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P R O F. A N TO N I O R I VAS
MARÇO/2022
ATLS: Atendimento Inicial e Via Aérea
APRESENTAÇÃO:
PROF. ANTONIO
RIVAS
Revalidando, agora vamos falar sobre o atendimento
inicial às vítimas de trauma e vias aéreas. Saiba que esse
é um dos assuntos mais prevalentes entre as questões de
cirurgia do Revalida, incluindo as provas práticas.
Digo mais, foram raríssimos os anos em que não
caíram questões sobre esse tema nas provas. Portanto,
fique atento e leia esse livro com muito foco, pois tenho
certeza que irá o ajudar a debulhar a prova!
Como de costume, construímos todos os tópicos
baseados em engenharia reversa, por meio da resolução
de todas as questões de trauma das provas de Revalida
até o momento. A bibliografia em que nos baseamos para
@prof.antoniorivas
t.me/estrategiamed /estrategiamed
ATLS: Atendimento Inicial e Via Aérea
escrever este livro digital foi o manual da 10ª edição do • Vias aéreas cirúrgicas – indicações e
ATLS. contraindicações.
Durante sua leitura, fique atento! Os aspectos Ao longo do material, você vai encontrar questões
mais relevantes para a prova estarão escritos em negrito do Revalida com o objetivo de auxiliar na fixação do
ou, então, sumarizados em tabelas, caixas de resumo e conhecimento e de mostrar a você como esses assuntos
quadros com o aviso “Atenção”. costumam cair.
Desse modo como construímos o material, apenas Mesmo após resolver essas questões que estão
com a memorização desses elementos-chave, você estará distribuídas ao longo do material, é imprescindível que
apto a resolver a maioria das questões referentes à você também resolva, no mínimo, todos os exercícios da
hierarquização do atendimento inicial e a vias aéreas no lista ao final deste livro! Essa será uma etapa essencial para
trauma. sua aprovação!
Ao terminar este livro, você deverá dominar os Bora lá! Vamos para cima!
seguintes tópicos:
• Distribuição trimodal das mortes no trauma.
• Hierarquização do atendimento às vítimas de As informações com maior relevância
trauma, preconizada pelo ATLS. estarão destacadas em NEGRITO ou, ainda, em
• Lesões com risco potencial e imediato nas tabelas e quadros de informação precedidos pela
vítimas de trauma. palavra “ATENÇÃO”.
• Indicações de via aérea definitiva.
ATLS: Atendimento Inicial e Via Aérea
SUMÁRIO
CAPÍTULO
Com o objetivo de reduzir os óbitos do segundo realizados ainda na primeira hora após o evento. Nesse
e terceiro picos, criou-se o conceito da hora de ouro intervalo, o diagnóstico e a aplicação adequada dos
(golden hour). meios de reanimação melhoram muito o prognóstico
A hora de ouro diz respeito aos atendimentos de mortalidade, especialmente do segundo pico.
Esse é um tópico quentíssimo para você, Cada uma dessas letras faz referência a uma parte da
Revalidando! Volta e meia, esse assunto aparece em avaliação e da resolução de problemas encontrados nas
provas teóricas ou práticas! Vamos dominá-lo de uma vítimas de trauma.
vez por todas! Logo a seguir, encontra-se uma tabela em que
O sistema de atendimento do ATLS procura estão identificadas cada uma das letras correspondentes
identificar e resolver os problemas que representam ao mnemônico.
maior risco de morte, e isso é feito de forma Ao longo da leitura dos materiais de Trauma do
hierarquizada. Ou seja, as lesões que matam mais Estratégia MED, cada um desses tópicos do atendimento
rápido devem ser identificadas e resolvidas primeiro. será discutido com detalhes.
Nesse contexto, criou-se o mnemônico “ABCDE”.
A ausculta pulmonar, por sua vez, diz sobre o algumas anormalidades específicas, como também
fluxo de ar nos pulmões. Já a percussão torácica é veremos no livro de trauma torácico.
uma técnica semiológica essencial para identificarmos
CAI NA PROVA
(REVALIDA – UFMT – 2007) Quais são os elementos constituintes da chamada “tríade fatal” que representam a última
manifestação de alterações nos equilíbrios molecular, celular e hemodinâmico do paciente crítico?
