Você está na página 1de 14

Artigo de Revisão | Review Article

Aspectos clínicos, fisiopatológicos e genéticos das tubulopatias


hereditárias na infância
Clinical, pathophysiological and genetic aspects of inherited tubular
disorders in childhood

Autores Resumo Abstract


Emília Maria Dantas
Soeiro 1 Nesta revisão, descrevemos a função In this review, we described the tubular
Claudia Maria de Barros tubular de cada segmento do néfron seguida function of each nephron segment
Helou 2 das descrições das principais alterações followed by the most important changes
moleculares que possam ocorrer nos that may occur in the transporters
transportadores expressos nestes locais. expressed therein. Thus, knowledge
1
Universidade Nove de Julho
Assim, o conhecimento das modificações na of the changes in renal tubular
2
Universidade de São Paulo.
função tubular renal permite o entendimento function allows the understanding and
e o reconhecimento clínico das doenças recognition of renal tubular diseases
tubulares renais que podem causar a morte that can cause stillbirth or death in
fetal, neonatal ou infantil. Além disso, as newborns or in childhood. Moreover,
crianças com tubulopatias podem evoluir children with tubular disorders may
para doença renal crônica terminal numa progress to chronic renal disease at
fase precoce da vida e também podem an early stage of life and they may
apresentar distúrbios do crescimento e do also show disturbances of growth and
desenvolvimento acompanhados ou não development associate or not with
de alterações neurológicas. Então, nós neurological dysfunction. Therefore,
utilizamos o unitermo "inherited tubular we used the keyword "inherited tubular
disorders" a fim de selecionar na base de disorders" to select the children studies
dados do PubMed os estudos publicados that have been published in the PubMed
desde 2006. Esperamos que a leitura desta database since 2006. We hope that this
revisão auxilie no rápido diagnóstico dos review may help physicians to perform
pacientes com tubulopatias, o que poderá an early diagnosis in patients with
permitir o tratamento especializado e a tubular disorders allowing a specialized
possível melhora do prognóstico e qualidade treatment and an improvement in their
de vida destes indivíduos. prognosis and quality of life.
Palavras-chave: acidose tubular renal; Keywords: acidosis, renal tubular;
ATPase trocadora de sódio-potássio; Bartter syndrome; electrolytes; Fanconi
eletrólitos; síndrome de Bartter; síndrome syndrome; Gitelman syndrome; sodium-
de Fanconi; síndrome de Gitelman. potassium-exchanging ATPase.

Introdução quaisquer destes sistemas de transporte


podem resultar em distintas nefropatias.2-5
A homeostase da água, dos eletrólitos
Data de submissão: 0 1/12/2014. As tubulopatias hereditárias
Data de aprovação: 24/02/2015. e do equilíbrio ácido-base é vital para
geralmente são doenças graves que podem
o funcionamento do nosso organismo e
levar à morte o feto, o neonato e a criança
os rins são os responsáveis na regulação
Correspondência para: ou elas podem evoluir para a doença
Claudia Maria de Barros Helou. destas funções. Por isso, as células dos
Laboratório de Pesquisa Básica renal crônica terminal numa fase precoce
- LIM 12, Hospital das Clínicas túbulos renais necessitam de distintos
da Faculdade de Medicina da da vida. Além disso, as crianças com
Universidade de São Paulo. canais iônicos, carregadores, trocadores,
Av. Dr. Arnaldo, nº 455, sala 3310, tubulopatia hereditária podem também
São Paulo, SP, Brasil. cotransportadores e bombas para realizar
apresentar distúrbios do crescimento,
CEP: 01246-903.
E-mail: chelou@usp.br
os transportes da água e dos diversos
atraso no desenvolvimento associados ou
DOI: 10.5935/0101-2800.20150060
solutos.1 Então, os defeitos genéticos em

385
Tubulopatias hereditárias na infância

não às alterações neurológicas. Os sintomas clínicos o ácido carbônico é produzido devido à reação do
são inespecíficos ou muitas vezes subclínicos, o que CO2 com a água.10 Isto posto, o ácido carbônico é
implica frequentemente no retardo do diagnóstico. catalisado pela isoforma II da anidrase carbônica
Por isso, o conhecimento da fisiologia renal, das bases presente no intracelular e novamente teremos o H+ e
moleculares dos transportes tubulares e das suas o HCO3-. O ânion é então transferido ao interstício
possíveis alterações fisiopatológicas se faz necessário pelo transportador Na+/HCO3-, o NBC-1, que está
para o entendimento e o reconhecimento clínico destes expresso na membrana basolateral e o H+ é secretado
casos. Nas últimas décadas, o avanço da biologia para a luz tubular através do transportador NHE3
molecular e da genética tem fornecido ferramentas para (Figura 1).7-9
investigar a presença das tubulopatias hereditárias, o As células tubulares proximais também
que pode melhorar o diagnóstico, a adequação do são capazes de gerar bicarbonato “extra” pela
tratamento e o prognóstico destas crianças.2-5 desaminação da glutamina para glutamato, formando
Neste texto, faremos uma breve abordagem dos o α-cetoglutarato. Este processo metabólico produz
mecanismos fisiológicos sobre o transporte tubular bicarbonato e amônia. O bicarbonato é transportado
em cada segmento do néfron e, paralelamente, para o capilar peritubular e a amônia para a luz do
descreveremos as principais tubulopatias hereditárias ducto coletor que ao se ligar ao H+ secretado forma o
na faixa etária pediátrica de acordo com: a) as íon amônio (NH4+).8,9
alterações fisiopatológicas; b) as manifestações A reabsorção isotônica do sódio e da água ao
clínicas e c) as recentes descobertas genéticas. Nós longo do túbulo proximal aumenta a concentração
também adotaremos a nomenclatura proposta por do cloro e do cálcio no lúmen tubular, o que facilita
Kelly & Landman para a segmentação do néfron.6 a reabsorção secundária de natureza passiva destes
íons.11 Aproximadamente 60% do cálcio filtrado é
Túbulo contorcido proximal reabsorvido no túbulo proximal.12
O túbulo contorcido proximal caracteriza-se por sua Com relação ao magnésio, a reabsorção no
alta capacidade de reabsorção dos solutos filtrados túbulo proximal é em torno de 30% da carga filtrada
que, na sua maioria, estão acoplados à reabsorção do íon e também se faz preferencialmente por via
do sódio. Cerca de dois terços da carga de Na+, que paracelular.12
é filtrada, é reabsorvida neste segmento do néfron Quanto ao fosfato (Pi), cerca de 85% do que
principalmente através da via paracelular. Entretanto, é filtrado é reabsorvido predominantemente no
as células do túbulo proximal também dispõem do túbulo proximal. A reabsorção renal é mediada
transporte transcelular de Na+, o qual é ativo e é pelos transportadores dependentes de sódio e fosfato
mediado pela atividade da enzima Na+, K+-ATPase pertencentes à família dos genes SLC34, incluindo o
que está expressa na membrana basolateral. Desta SLC34A1 (NaPi-IIa), bem como o SLC34A3 (NaPi-
maneira, a energia gerada pela atividade da Na+, K+- IIc). Sabemos hoje que a regulação do transporte
ATPase é transferida aos transportadores que estão renal de Pi depende do PTH, da quantidade ingerida
presentes na membrana luminal como é o caso da de fósforo, da vitamina D e de fatores hormonais ou
glicose, dos aminoácidos, do fosfato entre outros “hormônios like”, conhecidos como “fosfatoninas”,
(Figura 1).1 como é o caso do fator de crescimento de fibroblasto
Quanto ao bicarbonato, aproximadamente 80% 23 (FGF23) que inibe a reabsorção renal de fosfato.13,14
da sua carga filtrada é reabsorvida no início do túbulo
Principais acometimentos no túbulo proximal
proximal, que é feita em várias etapas. Inicialmente, o
HCO3- filtrado combina-se com o H+ que é secretado Acidose tubular renal proximal
pelo transportador Na+-H+, o NHE3, expresso A acidose tubular renal proximal (ATR), também
na membrana apical. Esta reação produz o ácido conhecida como ATR tipo II, é causada por um
carbônico (H2CO3), que é convertido em CO2 e H2O defeito na reabsorção do bicarbonato no túbulo
através da ação da isoforma IV da anidrase carbônica proximal. Esta tubulopatia caracteriza-se por
presente na membrana luminal destas células.7-9 A acidose metabólica hiperclorêmica com ânion gap
seguir, o CO2 entra no interior da célula por difusão ou normal, déficit de crescimento, anorexia, poliúria e
por transporte através da aquaporina-1 e novamente constipação.8,9,15

