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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU

FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA - FEELT


Qualidade da Energia Elétrica - QEE
Prof. Ivan Nunes Santos

Apostila de
Qualidade da
Energia

Uberlândia

2015
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Qualidade da Energia Elétrica - QEE
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SUMÁRIO GERAL

Capítulo Conteúdo Página

I Considerações Gerais 03

II Terminologia e Definições 11

III Transitórios 27

IV Variações de Tensão de Longa Duração 50

V Distorções da Forma de Onda 70

VI Flutuações de Tensão 138

VII Variações de Tensão de Curta Duração 156

VIII Desequilíbrios de Tensões 196

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I. CONSIDERAÇÕES GERAIS:

1. Conceituação

O termo “Qualidade da Energia Elétrica” está relacionado com qualquer


desvio que possa ocorrer na magnitude, forma de onda ou frequência da tensão
e/ou corrente elétrica.

Esta designação também se aplica às interrupções de natureza


permanente ou transitória que afetam o desempenho do sistema de transmissão
ou distribuição e a utilização da energia elétrica

As origens dos problemas de qualidade podem levar a conflitos de


interesse, pois nem sempre é simples identificar o problema e muito menos o(s)
responsável(eis) pelo mesmo. Os gráficos abaixo apresentam o ponto de vista
dos consumidos e das concessionárias a respeito da origem dos problemas de
QEE (pesquisa realizada por Georgia Power Company).

Ponto de Vista do Consumidor

Consumidor
Outros
Adjacente
3%
8%
Consumidor Afetado
12%

Causas Naturais
Concessionária
60%
17%

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Ponto de Vista do Concessionário

Consumidor
Outros Adjacente
0% 8%

Consumidor Afetado
25%

Causas Naturais Concessionária


66% 1%

Portanto, faz-se necessário mecanismos adequados, práticos e confiáveis


para dirimir possíveis conflitos no que tange a responsabilidade dos agentes
envolvidos numa eventual perda de qualidade da energia.

Obs.: o ponto de acoplamento comum entre o agente supridor (concessionária) e


um agente consumidor (residencial, comercial ou industrial) ou um agente de
geração distribuída é comumente designado por PAC.

2. Qualidade da tensão versus qualidade da energia

O termo mais comum para descrever a temática desta disciplina é


Qualidade da Energia Elétrica, porém, em verdade, a qualidade da tensão é que
de fato deve ser considerada na maioria dos casos, pois sabe-se que:

𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 = ∫ 𝑉 𝐼 𝑑𝑡

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sendo o tempo (t) uma variável não controlável e a corrente (I) uma variável
dependente da carga (do carregamento), restando apenas a tensão (V) como
variável de controle de qualidade.

Portanto, a qualidade da energia implica, de fato, em uma boa qualidade


da tensão, a qual deverá ser senoidal e de frequência e magnitude constantes.

Vale, todavia, ressaltar que a corrente elétrica possui, como é de


conhecimento de todos, uma direta relação com a tensão, o que muitas vezes,
torna-se imprescindível a investigação da mesma (corrente) no sentido de
possibilitar a melhoria dos indicadores de QEE.

3. Motivação

Nota-se, na atualidade, que há um considerável aumento da preocupação


por parte de consumidores, concessionárias e órgãos reguladores, em assuntos
relacionados à Qualidade do Produto energia elétrica. Tal aumento de
preocupação se justifica principal devido às seguintes razões:

 Elevação do uso de equipamentos de controles micro-processados


e dispositivos baseados em eletrônica de potência, os quais são
mais sensíveis à perda da qualidade do suprimento.
Paradoxalmente, estes dispositivos são potenciais poluidores da
energia.
 Aumento da importância de medidas voltadas à racionalização e
conservação energética, as quais são norteadas por uma alta
eficiência, controle de velocidades de motores e chaveamento de
bancos de capacitores para correção de fator de potência e
consequente redução de perdas, entre outros.
 Os consumidores se mostram mais exigentes e conhecedores de
seus direitos e, como tais, exigindo das concessionárias maiores

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níveis de qualidade e confiabilidade do fornecimento de energia


elétrica.
 Crescimento de interconexão em rede dos processos industriais, o
que faz com que haja uma menor tolerância à falhas em
componentes devido à perda da qualidade da energia ou outro,
pois as consequências, assim sendo, poderão ser mais danosas.

Além das supracitadas razões para o aumento da preocupação com a


temática da QEE, podemos ainda citar, nos dias atuais, outras que se somam:

 Revisão e/ou estabelecimento de normas nacionais e


internacionais mais rigorosas e padronizadas, as quais definem,
traçam limites e penalizam quem contribui para o deterioramento
da QEE.
 Aumento substancial da inserção de fontes renováveis de energia
baseadas em vento (geração eólica) e energia solar (geração
fotovoltaica) na rede de distribuição - geração distribuída (GD).
Tais gerações de energia possuem características comuns
atreladas à fortes variações de potência gerada ao longo do dia e
também possuem controle embasados em dispositivos não-
lineares de eletrônica de potência.

Uma última motivação, e não menos importante, trata-se do fator


econômico. Há inúmeras implicações de ordem econômica para os
supridores/concessionárias e também para os consumidores residenciais,
comerciais e industriais quando da deteriorização da Qualidade do Suprimento
elétrico. Neste sentido, a figura a seguir apresenta o resultado de uma pesquisa
em que se é estimada o custo provocado pela interrupção do fornecimento de
eletricidade durante 1 minuto em diferentes setores de nossa sociedade.

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600

500

400

300

200

100
A B C
D E F
G H I
J K L
M N 0
O P Q
R S

Máximo
Médio
T U
V Mínimo

Onde:
A. Saúde
B. Gás
C. Papel
D. Órgãos Públicos
E. Transportadoras
F. Comércio Atacadista
G. Madeireiras
H. Químicas
I. Plásticos/Borrachas
J. Extração de Petróleo
K. Produtos Alimentícios
L. Computadores
M. Engenharia
N. Equipamentos de Transporte
O. Órgão de Financiamento
P. Centros de Negócios
Q. Mineração
R. Equipamentos Eletrônicos
S. Equipamentos de Instrumentação
T. Refinarias de Petróleo
U. Siderúrgicas
V. Têxtil

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Exemplo de prática comum adotada em programas de eficiência


energética e que pode comprometer a QEE:

Gráfico de crescimento de cargas eletrônicas nos EUA até o ano 2000.

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Exemplos de curvas de sensibilidade e suportabilidade de pequenas


cargas (microcomputadores) à variação da tensão:

Obs. 1: a curva acima apresentada é amplamente conhecida por curva CBEMA


(Computer Business Equipment Manufacturers Association). Muito embora, tal
estudo tenha focado em microcomputadores, a mesma tornou-se referência para
diversos outros dispositivos que possuem lógica de funcionamento a partir de
fontes chaveadas, tais como: CLP's, notebooks, televisores de tela plana, etc.

Obs. 2: os componentes elétricos (dispositivos) de uma forma geral podem estar


sujeitos a dois tipos de situações que levam à diminuição de sua vida útil e que
podem, até mesmo, provocarem à queima dos mesmo, a saber: o primeiro
fenômeno é conhecido por estresse térmico (devido sobrecorrentes /
sobrecargas) e outro tido como estresse dielétrico (gerado por sobretensões).

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4. Metodologia para os estudos de qualidade

A metodologia para os estudos dos diversos problemas relacionados à


Qualidade da Energia Elétrica segue o seguinte fluxograma:

Tal fluxograma deve ser tido como uma referência facilitadora para a
abordagem de processos relacionados à perda da qualidade da energia.

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II. TERMINOLOGIA E DEFINIÇÕES:

1. Organizações e instituições relacionadas com o tema

Há em âmbito nacional e internacional diferentes instituições e


organizações voltadas à discussão e padronização dos distintos aspectos
atrelados à perda da qualidade da energia elétrica. Tal preocupação visa uma
uniformização das categorias e da classificação dos diferentes fenômenos
estudados em QEE, estabelecendo-se, assim, uma terminologia comum.

As principais organizações e instituições responsáveis pela discussão,


criação de protocolos de aferição, estabelecimento de procedimentos e valores
de referência dos indicadores de qualidade da energia elétrica, são, em âmbito
internacional, as que segue:

 IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers


(www.ieee.org), responsável pela base de dados IEEEXplore
(ieeexplore.ieee.org);
 IEC – International Electrotechnical Commission (www.iec.org);
 CEN – Comité Européen de Normalisation (European Committee
for Standardization) – responsável pela EN's (European
Standards) (www.cen.eu);
 CIGRE – Grand Réseaux Électriques a Haute Tension (em inglês,
International Council on Large High-Voltage Electric Systems)
(www.cigre.org);
 ANSI – American National Standards Institute (www.ansi.org).

Em âmbito nacional há algumas poucas discussões, por parte de


organizações não-governamentais, de normatização vinculadas ao
estabelecimento de padrões (sobretudo para equipamentos e protocolos de
medição) elencadas por instituições como:

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 ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnica


(www.abnt.org.br);
 INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia (www.inmetro.gov.br).

Todavia, as regulamentações vinculadas ao tema são, via de regra,


estabelecidas por aqueles organismos tidos como reguladores do sistema
elétrico brasileiro, a saber:

 ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (www.aneel.gov.br),


que é uma agência reguladora vinculada diretamente ao MME
(Ministério de Minas e Energia);
 ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico (www.ons.org.br) –
operador do chamado de SIN (Sistema Interligado Nacional).

No que tange à QEE no Brasil, podemos também citar a recém fundada


(2005) Sociedade Brasileira de Qualidade da Energia Elétrica (SBQEE) –
www.sbqee.org.br . A qual tem procurado contribuir com as discussões
pertinentes à temática da QEE em âmbito nacional.

2. Categorias e características dos fenômenos

Por meio de um esforço comum de diferentes organismos internacionais


(IEEE, IEC, CIGRE, ANSI, etc) foi estabelecida uma categorização dos fenômenos
eletromagnéticos para fins de utilização de toda a comunidade vinculada à
temática da QEE. Tais fenômenos, conforme serão apresentados e descritos,
podem ser classificados como:

 Fenômenos de regime permanente (steady state): são aqueles que


repetem ao longo do tempo. Os seguintes atributos são
empregados em tais fenômenos:
o Amplitude

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o Frequência
o Espectro Harmônico
o Modulação
o Impedância da Fonte
o Área e Profundidade de Notch (entalhes), etc
 Fenômenos de regime transitório: são aqueles que não repetem ao
longo do tempo. Os seguintes atributos podem ser requeridos para
tais fenômenos:
o Taxa de Crescimento (ou Variação)
o Amplitude
o Duração
o Espectro Harmônico
o Frequência (por exemplo, do amortecimento)
o Taxa de Ocorrência
o Energia Potencial
o Impedância da Fonte, etc.

Uma vez conhecido o regime do fenômeno e os principais atributos do


mesmo, torna-se mais factível a investigação das possíveis causas desta perda de
qualidade, assim como, pode-se também estabelecer em que categoria o mesmo
se encontra.

A tabela a seguir, apresenta a categorização e também uma breve


descrição das características dos distintos fenômenos de QEE em função de
alguns de seus atributos.

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA TABELA: transients = transitórios; short-duration


variations = variações de tensão de curta duração; sag (dip) = afundamentos;
swell = elevações; long-duration variations = variações de tensão de longa
duração; undervoltages = sub-tensões; overvoltages = sobretensões; unbalance =
desbalanço de tensões e/ou correntes trifásicas; waveform distortions =
distorções da forma de onda; DC offset = desnível de tensão de CC; noise =

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ruídos; harmonic = harmônicos; interharmonics = inter-harmônicos; notching


(não tem tradução deste fenômeno); voltage fluctuations = flutuação de tensão;
broadband = banda larga; rise = rampa, subida.

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Exemplos gráficos das principais variações de tensão e corrente causadoras da


perda da qualidade da energia elétrica, sem, é claro, neste momento, entrar no
mérito do detalhamento dos fenômenos (definição, causa, efeitos, processos
mitigatórios, etc.):

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SLG - single line-ground

SLG - single line-ground

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Graph0

100.0

80.0

60.0

Fundamental
40.0

20.0
(V)

0.0

-20.0

-40.0

-60.0

-80.0

-100.0
0.0 0.001 0.002 0.003 0.004 0.005 0.006 0.007 0.008 0.009 0.01 0.011 0.012 0.013 0.014 0.015 0.016 0.017
t(s)

Harmônicos – Exemplo de decomposição por Série de Fourier

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ADS - adjustable speed drive

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Noise (ruídos).

Daily Frequency Variations - Frequency Minimum, Maximum, and Average.

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Síntese gráfica das principais variações da tensão:

Graph0

150.0

SWELL
Normal Normal Normal Normal
100.0 SAG

50.0

Interrupção
(V)

0.0

-50.0

-100.0

-150.0
0.0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2 0.22 0.24 0.26 0.28 0.3 0.32 0.34 0.36
t(s)

Graph0

150.0

Surtos
Normal Harmônicos Normal Normal
100.0

50.0
(V)

0.0

-50.0

-100.0

-150.0
0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 0.4 0.42 0.44 0.46 0.48 0.5 0.52 0.54 0.56
t(s)

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3. Síntese dos indicadores de qualidade do serviço

Atualmente, no Brasil, as distribuidoras são avaliadas em diversos


aspectos no tocante ao fornecimento de energia elétrica. No que tange à QEE,
esta pode ser bifurcada em qualidade do serviço (ou qualidade do fornecimento,
ou ainda continuidade do fornecimento) e qualidade do produto.

A qualidade dos serviços prestados compreende a avaliação das


interrupções no fornecimento de energia elétrica.

Neste ínterim, destacam-se no aspecto da qualidade do serviço os


indicadores de continuidade coletivos, DEC e FEC, e os indicadores de
continuidade individuais DIC, FIC e DMIC.

Os indicadores de qualidade do serviço deverão ser calculados para


períodos de apuração mensais, trimestrais e anuais. Os mesmos estão, conforme
já afirmado, intrinsecamente relacionados com o não fornecimento de energia
elétrica, ou seja, com eventos de interrupção do fornecimento. E, neste contexto,
vale ressaltar que os indicadores são apurados apenas para períodos de longa
duração, ou seja, para eventos de interrupção com duração maior ou igual a 3
minutos (este período é definido pela legislação brasileira e é diferente daquele
estabelecido em documentos internacionais: 1 minuto).

Indicadores de continuidade individuais:

 DIC – Duração de Interrupção Individual por Unidade


Consumidora ou por Ponto de Conexão, utilizando a seguinte
fórmula:
𝑛

𝐷𝐼𝐶 = ∑ 𝑡(𝑖)
𝑖=1

 FIC – Frequência de Interrupção Individual por Unidade


Consumidora ou por Ponto de Conexão, utilizando a seguinte
fórmula:

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𝐹𝐼𝐶 = 𝑛
 DMIC – Duração Máxima de Interrupção Contínua por Unidade
Consumidora ou por Ponto de Conexão, utilizando a seguinte
fórmula:
𝐷𝑀𝐼𝐶 = 𝑡(𝑖)𝑚𝑎𝑥

Obs: DIC e DMIC são expressos em horas e centésimos de hora; FIC é expressa
em número de interrupções; n é o número de interrupções no período apurado;
t(i) é o tempo de duração da interrupção.

Vale recordar que interrupção de tensão é definida por norma brasileira


como sendo toda e qualquer redução da magnitude da tensão para valores igual
ou abaixo de 70% do valor nominal. Este limite é válido apenas para
interrupções com duração acima de 3 minutos.

Indicadores de continuidade de conjunto de unidades consumidoras


(indicadores coletivos):

 DEC – Duração Equivalente de Interrupção por Unidade


Consumidora, utilizando a seguinte fórmula:
∑𝐶𝑐
𝑖=1 𝐷𝐼𝐶(𝑖)
𝐷𝐸𝐶 =
𝐶𝑐
 FEC – Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade
Consumidora, utilizando a seguinte formulação:
∑𝐶𝑐
𝑖=1 𝐹𝐼𝐶(𝑖)
𝐹𝐸𝐶 =
𝐶𝑐

Obs: DEC é expressa em horas e centésimos de hora; FEC é expressa em número


de interrupções e centésimos do número de interrupções; Cc é o número total de
unidades consumidoras faturadas do conjunto no período de apuração e i é o
índice verificado em cada unidade consumidora da área de cálculo (geralmente
relacionada com os ramais de energização).

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4. Síntese dos indicadores de qualidade do produto

Muito embora os indicadores de qualidade do serviço tenham sido aqui


considerados, a presente disciplina contemplará um detalhamento dos
chamados indicadores de qualidade do produto. Pois é sabido, que atualmente os
indicadores de continuidade do serviço são abordados de forma mais apropriada
na disciplina Distribuição de Energia.

Portanto, uma vez assegurado o fornecimento da energia elétrica, resta


verificar e analisar a qualidade da energia fornecida, ou seja, a qualidade do
produto. Neste contexto, os seguintes indicadores de qualidade do produto são
considerados no âmbito da QEE:

 Transitórios Eletromagnéticos:
o Impulsivos
o Oscilatórios
 Variações de Tensão de Curta Duração – VTCD’s:
o Interrupções
o Afundamentos (Sag)
o Elevações (Swell)
 Variações de Tensão de Longa Duração:
o Sub-tensões
o Sobre-tensões
 Desequilíbrios de Tensão
 Harmônicos
 Flutuação de Tensão
 Variação da Frequência

Todavia, há ainda a se considerar alguns indicadores complementares de


qualidade do produto:

 Interharmônicos
 Nível DC (DC offset)

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 Nothing
 Ruídos

Estes últimos fenômenos, por não estarem contemplados em normas e


resoluções nacionais, não serão objetos de aprofundamento neste curso.

Vale ainda salientar que o detalhamento de cada indicador de qualidade


do produto dar-se-á por meio da seguinte estrutura:

1. Conceituação e definição do indicador;


2. Causas (fontes de geração de distúrbio, etc);
3. Efeitos (ou consequências danosas);
4. Procedimentos de aferição e normas regulamentadoras;
5. Estratégias de mitigação.

5. Normas e regulamentações vigentes

O principal organismo regulador do sistema elétrico brasileiro, conforme


já afirmado, é a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). A ANEEL é uma
autarquia sob regime especial de Agência Reguladora, vinculada ao Ministério de
Minas e Energia (MME), com sede e foro no Distrito Federal, com a finalidade de
regular e fiscalizar a produção, transmissão e comercialização de energia
elétrica, em conformidade com as Políticas e Diretrizes do Governo Federal
(www.aneel.gov.br).

Recentemente, a ANEEL elaborou os Procedimentos de Distribuição


(PRODIST), os quais normatizam e padronizam as atividade técnicas
relacionadas ao funcionamento e desempenho dos sistemas de distribuição de
energia elétrica. O PRODIST traz um módulo especialmente dedicado à QEE, a
saber, Módulo 8 (Qualidade da Energia Elétrica). Há outros módulos também
destinados à assuntos relacionados à esta temática, tais como: Módulo 9
(Ressarcimento de Danos Elétricos), Módulo 3 (Acesso ao Sistema de

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Distribuição), assim como, uma Cartilha de Acesso ao Sistema de Distribuição.


Tais procedimentos encontra-se disponível no site
http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=82.

Complementarmente, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)


traz, em seu Procedimento de Rede, o Submódulo 2.8 destinados à QEE. Tal
documento é aplicável à Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN). Este
submódulo tem por título "Gerenciamento dos Indicadores de Desempenho da
Rede Básica e dos Barramentos dos Transformadores de Fronteira e de seus
Componentes". É importante mencionar que o ONS foi o responsável pela
elaboração do mesmo, contudo quem o homologou como resolução foi a ANEEL,
a qual tem esta incumbência funcional. O mesmo pode ser encontrado no site
http://www.ons.org.br/procedimentos/index.aspx.

Ambos documentos serão focos de análises e estudos ao longo do curso


hora pautado.

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III. TRANSITÓRIOS:

1. Conceitos e definições

O termo transitórios tem sido usado em análise das variações do sistemas


elétricos de potência, denotando um evento não desejável e de natureza
momentânea.

Os transitórios, também chamado de transitórios eletromagnéticos,


podem ser de duas naturezas, a saber:

 transitórios impulsivos;
 transitórios oscilatórios.

Os transitórios impulsivos são repentinos, não há mudança de


frequências no regime permanente da tensão e/ou corrente, são unidirecionais
em uma polaridade.

