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A Contribuição do Ensino da Geografia na Gestão Comunitária dos Recursos


Naturais: Estudo de Caso do Distrito de Xai-Xai

Autor: Bento Pascoal Novela

Resumo

A gestão comunitária dos recursos naturais é uma acção crucial para o desenvolvimento das
comunidades. Neste trabalho faz-se a avaliação da contribuição da disciplina de Geografia na
gestão comunitária dos recursos naturais. O trabalho tem como objectivo geral avaliar a
contribuição da disciplina de Geografia na gestão comunitária dos recursos naturais no distrito
de Xai-Xai; e os específicos são: descrever o património natural do distrito de Xai-Xai;
Identificar as principais actividades praticadas no distrito de Xai-Xai; Identificar as formas de
gestão e conservação do património natural no distrito de Xai-Xai; Explicar a percepção que a
comunidade local tem do papel da escola, mais especificamente a disciplina de Geografia, na
gestão e conservação do seu património natural; Sugerir formas de envolvimento da
comunidade na gestão sustentável dos recursos naturais e estratégias de inclusão desta
gestão no currículo local. O trabalho baseou-se em pesquisa bibliográfica e documental,
inquéritos (por entrevista e por questionário) e observação; a abordagem metodológica foi
mista (qualitativa e quantitativa) tendo sido privilegiado o estudo de caso e a indução. A
comunidade local do distrito de Xai-Xai é maioritariamente dependente dos recursos naturais
para a sua sobrevivência uma vez que pratica como principal actividade a agricultura, seguida
por outras actividades também do primeiro sector, tal é o caso de corte de lenha e abate das
árvores para a produção do carvão. A população local tem baixo poder de compra e por isso
não encontra alternativas para uma vida mínima sem que recorra aos recursos naturais, por
isso a conservação destes é um grande desafio. Todos os intervenientes estão conscientes da
necessidade de uma melhor gestão dos recursos naturais sob o perigo de eles em pouco
tempo se esgotarem. Os intervenientes estão igualmente conscientes do efeito das mudanças
climáticas e consideram que um envolvimento de todos na definição de estratégias de gestão é
uma solução ideal para o alcance do uso sustentável. É de sugerir que as acções que visam
uma gestão comunitária participativa dos recursos naturais sejam partilhadas por forma a
estimular os actores.

Palavras-chave: Recursos naturais; comunidade local; ensino da Geografia; participação


comunitária; desenvolvimento.
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Introdução

A necessidade da gestão e conservação sustentáveis dos recursos naturais de


Moçambique mostra-se cada vez mais crescente devido a factores de vária ordem,
como é o caso da globalização, a integração regional, o crescimento do comércio
nacional e internacional, o crescimento do parque imobiliário, a prática de actividade do
primeiro sector, entre outros.

A cultura e os recursos naturais de uma comunidade funcionam como o alicerce da sua


sobrevivência, particularmente no meio rural onde a actividade principal é
maioritariamente a agricultura. Os valores culturais e os recursos naturais servem
igualmente como recursos turísticos por excelência e a sua conservação é um objectivo
que deve ser alcançado. Nos últimos anos, os Governos vêem a questão da gestão
sustentável dos recursos naturais como uma prioridade para o desenvolvimento
harmonioso e também sustentável; e com as mudanças climáticas globais esta
necessidade justifica-se para não se cair na situação em que alguns países do ocidente
já se encontram, de falta total de recursos florestais, por exemplo.

Com este trabalho pretende-se contribuir de modo a que as comunidades locais e a


escola encontrem mecanismos de colaboração que permitam a conjugação de esforços
na preservação destes recursos e valores que são a identidade de um povo e uma
riqueza que, bem gerida, é uma alternativa para o desenvolvimento.

O problema de pesquisa é o facto de o distrito de Xai – Xai, mesmo com uma


diversidade natural muito forte, registar um fraco desenvolvimento das comunidades,
sendo que os recursos estão cada vez mais em extinção. A diversidade natural do
distrito oferece condições exclusivas que permitem igualmente a prática de turismo
desde o histórico-cultural, caso do turismo praticado na mata sagrada de Chirindzene
em Chicumbane e em outros locais históricos; ecoturismo, principalmente em
Zongoene e o turismo de sol e praia, em todos postos administrativos do distrito.

