Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FICHA CATALOGRÁFICA
3
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
RESUMO
ABSTRACT
Pronunciation teaching has been neglected in teachers instruction (BREITKREUTZ et al: 2001,
BURNS: 2006, DERWING: 2010) and teaching materials (SILVEIRA & ROSSI, 2006). In the dis-
cipline of Phonetics and Phonology of Portuguese, in the course Estudios Portugueses y Brasileños
of the University of Salamanca, beside the fundamental points of Portuguese phonetics and phono-
logy, it was added to the program of contents an issue about learning and teaching the pronuncia-
tion, based on the Llisterri (2003) methodology of pronunciation. This paper presents a case study
and analyze the results on a set of auto diagnosis activities, conducted to develop the capacity of er-
rors recognition in the Portuguese pronunciation, to explore the relations between this capacity and
the knowledge of Portuguese phonetics. Attending comprehension and trail of the phenomena, the
results indicates that there is a set of aspects that learner can recognize as deviant but they show
different levels of (re)cognition of the problem.
Introdução
1590
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
Contextualização
1591
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
nado na Universidade de Salamanca. Na FFP, uma matéria de opção que os alunos po-
dem escolher no 3º ou no 4º ano, até esse ano eram desenvolvidos os temas fundamen-
tais de fonética e fonologia do português e a evolução desde o latim. A parte diacrônica
foi substituída por novos conteúdos estabelecidos segundo a metodologia do ensino da
pronúncia proposta por Llisterri (2003), que se organiza em torno a 5 pontos fundamen-
tais:
1592
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
Para o tratamento deste último problema foi desenvolvida uma estratégia de in-
tervenção tomando como ponto de referência a competência de aprendizagem do Qua-
dro Europeu de Referência para as Línguas (CONSELHO DA EUROPA: 2001, p.
155), nomeadamente três aspectos relacionados com as capacidades de estudo:
- a consciência dos seus pontos fortes e dos seus pontos fracos enquanto aprendente;
Justificação e objetivo.
1593
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
aprendente deve aperceber-se das diferenças entre a sua produção e as formas corres-
pondentes da língua objeto. O reconhecimento dessas diferenças é considerado como
um primeiro passo, necessário, para a progressão da aprendizagem.
O estudo
Os dados para a análise são constituídos pelos resultados obtidos em (i) um pré-
teste, que fazia parte do teste diagnóstico realizado para a disciplina de FFP no início do
curso e (ii) três testes de reconhecimento de erros, realizados dois meses depois, na tare-
fa de autodiagnose, referida na seção anterior.
O pré-teste consistia na leitura de um texto (em Anexo), que foi gravada com um
aparelho Sony ICD-UX522. Nos testes foi pedido ao sujeito que, durante a audição da
305O sujeito assinou um termo de consentimento livre e esclarecido para o uso das gravações e atividades realiza-
das na sala de aula. Em conversa informal indicou que fosse utilizado o nome de Zé a efeitos de identificação do in-
formante.
1594
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
Resultados
(F3) "O som G não está bem pronunciado": prestígio, divergentes, etimológica
1595
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
aos traços fonéticos, apoiando-se na escrita para se referir aos sons e identificando os
problemas com referências às grafias ("Problemas com as S", "O som G", ...).
Destes desvios apenas reconhece (c), no entanto, nas palavras que assinala apa-
rece também o erro (a), em "portuguesa", e o erro (b), em "este".
Em F2, o problema de interlíngua tem a ver com a realização das vogais médias
baixas [ɔ, ɛ] como altas *[o, e]. No entanto, nos casos que assinala não se verifica este
erro: "outra", "este". Em F3, com a realização da palatoalveolar fricativa sonora [ʒ] co-
mo velar surda *[x] ou palatal *[ʝ], identifica corretamente casos deste erro. No que diz
respeito a F5, em que estão envolvidos os processos de nasalização (cf. MIRA MA-
TEUS: 1982, 2003), identifica corretamente a ausência do traço de nasalidade, mas em
condições específicas, a saber, na posição final. Porém, não reconhece os erros, por
exemplo, em relação com a regra de nasalização no interior de palavra, "língua".