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Os transitórios impulsivos, via de regra, são caracterizados por sua rampa


de subida (tempo e magnitude) e seu tempo de decaimento. Por exemplo,
1,2𝜇𝑠 × 50𝜇𝑠 2000𝑣𝑜𝑙𝑡𝑠. Isto significa que a tensão é elevada de 0V para 2000V
em 1,2𝜇𝑠 e, após 50𝜇𝑠 (a partir do instante de pico), a mesma atinge um valor de
50% deste pico, este é chamado tempo de calda . Veja o exemplo a seguir:
30𝜇𝑠 × 60𝜇𝑠 54𝑘𝑉.

Já os transitórios oscilatórios são também repentinos, não alteram a


frequência de regime permanente da tensão e/ou corrente, inclui valores
positivos e negativos de polaridade, estabelecendo-se assim uma frequência de
oscilação variável.

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Essa oscilação consiste de uma tensão ou corrente que tem valores


instantâneos de polarização alternando rapidamente. Através da observação da
figura acima podemos destacar três momentos distintos de oscilação:

 Oscilação transitória de alta frequência: acima de 500 kHz, com


duração comum de poucos milissegundos;
 Oscilação transitória de média frequência: entre 5 kHz e 500 kHz,
com duração típica de até 10ms;
 Oscilação transitória de baixa frequência: abaixo de 5 kHz, duração
entre 0,3ms a 50ms.

Em geral o pico da magnitude deste tipo de transitório tem valores dentro


da faixa entre 1,3pu e 1,5pu, podendo chegar a um valor máximo de 2,0pu. Veja
figura abaixo.

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2. Origens

Existem duas fontes centrais de transitórios elétricos no sistema de


potência: chaveamento de bancos de capacitores e descargas atmosféricas, os
quais serão descritos na sequência, além de outras de menor importância.

a. Chaveamento de Bancos de Capacitores

O chaveamento de bancos de capacitores é o mais comum evento gerador


de transientes no sistema elétrico das concessionárias. Estes capacitores são
usados para prover potências reativas (em unidades de kVAr) para a correção do
fator de potência, o que, por sua vez, reduz as perdas e garante bons níveis de
tensão para o sistema elétrico.

Tem-se nas figuras abaixo um típico arranjo e, respectivamente, uma


típica forma de onda com transitório, a qual está vinculada ao fechamento do
banco de capacitores em questão.

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Vale ainda ressaltar que o chaveamento de banco de capacitores pode ser


simples ou, ainda, em estágios. O que irá definir a magnitude da tensão
transitória será, entre outros, as impedâncias do ponto de acoplamento do
banco, a posição do chaveamento frente à onda de tensão (chaveamentos em 0°

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geram menores transitórios, chaveamentos em 90° geram elevados transitórios)


e também a potência do banco a ser chaveada.

b. Descargas Atmosféricas

As descargas atmosféricas são um importante potencial de transitórios


impulsivos na rede elétrica. Não será aqui avaliado os aspectos físico do
fenômeno em si, mas tão somente seus efeitos no sistema de potência.

Na figura anterior, tem-se ilustrado algumas típicas regiões atingidas por


descargas, resultando em correntes de elevadas magnitudes fluindo pelo sistema
elétrico. Nesta figura lightning strike é o surto da descarga atmosférica e arrester
significa para-raios.

As descargas de uma forma geral podem incidirem diretamente na rede


de energia elétrica (exemplo: primário ou secundário lado do transformador) ou
ainda serem indiretas e, neste caso, induzirem surto de corrente/tensão através

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da indução eletromagnética e/ou pelos circuitos de aterramento (aterramentos


do lado primário ou secundário dos transformadores de força).

Uma corrente devido a surto de descarga atmosférica poderá fluir no


circuito elétrico através dos acoplamentos capacitivos dos transformadores. A
forma de onda será atenuada do primário para o secundário, contudo, mesmo
assim, este efeito de acoplamento poderá gerar tensões no secundário do
transformador muito mais elevadas que as suportadas por estes enrolamentos.
Todavia, o grau de acoplamento dependerá de variados fatores construtivos do
transformador.

Algumas vezes, apesar da descarga ser um transitório impulsivo,


transitórios oscilatórios poderão ser observados ao passar para o secundário do
transformador (quando o evento for incidente no primário). Isto é devido não às
capacitâncias de acoplamentos, mas sim a condução dos surtos via malhas
comuns de aterramento (sistema de aterramento) entre primário e secundário
do transformador. Veja figura na sequência.

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Devido às questões impostas, recentemente, tem-se mudado a concepção


a respeito das descargas atmosféricas presentes na rede de transmissão e
distribuição. Estes surtos podem causar mais correntes de fuga nas cadeias de
isolamento (flashover) e, consequentemente, danos às estruturas, do que
previamente era-se esperado por meio de estudos convencionais.

Outro problema encontrado na prática é que a duração de algumas


frentes de onda de transitórios impulsivos tem-se mostrado com duração de
tempo mais longas que aquelas reportadas em pesquisas tradicionais vinculadas
à temática. Isto poderá ocasionar falhas mais graves e até mesmo ineficiência ou,
ainda, danos do sistema de proteção.

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c. Ferro-ressonâncias

O efeito da ferro-ressonância refere-se a um tipo especial de ressonância


que envolve capacitâncias e a indutâncias do núcleo de ferro dos
transformadores. A mais comum condição para isto acontecer é quando a
impedância de magnetização do transformador é colocada em série com um
sistema capacitivo. Isto ocorre quando é aberta uma fase da entrada do
transformador. Em um ambiente controlado, este efeito pode ser usado em
diferentes aplicações, contudo neste caso descrito, tal efeito pode tornar-se fonte
de transitórios elétricos oscilatórios.

Tem-se, na figura abaixo, o mais comum evento causador de ferro-


ressonância: chaveamento manual de uma ou duas fases de um transformador
trifásico sem cargas conectadas em seu secundário.

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Tem-se a seguir o circuito equivalente ferro-ressonante.

Os gráficos a seguir mostram exemplos de comportamento da tensão


quando da ocorrência deste fenômeno.

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O efeito ferro-ressonante pode provocar, entre outros:

 ruído audível;
 sobreaquecimentos;
 elevadíssimas tensões e surgimento de falhas em para-raios;
 flickers (cintilações luminosas).

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d. Outras Origens de Transitórios

Outras origens de transitórios também verificadas são: energizações de


linhas de transmissão, energizações de alimentadores em sistemas de
distribuição, intempestivos disparos de ADS (adjustable-speed-drive),
desernegizações de cargas indutivas, energização de transformadores de
potência próximos a banco de capacitores, entre outros ainda menos comuns.

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Obs: apesar da corrente de inrush estabelecer uma sobrecorrente


transitória, durante cerca de 100ms (valor típico), ela não é causadora de
elevações de tensão, que configurem transitórios eletromagnéticos impulsivos
ou mesmo oscilatórios.

Desenergização de circuitos (devido à faltas) possibilitando ressonâncias transitórias.

3. Efeitos danosos

Os principais efeitos dos transitórios eletromagnéticos estão no fato de os


mesmos serem os principais causadores de estresse dielétrico nos equipamento
elétricos do sistema supridor e também na rede do consumidor final, seja esta
industrial, comercial ou residencial.

Portanto, o principal efeito negativo deste tipo de distúrbio está


relacionado ao estresse dielétrico que o mesmo pode gerar nos equipamentos
dos consumidores finais, devido, evidentemente, sua elevada magnitude de
tensão. Tal efeito será mais ou menos grave dependendo da configuração do
sistema, do momento em que foi chaveado o banco de capacitores e também da
sensibilidade das cargas nele conectadas. Este assunto será melhor explorado
quando da abordagem do último subitem deste capítulo (ressarcimento).

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De qualquer forma, na sequência tem-se as duas principais curvas tidas


como curvas de suportabilidade e sensibilidade de equipamentos eletrônicos:
curva ITIC e curva CBEMA. Estas curvas serão melhor exploradas quando da
explanação sobre VTCD’s. Todavia, a curva ITIC em verdade é uma curva
destinada aos fabricantes, enquanto a CBEMA é advinda de testes laboratoriais.
Ambas pensadas para equipamentos microcomputadores.

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Exemplo de efeito nocivo de transitórios no equipamento inversor (ADS):

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No último item desta secção (Ressarcimento por Danos Elétricos) será


melhor explorado alguns efeitos diretos dos transitórios no sistema elétrico.

4. Princípios da proteção

Os princípios fundamentais de proteção das cargas e equipamentos


contra sobretensões transitórias são:

 limitar a tensão nos terminais dos dispositivos;


 desviar os surtos de corrente da carga;
 bloquear o surto de corrente de se estabelecer pela carga;
 conectar as referências de terra conjuntamente no equipamento;
 reduzir ou prevenir a circulação de surtos de corrente entre terras
ou sistemas de aterramentos;
 criar filtros passa-baixa utilizando princípios de limitação e
bloqueio.

A figura a seguir ilustra estes princípios.

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A principal função dos supressores de surto e para-raios são de limitar a


tensão que possa se estabelecer entre dois pontos distintos do circuito.

5. Dispositivos de proteção

Tendo em vista a filosofia de proteção supra apresentada, haverá


inúmeras possibilidades de equipamento a serem empregados para proteção
contra as sobretensões, a saber:

 para-raios de sobretensão;
 supressores de transitórios de tensão (DPS – Dispositivo
Protenção contra Surto);
 transformadores de isolamento;
 filtros passa-baixa;
 criação de escudo de proteção de LT (cabo guarda, etc);
 chaveamento sincronizado de banco de capacitores e
transformadores;
 gerenciamento de sistemas com ferro-ressonância;
 proteção extra de cabos;
 entre outros.

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Onde MOV é a abreviação de Metal-Oxide Varistor. E, por sua vez, varistor


ou VDR (Voltage Dependent Resistor) é um componente eletrônico cujo valor de
resistência elétrica é uma função inversa da tensão aplicada nos seus terminais.

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6. Noções gerais sobre ressarcimento por danos elétricos

A temática do ressarcimento por danos elétricos está diretamente


relacionada com os efeitos dos transitórios nos sistemas elétricos de distribuição
e transmissão. A mesma vem sendo trabalhada já há um bom tempo pelo grupo
de pesquisa em QEE da UFU. Além disso, encontra-se também contemplada por
um módulo do PRODIST.

Principais efeitos causadores de pedidos de ressarcimento por danos


elétricos:

 Descargas atmosféricas;
 Religamentos automáticos;
 Falhas em equipamentos;

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 Queda de árvores;
 Conexão de transformadores;
 etc.

Vale ressaltar, que neste interim, diversos softwares de simulação do


sistema elétrico de potência podem ser empregados, dentre os quais,
sobremaneira, destaca-se o ATP (Alternate Transients Program) – também
conhecido por EMTP (Electromagnetic Transients Program). Trata-se de uma
ferramenta gratuita, confiável, didática e amplamente utilizada pelos agentes do
setor elétrico brasileiro.

Neste semestre, haverá uma apresentação no formato de palestra sobre o


tópico “Ressarcimento por Danos Elétricos”. A mesma visa introduzir o tema,
apontando as dificuldades e conflitos atrelados ao mesmo e mostrando os
possíveis caminhos a serem trilhados para solucionar os problemas e desafios
que se fazem presente. Neste momento da disciplina, serão apresentados os
softwares desenvolvidos pelo corrente grupo de pesquisa em QEE em conjunto a
algumas concessionárias de energia brasileiras.

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IV. VARIAÇÕES DE TENSÃO DE LONGA DURAÇÃO:

1. Conceitos, definições e normas

A variação de tensão de longa duração é toda alteração do valor RMS da


tensão, à frequência fundamental, por um intervalo superior a 3 minutos. Assim
sendo e descartando as interrupções sustentadas de energia, as variações de
longa duração podem levar a dois diferentes cenários: sub-tensão e sobre-
tensão.

A definição dos níveis de tensão em regime permanente adequados,


precários e críticos em um sistema de distribuição é feita pelo PRODIST, o qual é
destacado na sequência:

 São estabelecidos os limites adequados, precários e críticos para os


níveis de tensão em regime permanente, os indicadores individuais e
coletivos de conformidade de tensão elétrica, os critérios de medição,
de registro e dos prazos para compensação ao consumidor, caso as
medições de tensão excedam os limites dos indicadores.
o A tensão em regime permanente deve ser acompanhada em
todo o sistema de distribuição, devendo a distribuidora dotar-
se de recursos e técnicas modernas para tal
acompanhamento, atuando de forma preventiva para que a
tensão em regime permanente se mantenha dentro dos
padrões adequados.
 A tensão em regime permanente deve ser avaliada por meio de um
conjunto de leituras obtidas por medição apropriada, de acordo com a
metodologia descrita para os indicadores individuais e coletivos, nas
seguintes modalidades:
o eventual, por reclamação do consumidor ou por determinação
da fiscalização da ANEEL;

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o amostral, por determinação da ANEEL, de acordo com sorteio


realizado para cada trimestre; e
o ininterrupta, por meio do sistema de medição de que trata a
Resolução Normativa n° 502/2012;
 A conformidade dos níveis de tensão deve ser avaliada nos pontos de
conexão à Rede de Distribuição, nos pontos de conexão entre
distribuidoras e nos pontos de conexão com as unidades
consumidoras.
 A tensão associada às leituras deve ser classificada segundo faixas
em torno da tensão de referência (TR), conforme figura:

onde:
a) Tensão de Referência (TR);
b) Faixa Adequada de Tensão (TR – ADINF, TR + ADSUP);
c) Faixas Precárias de Tensão (TR + ADSUP, TR + ADSUP + PRSUP ou TR – ADINF –
PRINF, TR – ADINF);
d) Faixas Críticas de Tensão (>TR + ADSUP + PRSUP ou <TR – ADINF – PRINF).

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Obs: as unidades consumidoras com instalações conectadas em tensão nominal


igual ou superior a 230 kV deverão ter as faixas de tensão classificadas de acordo
com os Procedimentos de Rede ou em observância aos valores estipulados em
regulamentação.

No caso do PRODIST, tem-se os seguintes limites para as faixas de tensão:

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2. Indicadores individuais e procedimentos de medição (DRP e


DRC)

Conforme estabelecido no PRODIST, o conjunto de leituras para gerar os


indicadores individuais de Variação de Tensão de Longa Duração deverá
compreender o registro de 1008 leituras válidas obtidas em intervalos
consecutivos (período de integralização) de 10 minutos cada, salvo as que
eventualmente forem expurgadas devido à ocorrência de VTCD’s ou mesmo
interrupções.

Os valores eficazes devem ser calculados a partir das amostras coletadas


em janelas sucessivas. Cada janela compreenderá uma seqü encia de doze ciclos
(0,2 segundos) a quinze ciclos (0,25 segundos).

Após a obtenção do conjunto de leituras válidas, quando de medições


oriundas por reclamação ou amostrais, devem ser calculados o índice de duração
relativa da transgressão para tensão precária (DRP) e o para tensão crítica (DRC)
de acordo com as seguintes expressões:

onde nlp e nlc representam o maior valor entre as fases do número de leituras
situadas nas faixas precária e crítica, respectivamente.

Os indicadores DRP e DRC serão associados a um mês civil, contudo cada


medição de indicador é obtido através de medições de 7 dias. O DRP e DRC
mensal será uma média de todos indicadores obtidos durante o mês.

O limite máximo do indicador DRP é de 3%, enquanto o limite do DRC é


de 0,5%, isto é válido para cada unidade consumidora. E, caso os limites não
sejam atendidos, a concessionária deverá pagar multa para ao consumidor.

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Abaixo segue um exemplo de cálculo de DRP e DRC:

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Outro exemplo:

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3. Princípios de regulação de tensão

A principal causa de problemas relacionados à regulação de tensão são as


altas impedâncias do sistema de potência, o que leva a baixos níveis de curto
circuito. Assim a tensão cairá proporcionalmente ao produto corrente elétrica (𝐼 )̇
versus impedância do sistema (𝑍̇ = 𝑅 + 𝑗𝑋).

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Então,

𝑉2̇ = 𝑉1̇ − 𝐼 𝑍
̇ ̇

As técnicas e dispositivos mais comuns empregados com vistas ao


melhoramento da regulação de tensão do sistema de potência são embasados
nos seguintes princípios:

 Adição de capacitor shunt (paralelo) para redução da corrente e


melhoria do fator de potência;
 Adição de reguladores de tensão;
 Redimensionamento de cabos/linhas para redução da impedância;
 Redimensionamento (troca) de transformadores de serviço e/ou
mesmo de subestações de energia;
 Inserção de capacitores série com vistas ao cancelamento (ou
mesmo redução) do reativo da linha;
 Inserção de compensadores estáticos ou, ainda, compensadores
dinâmicos.

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4. Origens das variações de tensão de longa duração

Em geral, as variações de tensão de longa duração, devido ao elevado


tempo de duração, não são causadas por curto-circuitos.

As principais causas de sobre-tensões são:

 Desconexão de grandes cargas, principalmente aquelas de


características indutivas;
 Conexão de banco de capacitores;
 Ajustes equivocados de TAPs de transformadores;
 entre outros.

Já as sub-tensões são decorrentes principalmente de:

 Carregamento excessivo de circuitos alimentadores, os quais são


submetidos a determinados níveis de corrente que, interagindo
com a impedância da rede, dão origem a quedas de tensão
acentuadas;
 Conexão de grandes cargas à rede elétrica;
 Desligamento de bancos de capacitores e, consequentemente,
haverá excesso de reativo transportado pelos circuitos de
distribuição, o que limita a capacidade do sistema no fornecimento
de potência ativa e, ao mesmo tempo, eleva a queda de tensão;
 Grande distância de alguns consumidores, estando, então, estes
sujeitos a menores níveis de tensão devido à elevada impedância
da rede. Além disso, quanto menor for o fator de potência, maiores
serão as perdas reativas na distribuição, aumentando a queda de
tensão no sistema;
 entre outros.

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5. Principais efeitos

No que diz respeito às sobre-tensões, estas podem resultar em falha dos


equipamentos em geral, enquanto os dispositivos eletrônicos poderão sofrer
danos durante esta condição operativa. Embora transformadores, cabos,
disjuntores, TCs, TPs e máquinas rotativas, geralmente, não apresentem falhas
imediatas, tais equipamentos, quando submetidos a repetidas sobre-tensões,
poderão ter a sua vida útil reduzida.

Relés de proteção também poderão apresentar falhas de operação


durante as sobretensões.

Uma observação importante diz respeito à potência reativa fornecida


pelos bancos de capacitores, que aumentará com o quadrado da tensão, durante
uma condição de sobre-tensão.

Dentre os problemas causados por sub-tensões de longa duração,


destacam-se:

 Redução da potência reativa fornecida por bancos de capacitores


ao sistema;
 Possível interrupção da operação de equipamentos eletrônicos,
tais como computadores e controladores eletrônicos;
 Redução de índice de iluminamento para os circuitos de
iluminação incandescente;
 Elevação do tempo de partida das máquinas de indução, o que
contribui para a elevação de temperatura dos enrolamentos; e
 Aumento nos valores das correntes do estator de um motor de
indução quando alimentado por uma tensão inferior à nominal.
Desta forma, tem-se um sobreaquecimento da máquina, o que
certamente reduzirá a sua expectativa de vida útil.

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6. Dispositivos empregados na regulação de tensão

Existe uma grande variedade de dispositivos voltados à regulação da


tensão no sistema de potência e também nas indústrias. Nós dividimos estes em
três grandes classes:

 Mudança de TAP em transformadores (o mesmo pode ser


mecânico ou eletrônico);
 Isolação dos equipamentos com reguladores de tensão (ex: UPS –
Uninterruptible Power Supply);
 Equipamentos de compensação de impedância, tal como
capacitores (shunt, série, etc).

Na sequência serão apresentadas diferentes estratégia de regulação de


tensão.

a. Regulação de tensão por mudança de TAP em nível de


concessionária

Uma típica alteração de TAP utilizada em regulação de tensão da


concessionária pode regular de -10% a +10% o valor nominal. Isto realizado em
até 32 passos (ou TAP’s).

Este controle pode ser feito por meio de auto-transformadores


monofásicos e, consequentemente, independentes (controle independente por
fase).

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b. Transformador ferro-ressonante

Este dispositivo utiliza-se do princípio da ferro-ressonância já abordada,


contudo, neste equipamento, há um aproveitamento deste princípio em prol da
melhoria da regulação de tensão.