É relevante destacar que o distrito, sendo banhado pelo Oceano Índico em toda a sua
extensão, oferece condições favoráveis para a pesca. Contudo, o que se verifica é que
a comunidade pratica esta actividade numa escala muito pequena e em contrapartida,
os estrangeiros têm estado a tirar toneladas de mariscos, sem benefício nenhum para a
comunidade. Este cenário tem contribuído para o descontentamento da população.

Amaro (1993:16), refere que desenvolvimento local é um esforço contínuo por parte
dos residentes organizados numa localidade no sentido de identificar problemas e
aspirações, criar e formular estratégias para abordá-los, implementar esses planos e
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avaliar os resultados, numa lógica de participação, onde a mudança e a renovação são


o âmago e o êxito dessa comunidade.

Este posicionamento de Amaro (1993), leva-nos a perspectivar que os problemas


vividos no distrito de Xai – Xai no que tange à exploração e gestão dos recursos
naturais podem ser ultrapassados com a participação activa de todos os residentes
como estratégia para que o desenvolvimento das suas comunidades seja uma
realidade. Considerando que a exploração dos recursos naturais não está a beneficiar
as comunidades locais, de facto a mudança e a renovação são urgentes para tais
comunidades.

Os trabalhos de consultoria na área de redução do risco aos desastres naturais e


adaptação às mudanças climáticas que o autor já fez revelaram um interesse cada vez
maior de preparar as comunidades a terem uma maior resiliência e tal facto poderia
com muito mais dinamismo acontecer com a contribuição do ensino da disciplina de
Geografia.

Portanto, há vários questionamentos que podem ser levantados em volta deste


assunto.

O presente artigo tem como objectivo geral avaliar a contribuição da disciplina de


Geografia na gestão comunitária dos recursos naturais.

Especificamente pretende-se: (i) Descrever o património natural do distrito de Xai-Xai;

(ii) Identificar as principais actividades praticadas no distrito de Xai-Xai ; (iii) Identificar


as formas de gestão e conservação do património natural no distrito de Xai-Xai; (iv)
Explicar a percepção que a comunidade local tem do papel da escola, especificamente
da Geografia na gestão e conservação do seu património natural; (v) Sugerir formas de
envolvimento da comunidade na gestão sustentável dos recursos naturais e estratégias
de inclusão desta gestão no currículo local.

Teoria e debate (Revisão da literatura)

Comunidade - a comunidade é um agrupamento organizado de pessoas que se


percebem como unidade social, cujos elementos possuem alguma característica,
interesse, elemento em comum. Possui objectivo e função comum, com consciência de
pertença situados numa determinada ideia (Carmo, 1999:73).

Na literatura do desenvolvimento comunitário o conceito de comunidade é ambíguo,


muito pela quantidade de definições utilizadas para a definir. É frequente ouvirmos ou
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lermos o termo aplicado para designar pequenos agregados rurais (aldeias, freguesias)
ou urbanos (quarteirões, bairros), mas também grupos profissionais (comunidade
médica, comunidade científica), organizações (comunidade escolar), ou sistemas mais
complexos como países (comunidade nacional), ou mesmo o mundo visto como um
todo (comunidade internacional ou mundial).

Desenvolvimento Comunitário - é o processo através do qual os esforços do próprio


povo se unem com os das governamentais, com o fim de melhorar as condições
económicas, sociais e culturais das comunidade, integrar estas comunidades na vida
nacional e capacitá-las a contribuir plenamente para o progresso do país (Francisco,
2007:73).

O conceito de desenvolvimento bem como o de desenvolvimento comunitário mostram


que, para que se atinja tal estágio, é preciso que haja um crescimento que venha a
condicionar mudanças nas esferas social e cultural. Estas mudanças devem ser
percebidas do ponto de vista de tomada de consciência para a valorização dos bens da
comunidade e não no sentido de adopção de outras culturas, hábitos e costumes como
mecanismos alternativos para se atingir o bem-estar. O facto de capacitar a
comunidade para uma maior gestão dos seus recursos mostra a pertinência de o
ensino da Geografia ser mais interventivo na comunidade pois, uma vez conjugados os
esforços entre a comunidade e o ensino da Geografia nas escolas, vai permitir não só a
melhoria da gestão dos recursos naturais, mas igualmente um desenvolvimento
ambiental sustentável.