1596
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
Em F1, para o segmento [z] aponta "exemplo" mas não os casos de "portuguesa"
ou "lusófono". Em F2, assinala casos de [ɔ] como "ortográfico", "ortografia" ou "lusó-
fono" mas não aponta nenhum caso de [ɛ]. Em F5, mantém-se a identificação consisten-
te do erro mas com uma localização seletiva na posição final.
1597
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
duz para as vogais anterior /e/ e central /a/, em que aponta apenas casos pontuais ("de",
"unificada", "usada").
Discussão
307Uma explicação alternativa é que o aprendente tenha de fato esses conhecimentos mas não seja capaz de ex-
plorá-los na prática. No entanto, demonstra conhecimento parcial o que apoia a explicação de conhecimento incom-
pleto.
308Uma dificuldade já constatada nas aulas anteriores, que fez com que se optasse por utilizar para este teste uma
transcrição larga e sem indicação do acento
1598
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
– o alcance ou "encalço" do fenômeno, que tem a ver com os casos em que se pro-
duz um determinado fenômeno ou é aplicada uma regra, visível no enunciado de
identificação ou nos exemplos que aponta.
Estes três aspetos variam nos diferentes fenômenos apontados (Quadro 3) e reve-
lam uma relação complexa entre reconhecimento e conhecimento.
Assim, que se reconheçam algumas formas como erradas não quer dizer que o
aprendente compreenda o desvio, isto é, o funcionamento da LO. É o que ocorre em F1:
sabe que está errado mas desconhece as formas corretas correspondentes e quando se
produzem.
1599
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
Neste sentido, é interessante comparar F5 com F2. A distinção entre médias altas
e baixas é marcada, na maioria dos casos, na componente lexical (ou por processos fo-
nológicos específicos como a alternância vocálica na morfologia verbal) e as pistas grá-
ficas são menos numerosas que no caso da nasalidade (dependendo das regras de acen-
tuação). Isto poderia fazer com que seja mais difícil de reconhecer e incorporar à inter-
língua estes elementos a partir dessas pistas gráficas. À dificuldade da formação da ca-
tegoria das médias baixas, junto com a necessidade de reformular a categoria das mé-
dias altas (FEIDEN et al.: 2014) haveria que acrescentar, portanto, o problema da afixa-
ção ou associação das novas categorias aos itens lexicais concretos sem o apoio de pis-
tas gráficas sistemáticas.
Outra questão que se levanta tem a ver com o ensino da pronúncia na sala de au-
la. No PFE não há estudos de conjunto que analisem a progressão da aprendizagem do
sistema fonético/fonológico; são, na maioria, estudos que descrevem as dificuldades ou
erros encontrados na produção de determinados segmentos. Assumindo que a discrimi-
nação é o passo prévio para a produção correta e, em consequência, a percepção e a
compreensão do fenômeno marcariam o começo de um possível tratamento do erro, o
Zé estaria pronto para trabalhar F3, isto é, a produção de /ʒ/, enquanto os segmentos de
F1 e F2 possivelmente precisam ainda de ser reformulados como categorias. Em F5 o
1600
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
Considerações finais
Esta perspectiva, que toma como ponto de referência a percepção do próprio su-
jeito dessas dificuldades, ajuda na compreensão das dificuldades que experimenta o
aprendente e dá indícios de como está a integrar na IL as novas categorias e processos.
1601
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
REFERENCIAS
BAKER, A.; MURPHY, J. Knowledge Base of Pronunciation Teaching: Staking out the
territory. TSL Canada Journal, v. 28, n. 2, p. 29-50, 2011.
1602
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
DERWING, T. M. Utopian goals for pronunciation teaching. In: LEVIS, J.; LEVELLE,
K. Proceedings of the 1st Pronunciation in Second Language Learning and Teaching
Conference. Ames, IA: Iowa State University, 2010. p. 24-37.
1603
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
LEVIS, J. M. The intonation and meaning of normal yes-no questions. World Englishes,
v. 18, n. 3, p. 373–380, 1999.
MIRA MATEUS, M. H.; BRITO, A. M.; DUARTE, I.; FARIA, I. H. et al. Gramática
da língua portuguesa. Lisboa: Caminho, 2003.
1604
ANAIS DO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA
ANEXO
Texto do pré-teste
(Fonte: http://www.portoeditora.pt/acordo-ortografico/sobre)
1605