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Educação Infantil
Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Evandro Galini

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Estado, Políticas Públicas e
Direito à Educação

Fonte: Getty Images


Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Estado, Sociedade e Educação;
• Políticas Públicas em Educação;
• Direito à Educação;
• Considerações finais.

Objetivos
• Discutir as relações entre estado, sociedade e educação;
• Identificar as etapas do desenvolvimento de uma política pública em educação;
• Analisar as garantias legais do direito à educação no Brasil;
• Discutir como fazer valer o direito à educação.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

Contextualização
Para uma aproximação da temática da unidade, analise a seguinte situação-problema:

A professora Sandra leciona em uma escola municipal de educação infantil (EMEI)


da periferia de um grande centro urbano. Os desafios do seu trabalho são diários, mas
procura fazer o seu melhor, ganhando reconhecimento da comunidade escolar. Ao se
envolver com os problemas da comunidade ao redor da EMEI, sentiu que o direito à
educação não era uma realidade para grande parte das pessoas da comunidade. Muitas
não tiveram acesso à escola no tempo regular e outras são obrigadas a relegar esse di-
reito para sustento da família. Também se vê muitas mães com filhos pequenos que não
possuem vaga em creches. Mesmo quem tenham o acesso ao ensino, não têm garantida
a qualidade da educação. Sandra, diante desse quadro, começou a se perguntar: como
são oportunizadas a todos o direito à educação, em especial da educação infantil? Como
são desenvolvidas políticas públicas para a educação? E qual o papel do Estado e da
sociedade na oferta de uma educação de qualidade?

Ao longo desta unidade, responderemos aos questionamentos da Sandra e refletire-


mos sobre a temática do papel do Estado no direito à educação.

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Estado, Sociedade e Educação
O primeiro passo para a professora Sandra é entender como se dá a relação entre
Estado, enquanto o conjunto de organizações e instituições públicas, e a sociedade na
garantia do direito à educação.

Apesar dos avanços nas últimas décadas da educação básica brasileira, com 99% de
cobertura do atendimento do ensino fundamental e o crescente aumento das matrículas
da educação infantil, ainda são muitos os desafios, pois temos 15% de crianças sem
acesso à educação infantil. O ensino médio, por exemplo, se mantém como um gargalo
de atendimento, com a diminuição de matrículas nos últimos anos. Os resultados de
desempenho escolar também estão aquém da garantia da qualidade do ensino. 55%
dos alunos aos 8 anos de idade e próximo aos 9 não estão plenamente alfabetizados.
Já o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), em 2017, apontou que 7 de cada
10 alunos do 3º ano do ensino médio têm nível insuficiente em português e matemática.
Esses resultados evidenciam o baixo nível de aprendizagem de crianças e jovens brasilei-
ros, em especial do ensino médio, afetando o direito à educação.

Para saber mais, acesse os links a seguir:


• Taxa bruta da educação infantil: http://bit.ly/33VH62z
• Cai o número de matrículas na educação básica: https://glo.bo/2NaphWX
• Dados da Saeb sobre a Língua Portuguesa: http://bit.ly/32H6LvD

A universalização do atendimento na educação básica e a inclusão de crianças e jo-


vens que estão fora do acesso à escola devem estar acompanhadas da melhoria do ensi-
no. Esse é o cenário da educação brasileira, resultado das políticas públicas em educação
das últimas décadas, acarretado pelo descaso dos governos, do baixo gasto público (ou
ineficiente) em educação, problemas de gestão das redes de ensino, professores mal re-
munerados e escolas com problemas estruturais de infraestrutura. Estão em jogo não só
a educação brasileira, mas o desenvolvimento social e econômico do país e, em especial,
das crianças e jovens brasileiros.