Podemos verificar uma adequação da tensão de saída tanto quando da


ocorrência de sub-tensões, quanto da ocorrência de sobre-tensões.

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c. Regulador com variação de TAP via chaves estáticas

Neste caso, usa-se de princípios vinculados à eletrônica de potência


(chaves SCRs, TRIACs, etc).

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d. Sistemas UPS (no-break)

Estes são sistemas baseados também em elementos de eletrônica de


potência e empregados, via de regra, para cargas de menor porte. O mesmo pode
agir, até mesmo, em caso de interrupções sustentadas.

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e. Motor-gerador ajustável

f. Regulação de tensão por capacitores

A compensação paralela possui a vantagem de ser mais simples de ser


feita e também não alterar o nível de curto-circuito do circuito, porém possui
estágios de potência capacitiva fixos. (Q constante = V2/Xc)

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Por outro lado, a compensação série apresenta uma entrega de reativos


ao sistema proporcional à corrente da carga (à potência da carga) o que é
positivo, contudo esta compensação, além de ser mais complexa de ser
implementada, ela diminuirá o nível de curto da rede, o que pode levar a
problemas relacionados com a proteção. (Q variável = Xc.I2)

Uma solução também interessante é o uso de banco de capacitores


paralelos com estágios de variação automática, no lugar de se colocar um banco
de capacitores shunt fixo.

g. Compensações de linhas de transmissão

Os diferentes tipos de compensação de linhas de transmissão podem


melhorar o comportamento da tensão ao longo da mesma e, consequentemente,
diminuir os números de eventos de sobre-tensão e sub-tensão.

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h. Reatores a núcleo saturado

Estes dispositivos usam o princípio de saturação magnética dos metais


constituintes dos núcleos dos reatores para absorver excessos de reativos da
rede. O grupo de QEE da UFU tem trabalhado em pesquisas relacionadas ao
desenvolvimento deste tipo de equipamento. Vale salientar, que o mesmo tem
um emprego voltado à regulação de tensão quando esta está acima dos níveis de
referência, ou seja, seu emprego se dá para a eliminação de sobre-tensões.

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7 KVAr – 220V;

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Reatores Cabeça de Série da CEMAT feitos em parceria com o NQEE/UFU

586 KVAr – 13,8 kV;

3 MVAr – 34,5 kV.


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i. Outras formas de regulação da tensão

Existem diversas formas voltadas à melhoria da regulação de tensão que


não foram aqui ilustradas, dentre elas: sintetizadores magnéticos,
compensadores estáticos de reativo, reguladores séries, regulação via geração,
etc. Todavia, vale ressaltar, que os principais equipamentos empregados neste
meio foram aqui apresentados.

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V. DISTORÇÕES DA FORMA DE ONDA:

1. Conceituação

Conforme livro "Harmônicos em Sistemas Elétricos" (autor: Ruth P.S.


Leão), a palavra 'harmônico' tem origem na área de acústica e de instrumentos
musicais, com significado de múltiplos inteiro ou componentes de um tom, bem
como múltiplos não inteiros denominados sub e sobre-tons. Na engenharia, o
termo 'harmônico' ou 'harmônica' é usado indistintamente.

A presença de harmônicos em um sinal elétrico não é um fenômeno novo.


A preocupação com a distorção harmônica surgiu durante o início da história dos
sistemas de potência em corrente alternada. Em 1916, já havia livro publicado
trazendo preocupações com a presença dos mesmos nos sistemas, no qual
Steimetz propôs uma primeira conexão delta em transformadores para confinar
harmônicos de terceira ordem e não transferir a corrente para a linha.

Formas de ondas senoidais são condições almejadas nos sistemas


elétricos, uma vez que transformadores, máquinas e aparelhos elétricos são
projetados com base em um suprimento senoidal.

Quando uma forma de onda de tensão senoidal é aplicada a elementos


lineares de circuito elétrico, quais sejam: resistores, indutores e capacitores, o
formato de onda de corrente mantem as características senoidais (havendo
apenas possibilidade de deslocamentos angulares), conforme figura abaixo.

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Todavia, quando há a presença de elementos não-lineares no circuito


elétrico, tais como: diodos, tiristores, demais chaves controladas, etc., uma vez
aplicada uma tensão senoidal, haverá o surgimento de uma corrente não-
senoidal, a qual, por sua vez, poderá levar a forma de onda de tensão à perda de
suas características senoidais. Tais corrente e tensão (não-senoidais) são
chamadas de distorcidas e este é o problema focal deste nosso capítulo.

Um onda periódica distorcida, deformada ou sem conformidade senoidal


é o resultado da sobreposição de uma série de ondas senoidais, que possui uma
componente fundamental (dita de primeira ordem) e um conjunto de ondas,
denominadas "harmônicas", responsáveis pelo maior ou menor grau de
distorção desta onda distorcida.

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A forma de efetuar-se tal operação será introduzida no decorrer deste


item programático. Todavia, desde já, pode-se afirmar que a fundamental é a
componente mais significativa do conjunto de ondas da somatória e a de menor
frequência inteira. Cada componente de frequência múltipla inteira desta
fundamental é denominada harmônica. Os sinais com frequências que estão
situadas entre as múltiplas inteiras da fundamental são denominados inter-
harmônicos. Sinais com frequências abaixo da fundamental são denominados
sub-harmônicos.

As ordens harmônicas (ou inter-harmônicas, ou sub-harmônicas),


geralmente tratadas por h ou n, são justamente a razão entre a frequência da
componente (𝑓) e a frequência da componente fundamental (𝑓1 ), ou seja,

𝑓
ℎ=
𝑓1

Caso necessitemos considerar o harmônico de ordem zero, este será,


conforme já se espera, um elemento de frequência nula, ou seja, uma
componente de CC. A tabela abaixo, sintetiza tal explanação.

Recentemente, a presença de harmônicos no sistema elétrico tem


crescido, o que, consequentemente, tem aumentado a preocupação por parte dos
agentes do sistema, operadores, empresários e entidades de pesquisa, no tocante
ao estudo e no estabelecimento de normas reguladoras voltados à esta temática,
qual seja, distorções harmônicas presentes no sistema elétrico de potência.

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Neste contexto, o PRODIST define que harmônicos são fenômenos


associados com deformações nas formas de onda das tensões e correntes em
relação à onda senoidal da frequência fundamental. Este é um fenômeno,
predominantemente, de regime permanente, apesar de se poder analisar, com
ferramenta adequada, espectros harmônicos durante transitórios da rede.

Neste nosso material, adotaremos a terminologia definida pelo PRODIST,


conforme tabela a seguir. Isto é importante ser mencionado, pois existem
inúmeras terminologias para identificação das grandezas atreladas à esta
temática, por exemplo, o próprio Procedimentos de Rede do ONS apresenta uma
terminologia diferente.

Tais grandezas, apresentadas na tabela, serão oportunamente definidas.

2. Método para caracterização das distorções harmônicas

Para identificar as componentes harmônicas presentes em uma onda não


senoidal, normalmente, é empregada a análise de Fourier, desenvolvida em 1822
pelo matemático francês de mesmo nome. Esta é uma importante ferramenta

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matemática para aplicações práticas de ciências e de engenharia, a qual será aqui


trabalhada.

A. Série de Fourier

A série de Fourier permite estabelecer uma relação simples entre uma


função contínua no domínio do tempo com uma função discreta no domínio da
frequência.

Não cabe a esta ementa realizar a introdução ao princípio matemático da


transformada de Fourier. Todavia, vale lembra que a série de Fourier, em
consonância com aquilo que já fora mencionado no subitem anterior, estabelece
que qualquer forma de onda periódica não-senoidal (distorcida) pode ser
substituída por um somatório de uma série de ondas senoidais de frequências
múltiplas inteiras da frequência tida como fundamental. Tal série, a ser somada,
é chamada Série de Fourier.

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Para exemplificar, a figura anterior mostra alguns termos da série de


Fourier de uma onda quadrada de magnitude 0,5V.

Já a figura abaixo mostra o espectro da onda quadrada até a trigésima


harmônica e os valores de amplitude das 10 primeiras harmônicas ímpares
formadoras desta onda quadrada representada na figura que antecedeu a esta.

Esta onda quadrada expressa no domínio da frequência, conforme série


de Fourier, é dada por:

4𝑉𝑝 4𝑉𝑝 4𝑉𝑝


𝑓(𝑡) = ( ) 𝑠𝑒𝑛(𝜔1 𝑡) + ( ) 𝑠𝑒𝑛(3𝜔1 𝑡) + ( ) 𝑠𝑒𝑛(5𝜔1 𝑡) + ⋯
𝜋 3𝜋 5𝜋

em que 𝑉𝑝 é o valor de pico ou de máximo da onda quadrada.

As vantagens de se usar a série de Fourier para representar formas de


onda distorcidas é que cada componente harmônica pode ser analisada
separadamente, e a distorção final é determinada pela superposição das várias
componentes que compõem o sinal distorcido, conforme será exercitado.

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No caso de se necessitar de uma análise temporal e espacial de sinais não


estacionários, o emprego da série de Fourier não será possível. Neste caso, a
saída será a aplicação da chamada transformada de Wavelet (contínua ou
discreta), a qual possui características de flexibilidade de janelas de tempo.
Porém, a mesma não será aqui empregada, devido a questões de carga horária.

Vale salientar que o uso de Wavelet em vez da transformada de Fourier


tem duas vantagens principais na estimativa de distorção harmônica. Primeira,
não é necessário assumir que o sinal é estacionário e periódico, até mesmo
dentro da janela de amostragem. Segunda, o uso de Wavelet permite a análise de
tempo-frequência de um sinal com diferentes resoluções.

B. Simetria de sinais

Simplificações no cálculo dos coeficientes da série de Fourier podem ser


obtidas segundo uma ou mais das simetrias apresentadas pelo sinal periódico, de
acordo com o exposto na sequência.

a) Simetria ímpar: esta é caracterizada por um sinal que satisfaz a equação


abaixo e resulta na anulação de todas as funções pares da série de Fourier.

𝑓(−𝑡) = −𝑓(𝑡)

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A senoide é uma função ímpar:

b) Simetria par: esta é caracterizada por um sinal que satisfaz a equação a


seguir. Neste caso os harmônicos podem ser pares e ímpares, ou seja, não há
simplificação alguma.

𝑓(−𝑡) = 𝑓(𝑡)

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A cossenoide é uma função par:

Obs: pode-se aplicar deslocamentos para se obter uma função com simetria
par ou ímpar. Veja o exemplo ilustrado na figura abaixo: na primeira
ilustração, a função é nem par nem ímpar; no segundo gráfico, a função é par
e; no último, é ímpar.

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c) Simetria em relação ao eixo horizontal: sendo a onda par ou ímpar simétrica


em relação ao eixo horizontal, o valor médio da função é zero, ou seja, não há
existência de componente de corrente contínua na onda CC. Porém, caso não
haja esta simetria, haverá um deslocamento CC no sistema avaliado.

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d) Simetria de meia onda: nesta simetria a componente CC é nula e as


harmônicas de ordem par não existem. Essa condição leva a ignorar
harmônicos pares em sistemas de potência, já que os sistemas apresentam
componentes bilaterais que atual de forma simétrica e periódica, e produzem
tensões e correntes com simetria de meia onda.

Neste caso os semiciclos positivos e negativos da forma de onda de corrente


ou tensão são idênticos, a série de Fourier conterá apenas harmônicos
ímpares (ℎ = 3, 5, 7, ⋯), simplificando o estudo. A maior parte das cargas
produtoras de harmônicos apresentam os dois semiciclos iguais, pois
possuem controle simétrico que atua no semiciclo positivo e negativo da
onda (carga não linear simétrica).

𝑓(𝑡 ± 𝑇/2) = −𝑓(𝑡)

A figura a seguir mostra uma forma de onda típica de uma corrente de linha
de um conversor de seis pulsos.

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No exemplo abaixo NÃO há simetria de meia onda:

Em geral, nos sistemas de potência, os harmônicos de ordem ímpar são


dominantes, e os de ordem par, quando presentes, relativamente menores. A
presença de componentes pares resulta em assimetria em relação ao eixo do
tempo, isto é, assimetria de meia onda em que a meia onda positiva difere da
negativa.

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Os harmônicos de ordem par têm um impacto incomum sobre a instalação


porque criam assimetria de meia onda (DC offesets), à semelhança do que
ocorre com componentes CC, em dispositivos magnéticos, por exemplo,
motores, transformadores etc.

Obs: a presença de simetrias pares não implica componente CC no sinal, a


exemplo da cossenoide.

e) Simetria de quarto de onda: diz-se que uma função apresenta esta simetria se
a mesma tem simetria de meia onda e, além disso, cumpre com uma das
seguintes condições:
 𝑓(𝑡) é ímpar;
 transladando 𝑓(𝑡) de 𝑇/4 para a direita ou para a esquerda, a função
se torna par, isto é, 𝑓(𝑡 − 𝑇/4) = 𝑓(𝑡).

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As funções com simetria de quarto de onda podem ser transformadas em


funções par ou ímpar, ou seja,

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C. Teorema da superposição na análise estacionária de ondas


periódicas

A maior parte das fontes de energia elétrica de interesse prático geram


formas de ondas periódicas, mesmo que as ondas geradas sejam não senoidais,
ou seja, distorcidas ao longo do sistema. A resposta estacionária de circuitos a
qualquer excitação periódica, ainda que a função excitação não seja senoidal,
pode ser realizada aplicando-se o teorema da superposição (circuitos elétricos
lineares).

As redes lineares em sistemas de potência equilibrados possuem


respostas independentes para diferentes harmônicos. Esta propriedade permite
tratar cada harmônico, presente nesta rede, separadamente. O circuito
equivalente para cada harmônico é construído no domínio da frequência e
resolvido para correntes e tensões. A resposta total é a soma das respostas para
cada frequência.

3. Medição

Para medição das características de um sinal elétrico, é recomendado o


uso de equipamentos que operam segundo o princípio da amostragem digital,
conforme estabelecido no PRODIST.

No que tange à medição de distorções harmônicas, existe certas


particularidades que torna este procedimento mais complexo, tal como será
apresentado.

O processamento de medições de grandezas elétricas segue, de uma


forma geral, o diagrama de bloco abaixo, podendo ou não ter a última parte do
processamento ilustrado (sinal novamente analógico).

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A taxa de amostragem de um sinal contínuo é o número de amostras por


unidade de tempo (segundo ou ciclo) que deve ser tomado para construir um
sinal discreto (digital). E, segundo o teorema de amostragem de Nyquist, a
reconstrução "perfeita" de um sinal somente é possível quando a frequência de
amostragem 𝑓𝑠 é maior que o dobro da maior frequência (𝑓𝑚𝑎𝑥 ) contida no sinal
amostrado, ou seja:

𝑓𝑠 > 2𝑓𝑚𝑎𝑥

Pode-se, neste caso, inequivocamente representar apenas frequências no


intervalo [0, 𝑓𝑠 /2]. Portanto, na situação de medições de sinais distorcidos, temos
que perceber que a taxa de amostragem deve ser de pelo menos duas vezes o
valor da frequência harmônica de maior ordem a ser observada.

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De acordo com o PRODIST, os instrumentos para medição de harmônicos


devem considerar, para fins de cálculo da distorção total, um faixa de frequência
que considerar desde a componente fundamental até no mínimo, a harmônica de
ordem 25. Já os Procedimentos de Rede do ONS estabelecem a medição de
harmônicos de ordem superior ou igual a 50. Enquanto a principal norma
vinculada à caracterização de equipamentos de medição, a IEC 61000-4-
30(2008), determina que os equipamentos (de Classe A) sejam capazes de aferir
no mínimo até a 50ª ordem harmônica em 60Hz, isto é, sinais de 3kHz.

As duas principais normas internacionais para a medição de harmônicos


em sistemas de potência são a IEC 61000-4-30(2008) e a IEC 61000-4-7(2002).
As mesmas dividem os instrumentos de medição de qualidade de energia em três
classe:

 Classe A: usado onde são necessárias medições precisas, como, por


exemplo, para avaliação de conformidade com padrões ou onde há
situações que envolvem disputas entre concessionárias e clientes
finais;
 Classe S: usado para diagnóstico ou avaliação da qualidade de
energia de uma forma geral, onde não há necessidade de uma alta
precisão e exatidão;
 Classe B: é definida no sentido de contemplar muitos dos
instrumentos de medição de QEE ainda disponíveis no mercado e
que não atendem às outras duas classes com incertezas de
medições mais elevadas.

A duas normas da IEC estabelecem que as janelas de tempo de


integralização das medições, para equipamentos Classe A e S, devem ser de
200ms a cada segundo, ou seja, 12 ciclos de onda de 60Hz ou 10 ciclos de
frequência de 50Hz. Já as frequências de amostragem devem ser no mínimo de
256 amostras por ciclo de onda de 60Hz ou 50Hz. Tais normas, propõe a análise
de Fourier como ferramenta de processamento de sinais para obtenção das

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componentes harmônicas da forma de onda de tensão e corrente. Não obstante à


esta preferência, estes documentos referem-se à análise de Wavelet como uma
ferramenta de alternativa para avaliação de harmônicos.

Nos Procedimentos de Redes (ONS) é determinado que os instrumentos


de medição utilizado no processo de apuração dos indicadores relacionados às
distorções harmônicas devem ter desempenho compatível com equipamento
Classe A estabelecidos pela IEC. Por outro lado, o PRODIST define que os
medidores devem ser capazes de quantificar, no mínimo, até a 25ª ordem
harmônica.

Ambas normas nacionais estabelecem que o processo de apuração dos


valores dos indicadores de harmônicos deve ser realizado com duração de no
mínimo sete dias completos e consecutivos (uma semana), considerando os
valores dos indicadores integralizados em intervalos de dez minutos. Sendo
medições de tensões fase-neutro para sistemas estrela-aterrada e fase-fase para
as demais configurações.

Nos Procedimentos de Rede, os indicadores usam níveis de percentis


diário e semanal de 95% para mensurar a severidade dos fenômenos quando
comparados a valores limites estabelecidos. No entanto, no PRODIST, não há
qualquer indicação de percentis para efeito de medição de distorções
harmônicas.

A distribuição do número de amostras observadas em cada intervalo de


discretização é realizada por meio de histogramas de ocorrência (não é
considerada a condição temporal de cada amostra). Exemplo:

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Neste histograma, os níveis podem ser considerados como sendo as


magnitudes discretizadas das tensões harmônicas (por exemplo, de 10 em 10V).

A normalização do histograma é feita dividindo-se as observações de cada


nível pelo número total de amostras.

A soma acumulada das frequências normalizadas produz a função de


distribuição acumulada (FAi), conforme exemplo abaixo. Esta função
corresponde à probabilidade de violação de limites inferiores, ou a de um valor
observado estar abaixo de um determinado nível.

Nesta função, podemos observar, por exemplo, as magnitudes de


amostras que ficaram igual ou abaixo de um determinado percentual ou
percentil relacionado com total de medições realizadas, em nosso caso, de
distorção harmônica individual ou/e total (conforme serão introduzidas).

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Se considerarmos um percentil igual a 10% (conforme gráfico), então


devemos considerar 10% das amostras feitas e descartar 90%. Neste caso, temos
que considerar as amostras abaixo do patamar 10% e descartar os 90% de
amostras acima deste patamar.

Obs: um percentil é o ponto da distribuição no qual ou abaixo do qual se situa


uma determinada percentagem de casos. Por exemplo, um resultado no percentil
95 significa que 95% dos resultados se situam nesse ponto ou abaixo dele,
enquanto um resultado no percentil 5 significa que apenas 5% dos resultados se
situam nesse ponto ou abaixo dele.

Adicionalmente, tem-se a função de distribuição acumulada


complementar (FACi), que corresponde à probabilidade de violações de limites
máximos, ou seja, a probabilidade de um valor ultrapassar um dado patamar.

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No caso de adotarmos a FACi, temos que o percentil será dado pelos


valores que superaram o percentual estabelecido. Portanto, se tivermos o
percentil 10%, temos que considerar os 90% que superaram este patamar, ou
seja, os valores de maiores magnitudes serão descartados (ver gráfico acima).

Para o ONS, em seus Procedimentos de Rede, os valores dos indicadores


de harmônicos a serem comparados com os valores limites são assim obtidos:

 determina-se o valor que foi superado em apenas 5% (percentil de


95% em FACi) dos registros obtidos no período de um dia (24
horas), considerando os valores dos indicadores integralizados em
intervalos de 10 minutos, ao longo de 7 dias consecutivos;
 o valor do indicador corresponde ao maior entre os 7 valores
obtidos anteriormente, em base diária.

