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Faculdade de Economia

Universidade do Algarve

Sociologia
Educação, Sociedade e Culturas

Trabalho
O insucesso e abandono escolar em Portugal

Docente: João Martins


Discente: Pietro Cardoso Nº 72819
Resumo: Este presente trabalho tem como um dos principais objetivos analisar criticamente
artigos empíricos e abordagens teóricas, de autores de referência, acerca da temática do
insucesso e abandono escolar no contexto português, e de quais formas, as variáveis
socioeconómicas podem estar relacionadas com este fenómeno. O excerto também pretende
percecionar os resultados teóricos e de pesquisa científica, levantados pelos escritores e
sociólogos explorados, e as transformações no sistema educacional ao longo dos últimos
anos. Como hipótese de investigação, este excerto pretende compreender se os obstáculos na
adaptação ao sistema educativo, diante dos jovens, estão relacionados com contextos
exteriores ao ambiente escolar (exclusão social, situação económica, parentalidade).
Pretende-se também, observar a instituição escolar, como mecanismo fundamental para o
funcionamento da sociedade e de como o ensino nas escolas permeiam quase todos os aspetos
sociais da vida de um indivíduo. Por fim, busca-se entender como os programas de apoio
escolar funcionam e, de que maneira, os alunos do ensino básico e secundário, vêm
usufruindo destes projetos para potencializar o seu desempenho escolar.

Palavras-Chave: Sistema Educacional; Insucesso Escolar; Desigualdades Sociais;


Abandono Escolar; Escolarização;

Introdução

No que diz respeito ao combate ao insucesso escolar em Portugal, o Estado vem


procurando implementar estratégias que promovam uma aprendizagem de maior qualidade
para todos, por meio da criação de sistemas educativos alternativos. Quanto à evasão escolar
precoce, Pinto (2016), afirma que, ao longo dos anos, as tentativas do Estado português em
diminui este fenómeno, é caracterizado por falhas consideradas irreversíveis. Uma das
maiores causas da desistência antecipada, dá sé pelo fator psicológico dos alunos, uma vez
que os jovens relatam diversos obstáculos na compreensão dos códigos e normas escolares.
“Após de detectados os primeiros sinais de dificuldade, as pessoas admitem a desistência por
não serem capazes” (Gomes & Pinto, 2016).

Os conceitos de insucesso e abandono escolar são muito explorados pelos autores de


referência da temática da Sociologia da Educação e possuem total pertinência sociológica no
debate sobre a socialização dos jovens e desigualdades no ambiente educativo. De acordo
com Gomes (2016), o primeiro é definido como termo utilizado para caracterizar o fraco
rendimento escolar, ou seja, as dificuldades que um aluno pode ter em acompanhar a
formação escolar e atingir os objetivos propostos no tempo previsto de acordo com a sua
idade. Segundo Pinto (2016), o abandono escolar diz respeito à ação de um aluno em deixar o
ambiente escolar, sem ter concluído o nível de ensino em que estava matriculado e surge
relacionado com os maus resultados escolares, fracas expectativas no futuro, atrasos no
percurso escolar e desajustamentos, fracassos, desinteresse e rejeição pela escola. Apesar da
intrínseca ligação, os dois termos conceptuais possuem causas e consequências distintas, ou
seja, podem variar de acordo com a vida dos indivíduos em sociedade (Gomes & Pinto,
2016).

Histórico do Sistema Educacional em Portugal

As políticas públicas com objetivo de aumentar o sucesso escolar entre os jovens,


assumem importância, principalmente após a aprovação da Lei de Bases de Educação e da
escolaridade obrigatória de 9 anos, que estabelece como obrigações do Estado o estímulo da
frequência escolar, a “promoção do sucesso educativo”, o “apoio a alunos com necessidades
escolares específicas”, e a “ação social escolar”, comprometendo o Estado com medidas de
promoção do sucesso e combate ao abandono escolar. A partir de 1987, com a concretização
da Lei de Bases são lançados os primeiros programas de promoção do sucesso e combate ao
abandono escolar, definindo-se metas e objetivos que orientam a intervenção política. “No
que se refere ao combate ao insucesso escolar, têm preponderância as medidas de política que
visam promover apoios sociais na escola e colmatar dificuldades económicas das famílias”
(Alves & Calado, 2014).