Quando discutida a responsabilidade do Estado brasileiro na garantia de um ensino


de qualidade, adentra-se no assunto do papel desse estado, que vem mudando ao longo
dos anos. A partir da década de 1970, com a crise do capitalismo mundial e a conse-
quente recessão econômica, o modelo de Estado de bem-estar social foi questionado, in-
centivando a reforma de sua organização e funcionamento. Nos anos 1980 e 1990, com
a globalização no modelo econômico, governos liberais (ou neoliberais) também fizeram
reformas do Estado, inclusive no Brasil, com políticas de privatizações, concessões, par-
cerias público-privado, contensão de gastos e enxugamento da máquina administrativa,
possibilitando um estado mais leve, chamado de “Estado mínimo” (GENTILI, 2007).
Destaca-se que, nos últimos anos o discurso “liberal” foi retomado e ganhou destaque
junto com uma agenda conservadora da sociedade, que pode trazer consequências para
o desenvolvimento social, cultural e econômico do país.

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UNIDADE
Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

O que é o Estado de bem-estar social: http://bit.ly/2PjjAsj

Nesse contexto de uma estrutura mínima do Estado, os gastos em educação são tam-
bém redefinidos, dentro de um quadro de racionalização orçamentária, com um modelo
de gestão que promove a descentralização, desregulamentação e a implementação de
políticas de avaliação de rendimento escolar.

Para Bomeny e Pronko (2002, p. 8), com o aumento da inflação e do endividamento


público, o Estado brasileiro é incapaz de arcar sozinho com os custos da educação “em
uma sociedade que se democratizou e ampliou geometricamente o percentual dos indi-
víduos com acesso à educação”.

Ainda, existe um processo de restruturação do Estado que procura responsabilizar


a escola e o professor pelo seu desempenho e, consequentemente, pela qualidade do
ensino ofertado. O Estado não consegue atender a todas as demandas sociais da popu-
lação e vem delegando parte das suas atribuições para o mercado e a organizações da
sociedade civil.

Na discussão do papel do Estado na garantia dos direitos sociais e educacionais, crí-


ticos do modelo liberal (GENTILI, 2007) apontam que, tanto mercado como o terceiro
setor, não possuem a responsabilidade por políticas públicas abrangentes e universais.
Por atuarem em outra lógica de funcionamento, em que pese ganhos financeiros, esse
tipo de política pode acirrar as desigualdades sociais, garantindo o direito somente para
quem “tem condições de pagar”, desresponsabilizando o Estado pela garantia dos direi-
tos fundamentais do cidadão.

Políticas Públicas em Educação


A política pública pode ser definida como a dinâmica de decisões públicas que bus-
cam manter o equilíbrio da sociedade ou realizar modificações nela por meio de obje-
tivos e estratégias de atuação. Essas decisões sofrem influências dos gestores públicos,
de grupos de interesses, da sociedade civil organizada e da opinião pública nas suas
diferentes etapas.

Na educação, por exemplo, as decisões públicas quando da criação ou reformulação


de uma política pública podem ter influência da concepção política do gestor público,
do seu partido político ou de grupos de interesse, tais como: sindicados dos docentes,
sindicatos patronais de Instituições Ensino Superior (IES) privadas, grupos religiosos,
institutos de pesquisas, ONGs, sociedade civil organizada, opinião pública etc.

A política pública passa pelas etapas de inclusão na agenda, elaboração, formulação,


implementação, execução, acompanhamento (monitoramento) e avaliação (SOUZA,
2006), conforme Figura 1.

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Agenda Formulação Execução

Elaboração Implementação Monitoramento


e avaliação
Figura 1 – Etapas da política pública

A agenda é o primeiro momento do processo da política pública. Ela, em geral, de-


manda de uma necessidade social ou de prioridades apontadas pelos agentes públicos e
sociais. Por exemplo, resultados de avaliações externas do desempenho dos alunos, de-
manda de grupos do setor educacional ou pressão do ministério público (como no caso
da demanda de abertura de vagas em creches da educação infantil) podem favorecer à
abertura da agenda de uma política pública.

A fase da elaboração é o momento de identificar as demandas ou os problemas e


buscar alternativas para resolvê-los. A etapa do planejamento é onde se toma decisões
em relação aos custos financeiros e sociais versus efeitos da política pública.

A formulação já é resultado da etapa de elaboração onde o gestor ou legislador pú-


blico define a norma jurídica. Por exemplo, após decidir sobre a necessidade de ampliar
vagas na educação infantil ou para um aprimoramento na formação de professores
polivalentes, o legislador constrói o marco jurídico para a política pública dessa ação.

