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13
Função
tem,
como
é
sabido,
um
sentido
partilhado
na
linguagem
de
todos
os
dias:
a
palavra
denota
quer
o
conjunto
de
tarefas
ligadas
a
um
lugar,
a
um
posto
de
trabalho,
a
uma
profissão,
quer
o
estatuto
global
dessa
profissão
ou
dessa
posição.
Entende-‐se
imediatamente
o
que
se
quer
dizer
quando
se
fala
das
funções
do
professor,
do
marceneiro,
do
medico,
mesmo
quando
não
se
conheça
em
pormenor
o
conteúdo
de
tais
funções
.
A
partir
do
século
XIX,
porém,
o
termo
passou
a
ter
usos
e
sentidos
específicos
no
campo
científico.
É
assim
que,
na
matemática,
função
designa
corres-‐
pondências
sistemáticas
entre
duas
classes
de
objectos,
de
tal
modo
que
a
modi-‐
ficação
num
elemento
implica
modificação
em
outro.
E
nas
ciências
biológicas,
quando
em
sede
da
fisiologia
se
procura
estudar
a
totalidade
orgânica
e
as
condições
de
funcionamento
dos
organismos
vivos,
função
é
justamente
o
con-‐
ceito
que
denota
as
actividades
desenvolvidas
pelos
aparelhos
e
cuja
coorde-‐
nação
é
essencial
para
a
conservação
da
vida.
A
noção
matemática
de
função
passou
a
ser
utilizada
no
campo
das
ciências
sociais
na
sua
instrumentalidade
externa
de
coadjuvante
técnico
quantitativo.
Já́
o
conceito
tal
como
a
fisiologia
o
forjou
foi
importado,
em
particular
para
a
sociologia
e
a
antropologia,
arrastando
com
essa
importação
certas
concepções
da
sociedade
configuradas
por
analogia
com
os
organismos
estudados
pela
biologia
.
Spencer,
Comte,
Durkheim,
Malinowski,
Radcliffe-‐Brown,
são
autores
que
uti-‐
lizaram
o
conceito,
bem
como
outros
como
o
de
organismo,
de
estrutura,
de
meio,
de
evolução,
todos
eles
transportados
analogicamente
da
biologia
para
o
estudo
das
sociedades.
O
final
do
século
passada
assiste
assim
ao
surgimento
do
funcionalismo
como
paradigma
teórico,
cujas
variantes
até́
hoje
se
prolongam
na
sociologia
e
na
antropologia.
O
conceito
de
função,
articulando
as
instituições
sociais
e
as
suas
actividades
com
o
que
se
considerava
serem
as
necessidades
do
organismo
social,
ganha
uma
grande
centralidade.
E
penetra
naturalmente,
por
assim
dizer,
no
meio
científico,
assim
como
encontra
utilização
num
publico
mais
vasto,
dada
a
sua
conotação
eminentemente
utilitarista
que
se
conjugava
com
as
preo-‐
cupações
da
época.
Falar
de
funções
é,
com
efeito,
apelar
à
indagação
sobre
a
utilidade
dos
comportamentos,
das
crenças,
das
instituições,
induzindo
siste-‐
máticas
perguntas
do
tipo:
para
que
serve?
E
para
que
serve
este
exemplo?
Não
apenas
para
ilustrar
como
na
primeira
juventude
das
ciências
sociais
elas
recorriam
a
instrumentos
conceptuais
elabo-‐
rados
noutros
campos
científicos.
Também
para
mostrar
duas
coisas
de
alcance
mais
vasto.
A
primeira
é
que
essas
«contaminações»
no
interior
dos
campos
científicos
continuam
a
acontecer
e
que
elas
são
inevitáveis,
normais
e
até́
dese-‐
jáveis
.
Elas
acontecem
também
a
partir
da
linguagem
comum,
de
todos
os
dias,
já́
que,
excluídas
as
componentes
mais
formalizadas
do
discurso
científico,
é
aquela
linguagem
que
constitui
o
alimento
instrumental
por
excelência
desse
discurso.
14
A
outra
coisa
que
o
exemplo
sugere,
finalmente,
é
que
a
importação,
a
tradução
de
linguagens
de
um
campo
para
outro,
não
é
nunca
inocente.
Ela
envolve,
de
forma
nem
sempre
consciente,
a
importação
de
fragmentos
conceptuais
ligados
às
suas
utilizações
de
origem.
O
conceito
de
função,
com
proveniência
na
biologia,
pode
ainda
ilustrar
o
pro-‐
blema.