4. Indicadores de distorção harmônica

Neste subitem, os indicadores harmônicos são definidos com o propósito


de mensurar a conformidade senoidal da tensão e corrente e o desempenho da
instalação.

A. Componentes simétricas aplicadas a sistemas trifásicos distorcidos e ao


mesmo tempo equilibrados

A técnica de componentes simétricas, desenvolvida por Fortescue, pode


ser estendida para os harmônicos. Estes, em sistemas trifásicos equilibrados,
além da ordem da frequência, são também caracterizados por uma sequência de
fase: positiva, negativa e zero. Ou seja, em um sistema trifásico equilibrado com
presença de cargas não lineares equilibradas, as componentes harmônicas
apresentam sequência positiva (ou direta), negativa (ou inversa), e zero (ou
nula), segundo a ordem do harmônico h.

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Seja a representação da série de Fourier para as tensões de fase 𝑣𝑎 , 𝑣𝑏 e 𝑣𝑐


com harmônicos como a seguir.

𝑣𝑎 (𝑡) = √2[𝑉1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝜑1 ) + 𝑉2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝜑2 )


+ 𝑉3 𝑐𝑜𝑠(3𝜔1 𝑡 + 𝜑3 ) + 𝑉4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝜑4 )
+ 𝑉5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝜑5 ) + 𝑉6 𝑐𝑜𝑠(6𝜔1 𝑡 + 𝜑6 )
+ 𝑉7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝜑7 ) + ⋯ ]

𝑣𝑏 (𝑡) = √2[𝑉1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝜑1 − 120°) + 𝑉2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝜑2 + 120°)


+ 𝑉3 𝑐𝑜𝑠(3𝜔1 𝑡 + 𝜑3 ) + 𝑉4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝜑4 − 120°)
+ 𝑉5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝜑5 + 120°) + 𝑉6 𝑐𝑜𝑠(6𝜔1 𝑡 + 𝜑6 )
+ 𝑉7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝜑7 − 120°) + ⋯ ]

𝑣𝑐 (𝑡) = √2[𝑉1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝜑1 + 120°) + 𝑉2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝜑2 − 120°)


+ 𝑉3 𝑐𝑜𝑠(3𝜔1 𝑡 + 𝜑3 ) + 𝑉4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝜑4 + 120°)
+ 𝑉5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝜑5 − 120°) + 𝑉6 𝑐𝑜𝑠(6𝜔1 𝑡 + 𝜑6 )
+ 𝑉7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝜑7 + 120°) + ⋯ ]

em que 𝑉ℎ e 𝜑ℎ representam, respectivamente, o valor de tensão eficaz de fase e


o deslocamento angular da harmônica de ordem h, e 𝜔1 a frequência angular da
fundamental.

Observando-se as expressões anteriores, percebe-se que a componente


fundamental apresenta uma sequência ABC (positiva); enquanto a de 2ª ordem
CBA (negativa); e a componente de 3ª ordem, sequência zero, repetindo-se o
ciclo para as harmônicas subsequentes.

A tabela a seguir apresenta a sequência de fase dos harmônicos em um


sistema trifásico equilibrado baseada na expansão da série de Fourier. Podendo-
se, ainda, escrever (considere 𝑘 pertencente aos números inteiros):

ℎ+ = 3𝑘 + 1
ℎ− = 3𝑘 − 1
ℎ0 = 3𝑘

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Calculando-se as tensões de linha 𝑣𝑎𝑏 , 𝑣𝑏𝑐 𝑒 𝑣𝑐𝑎 :

𝑣𝑎𝑏 (𝑡) = √6[𝑉1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝜑1 + 30°) + 𝑉2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝜑2 − 30°) + 0


+ 𝑉4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝜑4 + 30°) + 𝑉5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝜑5 − 30°) + 0
+ 𝑉7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝜑7 + 30°) + ⋯ ]

𝑣𝑏𝑐 (𝑡) = √6[𝑉1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝜑1 − 90°) + 𝑉2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝜑2 + 90°) + 0


+ 𝑉4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝜑4 − 90°) + 𝑉5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝜑5 + 90°) + 0
+ 𝑉7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝜑7 − 90°) + ⋯ ]

𝑣𝑐𝑎 (𝑡) = √6[𝑉1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝜑1 + 150°) + 𝑉2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝜑2 − 150°) + 0


+ 𝑉4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝜑4 + 150°) + 𝑉5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝜑5 − 150°) + 0
+ 𝑉7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝜑7 + 150°) + ⋯ ]

Verifica-se, por meio destas equações, que as componentes de sequência


zero (múltiplas de três) não existem e as demais componentes possuem o
mesmo comportamento.

O significado físico para as componentes de sequências é que, em um


sistema trifásico, correntes harmônicas de sequência positiva produzem um
campo girante direto; correntes harmônicas de sequência negativa produzem um
campo com a rotação oposta; e as correntes harmônicas de sequência zero
produzem um campo que oscila, mas não gira entre os enrolamentos de fase.

Portanto, componentes harmônicas de sequência positiva, negativa e zero


podem existir, mesmo que o sistema seja equilibrado, ou seja, a regra tradicional

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de que sistemas de potência balanceados não apresentam componentes de


sequência zero ou componentes de sequência negativa não é válida quando
harmônicos estão presentes na rede elétrica trifásica.

Observação importante: a caracterização dos harmônicos em sequência positiva,


negativa e zero somente é válida quando o sistema distorcido trifásico for
equilibrado. Portanto, em sistemas contendo cargas não lineares desequilibradas
ou monofásicas não se pode afirmar, por exemplo, que um harmônico de ordem
múltipla de 3 é de sequência zero ou que o mesmo não existirá em medições de
tensão fase-fase.

B. Valores eficazes verdadeiros e valores de pico em sistemas distorcidos

O valor eficaz, ou rms, de uma onda de tensão ou corrente periódica é


definido como:

1 𝑡+𝑇 2
𝑉𝑟𝑚𝑠 = √ ∫ 𝑣 (𝑡)𝑑𝑡
𝑇 𝑡

1 𝑡+𝑇
𝐼𝑟𝑚𝑠 = √ ∫ 𝑖 2 (𝑡)𝑑𝑡
𝑇 𝑡

onde T é o período da onda.

Quando tem-se uma onda senoidal, o valor eficaz é facilmente encontrado


a partir da divisão do valor de pico da onda por √2. Todavia, quando da presença
de harmônicos, este princípio não mais se aplica.

Desenvolvendo-se as equações anteriores, para considerar a presença de


harmônicos no sistema, chega-se às seguintes expressões para os valores rms da
tensão e de corrente quando da presença de harmônicos:

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𝑉𝑟𝑚𝑠 = √𝑉12 + ∑ 𝑉ℎ2


ℎ=2

𝐼𝑟𝑚𝑠 = √𝐼12 + ∑ 𝐼ℎ2


ℎ=2

O valor de pico das ondas de tensão e corrente terão que levar em conta
as diversas ordens harmônicas presentes em cada sinal. Neste caso, os
defasamentos angulares serão necessários. Contudo, para estudo de possíveis
efeitos danosos ao sistema e aos equipamentos conectados ao mesmo,
comumente adota-se o pior caso possível, qual seja, o pico de todas as ordens
harmônicas coincidindo com o pico da onda fundamental, portanto,

𝑉𝑝𝑖𝑐𝑜 = √2 (𝑉1 + ∑ 𝑉ℎ )
ℎ=2

𝐼𝑝𝑖𝑐𝑜 = √2 (𝐼1 + ∑ 𝐼ℎ )
ℎ=2

Diante de tais desenvolvimentos, pode-se concluir:

 as componentes harmônicas contribuem para o aumento do valor


eficaz de tensão e corrente;
 o aumento do valor eficaz implica aumento de perdas;
 os valores da tensão e corrente de pico, na presença de distorções
harmônicas, podem atingir valores bem elevados dependendo do
grau de distorção.

Obs: os equipamentos que são capazes de aferir as tensão e correntes levando-se


em conta a somatória da contribuição das diversas ordens harmônica, para efeito
de determinação dos valores RMS, são conhecidos como Medidores True-RMS.

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Pode-se, desde já, destacar que o efetivo aumento do valor rms da


corrente e a possível elevação do valor de pico da tensão, devido à presença de
harmônicos no sistema elétrico, se apresentam como dois pontos focais
causadores de preocupação. Na primeira hipótese (elevação de 𝐼𝑟𝑚𝑠 ), tem-se,
consequentemente, uma elevação das correntes de fase do sistema causando
mais perdas e podendo levar o mesmo à estresses térmicos. Já na segunda
situação (aumento de 𝑉𝑝𝑖𝑐𝑜 ), observa-se a possibilidade do rompimento de
isoladores e/ou ainda de dielétricos de capacitores, devido aos estresses
dielétricos que podem ser promovidos pela elevação das tensões de pico.

C. Corrente no neutro em sistemas trifásicos distorcidos equilibrados

Em um sistema trifásico com 4 fios perfeitamente equilibrado, com tensão


e corrente senoidais (sem harmônicos), as correntes de fase se cancelam, e não
há circulação de corrente no neutro.

Quando há desequilíbrio na carga ou no sistema de suprimento, é normal


a circulação de corrente no neutro, que em geral é bem menor do que a corrente
individual em cada fase do circuito.

Todavia, em uma instalação contendo muitas cargas monofásicas não


lineares (geradoras de harmônicos), a corrente no neutro poderá até mesmo ser
superior à corrente de fase, mesmo que o desequilíbrio seja baixo ou nulo. Este é
um caso típico que pode vir a ocorrer em edifícios comerciais com grande
quantidade de cargas de iluminação e computadores.

A corrente no neutro é calculada pela soma das correntes de linha, ou


seja:

𝑖𝑁 (𝑡) = 𝑖𝑎 (𝑡) + 𝑖𝑏 (𝑡) + 𝑖𝑐 (𝑡)

Sendo:

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𝑖𝑎 (𝑡) = √2[𝐼1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝛽1 ) + 𝐼2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝛽2 )


+ 𝐼3 𝑐𝑜𝑠(3𝜔1 𝑡 + 𝛽3 ) + 𝐼4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝛽4 )
+ 𝐼5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝛽5 ) + 𝐼6 𝑐𝑜𝑠(6𝜔1 𝑡 + 𝛽6 )
+ 𝐼7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝛽7 ) + ⋯ ]

𝑖𝑏 (𝑡) = √2[𝐼1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝛽1 − 120°) + 𝐼2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝛽2 + 120°)


+ 𝐼3 𝑐𝑜𝑠(3𝜔1 𝑡 + 𝛽3 ) + 𝐼4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝛽4 − 120°)
+ 𝐼5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝛽5 + 120°) + 𝐼6 𝑐𝑜𝑠(6𝜔1 𝑡 + 𝛽6 )
+ 𝐼7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝛽7 − 120°) + ⋯ ]

𝑖𝑐 (𝑡) = √2[𝐼1 𝑐𝑜𝑠(𝜔1 𝑡 + 𝛽1 + 120°) + 𝐼2 𝑐𝑜𝑠(2𝜔1 𝑡 + 𝛽2 − 120°)


+ 𝐼3 𝑐𝑜𝑠(3𝜔1 𝑡 + 𝛽3 ) + 𝐼4 𝑐𝑜𝑠(4𝜔1 𝑡 + 𝛽4 + 120°)
+ 𝐼5 𝑐𝑜𝑠(5𝜔1 𝑡 + 𝛽5 − 120°) + 𝐼6 𝑐𝑜𝑠(6𝜔1 𝑡 + 𝛽6 )
+ 𝐼7 𝑐𝑜𝑠(7𝜔1 𝑡 + 𝛽7 + 120°) + ⋯ ]

Para este sistema trifásico equilibrado, o cancelamento de componentes


de corrente no neutro é completo para as correntes harmônicas de sequência
positiva e negativa. Já as componentes harmônicas de ordem tripla da corrente
fundamental das fases (sequência zero) se somam no neutro, resultando na
seguinte corrente rms de neutro

2
𝐼𝑟𝑚𝑠,𝑁 = 3√ ∑ 𝐼𝑟𝑚𝑠,ℎ
ℎ=3,6,9,12,15…

Isto implica que, pelo condutor neutro, pode-se ter circulando, pelo
mesmo, um valor de corrente três vezes maior que a corrente de terceira ordem
harmônica que percorre cada condutor fase.

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A figura abaixo apresenta formas de onda de tensão e corrente medidas


em um quadro de distribuição que alimenta típicas cargas não lineares. Vale
ressaltar que a maior parte das cargas eletrônicas monofásicas conduz corrente
somente durante o pico de tensão. A principal componente harmônica dessa
corrente é a 3ª ordem. O risco de sobrecarga no neutro é bem real, já que o
condutor neutro pode ter sido projetado para ter a mesma bitola ou até menor
bitola do que a do condutor fase.

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A medição da corrente neste quadro de distribuição, o qual alimenta


cargas equilibradas e não senoidais, é a que se segue

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Pode se observar que o condutor de neutro estará sujeito a


aproximadamente 1,73 vezes a corrente rms do condutor de fase. Neste sentido,
a IEEE Std. 1100 (2005) estabelece que o condutor de neutro deve ter a
capacidade nominal de 200% quando projetado para instalações com potencial
presença de correntes distorcidas, sobretudo de sequência zero. Enquanto, a
ABNT NBR 5410 (2004) - Seção 6.2.6.2 - estabelece a necessidade de um
condutor de neutro mais apropriado quando empregado em circuitos com cargas
não senoidais, introduzindo um chamado "fator correção" de bitola desse cabo.

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Conclui-se, então:

 carga não linear equilibrada pode apresentar corrente no neutro;


 pelo neutro de uma carga não linear equilibrada fluem apenas
harmônicos de sequência zero;
 o condutor de neutro poderá sofrer sobrecargas ou
sobreaquecimentos;
 pode-se verificar, nesta situação, um aumento da tensão neutro-
terra, o que pode gerar, por sua vez, variados problemas em cargas
eletrônicas.

Por outro lado, se a carga é conectada em delta, as correntes de sequência


zero circularão no interior do delta e não estarão presentes nas correntes de
linha. Por isso, um transformador de conexão Delta-Estrela não deixa propagar
harmônicos de sequência zero.

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D. Quantificação das distorções harmônicas

Para quantificação das distorções harmônicas presentes no sistema,


utilizaremos, conforme já mencionado, a nomenclatura estabelecida no
PRODIST.

As distorções harmônicas são quantificadas individualmente em cada


ordem harmônica ou de forma total. As mesmas são assim quantificadas para a
grandeza tensão e para corrente.

Distorção harmônica individuais de tensão de ordem h (𝐷𝐼𝑇ℎ %):

𝑉ℎ
𝐷𝐼𝑇ℎ % = ∙ 100
𝑉1

Distorção harmônica individuais de corrente de ordem h (𝐷𝐼𝐼ℎ %):

𝐼ℎ
𝐷𝐼𝐼ℎ % = ∙ 100
𝐼1

Distorção harmônica total de tensão (𝐷𝑇𝑇%):

√∑ℎ𝑚á𝑥 2
ℎ=2 𝑉ℎ
𝐷𝑇𝑇% = ∙ 100
𝑉1

Distorção harmônica total de corrente (𝐷𝑇𝐼%):

√∑ℎ𝑚á𝑥 2
ℎ=2 𝐼ℎ
𝐷𝑇𝐼% = ∙ 100
𝐼1

Assim sendo, podemos calcular os valores rms de tensão e corrente


(TRUE RMS) em função das distorções harmônicas totais, ou seja

𝑉𝑟𝑚𝑠 = 𝑉1 √1 + 𝐷𝑇𝑇 2

𝐼𝑟𝑚𝑠 = 𝐼1 √1 + 𝐷𝑇𝐼2

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E. Potência em sistemas com distorções harmônicas

O conceito clássico de potência tem levantado discussões diante do


aumento do número de sistemas com a presença de harmônicos. Neste contexto,
novas teorias têm surgido para uma adequada quantificação dos circuitos
polifásicos com ondas distorcidas, cargas desbalanceadas e tensão
desequilibrada.

Segundo a norma IEEE Std. 1459, 2010, as formulações que estão


apresentadas na sequência devem ser empregadas de uma forma geral para o
efetivo cálculo das potências nestes sistemas elétricos.

A potência instantânea é assim definida:

𝑝(𝑡) = 𝑣(𝑡) ∙ 𝑖(𝑡)

𝑝(𝑡) = [𝑉0 + ∑ 𝑉𝑘 𝑠𝑒𝑛(𝑘𝑤1 𝑡 + 𝜑𝑘 )] ∙ [𝐼0 + ∑ 𝐼𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝑚𝑤1 𝑡 + 𝜑𝑚 )]


𝑘>0 𝑚>0

A potência ativa, eficaz, real, ou útil - 𝑃 - é a média desta potência


instantânea, sendo que esta média, após o devido cálculo, pode ainda ser dividida
em potência ativa fundamental (𝑃1 ) e potência ativa harmônica (𝑃𝐻 ).

𝑃 = 𝑃1 + 𝑃𝐻

sendo,

𝑃1 = 𝑉𝑟𝑚𝑠,1 𝐼𝑟𝑚𝑠,1 𝑐𝑜𝑠𝜃1

𝑃𝐻 = 𝑃𝑐𝑐 + ∑ 𝑉𝑟𝑚𝑠,ℎ 𝐼𝑟𝑚𝑠,ℎ 𝑐𝑜𝑠𝜃ℎ


ℎ>1

𝑃𝑐𝑐 = 𝑉0 𝐼0

Complementarmente, a potência reativa também pode ser dividida em


potência reativa fundamental (𝑄1 ) e reativa harmônica (𝑄𝐻 ).

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𝑄 = 𝑄1 + 𝑄𝐻

sendo,

𝑄1 = 𝑉𝑟𝑚𝑠,1 𝐼𝑟𝑚𝑠,1 𝑠𝑒𝑛𝜃1

𝑄𝐻 = ∑ 𝑉𝑟𝑚𝑠,ℎ 𝐼𝑟𝑚𝑠,ℎ 𝑠𝑒𝑛𝜃ℎ


ℎ>1

Observa-se, que não há, evidentemente, o termo representativo de nível


CC (ou DC).

Esta mesma norma (IEEE 1459, 2010) estabelece que a potência aparente
(𝑆) deve ser calculada por:

𝑆 = 𝑉𝑟𝑚𝑠 ∙ 𝐼𝑟𝑚𝑠

𝑆 = (√𝑉02 + ∑ 𝑉𝑟𝑚𝑠,𝑘
2
) ∙ (√𝐼02 + ∑ 𝐼𝑟𝑚𝑠,𝑘
2
)
𝑘>0 𝑘>0

Portanto, percebe-se que a potência aparente é grandemente influenciada


pela distorção, quer seja na tensão, quer seja na corrente, ou em ambas.

Tem-se, também, estabelecida por esta norma a chamada


potência não ativa (𝑁), cuja unidade é VAr e agrupa componentes de potência
não ativa fundamental e não fundamental:

𝑁 = √𝑆 2 − 𝑃 2

Observação: a potência não ativa N não deve ser confundida com uma
potência reativa, exceto quando as formas de onda de tensão e corrente são
perfeitamente senoidais.

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Uma outra formulação possível é o Modelo de Budeanu proposto pelo


pesquisador romeno de mesmo nome em 1929. Neste modelo, as potências ativa
e reativa são as mesmas já estabelecidas, todavia há a proposição da chamada
potência distorcida de Budeanu (𝐷), tendo com base o seguinte produto

( ∑ 𝑉𝑘 𝑠𝑒𝑛(𝑘𝑤1 𝑡 + 𝜑𝑘 )) ∙ ( ∑ 𝐼𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝑚𝑤1 𝑡 + 𝜑𝑚 ))
𝑘≠𝑚 𝑚≠𝑘

𝑆 2 = 𝑃2 + 𝑄2 + 𝐷2 → 𝐷 = √𝑆 2 − 𝑃2 − 𝑄2

Neste ínterim, o gráfico a seguir poderia simbolizar esta relação entre as


potências no modelo de Budeanu.

Apesar desta modelagem de Bodeanu ser amplamente difundida no ramo


da qualidade da energia, a mesma tem sido continuamente e duramente
contestada, sendo que a norma IEEE estabeleceu diretrizes mais fundamentadas
para o tratamento das potências em sistemas com distorções da forma de onda
de tensão e/ou corrente. Diante disto, este modelo não será melhor explorado.

