é a perda da audição bilateral, parcial
ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas
frequências de 500HZ, 2.000HZ e 3.000HZ.
Assim, é indispensável ao ser humano comunicar-se com o mundo que está
externo ao seu corpo, realizando-se no compreender e ser compreendido, como
também nas interações interpessoais; por isso, a comunicação e a interação com o
universo à sua volta, são necessidades que independem de sua vontade.
O surdo deseja ser tão entendido quanto o ouvinte, mas, na maioria das vezes,
não pode se comunicar por igual porque não consegue ouvir, o que o impede de
desenvolver a fala, que é a forma mais usada de expressão. O censo aponta que 6,7%
da população brasileira tem alguma deficiência severa e a auditiva atinge cifras em
torno de 1,1% do público citado

Arquivo:http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012

2.2 AS DIFICULDADES ENFRETADAS PELA COMUNIDADE SURDA NO


ATENDIMENTO A SAUDE NO MUNICIPIO DE PARINRINS

O município de Parintins está localizado no Estado do Amazonas (AM), com


aproximadamente 114.273 habitantes, tem um número expressivo de surdos os quais
na maioria jovens e adultos que constantemente estão necessitando do atendimento
nas UBS.

ARQUIVO: JORNAL ALVORADA 2018


Assim percebemos o número de UBS, na cidade e Parintins o que nos faz
reflete sobre a assistencialização na atenção primária (básica) à saúde de pessoas
com surdez, no cenário atual de pandemia (“novo normal”) no Brasil.
Sabemos que o ano de 2020 trouxe várias transformações para o Brasil e para
o mundo no âmbito da saúde devido a uma das maiores crises sanitárias já vista
depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Em março de 2020, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) declarou a categorização de uma nova doença infecciosa chamada
COVID-19 como pandemia. Segundo a OMS, pandemia é um termo usado para uma
determinada doença que rapidamente se espalhou por diversas partes de diversas
regiões (continental ou mundial) através de uma contaminação sustentada (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2020).
A COVID-19 é uma doença causada pelo corona vírus, denominado SARS-
CoV-2, que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a
quadros graves. Cerca de 80% dos pacientes com COVID-19 podem ser
assintomáticos ou oligossintomáticos (poucos sintomas), e aproximadamente 20%
dos casos requer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória,
dos quais aproximadamente 5% podem necessitar de suporte ventilatório (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2020).

.
METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, adequada para este estudo por atribuir
significados, experiências, sentimentos, atitudes e valores dos sujeitos envolvidos,
num espaço mais extenso das relações, tendo em consideração como objeto de
estudo pessoas pertencentes a determinada condição social, com suas crenças e
valores. Em relação, os profissionais que atuam na atenção básica de saúde precisam
estar preparados para acolher e prestar atendimento a toda a população, inclusive ao
usuário com deficiência auditiva, pois, conforme Ohara e Saito (2010), a atenção
básica deve considerar o indivíduo em sua particularidade, complexidade,
integralidade e inserção sociocultural. Além disso, tem como papel desenvolver
estratégias que possibilitem ao indivíduo viver de modo saudável, autônomo e sem
limitações físicas ou de comunicação.
O projeto de pesquisa é uma revisão na busca de conhecer e perceber na
percepção subjetiva dos surdos sobre a acessibilidade aos serviços para sua saúde,
assim tornando o estudo mais próximo da realidade.
O percurso metodológico dar-se por meio da pesquisa bibliográfica e por meio
de entrevista virtual, considerando o isolamento por causa da pandemia. A entrevista
representa uma técnica de coleta de dados na qual o pesquisador tem um contato
mais direto com a pessoa, no sentido de se inteirar de suas opiniões acerca de um
determinado assunto. Esse método requer do pesquisador um cuidado especial na
sua elaboração, desenvolvimento e aplicação, sem contar que os objetivos propostos
devem ser efetivamente delineados, a fim de que se obtenha o resultado pretendido.
Segundo Dencker (2000), as entrevistas podem ser estruturadas, constituídas
de perguntas definidas; ou semiestruturadas, permitindo uma maior liberdade ao
pesquisador. Dessa forma, optando pela pesquisa semiestruturadas, para que
pudéssemos oportunizar maior liberdade de resposta aos participantes. Utilizou-se
dois roteiros de entrevista com perguntas abertas e fechadas para as duas categorias,
sendo que as entrevistas com os surdos foram registradas e utilizado uma intérprete
para intermediar o diálogo, procedimento este não utilizado com os profissionais da
saúde que apenas limitou-se ao roteiro de entrevista entre o pesquisador e o
profissional
O Lócus da pesquisa inicia nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), da cidade
de Parintins, tendo como sujeito da pesquisa pessoas surdas e profissionais que
atuam nas UBS com serviços de assistência e atendimento direto ao usuário surdo.
.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCEPÇÃO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE SOBRE O ATENDIMENTO AO
SURDO
Constatando que por ser uma comunidade minoritária, os surdos enfrentam
inúmeras barreiras na acessibilidade a diversos serviços e em especial nos serviços
de saúde. Por essa razão, surge a necessidade de investigação sistemática dos
principais desafios vivenciados pelos surdos no atendimento nas Unidades de Saúde,
no Brasil (MARIA et al.,2016).
Participaram desse estudo uma profissional de saúde e um usuário surdo,
podemos compreender, algumas barreiras enfrentadas, para realizar esse
atendimento a pessoas surdas.
A dificuldade da comunicação não verbal é um dos principais fatores que
fragiliza a inclusão dos deficientes auditivos, repercutindo na acessibilidade dos
serviços. Essa realidade persiste apesar da existência de Políticas Públicas, como
exemplo a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (PNASA), que tem como
objetivo atender a população brasileira com deficiência auditiva, criando condições de
acesso e procedimentos de saúde (OLIVEIRA et al..2014).
A partir das experiências com os entrevistados, foram identificados alguma
experiência negativas. 1) qual sua profissão; 2) já fez atendimento para paciente
surdo; 3) você saberia se comunicar com um paciente surdo; 4) tem algum
conhecimento sobre a língua brasileira de sinais (LIBRAS); 5) já precisou de
atendimento médico; 6) como foi sua experiência e quais os problemas de
comunicação durante o exame físico e procedimentos com atendimento de um
profissional.
Para preservar o anonimato dos participantes, foram utilizados códigos com
letra e número, sendo que a letra “R1” corresponde ao profissional de saúde, e o
número T2 corresponde ao usuário surdo.
R1 T2
Enfermeira Autônomo
Qual sua profissão?