Os
seres
vivos,
entendidos
como
sistemas
unitários,
estão
dependentes,
como
vimos,
de
funções
desempenhadas
por
aparelhos
e
por
órgãos.
É
essa
actividade
conjugada
que
permite
a
continuidade
da
vida.
Ao
transportar-‐se
o
conceito
de
função
para
o
estudo
das
sociedades
existe
a
possibilidade
de
lhes
atribuir
analogicamente
as
características
dos
organismos
biológicos.
Aos
aparelhos
corresponderiam,
na
sociedade,
as
instituições.
As
funções,
por
elas
desempenhadas,
permitiriam
também
manter
viva
a
sociedade.
Não
poderá́ ,
se
usar
acriticamente
a
noção,
fazer-‐se
passar
uma
teoria
implícita,
conservadora,
que
recuse
a
mudança,
a
favor
da
preservação
das
sociedades
tal
como
elas
existem?
A
utilização,
nesse
contexto,
do
conceito
de
função,
não
poderá́
indirectamente
legitimar
todas
as
funções
existentes
e,
com
elas,
quer
as
instituições
que
as
desempenham,
quer
a
sociedade
como
um
todo
que
constituiria
a
razão
de
ser
de
instituições
e
de
funções?
O
modelo
analógico
eventualmente
transportado
de
contrabando
na
bagagem
do
conceito
de
função
ilustra,
assim,
o
risco
que
se
corre
se
se
prescindir
de
analisar
cada
especifica
utilização,
em
cada
quadro
teórico
preciso,
dos
instru-‐
mentos
necessários
à
pesquisa.
Não
se
trata,
claro,
de
tentar
evitar
importações
e
transferências
desses
instrumentos.
Apenas
de
explicitar,
com
o
rigor
pos-‐
sível,
a
denotação
dos
conceitos
e
as
implicações
das
teorias
utilizadas.
Indo
portanto
buscar
a
atitude
científica
e
alguns
recursos
às
ciências
mais
avançadas,
os
nascimentos
das
ciências
sociais
na
sua
feição
moderna
foram
ocorrendo
a
partir
do
século
XVIII
e
em
particular
no
século
passado.
Tais
surgimentos
verificaram-‐se
em
ordem
dispersa,
à
medida
de
procuras
sociais
com
diferentes
incidências
e
diferentes
intensidades.
Não
se
estranhará,
por
exemplo,
a
precoce
evolução
da
demografia,
se
se
recor-‐
dar
a
importância
que
desde
muito
cedo
teve
o
conhecimento
sobre
quantas
pessoas
e
quais
deveriam
pagar
impostos,
ou
quantas
e
quais
poderiam
ser
mobilizadas
para
os
exércitos.
Nem
admira
o
rápido
desenvolvimento
da
ciência
económica,
se
se
tiver
em
conta
a
urgência
que
havia,
após
a
Revolução
Industrial,
de
entender
lógicas
e
mecanismos
de
regulação,
substancialmente
diversos
dos
anteriores.
No
século
passado,
em
todo
o
caso,
estava-‐se
ainda
longe
do
fraccionamento
interior
ao
campo
das
ciências
sociais
que
viria
a
manifestar-‐se
depois.
É
certo
que
já́
se
dava
nome
ao
que
se
pode
designar
por
ciências
sociais
clássicas.
Mas
quem
nelas
trabalhava
não
queria
dar-‐se
ao
luxo
de
ignorar
perspectivas
e
15
instrumentos
que
hoje
chamaríamos
transdisciplinares.
Marx,
Weber,
Durkheim,
os
pais
fundadores
da
sociologia,
eram
certamente
também
historiadores,
econo-‐
mistas
,
cientistas
políticos,
demografo
...
A
desigualdade
das
procuras
socialmente
formuladas
contribui
para
explicar,
como
já́
se
mencionou,
a
ordem
dispersa
de
entrada
em
cena
das
ciências
sociais
e
também
os
diferentes
ritmos
da
sua
institucionalização
e
do
seu
desenvolvimento.
Esse
desenvolvimento
é,
por
sua
vez,
tributário
do
modo
como
as
praticas
cien-‐
tíficas
se
inserem
na
sociedade.
Na
verdade,
a
configuração
das
instituições
em
que
elas
se
abrigam
-‐
como
é
o
caso
das
universidades
-‐
ou
o
tipo
de
pessoas
que
a
elas
se
dedicam,
constituem
factores
interferentes
naquilo
que
tais
ciên-‐
cias
vão
sendo
capazes
de
ser
e
de
fazer
ao
longo
das
suas
histórias
localizadas.