J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398 386


Tubulopatias hereditárias na infância

Figura 1. Célula do túbulo contorcido proximal que mostra a enzima Na+,K+-ATPase na membrana basal cuja atividade gera o gradiente eletroquímico
aos transportadores de sódio expressos na membrana luminal: Na+-glicose, Na+-aminoácidos, Na+-fosfato. Além destes, há também a expressão
do trocador Na+-H+ (NHE3) que é responsável pela secreção de H+ acoplada à reabsorção do Na+ e do bicarbonato graças à ação das isoformas
da anidrase carbônica presentes na borda em escova (tipo IV) e no intracelular (tipo II) e do transportador Na+-bicarbonato (NCB1) presente na
membrana basal.

A forma autossômica recessiva manifesta- Síndrome de Fanconi


se com alterações oculares, baixa estatura, A síndrome de Fanconi é um distúrbio complexo na
defeitos no esmalte dentário e déficit intelectual. reabsorção do túbulo proximal e, por isso, a acidose tubular
Esta enfermidade é causada por mutações no renal é apenas uma das alterações do transporte tubular
gene SLC4A4, da família SLC4, que codifica o neste segmento do néfron. Os pacientes com síndrome de
transportador Na+/HCO3-, o NBC1, que está Fanconi apresentam aminoacidúria, fosfatúria, glicosúria,
expresso na membrana basolateral das células proteinúria, poliúria e acidose metabólica hiperclorêmica.
tubulares proximais.8,16 Devido aos múltiplos distúrbios nos transportadores do
A forma dominante foi sugerida em uma túbulo proximal, estes indivíduos podem apresentar
família que apresentava crianças com retardo do também cistinose, tirosinemia, galactosemia e síndrome
crescimento, acidose metabólica hiperclorêmica, de Lowe, ou seja, estas crianças apresentam um grupo
mas com função renal normal inclusive a heterogêneo de doenças, cujos genes estão mapeados em
acidificação urinária. Estudo em camundongos muitas regiões cromossômicas.15,16
considerou o gene SLC9A3, que codifica o NHE3,
como um provável candidato. No entanto, a Cistinose
forma mais comum de ATR tipo II em crianças é A cistinose é uma doença causada por um defeito no
secundária à síndrome de Fanconi.8,16 transporte da cistina através da membrana lisossomal,

387 J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398


Tubulopatias hereditárias na infância

o que resulta na disfunção da proteína cistinosina por As mutações no gene CLCN5 do cromossoma
mutações no gene CTNS, no cromossomo 17p13. A Xq25 determinam a doença de Dent tipo 1, que ocorre
falta de atividade da cistinosina provoca acúmulo de em 60% dos casos e as mutações no gene OCRL1 do
cistina, o que propicia a formação intralisossomal de cromossoma Xp11.22 determina a doença de Dent do
cristais de cistina. Existem três variantes clínicas: a tipo 2.23,24
forma infantil nefropática, a forma juvenil e a forma
adulta. Na cistinose nefropática, a manifestação renal Raquitismo hipofosfatêmico
se apresenta como síndrome de Fanconi. A evolução é O raquitismo hipofosfatêmico hereditário é um grupo
para doença renal crônica terminal no final da primeira de doenças caracterizadas por hipofosfatemia devido
década de vida, a menos que a terapia com depletores à perda do fósforo na urina, inadequados níveis
da cistina seja instituída no início da vida. Estudo séricos de 1,25-dihidroxivitamina D3, retardo do
recente demonstrou melhora da insuficiência renal crescimento, raquitismo e osteomalácia.25
nas crianças com cistinose que receberam N-acetyl- A forma mais comum é o raquitismo
cisteína (NAC) por via oral. Os autores atribuíram o hipofosfatêmico com herança dominante ligada
benefício à diminuição do estresse oxidativo exercida ao cromossoma X. Ele é causado por mutações no
pelo NAC.17 gene PHEX que se localiza no cromossomo Xp22.1-
Durante a infância das crianças com cistinose, 22.2.25,26 O PHEX regula a expressão do FGF-23 como
observa-se também o hipotireoidismo e a fotofobia parte de um eixo hormonal entre osso e rim e controla
causada pelo envolvimento ocular. O diagnóstico a homeostase sistêmica do fosfato. A mutação no
é feito pela demonstração do aumento dos níveis gene PHEX resulta na redução da degradação e/ou
de cistina intraleucocitária. Os testes genéticos têm aumento da biossíntese do FGF-23.27
valor para confirmar o diagnóstico e permitir o A forma autossômica do raquitismo
aconselhamento genético.18-20 hipofosfatêmico apresenta incidência muito menor e
inclui a forma dominante, que são as mutações no
Síndrome de Lowe gene do FGF23. A forma recessiva do raquitismo
A tríade de diagnóstico na síndrome óculocerebrorrenal hipofosfatêmico apresenta as mutações no gene da
de Lowe (OCRL) inclui anomalias oculares, déficits proteína de matriz da dentina 1 (DMP1), além das
neurológicos e disfunção tubular renal do tipo mutações no gene pirofosfatase ectonucleotideo/
síndrome de Fanconi com evolução progressiva para fosfodiesterase-1.14
doença renal crônica terminal. A doença é causada por Recentemente foi identificado o correceptor
variações de DNA no gene OCRL1 no cromossomo necessário para a sinalização adequada do FGF23 e
Xq26.1, que codifica a proteína fosfatidilinositol este recebeu o nome Klotho. Observou-se que uma
polifosfato 5-fosfatase. Esta proteína é localizada translocação no gene do FGF23 causa aumento
no complexo de Golgi, nos endossomos e regula os dos níveis de Klotho e resulta em raquitismo
processos intracelulares.21,22 hipofosfatêmico com hiperparatireoidismo.14
A Tabela 1 apresenta as alterações genéticas
Doença de Dent recentemente identificadas que causam o raquitismo
A doença de Dent é causada por mutações que inativam hipofosfatêmico.13
a função do canal de cloro, o CLC-5, que está expresso
nas células do túbulo proximal. O resultado é o prejuízo Túbulo distal reto (ramo ascendente espesso
na reabsorção das proteínas do ultrafiltrado por da alça de henle)
endocitose. As manifestações clínicas são: a) proteinúria No túbulo distal reto, o sódio e o cloro são
de baixo peso molecular; b) hipercalciúria; c) litíase renal, transportados pelo cotransportador Na+-K+-2Cl, o
d) nefrocalcinose e e) insuficiência renal progressiva. A NKCC2, que está expresso no lado luminal das células
doença de Dent também pode estar associada à síndrome deste segmento do néfron e é o gene SLC12A1 que
de Fanconi e é muitas vezes complicada por raquitismo codifica este transportador. A atividade da Na+,K+-
ou osteomalácia. Estas características são geralmente ATPase que está expressa na membrana basal destas
encontradas apenas no sexo masculino, e podem estar células transporta o sódio de maneira ativa para fora
presente na primeira infância. da célula enquanto que o cloro deixa a célula através

