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Artigo “O Pequeno Hans discutido e sentido entre o passado e presente”

Neste artigo o autor Celso Gutfreind fala sobre o que ainda é conservado atualmente
para o tratamento infantil no modelo psicanalítico. Ele percebeu que tirando algumas
diferenças técnicas, as ideias de Freud seguem atuais e consistentes.

Freud propôs três objetivos para a discussão do caso Hans: primeiramente, rever as
ideias que foram expostas em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Freud, 1905); em
segundo, contribuir para a compreensão da fobia e, por terceiro e último, “projetar alguma
luz” sobre a vida mental e educacional das crianças.

Quando Freud reconheceu que o caso confirmava as hipóteses dos “Três ensaios...”,
precisou defender-se de duas críticas que poderiam surgir: a primeira se referia ao fato de
Hans ser considerado uma criança anormal, e não um parâmetro. Mas o tempo mostrou que
um sintoma pode estar presente no normal e no anormal, e talvez nos dias de hoje, Hans nem
fosse diagnosticado como fóbico, pois existem medos considerados normais em crianças de
cinco anos.

A segunda crítica, fala sobre a possibilidade de Hans ter sido aconselhado pelo pai, que
por sua vez, teria sido aconselhado por Freud, colocando fim a objetividade do trabalho.
Então, existe a possibilidade da criança ter feito o que o adulto desejava, em troca de atenção.
Mas Freud defendeu-se dizendo que não há arbitrário na vida mental, sendo assim, era capaz
de confiar no discurso de uma criança como confia no de um adulto.

Freud estava dando um recado para o século, quando se permitia levar a sério e
compreender cada palavra, cada fantasia, cada mentira de uma criança. E o recado era de que
é necessário ouvir as crianças. E muitos anos depois, começamos a ouvir melhor em algumas
casas, escolas ou consultórios.

Para Freud não havia mentira no discurso de Hans, pois ele compreendia que há uma
criança dentro de um adulto, e não confiar na expressão das crianças é não confiar nos
adultos, e ser surdo para vida e para todos que estão nela. E segundo ele, é a entrada de outra
pessoas no mundo interno da criança que pode fazer a neurose sair. Hoje, podemos dizer que
o que cura é o encontro. Segundo Gutfreind, a técnica mudou, mas a importância do encontro
ainda é a mesma.

Hoje, podemos dizer que os pais são protagonistas da cena analítica, e não apenas
porta vozes do material de seus filhos. As crianças brincam mais do que falam diretamente. No
caso Hans, Freud pode ter sido considerado por alguns, mero supervisor do pai do menino.

O pai de Hans podia enchê-lo de perguntas, mas Freud não enchia o pai de
comentários. Então, é uma relação marcada pela escuta. E hoje, continua assim, somos
discretos acolhedores de uma história tecida com o paciente durante o encontro terapêutico.

O final do caso e do sintoma foi quando Hans se desfez da repressão na fantasia de


cuidar de seus filhos, quando brincava que estava limpando as bonecas. Atualmente o que
conhecemos de mais eficaz no tratamento da saúde mental infantil, é a representação da
vontade da criança em um jogo, em um desenho ou em uma história.
Falar é melhorar, pois um nome bem sentido e bem dado desfaz um medo ou um
sintoma. A evolução da psicanálise infantil nos permite não repetir o tratamento oferecido a
Hans, mas sim um tratamento com atendimentos diretos e lúdicos.

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0486-641X2009000200008&script=sci_arttext

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