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CLÍNICA COM CRIANÇAS

PROFª MARIANNE BONILHA


Freud nunca atendeu uma criança, mas atendendo os pacientes adultos pode perceber a
determinação da sexualidade infantil na neurose destes.

Freud, no início de sua obra, afirmava ser necessário maturidade para alguém se
submeter à análise, o que inviabilizava sua aplicação a pessoas jovens, adultos pouco
inteligentes e incultos.

A psicanálise com crianças teve sua experiência inaugural com o caso Hans (1909),
provocando controvérsias.

Freud estava num momento em que queria reunir material para comprovar sua tese da
sexualidade infantil
CASO HANS

MAX GRAF (Pai de Hans) frequentava as reuniões de quarta a noite com Freud

Freud estimulava que os participantes realizassem observações dos próprios filhos


com intuito de reunir material para comprovar sua tese da sexualidade infantil

Os registros sobre Hans iniciam aos 3 anos (muito antes da fobia se manifestar)
Aos 3 anos começa a ter curiosidade sobre tudo que tivesse pipi
Aos 3 anos e meio sua mãe ameaça cortá-lo ao vê-lo tocando-o
Continua a observar animais e associa a locomotivas
Na sequência observa objetos e pessoas que não tem (observa a mãe trocando de
roupa) – no diálogo com a mãe menciona que achava que ela era tão grande que
tinha um pipi igual ao de um cavalo (em sequencia desenvolve fobia por cavalo)
Nasce a irmã – ciúmes – febre – observa que a irmã não tem
Aos 4 anos, durante cuidados de higiene, Hans pergunta a mãe por que ela não
colocava a mão no pipi dele. Ela o adverte sobre isso ser errado
Aos 4 anos, durante cuidados de higiene, Hans pergunta a mãe por que ela não
colocava a mão no pipi dele. Ela o adverte sobre isso ser errado
Depois desse dia, ele tem um sonho, em que estava brincando de cobrar prendas
com as meninas. Ele pergunta: “quem é que quer vir comigo‟ ela (Berta, ou Olga)
respondeu: “eu quero”. “Então ela tem que me obrigar a fazer pipi”
O pai de Hans escreve a Freud contando que Hans estava com muito medo de que
um cavalo o mordesse na rua – pai pensa que o medo possa estar relacionado a
pênis grande.
Sonho de Hans (quatro anos e nove meses) desperta em lágrimas, após sonhar que
pensou que a mãe tinha ido embora e ficava sem ela para “mimarmos juntos‟.

Neste sonho e nos recortes seguintes, Hans demostra ansiedade e angústia ao


separar-se da mãe.

Hans ao sair para dar seus passeios, chorava no meio deles e pedia para voltar
para casa, junto com mãe. Depois, vem no discurso de Hans que ele tem medo que
um cavalo o morda.
Freud orientava o pai de Hans que explicasse a ele sobre a sexualidade
Nessa análise, o pai de Herbert (nome verdadeiro do "pequeno Hans")
observava e registrava fatos e comentários do filho, cabendo a Freud
revelar o sentido para que fosse transmitido a Hans.

Freud seguiu os princípios da técnica analítica da época, interpretando à


criança seus desejos edípicos e sua angústia de castração. Este caso lhe
possibilitou confirmar sua teoria da sexualidade infantil e a aplicabilidade
da análise às crianças.
Freud esteve com Hans uma única vez

Contou-lhe uma história e observa que foi isso que fez Hans curar-se da fobia
relembrou o mito de Édipo, e disse ao pequeno Hans, de maneira ardilosa:
“antes que tu nasceste, eu já sabia, e disse para o teu pai que quando tu nasceste ias ter
uma grande raiva dele, um grande ódio dele, e um grande amor por tua mãe. Antes
que tu nasceste eu já sabia.”

Freud defendia a aplicação da análise infantil como medida profilática,


argumentando que os resultados são seguros e duradouros. Propôs modificações na
técnica utilizada com o adulto por considerar, dentre outros aspectos, que a
associação livre.
* A psicanálise de criança teve início num período em que a comunidade analítica
debatia a formação do analista e tentava institucionalizar essa formação

* 1927- comissão internacional de ensino dispensou os psicanalistas de criança da


formação médica que era exigência de algumas sociedades psicanalíticas quando
se tratava de analistas de adulto.

* Isso levou a psicanálise de crianças a uma busca contínua de reconhecimento


NESTE CENÁRIO DESPONTAM AS PRIMEIRAS PSICANALISTAS DE CRIANÇAS

HERMINE VON HUG-HELLMUNTH

ANNA FREUD

MELANIE KLEIN
HERMINE VON HUG-HELLMUNTH

*Pioneira da psicanálise com crianças


*Publicou artigos sobre utilização de jogos e desenhos no periódico da imago
fundado por Freud
*O analista não precisava interpretar, bastando o ato de brincar sem que
precisasse falar
*Divergia da ideia de um pai analisar o próprio filho
*Conciliava os objetivos psicanalíticos com os da escola e da sociedade
ANNA FREUD

*Sua clínica valorizava aspectos adaptativos em detrimento às questões inconscientes


*Entendia que o sintoma da criança surgia por um conflito entre o eu e o mundo exterior
*Entendia que a supressão do sintoma faria o conflito desaparecer
*Fortalecimento do ego
*Atendia crianças acima de 5 anos
*O brinquedo como possibilidade de descarga, mas não era representativo/simbólico
MELANIE KLEIN

*Abandono da via educativa/abrandar a severidade do supereu

*O brincar é a linguagem da criança


*Contribuições acerca do psiquismo dos bebês
*Utilizava associação livre sem pressões morais
*Interpretava o material inconsciente nomeando as angústias
*É com Melanie Klein que de fato está inaugurada uma psicanálise com crianças
DONALD WINNICOTT

*O brincar é aspecto fundamental na análise de crianças pela função de


representação dos objetos e de si próprio
*Universal na natureza humana e terapêutico por si só
(espontaneidade e criatividade)
* O lugar do analista é a função de holding
*Dedicou-se também a pacientes psicóticos e com tendência antissocial
FRANÇOISE DOLTO

*Contemporânea de Lacan
*Pediatra de formação, a psicanálise influenciou cada vez mais a leitura do corpo
da criança como um corpo erógeno
*Suas ideias foram amplamente divulgadas na França
*O analista deve conduzir ao contrário de um professor
*Dolto incluía os pais no atendimento
*Clínica precoce
*O sintoma da criança é o sintoma da família
MAUD MANNONI

*Influenciada pelo pensamento de Dolto e Lacan


*O sintoma da criança preenche no discurso familiar o vácuo que aí cria uma
*verdade que não é dita
*A situação transferencial engloba os pais
*Os brinquedos não tem significado preconcebido
ROBERT E ROSINE LEFORT

*Prática com crianças institucionalizadas


*“A psicanálise é uma”- todo sujeito tem direito de ser escutado
*Independente da estrutura clínica ou da idade do paciente este deve ser tomado
como sujeito
*Agenciamento da função materna
*A posição do sujeito não depende do desenvolvimento, mas ao contrário, o
desenvolvimento depende da posição subjetiva.

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