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"A autenticidade no turismo"

Research · October 2016

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Rui Miguel Ferreira Carvalho


University of Aveiro
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Carvalho, R. 2014. “A autenticidade no turismo”. Palestra Sexta conversa – meia hora de
exposição, uma de discussão, Realizada no espaço 0 Artes Comunicantes - Associação de
Cultura a 25 de julho de 2014 em Tomar.

A autenticidade no
turismo
Rui Carvalho
25 de julho 2014
Tomar

Rui Carvalho, 2014


• O turismo é uma forma de consumo multinível…

• Na análise ao setor do turismo, é enfatizado a vertente


económica, menosprezando os seus impactes ambientais e
socioculturais muito importantes em matéria de autenticidade…

• O turista é um agente reflexivo que ao viajar, sofre


transformações e modifica os destinos das gentes visitadas,
influenciando as estratégias dos “organizadores” da oferta
turística…

Rui Carvalho, 2014


• Definição de autenticidade

• “Ontologia da autenticidade” – contributos teóricos

• Contextualização do consumo turístico na “pós modernidade”

• Implicações da autenticidade no consumo turístico

• Exemplos práticos de turismo (in)autêntico

• Discussão

Rui Carvalho, 2014


• Autenticidade provém do léxico Greco-romano e refere-se a:
• “Sentido de verdade”;
• “Sinceridade”;
• “Elemento original num contexto histórico particular”;
• “Genuíno”;
• “Coisa não adulterada”.

• O Dicionário de Oxford refere que autenticidade pode ser


entendida como algo “genuíno”; “algo que é conhecido por ser
verdadeiro”

Rui Carvalho, 2014


• A autenticidade tem sido estudada do ponto de vista da:
• História de arte (original vs cópia); materiais e técnicas utilizados;
(função vs forma) do objeto de arte, o artista/autor; Ausência do
“Hic et nunc” produção do bem original cultural vs. produção industrial
cultural (Benjamin, 1936) citado por (Assoun, 1989) como garante da
autenticidade do original;
• Antropologia (rituais, simbolismo, performance, relação visitados e
visitantes, estado liminal…);
• Sociologia (Ambientes e relações entre agentes e grupos sociais,
formas de consumo, ambiente negocial, relações entre agentes
turísticos, turistas e locais; estruturas de poder…);
• E na área científica do Turismo a autenticidade refere-se ao ato de
viajar em busca do espirito do lugar; do passado; relações objeto-
turista, experiência-turista, viajante-turista, simulações, pseudo-
eventos, autenticidade emergente, Rui Carvalho, 2014 autenticidade existencial,
negociação autentica, entre muitas outras.
• Tem sido estudada na relação Sujeito – Objeto
• A ontologia refere-se à relação entre o sujeito (investigador) e
o objeto investigado (fenómeno a investigar). Trata das
influências que o pesquisador pode exercer sobre o objeto
investigado e vice versa.

Sujeito • Turista

Objeto • Objeto ou atividade


turística

Rui Carvalho, 2014


Mais tarde o construtivismo e o existencialismo vêm modificar
a forma de medir e descrever o que é autentico, colocando em
discussão quem pode definir o que é autentico ou não.

• Turista vs Viajante como


Sujeito agentes reflexivos

Objeto • Experiência autêntica


transformadora

Rui Carvalho, 2014


• Os debates, com as suas diversas abordagens passando pelo
objetivismo, construtivismo ao existencialismo, formaram duas
trajetórias de ligação para compreender a autenticidade: o
objeto (como o outro) e o eu (como o centro, turista) (Wang,
2007).

• The modern emphasis on form and function has been replaced


by a postmodern concern for the aesthetic and the
development of the self (Richards, 2002).