COMENTÁRIO:
Gabarito: alternativa E.
(Revalida – UFMT – 2005) Assinale a alternativa CORRETA: em um paciente politraumatizado, assinale o item de maior
prioridade na abordagem do mesmo:
COMENTÁRIO:
Como vimos, a primeira das prioridades deve ser assegurar a imobilidade da coluna cervical e garantir a patência
das vias aéreas.
Gabarito: Alternativa A.
Prof. Antonio Rivas | Cirurgia | Março 2022 12
ATLS: Atendimento Inicial e Via Aérea
(REVALIDA – INEP – 2016) Uma Unidade de Atendimento Médico Móvel Avançada (UTI móvel) foi acionada para
atendimento das vítimas de acidente envolvendo colisão de um veículo de passeio com uma árvore. A cena do acidente
apresenta um carro de passeio com para-brisa íntegro e deformidade de cerca de 35 cm na lateral, do lado do motorista,
sem sinais de vazamento de combustível ou princípio de incêndio; há, ainda, uma árvore caída junto ao carro. Ao lado
da porta do passageiro, há um homem com cerca de 50 anos de idade em óbito e, no banco do motorista, encontra-
se um homem com cerca de 30 anos de idade, com o cinto de segurança afivelado, que se queixa de moderada dor
torácica do lado esquerdo à inspiração, dispneia leve e dor intensa no membro inferior esquerdo. Ao exame físico
apresenta dor à palpação torácica do gradeado costal esquerdo; ausculta pulmonar simétrica; frequência respiratória
= 26 irpm; pressão arterial sistólica = 85 mmHg; frequência cardíaca = 130 bpm; oximetria de pulso com saturação
de oxigênio = 92% em ar ambiente; escore da escala de coma de Glasgow = 13; pupilas isocóricas e fotorreagentes;
enchimento capilar maior que dois segundos; deformidade no braço esquerdo; e ferimento de aproximadamente 20
cm na coxa esquerda com sangramento venoso significativo. Considerando o atendimento inicial do traumatizado na
cena e a sistematização desse caso clínico a ser realizada pela equipe de atendimento pré-hospitalar móvel, faça o que
se pede no item a seguir. Descreva a sequência da avaliação primária do atendimento ao paciente (ABCDE), definindo
a conduta a ser adotada em cada etapa da sistematização.
COMENTÁRIO:
As medidas auxiliares da avaliação primária são Isso também se aplica aos pacientes com evidência de
elementos complementares ao atendimento inicial, comprometimento hemodinâmico.
que podem ser aplicados durante as etapas do ABCDE. A capnografia, por sua vez, é um método não
O que direi agora parece óbvio, mas quero que invasivo que pode dar informações valiosas sobre a
você leia com atenção: as medidas complementares ventilação do paciente, circulação e metabolismo.
são apenas estas que estão listadas abaixo. As Além disso, é um recurso útil para a confirmação
medidas que não estão listadas aqui não fazem parte do posicionamento das sondas traqueais na via aérea.
da avaliação primária, portanto não poderão ser 4. Sonda gástrica e sonda urinária: esses
aplicadas nessa etapa de atendimento. elementos podem ser instalados durante a
1. Eletrocardiograma/cardioscopia: esse avaliação primária ou secundária.
método é útil para diagnosticar arritmias A sonda gástrica é indicada para descompressão
presentes nos traumas com contusão do estômago, reduzindo, assim, o risco de
cardíaca. broncoaspiração e permitindo a avaliação da presença
Também é aplicado para o diagnóstico de de sangue no trato digestivo.
atividade elétrica sem pulso, que pode acontecer Fique atento: a passagem de sondas por via
nos casos de tamponamento cardíaco, pneumotórax nasal está formalmente contraindicada em casos de
hipertensivo e hipovolemia. suspeita de fratura de base de crânio. A apresentação
2. Oximetria de pulso: é uma medida valorosa clínica dessas lesões será discutida mais à frente, no
para avaliação da saturação de oxigênio. tópico de intubação nasotraqueal.
