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– Tiagooooooooooooooooooooooooooo!

A voz da professora era um trovão a atravessar os ares, a estatelar-se de encontro à


parede da sala. Os olhos dela vestiam-se de tempestade e fulminavam a raios o distraído
Tiago.
5 Outra flecha cruzou o espaço:
– TIAGO!!!
A voz tornou a ouvir-se, toda em maiúsculas. Uma voz autoritária, enorme como uma
montanha das maiores com neve lá no alto; uma voz que não podia deixar de ouvir-se.
Com olhares cúmplices e atentos, toda a turma observava, expectante.
10 Tiago, imperturbável, não ouvia nada. Uma vez mais, alheara-se do mundo e partira à
aventura. Nesse preciso instante, Tiago, ou melhor, Alfafa Alfacinha, usava um turbante
branco e longas vestes de linho fresquíssimo... E atravessava o deserto bem acomodado
entre as duas bossas do seu camelo particular, o valente Pachorra. Para quê atravessar
assim o infinito deserto, escorrendo suor, desafiando um mar imenso de areia,
15 escaldando--se ao sol? Tudo fazia para perseguir o perigoso Ali Vounumpé, bandido que
roubava a ricos e a pobres para aumentar o seu tesouro, cada dia maior. As marcas das
ferraduras do cavalo árabe de Ali Vounumpé desenhavam-se, nítidas, na areia. Se ao
menos aparecesse na primeira esquina, por detrás de uma palmeira, um sumo de limão
bem fresquinho, com duas pedrinhas de gelo e uma palhinha… De súbito:
20 – TIAGO!!!
Um cato cheio de espinhos surgiu no caminho. O camelo Pachorra assustou-se de
morte, ergueu-se nas patas traseiras, tremelicou os feios lábios, sacudiu as bossas; Alfafa
Alfacinha, o herói, saltou da garupa, fez uma pirueta e estampou-se com estrondo na
areia dura do deserto.
25 Tiago abriu os olhos, sacudiu a areia da boca. Ergueu a cabeça e viu a professora,
roxinha de raiva, à sua frente.
– Fazes favor, dá-me o teu caderno! Quero escrever ao teu encarregado de
educação!
Buuum! A turma explodiu em gargalhadas.
30 Tiago procurava, em vão, um oásis. Acabou por retirar o caderno das profundezas
da mala, estendendo-o à professora. Ela agarrou-o, ávida, como se tivesse descoberto
um copo de água depois de três meses à sede... Ela começou a escrever, numa letra
nervosa, letra de chuva miudinha. Tiago pensou no que diria o tio Hipólito ao ver o seu
caderno, mais a repreensão da professora, mais a sua desatenção nas aulas em letras
35 vermelhas como um trovão rasgando o céu...
Pobre querido tio Hipólito!
A professora parou de escrever, talvez para recuperar o fôlego. Deitou dois olhos de
carvão aceso para cima do Tiago. Falou-lhe com espinhos na voz:
– És sempre o mesmo! Fazes sempre a mesma coisa: andas na lua o tempo todo...
40 eu sei lá onde é que andas...
Tiago pensou: onde é que andaria naquele preciso momento o tio Hipólito? No Egito,
a visitar algum museu? A comprar alguma velharia? Às voltas no sótão de alguma casa
misteriosa?

História dentro de uma garrafa, Alexandre Honrado


1. Assinala com uma cruz (X) a única opção correta.

1.1. O texto que acabei de ler


a. éuma narrativa escrita na terceira pessoa.
b. tem como narrador um rapaz chamado Tiago.
c.  está escrito na primeira pessoa.
d.  é narrado por Alexandre Honrado.


1.2. Tiago, a personagem principal,
a. chamava-se na realidade Alfafe Alfacinha.
b. estava a atravessar o deserto quando a professora o chamou.
c.  tinha um camelo chamado Pachorra.
d.  era um aluno muito distraído e desatento.

1.3. “e estampou-se com estrondo na areia dura do deserto.” (linhas 23 - 24)


Que sensações são sugeridas na transcrição acima?
a. gustativa e auditiva.
b. tátil e gustativa.
c.  auditiva e tátil.
d.  olfativa e auditiva.

1.4. “Ela agarrou-o, ávida, como se tivesse descoberto um copo de água depois de três
meses à sede...” (linha 30)
O pronome sublinhado refere-se
a. aocopo de água.
b. ao Tiago.
c.  ao caderno.
d.  ao bandido Ali Vounumpé.

1.5. Tendo em conta o ponto de vista da professora, o Tiago


a.  estava a fazer tudo para perseguir o perigoso Ali Vounumpé.
b.  viajava constantemente da sala de aula para o deserto.
c.  nunca deixara fisicamente a sala de aula.
d.  perdera-se de facto no deserto, mas tinha conseguido voltar à sua
aula.

2. Ao longo do texto, entrecruzam-se dois planos: o da realidade e o do sonho.


Comprova esta afirmação transcrevendo uma frase de cada plano.

Plano da
 ________________________________________________________
realidade

Plano do
 ________________________________________________________
sonho
3. Escolhe, para cada um dos excertos (A), os sentimentos que lhe correspondem (B),
escrevendo 1, 2, 3 e 4 nas hipóteses selecionadas na coluna B.

A B
“toda a turma observava, expectante.” (linha 9) Entusiasmo
1
4 Carinho
“Tiago procurava, em vão, um oásis.” (linha 29) Troça
2
1 Curiosidade
3 “Pobre querido tio Hipólito!” (linha 35) 2 Desorientação
Vergonha
“Deitou dois olhos de carvão aceso para cima do Tiago.”
4 (linhas 36 e 37 ) 3 Impaciência

4. “Quero escrever ao teu encarregado de educação!” (linha 27)


4.1. O que achas da atitude da professora?
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_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

4.2. Imagina o recado que a professora terá escrito no caderno do Tiago.

______/ _____/ ______


De: ____________________________ Para: ___________________________
_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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5. Depois de lerem o texto, dois amigos fizeram os seguintes comentários:


João: - Coitado do Tiago, ficou tão preocupado com o recado que a professora escreveu!
Joana: - Eu acho que o Tiago não me pareceu muito atrapalhado com o recado...
E tu, com qual das opiniões é que concordas? Justifica a tua resposta.
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