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Resumo
A gestão comunitária dos recursos naturais é uma acção crucial para o desenvolvimento das
comunidades. Neste trabalho faz-se a avaliação da contribuição da disciplina de Geografia na
gestão comunitária dos recursos naturais. O trabalho tem como objectivo geral avaliar a
contribuição da disciplina de Geografia na gestão comunitária dos recursos naturais no distrito
de Xai-Xai; e os específicos são: descrever o património natural do distrito de Xai-Xai;
Identificar as principais actividades praticadas no distrito de Xai-Xai; Identificar as formas de
gestão e conservação do património natural no distrito de Xai-Xai; Explicar a percepção que a
comunidade local tem do papel da escola, mais especificamente a disciplina de Geografia, na
gestão e conservação do seu património natural; Sugerir formas de envolvimento da
comunidade na gestão sustentável dos recursos naturais e estratégias de inclusão desta
gestão no currículo local. O trabalho baseou-se em pesquisa bibliográfica e documental,
inquéritos (por entrevista e por questionário) e observação; a abordagem metodológica foi
mista (qualitativa e quantitativa) tendo sido privilegiado o estudo de caso e a indução. A
comunidade local do distrito de Xai-Xai é maioritariamente dependente dos recursos naturais
para a sua sobrevivência uma vez que pratica como principal actividade a agricultura, seguida
por outras actividades também do primeiro sector, tal é o caso de corte de lenha e abate das
árvores para a produção do carvão. A população local tem baixo poder de compra e por isso
não encontra alternativas para uma vida mínima sem que recorra aos recursos naturais, por
isso a conservação destes é um grande desafio. Todos os intervenientes estão conscientes da
necessidade de uma melhor gestão dos recursos naturais sob o perigo de eles em pouco
tempo se esgotarem. Os intervenientes estão igualmente conscientes do efeito das mudanças
climáticas e consideram que um envolvimento de todos na definição de estratégias de gestão é
uma solução ideal para o alcance do uso sustentável. É de sugerir que as acções que visam
uma gestão comunitária participativa dos recursos naturais sejam partilhadas por forma a
estimular os actores.
Introdução
É relevante destacar que o distrito, sendo banhado pelo Oceano Índico em toda a sua
extensão, oferece condições favoráveis para a pesca. Contudo, o que se verifica é que
a comunidade pratica esta actividade numa escala muito pequena e em contrapartida,
os estrangeiros têm estado a tirar toneladas de mariscos, sem benefício nenhum para a
comunidade. Este cenário tem contribuído para o descontentamento da população.
Amaro (1993:16), refere que desenvolvimento local é um esforço contínuo por parte
dos residentes organizados numa localidade no sentido de identificar problemas e
aspirações, criar e formular estratégias para abordá-los, implementar esses planos e
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lermos o termo aplicado para designar pequenos agregados rurais (aldeias, freguesias)
ou urbanos (quarteirões, bairros), mas também grupos profissionais (comunidade
médica, comunidade científica), organizações (comunidade escolar), ou sistemas mais
complexos como países (comunidade nacional), ou mesmo o mundo visto como um
todo (comunidade internacional ou mundial).
Santos (2008: 247), defende que “quando a Geografia busca novos caminhos,
imaginamos estar contribuindo a essa busca com a sugestão de um quadro teórico que
seja universalmente aplicável sem deformar as realidades individuais de cada país”. A
ideia de Santos remete a uma análise profunda sobre as especificidades de cada país
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Neste contexto, desenvolvimento local, enquanto acção concertada que conduz a uma
tomada de consciência acerca das potencialidades locais, promovendo,
consequentemente, iniciativas geradoras de riqueza e de emprego que correspondam
a um plano local de desenvolvimento integrado (desenvolvimento e consolidação da
democracia, desenvolvimento económico e social e inserção da comunidade nas
políticas macroeconómicas), é, acima de tudo, a concertação de estratégias e
metodologias de acção que pretendem alterar, para melhor, o contexto e o nível de
vida das pessoas dessa comunidade. Embora com diferenças decorrentes de modelos
culturais e organizacionais próprios, em todas as áreas geográficas existem agentes
promotores de desenvolvimento, quer institucionais quer individuais, que dinamizam e
desenvolvem projectos de desenvolvimento local.
...é generalizada a ideia de que a geografia constitui uma área de estudo sobre
localidades e regiões e está intimamente ligada a qualquer coisa que se possa
ser mapeada. Não há dúvidas de que um mapa mostrando as diferenças de
nível de bem-estar entre as camadas sociais é um instrumento de educação
geográfica tão importante quanto mapas políticos de fronteira, de precipitação
pluviométrica e de relevo. Parece, porém, que muitos geógrafos e professores
de geografia resistiam, até pouco tempo atrás, a explorar mais proveitosamente
o potencial dessa disciplina. A ideia de que a geografia deve, por iniciativa
própria, preocupar-se com temas de fundo social ainda é uma novidade.
Esta afirmação vai ao encontro do que o objecto de estudo desta pesquisa nos chama
a atenção. De facto, há ainda muitos indivíduos, entre eles alguns geógrafos, que não
percebem a dimensão da disciplina de Geografia, em particular como disciplina com
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Estes autores reafirmam que o educador de uma comunidade ou de uma escola não
deve ser um indivíduo que se isola dos outros órgãos educadores existentes nessa
mesma comunidade, visto que o ensino deve ser participativo. Para uma racional e
sustentável gestão dos recursos naturais é preciso envolver os que dependem destes
recursos no seu dia-a-dia pois, caso contrário, o esforço de ensino da Geografia
visando melhorar a relação da população com o meio poderá se tornar num fracasso.