Participação comunitária - a participação pode se manifestar de diferentes formas, tais


como: pressão junto a instituições oficiais com o intuito de obter respostas para
demandas localizadas; consulta; acção directa; contribuição em dinheiro ou em mão de
obra; aumento da organização e da consciência política; compartilhamento de
responsabilidades ou de informações (Batley 1983: 7).

O envolvimento dos diferentes actores, neste caso a escola, os pais e encarregados de


educação e os residentes do distrito de Xai-Xai constitui a base do que se chama
participação e/ou participação comunitária. Se efectivamente esta participação
acontecer, vale a pena acreditar que a gestão dos recursos naturais será de forma
sustentável e poderá beneficiar a um maior número possível de pessoas dentro e fora
da comunidade em estudo.

Santos (2008: 247), defende que “quando a Geografia busca novos caminhos,
imaginamos estar contribuindo a essa busca com a sugestão de um quadro teórico que
seja universalmente aplicável sem deformar as realidades individuais de cada país”. A
ideia de Santos remete a uma análise profunda sobre as especificidades de cada país
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ou lugar, na hora de elaborar ou implementar uma actividade lectiva ou o PEA de uma


forma geral. A gestão dos recursos naturais de que se trata nesta dissertação segue
esta lógica do pensamento de Santos pois, as comunidades têm suas particularidades,
tanto no tipo de recursos, bem como na forma de sua exploração; porém, é possível
criar uma lógica de pensamento e intervenção que tenha validade universal.

… o desenvolvimento local ou comunitário é o esforço para melhorar as


condições de vida daqueles que habitam um local (a comunidade e o seu
espaço geográfico e cultural) tomando em linha de conta a especificidade desse
local. Distingue-se do desenvolvimento de uma população em geral porque
procura o desenvolvimento equilibrado e integrado de uma comunidade, com o
máximo respeito pelos seus valores próprios e procurando tirar partido da sua
riqueza histórica (Benavente e Leão, 1993:68).

Neste contexto, desenvolvimento local, enquanto acção concertada que conduz a uma
tomada de consciência acerca das potencialidades locais, promovendo,
consequentemente, iniciativas geradoras de riqueza e de emprego que correspondam
a um plano local de desenvolvimento integrado (desenvolvimento e consolidação da
democracia, desenvolvimento económico e social e inserção da comunidade nas
políticas macroeconómicas), é, acima de tudo, a concertação de estratégias e
metodologias de acção que pretendem alterar, para melhor, o contexto e o nível de
vida das pessoas dessa comunidade. Embora com diferenças decorrentes de modelos
culturais e organizacionais próprios, em todas as áreas geográficas existem agentes
promotores de desenvolvimento, quer institucionais quer individuais, que dinamizam e
desenvolvem projectos de desenvolvimento local.

Pike e Selby (2001:62), afirmam que:

...é generalizada a ideia de que a geografia constitui uma área de estudo sobre
localidades e regiões e está intimamente ligada a qualquer coisa que se possa
ser mapeada. Não há dúvidas de que um mapa mostrando as diferenças de
nível de bem-estar entre as camadas sociais é um instrumento de educação
geográfica tão importante quanto mapas políticos de fronteira, de precipitação
pluviométrica e de relevo. Parece, porém, que muitos geógrafos e professores
de geografia resistiam, até pouco tempo atrás, a explorar mais proveitosamente
o potencial dessa disciplina. A ideia de que a geografia deve, por iniciativa
própria, preocupar-se com temas de fundo social ainda é uma novidade.

Esta afirmação vai ao encontro do que o objecto de estudo desta pesquisa nos chama
a atenção. De facto, há ainda muitos indivíduos, entre eles alguns geógrafos, que não
percebem a dimensão da disciplina de Geografia, em particular como disciplina com
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carácter interventivo na comunidade e na sociedade em geral. O envolvimento


comunitário e a construção de capacidades para mudança de comportamento das
pessoas no seu relacionamento com os recursos naturais é um assunto do campo de
estudo da Geografia e por este facto é preciso estendermos cada vez mais o horizonte
e o impacto desta disciplina.