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F. Fator de potência em sistemas distorcidos

O fator de potência (𝐹𝑃) é a medida que indica quão eficientemente uma


carga retira potência útil da fonte de alimentação, definido pela relação entre
potência útil e aparente,

𝑃
𝐹𝑃 =
𝑆

Em uma instalação com componentes puramente lineares, o fator de


potência é medido simplesmente pelo cosseno do ângulo de defasagem entre as
componentes fundamentais da tensão e corrente. Então, nesse caso, o fator de
potência é denominado fator de potência de deslocamento (𝐹𝑃1 ), ou fator de
potência fundamental:

𝑃1 𝑃1
𝐹𝑃1 = = = 𝑐𝑜𝑠𝜃1
𝑆1 √𝑃1 + 𝑄12
2

Na presença de sinais distorcidos de tensão e corrente, deve-se


considerar o chamado fator de potência total ou verdadeiro (ou true), o qual é
calculado por (IEEE):

𝑃 𝑃1 + 𝑃𝐻 𝑉0 𝐼0 + ∑(𝑘>0) 𝑉𝑟𝑚𝑠,𝑘 𝐼𝑟𝑚𝑠,𝑘 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑘


𝐹𝑃 = = =
𝑆 𝑆
(√𝑉02 + ∑𝑘>0 𝑉𝑟𝑚𝑠,𝑘
2
) ∙ (√𝐼02 + ∑𝑘>0 𝐼𝑟𝑚𝑠,𝑘
2
)

ou ainda,

𝑃0 + 𝑃1 + 𝑃2ℎ + 𝑃3ℎ + 𝑃4ℎ + ⋯


𝐹𝑃 =
𝑉𝑟𝑚𝑠,1 𝐼𝑟𝑚𝑠,1 (√1 + 𝐷𝑇𝑇 2 ) ∙ (√1 + 𝐷𝑇𝐼2 )

Todavia, caso seja considerado a expressão de Budeanu, o mesmo será

𝑃
𝐹𝑃 =
√𝑃2 + 𝑄2 + 𝐷2

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Em geral, o fator de potência verdadeiro, seja usando IEEE ou Budeanu, é


maior que o fator de deslocamento.

E, vale ainda ressaltar, que o PRODIST da ANEEL e os Procedimentos de


Rede do ONS, consideram, para efeito de controle e correção, o fator de potência
de deslocamento (ou fundamental) e não o fator de potência verdadeiro (ou
total). Todavia, o tema ainda é foco de discussão neste âmbito.

5. Regulamentos e normas

Diante das problemáticas que os harmônicos podem causar no sistema


elétrico, sobretudo, às cargas especiais nele conectadas e, levando-se em conta o
grande aumento de cargas potencialmente poluidoras no sistema de potência
atual, normas e recomendações fazem-se necessárias. Tais documentos
estabelecem valores de referência ou limites para as distorções de tensão e/ou
corrente presentes nos sistemas elétricos. Dentre as diversas normas, padrões e
recomendações, destacaremos neste momento as seguintes:

 Procedimentos de Distribuição – PRODIST/ANEEL;


 Procedimentos de Rede – PROREDE/ONS;
 IEEE Std. 519-1992, Recommended Practices and Requirements for
Harmonic Control in Electrical Power Systems;
 IEC 61000, EMC Electromagnectic Compatibility.

A. Procedimentos de Distribuição (ANEEL)

Os valores estabelecidos no PRODIST para as distorções harmônicas


compreendem tão somente os vinculados às tensões e são, em verdade, por
enquanto, valores de referência. Ou seja, são valores orientativos e não
limitantes (obrigatórios). Os mesmos são apresentados abaixo.

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Nota-se que os valores de referência individuais são organizados em 3


agrupamentos: harmônicos pares, ímpares múltiplos de 3 e ímpares não
múltiplos de 3.

Não há qualquer menção a valores limites ou mesmo de referência para


harmônicos de correntes.

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B. Procedimentos de Rede (ONS)

Neste documento há o estabelecimento, diferentemente do PRODIST, de


valores limites a serem atribuídos tão somente à rede básica. Apenas para a
grandeza tensão elétrica é referida.

Os limites globais do PROREDE são definidos em inferiores (tabela anterior) e


superiores (veja observação acima), os quais, por sua vez, estabelecem que:

 valores abaixo dos limites inferiores são tidos como adequados;


 valores entre os limites inferiores e superiores, o indicador é considerado
sob observação;
 valores maiores que os limites superiores são tidos como inadequados.

Vale ainda ressaltar que os limites globais consideram todos consumidores,


enquanto os individuais apenas um consumidor

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C. IEEE Std. 519-1992

Esta é o principal documento internacional balizador de questões


atreladas às distorções harmônicas. O mesmo defende a:

 A limitação da injeção de harmônicos de corrente para


consumidores individuais, de modo que não causem níveis de
distorção de tensão inaceitáveis segundo o tamanho do
consumidor;
 E a limitação da distorção harmônica total da tensão do sistema
suprido pela concessionária.

Diante disto, há a definição, nesta norma, de valores de referência para as


distorções de tensão e também de corrente, conforme abaixo destacado.

Limites de Corrente (Consumidores):

Para ilustrar a aplicação dos limites definidos na tabela anterior,


considere os seguintes dados para um determinado barramento: curto-circuito
de 108MVA e tensão nominal de 13,8kV; carga do consumidor de 1,5MVA. Então,
ISC/IL = 108/1,5 = 72, o que leva ao intervalo entre 50 e 100, ou seja, limite de

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12% para a distorção da corrente de demanda (TDD). Sendo TDD calculado


dividindo a corrente harmônica pela corrente de demanda da instalação.

Limites de Tensão (Concessionárias):

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D. IEC 61000

A IEC 61000 possui a seguinte estrutura geral:

Esta norma traz limites para as distorções de tensão e para correntes


emitidas por equipamentos. A mesma define inclusive valores de injeção
harmônicas de equipamentos elétricos em geral. Outro ponto importante deste
documento está atrelado a questões de regras de acesso de geração distribuída
(eólica e fotovoltaica) no quesito injeção harmônica de correntes e também à
chamada agregação de correntes de fontes individuais de geração distribuída
(somatório de correntes harmônicas).

Esta norma não será melhor explorada aqui devido à limitação de tempo,
contudo pode ser acessada no endereço http://www.iec.ch/emc.

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E. Revisão do PRODIST (ainda em discussão)

O Módulo 8 dos Procedimentos de Distribuição – Módulo de QEE – está


passando por um processo de revisão. E, no momento, está aberta uma consulta
pública pela ANEEL (Nº 18/2014).

Link da Consulta:
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/consulta_publica/detalhes_consulta.cfm?Id
ConsultaPublica=269

Definição ANEEL: “A Consulta Pública é um instrumento administrativo


de competência dos líderes das unidades organizacionais da ANEEL para apoiar
as atividades na instrução de processos de regulamentação e fiscalização ou na
implementação de suas atribuições específicas.”

Como a consulta ainda está aberta, as regras, abaixo apresentadas, não


está valendo e, até mesmo, poderá sofrer alterações.

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6. Origens das distorções harmônicas

A presença das distorções harmônicas no sistema elétrico de potência,


conforme já afirmado, são devido à cargas não lineares, as quais tem aumentado
de forma substancial nos sistemas elétricos durante as últimas décadas. Existem
estudos que apontam que atualmente cerca de 70% das cargas conectadas na
rede são potencialmente geradoras de harmônicos. Podemos classificá-las em 2
grandes grupos, a saber:

 Cargas de conexão direta ao sistema:


o Transformadores
o Geradores e motores
o Fornos a arco
o Compensadores do tipo reator saturado
o Lâmpadas de descarga
o Micro-ondas; etc.
 Cargas conectadas via conversores:
o Retificadores (para motores CC, processos de eletrólise,
carregadores de baterias ou outros)
o Inversores (para motores de indução)
o Dispositivos soft-starters
o Fornos de indução
o Dimmers
o Lâmpadas fluorescentes compactas e eletrônicos
o Eletrodomésticos com fonte chaveada (TV, PC’s, etc.)
o Aparelhos condicionadores de ar modernos (do tipo split)
o Duchas com controle linear/discreto de temperatura
o Fornos de indução controlados por reatores saturados
o Cargas de aquecimento controladas por tiristores
o Velocidade de motor CA controlado por tensão de estator
o Reguladores de tensão a núcleo saturado
o UPS/Nobreaks; etc.

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Na sequência são apresentadas algumas típicas formas de onda advindas


dos principais dispositivos geradores de distorções harmônicas.

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7. Efeitos

Ao longo deste estudo já foram apresentados alguns dos efeitos danosos


das correntes harmônicas nos sistemas de potência, tais como elevação da
corrente de neutro e aumento das perdas nos condutores. Contudo, há muitos
outros efeitos causados pela presença de componentes harmônicas, tais como:

 sobreaquecimento de transformadores e motores


 baixo fator de potência (true power factor)
 correntes no neutro podem igualar ou exceder as correntes de fase
 atuação intempestiva de dispositivos de proteção (disjuntores,
chaves seccionadoras) sem causa detectável
 estresse, com possível avaria de capacitores de correção do fator
de potência
 aumento das tensões de neutro-terra
 aumento da temperatura nos condutores, devido ao aumento da
corrente eficaz e aumento das perdas joulicas
 estresse térmico, devido ao fluxo de correntes harmônicas
 estresse no isolamento, devido à ação de tensões harmônicas
 aumento de vibração em máquinas elétricas
 possibilidade de ruído audível (+/-3kHz)
 aumento do cruzamento por zero da tensão e/ou corrente o que
pode provocar mau funcionamento de equipamentos eletrônicos
 interferência em relés de proteção, cuja operação é baseada em
tensão/corrente de pico ou tensão zero
 queima de fusíveis sem sobrecarga aparente
 queima de motores de indução (ou diminuição da vida útil dos
mesmos)
 influência nas reatâncias indutiva e capacitiva, podendo provocar
ressonâncias série e paralela (conforme será melhor detalhada)
 perda de dados em equipamento eletrônicos e computacionais

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 interferência nos sistemas telefônicos e de comunicação


 flutuação/sombreamento da imagem em vídeos
 etc.

Podemos distinguir dois grupos de efeito:

 Imediatos, como disparos indevidos de relés, queima de fusíveis,


flutuação de imagem, mau funcionamento de controladores, etc.
 De longo prazo, como aquecimento dos capacitores, cabos,
equipamentos, transformadores e máquinas rotativas; ruídos,
vibrações, etc.

Os harmônicos, de uma forma geral, provocam aumento de perdas (no


cobre, ferro e dielétrico) e redução de vida útil de equipamentos. Já
equipamentos sensíveis podem sofrer operação indevida ou mesmo falhas de
componentes.

Por exemplo, efeitos em um motor de indução:

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Quando geradores elétricos estão alimentando cargas não lineares, os


fabricantes recomendam a redução de potência (procedimento chamado
derating) segundo o nível de distorção harmônica total de corrente da carga. O
mesmo processo também é empregado em transformadores

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Em bancos de capacitores, usados em geral para correção do fator de


potência, a presença de harmônicos pode elevar a tensão sobre os mesmos
(devido à soma dos picos) provocando queimas devido à sua sensibilidade com
as variações de tensão ou, ainda, podem ocorrer ressonâncias destes com a
indutância do sistema elétrico, gerando elevadas correntes, o que também pode
levar à queima.

Onde, fr é a frequência de ressonância, f1 é a fundamental e far é chamada


frequência anti-ressonante

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Ressonâncias Paralelas:

Desconsiderando 𝑅𝑡𝑜𝑡 , para simplificação da análise, temos:

𝑋𝑡𝑜𝑡 𝑋𝐶
𝑍̇ =
𝑗𝑋𝑡𝑜𝑡 − 𝑗𝑋𝐶

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Esta ressonância paralela pode, a grosso modo, ser calculada como

𝑆𝑐𝑐
ℎ𝑟 = √
𝑄𝑏𝑐

Ressonâncias Séries:

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𝑍̇ = 𝑗𝑋𝑡 − 𝑗𝑋𝐶

Para se evitar ressonâncias, algumas medidas podem ser tomadas, como:

 variar a potência do banco de capacitores a fim de alterar a


frequência de ressonância
 chavear módulos de capacitores para permitir flexibilidade e
mudança na frequência ressonante
 fazer um estudo para realocação dos bancos de capacitores de
modo a minimizar a possibilidade de ressonâncias

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8. Mitigação

As distorções harmônicas estão presentes, em maior ou menor proporção,


em todos os sistemas de potência. Em geral, os harmônicos de tensão e corrente
devem ser mitigados somente quando ultrapassam os limites normatizados e
tornam-se problema.

As opções mais comuns de estratégias para controlar os harmônicos são:

1. reduzir ou eliminar as correntes harmônicas em equipamentos nos


sistemas de potência, em especial conversores de potência,
transformadores e, geradores;
2. modificar a resposta em frequência dos sistema; e
3. adicionar filtros para drenar as correntes harmônicas (filtro
passivo) ou anular (filtro ativo), retirando-as do sistema,
bloqueando-as ou impedindo-as de entrar no sistema, ou suprindo
as correntes harmônicas localmente.

i) Redução de correntes harmônicas

Certos procedimentos e métodos podem ser aplicados para controlar,


reduzir ou eliminar harmônicos decorrentes de equipamentos saturáveis e não
lineares nos sistemas de potência.

Bobinas Chokes:

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Associação de conversores estáticos de potência:

Obs: transformadores com polarização aditiva (explicar cancelamentos).

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Onde P é o número de pulsos e k = 1, 2, 3, 4, ...

Conexão de transformadores:

A simples conexão de transformadores Delta-Estrela pode levar à


mitigação do harmônico de ordem zero, ou seja, aqueles múltiplos de 3 em
sistemas equilibrados. Outras possibilidades também são factíveis envolvendo
transformados com enrolamento Zig-Zag.

Máquinas rotativas:

A fem (força eletromotriz induzida) em geradores trifásicos não são


puramente senoidais, já que, para isso, as espiras dos enrolamentos do estator da
máquina necessitariam ser distribuídas uniformemente ao longo da
circunferência, e não alojadas em ranhuras discretas.

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A distribuição de enrolamentos e o fracionamento do passo das bobinas


são úteis para reduzir ou eliminar os harmônicos produzidos. Portanto, um bom
projeto de máquina elétrica poderá minimizar as distorções ali encontradas.

ii) Modificar as características de resposta em frequência

Em sistemas elétricos de potência, com presença de distorções


harmônicas, é muito importante o conhecimento da resposta do sistema às
fontes harmônicas. Para tanto, são imprescindíveis o conhecimento da
impedância harmônica deste sistema, vista a partir da barra sob avaliação. Tal
impedância é comumente conhecida como Z(w).

Os principais elementos que afetam as características de resposta em


frequência do sistema às fontes de harmônicos (impedância harmônica) incluem:

 banco de capacitores e locais de conexão dos mesmos;


 arranjo do sistema elétrico (das linhas, etc.);
 características de linhas, cabos e cargas;
 circuitos de filtro harmônicos existentes.

A modificação das características da resposta em frequência dos sistemas


pode ocorrer através de diversos meios, entre os quais, podem-se destacar a
realocação de cargas capacitivas, a mudança de tap’s de transformadores,
alteração de impedância de linhas, alterações de níveis de curto-circuito, etc. Tais
alterações visa fazer com que o sistema atue sem que haja ressonâncias séries ou
paralelas.

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iii) Filtros harmônicos

Este é, sem dúvidas, o principal meio de se mitigar harmônicos em


sistemas de potência. Os filtros harmônicos podem ser classificados como se
segue em:

 filtros harmônicos passivos


o sintonizados
o amortecidos
 filtros harmônicos ativos

Filtros passivos sintonizados:

Estes filtros são sintonizados em uma ou mais frequência(s) específica(s).

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O filtro acima (sintonizado em uma frequência) é o mais amplamente


empregado devido à sua simplicidade e ao seu baixo custo. E como abaixo da
frequência de sintonia o mesmo possui características capacitivas, o mesmo é
comumente utilizado, concomitantemente, para correção de fator de potência.

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(mostrar equações dos filtro e relações R+jX)

Filtros passivos amortecidos:

Os filtros amortecidos são filtro do tipo passa baixa, ou seja, filtram uma
extensa faixa de frequências após uma frequência de sintonia.

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Este filtro tipo C tem ganhado muito espaço no mercado nestes últimos
anos, pois o mesmo, na frequência fundamental, é especificado para apresentar
uma característica de circuito puramente capacitivo.

Filtros ativos:

Usam de eletrônica de potência e possuem preços bem elevados.

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No circuito anterior, há a mitigação dos harmônicos de tensão que entram


na unidade consumidora, enquanto no arranjo a seguir verifica-se o tratamento
da corrente que sai das cargas não lineares existentes neste consumidor.

UPQC - Unifeid Power Quality Conditioner (Condicionador Unificado de Energia)

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VI. FLUTUAÇÕES DA TENSÃO:

1. Conceituação

As flutuações de tensão é o último fenômeno de QEE a ser, nesta


disciplina, abordado. O mesmo conferi impactos relevantes tanto para pequenos
consumidores residenciais quanto para grandes indústrias, nos mais variados
tipos de processos.

Segundo o PRODIST, a flutuação de tensão é uma variação aleatória,


repetitiva ou esporádica do valor eficaz da tensão.

Contudo, as flutuações de tensão podem ser melhor definidas como


variações repetitivas, aleatórias ou esporádicas do envelope da onda de tensão,
geralmente provocadas pela operação de cargas com características de
alterações rápidas e bruscas nas magnitudes das potências ativa e reativa como,
por exemplo, devido a atuação de fornos a arco, laminadores e outros.

As flutuações de tensão, de uma maneira geral, estão mais fortemente


relacionadas as variações bruscas e rápidas na amplitude, mais especificamente,
da componente de potência reativa, conforme será, na sequência, equacionado.

Vale salientar, que o fenômeno da flutuação de tensão começou,


recentemente, a ser analisado sob um novo enfoque, notadamente no que diz
respeito à presença de componentes inter-harmônicas nos sinais de tensão das
redes de energia elétrica.

As figuras abaixo ilustram exemplos de flutuações senoidal e aleatória da


onda de tensão, com detalhamento dos envelopes de modulação. Na prática, o
comportamento do envelope de modulação é totalmente aleatório em termos de
frequência e amplitude de modulação (ver segunda figura).

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Vale também ressaltar que, comumente, o termo flutuação de tensão e


cintilação luminosa (em inglês: flicker) são utilizados como representativos de
um mesmo fenômeno. Porém, existe uma diferença importante entre as duas

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terminologias. Assim, o fato de um determinado sinal de tensão apresentar


flutuação não significa necessariamente que tal flutuação resulte em uma
cintilação luminosa visível para a maioria dos observadores. Na verdade, o
fenômeno da cintilação luminosa deve ser considerado como sendo apenas um
dos vários efeitos relacionados com as flutuações de tensão, conforme será
melhor descrito mais adiante.

2. Causas

Atualmente podemos considerar que as flutuações de tensão nos sistemas


elétricos podem ser originadas de duas formas distintas:

a) Através da operação de cargas com características de alterações


rápidas e bruscas nas magnitudes das potências ativa e reativa
como, por exemplo, verificado nos fornos elétricos a arco, assim
como nos laminadores;
b) Através da superposição de componentes inter-harmônicas ao
sinal de tensão na frequência fundamental, comumente geradas
por ciclo-conversores e demais cargas de dupla conversão.

O surgimento do fenômeno da flutuação de tensão em função da operação


de cargas, relacionadas com alterações rápidas e bruscas nas amplitudes da
potência requerida, merece um maior detalhamento. Assim, considere o modelo
simplificado representativo da conexão de uma carga que possui uma dinâmica
de funcionamento que leva à flutuações de suas potências ativa e reativa,
conforme indicação abaixo.

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Esta última equação mostra que as amplitudes das variações e flutuações


de tensão estão fortemente relacionadas à variação da componente reativa das
cargas flutuantes.

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Além dos processos anteriormente citados, pode-se, ainda, destacar como


eventuais causas de flutuação de tensão: aparelhos de raio-x, tomógrafos,
entrada de banco de capacitores (automáticos), ferrovias eletrificadas, entre
outros.

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3. Efeitos

De uma maneira geral, as flutuações de tensão podem causar uma série de


efeitos indesejáveis nas redes elétricas, ocasionando falhas e interrupção de
processos. Todos os efeitos relacionados às flutuações de tensão podem
provocar perdas financeiras, em maior ou menor intensidade, seja através do
comprometimento dos processos de produção, seja pelo aumento dos custos de
manutenção ou perda de material.