Sim, porem com


A realização de dificuldades na
atendimento para comunicação com o
pacientes surdos é sem paciente
dúvidas um desafio.
Observa-se a Infelizmente não
dificuldade em se compreendo muito.
comunicar com o Sabemos que nos
paciente surdo. profissionais médicos,
enfermeiros e demais
profissionais saibam o
básico de Libras. Pois em
situações de emergência,
não há tempo para
escrever ou para não
conseguir se comunicar.
Alguns profissionais Somente o básico. Temos
tem o curso básico, da a necessidade de aulas de
LÍNGUA BRASILEIRA Libras e treinamento
DE SINAIS (LIBRAS), teórico-prático prévio. A
mas para ter uma boa surdez na relação médico-
comunicação seria paciente não deve ser
necessário um curso encarada como doença e
intensivo. sim como um obstáculo
linguístico a ser vencido,
devemos nós nos adaptar
à sua realidade linguística
Assim como observado Me sinto para baixo, gostaria
durante o estudo do que os médicos
artigo, quando precisa conseguissem nos entender.
de atendimento médico Muitos de nós não sabem
o surdo sente-se como escrever e não fazem
leitura labial. Tem alguns
inseguro durante a médicos que falam muito
assistência, até mesmo baixo; mesmo que eu peça
com relação ao para falar um pouco mais
diagnóstico e alto ou articular melhor a
tratamento proposto. boca, eles acabam
esquecendo. Sinto
dificuldade. É ruim saber que
o profissional não entende o
que eu tenho.
A experiência e os Quando vou ao médico ele
problemas de apenas fala e escreve,
comunicação durante o utiliza o papel mostrando
exame físico e como tenho que usar o
procedimentos com remédio, eu não entendo
atendimento de um nada, mas já me
profissional é sempre acostumei com essa
uma barreira. situação de desprezo.

Podemos observar que o profissional de saúde, não tem conhecimento


suficiente sobre a LIBRAS para uma boa comunicação e relação com o paciente.
Sendo assim, de acordo com o Decreto 5.626 de 2005 determina que a Libras
(Língua Brasileira de Sinais) deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória
nos cursos de nível superior e nos cursos de Fonoaudiologia. Entretanto, para os
profissionais da área da saúde, a formação em Libras ainda é oferecida através de
disciplina optativa nos cursos de graduação, fator este que pode dificultar a inserção
do usuário surdo nos serviços de saúde existente, limitar o atendimento e a qualidade
da relação entre os futuros profissionais e usuários, comprometendo a integralidade e
a humanização no cuidado (SOUZA E POROZZI, 2009).
Apesar da existência de Políticas Públicas planejadas pelos serviços de saúde.
Normalmente, as ferramentas utilizadas com o intuito de viabilizar a comunicação são
partes de iniciativas individuais, ou seja, cada profissional vai se adequando a
estratégias, à medida que surgem as necessidades.
Temos hoje um grande desafio: como cada indivíduo e profissional pode
contribuir para a implementação de uma sociedade inclusiva que saiba conviver com
as diversidades. Não importa que atividade profissional uma pessoa irá exercer, em
diferentes situações ela deverá lidar com pessoas que têm deficiência: pacientes,
alunos, leitores, funcionários, amigos, professores.
Aragão et al 11 enfatizam que todas essas formas de comunicação
implementadas buscam proporcionar o melhor atendimento, entretanto sem êxito na
maioria das vezes, pois as dificuldades permanecerão e a necessidade de libras só é
lembrada quando se deparam com um usuário surdo, não existe a sensibilidade de
buscar qualificação para que então possa dizer que a acessibilidade exista.