As etapas de agenda, elaboração e formulação também podem sofrer pressão da


sociedade organizada ou mesmo da opinião pública e alterar determinadas políticas
inicialmente pensadas ou mesmo “arquivá-las”.

A etapa da implementação ocorre após a norma jurídica já estar aprovada e neces-


sitando determinar os recursos humanos e técnicos para que se coloque em prática a
política. Por exemplo, a definição dos papéis de cada órgão executor na política pública
de formação de professores, responsabilidades dos entes federativos, as determinações
para cada agente, dentre outras ações.

A execução é formada por ações para alcançar os objetivos previstos na política


pública, é de fato o “colocar em prática”. Já o acompanhamento é o momento de fazer
correções de rumo para que as metas previstas sejam atingidas. Por exemplo, se uma
determinada política estiver sendo travada na sua execução por falta de uma nova regu-
lamentação, essa ação deve ser apontada no processo de monitoramento.

Já o momento da avaliação é a etapa da mensuração e análise dos resultados pro-


duzidos pela política pública. Também é o momento de divulgação dos resultados al-
cançados para a sociedade e uma autorreflexão dos pontos positivos e de melhorias
necessários na execução da política.

Algumas políticas públicas podem ser de cima para baixo (top-down), ou seja, do gover-
no federal para os estados, municípios e distrito federal. Um exemplo é a implementação

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UNIDADE
Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como veremos nas próximas Unidades.
Outras podem surgir de demandas locais da sociedade e serem implementadas de baixo
para cima (bottom-up) – por exemplo, determinada ONG faz um projeto de recuperação
de aprendizagem de alunos de determinadas escolas ou uma comunidade desenvolve uma
rede de mães para cuidar das crianças que ainda não tiveram garantia de creche e essas
ações ganham reconhecimento público e viram políticas públicas no âmbito municipal ou
até estadual.

Top-Down

Botton-up

Figura 2 – Tipos de políticas públicas: top-down e bottom-up

Retomando o caso da professora Sandra, ela entendeu os passos que uma política
pública em educação tem para se tornar uma realidade no enfrentamento dos problemas
sociais, mas se questiona onde na norma está presente a garantia ao direito à educação?
E como pressionar o poder público para que essa garantia se torne realidade?

Direito à Educação
O direito à educação está presente na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Já no Brasil, ela está na Constituição Federal (CF), na Lei de Diretrizes e Bases de Edu-
cação (LDB) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Seguiremos detalhando
cada um desses documentos.

Declaração Universal dos Direitos do Homem


A educação é reconhecida hoje como um dos direitos fundamentais do homem,
presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações
Unidas (ONU), na qual o Brasil é signatário.

Aprovada em 1948 na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a Decla-
ração Universal dos Direitos Humanos foi inspirada na Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão da Revolução Francesa. A Declaração dos Direitos Humanos traça os fundamen-
tos da luta mundial contra a opressão, a favor da igualdade e liberdade de expressão entre
os povos, sem discriminação de cor, gênero, idioma, religião, nacionalidade e qualquer con-
dição social. Leia mais sobre a Declaração em: http://bit.ly/2MJNW5C

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Os primeiros artigos dessa declaração tratam das garantias dos direitos universais, como
o direito à vida, a igualdade perante a lei e a liberdade de expressão. O art. 1 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos diz que todos os seres humanos, homens e mulheres, de
todas as idades, são iguais como portadores de direitos. Esse primeiro artigo busca garantir
igualdade de direitos para os cidadãos em todos os países signatários das Nações Unidas.

No mesmo sentido do primeiro artigo, o art. 2 diz que, sem qualquer distinção, os
seres humanos possuem a capacidade de gozar de seus direitos e liberdades.

Nos artigos 21 e 22, reconhece-se que o ser humano é igual no seu direito ao serviço
público do seu país, incluindo os direitos econômicos, sociais e culturais, ao trabalho e,
principalmente, ao serviço educacional. Ainda, garante que o Estado cumpra com os
direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à dignidade do ser humano e ao
livre desenvolvimento da sua personalidade, o que também inclui os serviços educacio-
nais para garantir o desenvolvimento da pessoa humana.