3. Capnografia e gasometria arterial: são A sonda urinária é útil para informar o débito
métodos úteis para avaliação da eficiência urinário – indicador mais sensível da perfusão
das trocas gasosas. periférica. Além disso, também pode ser útil
Idealmente, todas as vítimas de trauma com para o diagnóstico de lesões das vias urinárias
evidência de comprometimento clínico das vias aéreas (rins, bexiga e ureter).
ou ventilação devem ser submetidas a uma gasometria.
5. Radiografias: a realização de radiografias é prevista durante a avaliação primária, desde que feita de
forma judiciosa e que não retarde as manobras de reanimação ou a transferência do doente para o
hospital ou setor de tratamento definitivo.
6. FAST, e-FAST e lavado peritoneal diagnóstico: são exames úteis, de rápida execução e que podem auxiliar
no diagnóstico de sangramento intra-abdominal, pneumotórax, hemotórax e tamponamento cardíaco.
Esses exames serão discutidos em detalhes no livro de trauma abdominal.
Durante a avaliação secundária, o paciente deve primária e suas medidas de reanimação não estiverem
ser examinado minuciosamente, da cabeça aos pés, em completas. Além disso, para iniciarmos essa etapa, o
busca de outras lesões potenciais. Para tal, devemos paciente deve apresentar estabilidade e clara tendência
fazer uma anamnese direcionada e o exame físico à melhora, após aplicadas as medidas iniciais.
detalhado de todos os segmentos do corpo. A anamnese direcionada para avaliação
É importante que você saiba que a avaliação secundária é resumida pelo mnemônico “AMPLA”, que
secundária não está autorizada enquanto a avaliação se encontra na tabela abaixo.
"A” ALERGIAS
ATENÇÃO:
Você NUNCA aplicará medidas de avaliação secundária para pacientes instáveis ou que ainda não
terminaram a avaliação primária!
Sabe aquela tomografia de abdome que você quer pedir para o paciente com uma PA de 80 x 40 mmHg
e FC de 135 bpm? Está proibida!!
Cenários com múltiplas vítimas, que excedem a atendimento, não deverão receber prioridade no
capacidade de atendimento simultâneo, sempre devem atendimento.
nos remeter a uma palavra: “triagem”. Um dos métodos de triagem mais aplicados
Os métodos de triagem servem para garantir chama-se SALT.
que as vítimas mais graves sejam atendidas primeiro, As classes de triagem do método SALT são 5 e
desde que a vítima tenha condições de ser salva com dividem-se em:
os recursos disponíveis. • Atendimento imediato – vítimas com
Trocando em miúdos, vítimas em estado muito ferimentos graves e risco de vida, mas
grave, que não poderão ser salvas pelos recursos de que podem ser salvas, considerando-se os
Prof. Antonio Rivas | Cirurgia | Março 2022 16
ATLS: Atendimento Inicial e Via Aérea
CAPÍTULO
2.0 A: VIAS AÉREAS E PROTEÇÃO DA COLUNA
CERVICAL
2.1 INTRODUÇÃO
Portanto, trate todas as vítimas de trauma como segundos e deve ser adotada antes mesmo da proteção
portadoras de lesão vertebromedular. das vias aéreas.
A imobilização da coluna cervical leva poucos
Todas as vítimas de trauma, à exceção daquelas é avaliar se há presença de obstrução das vias aéreas.
com indicação de via aérea definitiva (conceito que Nesse contexto, causas comuns de impedimento
veremos logo adiante), devem receber oxigênio de ao fluxo aéreo incluem:
forma passiva, por meio de uma fonte com alto fluxo 1. Corpos estranhos.
(10-15 L/min) em uma máscara não reinalante com 2. Sangue e secreção.
reservatório de O2. 3. Queda da base da língua com obstrução
Dispositivos como cateter nasal de oxigênio e da hipofaringe (causa mais comum de
máscara sem reservatório não são indicados para as obstrução das vias aéreas).
vítimas de trauma, segundo o ATLS. Vamos falar rapidamente sobre cada uma delas.