Tipos
de
procura,
inserções
institucionais,
características
dos
actores,
não
são
senão
exemplos
do
vasto
e
heterogéneo
conjunto
de
condições
sociais
presentes
no
desenvolvimento
científico.
O
desenvolvimento
das
ciências
depende,
por
outro
lado,
de
um
diferente
con-‐
junto
de
condições,
internas,
estas,
ao
próprio
campo
científico.
Quando
se
mencionava
a
importação,
por
parte
das
ciências
sociais,
de
noções,
conceitos,
teorias,
a
partir
quer
do
senso
comum
e
da
linguagem
quotidiana,
quer
das
ciências
da
natureza,
estava
a
designar-‐se
uma
parte
dos
recursos
que
foram
especialmente
necessários
nas
fases
iniciais
de
desenvolvimento.
Todos
os
meios
desse
tipo
designam
o
segundo
conjunto
de
condições
também
presentes
na
configuração
de
cada
ciência:
as
condições
teóricas
da
produção
científica.
As
condições
teóricas
representam,
assim,
o
ponto
de
partida
e
de
referência
do
trabalho
que
em
cada
momento
é
possível
fazer
num
determinado
campo.
Elas
exprimem,
simultaneamente,
os
resultados
de
pesquisa,
os
saberes
acumulados
que
a
disciplina
produziu
ao
longo
da
sua
história.
E
envolvem,
não
apenas
toda
a
instrumentalidade
teórica,
metodológica
e
técnica
disponível,
como
os
proble-‐
mas
de
investigação
que
constituem
a
agenda
dessa
disciplina.
É
claro,
então,
que
novos
desenvolvimentos
e
resultados
susceptíveis
de
serem
obtidos
estarão
directamente
dependentes
de
tais
condições.
Quanto
a
todo
o
conjunto
de
factores
que
se
referem
aos
contextos
de
enquadra-‐
mento
do
trabalho
científico
-‐
a
que
chamámos
condições
sociais
-‐
só
indirec-‐
tamente
interferem
nos
produtos
da
actividade
de
investigação.
Dizer
que
a
interferência
é
indirecta,
não
corresponde,
repare-‐se,
a
minimizar-‐
-‐lhe
a
importância
dos
efeitos
.
Pense-‐se,
por
exemplo,
no
que
pode
fazer
a
favor
do
desenvolvimento
de
um
qualquer
campo
científico
ou
de
um
dos
seus
segmentos,
o
facto
de
lhe
ser
atribuída
prioridade
em
termos
políticos
e
sociais
e,
por
força
disso,
apoios
e.
investimentos.
Pense-‐se,
em
contrapartida,
no
definhamento
inevitável
dos
que
ficam
secundarizados
na
hierarquia
das
prioridades
socialmente
definidas.
16
A
luta
que
as
varias
disciplinas
travam
no
sentido
de
ganhar
visibilidades
posi-‐
tivas,
de
atrair
reconhecimento
acerca
dos
seus
méritos
e
utilidades,
tem
por-‐
tanto
também
por
objectivo
mobilizar
todo
o
tipo
de
recursos
de
que
carecem
para
a
sua
actividade
própria.
O
que
vale
a
pena
deixar
sugerido,
nesta
fase,
é
que
se
quiséssemos
indagar
cabalmente
por
que
formas
e
por
que
razões
a
sociologia
se
distingue
de
outras
ciências
sociais,
teríamos
provavelmente
de
examinar
não
apenas
os
diferentes
instrumentos
e
produtos,
mas
de
percorrer
as
condições
sociais
que
presidiram
,
história
da
formação
de
cada
uma
dessas
ciências
bem
como
às
que
hoje
nelas
interferem.
A
questão
é,
assim,
um
pouco
mais
complexa
do
que
poderia
parecer.
À
primeira
vista,
e
à
força
de
se
falar
em
realidade
económica,
realidade
política,
realidade
demográfica,
realidade
linguística
e
muitas
outras
"realidades”
da
ordem
social,
é-‐se
levado
a
pensar
que
as
sociedades
se
compartimentam
em
todas
essas
realidades.
Se
assim
fosse,
ter-‐se-‐iam
então
encontrado
razões
“naturais"
para
a
existência
individualizada
de
cada
ciência
social.
Economia,
ciência
política,
demografia,
linguística,
seriam
evidente
contrapartida,
no
plano
científico,
desses
sub-‐conjuntos,
dessas
fatias
da
realidade
social.