Apesar de haver diversos efeitos que podem ser associados às flutuações


de tensão nas redes elétricas, o efeito denominado cintilação luminosa, ou flicker,
é o mais conhecido. Inclusive, e principalmente no Brasil, o termo flutuação de
tensão é comumente confundido com o fenômeno da cintilação luminosa.
Contudo, vale mais uma ressaltar que o efeito visual das flutuações de tensão
compõe apenas um dos diversos efeitos relacionados à flutuação da amplitude da
onda de tensão.

A seguir, serão apresentados os principais efeitos associados às


flutuações de tensão nos sistemas de energia elétrica.

Efeitos em máquinas elétricas: as flutuações de tensão nos terminais de


um motor de indução, principalmente com frequências situadas entre 0,2 e
2,0Hz, podem, muito raramente, causar oscilações eletromecânicas, com
consequentes variações no torque e no escorregamento da máquina, afetando o
processo de produção ao qual a máquina em questão se destina. Nos casos mais
severos, podem surgir vibrações excessivas, resultando em uma fadiga mecânica
do motor e a redução de sua vida útil.

Efeitos em retificadores e inversores: os efeitos mais comuns das


flutuações de tensão em retificadores e inversores de frequência estão
relacionados com a geração de harmônicas não características, assim como a
geração de componentes de frequências inter-harmônicas. No pior caso, a

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existência de flutuações de tensão nos terminais destes equipamentos pode


resultar desde falhas de comutação até a perda total do processo de conversão.

Efeitos em equipamentos de aquecimento: na presença de níveis


consideráveis de flutuações de tensão, leva à uma perda significativa de
eficiência de praticamente todos equipamentos de aquecimento, tais como:
estufas, fornos a arco e fornos a indução. Em função destes problemas, estes
equipamentos podem requerer tempos maiores para cada ciclo de operação,
aumentando-se os custos envolvidos em cada processo.

De uma maneira geral, as flutuações de tensão e as componentes de


tensão inter-harmônicas estão fortemente relacionadas, de modo que todos os
efeitos associados às componentes de frequências inter-harmônicas estão
também associados às flutuações de tensão nos sistemas elétricos. Assim, pode-
se citar:

 Falhas de sensores e equipamentos de comando elétrico que


operam através da identificação da passagem por zero ou de pico
dos valores instantâneos da tensão e/ou corrente elétrica;
 Aquecimento adicional em máquinas e condutores devido ao
incremento de parcelas de perdas joulicas;
 Saturação de transformadores de corrente;
 Interferência em sistemas de telecomunicação;
 Incremento de vibrações mecânicas e ruídos audíveis;
 Cintilação luminosa, ou flicker.

O efeito da cintilação luminosa (flicker), em função talvez de sua


percepção direta por parte da maioria dos observadores humanos, é o mais
discutido e analisado mundialmente, tendo sido este o objeto de vários trabalhos
técnicos ao longo dos anos. A própria metodologia de quantificação de flutuações
de tensão, atualmente utilizada em vários países do mundo incluindo o Brasil, é
baseada substancialmente neste particular efeito do fenômeno da flutuação de

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tensão. Assim sendo, e por sua relevância sob vários aspectos, a questão da
cintilação luminosa será abordada com mais detalhes no próximo item do
presente capítulo.

4. Efeito Flicker (cintilação luminosa)

Na sequência, tem-se detalhado o surgimento do efeito de cintilação


luminosa (flicker) a partir do fenômeno de flutuação de tensão.

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A forma de se quantificar o efeito Flicker está diretamente relacionado


com a maneira que as normais atuais medem (aferem) o fenômeno de flutuação
de tensão, por isso, a seguir, tem-se um detalhamento de tal procedimento.

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5. Medição do efeito Flicker (flickermeter)

[material Arnaldo em anexo]

6. Mitigação

Existem diversas formas de mitigação dos principais problemas causados


pelas flutuações de tensão nos sistemas elétricos de potência. A escolha da
melhor solução, para uma determinada instalação elétrica, depende
essencialmente do tipo do efeito associado. O custo da solução é um fator de
análise primordial, podendo, em muitas das vezes, representar uma parcela
significativa do investimento realizado em toda a planta elétrica. Por esse
motivo, a análise do problema da flutuação de tensão deve ser realizada ainda, se
possível, durante a fase de planejamento das instalações.

Em termos práticos, a solução para mitigação das flutuações de tensão


deve ser buscada dentro das próprias plantas industriais, de onde se originam
tais perturbações. Para os casos em que o problema da flutuação de tensão não
tenha uma origem muito bem identificada, a mitigação da anomalia poderá ser
realizada pela concessionária de energia elétrica local, de distribuição ou
transmissão, sendo os custos associados repassados diretamente para as tarifas
de energia elétrica. Contudo, se a origem das flutuações for seguramente
identificada, a solução para o problema deverá ser implementada nas próprias
instalações da carga comprovadamente perturbadora. Isto não impede,
entretanto, que a solução física seja implementada na própria rede da
concessionária local, e por iniciativa da mesma, sendo então os custos associados
repassados diretamente ao consumidor industrial responsável pelas
perturbações.

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A seguir são apresentadas as principais formas de mitigação da flutuação


de tensão nos sistemas elétricos, considerando-se a origem do problema
associado à operação de cargas com potência variável como fornos a arco,
laminadores, etc.

Elevação do nível de curto-circuito: o nível de curto-circuito em um


determinado barramento elétrico é um indicador natural da proximidade
elétrica dos geradores de energia ou, em outros termos, da robustez do sistema
elétrico. Considerando-se o equacionamento segundo o qual resultou a equação
ressaltada anteriormente, pode-se facilmente verificar que com o aumento dos
níveis de curto-circuito (Scc), a amplitude das variações de tensão diminui na
mesma proporção.

Aumentando-se o nível de curto-circuito nos terminais da carga ocorre


uma diminuição da variação/flutuação de tensão, para uma mesma amplitude de
variação de carga. Nesse sentido, têm-se as seguintes alternativas para elevação
dos níveis de curto-circuito nos terminais da carga:

 melhoramento dos condutores (recondutoramento) do circuito de


alimentação da planta industrial, de forma a reduzir a impedância
série do circuito, elevando-se os níveis de curto circuito;
 elevação dos níveis de tensão de fornecimento, reduzindo-se a
corrente de linha;
 implementação de sistema de compensação série no circuito de
alimentação da planta industrial, de forma a reduzir a impedância
série do circuito, elevando-se os níveis de curto-circuito;
 duplicação do circuito de alimentação da planta industrial,
reduzindo-se a impedância série do mesmo e elevando-se o nível
de curto-circuito;
 instalação de compensador síncrono (motor-gerador elétrico com
flywheel).

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As soluções apresentadas acima possuem custos envolvidos


substancialmente elevados. No caso específico da implementação de um sistema
de compensação série, cuidados especiais devem ser tomados com o intuito de
não se possibilitar a ocorrência de ressonância série no sistema, o que poderia
excitar frequências de oscilação subsíncronas em equipamentos rotativos, com
possíveis danos aos mesmos.

Instalação de compensadores estáticos e autocomutados: além das


soluções já apresentadas, as quais promovem a elevação direta dos níveis de
curto-circuito nos terminais da carga, existem ainda métodos modernos de
mitigação das flutuações de tensão baseados em compensadores estáticos com
excelentes tempos de resposta. Dentre os principais compensadores estáticos,
podem-se citar:

 capacitor chaveado a tiristores (CCT);


 reator controlado a tiristores (RCT);
 reator controlado e capacitor fixo (RCT + C)
 soluções mistas (RCT + CCT);
 compensador autocomutado (STATCOM – Shunt Voltage Control).

O capacitor chaveado a tiristores tem sido usado principalmente por sua


capacidade de também corrigir o fator de potência das instalações. Para o caso
de instalações com fornos a arco e laminadores o fator de potência associado é
geralmente baixo, da ordem de 70 e 80% indutivos. Apesar de rápido, quando
comparado aos equipamentos tradicionais de regulação de tensão, o CCT possui
uma limitação na velocidade de resposta, necessária para limitar o transitório de
chaveamento sob tensão variável.

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Instalação de reatores a núcleo saturado: os reatores a núcleo saturado


compreendem uma solução muito utilizada no passado para atenuação das
flutuações e variações de tensão em função da operação de cargas variantes no
tempo. Este equipamento é um dispositivo eletromagnético, dimensionado de
forma a operar na região de saturação magnética do núcleo, e conectado em
paralelo com a carga variável. Devido à característica V versus I do reator
saturado ser quase plana na região de saturação, como indicado na figura abaixo,
este equipamento pode acomodar grandes variações de carga (corrente)
resultando em pequenas variações de tensão. Assim, o reator saturado absorve
as variações de potência reativa da carga e, ao mesmo tempo, confere uma boa
regulação de tensão nos terminais de conexão. Como essa ação reguladora é
intrínseca, não requerendo nenhuma malha de controle adicional, diz-se que o
reator a núcleo saturado possui capacidade de auto-regulação de tensão.

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Existem ainda algumas desvantagens que comprometem a relação custo x


benefício deste tipo de solução, como:

 perdas ferromagnéticas elevadas devido à operação do núcleo sob


saturação, gerando problemas de aquecimento;
 geração de ruídos audíveis;
 geração de harmônicas de corrente devido a não-linearidade da
característica V versus I do material ferromagnético do núcleo do
reator;
 baixo fator de potência, quando da não instalação de bancos de
capacitores fixos.

O quadro a seguir apresenta um resumo das vantagens e desvantagens


relacionadas aos principais métodos de atenuação das flutuações de tensão.

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VII. VARIAÇÕES DE TENSÃO DE CURTA DURAÇÃO:

1. Conceitos e definições

As variações de tensão de curta duração, amplamente conhecidas pela


abreviação VTCD's, são, conforme PRODIST, desvios significativos no valor eficaz
da tensão em curtos intervalos de tempo. As mesmas são assim classificadas:
elevação (ou swell), afundamento (ou sag, ou dip) e interrupção, podendo ainda
serem momentâneas ou temporárias. Obs: não há menção ao termo
"instantâneas' no PRODIST.

Os fenômenos de VTCD’s, portanto, podem ser classificados, quanto à


magnitude de tensão do evento em:

 Interrupção: 𝑉 < 0,1𝑝𝑢


 Afundamento: 0,1𝑝𝑢 ≤ 𝑉 < 0,9𝑝𝑢
 Elevação: 𝑉 > 1,1𝑝𝑢

E, complementarmente, quanto ao tempo de duração do fenômeno:

 Variações momentâneas de tensão:


o Interrupção: 𝑡 ≤ 3𝑠
o Afundamento: 1𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 ≤ 𝑡 ≤ 3𝑠
o Elevação: 1𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 ≤ 𝑡 ≤ 3𝑠
 Variações temporárias de tensão:
o Interrupção : 3𝑠 ≤ 𝑡 ≤ 3𝑚𝑖𝑛.
o Afundamento: 3𝑠 ≤ 𝑡 ≤ 3𝑚𝑖𝑛.
o Elevação: 3𝑠 ≤ 𝑡 ≤ 3𝑚𝑖𝑛.

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A tabela abaixo sintetiza estas diferenciações dos fenômenos. A mesma é


proveniente do PRODIST.

Obs: conforme já foi visto, são consideradas interrupções sustentadas (para


efeito de cálculo de DEC, FEC, etc.) variações de tensão abaixo de 0,7pu, porém,
neste caso, para eventos acima de 3 minutos. Já para VTCD's, as interrupções são
variações inferiores a 0,1pu em intervalo de tempo abaixo ou igual a 3 minutos.

A tabela a seguir traz a terminologia usada (a título de informação):

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2. Metodologia de medição

As VTCD's devem ser medidas entre fase e neutro dos barramentos do


sistema de distribuição. E, conforme estabelecido no PRODIST, além dos
parâmetros duração e amplitude já definidos, a severidade da VTCD é também
caracterizada pela frequência de ocorrência. Esta severidade corresponde à
quantidade de vezes que cada combinação dos parâmetros duração e amplitude
ocorrem em um determinado período de tempo ao longo do qual o barramento
tenha sido monitorado.

O indicador a ser utilizado para o estabelecimento do desempenho de um


determinado barramento do sistema de distribuição com relação às VTCD's
corresponde ao número de eventos agrupados por faixas de amplitude e de
duração, discretizados conforme critério estabelecido a partir de levantamento
de medições.

Num determinado ponto de monitoração, uma VTCD é caracterizada a


partir da agregação dos parâmetros amplitude e duração de cada evento fase-
neutro. Assim sendo, tem-se

 Eventos fase-neutro simultâneos são primeiramente agregados


compondo um mesmo evento no ponto de monitoração
(agregação de fases);
 Os eventos consecutivos, em um período de três minutos, em um
mesmo ponto, são agregados compondo um único evento
(agregação temporal);
 O afundamento ou a elevação de tensão equivalente do intervalo
de três minutos será aquela de menor ou de maior amplitude da
tensão, respectivamente;
 A agregação de fases deve ser feita pelo critério de união das fases,
ou seja, a duração do evento é definida como o intervalo de tempo
decorrido entre o instante em que o primeiro dos eventos fase-

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neutro transpõe determinado limite e o instante em que o último


dos eventos fase-neutro retorna para determinado limite.

Afundamentos e elevações de tensão devem ser tratados separadamente.


Já os instrumentos de medição devem observar o atendimento aos protocolos de
medição e às normas técnicas vigentes.

As distribuidoras devem acompanhar e disponibilizar, em bases anuais, o


desempenho das barras de distribuição monitoradas. Tais informações poderão
servir como referência de desempenho das barras de unidades consumidoras
atendidas pelo SDAT e SDMT (Sistemas de Distribuição de Alta Tensão e Média
Tensão, respectivamente) com cargas sensíveis a variações de tensão de curta
duração.

3. Origem do fenômeno

Os (ou "As") VTCD’s são tipicamente causados por faltas e


energização/desenergização de grandes cargas. Em geral, os religadores
automáticos limitam as interrupções causadas por faltas não-permanentes em
intervalos menores que 30 ciclos (0,5 segundos), o que leva à um número maior
de eventos com estas características, uma vez que é grande o número de eventos
no sistema de distribuição de característica não-permanente.

A seguir tem um estudo recente das características das origens dos


problemas (defeitos) no sistema elétrico de potência que causam paradas no
processo produtivo industrial, enfatizando a rede de distribuição.

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No que se refere às faltas geradoras de VTCD’s, estas são assim tipificadas


(dados programa de Pós-graduação UFMG):

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Pode-se, desde já, afirmar que as principais causas de VTCD’s são:

 curto-circuitos;
 rejeição de cargas;
 partida de motores;
 energização de banco de capacitores;
 entre outros.

A causa mais comum de afundamento na rede de distribuição é uma falta


à montante com reflexos na tensão de suprimento de outras instalações. É o caso,
por exemplo, de um curto-circuito fase-terra no circuito de distribuição em
média tensão da concessionária, que causará um afundamento da fase defeituosa
na alimentação dos consumidores ligados a este circuito.

A situação persistirá até que seja eliminada a causa do defeito (por


exemplo; um galho de árvore em contato com partes vivas e terra), ou que haja a
atuação da proteção com o desligamento do circuito. Situação semelhante é
verificada quando a falta ocorre em um consumidor e verificam-se reflexos nos
vizinhos que compartilham a mesma rede.

Os afundamentos por razões internas aos consumidores são em geral


provocados por partidas de grandes motores que consomem grandes volumes de
energia reativa e que não são suportadas adequadamente pelas redes e circuitos

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de distribuição, normalmente, em função de baixa potência de curto-circuito do


seu conjunto.

Localização das faltas no sistema elétrico de potência causadoras de má


operação de equipamentos elétricos.

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Os gráficos da forma de onda apresentam apenas os primeiros 180ms do evento.

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Nesta figura: curto circuito fase-terra (não eliminado pela proteção), seguido de curto
trifásico (proteção atuou). Na sequência, um aparente sobrecarregamento do sistema
remanescente (verificado pela subtensão temporária ou afundamento) e,
consequentemente, o desligamento do sistema remanescente.

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4. Efeitos

Os VTCD's podem levar os equipamentos à um mau funcionamento, no


caso de afundamentos e interrupções e, por outro lado, pode levar à danos
irreparáveis (queima), no caso das elevações. Neste contexto, as curvas de
suportabilidade e sensibilidade discutidas no capítulo sobre transitórios são
também aqui requeridas para avaliação dos possíveis problemas gerados por
estes fenômenos.

Entre os fatores que levam à um aumento da importância dessa temática,


destacam-se:

 aumento nos últimos anos do número de reclamações por parte de


consumidores em geral a respeito de problemas envolvendo
VTCD’s;
 elevação do número de cargas sensíveis em todos os segmentos de
consumo (residencial, comercial e industrial), principalmente
baseadas em eletrônica de potência e também aumento da
sensibilidade de várias cargas;
 as indústrias passaram a utilizar de forma mais ampla plantas
contendo alto grau de automação objetivando-se, assim, entre
outros, a melhoria da produtividade (computadores,
microcontroladores e outras cargas eletrônicas constituem-se no
cerne da questão);
 entre outros.

A seguir algumas diferentes curvas de suportabilidade de equipamentos


no que tange aos estresses dielétricos em televisores e aparelhos de som.

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Curvas de suportabilidade dielétrica para televisores

Curvas de suportabilidade dielétrica para aparelhos de som

De forma complementar, temos abaixo algumas curvas de sensibilidade


de alguns equipamentos industriais estudados pelo LACTEC (Curitiba/PR).
Nestas curvas tem-se o estado de má operação, possibilidade de falha e (certeza
de) falha do processo produtivo avaliado, além da curva ITIC.

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Na sequência, tem-se um típico efeito resultante de um swell em um


dispositivo do tipo ASD (retificador/elo CC/inversor).

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Por fim, o efeito de um afundamento de tensão em um conversor de


frequência da Siemens (estudo retirado da tese de Fernando Belchior).

Tensão de Entrada do Conversor - Experimental

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Tensão no Elo CC do Conversor - Experimental

Tensão na Saída do Conversor - Experimental

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Variação da Velocidade da Carga Acionada pelo Conjunto Conversor-Motor

No que diz respeito à relevância financeira dos VTCD’s, estudos mostram


que problemas na qualidade da energia elétrica geram grandes prejuízos para a
indústria dos EUA, em especial VTCD’s, a exemplo:

 Controle de tráfego aéreo: perda de controle em um grande


aeroporto pode custar US$15.000/minuto;
 Fabricante de compressores: afundamentos e interrupções custam
em torno de US$1.700.000/ano;
 DuPont: economizou US$75 milhões/ano implementando solução
de qualidade de energia;
 Indústria automotiva: interrupções momentâneas custam em
torno de US$10 milhões/ano;
 Vale do Silício - Califórnia EUA: “uma empresa perdeu mais de
US$3 milhões em um único dia” devido à VTCD's;
 Indústria de papel: um afundamento de tensão pode levar a perda
de um dia inteiro de produção – US$250.000/evento;
 Indústria de alimentos e bebidas: o custo típico de afundamento é
de US$87.000/ano.

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5. Áreas de vulnerabilidade e propagação

O conceito de área de vulnerabilidade foi desenvolvido para ajudar na


avaliação da probabilidade de equipamentos sensíveis aos fenômenos de
afundamentos de tensão atingir sua mínima tensão de operação, ou ainda, sua
capacidade de mínima de tensão de funcionamento em condições seguras.
Abaixo deste valor mínimo de tensão (formadora da curva de sensibilidade) o
equipamento entra no estado de má operação ou de possibilidade de mau
funcionamento.

Tem-se, abaixo, um exemplo de gráfico espacial de vulnerabilidade do


sistema elétrico para VTCD’s no tocante à ASD's (adjustable speed drives –
controladores de velocidade de motores) e motores de indução.

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Esta figura anterior também é conhecida como área de imunidade ou


limite de suceptibilidade de equipamento quanto a afundamentos no sistema
elétrico de potência.