A adoção da Lei de Bases (1987), é considerada “motor de arranque” relativamente ao


desenvolvimento concreto do sistema educacional português, e é baseada em três aspetos
importantes: ciência, tecnologia e formulação de medidas políticas. Este projeto de lei foi
caracterizado pela busca de um acordo entre atores e agentes públicos para intervir na
educação. Os debates políticos de 1987, se centravam na promoção de um "consenso
nacional", permitindo alterações na XI Constituição e estabilizando o "Acordo Educativo" em
resposta à maioria relativa sob intensa pressão para alterar os resultados educacionais. De
acordo com Viegas (2022), no início do século XXI, “Parecia haver um foco crescente em
como as escolas funcionam, e que gradualmente, as políticas de promoção de matrículas
escolares foram ganhando notoriedade e tornando-se visíveis”. Após a implementação de
políticas destinadas a promover mudanças no processo de ensino, a continuidade do
investimento na educação pré-escolar é evidente, pois surge ao longo do período como uma
medida relacionada com as estratégias de prevenção do insucesso (Viegas, 2022).
Desigualdades no Ensino

Na problemática da integração social no ambiente escolar, Gomes (2016) destaca que


as principais funções da escola são de promover a socialização entre os indivíduos, para estes
poderem desenvolver as habilidades necessárias para existirem plenamente como cidadãos e
profissionais. De acordo com Pinto (2016), a chegada de novas classes sociais às escolas
trouxe para, o cenário educacional, mais questionamentos sobre o papel da escola na
promoção da integração social e que o debate destes assuntos podem ser mais presentes nas
áreas urbanas, pois é onde a organização da vida social e familiar é mais complexa. A relação
das zonas mais ricas com os bairros sociais e os respetivos processos de segregação espacial
podem criar uma desagregação social, profissional e cultural para muitas crianças
portuguesas. Esta relação escola-ambiente é particularmente importante nas chamadas zonas
sensíveis, onde existe um maior risco de exclusão social e de tarefas de integração numa
escala que não pode ser realizada apenas pela escola, mas sim por contextos exteriores.
Segundo os autores, o aumento dos números de abandono precoce escolar, está conectado à
situação económica e parental dos jovens que residem nas áreas mais pobres do país (Gomes
& Pinto, 2016).

Calado (2014) destaca a não integração da sociedade no nível organizacional das


cidades urbanas, levando ao surgimento de guetos, os quais criam ambientes de insegurança e
violência. A maioria das escolas em comunidades sociais tem características próprias da área
em que vivem, o que afeta o seu funcionamento. Por sua vez, as escolas apresentam carência
de uma educação que promova o conhecimento e a valorização da diversidade. As diferenças
linguísticas e as dificuldades de compreensão de normas, regras e valores agravam ainda mais
a dificuldade de integração de populações que mantêm uma relação instável e, por vezes,
conflituosa com as instituições escolares. Por seu lado, a escola deixou de desempenhar um
papel de integração social porque não consegue resolver os problemas internos da integração
escolar, obrigando a pensar novas respostas pedagógicas e organizacionais nestes contextos.
(Alves & Calado, 2014)

Insucesso e Abandono Escolar em Portugal

Em relação aos números da retenção em Portugal nos vários ciclos de estudos, pode-
se observar que, apesar de uma diminuição progressiva das taxas de retenção até 2010, estes
índices tendem a agravar-se a partir desse ano, com destaque para os acontecimentos no 2.º
ciclo de escolaridade. De acordo com Viegas (2022) “A retenção em Portugal é persistente e
estrutural mostrando até que ponto houve uma cristalização nas rotinas e no funcionamento
da escola sem que se perceba realmente a bondade pedagógica da retenção ou dos exames
enunciados como dispositivo ao serviço da qualidade educativa”. Segundo dados estatísticos
do PORDATA (2012), em 2014 Portugal é o quarto país da EU com maior taxa de abandono
escolar precoce (faixa etária entre 18-22 anos) com 14,7%. Viegas (2022) afirma que, apesar
da enorme redução verificada ente 1992 e 2014, o país ainda precisa resolver o problema de
repensar o modo de manter os alunos no sistema educativo garantindo a qualidade das
aprendizagens e a equidade desse mesmo sistema. No debate científico, o principal
paradigma sociológico do sistema educativo português é, de quais formas o Estado pode
providenciar um ambiente equitativo para a população escolar, a qual é muita diversa tanto
social e culturalmente, como economicamente. O caminho da escola burocrática centrado
numa organização e num trabalho pedagógico igual para todos leva a uma ampliação das
desigualdades (Viegas, 2022) (PORDATA, 2022) (Gráfico 1 e 2).