J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398 388


Tubulopatias hereditárias na infância

Tabela 1 Hipofosfatemias hereditárias- proteínas mutadas e parâmetros clínicos


Ca++
Proteína Doença 1,25(OH)2D FGF23 PTH
sérico
Raquitismo hipofosfatêmico
PHEX Normal Baixo/Normal Alto/Normal Normal
dominante ligado ao X
Raquitismo hipofosfatêmico
DMP1 Normal Normal Alto/Normal Normal
autossômico recessivo
Raquitismo hipofosfatêmico
FGF23 Normal Normal Alto Normal
autossômico dominante
Nefrolitíase/osteoporose
NHERF1 Normal Alto Normal Normal
hipofosfatêmica 2
Raquitismo hipofosfatêmico com
KLOTO Alto Alto Alto Alto
hiperparatiroidismo
Nefrolitíase/osteoporose Não Não
SLC34A1 Alto Alto
hipofosfatêmica 1 determinado determinado
Raquitismo hipofosfatêmico com
SLC34A3 Alto Alto Baixo Baixo
hipercalciúria
Adaptado de Amatschek S, Haller M, Oberbauer R. Renal Phosphate Handling in Human- What Can We Learn from Hereditary Hypophosphataemias?
Eur J Clin Invest 2010;40:552-60.

dos canais de cloro específicos, denominados CLC-Ka luminal de K+. Assim, a luz tubular é modificada e a
e CLC-Kb. Estes canais são codificados pelos genes reabsorção paracelular de Ca++, Mg++ e K+ é inibida
CLCNKA e CLCNKB, respectivamente. Ambos os (Figura 2).12,22,31
canais de cloro dependem de uma proteína acessória,
a subunidade β, Barttin, a BSDN.28,29 O potássio Principais acometimentos no túbulo distal reto
também é transportado para o intracelular devido à (ramo ascendente espesso da alça de henle)
ação do NKCC2. Mas o potássio retorna para a luz Síndrome de Bartter
tubular através do canal iônico Kir 1.1 (ROMK) que O transporte de NaCl no túbulo distal reto requer a
é codificado pelo gene KCNJ1. Esta recirculação local presença e a função de pelo menos cinco genes para o
do potássio se faz necessária para que haja substrato funcionamento dos transportadores: a) o NKCC2 que
suficiente para o trabalho do cotransportador Na+- usa o gradiente eletroquímico gerado pela atividade
K+-2Cl (Figura 2).1,28 da Na+,K+-ATPase para a reabsorção do sódio, do
Em consequência à reabsorção do sódio e do cloro e do potássio presentes no lúmen; b) o canal
cloro e da recirculação do potássio, um potencial ROMK que permite a saída do potássio para a face
transepitelial com lúmen positivo é gerado no ramo luminal e, por isso, propicia aumento do substrato
ascendente espesso da alça de Henle. Então, esta força para o funcionamento do NKCC2; c) a Na+,K+-
motriz favorece a reabsorção passiva e paracelular do ATPase que gera toda a força motriz à movimentação
cálcio e do magnésio através das proteínas claudina iônica; d) os canais CLC-Kb e CLC-Ka que necessitam
16 e 19 que estão presentes nas junções das células do da subunidade Barttin para o transporte do cloro
túbulo distal reto (Figura 2).12,30 através da membrana basal. As mutações nos genes
Na membrana basal das células do ramo SLC12A1, ROMK1, CLCNKB, e BSDN (Barttin)
ascendente espesso da alça de Henle também se causam, respectivamente, a síndrome de Bartter
expressa o receptor sensível ao cálcio (CaSR). O autossômica recessiva dos tipos I, II, III e IV.32-35
CaSR permite a regulação da secreção do PTH nas As características clínicas da síndrome de Bartter
células da paratireoide e da reabsorção renal de incluem a hipocalemia hiperreninêmica com a
cálcio em resposta às elevações das concentrações hiperplasia do aparelho justaglomerular, a alcalose
plasmáticas deste íon. Nesta situação, o CaSR é metabólica, a pressão arterial baixa ou normal e o
ativado devido ao contato com as altas concentrações aumento da excreção urinária de Na+ e K+.32,33
de cálcio presente na vasa rectae, o que resulta na Na síndrome de Bartter tipo I, a mutação é do
deflagração das sinalizações celulares para a inibição gene SLC12A1 que codifica o transportador NKCC2.
do cotransportador Na+-K+-2Cl- e ou do canal As principais manifestações clínicas são a poliúria e

389 J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398


Tubulopatias hereditárias na infância

Figura 2. Célula do túbulo distal reto também conhecido como ramo ascendente espesso da alça de Henle. A enzima Na+,K+-ATPase está expressa
na membrana basal cuja atividade gera o gradiente eletroquímico ao cotransportador Na+-K+-2Cl– (NKCC2) na membrana luminal. A presença do
canal de K+ luminal (ROMK) se faz necessária para a recirculação do K+ o que favorece maior eficiência do NKCC2. Graças ao transporte passivo
de Cl- através dos canais ClC-Ka e ClC-Kb expressos na membrana basal e à recirculação do K+, a luz tubular é positiva. Assim, os cátions (Ca2+ e
Mg2+) são reabsorvidos através das claudinas que são proteínas das junções paracelulares. Na membrana basal, encontra-se também o receptor
sensível ao cálcio (CaSR) que inibe a atividade do NKCC2 luminal nas situações de hipercalcemia. Assim, o resultado é o aumento da diurese e da
excreção urinária de íons.

a desidratação que aparecem nas primeiras semanas de Bartter e a de Gitelman. Depois do período
de vida, o que exige enorme quantidade de reposição neonatal sem intercorrências, os pacientes geralmente
volêmica. O neonato pode também apresentar alcalose apresentam-se com déficit de crescimento. A perda
metabólica hipocalêmica e elevação plasmática de renal de sódio progride lentamente e não se acompanha
renina. Posteriormente, a presença da nefrocalcinose por poliúria evidente, o que adia a avaliação médica.
pode ser evidenciada na ultrassonografia renal.28,32-35 Poucos pacientes desenvolvem a nefrocalcinose
A síndrome de Bartter tipo II pode se apresentar medular. A apresentação clínica é decorrente de um
com hipercalemia nos primeiros dias de vida devido defeito no CLC-Kb, que também está expresso no
ao envolvimento do canal ROMK na excreção do túbulo contorcido distal. Na nova terminologia, a
potássio. Mais tarde, os outros tipos de canais de síndrome de Bartter tipo III é considerada como um
potássio podem compensar e os pacientes tornam-se distúrbio do túbulo contorcido distal. 28,32-35
hipocalêmicos. 28,32-35 A síndrome de Bartter tipo IV acarreta uma
A síndrome de Bartter tipo III pode ter sinais e variante clínica mais grave que, felizmente, é muito
sintomas mais leves e sobrepostos aos da síndrome menos comum. O defeito é na subunidade Barttin.