Mas é no art. 26 da Declaração que se trata diretamente do direito à instrução, con-


siderando que a educação é um atributo do ser humano e deve ser gratuita e obrigatória
pelo menos nos graus elementares e fundamentais, sendo acessível a todos os demais
graus de escolaridade.

Importante destacar que o art. 26 fala em “graus elementares e fundamentais”, mas não
determina o que são esses “graus”. No entanto, entende-se que o direito à educação para
a primeira infância faz parte dessa garantia. No entanto, cada país define idades, níveis e
recursos para a oferta e universalização da educação infantil dentro do seu contexto legal.

Esse artigo também fundamenta a Constituição Federal brasileira de 1988 na garan-


tia do ensino obrigatório e gratuito oferecido pelo Estado, hoje da pré-escola ao ensino
médio, como veremos a seguir.

Ainda, diz que “os pais têm prioridade de direito na escolha”, reafirmando a liber-
dade de escolha e uma visão liberal, com a mínima interferência direta do Estado nas
escolhas das pessoas. O liberalismo defende os direitos humanos e as liberdades civis
dos cidadãos contra possíveis atos de opressão do Estado. Assim, o documento procura
reafirmar a liberdade da família em optar pela escola que quer para seu filho sem a “in-
terferência” do mercado ou do Estado.

Esses artigos da declaração amparam a liberdade de escolha e a garantia à educação


para todos os cidadãos.

O Direito à Educação na Constituição Federal de 1988


No Brasil, em consonância com a Declaração Universal dos Direitos Humanos da
ONU, o direito à educação foi reconhecido na Constituição Federal (CF) de 1988. Nas
constituições anteriores, o Estado brasileiro não tinha a obrigação de ofertar ensino

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UNIDADE
Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

público a todos os brasileiros, tratando a educação, em especial a educação infantil,


como uma “assistência” para quem não pudesse pagar por esse serviço. Como exem-
plo, a responsabilidade pela oferta de creches era da área da assistência social, e não da
educação, com isso, esses espaços não possuíam um caráter “educacional”, mas como
equipamentos sociais de assistência à criança carente (OLIVEIRA, 2011).

A Constituição Federal é um conjunto de regras de governo que organiza todo o ordenamento jurídico
brasileiro. O último texto foi promulgado em 5 de outubro de 1988, a chamada “Constituição Cidadã”,
por ser a primeira da história após o regime militar e ter como característica um ordenamento de direi-
tos voltados para a garantia da cidadania.
Fonte: http://bit.ly/2Phznb4

Foi na Carta Magna de 1988 que o Estado assumiu sua responsabilidade na promo-
ção da educação e oferta universal do ensino obrigatório e gratuito nos estabelecimentos
públicos, instituindo a obrigatoriedade da pré-escola ao ensino médio.

O art. 1º da Constituição Federal (CF) aponta para os direitos fundamentais que são
aqueles direitos do ser humano reconhecidos na esfera do Direito Constitucional Positi-
vo, ou seja, que têm a função de regulamentar o poder do Estado, além de garantir os
direitos considerados fundamentais a todos os cidadãos, são eles: soberania, cidadania,
dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho, valores sociais da livre inicia-
tiva e pluralismo político.

O art. 3º da CF apresentam os objetivos fundamentais da República, que são ob-


jetivos e/ou metas que devem ser perseguidas pelo Estado brasileiro. O primeiro ob-
jetivo diz que o Estado deve “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, na qual
a educação tem caráter fundamental para igualdade de oportunidades. Já o segundo
objetivo diz que o Estado deve “garantir o desenvolvimento nacional” e o terceiro ob-
jetivo, “erradicar a pobreza e a marginalização” e “reduzir as desigualdades sociais e
regionais”, tanto econômicas como sociais, entre os estados da nação e do país como
um todo, o que se consegue também por oferta de uma educação universalizada e de
qualidade para todos.

O art. 4º, II, internacionaliza–se com o tratado internacional dos direitos humanos.
Considera-se que os direitos humanos são inerentes a todos os seres humanos e a todos
os povos em todos os tempos, sendo reconhecidos pelo Direito Internacional por meio
de tratados e relações internacionais.