O ensino de Geografia deve ser actualizado, contextualizado e útil para a comunidade.


Estas autoras ao destacarem a necessidade de repensar constantemente sobre o
ensino de Geografia tendo em conta as características do lugar onde acontece,
valorizam bastante o poder interventivo e consequente envolvimento comunitário nas
acções deste ensino pois, as comunidades se deparam com problemas cada vez
crescentes e o ensino desta disciplina pode muito bem apoiar na sua minimização.

Chiau (1999), afirma que sustenta a ideia do Governo de Moçambique de que o


professor não pode ensinar e educar sozinho, pois, quem conhece melhor a criança
são os pais, pelo que devem acompanhar a educação dos seus filhos. Daí a
necessidade de toda a comunidade, de forma organizada, participar na tomada de
decisões no tocante aos assuntos que dizem respeito à escola.

Silva (1994), afirma que:

… quando se refere a participação da Escola nos projectos de desenvolvimento


local, deve referir-se mais especificamente o papel do professor - indivíduo –
nesses mesmos projectos. A Escola, enquanto instituição formal, e por tal,
muitas vezes pesada e ineficaz no que respeita a respostas rápidas, raramente
consegue responder em tempo adequado a solicitações da comunidade (por
exemplo, a autorização da Escola para a utilização, fora de horário útil, de um
seu espaço específico, como por exemplo o Ginásio, raramente chega a tempo
ou não acontece).

Estes autores reafirmam que o educador de uma comunidade ou de uma escola não
deve ser um indivíduo que se isola dos outros órgãos educadores existentes nessa
mesma comunidade, visto que o ensino deve ser participativo. Para uma racional e
sustentável gestão dos recursos naturais é preciso envolver os que dependem destes
recursos no seu dia-a-dia pois, caso contrário, o esforço de ensino da Geografia
visando melhorar a relação da população com o meio poderá se tornar num fracasso.

Neste trabalho foi usado o método de abordagem mista com enfoque para o método
qualitativo, tendo sido efectuado estudo de caso. Quanto ao procedimento adoptou-se
o método indutivo partindo da amostra para generalizar o ponto de situação da
contribuição da disciplina de Geografia na gestão comunitária dos recursos naturais. A
pesquisa é do tipo descritiva.
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Trabalho de campo (resultados)

A amostra foi de trinta e seis sujeitos distribuídos pelos postos administrativos, entre
eles alunos das escolas secundárias (ensino secundário geral), professores e pais e
encarregados de educação residentes no Distrito de Xai-Xai. Os professores têm uma
experiência de trabalho de leccionação que varia entre um a cinco anos, sendo que
apenas um professor da Escola Secundária de Zongoene é que possui experiência de
um ano. Um outro dado importante é que todos os professores que trabalham com a
disciplina de Geografia neste nível de ensino no distrito de Xai-Xai têm ao menos o
terceiro ano do curso de Licenciatura em Ensino de Geografia concluído na
Universidade Pedagógica na Delegação de Gaza, ou seja, são docentes na sua
maioria com o nível superior e isso é de facto um valor acrescentado para a qualidade
do ensino que se deseja na disciplina de Geografia. Um outro aspecto é que todos os
professores entrevistados, incluindo o da Escola Secundária de Zongoene que
declarou ter apenas um ano de experiência, já trabalharam em outras escolas e
provavelmente isso também sirva de suporte para maior flexibilidade na transposição
didáctica de Geografia, tendo em conta que estão já instruídos sobre mecanismos de
lidar com alunos de diferentes origens e em comunidades diferentes, podendo recorrer
a exemplos de fenómenos ou factos conhecidos da realidade da outra escola e
comunidade onde já tenham trabalhado.