Portugal registou no ano de 2021 uma taxa de abandono escolar de 5,9%, valor que
foi revelado pelo PORDATA e que o Governo português assinala como o mínimo histórico.
Os dados revelados no final do último ano apontam para uma redução desta taxa para menos
de metade no período dos últimos seis anos: em 2016, o valor era de 14%, tendo vindo a
baixar nos anos seguintes, segundo os dados disponibilizados pela PORDATA. Em 2020, o
valor desta taxa foi de para 8,9%, cujo é abaixo da média europeia, que foi de 9,9% segundo
os dados do INE (2022). A taxa de abandono escolar tem sido considerada o principal
indicador do desempenho dos sistemas educativos, uma vez que permite identificar a
percentagem de jovens que não concluiu o ensino secundário, nem se encontra a frequentar
qualquer modalidade de educação e formação. Citando Viegas (2022), “Existe um esforço em
garantir a escolaridade a todas as crianças e jovens, tornando a escola mais flexível, mais
integradora e mais inclusiva” (PORDATA, 2022) (INE, 2022) (Viegas, 2022) (Gráfico 3 e 5).

Nas últimas duas décadas, a taxa de abandono escolar precoce apresentou um


decréscimo de 35% em Portugal (em 1992 era de 50%, em 2010 de 28,3%) enquanto a média
europeia de decréscimo foi de 8%. Os dados dos primeiros nove meses apontam para um
valor no final de 2021 na ordem dos 6%, sendo que apenas seis países da UE registaram taxas
de abandono abaixo desse valor, segundo o INE (2022). A taxa de abandono na educação tem
sido o principal indicador da evolução dos sistemas educativos, pois nas sociedades
contemporâneas, estes valores estão intrinsecamente ligados com os fenómenos sociais da
competitividade económica, a coesão social e a igualdade de oportunidades, cujos escritores
relevantes cientificamente, apontam como pautas sociológicas extremamente pertinentes
(PORDATA, 2022) (Viegas, 2022) (Gráfico 3 e 4).

Programas de Apoio Escolar

Como citado anteriormente, a partir de 1987, com a concretização da Lei de Bases, o


Estado português inaugura os primeiros programas de promoção do sucesso e combate ao
abandono escolar, definindo metas e objetivos que direcionam as intervenções políticas. De
1987 a 2002 a efetivação dos 9 anos de escolaridade constitui o objetivo central das políticas
educativas, assumindo centralidade o combate ao insucesso, sobretudo, ao abandono escolar.
Neste período podem ser identificados dois momentos distintos: até 1995, é a fase dos
programas integrados e de promoção da procura escolar, estando ainda muito presentes as
questões do acesso e alargamento da rede escolar. No que diz respeito ao combate ao
insucesso, o Estado tem procurado gerar projetos sociais que possam ajudar os alunos a
melhorar os seus desempenhos escolares, por meio de auxílios financeiros e logísticos, como
a distribuição de comida e leite escolar, maior investimento nos transportes públicos e
melhoria nos sistemas de cuidados à saúde nas escolas. A conclusão da meta de 100% de
escolarização aos 14 anos, marca o fim das reformas e dos grandes planos, e aparece um
maior foco nos processos de ensino e aprendizagem, de maneira diversificada e ajustada ao
sistema educativo português (Alves & Calado, 2014).

A partir de 2003 iniciou-se um ciclo que se estendeu até 2010, com a aprovação da
Lei n.º 85/2009 de 27 de agosto, que assenta a extensão da escolaridade obrigatória até aos 18
anos. A definição de metas europeias relativas à obtenção de qualificações de nível
secundário, e a publicação de relatórios comparativos internacionais que desfavoreciam o
país, contribui para transformar em prioridade de política educativa o combate ao abandono
escolar precoce. A promoção de escolarizações de nível secundário tornou-se um objetivo
central da política educativa e uma boa parte das medidas implementadas no ensino básico
procuram cumprir as metas e sustentar a diversificação curricular no sistema educativo, para
a mudança de percurso de educação-formação e a frequência escolar no secundário (Alves &
Calado, 2014).