Como regra, pacientes que conseguem se 1. Os corpos estranhos da via aérea devem ser
comunicar verbalmente dificilmente apresentam removidos manualmente ou com o auxílio de
obstrução da via aérea. Além disso, um nível de uma pinça. Isso pode ser feito sob visão direta
consciência que permita comunicação garante que ou com a aplicação de um laringoscópio.
os mecanismos fisiológicos de proteção contra 2. Sangue e secreção também devem ser
broncoaspiração estejam preservados. removidos das vias aéreas. Isso é feito por
Por outro lado, sinais como ausência de resposta meio de sucção, utilizando um aspirador de
verbal, respiração ruidosa e esforço respiratório devem ponta rígida.
chamar atenção para um potencial comprometimento 3. A queda de língua é muito comum em
da via aérea. Diante desses achados, a primeira medida pacientes com rebaixamento do nível de
consciência e pode ser contornada por meio mantida em posição neutra. Ou seja, sua hiperextensão
de manobras, como a tração anterior de está proibida.
mandíbula (JAW-THRUST) ou a elevação do Além dessas duas manobras, dispositivos como a
mento (CHIN LIFT), ilustradas a seguir. cânula orofaríngea (de Guedel) ou a cânula nasofaríngea
Devemos ter em mente que, durante a execução também auxiliam no controle da queda de língua e na
dessas duas manobras, a coluna cervical deve ser manutenção da perviedade da via aérea.
Na representação acima, observamos a queda da base da língua com obstrução da hipofaringe, a manobra de chin lift e a manobra de jaw thrust.
Ambas as manobras têm o objetivo de desobstruir a via aérea. Lembrando que, em vítimas de trauma, a hiperextensão cervical é proscrita.
A imagem acima mostra diferentes tamanhos de cânulas orofaríngeas (de Guedel) e seu posicionamento adequado para desobstrução da faringe.
CAI NA PROVA
(REVALIDA INEP – 2021 – ADAPTADO) Lesões traumáticas podem variar de pequenas feridas isoladas a lesões
complexas envolvendo múltiplos sistemas/aparelhos. Todos os pacientes vítimas de trauma demandam avaliação
sistematizada para melhorar os desfechos e reduzir o risco da não identificação de lesões. Para esta questão, vamos
considerar o A B C D E do trauma.
A obstrução de vias aéreas é a principal causa de morte imediatamente após o trauma.
Com base no que foi apresentado, cite três causas de obstrução de vias aéreas em um paciente politraumatizado.
COMENTÁRIO:
Agora que acabamos de estudar isso, fica fácil! As principais causas de obstrução incluem:
• Corpos estranhos.
• Sangue e secreção.
• Queda da base da língua com obstrução da hipofaringe (causa mais comum de obstrução das vias aéreas).
O acesso para a obtenção da via aérea definitiva opção para obtenção de via aérea definitiva, desde
pode ser classificado como cirúrgico ou não cirúrgico, que não haja contraindicações.
de acordo com a técnica utilizada. Logo adiante, veremos mais detalhes sobre cada
O tipo de acesso varia de acordo com fatores tipo de via aérea. Mas, antes, segue uma questão para
específicos que serão listados a seguir. Vale a pena fixar conceitos.
lembrar que a intubação orotraqueal é a primeira
CAI NA PROVA
(REVALIDA – INEP – 2011) Homem, com 23 anos de idade, mototaxista, sofre acidente motociclístico por colisão com
carro em alta velocidade. Seu corpo foi lançado aproximadamente a 20 m e o capacete, ejetado. Foi socorrido pelo Corpo
de Bombeiros com colocação de colar cervical, uso de prancha longa, imobilização e oxigenioterapia. Ao dar entrada
na unidade de emergência na qual você é plantonista, 11 minutos após o acidente, apresentava-se agitado, agressivo,
com saturação de oxigênio, aferida em oximetria de pulso, de 88%. O exame físico identificou murmúrio vesicular
presente e roncos discretos na base de pulmão direito; pulso radial=105 bpm; abdome sem escoriações e indolor
à palpação; deformidade em coxa direita e à palpação do crânio, apresentava afundamento de aproximadamente
0,5 cm, associado a ferimento corto-contuso de 5 cm de extensão, em região têmporo-parietal direita. Avaliação pela
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ATLS: Atendimento Inicial e Via Aérea
escala de coma de Glasgow=8. Pupilas fotorreagentes, sem anisocoria. Qual a conduta imediata a ser adotada para
este paciente?