A CONCEPÇÃO DO USUÁRIO SURDO EM RELAÇAO AO ATENDIMENTO NA


UBS

As dificuldades na comunicação os surdos vivem constantemente no seu dia a


dia, uma situação corriqueira que todos já aprenderam ou tentam enfrentar da melhor
forma possível, porem essa comunicação é fundamental durante um atendimento de
saúde, mesmo que seja na atenção básica, pois através de um diálogo satisfatório é
que o profissional poderá estabelecer um procedimento ou instruir uma conduta clinica
ao paciente.
“Eu já estive doente e não fui ao médico, pela falta de comunicação e tive que
esperar a disponibilidade de alguém da família ir comigo”

Comprova-se que pacientes surdos buscam menos o sistema de saúde


comparado aos pacientes ouvintes, tendo como principal justificativa o medo, a
desconfiança e a frustação. É comum a população surda ter menos instrução que a
população geral, logo, é necessária uma atenção para evitar uso de termos técnicos,
evitar palavras que podem confundir e fazer uso de letras legíveis (TEDESCO:
JUNGES, 2013).
O bloqueio de comunicação entre surdos e profissionais da saúde instaura-se
como um dos grandes obstáculos da comunidade surda, quando procura serviços de
saúde. O surdo não encontra oportunidade de se expressar nem de expor as suas
dúvidas na consulta, deixando para o acompanhante a responsabilidade de explicar
ao profissional os problemas de saúde que apresenta, sendo também essa pessoa
quem recebe as orientações. Além disso, a presença do acompanhante retira do
surdo o direito da individualidade necessária para a sua exposição, fazendo com que,
muitas vezes, angústias e dificuldades que só o próprio surdo sente, passem
despercebidas quando é transferida para os familiares a responsabilidade da
comunicação. O indivíduo surdo precisa ser assistido de forma global, respeitadas
suas crenças, seus valores e diferenças.
Para assegurar os direitos e atender as particularidades desse público criou-se
a Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência – PNSPPD (2002),
voltada para as pessoas com deficiência física, auditiva, visual, intelectual ou múltipla
e ostomizados, e de forma mais específica a Política Nacional de Atenção à Saúde
Auditiva (2004), voltada para as pessoas surdas, denominadas comumente de
deficientes auditivos (DA).
Ambas estabelecem diretrizes para a assistência do indivíduo considerando a
rede assistencial proposta pelo SUS e estabelecem interfaces com outras políticas
públicas, como a Política Nacional de Atenção Básica – PNAB (2006), que é destinada
a toda população, sem distinções (BRASIL,2009).
A força da legislação não tem sido suficiente para atingir a sociedade brasileira
no que se refere à inclusão. Avançamos, mas ainda continuamos pensando e agindo
no âmbito do conceito da integração, as pessoas precisam estar prontas para conviver
nos sistemas sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa, nos possibilitou conhecer a realidade de acesso à Saúde pelos


surdos e, conforme os princípios de universalidade, igualdade e integralidade
estabelecidos na criação do SUS, pode-se observar que existem muitas barreiras que
não tornam o acesso à saúde efetivo, tais como a falta de capacitação dos
profissionais em Libras.
A ausência de interpretes de Libras, a ausência de insumos tecnológicos.
Mesmo com existência de Políticas Públicas, a própria sociedade ainda vê o surdo
com alguém incapaz de tomar suas próprias decisões e se tornam sujeitos passivo do
seu processo saúde-doença.
Para que haja à acessibilidade a esse público, é necessário que os gestores,
profissionais técnicos, enfermeiros, médicos e demais profissionais estejam
sensibilizados da grande importância que é uso e a difusão da LIBRAS no
atendimento.
Somos ciente que a qualificação deve ser difundida desde a graduação desses
profissionais, mas como lhe é garantido, os gestores municipais devem promover essa
capacitação e qualificação a exemplo do que ocorre nos demais setores públicos,
como por exemplo, no setor da educação.
Conviver no universo das pessoas com deficiência envolve uma mudança de
paradigmas. Para os surdos, as mudanças acontecem quando são aceitos e
respeitados em suas diferenças e contar com a presença de intérpretes da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS), no atendimento aos surdos é exemplo de valorização
das diversidades.

REFERÊNCIAS
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