Os alunos inquiridos foram do Ensino Secundário Geral da oitava a décima classe


tendo sido oito alunos por cada classe deste subsistema de ensino, totalizando assim
vinte e quatro alunos, dos quais, dezasseis do sexo feminino e oito do sexo masculino.
Dos seis pais/encarregados de educação entrevistados apenas um era do sexo
masculino, sendo assim, cinco do sexo feminino. Em relação à actividade principal
praticada, quatro dos entrevistados responderam que viviam basicamente da
agricultura e dois deles eram professores. Apesar de a ocupação principal dos
entrevistados apresentar esta diferença, as respostas em relação à entrevista foram de
certa forma orientadas para o mesmo sentido. Os entrevistados disseram que exercem
a actividade que é sua principal ocupação porque gostam, ou seja, não houve nem nos
que praticam a agricultura, nem nos que são professores, uma resposta segundo a
qual fosse por falta de alternativa ou por força da natureza (existência de terra fértil
para a agricultura por exemplo).

Os alunos demonstraram que existe na comunidade falta de informação sobre os


recursos naturais, no que se refere à sua importância e a necessidade de gestão.

Uma vez que o Distrito é banhado pelo Oceano Índico e apresenta no seu interior
paisagens naturais que são por si só um marketing de turismo, os alunos (58.3%)
consideram que os turistas deviam acampar em lugares indicados pela população; 25%
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preferem que os turistas paguem para esticarem as suas tendas. Estas foram parte das
respostas dadas à pergunta sobre o que deviam fazer os turistas para garantir que haja
conservação dos recursos naturais, com particular destaque para o ecoturismo e o
turismo de sol e praia.

É preciso analisar que o sector do turismo não está organizado de modo que a
população conheça os seus benefícios pela prática desta actividade; e que haja lugares
identificados para o acampamento dos turistas. O ensino da disciplina de Geografia
pode contribuir para que essa consciência exista no seio das comunidades.

Em relação aos problemas mais conhecidos pelos alunos nas suas comunidades,
ligados aos recursos naturais variaram de forma muito dispersa as suas respostas
entre o corte das árvores, queimadas descontroladas e a poluição ambiental. São
problemas de facto comuns nas comunidades rurais, tendo em conta que a actividade
mais praticada é a agricultura itinerante de sequeiro.
Os professores consideram que as suas aulas mudam de forma positiva a consciência
dos alunos na sua relação com os recursos naturais. Nas suas respostas
apresentavam exemplos dos sectores e formas de intervenção dos alunos na
comunidade que demonstram que está havendo mudança positiva. Os professores
revelam, com as suas respostas, que a unidade temática ligada aos recursos naturais
está sendo pouco leccionada em termos de carga horária. Eles remetem também à
leccionação desta unidade temática em classes anteriores e isso parece que seria de
facto um ganho para a sustentabilidade no uso dos recursos naturais.

A falta de alternativas ou percepção mais clara da forma como as comunidades devem


proceder para que o uso dos recursos naturais seja de facto sustentável, faz parte da
lista das principais dificuldades que os professores encontram para fazer os alunos
perceberem a unidade temática dos recursos naturais. As declarações dos professores
foram de certa forma coincidentes com as dos alunos; facto que revela haver
leccionação desta unidade temática nas aulas. Porém, foi evidente que tanto o tempo
de leccionação, bem como a qualidade desta são ainda um desafio para os
professores; aliado à disposição do aluno para aprender estes conteúdos e mais tarde
transmiti-los na comunidade através de conversas como amigos e familiares e, muito
em particular, através da mudança das suas práticas; procedendo agora de uma forma
ambientalmente sustentável.

A pecuária é uma das actividades que tem um considerável predomínio no Distrito de


Xai-Xai. Este encarregado de educação é do Posto Administrativo de Chongoene; uma
área constituída por uma zona alta e uma outra baixa, o que faz com que tenha uma
variedade de vegetação importante para o desenvolvimento da actividade pecuária.
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Os problemas apresentados pela comunidade demonstram a necessidade de organizar


a gestão para que a comunidade possa de forma sustentável explorar os recursos
naturais. Se por um lado há reclamação da forma desleal na exploração dos recursos
para a venda; por outro lado a distância para ter acesso a estes recursos tem estado a
aumentar, havendo em alguns casos, necessidade de transporte para chegar até ao
local mais próximo; isto significa que a comunidade já está sentindo o caminho do
esgotamento dos recursos naturais e o ensino de Geografia deve se apoiar nestas
realidades para que a comunidade se envolva nas acções tendentes a gestão de
recursos naturais mais sustentável. Os encarregados de educação consideram que a
escola deve igualmente incluir nas actividades extracurriculares actividades tais como o
plantio das árvores; definição de passei os e jardins naturais.