A) Entubação orotraqueal com objetivo de proteger a via aérea e aumentar a perfusão tecidual de oxigênio.
B) Realização de traqueostomia de urgência com o objetivo de hiperventilar o paciente e favorecer a expansão
pulmonar.
C) Sedação com meperidina, com o objetivo de reduzir a agitação e consequentemente, o consumo de oxigênio e a
congestão pulmonar.
D) Ventilação sob máscara e pressão positiva, proteção do ferimento e contenção física, prevenindo o agravo das
lesões.
E) Ventilação sob máscara e pressão positiva, drenagem do hemitórax direito, melhorando assim a perfusão tecidual.
COMENTÁRIO:
Pacientes com pontuação menor ou igual a 8 na escala de coma de Glasgow têm indicação de via aérea definitiva!
Só com essa informação, já podemos excluir 3 alternativas (C, D e E).
Além disso, acabamos de ver que a via aérea definitiva de escolha no trauma é a intubação orotraqueal. Logo, a
alternativa correta é a alternativa A!
Mais à frente, veremos em quais condições a traqueostomia está indicada. Mas, perceba que, mesmo com esses
conhecimentos básicos, você estava pronto para responder a essa questão.
Gabarito: Alternativa A.
Na SRI, é preconizada a pré-oxigenação sob máscara com O2 a 100% e a manobra de Sellick (pressão
digital sobre a cricoide para comprimir o esôfago e evitar broncoaspiração).
O ATLS recomenda que as drogas utilizadas para intubação sejam o etomidato 0,3 mg/kg (sedativo) e 1
a 2 mg/kg de succinilcolina (BNM).
Atenção: a succinilcolina é um relaxante muscular que predispõe à hipercalemia. Em decorrência
disso, está contraindicada nos grandes queimados e em pacientes com traumas musculoesqueléticos
extensos, cujas condições de base já predispõem à hipercalemia.
• Impossibilidade de visualizar ou
transpor as estruturas da laringe.
Via aérea definitiva de
Exemplos:
TUBO OROTRAQUEAL eleição, desde que não haja
1. Sangramento profuso de via aérea
contraindicações.
2. Trauma maxilofacial extenso
3. Edema de glote
• Fratura de laringe
CRICOTIREOIDOSTOMIA Indicada sempre que
• Crianças com idade inferior a 12 anos
houver contraindicações
ou impossibilidade de
intubação orotraqueal.
CAI NA PROVA
(REVALIDA – INEP – 2012) Um homem de 25 anos de idade, vítima de atropelamento, foi admitido na Emergência com
quadro de insuficiência respiratória aguda, agitação psicomotora e cianose central e periférica. Apresenta várias lesões
de face, com afundamento maxilar, perda dos dentes e sangramento local importante. Qual o procedimento imediato
para estabelecer uma via aérea para esse paciente?
A) Intubação orotraqueal.
B) Intubação nasotraqueal.
C) Traqueostomia.
D) Cricotireoidotomia.
E) Ventilação não invasiva com CPAP e máscara.
COMENTÁRIO:
Revalidando, por favor, não se esqueça das principais indicações de via aérea cirúrgica no trauma!
• Sangramento profuso de via aérea.
• Trauma maxilofacial extenso.
• Edema de glote.
• Distorções da anatomia cervical.
• Qualquer outra condição que impossibilite a visualização e/ou a transposição da laringe.
Logo, já que o paciente apresenta sangramento profuso de via aérea e trauma maxilofacial extenso, a via aérea
definitiva deverá ser cirúrgica.
A cricotireoidostomia cirúrgica é a via aérea cirúrgica de escolha no trauma. Exceção a essa regra são pacientes
menores do que 12 anos ou com fratura de laringe.
Portanto, correta a alternativa D.
Gabarito: Alternativa D.