Já o art. 6º afirma que a educação é um direito social. Assim, a educação faz parte
de um conjunto de direitos sociais que têm como objetivo a igualdade entre as pessoas,
reconhecidas também em tratados internacionais.

Na CF de 1988, o direito à educação é tratado especificamente no capítulo III, se-


ção I, nos artigos 205 a 214. O art. 205 afirma que a educação é direito de todos os
cidadãos brasileiros e cabe ao Estado e à família o dever de garanti-la. Portanto, ambos
possuem responsabilidades pela oferta de educação como um direito. Destaca-se nesse
artigo o “dever da família” e a promoção e o incentivo da sociedade, em especial a

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sociedade civil organizada, representada por associações comunitárias, entidades re-
ligiosas e organizações não-governamentais (terceiro setor) que, em conjunto com o
Estado e a família, colaborarão com a promoção do desenvolvimento integral da pessoa
por meio da educação.

O art. 206º apresenta o direito ao acesso e à permanência na escola, ou seja, não


basta somente a matrícula do aluno, mas a garantia que ele permaneça na escola. Ainda
o acesso e a permanência devem ser gratuitos em estabelecimentos oficiais. Destaque
também para os ideais liberais de igualdade e liberdade ressaltados nesse artigo, quando
diz tratar da “coexistência de instituições públicas e privadas de ensino”, apontando para
o caráter da livre iniciativa e liberalismo econômico na área educacional.

Ainda, o mesmo artigo diz que um dos princípios é a “garantia de padrão de qua-
lidade”. Esse padrão de qualidade deve ser observado por todos os estabelecimentos
de ensino. No entanto, existe discussão em aberto sobre quais são os parâmetros para
esse padrão de qualidade, para que os entes federativos sejam cobrados do seu dever
constitucional. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), será detalhado o que se
entende por esse termo.

Nesse artigo, ainda foi feita uma distinção entre educação e ensino. A educação
entendida como todos os espaços de formação do cidadão, devendo ser oferecida pela
sociedade, família e o Estado. Já o ensino é de acesso a todos em estabelecimentos de
ensino, restrito ao ambiente escolar.

Empresa/
trabalho

Espaços de
formação Igreja/religião
informais

Educação

Escola / Sociedade/
Ensino formal comunidade

Mídias digitais/
jornais e revistas

Figura 3 – Educação ocorrendo em diferentes espaços de formação do cidadão

O art. 208º da CF trata dos deveres do Estado brasileiro em relação à educação. Deve
ser assegurada pelo Estado, por meio de políticas públicas, a escolaridade obrigatória ao
período de escolarização. Cabe à família ou aos responsáveis a obrigação da matrícula
e o acompanhamento da frequência do estudante. No subitem Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), será detalhada essa obrigação.

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UNIDADE
Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

A educação básica brasileira é formada pela:

EDUCAÇÃO ENSINO ENSINO


INTANTIL FUNDAMENTAL MÉDIO

Creches e 9 anos de 3 anos de


pré-escolas escolaridade escolaridade

Figura 4 – Estrutura da educação básica

A educação básica é obrigatória e gratuita entre a faixa etária dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, compreendendo a última etapa da educação infantil (pré-
-escola) até o ensino médio. Na promulgação da CF, somente era garantido o ensino
fundamental como obrigatório, sendo alterado da pré-escola ao ensino médio.

Sendo assim, toda criança a partir dos 4 (quatro) anos deve ser matriculada na pré-
-escola até os 5 (cinco) anos; com 6 (seis) anos, deve se matricular no ensino fundamen-
tal; e depois, no ensino médio, está prevista a conclusão aos 17 (dezessete) anos.

Aos alunos da educação básica, deve-se garantir “material didático escolar, transpor-
te, alimentação e assistência à saúde”, considerados como programas suplementares
à educação.

O ensino médio deve ser “progressivamente universalizado”, considerando que ele


passou a ser obrigatório recentemente e ainda conta com um déficit de oferta de vagas
versus demanda de alunos que necessitam concluir essa etapa do ensino. O mesmo
processo que vem ocorrendo com a oferta de pré-escolas para todas crianças a partir
de 4 (quatro) anos.