J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398 390


Tubulopatias hereditárias na infância

Os transtornos manifestam-se no pré-natal com o de sódio é transportado para o intracelular através


desenvolvimento de polidrâmnio, que contribui para do cotransportador de sódio e cloro, o NCC, que é
a prematuridade extrema. No período pós-natal, expresso na membrana apical, sensível ao tiazídico
os pacientes apresentam poliúria e risco elevado de e codificado pelo gene SLC12A3. Assim, o cloreto
hipotensão ou mesmo de choque hipovolêmico. A de sódio é reabsorvido, sendo que a saída do sódio
evolução é para a doença renal crônica progressiva, para o interstício se faz pela ação da Na+,K+-ATPase
embora geralmente sem nefrocalcinose.28,29,32-35 e a do cloreto através dos canais específicos de cloro,
principalmente o CLC-Kb (Figura 3).1,35
Hipocalcemia autossômica dominante com Na porção inicial do túbulo contorcido distal,
hipercalciúria (HADH) e síndrome de Bartter V ocorre também a reabsorção do magnésio através
Como já foi referido acima, o CaSR controla dos canais TRPM6 que estão expressos na
indiretamente a reabsorção dos cátions divalentes por membrana apical destas células. Na porção final
impedir de maneira indireta a formação da voltagem deste segmento do néfron e no túbulo de conexão,
positiva na luz do túbulo distal reto. A elevação das encontramos na membrana apical os canais TRPV5
concentrações plasmáticas de Ca2+ ativa o CaSR, que que permitem a reabsorção do cálcio por via
inibe, por sua vez, o cotransportador Na+-K+,2Cl- transcelular (Figura 3).35
ou impede a abertura do canal ROMK e por isso a
voltagem da luz tubular não se torna positiva.31 Na Principais acometimentos no túbulo contorcido
situação da mutação com ganho de função no CaSR, distal
a condição clínica caracteriza-se por hipocalcemia Síndrome de Gitelman
devido a hipercalciúria com supressão do PTH e A síndrome de Gitelman é caracterizada por alcalose
síndrome Bartter-like. Nesta situação clínica, o metabólica hipocalêmica em combinação com
defeito no gene é no cromossomo 3q21.1.22 hipomagnesemia e hipocalciúria. Os sintomas clínicos
e os marcadores bioquímicos da síndrome de Gitelman
Hipomagnesemia familiar com hipercalciúria e
podem sobrepor à forma clássica da síndrome de
nefrocalcinose (FHHNC)
Bartter (tipo III), ter início na infância e persistir na
A hipomagnesemia familiar com hipercalciúria vida adulta. Alguns indivíduos são assintomáticos ou
e nefrocalcinose é uma doença autossômica apresentam fraqueza muscular ou queixas de cãibras,
recessiva rara que evolui para a insuficiência renal. enquanto outros mostram sintomas neuromusculares
Foram identificadas mutações no gene CLDN16 graves, parestesias, cólicas e episódios de tetania ou
e no cromossomo 3q27, que codifica a proteína paralisia que se correlacionam com os distúrbios
claudina-16 que também é conhecida como hidro-eletrolíticos.35-38
paracelina-1. Os indivíduos que apresentam estas As mutações encontradas na maioria dos
mutações têm diminuição na permeabilidade iônica, pacientes com síndrome de Gitelman estão no gene
o que impede a reabsorção do Mg2+ no túbulo distal SLC12A3.35,39
reto. Apesar do concomitante prejuízo na reabsorção
do Ca2+, estes pacientes mantêm a concentração Pseudohipoaldosteronismo tipo II - síndrome de Gordon
do Ca2+ sérico normal provavelmente por utilizar A síndrome de Gordon é uma doença autossômica
rotas alternativas de recuperação de Ca2+ no rim e dominante associada ao aumento na reabsorção renal
no intestino. Há também relatos de indivíduos com de NaCl com comprometimento na secreção distal de
mutação no gene CLDN19 que apresentam fenótipo K+ e H+. As alterações são decorrentes das mutações
semelhante aos pacientes acima descritos e problemas nos genes que codificam a WNK, uma proteína da
oculares graves.31,32,35 família das serina-treonina-quinase.40
A WNK4 regula negativamente o cotransportador
Túbulo contorcido distal
NaCl (NCC) no túbulo contorcido distal e as
A reabsorção dos solutos no túbulo contorcido mutações com a perda da função da WNK4 suprimem
distal é transcelular e também requer da atividade este efeito. Há também um outro tipo de mutação que
da Na+,K+-ATPase presente na membrana basal provoca o aumento na expressão da WNK1. O efeito
destas células. Neste segmento do néfron, o cloreto fisiológico da WNK1 é ativar o transportador NCC

391 J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398


Tubulopatias hereditárias na infância

Figura 3. Células do túbulo contorcido distal que mostra o transporte de Na+ acoplado ao Cl– (NCC) na membrana luminal cuja ação é secundariamente
ativa à ação de Na+,K+-ATPase expressa na membrana basal. As células do início do túbulo contorcido distal expressam também o canal de Mg2+
(TRPM6) na face luminal. Este canal é modulado pela eficiência do NCC e pelos movimentos transcelulares dos íons K+ e Cl-. Os canais TRPM6
também são modulados pela ativação do receptor do fator de crescimento epitelial (EGFR) expresso na membrana basal. Até a presente data não é
conhecido o mecanismo da saída do Mg2+ destas células. As células do final do túbulo contorcido distal e do túbulo de conexão expressam o canal
de Ca2+ (TRPV5) na face luminal. O canal TRPV5 também é modulado pela eficiência do NCC. A saída do Ca2+se faz pela ação da Ca2+-ATPase e
pelo cotransportador Na+-Ca2+ (NCX1) que estão expressos na membrana basal. Estas células possuem também receptores a diversos hormônios
(HR) que regulam a reabsorção de Ca2+, como é o caso do estrógeno, PTH e vitamina D.

e a mutação da WNK1 resulta na suprarregulação no A explicação para a hipercalemia e para a


transporte de Na+.41-43 acidose metabólica consiste na diminuição do
As características clínicas da síndrome de aporte de sódio às células do ducto coletor, o que
Gordon incluem hipercalemia, acidose metabólica prejudica a formação da diferença de potencial.
leve, supressão da atividade plasmática da renina e Em consequência, a secreção de K+ e de H+ se
concentrações normais ou elevadas da aldosterona.41 reduz.