O
que
acontece,
no
entanto,
é
que
os
fenómenos
sociais
são
indesignáveis
pre-‐
viamente
de
forma
separada.
Eles
são
sempre,
para
usar
uma
expressão
clássica
"fenómenos
sociais
totais",
ou
seja,
são
simultaneamente
económicos,
políticos,
etc.
O
vector
não
vai,
nesse
sentido,
da
realidade
para
o
conhecimento,
mas
sim
do
conhecimento
para
a
realidade.
Dito
de
outra
maneira,
são
os
processos
de
conhecimento
que
nomeiam
e
qualificam
a
realidade
social
no
próprio
movimento
da
analise;
são
as
disciplinas
que
instituem
dimensões
dessa
realidade
ao
examiná-‐la.
A
realidade
social
é
então
estudada
pelas
diferentes
disciplinas
segundo
pers-‐
pectivas
parcialmente
diferentes.
O
desdobramento
de
interesses,
interrogações
e
olhares
-‐
por
vezes
contraditórios
mas
também
complementares
-‐
eis
o
que
singulariza
as
diferentes
disciplinas
e
tomou
historicamente
plural
o
campo
das
ciências
sociais.
Este
tipo
de
afirmações
é
o
que
decorre
de
posições
epistemológicas
raciona-‐
listas
.
As
posturas
epistemológicas
empiristas
tenderão
a
atribuir
ao
conhecimento,
pelo
contrario,
as
características
de
um
registo
passivo
da
realidade.
Obter
saberes
científicos
sobre
ela
exigiria,
apenas,
observadores
treinados
e
inteligentes.
Na
perspectiva
racionalista
o
conhecimento
é
sempre
um
processo
activo,
de
construção,
com
os
seus
protocolos
próprios.
A
realidade
não
fala
por
si,
é
necessário
interrogá-‐la
para
obter
respostas.
E
o
tipo
de
inteligibilidade
obtida
e
tá
sempre
ligado
à
forma
do
questionamento.
17
Se
é
assim,
se
a
prioridade
vai
para
a
formulação
de
perguntas,
se
as
respostas
só
se
obtêm
no
campo
delimitado
por
essas
perguntas,
então
pode
também
dizer-‐se
que
uma
disciplina
científica
se
define
globalmente,
antes
de
mais,
pela
sua
pro-‐
blemática
teórica,
ou
seja,
pelo
conjunto
estruturado
de
questões
que
formula.
Quando
a
invenção
do
microscópio
permitiu
pela
primeira
vez
a
visibilidade
material
de
microrganismos,
não
estava
disponível
teoria
de
acolhimento
para
essa
visibilidade
material.
Ela
foi,
então,
escândalo.
Teve
de
se
esperar
pela
for-‐
mulação
de
novas
interrogações
e
teorias
para
que
a
visibilidade
puramente
ma-‐
terial
passasse
a
envolver
também
visibilidade
teórica,
inteligibilidade
efectiva.
Alguma
coisa
de
análogo
acontece
no
campo
das
ciências
sociais.
Os
problemas
sociais
-‐
as
contradições,
dificuldades,
situações,
processos
-‐
não
se
transcrevem
de
forma
mágica
ou
automática
para
o
interior
do
campo.
É
preciso
haver
interrogações
adequadas
que
abram
domínios
de
visibilidade
para
tais,
problemas
e,
ao
fazê-‐lo,
suscitem
conceitos,
relações
entre
conceitos,
teorias,
com
capacidade
para
os
explicar
de
modo
mais
ou
menos
adequado.
Qualquer
disciplina
científica
-‐
a
sociologia,
por
exemplo
-‐
pode
então
ser
entendida
como
uma
matriz
que
dispõe
de
linhas
representativas
de
dimensões
da
sua
problemática
e
de
colunas
correspondentes
às
dimensões
dos
problemas
tornados
visíveis
por
essa
problemática.
Formular
perguntas
corresponde
a
um
conjunto
de
operações
de
tradução,
cor-‐
responde
a
dar
visibilidade
no
interior
da
disciplina
a
certos
problemas
sociais
convertendo-‐os
também
em
problemas
sociológicos.
A
matriz
disciplinar
é
ela
própria
constituída
pelos
conceitos
e
relações
entre
conceitos
que
ela
foi
forjando
e
que,
sendo
suscitados
pelas
interrogações
da
problemática,
procuram
responder
aos
problemas
científicos
enfrentados.