O mesmo artigo (208) garante o atendimento especializado aos portadores de neces-


sidades especiais, preferencialmente nas escolas públicas regulares. Esse tópico é uma
inovação na garantia ao direito à educação nessa modalidade de ensino da educação
especial, observando a garantia dos direitos humanos, sem qualquer discriminação, in-
clusive para deficientes.

Deve-se garantir ensino noturno regular para todos os trabalhadores que quiserem se
matricular no ensino fundamental ou médio, com a mesma qualidade do ensino ofertado
matutino e diurno.

O direito à educação também traz a responsabilização do poder público e da au-


toridade competente quanto à não oferta do ensino obrigatório previsto na CF, como
veremos a seguir com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Direito à Educação no Estatuto da Criança e do Adolescente


Além da Constituição Federal, temos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
de 1990, que traz artigos que regulamentam e complementam o direito à educação,
principalmente na questão da responsabilização da família e do poder público.

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Conheça a história do Estatuto da Criança e do Adolescente em: http://bit.ly/2Nmf363

A educação começa a ser tratada no ECA no seu art. 53º. Ele aponta para os direitos
da criança e do adolescente no que tange a ter acesso à escola pública e gratuita. Essa
escola deve ser próxima da sua residência e ofertar igualdade de condições de acesso e
permanência na escola.

Destaca-se nesse artigo que a criança e o adolescente no âmbito escolar ou na educa-


ção complementar devem ser respeitados pelos seus educadores. Não pode o professor/
educador maltratar de forma física ou psicológica seus alunos/educandos, sendo respon-
sabilizado por seus atos.

Também podem as crianças, adolescentes e seus responsáveis contestarem crité-


rios de avaliação do professor e da escola. Quando não atendidos, podem recorrer às
instâncias escolares superiores, como coordenadoria, diretoria de ensino e secretaria
de educação.

É assegurado aos pais ou responsáveis conhecerem a proposta político pedagógica


da escola e os processos de ensino dos professores e, ainda, participarem da definição
das propostas educacionais da instituição de ensino.

Hoje no Brasil, discute-se a educação domiciliar ou homeschooling. Muitos pais brasilei-


ros vêm lutando na justiça para ter o direito de “não matricular” seus filhos na escola
oficial, ofertando o ensino domiciliar. Eles alegam que a aprendizagem é mais efetiva
em casa e não “coloca” seus filhos em “risco”. Como essa prática pode interferir no di-
reito à educação? Como fica o direito à liberdade de escolha dessas famílias que fazem a
opção pela educação domiciliar?
Veja mais em: http://bit.ly/2p0YCnw

O art. 55º do ECA diz que cabe aos pais ou responsáveis matricularem seus filhos
na escola e acompanharem a frequência e o aproveitamento deles na rotina escolar.
Importante considerar a responsabilização de pais ou responsáveis na garantia ao direito
à educação. Caso o pai não matricule seu filho na escola, ele é responsabilizado por lei.

O art. 56º diz que os dirigentes de estabelecimento de ensino comunicarão o Conse-


lho Tutelar caso pais ou responsáveis descumpram seus deveres, tais como: maus-tratos,
excesso de faltas sem justificativas, evasão escolar e reiteradas repetências. O Conselho
Tutelar pode acionar a autoridade judiciária competente nos casos em que ocorram
tentativas infrutíferas de contatos com pais ou responsáveis e se confirme que a criança
não é matriculada na escola ou não tem o acompanhamento do seu desenvolvimento na
escola, ocasionando evasão, faltas injustificadas, repetência etc.

O Conselho Tutelar pode também requisitar serviços públicos complementares para


garantir o direito à educação, tais como: saúde, serviço social, previdência, trabalho e
segurança. Por exemplo, caso uma família de um aluno necessite de apoio da assistência
social para que a criança possa permanecer na escola, ele pode recorrer à prefeitura ou
ao governo estadual para a oferta desse serviço, garantindo o direito à educação.