J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398 392


Tubulopatias hereditárias na infância

Síndrome EAST/seSAME dos canais TRPM6 na membrana luminal do túbulo


Recentemente, dois grupos de pesquisadores contorcido distal. Então, a inibição dos receptores
descreveram uma síndrome complexa com epilepsia, EGF por falta de substrato resulta em magnesiúria
ataxia, retardo mental e surdez neurossensorial devido à diminuição da expressão dos canais
associada à síndrome perdedora de sal para a qual TRPM6.28,35
introduziram a sigla EAST. Os distúrbios incluem a
ativação do sistema renina angiotensina aldosterona, Hipomagnesemia dominante isolada
alcalose metabólica hipocalêmica, hipomagnesemia Nesta forma de hipomagnesemia, os pacientes
hipocalciúria, mas com a preservação da concentração apresentam perda renal de Mg2+ e hipocalciúria
urinária.28 devido a mutações na estrutura da Na+,K+-ATPase. A
A síndrome EAST/SeSAME é autossômica Na+,K+-ATPase possui 3 subunidades denominadas:
recessiva causada por mutações e perda de função α, β e γ. As subunidades α e β são catalíticas e a γ
no gene KCNJ10 que codifica o canal de potássio é moduladora. O gene FXYD2 é o responsável pela
Kir 4.1. No túbulo contorcido distal, o canal Kir 4.1 codificação da subunidade γ e a mutação G41R
está expresso na membrana basal e supõe-se que em causa alteração na afinidade ao Na+ e ao K+ que
conjunto com a Na+,K+-ATPase é feita a recirculação modificam a polarização da membrana apical, o que
local dos íons potássio.35 pode diminuir o transporte do Mg2+. Entretanto, o
papel exato da subunidade γ da Na+,K+-ATPase na
Síndrome hipomagnesemia com hipocalcemia secundária regulação do transporte tubular do Mg2+ ainda não
(HSH) está totalmente estabelecido.28,35
O gene TRPM6 responsável pela codificação do
canal TRPM6 foi identificado como responsável pela Ducto coletor
síndrome autossômica recessiva com hipomagnesemia O ducto coletor caracteriza-se por apresentar
e hipocalcemia secundária.28,35 heterogeneidade celular. Neste segmento do néfron
Os relatos clínicos sugerem que a hipomagnesemia são reconhecidas as células principais e as intercalares
é decorrente da diminuição da absorção de Mg2+ do tipo: a) A, b) B e c) não A não B.44
no intestino e não necessariamente por perda Nas células principais, o sódio é reabsorvido
urinária de magnésio. Quanto à hipocalcemia, esta separadamente do cloro por via transcelular através
é secundária, uma vez que os pacientes beneficiam- do canal epitelial, ENaC, que é sensível ao amilorida.
se com a administração do Mg2+. Salientamos que a Mais uma vez, a reabsorção do sódio é impulsionada
homeostase do cálcio é dependente da concentração pela atividade da Na+,K+-ATPase que está expressa
plasmática do Mg2+.28,35 na membrana basal. O transporte transcelular do
As manifestações clínicas da síndrome de sódio favorece a secreção de um cátion, potássio ou
hipomagnesemia com hipocalciúria secundária hidrogênio, devido a razões de eletroneutralidade.
aparecem logo após o nascimento e estão relacionadas As células principais expressam também em sua
à hipomagnesemia e à hipocalcemia como os membrana apical os canais ROMK que através dos
espasmos, a tetania e as convulsões generalizadas.28,35 quais o K+ é secretado.1,45
Nas células intercalares do tipo A ocorre a
Hipomagnesemia autossômica recessiva isolada
acidificação da urina devido à secreção do íon H+. O
Esta forma rara de hipomagnesemia foi inicialmente transporte deste cátion é feito pela atividade da H+-
descrita em dois irmãos que apresentavam baixas ATPase que está expressa na face luminal destas células
concentrações do Mg2+ plasmático devido ao aumento e é favorecido pela diferença de potencial gerada pela
da sua excreção urinária, mas sem alterações na reabsorção de sódio nas células principais vizinhas. O
concentração do Ca2+ plasmático. Os indivíduos íon H+ origina-se da ação da anidrase carbônica do
apresentavam retardo psicomotor e convulsões. Os tipo II que catalisa o ácido carbônico. Este, por sua
estudos genéticos revelaram a mutação no gene do vez, forma-se em consequência à hidratação do CO2.
fator de crescimento pró-epidérmico (EGF), e, por Como ilustra a Figura 4, o bicarbonato é
isso, a secreção autócrina/parácrina do EGF estava regenerado nas células intercalares do tipo A pela
prejudicada. Os receptores EGF regulam a inserção hidratação do CO2 seguida da degradação do ácido

393 J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398


Tubulopatias hereditárias na infância

Figura 4. Representação dos três tipos de células do ducto coletor: intercalar-A, principal e intercalar-B. A célula intercalar-A apresenta a H+-ATPase
expressa na membrana luminal e o transportador Cl--HCO3- (AE1) expresso na membrana basal. Esta disposição favorece a secreção de ácidos.
Além disso, há também a expressão da enzima H+-K+-ATPase na face luminal que ajuda na conservação do K+ nas situações de depleção deste
cátion. A célula intercalar-B possui a H+-ATPase expressa na membrana basal e o transportador Cl--HCO3- que nestas células recebe o nome de
pendrina na face luminal. Assim, o organismo consegue reter o H+ e eliminar o bicarbonato nas situações de alcalemia. Quanto à célula principal,
esta possui a expressão do canal de Na+ (ENaC) na face luminal que é sensível ao amiloride. A expressão da Na+,K+-ATPase na membrana basal
gera o gradiente eletroquímico que permite a reabsorção de Na+ e a secreção de K+ pelos canais ROMK.

carbônico. Diante disso, o bicarbonato é transportado lúmen tubular combina-se com os ânions como
para o interstício através do cotransportador Cl-- o fosfato e também com a amônia (NH3), o que
HCO3- (AE1) que está expresso na membrana basal resulta na formação do amônio, o NH4+. A amônia
destas células (Figura 4). O H+ que é secretado ao é sintetizada no túbulo proximal e é transportada

J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398 394


Tubulopatias hereditárias na infância

para a região medular renal. Os defeitos na secreção de amônio (NH4Cl) ou b) furosemida associada à
de H+ reduzem tanto a acidificação urinária quanto fludrocortisona.46
a excreção do amônio. As células intercalares do As mutações no gene AE1 (SLC4A1) estão
tipo A também expressam a H+-K+-ATPase em sua associadas com a ATR distal autossômica dominante.
membrana luminal.1,9 Apesar dos diversos estudos a O gene localizado no cromossomo 17q21-22 é
respeito, não há consenso na literatura sobre o papel membro da família dos trocadores de ânions expressos
da H+-K+-ATPase no equilíbrio ácido-base apenas na na membrana basal das células intercalares do tipo
homeostase do potássio. A.8,47,48 As análises genômicas identificaram dois
As células intercalares do tipo B estão envolvidas na genes recessivos para a ATR distal: a) no cromossomo
secreção do bicarbonato e desempenham importante 2p13, que codifica a subunidade-B1 da H+/ATPase
papel na regulação do equilíbrio ácido-base nas (ATP6V1B1) e b) no segundo locus genético em 7q33-
situações de alcalemia. As células intercalares do tipo 34, que codifica uma subunidade renal específica da
B expressam a H+-ATPase na membrana basal e o bomba de prótons (ATP6V0A4).8
trocador Cl-bicarbonato na membrana luminal. Este
trocador recebe o nome de pendrina, que transporta o Síndrome de Liddle
Cl- para o intracelular e o HCO3- para a luz tubular.1,44 A síndrome de Liddle caracteriza-se por hipertensão
Quanto às células intercalares não-A, não-B, elas grave, alcalose metabólica, hipocalemia, mas com
expressam tanto a H+-ATPase quanto a pendrina em concentrações baixas de renina e aldosterona
sua membrana apical.44 plasmática em decorrência às mutações nas
Enquanto a função das células principais, subunidades do canal ENaC.49
intercalares do tipo A e do tipo B, estão bem O canal ENaC é composto por três subunidades:
conhecidas, a função das células intercalares do tipo α, β e γ e no rim é responsável pela entrada do Na+
não-A, não-B necessitam de maiores conhecimentos através da membrana luminal, mantendo a homeostase
a respeito. do líquido extracelular e da pressão arterial.45 As
mutações nos genes SCNN1B e SCNN1G, que
Principais acometimentos no ducto coletor afetam, respectivamente, a subunidade β e γ do canal
Acidose tubular renal distal ENaC, são as responsáveis por esta síndrome. Assim,
A acidose tubular renal distal, também conhecida como os pacientes com síndrome de Liddle apresentam
ATR tipo I, é caracterizada por acidose metabólica aumento significativo da atividade do canal ENaC,
hiperclorêmica, devido à falha na secreção dos íons o que causa a retenção do sódio que desencadeia a
hidrogênio no ducto coletor. A forma hereditária da hipertensão arterial sem correlação com a renina e a
ATR tipo 1 tem as variantes: a) autossômica dominante aldosterona. Além disso, o aumento da reabsorção de
com manifestações leves da doença e b) autossômica sódio favorece a secreção de potássio o que explica a
recessiva com acometimento grave na infância, presença da hipocalemia.49
podendo ou não apresentar também a perda auditiva.
Os sintomas aparecem precocemente e as manifestações Pseudohipoaldosteronismo tipo I (PHAI)
são de poliúria, vômito, desidratação, déficit pondero- O pseudohipoaldosteronismo tipo I caracteriza-se por
estatural, hipocalemia, pH urinário acima de 6,0, perda renal de sal e insensibilidade aos mineralocorticoides.
hipercalciúria, hipocitratúria e raquitismo.15,22 A Estão descritas duas formas de herança: a) autossômica
hipercalciúria, juntamente com o pH urinário acima dominante, que é restrita ao rim e é causada por mutação
de 6,0, favorece a deposição do cálcio no rim, o que com perda de função no gene NR3C2, o que resulta
resulta na nefrocalcinose. O diagnóstico clássico é na diminuição da atividade do receptor citoplasmático
baseado na constatação de um pH urinário elevado na do mineralocorticoide; b) autossômica recessiva, que
vigência de acidose metabólica sistêmica. Em alguns é originada por mutações no gene que codifica o canal
casos, a doença pode se apresentar com pH sanguíneo ENaC e ocasiona a perda de função no transporte de Na+
normal e o pH urinário levemente aumentado, o nos tecidos alvo da aldosterona. Esta forma caracteriza-
que dificulta o diagnóstico. Nestas situações, pode se por perda renal de sódio no período neonatal,
ser necessária a utilização das provas de acidificação desidratação, hipotensão com risco de vida, hipercalemia,
urinária por meio da administração oral de: a) cloreto acidose metabólica e déficit do crescimento.50-52