Deve ficar claro que a cricotireoidostomia por segundo, por meio da oclusão digital da
punção (oxigenação traqueal transcutânea) é uma saída livre do conector em “Y”. Logo em
via aérea provisória e deve ser mantida apenas até a seguida, a saída do conector deve ser
obtenção de uma via aérea definitiva. Logo a seguir, liberada por 4 segundos, permitindo, assim,
listamos o passo a passo para a realização desse a saída do CO2.
procedimento. Independentemente da aplicação adequada
1. A punção é realizada na membrana dessa técnica, sempre há acúmulo de CO2. Justamente
cricotireóidea. por isso, a cricotireoidostomia por punção deve ter
2. Para tal, podemos utilizar uma cânula uma aplicação breve, até a obtenção de uma via aérea
plástica sobre agulha (Jelco→) 14 G para definitiva.
adultos ou 16-18 G em crianças. Contraindicações: não são descritas
3. Após a punção, removemos a agulha, mas contraindicações à cricotireoidostomia por punção.
mantemos a cânula plástica no local. Atenção para o risco de barotrauma,
4. A cânula deve ser ligada a um conector em especialmente em casos de obstrução supraglótica
“T” ou em “Y” e uma das extremidades do completa. Fique atento, também, à retenção de CO2
conector é ligada à rede de oxigênio, com (hipercapnia), que pode acontecer de forma muito
fluxo de 15 litros por minutos (50-60 PSI). rápida se os ciclos de oxigenação não forem executados
5. Os ciclos de oxigenação são feitos por 1 adequadamente.
CAPÍTULO
3.0 POCUS: Point-of-Care Ultrasonography
Em 2020, a prova do Revalida INEP cobrou esse in Trauma) é um exame ultrassonográfico
tema e pegou muita gente de surpresa. Depois dessa realizado na sala de trauma, com o
prova, recebi vários pedidos para que falássemos sobre objetivo de identificar sangramentos
point-of-care ultrasonography (POCUS) em algum de abdominais e hemopericárdio. Na última
nossos livros. Pois bem, cá estamos nós. Vamos falar de década, esse exame substituiu, quase
POCUS. que completamente, o lavado peritoneal
Inicialmente, o que é o POCUS? diagnóstico (LPD).
POCUS ou ultrassonografia de “Point-of-care” 2. E-FAST: o e-FAST (Extended Focused
é o exame ultrassonográfico em tempo real, feito à Assessment with Sonography for Trauma)
beira-leito, geralmente pelo próprio profissional que nada mais é do que a aplicação estendida
está realizando o atendimento da vítima. O uso desse do FAST. Ou seja, além de esse exame ser
recurso tem uma série de aplicações, como a realização aplicável à identificação de sangramentos
de procedimentos guiados e a avaliação diagnóstica em abdominais e de hemopericárdio, ele
tempo real. também se destina à avaliação da cavidade
Agora que sabemos o que é o POCUS, a próxima torácica, sendo capaz de diagnosticar
pergunta é: quais são as aplicações desse recurso em condições como o hemotórax e o
uma vítima de trauma? pneumotórax.
A ultrassonografia no cenário de trauma não Agora que relembramos esses conceitos, vamos
é um conceito novo. Afinal, há muitos anos temos a falar do POCUS propriamente dito.
popularização do FAST e do FAST estendido (e-FAST) nas O POCUS, no trauma, pode ser visto como a
salas de emergências pelo mundo afora. ampliação do e-FAST. Afinal, seu leque de avaliações
Vamos relembrar o que são cada um desses diagnósticas é maior. Além disso, a técnica também
exames: prevê o uso do ultrassom para auxiliar em procedimentos
1. FAST: o FAST (Focused Abdominal Sonography invasivos.
Para que você não fique perdido, vou listar a diastólico final do ventrículo direito, etc.).
seguir todas as aplicações do POCUS em um cenário de • Guiar passagem de sonda nasogástrica e
trauma. São elas: sonda vesical.
A – Vias aéreas: D – Avaliação neurológica
• Checar o posicionamento do tubo • Aferição indireta da pressão intracraniana
endotraqueal. pelo diâmetro do nervo ótico.
• Identificação de estruturas anatômicas • Diagnóstico de fraturas cranianas.
do pescoço (membrana cricotireóidea • Diagnóstico de hemorragia intracraniana
e anéis traqueais) em casos em que há em crianças com idade inferior a 6 anos.
necessidade de via aérea cirúrgica. E – Exposição e controle de hipotermia
B – Ventilação • Diagnóstico de fratura de ossos longos.