A
matriz
teórica
disciplinar
implica,
portanto,
que
os
conceitos
utilizáveis
estão
duplamente
referenciados,
a
problemáticas
e
a
problemas
.
Ela
envolve,
além
disso,
a
pluralidade
de
elementos
operatórios
que
a
disci-‐
plina,
num
certo
momento,
pode
mobilizar.
O
que
significa
que
tem
de
dispor
de
diversos
tipos
de
conceitos.
Inclui,
por
um
lado,
conceitos
de
alto
nível
de
abstracção
e
com
funções
de
enquadramento,
a
par
de
conceitos
que
se
constroem
com
o
objectivo
de
dar
mais
directamente
conta
da
realidade
empírica
a
examinar.Uns
e
outros,
por
pre-‐
tenderem
reportar-‐se
a
essa
realidade,
podem
designar-‐se
por
conceitos
subs-‐
tantivos.
Relacionados,
agrupados
e
organizados
segundo
certas
lógicas,
eles
instituem
as
teorias,
que
são,
como
se
sabe,
o
instrumento
essencial
da
pesquisa:
resultado
do
conhecimento
e
instrumento
de
produção
de
novos
conhecimentos.
Se
a
matriz
teórica
representa
o
conjunto
de
disponibilidades
instrumentais
de
que
a
disciplina
se
pode
servir
para
construir
saberes,
ela
há́ -‐de
igualmente
incluir,
finalmente,
conceitos
processuais.
Ela
há́ -‐de
incluir
os
métodos
e
as
teci-‐
cas
utilizáveis
nesse
quadro
disciplinar.Métodos
e
técnicas
são
também
meios
de
18
trabalho
científico,
mas
de
outro
nível,
já́
que
não
se
referem
à
realidade
a
ana-‐
lisar,
antes
constituem
recursos
auxiliares,
procedimentos
e
meios
mais
ou
menos
estandardizados
de
que
a
ciência
se
serve
para
testar
as
suas
hipóteses,
para
pôr
à
prova
e
para
desenvolver
as
suas
teorias.
Construir
amostra
significativa
de
uma
população,
aplicar
um
inquérito
por
questionário,
tratar
estatisticamente
resultados
de
pesquisa,
desenvolver
uma
entrevista
aprofundada,
fazer
a
analise
de
conteúdo
de
um
texto,
eis
alguns
dos
procedimentos
a
que
frequentemente
os
sociólogos
recorrem
no
curso
das
suas
pesquisas.
Trata-‐se
aqui
dos
tais
conceitos
e
relações
entre
conceitos
de
tipo
processual,
dos
métodos
e
técnicas
de
pesquisa.
A
distinção
entre
as
ciências
sociais
há́ -‐de
encontrar-‐se
então,
em
suma,
na
configuração
das
suas
matrizes:
nas
interrogações
que
formulam,
nos
problemas
que
trabalham,
nos
conceitos
e
teorias
que
constroem,
nos
métodos
e
técnicas
que
accionam.
Como
já́
se
deixou
referido,
e
é
evidente,
o
ambiente
de
desenvolvimento
de
cada
disciplina,
as
condições
sociais
da
sua
inserção,
interferem
também
constantemente
no
que
ela
vai
sendo.
Pense-‐se
em
certos
problemas
sociais
mais
generalizadamente
sentidos
de
forma
negativa
e
de
que
são
exemplo
hoje
a
toxicodependência
ou
o
Sida,
a
violência
ou
o
desemprego,
a
pobreza
ou
a
exclusão
social.
É
claro
que
tais
questões,
pela
mera
pressão
implícita
da
sua
difundida
visibilidade,
tendem
a
candidatar-‐se
a
rechear
a
agenda
das
prioridades
analíticas
de
ciência
social
que
com
elas
eventualmente
possa
lidar.
Essas
interpelações,
por
outro
lado,
também
geram
directamente
procuras,
pedidos
financiáveis
de
pesquisas
especificas.
A
capacidade
diferenciada
que
as
ciências
sociais
tenham
de
a
elas
responder
e
corresponder,
além
de
influir
nas
orientações
prioritárias
de
cada
uma
dessas
-‐
ciências,
repercute-‐se
no
respectivo
desenvolvimento
e
vitalidade
globais.
E
todas
essas
influências
externas
se
acrescentam
às
inércias
próprias
de
cada
disciplina
resultantes
da
construção
permanente
e
activa
dos
seus
objectos
cien-‐
tíficos
próprios,
a
partir
do
accionamento
dos
instrumentos
que
está
em
condições
de
mobilizar.
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