Os investimentos do Fundo Social Europeu (FSE) contribuem positivamente para o


paradigma societário do abandono escolar, financiando modelos de ensino básico e
secundário para jovens e apoiando medidas que promovam a qualidade e a inovação na
educação. Medidas de prevenção e combate ao insucesso escolar, como o financiamento da
fase inicial do Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, o reforço da rede de serviços
de psicologia e orientação escolar e o investimento na formação contínua de professores e
demais agentes educativos do sistema educativo são consistentes com medidas de política
pública para fornecer Estes resultados contribuem, como demonstrado na avaliação de
contribuições de Portugal 2020 para a promoção do sucesso educacional, redução da
aposentadoria precoce e empregabilidade dos jovens. Muitas escolas disponibilizaram os
recursos necessários para que nenhum aluno fosse mais prejudicado do que outro (Alves &
Calado, 2022)

A primeira década do século XXI foi uma época de forte investimento em políticas de
promoção do sucesso escolar, representando uma clara aposta na melhoria da qualidade da
aprendizagem. A primeira metade consistiu em grande parte num conjunto de políticas
concebidas durante o XV governo constitucional, que foram posteriormente implementadas,
ampliadas, aprimoradas e/ou alteradas durante a segunda metade. A orientação das políticas
de combate ao insucesso e abandono precoce neste período seguiu a ideia do ensino
secundário como estatuto de referência para intervenções no sistema educativo, e a
introdução crescente de planos de avaliação do processo de implementação de medidas,
voltando-se para a base de decisão política tecnológica, não só refletida no desenho e na
procura de consenso, mas sobretudo na implementação de medidas de monitorização,
monitorização de resultados e avaliação de resultados (Alves & Calado, 2014).

Conclusão

Após a exploração extensa de artigos, obras de referência e fontes oficiais de


estatística nas áreas da Sociologia da Educação e Sociologia das Desigualdades, pode-se
primeiramente concluir que, o fenómeno do insucesso escolar nos bairros sociais, pode estar
ligado com distintas variáveis sociais como: a classe económica, exclusão social, situação
familiar e etnicidade/religião. Também pode-se perceber, de que formas, os programas de
apoio escolar auxiliam os jovens do ensino básico e secundário, não apenas na
potencialização dos desempenhos individuais, mas na inclusão dos indivíduos no ambiente
escolar e social. Por fim, conclui-se a partir dos dados estatísticos, que Portugal ao longo dos
últimos anos, está melhorando os índices de insucesso escolar e abandono, devidamente pela
implementação de políticas públicas para promover possíveis melhores resultados dos jovens
no contexto académico e fundamentar a escola, não só como mecanismo educativo, mas de
socialização atrativa para as crianças.

Referências Bibliográficas

Alvares, M. & Calado, A. (2014) Insucesso e abandono escolar precoce – Os programas


sociais, Instituto Universitário de Lisboa.

Benavente, A (1990) Insucesso escolar no contexto português — abordagens, concepções e


políticas, Análise Social (15) (715-733) Disponível:
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223034893G8cGD1nd2Zt45QL6.pdf (Acedido
em:10/10/2022).

Capucha, L. (2010) Acesso universal a qualificações certificadas: para a ruptura da relação


entre insucesso escolar e desigualdades sociais, Fórum Sociológico (47-55), Disponível em:
https://repositorio.iscte-iul.pt/handle/10071/5304 (Acedido em:22/11/2022).

Gomes, C. & Pinto, J. (2016) Insucesso e abandono escolar precoce, Universidade Nova de
Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

INE (2022) Abandono Escolar Precoce, Disponível em:


https://www.portugal.gov.pt/pt/gc22/comunicacao/noticia?i=52-de-abandono-escolar-
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PORDATA (2021) Taxa de retenção e desistência no ensino básico: total e por ano de
escolaridade, Disponível em:
https://www.pordata.pt/portugal/taxa+de+retencao+e+desistencia+no+ensino+basico+total+e
+por+ano+de+escolaridade-3507 (Acedido em 22/11/2022).

PORDATA (2021) Taxa de abandono precoce de educação e formação: total e por sexo,
Disponível em: https://www.pordata.pt/Portugal/Taxa+de+abandono+precoce+de+educa
%C3%A7%C3%A3o+e+forma%C3%A7%C3%A3o+total+e+por+sexo-433 (Acedido em
22/11/2022).

Viegas, D. (2022) Escolaridade Obrigatória, Insucesso e Abandono Escolar, Conselho


Nacional de Educação, Disponível em:
https://www.cnedu.pt/content/antigo/files/pub/BasesEducacao/9-Debate2.html (Acedido
em:10/10/2022).
Anexos

(Gráfico 1) (Gráfico 2)

(Gráfico 3)

(Gráfico 4)
(Gráfico 5)

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