Neste trabalho foi usado o método de abordagem mista com enfoque para o método
qualitativo, tendo sido efectuado estudo de caso. Quanto ao procedimento adoptou-se
o método indutivo partindo da amostra para generalizar o ponto de situação da
contribuição da disciplina de Geografia na gestão comunitária dos recursos naturais. A
pesquisa é do tipo descritiva.
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A amostra foi de trinta e seis sujeitos distribuídos pelos postos administrativos, entre
eles alunos das escolas secundárias (ensino secundário geral), professores e pais e
encarregados de educação residentes no Distrito de Xai-Xai. Os professores têm uma
experiência de trabalho de leccionação que varia entre um a cinco anos, sendo que
apenas um professor da Escola Secundária de Zongoene é que possui experiência de
um ano. Um outro dado importante é que todos os professores que trabalham com a
disciplina de Geografia neste nível de ensino no distrito de Xai-Xai têm ao menos o
terceiro ano do curso de Licenciatura em Ensino de Geografia concluído na
Universidade Pedagógica na Delegação de Gaza, ou seja, são docentes na sua
maioria com o nível superior e isso é de facto um valor acrescentado para a qualidade
do ensino que se deseja na disciplina de Geografia. Um outro aspecto é que todos os
professores entrevistados, incluindo o da Escola Secundária de Zongoene que
declarou ter apenas um ano de experiência, já trabalharam em outras escolas e
provavelmente isso também sirva de suporte para maior flexibilidade na transposição
didáctica de Geografia, tendo em conta que estão já instruídos sobre mecanismos de
lidar com alunos de diferentes origens e em comunidades diferentes, podendo recorrer
a exemplos de fenómenos ou factos conhecidos da realidade da outra escola e
comunidade onde já tenham trabalhado.
Uma vez que o Distrito é banhado pelo Oceano Índico e apresenta no seu interior
paisagens naturais que são por si só um marketing de turismo, os alunos (58.3%)
consideram que os turistas deviam acampar em lugares indicados pela população; 25%
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preferem que os turistas paguem para esticarem as suas tendas. Estas foram parte das
respostas dadas à pergunta sobre o que deviam fazer os turistas para garantir que haja
conservação dos recursos naturais, com particular destaque para o ecoturismo e o
turismo de sol e praia.
É preciso analisar que o sector do turismo não está organizado de modo que a
população conheça os seus benefícios pela prática desta actividade; e que haja lugares
identificados para o acampamento dos turistas. O ensino da disciplina de Geografia
pode contribuir para que essa consciência exista no seio das comunidades.
Em relação aos problemas mais conhecidos pelos alunos nas suas comunidades,
ligados aos recursos naturais variaram de forma muito dispersa as suas respostas
entre o corte das árvores, queimadas descontroladas e a poluição ambiental. São
problemas de facto comuns nas comunidades rurais, tendo em conta que a actividade
mais praticada é a agricultura itinerante de sequeiro.
Os professores consideram que as suas aulas mudam de forma positiva a consciência
dos alunos na sua relação com os recursos naturais. Nas suas respostas
apresentavam exemplos dos sectores e formas de intervenção dos alunos na
comunidade que demonstram que está havendo mudança positiva. Os professores
revelam, com as suas respostas, que a unidade temática ligada aos recursos naturais
está sendo pouco leccionada em termos de carga horária. Eles remetem também à
leccionação desta unidade temática em classes anteriores e isso parece que seria de
facto um ganho para a sustentabilidade no uso dos recursos naturais.
Conclusão
De acordo com o inquérito feito nas comunidades, ficou evidente a total dependência
da população em relação aos recursos naturais e algumas declarações demonstravam
focos de resistência à aderência a programas que visam o uso sustentável dos
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recursos naturais, embora a população tenha mostrado que está consciente do actual
cenário das mudanças climáticas por um lado; e a possibilidade de esgotamento dos
recursos se explorados sem observância de algumas normas, por outro lado.
A comunidade local olha para a escola como um veículo fundamental para a gestão
sustentável dos recursos naturais através da disseminação da informação de boas
práticas aos alunos, que por sua vez iriam transmitir nas suas famílias e através de
amigos a informação se espalharia pelo resto da comunidade. A população local olha
para a escola como tendo grande destaque, considerando ser o principal interveniente
com quem devia encontrar ou definir os melhores mecanismos de exploração dos
recursos naturais. Porém, as comunidades não fazem menção ao ensino da disciplina
de Geografia como o elo de ligação para esta matéria, mas sim a escola, isto é, não
referem ao ensino da disciplina de Geografia como tal, mas subentende-se que a
escola na tal relação (pelo menos no que refere a ensinar os alunos sobre recursos
naturais), esteja mesmo ligado à disciplina de Geografia.
Bibliografia:
MOREIRA, Ruy. Pensar e Ser em Geografia. São Paulo, Editora Contexto, 2008.
NOVA, Elisa Vila. Educar para Protecção Civil – Projectos para a Área-Escola e
Actividades de Complemento Curricular. Lisboa, Texto Editora, 1996.
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PACHECO, José Augusto. Currículo: Teoria e Práxis. Porto, Porto Editora, 1996.
PIKE, Graham & SELBY David. Educação Global: O Professor Global e o Currículo
Global. São Paulo, Textonovo, 2001.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. São Paulo,Universidade de São Paulo,
2008.
VESENTINI, José William (org.). Geografia e Ensino: Textos Críticos. São Paulo:
Papirus Editora, 2007.