395 J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398


Tubulopatias hereditárias na infância

Hipoaldosteronismo congênito Diabetes insipidus nefrogênico


O hipoaldosteronismo congênito é uma doença O diabetes insipidus nefrogênico é caracterizado por uma
hereditária rara com apresentação autossômica incapacidade do rim em concentrar a urina em resposta
recessiva no gene CYP11B2, que está localizado ao hormônio antidiurético. Crianças com diabetes
no cromossomo 8q24.3. O gene CYP11B2 codifica insipidus nefrogênico apresentam polidipsia, poliúria,
a enzima aldosterona sintase (CYP11B2), que é hipostenúria, desidratação, hipernatremia e déficit de
responsável pela síntese da aldosterona no córtex crescimento. Cerca de 90% dos casos da doença são por
da adrenal. A mutação do gene CYP11B2 abole herança recessiva ligada ao cromossoma X, por mutações
a síntese da aldosterona e, em consequência, os no gene AVPV2, localizado no cromossomo Xq28.
pacientes apresentam recorrentes episódios de Mas há também a herança, autossômica dominante ou
hipovolemia com hiponatremia, hipercalemia e recessiva, que é causada por diferentes tipos de mutações
acidose metabólica.53 no gene AQP2, no cromossomo 12q13.58,59

Hiperplasia congênita da adrenal Considerações finais


O gene CYP11B1 é adjacente ao CYP11B2 e está As tubulopatias hereditárias são doenças que podem
localizado no cromossoma 8q22. O gene CYP11B1 afetar o crescimento, o desenvolvimento, e também
codifica a enzima 11β-hidroxilase que atua na podem apresentar ou não alterações neurológicas na
biossíntese do cortisol. A mutação deste gene ocasiona infância. Além disso, um percentual importante destes
a redução do cortisol, o que acarreta no aumento pacientes evolui para a doença renal crônica na faixa
da secreção do ACTH. Em consequência, ocorre o etária pediátrica.
aumento excessivo na produção dos precursores dos O médico deve estar atento para o reconhecimento
esteroides, que clinicamente se refletem em virilização clínico, em especial em atendimentos a crianças com
da genitália externa feminina de recém-nascidas, na vômitos persistentes, poliúria, episódios recorrentes
pseudopuberdade precoce, no crescimento somático de desidratação, distúrbios do crescimento, atraso
acelerado, no fechamento prematuro das epífises em no desenvolvimento e alterações neurológicas, e
ambos os sexos e na hipertensão arterial em cerca encaminhar precocemente ao especialista. Somado a
de dois terços destes indivíduos. A mutação no gene isso, o conhecimento dos defeitos genéticos implicados
CYP11B1 é a segunda causa mais comum de hiperplasia e as mudanças nos mecanismos envolvidos nos
congênita da adrenal.54 transportadores tubulares permitem no aumento dos
diagnósticos. Assim, estas entidades clínicas deixarão
Excesso aparente de mineralocorticoide
em curto espaço de tempo a classificação como doenças
A enzima 11β-hidroxi-esteroide desidrogenase tipo 2 renais raras e também poderão propiciar o surgimento de
(11βHSD2) está expressa no citoplasma das células novas estratégias de tratamento e melhora do prognóstico
principais e tem como ação degradar os esteroides. dessas crianças.
Este efeito protege os receptores mineralocorticoides Apesar do aumento do conhecimento na identifica-
de serem ativados por glicocorticoides. As mutações no ção das mutações genéticas nas doenças renais, poucos
gene HSD11B2, que é responsável na codificação desta são os centros capazes de realizar os exames genéticos
enzima, podem causar uma síndrome hipertensiva rara, na prática médica. No Brasil, estes exames são possí-
chamada excesso aparente de mineralocorticoides, cuja veis em alguns hospitais universitários, como é o caso
manifestação clínica é a hipertensão dependente de dos Hospitais de Clínicas das Faculdades de Medicina
sal, hipocalemia, e alcalemia metabólica.55 Entretanto, da Universidade Federal do Paraná e da Universidade
encontramos atualmente na literatura inúmeros casos de São Paulo nos Instituto Central e da Criança.
clínicos do excesso aparente de mineralocorticoides
consequente ao uso indiscriminado de ervas medicinais. Referências
A Glycyrrhiza glabra, também conhecida como liquorice, 1. Seguro AC, Kudo L, Helou CMB. Função Tubular. In: Riella
tem ação inibitória da 11βHSD2, o que resulta em M, ed. Princípios de Nefrologia e Distúrbios Eletrolíticos. 5a
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010. p.38-49.
ativação constante do receptor mineralocorticoide devido 2. Kleta R, Bockenhauer D. Bartter syndromes and other salt-
ao excesso de cortisol.55-57 -losing tubulopathies. Nephron Physiol 2006;104:73-80. DOI:
http://dx.doi.org/10.1159/000094001