• Diagnóstico de hemotórax, pneumotórax • Avaliação do fluxo vascular em áreas de
e de áreas de atelectasia. lesão.
• Guiar toracocentese (questionável em • Extração de corpos estranhos.
um cenário de trauma). Como você pôde ver, o POCUS é uma
• Confirmar posicionamento intratorácico ferramenta muito útil e que veio para ficar. Entretanto,
do dreno durante sua passagem. tenha cuidado! Muitas das suas aplicações no trauma
C – Circulação não são reconhecidas pelo manual do ATLS.
• Identificar sangramento no interior da Além disso, devemos nos lembrar de uma
cavidade abdominal. premissa básica no trauma: se o método for retardar
• Identificar hemopericárdio e a transferência ou o tratamento definitivo, ele deve
tamponamento cardíaco. ser evitado ou postergado. Nesse contexto, devemos
• Guiar pericardiocentese. selecionar muito bem os pacientes em que vamos fazer
• Guiar passagem de cateter central. o “tudo que dá” na ultrassonografia.
• Avaliação do estado hemodinâmico Veja, a seguir, a famigerada questão do Revalida
(diâmetro da veia cava inferior e diâmetro INEP 2020.
CAI NA PROVA
(REVALIDA – INEP – 2020) O ultrassom no local de atendimento – Point of Care UltraSound (PoCUS) – é um exame
de ultrassonografia feito com base em sintomas, em procedimentos realizados na beira do leito ou onde quer que os
pacientes estejam sendo tratados. Atualmente, o uso de PoCUS por não radiologistas está sendo cada vez mais adotado
no atendimento de emergência para auxiliar os profissionais de saúde no diagnóstico ou para descartar potencial risco
de vida ou outras condições prejudiciais, bem como para a segurança da realização de procedimentos.
Considere a seguinte sequência de atendimento realizada a um paciente traumatizado.
Um homem com 30 anos de idade, vítima de acidente motociclístico, que é atendido por equipe de suporte avançado
do SAMU, queixa-se de dor em hemitórax direito e falta de ar e está com os seguintes sinais vitais: PA = 100 x 60 mmHg,
FR = 26 irpm, FC = 110 bpm, saturação de O2 = 91 % e Glasgow = 11. Apresenta também ferimento cortocontuso de
4 cm na coxa esquerda, sem sangramento ativo, de onde é retirado um pedaço de vidro. A Central de Regulação de
Urgência orienta o transporte do paciente para hospital secundário. Na admissão hospitalar, há rebaixamento do nível
de consciência (Glasgow = 8), sendo o paciente intubado. Devido à ausência de murmúrio vesicular e hipertimpanismo
do hemitórax direito, é realizada a punção no 5.o espaço intercostal na linha axilar média com saída de ar e subsequente
drenagem pleural no mesmo local, normalizando-se a frequência respiratória com saturação de O2 de 95 %. A reposição
volêmica de 1.000 mL de ringer lactato normaliza os parâmetros hemodinâmicos (PA = 120 x 70 mmHg e FC = 98 bpm).
Foram realizadas as sondagens nasogástrica e vesical devido à ausência de contraindicações. Ao exame físico, nota-se
uma fratura fechada de tíbia e fíbula do lado direito. A tomografia computadorizada de crânio apresenta-se normal
e a de abdome mostra lesão hepática grau II (pequena laceração em lobo esquerdo) com moderada quantidade de
líquido livre na cavidade peritoneal. Realiza-se, então, a punção de veia jugular interna direita do paciente antes de sua
transferência para internação na Unidade de Terapia Intensiva.
Com base nas informações e na sequência de avaliação primária ao traumatizado, explique como o PoCUS poderia
ter sido utilizado em cada uma das etapas abaixo (ABCDE), tanto para auxílio diagnóstico quanto para segurança nos
procedimentos.
COMENTÁRIO:
Agora que você já conhece algumas coisas sobre POCUS, acho que nem preciso comentar essa questão.
Essa pergunta dissertativa de 2020 causou um grande alvoroço, e pouquíssimas pessoas acertaram. Se você leu
todo o tópico sobre POCUS logo acima, verá que a resposta para todos os itens está contida nele.
POCUS não será mais um problema para você na prova do Revalida!
https://estr.at/3fz5
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