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UNIDADE
Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

As medidas de proteção aplicadas pelo Conselho Tutelar, conforme o art. 101 do ECA
(BRASIL, 1990) são: inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção;
apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; e a requisição de tratamento
médico, psicológico ou psiquiátrico em regime hospitalar ou ambulatorial.

Destaca-se também o acompanhamento do Conselho Tutelar nos casos de violência e


maus tratas no ambiente domiciliar contra crianças e adolescentes, representando ato ou
omissão de pais e responsáveis. Segundo Guerra (2008, p. 33), esse tipo de violência é:
[...] capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima – im-
plica, de um lado, uma transgressão do poder/dever de proteção do
adulto e, de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma negação
do direito que as crianças e os adolescentes têm de ser tratados como
sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.

Esse tipo de violência, geralmente, tem impacto no desempenho escolar de crianças


e adolescentes e cabe ao dirigente escolar estar atento a essas situações e agir rapida-
mente junto ao conselho tutelar para averiguação do caso.

Um exemplo muito comum de violência psicológica é a frase proferida por pais ou responsáveis: “Se
você não fizer determinada coisa, a mamãe (ou papai) vai embora de casa” ou “não vai mais amar você”.
Ou ainda, em casos de divórcio: “Você é culpado de o papai não estar mais com a gente”. Entre tantas
outras, essas frases produzem extrema ansiedade e medo, especialmente em crianças pequenas, e
indicam a tortura psicológica que aquele que deveria ter condições emocionais de cuidar produz sobre
uma pessoa em pleno desenvolvimento psíquico, biológico e social.

Outro órgão que também atua na garantia dos direitos coletivos é a promotoria de
justiça. Ela tem como papel fiscalizar e proteger os princípios e interesses da sociedade.
Um exemplo de atuação da promotoria na educação é a atuação em parceria com as
prefeituras e sociedade civil para a consolidação da garantia constitucional de oferta de
vagas nas creches de educação infantil e diminuição das filas de esperas para essa oferta.

Conheça o site do Ficha de Comunicação de Aluno Infrequente (FICAI) do Ministério Público


do Rio Grande do Sul. Disponível em: http://bit.ly/32EFLNv

No Saiba mais, vimos o exemplo bem-sucedido do FICAI para comunicação de alunos


infrequentes. Analise o funcionamento do FICAI e pesquise outros casos em sua cidade
ou estado. Como você proporia uma rede de parceria para garantir a frequência escolar
dos alunos e sua permanência na escola, em especial da educação infantil? Pense nessa
proposta, considerando necessária a parceria entre professores, alunos, associação de
pais, conselho escolar, conselhos tutelares, secretarias de educação, Ministério Público,
pois o direito à educação é dever do Estado, da sociedade e da família.

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O Direito à Educação na Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996 define e regulariza o sistema
de educação brasileiro com base no que foi estabelecido na Constituição Federal. Nela
são tratados o direito à educação, a organização dos sistemas de ensino, as definições
dos tipos e modalidades de ensino e do financiamento da educação. Alguns desses te-
mas vamos ver na Unidade seguinte.

Leia mais sobre a LDB em: http://bit.ly/2papwt4

O art. 2º da LDB, baseada nos princípios dos Direitos Humanos de liberdade e igual-
dade, diz que a educação deve garantir o “desenvolvimento do educando” para o exercí-
cio da cidadania e o preparo para a vida produtiva na sua qualificação para o trabalho.
Esse binômio cidadania x trabalho vai ser apontado em diversos artigos da LDB e é fruto
de intenso debate entre especialistas e pesquisadores de educação, sendo um desafio
conciliar a garantia tanto da cidadania como da formação para o trabalho (SAVIANI,
2004; SAVIANI, 2011; GENTILI, 2007).

A professora Zilma Oliveira (2011, p. 52) discute que a educação para a cidadania deve incluir
aprender a tomar a perspectiva do outro – da mãe, do pai, do professor infantil, de outra crian-
ça, de quem perdeu a mãe, de quem tem o pai muito doente ou preso na penitenciaria – e ter
consciência dos direitos e deveres próprios e alheios. Refletindo sobre a afirmação da professo-
ra Zilma, como podemos proceder para que as crianças na educação infantil conversem sobre
esses temas e tenham o entendimento dos seus direitos e deveres e o respeito pela cidadania?