J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398 396


Tubulopatias hereditárias na infância

3. Rumballe B, Georgas K, Wilkinson L, Little M. Molecular ana- 25. Morey M, Castro-Feijóo L, Barreiro J, Cabanas P, Pombo M,
tomy of the kidney: what have we learned from gene expression Gil M, et al. Genetic diagnosis of X-linked dominant Hypo-
and functional genomics? Pediatr Nephrol 2010;25:1005-16. phosphatemic Rickets in a cohort study: tubular reabsorption
4. Emma F, Montini G, Salviati L, Dionisi-Vici C. Renal mitochon- of phosphate and 1,25(OH)2D serum levels are associated with
drial cytopathies. Int J Nephrol 2011;2011:609213. PMID: PHEX mutation type. BMC Med Genet 2011;12:116. DOI:
21811680 DOI:http://dx.doi.org/10.4061/2011/609213 http://dx.doi.org/10.1186/1471-2350-12-116
5. Emma F, Bertini E, Salviati L, Montiniet G. Renal involvement 26. Zivičnjak M, Schnabel D, Billing H, Staude H, Filler G, Quer-
in mitochondrial cytopathies. Pediatr Nephrol 2012;27:539- feld U, et al.; Hypophosphatemic Rickets Study Group of Ar-
50. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s00467-011-1926-6 beitsgemeinschaft für Pädiatrische Endokrinologie and Gese-
6. Kelly CR, Landman J. Anatomia do trato urinário. In Kelly CR, llschaft für Pädiatrische Nephrologie. Age-related stature and
Landman J, eds. Coleção Netter de ilustrações médicas. 2a ed. linear body segments in children with X-linked hypophospha-
Rio de Janeiro: Saunders-Elsevier; 2014. p.24-7. temic rickets. Pediatr Nephrol 2011;26:223-31. DOI: http://
7. Bobulescu IA, Moe OW. Luminal Na(+)/H (+) exchange in dx.doi.org/10.1007/s00467-010-1705-9
the proximal tubule. Pflugers Arch 2009;458:5-21. PMID: 27. Vaisbich MH, Koch VH. Hypophosphatemic rickets: results of
18853182 DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s00424-008-0595-1 a long-term follow-up. Pediatr Nephrol 2006;21:230-4. DOI:
8. Fry AC, Karet FE. Inherited renal acidoses. Physiology (Be- http://dx.doi.org/10.1007/s00467-005-2077-4
thesda) 2007;22:202-11. DOI: http://dx.doi.org/10.1152/phy- 28. Seyberth HW, Schlingmann KP. Bartter- and Gitelman-like
siol.00044.2006 syndromes: salt-losing tubulopathies with loop or DCT defects.
9. Helou CMB. Distúrbios do equilíbrio ácido-base. In: Martins Pediatr Nephrol 2011;26:1789-802. PMID:21503667 DOI:
MA Carrilho FJ, Alves VA, Castilho EA, Cerri GG, Wen CL, http://dx.doi.org/10.1007/s00467-011-1871-4
eds. Clínica Médica. 1a ed. Barueri: Manole; 2009. p.614-25. 29. Fahlke C, Fischer M. Physiology and pathophysiology of ClC-
10. Cooper GJ, Zhou Y, Bouyer P, Grichtchenko II, Boron -K/barttin channels. Front Physiol 2010;1:155. DOI: http://
WF. Transport of volatile solutes through AQP1. J Phy- dx.doi.org/10.3389/fphys.2010.00155
siol 2002;542:17-29. PMID: 12096045 DOI:http://dx.doi. 30. Günzel D, Yu AS. Function and regulation of claudins in the thick
org/10.1113/jphysiol.2002.023218 ascending limb of Henle. Pflugers Arch 2009;458:77-88. PMID:
11. Baum M. Developmental changes in proximal tubule NaCl 18795318 DOI:http://dx.doi.org/10.1007/s00424-008-0589-z
transport. Pediatr Nephrol 2008;23:185-94. DOI: http:// 31. Riccardi D, Brown EM. Physiology and pathophysiology of the
dx.doi.org/10.1007/s00467-007-0569-0 calcium-sensing receptor in the kidney. Am J Physiol Renal Phy-
12. San-Cristobal P, Dimke H, Joost GJ, Bindels RJ. Novel molecu- siol 2010;298:F485-99. PMID: 19923405DOI: http://dx.doi.
lar pathways in renal Mg2+ transport: a guided tour along the org/10.1152/ajprenal.00608.2009
nephron. Curr Opin Nephrol Hypertens 2010;19:456-62. DOI: 32. Chen YH, Lin JJ, Jeansonne BG, Tatum R, Lu Q. Analysis of
http://dx.doi.org/10.1097/MNH.0b013e32833caf61 claudin genes in pediatric patients with Bartter’s syndrome.
13. Amatschek S, Haller M, Oberbauer R. Renal phosphate handling Ann N Y Acad Sci 2009;1165:126-34. PMID:19538297 DOI:
in human--what can we learn from hereditary hypophosphatae- http://dx.doi.org/10.1111/j.1749-6632.2009.04031.x
mias? Eur J Clin Invest 2010;40:552-60. PMID: 20412291 33. Deschênes G, Fila M. Primary molecular disorders and secon-
14. Gattineni J, Baum M. Genetic disorders of phosphate regula- dary biological adaptations in bartter syndrome. Int J Nephrol
tion. Pediatr Nephrol 2012;27:1477-87. DOI: http://dx.doi. 2011;2011:396209. PMID: 21941653 DOI:http://dx.doi.
org/10.1007/s00467-012-2103-2 org/10.4061/2011/396209
15. Pereira PC, Miranda DM, Oliveira EA, Silva AC. 34. Fremont OT, Chan JC. Understanding Bartter syndrome and
Molecular pathophysiology of renal tubular acido- Gitelman syndrome. World J Pediatr 2012;8:25-30. DOI:
sis. Curr Genomics 2009;10:51-9. DOI:http://dx.doi. http://dx.doi.org/10.1007/s12519-012-0333-9
org/10.2174/138920209787581262 35. Dimke H, Hoenderop JG, Bindels RJ. Hereditary tubular
16. Karet FE. Disorders of water and acid-base homeosta- transport disorders: implications for renal handling of Ca2+
sis. Nephron Physiol 2011;118:28-34. DOI: http://dx.doi. and Mg2+. Clin Sci (Lond) 2010;118:1-18. DOI:http://dx.doi.
org/10.1159/000320885 org/10.1042/CS20090086
17. Pache de Faria Guimaraes L, Seguro AC, Shimizu MH, Lopes 36. Knoers NV, Levtchenko EN. Gitelman syndrome. Orphanet
Neri LA, Sumita NM, de Bragança AC, et al. N-acetyl-cysteine J Rare Dis 2008;3:22. DOI: http://dx.doi.org/10.1186/1750-
is associated to renal function improvement in patients with 1172-3-22
nephropathic cystinosis. Pediatr Nephrol 2014;29:1097-102. 37. Bansal T, Abeygunasekara S, Ezzat V. An unusual presentation
18. Taranta A, Wilmer MJ, van den Heuvel LP, Bencivenga P, Bello- of primary renal hypokalemia-hypomagnesemia (Gitelman’s
mo F, Levtchenko EN, et al. Analysis of CTNS gene transcripts syndrome). Ren Fail 2010;32:407-10. DOI:http://dx.doi.
in nephropathic cystinosis. Pediatr Nephrol 2010;25:1263-7. org/10.3109/08860221003632873
DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s00467-010-1502-5 38. Graziani G, Fedeli C, Moroni L, Cosmai L, Badalamenti S,
19. Vaisbich MH, Koch VH. Report of a Brazilian multicenter study Ponticelli C. Gitelman syndrome: pathophysiological and cli-
on nephropathic cystinosis. Nephron Clin Pract 2010;114:c12- nical aspects. QJM 2010;103:741-8. PMID:20650971 DOI:
8. DOI:http://dx.doi.org/10.1159/000245065 http://dx.doi.org/10.1093/qjmed/hcq123
20. Özkan B, Çayır A, Koşan C, Alp H. Cystinosis presenting with 39. Urbanová M, Reiterová J, Stěkrová J, Lněnička P, Ryšavá R.
findings of Bartter syndrome. J Clin Res Pediatr Endocrinol DNA analysis of renal electrolyte transporter genes among pa-
2011;3:101-4. tients suffering from Bartter and Gitelman syndromes: summa-
21. Şimşek E, Şimşek T, Dallar Y, Can Ö, Willems PJ. A novel ry of mutation screening. Folia Biol (Praha) 2011;57:65-73.
pathogenic DNA variation in the OCRL1 gene in Lowe syndro- 40. Mu S, Shimosawa T, Ogura S, Wang H, Uetake Y, Kawakami-
me. J Clin Res Pediatr Endocrinol 2011;3:29-31. DOI: http:// -Mori F, et al. Epigenetic modulation of the renal β-adrenergic-
dx.doi.org/10.4274/jcrpe.v3i1.06 WNK4 pathway in salt-sensitive hypertension. Nat Med
22. Stechman MJ, Loh NY, Thakker RV. Genetic causes of hyper- 2011;17:573-80. DOI: http://dx.doi.org/10.1038/nm.2337
calciuric nephrolithiasis. Pediatr Nephrol 2009;24:2321-32. 41. Furgeson SB, Linas S. Mechanisms of type I and type II pseudo-
DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s00467-008-0807-0 hypoaldosteronism. J Am Soc Nephrol 2010;21:1842-5. DOI:
23. Devuyst O, Thakker RV. Dent’s disease. Orphanet J Rare Dis http://dx.doi.org/10.1681/ASN.2010050457
2010;5:28. DOI: http://dx.doi.org/10.1186/1750-1172-5-28 42. Dimke H. Exploring the intricate regulatory network
24. Devuyst O. Dent’s disease: chloride-proton exchange con- controlling the thiazide-sensitive NaCl cotransporter
trols proximal tubule endocytosis. Nephrol Dial Transplant (NCC). Pflugers Arch 2011;462:767-77. PMID: 21927811
2010;25:3832-5. DOI:http://dx.doi.org/10.1093/ndt/gfq556 DOI:http://dx.doi.org/10.1007/s00424-011-1027-1

