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TECIDOS IMUNOLOGICAMENTE
PRIVILEGIADOS
Entretanto, se linfócitos autorreativos forem ativados, esses autoantígenos
podem se tornar alvo para o ataque autoimune. Os tecidos imunologicamente
privilegiados do olho, cérebro, testículo, feto e placenta serão abordados a
seguir.
• OLHO
• CÉREBRO
A ação dos neuropeptídios, assim como no olho, também estão presentes no
cérebro. Estão presentes no cérebro macrófagos residentes, chamados de
micróglia, que se ativam em resposta ao dano tecidual ou à infecções no
cérebro. O limiar para ativação da micróglia é maior do que de outros
macrófagos em outros locais do corpo. Acredita-se que isso deriva da
sinalização inibitória pelo receptor CD200, expresso pela micróglia. Evidências
indicam que a vigilância imunológica contra microrganismos ocorre no sistema
nervoso central. Assim, algumas infecções oportunistas no cérebro são mais
frequentes em pacientes imunossuprimidos. Pacientes tratados com anticorpos
monoclonais que bloqueiam a adesão de linfócitos e monócitos às células
endoteliais têm risco significativamente aumentado de ativação do vírus JC
(John Cunningham) latente, que pode causar leucoencefalopatia multifocal
progressiva e outras patologias em pacientes imunossuprimidos, indicando que
o tráfego de células T ou de monócitos para o cérebro é necessário para manter
o vírus latente sob controle.
• TESTÍCULO
O testículo, assim como outros tecidos, também possui uma barreira
hematotecidual que limita a exposição de células e de moléculas para os locais
de espermatogênese. Esta barreira é constituída por células de Sertoli que
revestem a camada mais externa dos túbulos seminíferos, onde ocorre a
espermatogênese. Os hormônios também possuem uma característica
anti-inflamatória sobre os macrófagos, principalmente a testosterona, que está
presente em abundância nesse local. Além disso, há também o TGF-β,
produzido por células de Leydig, de Sertoli e peritubulares, que possivelmente
contribui para a supressão imune local.
• FETO E PLACENTA
O feto dos mamíferos expressa genes herdados do pai, alogênicos aos da mãe,
os quais são reconhecidos pelos anticorpos e linfócitos T maternos contra as
moléculas de MHC paternas, porém, os fetos não são normalmente rejeitados
pela mãe. Esse fato decorre da evolução dos mecanismos que protegem o feto
do sistema imune materno, que ainda são pouco compreendidos, mas que
provavelmente estão envolvidos com aspectos moleculares e de barreira
particulares da placenta e com a imunossupressão local. A falha na rejeição do
feto é baseada na região de contato físico entre a mãe e o feto. Os tecidos
fetais da placenta que possuem contato íntimo com a mãe são os trofoblastos
vasculares, que possuem contato com o sangue materno para realizar a troca
de nutrientes, e os trofoblastos dos locais de implantação, que se infiltram
difusamente no revestimento uterino, também chamado de decídua, com o
objetivo de fixar a placenta à mãe.
As células Treg também podem atuar na tolerância materna ao feto através da
prevenção de reações imunes contra antígenos paternos. Inclusive, alguns
estudos indicam a possibilidade de associação entre defeitos nas células Treg e
abortos espontâneos recorrentes.
As respostas imunes ao feto podem ser reguladas por concentrações locais de
triptofano e de seus metabólitos na decídua. Isso é explicado pelo fato de as
respostas de células T ao feto poderem ser bloqueadas por níveis baixos de
triptofano na decídua devido a atividade da enzima indolamina 2,3-dioxigenase
(IDO), que cataboliza o triptofano.
Assim, uma mulher que está em sua primeira gestação, não irá gerar os
anticorpos, a não ser que ocorra contato do sangue fetal com a mãe
previamente ao parto. Porém, as próximas gestações em que o feto é Rh
positivo estão em risco, pois os anticorpos IgG antiRh presentes na mãe são
capazes de atravessar a placenta e causar a destruição das hemácias fetais,
implicando na chamada eritroblastose fetal (doença hemolítica do
recémnascido), que pode ser letal para o feto.