• A autenticidade é vista como o Santo Graal dos turistas onde


estes querem reviver o passado…
Rui Carvalho, 2014
Contextualização do consumo turístico na pós modernidade
• Nostalgia
• Contextualização • Busca de
• Simulação e Simulacros
• Rápido consumo narrativas
(Baudrillard, 1991;
• Prosumption (Giddens, 1991)
• Turismo como
(Tofler, 1980), • Sentido de
peregrinação;
• Comoditização pertença, Sentido
do lugar • Modos de vida,
(Cohen, 1979);
• Relação com o • Incerteza dos tempos
• Não lugares
passado • Desintermediação dos
(Augé, 1995),
serviços turísticos
“empty meeting • Hiper-real (Eco,
grounds” 1984) • Criatividade,
• Neoliberalismo

Rui Carvalho, 2014


Elaboração própria baseada em (Wang, 1999, 2007); (Heitmann, 2011).
• Turista (passivo)VS Visitante (ativo)
• Cria o conceito de “Pseudo-Events” onde o turista não experiencia
a realidade mas pseudo-eventos; mostram satisfação por estas
experiências;
• O turista viaja em grupo, está isolado do ambiente natural dos
destinos;
• Exigem que todo o espaço turístico se torne um espetáculo para seu
deleite;

• Perspetiva sociológica – tudo o que é oferecido ao


turista é forçado – logo não existe autenticidade.
Rui Carvalho, 2014
• “Staged autheticity” – definição de cariz sociológico
• Os turistas têm acesso apenas a “front regions” e não lhes é
possível visitar as “back regions”.

• Locais onde as performances


Front são efetuadas à frente dos
Regions turistas.

• Locais onde os “performers”


Back se retiram, recuperam e
regions preparam para futuras
atuações.

• No caso de monumentos, mesquitas, teatro, performances onde


a entrada a turistas é negada a certas áreas.
Rui Carvalho, 2014
• A vida moderna já não satisfaz, a prática turística é outra forma
de consumo que permite a distinção de um agente social em
relação a outro;

• A procura turística é motivada pela autenticidade;

• Exemplo do homem ocidental que visita um país subdesenvolvido


ainda intocado pela modernidade (poucos hotéis, casinos e demais
infraestruturas turísticas), exigindo as mesmas regalias que possui em
casa;

• Comoditização – atividades turísticas são avaliadas em


termos do seu valor de troca, tornam-se bens. Assim
qualquer performance, evento, dança (…) torna-se
vendável e turístico.
Rui Carvalho, 2014
Rui Carvalho, 2014
• “Cria o conceito de “emergent authenticity” – a
autenticidade muda com o tempo e uma
introdução/modificação cultural num evento cultural
pode passar a permanente e assim aceite como
“autêntico”
• A autenticidade é “negociada” por cada agente
social (locais, agentes turísticos e os próprios turistas).
• O seu conceito não é estático sendo negociado,
dependo do capital cultural (Bourdieu, 1984) do
turista e da sua perceção de autenticidade (Cohen,
1988).
Rui Carvalho, 2014
O Cortejo dos Rapazes consiste numa
réplica do desfile dos tabuleiros, mas
feito por crianças vestidas a rigor.
Fonte:
http://www.infopedia.pt/$festa-dos-
tabuleiros-em-tomar

Com o aproximar da Festa dos


Tabuleiros de 1991 rapidamente se
passou, com o apoio dos elementos da
Comissão de então, dos pais e das
crianças, para uma ideia mais
arrojada: porque não participar e
reviver o «Cortejo dos Rapazes» que
se tinha realizado a última vez em
1892?
Fonte:http://www.tabuleiros.org/histor
ial/p_2/
Rui Carvalho, 2014
• “Objective authenticity” – refere-se à autenticidade de objetos
originais para tours e a certificação sem questionamento da sua
autenticidade (Ex: objetos num museu);
• “Constructive authenticity” – é o resultado de uma construção social
onde o contexto do sujeito e o objeto se encontram. Aqui contam-se
como influencia por um lado, as relações entre visitantes e visitados,
por outro o background cultural dos visitantes (Ex: peça de teatro);
• “Existential authenticity” – refere-se à autenticidade pessoal e inclui
os sentimentos subjetivos e intersubjetivos ativados pelo processo
liminal das atividades turísticas. Estes últimos referem-se a sentimentos
como prazer, relaxamento, controlo, sentido de pertença a um grupo
social...
• Neste sentido o sentimento de autenticidade não está dependente de
nenhum objeto mas da busca em nós mesmos (Wang, 1999).
Rui Carvalho, 2014
• Identificamos dois conceitos ligados à ideia de pós-modernidade:
• A simulação (Baudrilliard, 1991) e o Hyperreal (Eco, 1987).
• A experiência turística é simulada e repetida vezes sem conta em
parques temáticos, museus da cera (Madame Tussauds), shoppings,
Las Vegas…

• A Disneylândia pode ser considerada o resumo da pós-


modernidade onde vários estilos e símbolos de diferentes lugares e
épocas (ambos ficcionais e reais) são misturados num pastiche e
empacotados numa atração que requer que o turista suspenda a
realidade e se divirta com o hiper-real – algo melhor que a própria
realidade (Heitmann, 2011).
Rui Carvalho, 2014
Eventos Medievais
É uma forma de produto turístico commoditizado onde a formula é
seguida por vários municípios.

