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Em meados do século XX, emergiu, no âmbito do saber humano, uma nova ma-
neira de pesquisar e compreender os fenômenos que a ciência estudava. Para se
aquilatar o significado dessa verdadeira revolução epistemológica basta recordar
que, desde a mais remota antiguidade até então, a Ciência procurava entender
os fenômenos naturais que investigava segundo um padrão que denominamos
causa à efeito, ou seja, partia-se de um fato ou evento natural (efeito) e procu-
rava-se o que o determinara (causa). Esse procedimento era universal e abrangia
não só a natureza física, mas também o comportamento dos seres vivos. É o que
se convencionou chamar pensamento cartesiano, por ter Descartes como seu
ícone e sua máxima “penso, logo existo” como divisa.
Com a evolução do conhecimento científico e dos instrumentos de avaliação
de que as ciências em geral passaram a dispor, houve um momento em que se
constatou que muitos fenômenos não se comportavam segundo a interpretação
simplista de que a cada efeito correspondia uma única e determinada causa. Isso
ocorreu a partir dos estudos que deram origem à física quântica e à teoria geral
dos sistemas vivos, sistemas esses que estão em permanentes trocas, influências
recíprocas e mutações, não se comportando, portanto, segundo as leis determi-
nísticas do padrão causa à efeito.
Essa mudança de perspectiva na forma de encarar o estudo da natureza
causou grande impacto no mundo científico, que até hoje não foi assimilado
por muitos cientistas que trabalham em disciplinas solidamente alicerçadas no
padrão determinista que pautou sua origem e desenvolvimento. Mas já não há
como dar seguimento à evolução do pensamento científico em qualquer área do
conhecimento humano sem levar em conta os subsídios desse novo enfoque, que
corresponde ao que denominamos padrão retroalimentação (ou feedback), que
questiona o determinismo cartesiano calcado na lógica causa à efeito.
Enquanto a ciência tradicional, cartesiana, isolava os fenômenos para po-
der estudá-los e acreditava que era examinando isoladamente as partes consti-
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OSORIO, L. C. Grupos: teorias e práticas: acessando a era da grupalidade. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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OSORIO, L. C. Casais e famílias: uma visão contemporânea. Porto alegre: Artmed, 2002.
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OSORIO, L. C. Psicologia grupal: uma nova disciplina para o advento de uma nova era. Porto
alegre: Artmed, 2003.
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OSORIO, L. C. Grupoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed, 2007.
nem todas fazem parte do grupo ou sistema humano que se constitui em torno
da referente interação grupal com um determinado propósito compartilhado. Nesse
sentido, qualquer conjunto de pessoas será um sistema humano sempre e quan-
do preencher os critérios que o definem.
A configuração de um sistema humano é ainda função do número de par-
ticipantes, do tempo de convivência, do padrão das interações e de objetivos em
comum. Assim, dez pessoas, após alguns dias de interação estimulada, poderão se
conhecer em suas singularidades e, se tiverem um objetivo compartilhado, cons-
tituirão um sistema humano; mas se forem, por exemplo, 50 indivíduos, mesmo
que tenham um objetivo em comum, necessitarão de semanas, ou até meses, de
convívio para que todos interajam o suficiente para se conhecerem em suas sin-
gularidades e possam se tornar um sistema humano.
O conceito de sistemas humanos apresentado corresponde aos microssis-
temas. Reservamos a denominação macrossistemas às nações, às multinacionais,
aos organismos internacionais e às entidades políticas, religiosas, esportivas e ou-
tras similares, que, por seu gigantismo, precisam se subdividir em setores opera-
cionais para realizar seus propósitos.
Uma empresa, à medida que cresce e se expande, torna-se um macrossiste-
ma humano, necessitando criar departamentos para otimizar seu desempenho.
Cada setor, ou departamento, constitui-se em um microssistema ou uma célu-
la funcional do todo.