Os equipamentos, conforme já mencionado, possuem diferentes níveis de


sensibilidade quanto a afundamentos de tensão. Esta sensibilidade é fortemente
dependente do tipo de carga, do ajuste do controle da mesma (se houver) e da
aplicação em que está sendo usada. De uma forma geral, a sensibilidade dos
equipamentos para com os afundamentos de tensão pode ser dividida em três
categorias, a saber:

 Equipamentos unicamente sensíveis à magnitude do afundamento:


neste grupo incluem dispositivos tais como relé de sub-tensão,
controles de processos, controladores de velocidade de motores e
diversos tipos de máquinas automatizadas. Neste grupo, uma
duração de poucos segundos do fenômeno já é suficiente para a
ocorrência do mau funcionamento, ficando este dependente, a
partir de então, tão somente à magnitude do evento.
 Equipamentos sensíveis à magnitude do afundamento e à duração
do mesmo: neste grupo estão equipamento que utilizam controle
eletrônico para o suprimento de potência. Tais equipamento
apresentam falhas ou má operação quando a tensão de saída cai
abaixo de um valor específico. Neste caso, a duração desta
condição está diretamente relacionada às consequências de falhas
de operação nos equipamentos à jusante.
 Equipamentos sensíveis a outras características e não à magnitude
e duração do afundamento: alguns dispositivos são afetados por
outras características do afundamento, tais como: desbalanços de
tensão durante o evento, a posição da onda senoidal em que o sag
se iniciou, transitórios oscilatórios durante o mesmos, etc. Neste
grupo de equipamentos, as características do sag são mais
importantes do que sua duração e sua magnitude.

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Tem-se, na sequência, algumas típicas curvas de sensibilidade de motores


de indução e ASD’s a afundamentos de tensão. As mesmas estão em função da
duração do afundamento. Há também uma comparação com as curvas CBEMA e
ITIC (ou simplesmente abreviada por ITI).

Outro exemplo de estudos de áreas de vulnerabilidade, por meio de


simulação da aplicação de curto-circuitos e, consequente, obtenção dos níveis de
tensão em função da localização da falta, está ilustrada abaixo. Observe: que há
área de vulnerabilidade para qualquer carga, para cargas robustas e para cargas
sensíveis.

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Area de vulnerabilidade
para cargas sensíveis

Área de vulnerabilidade
para Motor/Contactor

Carga

A figura abaixo ilustra o efeito de um afundamento de tensão no sistema


de distribuição radial em função da distância entre a subestação e a localização
de um curto circuito trifásico e também de um curto fase-terra. É importante
salientar que o curto sob análise ocorre em um alimentador paralelo ao sistema
em questão.

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Math Bollen, um dos mais importantes pesquisadores da temática de


VTCD’s, desenvolveu um critério próprio de descrição dos diferentes tipos de
afundamentos de tensão segundo as condições experimentadas pelo usuário
final do sistema elétrico. Esta tipificação encontra-se desenvolvida em função das
configurações do sistema e das condições da falta ocorrida no mesmo, conforme
figura a seguir.

Tipificação proposta por Math Bollen para os afundamentos de tensão:

 Sag Tipo A: afundamento nas três fases;


 Sag Tipo B: afundamento em uma fase, sem mudanças de ângulos;
 Sag Tipo C: afundamento em duas fases, com mudanças de
ângulos;
 Sag Tipo D: afundamento em uma fase, com mudanças de ângulos;
 Sag Tipo E: afundamento em duas fases, sem mudanças de ângulos.

Na tabela adiante, tem-se o resultado das tensões no secundário de um


transformador trifásico devido a um curto fase-terra ocorrido no circuito elétrico
localizado no primário do mesmo.
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Nesta tabela, podemos ver o efeito da propagação do afundamento


através de diferentes arranjos de transformadores de potência, evidenciando e
justificando a tipificação de sag feita por M.Bollen. Tal desenvolvimento, visa
estabelecer uma relação direta dos diferentes efeitos das faltas no sistema de
distribuição.
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6. Procedimentos para mitigação

Há inúmeros procedimentos e estratégias para a diminuição do número e


da severidade dos VTCD's. Podendo estes serem adotados pela concessionária,
pelos consumidores finais e/ou pelos fabricantes de equipamentos. A figura a
seguir ilustra as diferentes soluções e seus relativos custos em virtude do nível
em que a mesma é realizada no sistema elétrico.

Pode-se notar que quanto mais à montante, maior será o custo de


solução/minimização do problema. Contudo, várias ideias de fácil
implementação podem ser adotadas tendo em mente as seguintes primícias:

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 Um primeiro cuidado que deveria ser tomado é no momento da


especificação dos equipamentos a serem usados no processo
industrial. Os mesmos deveriam ser especificados com uma maior
robustez e menor sensibilidade aos eventos de VTCD's.
 Uma segunda abordagem para solução/prevenção é a
implementação de processos de estabilização e proteção de
equipamentos mais sensíveis e importantes no processo industrial,
a exemplo dos equipamentos de controle (CLP's,
microprocessadores, etc.).
 Sabe-se que a probabilidade de se experimentar um afundamento
menor que 70% da tensão nominal é pequena. E ao mesmo tempo
reconhece-se que, os equipamentos, conforme curva ITIC, devem
ser capazes de suportá-los dentro de intervalos de tempo em que
geralmente a proteção atua. Este é mais um cuidado norteador
para a escolha da solução a ser adotada.

Os curto circuitos são, sem dúvidas, a principal causa de VTCD’s nos


sistemas elétricos de potência. Verifica-se abaixo um quadro genérico de como
resolver problemas relacionados à QEE advinda da existência de faltas no
sistema de energia.

Embasamento teórico deste capítulo de QEE: livro Understanding Power


Quality Problems: Voltage Sags and Interruptions de Math Bollen.

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Esta figura nos permite distinguir, entre várias outras formas de


mitigação, as seguintes frentes estratégicas de abordagem do problema:

a) redução do número de curto circuitos;


b) redução do tempo de resposta do sistema de proteção, ou seja,
diminuição do tempo de reestabelecimento da rede para condições
normais de funcionamento (tempo de eliminação da falta);
c) mudanças no sistema de modo que o resultado das faltas sejam
menos severas para os equipamentos e/ou consumidores finais;
d) conexão de equipamentos de mitigação entre equipamentos
sensíveis e o suprimento de energia;
e) melhoria na imunidade dos equipamentos.

Tais fundamentos (os seis acima apresentados) serão explorados na


sequência deste subitem.

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Vale ainda ressaltar, que para a escolha da estratégia mais adequada a ser
adotada, deve-se levar em conta as magnitudes e a duração média do
afundamentos e interrupções mais comumente percebidas no sistema sob
enfoque (no caso de VTCD’s desta natureza). Neste sentido, a figura abaixo
ilustra estes tempos e magnitudes em termo dos dispositivos ou redes onde este
originou-se, ou ainda, em virtude do sistema de proteção que atuou. Tais
informações são valores característicos comumente encontrados.

Podemos observar na figura anterior que a maioria dos afundamentos no


sistema de transmissão e subtransmissão são inferiores a 100ms. Todavia,
conforme será explanado, estes sags são muito difíceis de mitigar.

Por outro lado, afundamentos devido à faltas nas redes de distribuição


possuem duração maiores e dependem da atuação da proteção (relés de
sobrecorrentes, disjuntores, etc.). Este particular, levará à adoção de

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procedimentos específicos para a mitigação, conforme será posteriormente


descrito.

Complementarmente, afundamentos devido às redes remotas de


distribuição e partida de motores estão, via de regra, acima de 85% da tensão
nominal, o que poderá facilitar, caso este seja o evento mais rotineiro a ser
mitigado, a escolha de uma técnica que compense tão somente este decaimento
de tensão, talvez bastando melhorar a imunidade do equipamento.

Por fim, para a mitigação das interrupções típicas do sistema haverá


necessidade de soluções tendo como partida intervalos de duração maiores que
1s, o que torna este fenômeno de viabilidade de solução mais complexa.

A. Redução do número de faltas no sistema de potência

Esta não é um a solução tão simples de ser alcançada. Todavia, alguns


procedimentos podem contribuir neste sentido, tais como:

 substituição de redes aéreas por redes com cabos subterrâneo;


 uso de cabos guardas em rede aéreas;
 implantação de uma política severa de corte e poda de árvores
próximas à rede elétrica;
 instalação e ampliação de redes protegidas, principalmente em
locais com muita vegetação;
 aumento do nível de isolamento da rede, diminuindo o risco de
curto circuito devido à deterioramento da isolação;
 aumento das frequências de manutenção e inspeção das redes
elétricas, principalmente de distribuição;
 entre outros.

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B. Redução do tempo extinção da falta

Esta redução de tempo de atuação da proteção não implica em uma


diminuição do número de eventos, mas somente de sua severidade. Isto está
diretamente ligado ao tempo que o suprimento de tensão se reestabelece em um
patamar aceitável. Portanto, isto implica em uma melhoria do sistema de
proteção empregado.

No exemplo anterior, tem-se na parte superior um sistema com um único


religador o que provocaria um aumento no tempo de resposta do sistema e, até
mesmo, no número de interrupções. Já no segundo arranjo, vê-se um sistema de
proteção com vários níveis temporizados, aumentando efetivamente a eficiência
do sistema como um todo quando da necessidade de resposta à uma falta.

C. Alterações no sistema de potência

Através de algumas mudanças no sistema supridor, pode-se também


reduzir a severidade dos eventos de VTCD’s. A principal estratégia é a instalação
de componentes redundantes no mesmo. Adicionalmente, pode-se também
melhorar o nível de curto circuito próximo às cargas sensíveis ou, ainda, limitar o
número de redes aéreas do sistema.

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n/o – normally open switch n/c – normally closed switch

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D. Instalação de equipamentos de mitigação

A melhoria da interface entre o sistema supridor e a unidade


consumidora pode ser alcançada, tendo em vista problemas relacionados com
VTCD’s, por meio da implementação de equipamentos de mitigação, a exemplo
dos seguintes dispositivos:

 Voltage-Source Converters – VSC


 Serie Voltage Controllers – DVR (Dynamic Voltage Restorer)
 Shunt Voltage Controllers – StatCom (Static Synchronous
Compensator)
 Combinação de DVR e StatCom
 Backup Power Source – SMES, BESS
 Uninterruptable Power Supply – UPS (Nobreak)
 Flyweel (momento de inércia)
 Uso de dispositivos de partida em grandes motores
 Mudança automática de TAP de transformadores (ou
autotransformadores), Transformadores ferrorresonantes, etc.

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E. Melhoria da imunidade de equipamentos elétricos

A melhoria da imunidade de equipamentos elétricos é provavelmente a


mais efetiva solução contra falhas devido à VTCD’s. Dentre as melhorias
possíveis, podemos destacar:

 Aumento da energia armazenada nos elos CC de equipamentos


eletrônicos, computadores em geral e dispositivos de controle. Isto
pode elevar a tolerância em relação à duração do sag ou de
interrupções.
 O emprego de sofisticados conversores DC/DC é capaz de reduzir a
tensão mínima causadora de má operação ou falha de
equipamentos eletrônicos e/ou de controle.
 Adição de mais capacitores (ou melhor, elevação da potência
reativa capacitiva) no elo CC de inversores de frequências (ASD)
também pode causar uma melhoria de sua resposta a eventos com
variação de tensão em curta duração.
 Entre outros.

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VIII. DESEQUILÍBRIOS DE TENSÕES:

1. Conceitos básicos sobre circuitos desequilibrados

Desequilíbrio de tensões e/ou correntes é o fenômeno associado às


alterações dos padrões trifásicos do sistema elétrico de potência, seja
distribuição, seja transmissão. Em outras palavras, o desequilíbrio em um
sistema elétrico trifásico é uma condição na qual as três fases apresentam
diferentes valores de magnitude e/ou de defasagem angular. De forma ideal, a
defasagem no sistema trifásico é de 120°. Por tratar-se de um evento de longa
duração, deve ser avaliado em regime permanente.

Neste ínterim, faz-se necessária uma breve revisão da abordagem dada


em circuitos elétricos e em análise de sistemas no tocante aos componentes
simétricos.

Assim sendo, sabe-se, por meio do Teorema de Fortescue, que todo


sistema trifásico desequilibrado pode ser representado pela somatória de três
sistemas fasoriais equilibrados, sendo:

 um de sequência positiva (seq. + ou seq. 1) - mesma sequência que


os fasores originais;
 um de sequência negativa (seq. - ou seq. 2) - sequência oposta ao
dos fasores originais;
 e um terceiro de sequência zero (seq. 0) - defasamentos de 0°
entre as fases.

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Os componentes simétricos são aplicados tanto para tensões trifásicas


desequilibradas quanto para correntes. Todavia, no que se refere à QEE, o foco
será dado tão somente às tensões desequilibradas, apesar de haver uma direta
relação entre o desequilíbrio de correntes e o desequilíbrio de tensões.

Seja um sistema trifásico com as tensões de fase 𝑉𝑎̇ , 𝑉̇𝑏 e 𝑉𝑐̇


desequilibradas, então,

𝑉𝑎̇ = 𝑉̇𝑎1 + 𝑉̇𝑎2 + 𝑉̇𝑎0


𝑉̇𝑏 = 𝑉̇𝑏1 + 𝑉̇𝑏2 + 𝑉̇𝑏0
𝑉𝑐̇ = 𝑉̇𝑐1 + 𝑉̇𝑐2 + 𝑉̇𝑐0

Sendo cada sistema de sequência positiva (𝑉̇𝑎1 , 𝑉̇𝑏1 , 𝑉̇𝑐1 ) e negativa


(𝑉̇𝑎2 , 𝑉̇𝑏2 , 𝑉̇𝑐2 ) equilibrados com mesma magnitude e mesmos defasamentos
angulares de 120° entre as fases. Enquanto o componente de sequência zero
( 𝑉̇𝑎0 , 𝑉̇𝑏0 , 𝑉̇𝑐0 ) é equilibrado possuindo iguais magnitudes porém sem
defasamentos angulares entre as fases a, b e c.

Para se encontrar os valores dos sistemas de componentes simétricos, a


partir de um sistema desequilibrado/assimétrico (𝑉𝑎̇ , 𝑉̇𝑏 , 𝑉𝑐̇ ), basta realizar as
seguintes operações:

𝑉̇𝑎1 = 1⁄3 (𝑉𝑎̇ + 𝑎𝑉̇𝑏 + 𝑎2 𝑉𝑐̇ )


𝑉̇𝑎2 = 1⁄3 (𝑉𝑎̇ + 𝑎2 𝑉̇𝑏 + 𝑎𝑉𝑐̇ )
𝑉̇𝑎0 = 1⁄3 (𝑉𝑎̇ + 𝑉̇𝑏 + 𝑉𝑐̇ )

𝑉̇𝑏1 = 𝑎2 𝑉̇𝑎1
𝑉̇𝑏2 = 𝑎𝑉̇𝑎2
𝑉̇𝑏0 = 𝑉̇𝑎0

𝑉̇𝑐1 = 𝑎𝑉̇𝑎1
𝑉̇𝑐2 = 𝑎2 𝑉̇𝑎2
𝑉̇𝑐0 = 𝑉̇𝑎0

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onde: 𝑎 = 1 ≮ 120° e 𝑎2 = 1 ≮ 240°.

Tal abordagem também pode ser, perfeitamente, aplicada à correntes


elétricas assimétricas, apesar de não ser aqui o foco de nossas atenções.

[mostrar programa: Power Quality Teaching Toy]

2. Definições e normas

Ao fenômeno de desequilíbrio de tensões está atrelado uma terminologia


própria esclarecida pelo PRODIST, a saber:

Onde o fator de desequilíbrio de tensão é calculado por

𝑉−
𝐹𝐷% = 100
𝑉+

Este fator de desequilíbrio, ou ainda, grau de desequilíbrio, é definido pela


relação entre os módulos da tensão de sequência negativa e positiva. Este fator
será nulo em um sistema equilibrado, uma vez que em sistema simétricos existe
apenas a tensão de sequência positiva.

O mesmo é amplamente empregado para verificar o nível de desequilíbrio


entre as fase de um sistema elétrico de potência. Os sistemas de seq. (+) e seq. (-)
devem ser calculados a partir de tensão fase-fase. Então, consequentemente, a
componente de seq. (0) será nula.

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De forma alternativa, pode-se utilizar a expressão abaixo que conduz a


resultados em consonância com a formulação anterior. Esta expressão advém de
formulação proposta pelo CIGRÉ-C04 e que é contemplada nos documentos do
PRODIST.

1 − √3 − 6𝛽
𝐹𝐷% = 100√
1 + √3 − 6𝛽

sendo:

4 4 4
𝑉𝑎𝑏 + 𝑉𝑏𝑐 + 𝑉𝑐𝑎
𝛽= 2 2 2 )2
(𝑉𝑎𝑏 + 𝑉𝑏𝑐 + 𝑉𝑐𝑎

Este último equacionamento é de mais fácil aplicação prática, uma vez


que o mesmo usa de valores de tensões de linha, sem necessidade de se saber os
ângulos. Contudo, trata-se tão somente de um desenvolvimento da expressão
anterior - razão das seq.(-) pela seq. (+).

Então, mais uma vez, de forma a seguir as normas vigentes, as medições e


cálculos são, via de regra, realizados para as tensões fase-fase.

O valor de referência nos barramentos do sistema de distribuição, com


exceção da BT, deve ser igual ou inferior a 2%. Esse valor serve para referência
do planejamento elétrico em termos de QEE e que, regulatoriamente, será
estabelecido em resolução específica, após período experimental de coleta de
dados, ou seja, este ainda não é um valor limite, mas sim um valor de referência.

Os Procedimentos de Rede da ONS trazem o mesmo valor 2%, todavia,


neste caso, como valor limite global para os desequilíbrios do sistema da rede
básica. Vale ressaltar, que neste documento tem-se especificado um protocolo de
medição que compreende amostragem de 7 dias consecutivos, integralização a
cada 10 minutos e posterior tratamento estatístico dos dados amostrados.

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Não obstante à convergência entre o PRODIST e os Procedimentos de


Rede, tem no quadro a seguir diferentes abordagens para o equacionamento do
desequilíbrio em rede elétricas de potência, a saber: IEC, ONS/PRODIST,
CENELEC (European Committee for Electrotechnical Standardization), NRS
(National Electricity Regulator of South African), ANSI (American National
Standards Institute) e IEEE 141. Tabela retirada da tese de Olívio C. N. Souto
(2001), a qual manteve a nomenclatura original de cada norma citada.

Obs: no caso da ANSI, tem-se, no numerador, o valor máximo de desvio em


relação à média das tensões (DVMAX) (Obs: não é em relação à tensão mínima).
Tal análise também é conhecida como recomendação ANSI/NEMA, onde NEMA é
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a National Electrical Manufacturers Association dos EUA. Ademais, para efeito


comparativo, usar tensões fase-fase nos equacionamentos propostos pela ANSI e
IEEE.

No gráfico abaixo, tem-se uma ilustração dos diferentes procedimentos de


cálculo do fator de desequilíbrio. Nota-se que o cálculo do IEEE (norma 141)
amplifica o referido índice, enquanto a recomendação do ANSI/NEMA indica
sempre um valor menor para o mesmo.

3. Fontes causadoras

As principais fontes causadoras de desequilíbrios no sistema elétrico


trifásico são cargas desbalanceadas e sistema elétrico assimétrico. Todavia,

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podemos citar, de uma forma geral, as seguinte causas de desequilíbrio no


sistema trifásico:

 cargas monofásicas e bifásicas distribuídas de forma inadequada;


 grandes cargas desbalanceadas, a exemplo de tração elétrica
(VLT's e metrôs) e máquinas de solda (soldagem a arco e
soldagem a resistência);
 cargas trifásicas desequilibradas, a exemplo de fornos a arco;
 assimetrias entres as impedâncias de cada fase do sistema, devido
à linhas não transpostas, transformadores assimétricos,
elementos em geral do sistema de potência sem simetria;
 queima de fusível de alguma fase de um banco de capacitores ou
mesmo defeito nos mesmos;
 curto em espiras de transformadores e/ou geradores;
 fornos de indução, equipamentos de raio-x, entre outras cargas.

Há também a possibilidade de desequilíbrios momentâneos devido à


curtos circuitos assimétricos (fase-terra, fase-fase, fase-fase-terra). Todavia, os
mesmos não serão explorados, por não se tratar de eventos de longa duração.

Será, agora, deduzida uma expressão para tornar esta ideia mais clara,
qual seja: de sistema elétrico com assimetria entre fases e cargas com
distribuições desiguais/desbalanceadas entre as fases, causando desequilíbrios
no ponto de conexão.