397 J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398


Tubulopatias hereditárias na infância

43. McCormick JA, Ellison DH. The WNKs: atypical protein kinases 52. Fernandes-Rosa FL, Antonini SR. Mineralocorticoid resistance:
with pleiotropic actions. Physiol Rev 2011;91:177-219. PMID: pseudohypoaldosteronism type 1. Arq Bras Endocrinol Meta-
21248166 DOI:http://dx.doi.org/10.1152/physrev.00017.2010 bol 2007;51:373-81. DOI:http://dx.doi.org/10.1590/S0004-
44. Roy A, Al-bataineh MM, Pastor-Sole NM. Collecting duct in- 27302007000300004
tercalated cell function and regulation. Clin J Am Soc Nephrol 53. Hui E, Yeung MC, Cheung PT, Kwan E, Low L, Tan KC, et al.
2015;10:305-24. DOI:http://dx.doi.org/10.2215/CJN.08880914 The clinical significance of aldosterone synthase deficiency: report
45. Hamm LL, Feng Z, Hering-Smith KS. Regulation of sodium of a novel mutation in the CYP11B2 gene. BMC Endocr Disord
transport by ENaC in the kidney. Curr Opin Nephrol Hyper- 2014;14:29. DOI: http://dx.doi.org/10.1186/1472-6823-14-29
tens 2010;19:98-105. PMID: 19996890 DOI:http://dx.doi. 54. Dumic K, Yuen,T, Grubic Z, Kusec V, Barisic I, New MI. Two
org/10.1097/MNH.0b013e328332bda4 Novel CYP11B1 Gene Mutations in Patients from Two Croa-
46. Walsh SB, Shirley DG, Wrong OM, Unwin RJ. Urinary acidification tian Families with 11 β -Hydroxylase Deficiency. Int J Endocri-
assessed by simultaneous furosemide and fludrocortisone treatment: nol 2014;2014:185974.
an alternative to ammonium chloride. Kidney Int 2007;71:1310-6. 55. Ferrari P. The role of 11β-hydroxysteroid dehydrogena-
PMID: 17410104 DOI: http://dx.doi.org/10.1038/sj.ki.5002220 se type 2 in human hypertension. Biochim Biophys Acta
47. Vasuvattakul S. Molecular Approach for Distal Renal Tubular Aci- 2010;1802:1178-87. PMID: 19909806 DOI:http://dx.doi.
dosis Associated AE1 Mutations. Electrolyte Blood Press 2010;8:25- org/10.1016/j.bbadis.2009.10.017
31. DOI:http://dx.doi.org/10.5049/EBP.2010.8.1.25 56. White PC. 11beta-hydroxysteroid dehydrogenase and its role in
48. Anacleto FE, Bruce LJ, Clayton P, Hegde S, Resontoc LP, Wrong O. the syndrome of apparent mineralocorticoid excess. Am J Med
Distal renal tubular acidosis in Filipino children, caused by mutations Sci 2001;322:308-15. PMID: 11780688DOI: http://dx.doi.
of the anion-exchanger SLC4A1 (AE1, Band 3) gene. Nephron Phy- org/10.1097/00000441-200112000-00003
siol 2010;114:19-24. DOI: http://dx.doi.org/10.1159/000274484 57. Yasue H, Itoh T, Mizuno Y, Harada E. Severe hypokalemia,
49. Bogdanović R, Kuburović V, Stajić N, Mughal SS, Hilger A, Ninić rhabdomyolysis, muscle paralysis, and respiratory impair-
S, et al. Liddle syndrome in a Serbian family and literature review of ment in a hypertensive patient taking herbal medicines contai-
underlying mutations. Eur J Pediatr 2012;171:471-8. DOI: http:// ning licorice. Intern Med 2001;46:575-8. DOI: http://dx.doi.
dx.doi.org/10.1007/s00431-011-1581-8 org/10.2169/internalmedicine.46.6316
50. Rolim AL, Lindsey SC, Kunii IS, Fujikawa AM, Soares FA, 58. Liberatore Junior RD, Carneiro JG, Leidenz FB, Melilo-Caro-
Chiamolera MI, et al. Ion channelopathies in endocrinology: lino R, Sarubi HC, De Marco L. Novel compound aquaporin
recent genetic findings and pathophysiological insights. Arq 2 mutations in nephrogenic diabetes insipidus. Clinics (São
Bras Endocrinol Metabol 2010;54:673-81. DOI: http://dx.doi. Paulo) 2012;67:79-82. DOI: http://dx.doi.org/10.6061/cli-
org/10.1590/S0004-27302010000800002 nics/2012(01)13
51. Mora-Lopez F, Bernal-Quiros M, Lechuga-Sancho AM, Le- 59. Neocleous V, Skordis N, Shammas C, Efstathiou E, Mas-
chuga-Campoy JL, Hernandez-Trujillo N, Nieto A. Novel troyiannopoulos NP, Phylactou LA. Identification and charac-
mutation in the epithelial sodium channel causing type I pseu- terization of a novel X-linked AVPR2 mutation causing partial
dohypoaldosteronism in a patient misdiagnosed with cystic fi- nephrogenic diabetes insipidus: a case report and review of the
brosis. Eur J Pediatr 2012;171:997-1000. DOI: http://dx.doi. literature. Metabolism 2012;61:922-30. DOI: http://dx.doi.
org/10.1007/s00431-012-1697-5 org/10.1016/j.metabol.2012.01.005

J Bras Nefrol 2015;37(3):385-398 398

Você também pode gostar