Por vezes podem ocorrer erros de casting


onde produtos de artesanato (não medievais
ou renascenças) são vendidos; roupagem
renascença em eventos medievais;
Apenas em 2011 realizara-se 51 eventos
medievais e quinhentistas em Portugal de
Abril a Setembro, segundo o site www.feiras-
medievais.com
Podemos encontrar à venda produtos
regionais, crepes “medievais”…

São vendidos como sendo autênticos…


Rui Carvalho, 2014
De acordo com (Kim & Jamal, 2007) o Texas Renaissance Festival foi criado em
1972. É um parque temático periódico onde podemos participar em vários eventos
históricos.
Tornou-se numa atração significativa e conta com cerca de 300 mil participantes
pagantes anualmente. O parque replica atividades selecionadas da europa
quinhentista com castelos, cavaleiros, mágicos e justas. Existem aproximadamente
330 lojas/bancas de artesanato vendem olaria, peças em metal esculpido, fatos
medievais. (…) Em 21 teatros, 200 performances acontecem diariamente a maioria
do período renascença ou medieval.
O festival ocorre apenas em fins de semana de outubro e novembro. Os promotores
afirmam que é o maior festival dos EUA em 158 que existem (Kim & Jamal, 2007).

Rui Carvalho, 2014


Rui Carvalho, 2014
• Foamhenge, Natural Bridge, Virginia

Rui Carvalho, 2014


• Taj Mahal, Bangladesh

Rui Carvalho, 2014


• The Venetian, Las Vegas

Rui Carvalho, 2014


• London Thames Town, Shanghai

Rui Carvalho, 2014


Rui Carvalho, 2014
• Quando vais de férias pensas de alguma forma na
autenticidade das experiências/serviços turísticos que te vão
oferecer?
• Quem é que deve julgar o que é autêntico (de acordo com o
destino), os fornecedores da experiência turística, os locais, os
turistas, todos, ou reconhecemos que nada é mais autentico?
• Como é que julgamos o que é autêntico ou não em termos de
rituais religiosos; espetáculos de musica popular;
performances; produtos imateriais?
• De que forma é que as réplicas/cópias de recursos
patrimoniais aqui demonstrados têm implicações para o turismo
em geral?

Rui Carvalho, 2014


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Assoun, P.L. (1989). A Escola de Frankfurt, Editora Dom Quixote.


Baudrillard, J. (1991). Simulacros e Simulação, Antropos, Relógio d´Água, Lisboa
Bourdieu, P. (1984). Distinction: A Social Critique of the Judgment of Taste. London:
Routledge.
Cohen, (1988). Authenticity and Comoditisation in tourism, Annals of Tourism Research, 15,
371-38
Heitmann, S. (2011). Authenticity in Tourism. In P. Robinson, S. Heitmann and P.U.C. Dieke
(eds.), Research Themes for Tourism. (pp 45-58). CAB International
Kim, H. and Jamal, T. (2007) Touristic Quest for Existential Authenticity Annals of Tourism
Research, Vol. 34, No. 1, pp. 181–201, 2007
Olsen , K. (2002). Authenticity as a concept in tourism research. The social organization of
the experience of authenticity. Tourism Sage Publications, vol2(2) pp159-192)
Richards, G. (2002). Postmodernity and Cultural Tourism. Paper presented at the Conference
Cultural Tourism: Future Trends, Valladolid, Spain, June 2002.
Uriely, N. (1997). Theory of modern and post-modern tourism. Annals of Tourism Research
24, 982-984.
Urry, J. (2002). The tourist gaze, 2nd edn. Sage, London, UK
Wang, N. (1999). Rethinking authenticity in tourism experience. Annals of Tourism Research,
Vol. 26, n2, pp. 349 – 370
Wang, Y. (2007). Customized authenticity begins at home. Annals of Tourism Research, Vol
34, n3, pp789-804.
Rui Carvalho, 2014

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