Então, seja o arranjo elétrico trifásico a 4 fios conforme ilustrado na figura


abaixo:

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Assume-se que:

 ̇ , 𝑉̇𝐵𝐺 , 𝑉̇𝐶𝐺 e 𝑉̇𝑁𝐺 (G representa o nível


as tensões do gerador são 𝑉𝐴𝐺
de referência do terra - Ground);
 as impedâncias próprias dos fios de fase e do neutro são dadas
por: 𝑍̇𝐴𝐴′ , 𝑍̇𝐵𝐵′ , 𝑍̇𝐶𝐶 ′ e 𝑍̇𝑁𝑁′ ;
 ̇ ,
as impedâncias mútuas entre os fios de fase são dadas por: 𝑍𝐴𝐵
𝑍̇𝐵𝐶 e 𝑍̇𝐶𝐴 ;
 as impedâncias mútuas entre os fios de fase e o neutro são dadas
̇ , 𝑍̇𝐵𝑁 e 𝑍̇𝐶𝑁 ;
por: 𝑍𝐴𝑁
 as tensões no barramento da carga são 𝑉𝐴̇ ′ 𝐺 , 𝑉̇𝐵′ 𝐺 , 𝑉̇𝐶 ′ 𝐺 e 𝑉̇𝑁′ 𝐺 ;
 as impedâncias próprias das cargas são dadas por: 𝑍𝐴̇ , 𝑍̇𝐵 , 𝑍̇𝐶 e 𝑍̇𝑁 ;
 e as correntes no sistema são 𝐼𝐴̇ , 𝐼𝐵̇ , 𝐼𝐶̇ e 𝐼𝑁̇ .

Vale ressaltar, que apesar do arranjo apresentar-se apenas caracterizado


pelas impedâncias representativas das linhas, poder-se-ia, o mesmo, acrescentar
(cobrir) efeitos advindos dos transformadores, geradores, etc., presentes no
sistema elétrico de potência.

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Dando continuidade, a rede da figura anterior pode ser representada pela


equação:

̇
𝑉𝐴𝐺 𝑉𝐴̇ ′ 𝐺 𝑍̇𝐴𝐴′ 𝑍𝐴𝐵
̇ ̇
𝑍𝐴𝐶 ̇
𝑍𝐴𝑁 𝐼𝐴̇
𝑉̇𝐵𝐺 𝑉̇ ′ 𝑍̇𝐵𝐴 𝑍̇𝐵𝐵′ 𝑍̇𝐵𝐶 𝑍̇𝐵𝑁 𝐼𝐵̇
− 𝐵𝐺 =
𝑉̇𝐶𝐺 𝑉̇𝐶 ′ 𝐺 𝑍̇𝐶𝐴 𝑍̇𝐶𝐵 𝑍̇𝐶𝐶 ′ 𝑍̇𝐶𝑁 𝐼𝐶̇
[𝑉̇𝑁𝐺 ] [𝑉̇𝑁′ 𝐺 ] [𝑍̇𝑁𝐴 𝑍̇𝑁𝐵 𝑍̇𝑁𝐶 𝑍̇𝑁𝑁′ ] [𝐼𝑁̇ ]

[𝑉̇ ] − [𝑉̇ ′ ] = [𝑍̇𝐿𝑖𝑛ℎ𝑎 ][𝐼 ]̇

Complementarmente, sabe-se que a tensão sobre a carga é:

𝑉𝐴̇ ′ 𝐺 𝑍𝐴̇ 0 0 0 𝐼𝐴̇


𝑉̇𝐵′ 𝐺 0 𝑍̇𝐵 0 0 𝐼𝐵̇
=
𝑉̇𝐶 ′ 𝐺 0 0 𝑍̇𝐶 0 𝐼𝐶̇
[𝑉̇𝑁′ 𝐺 ] [ 0 0 0 𝑍̇𝑁 ] [𝐼𝑁̇ ]

[𝑉̇ ′ ] = [𝑍̇𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 ][𝐼 ]̇


−1
[𝐼 ]̇ = [𝑍̇𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 ] [𝑉̇ ′ ]

Então,

−1
[𝑉̇ ] − [𝑉̇ ′ ] = [𝑍̇𝐿𝑖𝑛ℎ𝑎 ][𝐼 ]̇ = [𝑍̇𝐿𝑖𝑛ℎ𝑎 ][𝑍̇𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 ] [𝑉̇ ′ ]
−1
[𝑉̇ ] = [𝑉̇ ′ ] + [𝑍̇𝐿𝑖𝑛ℎ𝑎 ][𝑍̇𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 ] [𝑉̇ ′ ]
−1
[𝑉̇] = {[1] + [𝑍̇𝐿𝑖𝑛ℎ𝑎 ][𝑍̇𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 ] } [𝑉̇ ′ ]
−1 −1
[𝑉̇ ′ ] = {[1] + [𝑍̇𝐿𝑖𝑛ℎ𝑎 ][𝑍̇𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 ] } [𝑉̇ ]

Desenvolvendo-se os equacionamentos relacionados às impedâncias,


levando-se em conta as admitâncias (𝑌̇), (ver livro "Estimação de indicadores de
qualidade da energia elétrica" de Nelson Kagan) temos:

−1
𝑉𝐴̇ ′ 𝐺 𝑌̇𝐴𝐴′ + 𝑌𝐴̇ 𝑌𝐴𝐵 ̇ 𝑌𝐴𝐶̇ ̇
𝑌𝐴𝑁 𝑌̇𝐴𝐴′ 𝑌𝐴𝐵 ̇ 𝑌𝐴𝐶 ̇ ̇
𝑌𝐴𝑁 𝑉𝐴𝐺 ̇
𝑉𝐵̇ ′ 𝐺 𝑌𝐵𝐴̇ 𝑌̇𝐵𝐵′ + 𝑌𝐵̇ 𝑌𝐵𝐶 ̇ 𝑌𝐵𝑁 ̇ 𝑌𝐵𝐴̇ 𝑌̇𝐵𝐵′ ̇𝑌𝐵𝐶 𝑌𝐵𝑁 ̇ ̇𝑉𝐵𝐺
=
𝑉𝐶̇ ′ 𝐺 𝑌𝐶𝐴 ̇ 𝑌𝐶𝐵 ̇ 𝑌̇𝐶𝐶 ′ + 𝑌𝐶̇ 𝑌𝐶𝑁̇ 𝑌𝐶𝐴 ̇ 𝑌𝐶𝐵̇ 𝑌̇𝐶𝐶 ′ 𝑌𝐶𝑁 ̇ 𝑉𝐶𝐺̇
̇ ′ 𝐺 ] [ 𝑌𝑁𝐴
[𝑉𝑁 ̇ ̇
𝑌𝑁𝐵 𝑌𝑁𝐶 ̇ ̇
𝑌̇𝑁𝑁′ + 𝑌𝑁̇ ] [ 𝑌𝑁𝐴 ̇
𝑌𝑁𝐵 𝑌𝑁𝐶̇ ̇ ]
𝑌̇𝑁𝑁′ ] [𝑉𝑁𝐺

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Esta equação anterior permite calcular as tensões da rede proposta para


qualquer condição de desequilíbrio, em outras palavras, sistemas trifásicos
assimétricos com linha não transposta e carga desequilibrada.

Entretanto, pode haver condições de simetria que permitem simplificar o


cálculo. Nesta expressão estão inseridas as principais causas de assimetria do
sistema trifásico: a rede assimétrica e a carga desequilibrada.

Nesta linha de raciocínio, considere o caso em que a linha é


completamente transposta resultando, portanto, em impedâncias próprias iguais
entre si e impedâncias mútuas iguais entre si, eu seja:

𝑍̇𝐴𝐴′ = 𝑍̇𝐵𝐵′ = 𝑍̇𝐶𝐶 ′ = 𝑍̇𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎


̇ = 𝑍̇𝐵𝐶 = 𝑍̇𝐶𝐴 = 𝑍̇𝑚ú𝑡𝑢𝑎
𝑍𝐴𝐵

Além disso, seja a carga equilibrada e por hipótese ligada em estrela com
centro estrela aterrado diretamente, isto é:

𝑍𝐴̇ = 𝑍̇𝐵 = 𝑍̇𝐶 = 𝑍̇𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎


1
̇
𝑌𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 = 𝑒 𝑌𝑁̇ = ∞
𝑍̇𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎

Seja, ainda, os geradores trifásicos simétricos e equilibrados,


desconsiderando o fio de neutro, tem-se:

𝑉𝐴𝐺 ̇ 𝑉̇ 1
[𝑉𝐵𝐺 ] = [𝑎2 𝑉̇ ] = [𝑎2 ] 𝑉̇
̇
𝑉𝐶𝐺̇ 𝑎𝑉̇ 𝑎

Nesta condição, a expressão anteriormente desenvolvida se torna uma


matriz simétrica (elementos da diagonal 𝐷̇ e elementos fora da diagonal 𝑀̇).
Portanto,

𝑉𝐴̇ ′ 𝐺 𝐷̇ 𝑀̇ 𝑀̇ 1
[𝑉̇𝐵′ 𝐺 ] = [𝑀̇ 𝐷̇
2
𝑀̇] [𝑎 ] 𝑉̇
𝑉̇𝐶 ′ 𝐺 𝑀̇ 𝑀̇ 𝐷̇ 𝑎

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ou seja,

𝑉𝐴̇ ′ 𝐺 = (𝐷̇ + 𝑀̇𝑎2 + 𝑀̇𝑎)𝑉̇ = (𝐷̇ − 𝑀̇)𝑉̇ = 𝑉𝐴̇ ′ 𝐺


𝑉̇𝐵′ 𝐺 = (𝑀̇ + 𝐷̇𝑎2 + 𝑀̇𝑎)𝑉̇ = 𝑎2 (𝐷̇ − 𝑀̇)𝑉̇ = 𝑎2 𝑉𝐴̇ ′ 𝐺
𝑉̇𝐶 ′ 𝐺 = (𝑀̇ + 𝑀̇𝑎2 + 𝐷̇ 𝑎)𝑉̇ = 𝑎(𝐷̇ − 𝑀̇)𝑉̇ = 𝑎𝑉𝐴̇ ′ 𝐺

Assim, para se resolver uma rede trifásica simétrica e equilibrada é


suficiente resolver uma única fase, isto é, basta representá-la por meio de seu
diagrama unifilar e desenvolver os equacionamentos a partir de tal.

4. Efeitos

Tensões desequilibradas podem provocar consequências danosas no


funcionamento de alguns equipamentos elétricos, comprometendo, na maioria
dos casos, o seu desempenho e a sua vida útil.

Entretanto, por mais paradoxal que possa parecer, as cargas elétricas se


constituem em uma das principais fontes de desequilíbrio. Tal análise de efeito
devido a desequilíbrios foi retirada de um artigo de Gilson Paulino.

Neste ínterim, as principais consequências danosas dos desequilíbrios de


tensão presentes no sistema elétrico trifásico são:

 diminuição da vida útil de motores de indução;


 diminuição da vida útil de máquinas síncronas (geradores);
 elevação das perdas elétricas devido à aquecimento e vibração de
motores de indução;
 má operação de conversores estáticos CA-CC;
 atuação desnecessárias de certos relés de proteção;
 sobrecarga em condutores de neutro do sistema;
 entre outras.

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A fim de esclarecer esta relação de causa/efeito, o comportamento de


cargas lineares, do tipo motores de indução trifásicos, e de cargas não lineares,
do tipo conversores estáticos CA-CC, operando sob esta condição serão
apresentados a seguir um detalhamento acerca das mesmas.

A. Cargas lineares – motores de indução

As características de desempenho de um motor de indução trifásico são


um conjunto de grandezas eletromecânicas e térmicas que definem o
comportamento operacional deste sob determinadas condições. Desta forma, em
função da potência exigida pela carga em um determinado instante e das
condições da rede de alimentação, o motor apresenta valores definidos de
rendimento, fator de potência, corrente absorvida, velocidade, conjugado
(torque) desenvolvido, perdas e elevação de temperatura.

Dessa maneira, quando as tensões de alimentação apresentam


desequilíbrios, seja em módulo ou em ângulo, ocorrem alterações nas
características térmicas, elétricas e mecânicas dos motores de indução, afetando
o seu desempenho e comprometendo a sua vida útil.

Quando as tensões de linha aplicadas aos motores de indução apresentam


variações tanto no módulo quanto no ângulo de fase, a primeira consequência é a
deformação do campo magnético girante, originando uma operação semelhante
àquela existente quando o entreferro não é uniforme. Neste caso, é inevitável a
produção de esforços mecânicos axiais e radiais sobre o eixo, com o
aparecimento de vibrações, ruídos, batimento, desgaste e o aquecimento
excessivo dos mancais em consequência de correntes parasitas que podem
aparecer no sistema eixo-mancais-terra.

A deformação do campo magnético girante é resultado da composição dos


campos de sequência positiva e negativa: a de sequência positiva executando as

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mesmas funções caso o campo fosse normal e o de sequência negativa opondo-se


ao anterior e produzindo o desequilíbrio magnético do motor.

Outro efeito importante é o fato das impedâncias de sequência negativa


possuir valores muito pequenos, resultando em um desequilíbrio de corrente
bastante elevado. Consequentemente, a elevação de temperatura do motor
operando com uma determinada carga e sob determinado desequilíbrio será
maior que o mesmo operando sob as mesmas condições e com tensões
equilibradas. Isso causa o sobreaquecimento do motor e a diminuição da sua
vida útil. Um exemplo destes efeitos está apresentado na Tabela a seguir, para
um motor de 5 HP.

A importância desta tabela está nos seguintes fatos:

 Aproximadamente 60% da energia de um típico sistema industrial


é consumida na alimentação de motores elétricos;
 Um pequeno desequilíbrio de tensão – da ordem de 2,3% – é
responsável por um desequilíbrio de corrente – da ordem de 18%
– juntamente com uma elevação de temperatura de 30°C;
 Sabe-se que a cada 10°C de elevação de temperatura, a vida útil da
isolação de um motor elétrico diminui pela metade.

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A figura abaixo ilustra os efeitos resultantes do desequilíbrio de tensão


em um motor de indução trifásico. Nota-se que um desequilíbrio de 2% nas
tensões tornará as correntes 17% desbalanceadas e causará uma elevação de
temperatura de 65° (quando normalmente seria de 40°).

A figura a seguir mostra o resultado de um estudo da elevação das perdas


em um motor de indução trifásico em função dos desbalanços nas tensões.

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Estes dados demonstram o impacto econômico decorrente dos efeitos dos


desequilíbrios de tensão nos motores de indução, uma vez que se agregam às
deficiências impostas na operação os custos de manutenção preventiva e
corretiva.

Um estudo mais recente investigou os efeitos de diferentes desequilíbrios


de tensão com o mesmo fator de desequilíbrio no desempenho de um motor de
indução e a influência destes no sistema de potência. A partir de oito diferentes
situações, monofásicas, bifásicas e trifásicas, considerando elevação e diminuição
das tensões, resultando em desequilíbrios da ordem de 4% e 6%, foram
investigados o rendimento. Além das conclusões já apresentadas, o estudo
mostrou:

 A importância de se considerar o valor da tensão de sequência


positiva que, quando muito elevada, provoca um alto rendimento;
 As piores situações em relação à elevação de temperatura ocorrem
para desequilíbrios trifásicos considerando diminuição das
tensões;
 Uma vez que os desequilíbrios causam perdas excessivas e
aumento no consumo, estes também influenciam a estabilidade do
sistema de potência, sendo necessária a sua incorporação a
estudos desta natureza.

De uma maneira geral, os efeitos em outras características elétricas


podem ser resumidos da seguinte maneira:

 Torque: os torques de rotor bloqueado e de frenagem diminuem.


Em condições extremamente severas, o torque pode não ser o
adequado para a aplicação;
 Velocidade nominal: a velocidade nominal diminui ligeiramente;
 Corrente de rotor bloqueado: o desequilíbrio desta corrente será
da mesma ordem que o desequilíbrio das tensões;

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 Ruído e vibração: como já citado anteriormente, estes efeitos


aparecerão, sendo mais severos em motores de dois polos.

Tabela de redução da vida útil de motores de indução em função do


aumento da temperatura do mesmo:

Elevação de Tempo de Redução de


temperatura vida útil vida útil
Δθ (0C) (Anos) (%)
0 20 0
1 18,46 7,7
2 17,04 14,8
3 15,73 21,4
4 14,54 27,3
5 13,43 32,8
6 12,42 37,9
7 11,49 42,5
8 10,63 46,8
9 9,84 50,8
10 9,11 54,4
15 6,24 68,8
20 4,31 78,4

B. Cargas não lineares – sistemas multi-conversores CA-CC (ASD)

A utilização de sistemas multiconversores CA-CC (ASD, inversores, etc.)


foi largamente difundida nas aplicações industriais nos últimos 20 anos. Podem-
se citar como exemplos práticos de dispositivos desenvolvidos a partir desta
tecnologia os sistemas de acionamento para motores de corrente contínua e para
motores de corrente alternada.

Os conversores estáticos de potência, conforme já falado, são dispositivos


que possuem, por natureza, uma característica não linear gerando harmônicos
no sistema de fornecimento de energia.

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Estes sistemas, da mesma forma que qualquer outro, foram projetados


para trabalharem sob condições equilibradas de fornecimento na frequência
fundamental. Na prática, porém, quando os sistemas de alimentação são
desequilibrados, torna-se complexo o problema de geração harmônica,
degradando as características e a qualidade da corrente de entrada do conversor
e interferindo significativamente na tensão de saída (carga).

Em condições de tensões balanceadas, um conversor de 6 pulsos injeta,


conforme será visto, correntes harmônicas de ordem 5, 7, 11, 13, 17, 19, etc.
(6k±1). Entretanto, se forem alimentados por tensões desequilibradas, eles
poderão gerar, além das ordens harmônicas já citadas, os harmônicos de ordem
3, 9, 15, 21, etc. (múltiplas de 3) ou, até mesmo, os harmônicos de ordem par.
Isso pode levá-los à uma maior instabilidade harmônica, que, por sua vez, pode
os impedir de operar.

5. Cálculo de redução de vida útil motores de indução

[Análise Motores de Indução: Tese Olívio C. N. Souto, pg. 61 a 68, pg. 143 a 158]

Em condições senoidais:

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Em condições não-senoidais:

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Avaliação de perda de vida útil de motores de indução:

 condições nominais -> perdas nominais -> aquecimento nominal ->


vida útil nominal
 rede desequilibrada -> perdas maiores -> maior elevação de
temperatura -> redução da vida útil
 observação: o aumento da elevação de temperatura ocorre na
mesma proporção do incremento de perdas joulicas provocado
pelo desequilíbrio de tensão
 procedimento para o cálculo de redução de vida útil:
o cálculo das perdas em condições nominais
o cálculo das perdas sob uma condição de desequilíbrio
o determinação do aumento percentual da perdas
o determinação do aumento percentual da elevação da
temperatura (mesma proporção do aumento das perdas)
o avaliação da diminuição da vida útil (pode-se usar a tabela
anteriormente apresentada)

Observação importante: por legislação o desequilíbrio deve ser calculado


através de medições de tensão fase-fase, contudo, caso o cálculo seja realizado
pelas respectivas tensões fase-neutro, o resultado encontrado, levando-se em
conta o procedimento das componentes simétricas, será o mesmo. Todavia, para
efeito de avaliação de diminuição de vida útil de motores, os cálculos devem ser
realizados somente através das tensões fase-fase, pois não se têm expressões
para determinação de perdas do motor quando da presença de componentes de
sequência zero, as quais deixam de existir quando da avaliação fase-fase.

[ver planilhas Excell com exemplos de cálculo]

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6. Procedimentos mitigatórios

Os procedimentos mitigatórios relacionados a desequilíbrios em sistemas


elétricos trifásicos podem ser proporcionados por técnicas em nível de
concessionária e/ou consumidor. Dentre estas, podemos destacar:

 redistribuição de cargas monofásicas buscando maior equilíbrio


entre as fases;
 redução do desequilíbrio das impedâncias de redes (transposições
de linhas de transmissão) e transformadores;
 uso de reguladores monofásicos de tensão;
 utilização de compensadores passivos e/ou ativos
(compensadores estáticos de tensão);
 balanceamento interno de carga em instalações industriais e
comerciais;
 entre outras.

Aliado ao reestabelecimento do equilíbrio da rede trifásica, pode-se,


ainda, realizar a proteção de motores sensíveis a desequilíbrios através da
utilização de relés baseados na análise de corrente/tensão de sequência
negativa.

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