Conclusão

O Distrito de Xai-Xai nos seus três Postos Administrativos (Chongoene; Chicumbane e


Zongoene), apresenta um património natural caracterizado principalmente por recursos
que estão directamente ligados à sua característica influenciada pela sua localização
junto ao rio Limpopo por um lado e junto ao Oceano Índico por outro lado. Os principais
recursos são: o rio Limpopo; o Oceano Índico; o mangal; a pradaria; as lagoas de
pequena dimensão; a flora (com destaque para a mata sagrada de Chirindzene em
Chicumbane); a fauna, as dunas que criam uma combinação paisagística única e
exclusiva que fazem do distrito um destino turístico por excelência.

A população do distrito de Xai-Xai, vive maioritariamente de actividades do primeiro


sector, muito em particular a agricultura tradicional (itinerante de sequeiro); havendo
algumas famílias que se dedicam a agricultura comercial, em particular as famílias que
vivem nas zonas baixas próximo do rio Limpopo e/ou alguma lagoa que não tenha
água salobre.

A gestão e conservação dos recursos naturais é um grande desafio pois, a população


uma vez praticando a agricultura itinerante de sequeiro, usa a técnica de queimada, por
exemplo para a preparação terra para a produção. A população do distrito de Xai-Xai
encontra nos recursos naturais a única fonte para produção de combustível lenhoso e
extracção do carvão, facto que estimula e promove o abate das árvores. Esta situação
contribui sobremaneira para que a relação comunidade – recursos naturais não seja
ambientalmente saudável ou sustentável.

De acordo com o inquérito feito nas comunidades, ficou evidente a total dependência
da população em relação aos recursos naturais e algumas declarações demonstravam
focos de resistência à aderência a programas que visam o uso sustentável dos
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recursos naturais, embora a população tenha mostrado que está consciente do actual
cenário das mudanças climáticas por um lado; e a possibilidade de esgotamento dos
recursos se explorados sem observância de algumas normas, por outro lado.

Existe no Posto Administrativo de Chicumbane, a mata sagrada de Chirindzene que é


uma forma de conservação dos recursos naturais através da sacralização, porém, tal
prática está ligada a questões socioculturais e não à perspectiva ambiental.

A comunidade local olha para a escola como um veículo fundamental para a gestão
sustentável dos recursos naturais através da disseminação da informação de boas
práticas aos alunos, que por sua vez iriam transmitir nas suas famílias e através de
amigos a informação se espalharia pelo resto da comunidade. A população local olha
para a escola como tendo grande destaque, considerando ser o principal interveniente
com quem devia encontrar ou definir os melhores mecanismos de exploração dos
recursos naturais. Porém, as comunidades não fazem menção ao ensino da disciplina
de Geografia como o elo de ligação para esta matéria, mas sim a escola, isto é, não
referem ao ensino da disciplina de Geografia como tal, mas subentende-se que a
escola na tal relação (pelo menos no que refere a ensinar os alunos sobre recursos
naturais), esteja mesmo ligado à disciplina de Geografia.

Sugere-se que a gestão dos recursos naturais no Distrito de Xai-Xai, de modo


sustentável, observe o seguinte:

- a sensibilização das comunidades locais; a realização de palestras de educação


ambiental;

- a criação e capacitação de comités locais de gestão de recursos naturais bem como o


envolvimento de todos os actores no processo de exploração dos recursos naturais, em
actos de mobilização comunitária em prol de um uso sustentável destes recursos;
- a escola, através do ensino da disciplina de Geografia deve explorar mais a unidade
temática ligada aos recursos naturais e revisão curricular devia valorizar as questões
locais (currículo local) na matéria dos recursos naturais e criar uma plataforma de
relacionamento com a comunidade que seja da pertença da comunidade para garantir
que a população tenha um “ownership” (espírito de pertença), não só dos recursos
naturais mas principalmente dos comités criados e de todas acções que visam uma
gestão sustentável dos recursos naturais.
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