O art. 3º da LDB reafirma os princípios da CF assegurando à criança e ao adolescen-


te a igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, gratuidade nos
estabelecimentos oficiais, eliminando todas as formas de discriminação para a matrícula
ou para a permanência na instituição escolar.

O artigo reforça ainda a ideia de livre iniciativa na educação com a “coexistência de


instituições públicas e privadas” na oferta do ensino, garantindo liberdade econômica e
de escolha para pais e responsáveis poderem determinar em que escola querem matri-
cular seus filhos.

Destaca novamente a valorização da experiência extraescolar, principalmente para


alunos trabalhadores com mais de 17 anos, e vinculação da educação com as práticas
produtivas do trabalho e as práticas sociais para a cidadania.

Mas é o art. 4º da LDB que trata diretamente do dever do Estado com a educação
pública. Ainda nesse artigo, temos a garantia à educação básica (pré-escola, ensino fun-
damental e médio) obrigatória e gratuita em estabelecimentos públicos, dos 4 (quatro)
aos 17 (dezessete) anos de idade, mesmo para quem não concluiu os estudos na idade
própria. Ou seja, para alunos com mais de 17 anos que queiram se matricular no ensino
fundamental ou médio, o poder público deve garantir vaga.

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Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

Também detalha a educação especial para alunos com “deficiência, transtornos glo-
bais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação”, sendo ofertada essa mo-
dalidade de ensino preferencialmente em escolas públicas. Chama a atenção a inclusão
de alunos com “altas habilidades ou superdotação” na educação especial, mesmo o
Brasil não tendo uma prática de ofertar uma educação diferenciada para estes alunos.

O art. 4º trata da educação para jovens e adultos (EJA). Nessa modalidade de ensino,
deve-se adequar os conteúdos e as práticas de ensino e aprendizagem às necessidades e
disponibilidades dos alunos, respeitando sua experiência fora da sala de aula, principal-
mente sua vivência no ambiente de trabalho.

No mesmo artigo se detalha um pouco mais o que significa “padrões mínimos de


qualidade de ensino”, dizendo que “são definidos como a variedade e quantidade míni-
mas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-
-aprendizagem”. Mesmo assim, o texto não deixa claro quais são esses insumos indis-
pensáveis, cabendo ao poder público defini-los.

No entanto, hoje algumas organizações da sociedade civil que discutem o que são
os padrões mínimos de qualidade e cobram do poder público uma definição, como é o
caso do movimento Campanha Nacional pelo Direito à Educação com o CAQi (Custo
Aluno-Qualidade Inicial).

Desde que lançou a publicação do custo aluno-qualidade inicial, em 2007, a Campanha


Nacional pelo Direito à Educação vem atuando no sentido de transformar o estudo em uma
referência para o financiamento da educação no Brasil.
Disponível em: http://bit.ly/2W9p5vb

Acompanhe e compare os indicadores das escolas públicas no site do Instituto Nacional de


Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): ambiente físico escolar; insumos e
condições de funcionamento da escola; gestão escolar democrática; formação e condições
de trabalho dos profissionais. Disponível em: http://bit.ly/2pKCcH9

Outro ponto complexo na letra do artigo é a garantia de vaga na escola pública de


educação infantil. Essa oferta tem que garantir vaga a toda criança que completar 4
(quatro) anos de idade. Muitos municípios brasileiros ainda apresentam um déficit de
vagas em escolas nesse nível de ensino e o Ministério Público tem sido acionado para
a garantia desse direito, muitas vezes propondo um termo de ajustamento de conduta
com prazos e quantidades de vagas para cumprimento dos sistemas de ensino.

O artigo Justiça manda SP encher uma sala de creche por dia trata da falta de vagas em creches
públicas no Brasil, criando uma imensa fila de espera. Nesses casos, o Ministério Público tem sido acio-
nado para garantir o direito à educação nesse nível de ensino. Só em São Paulo são 110 mil crianças
esperando vagas em creches.
Fonte: http://bit.ly/31LQFQe

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Importante destacar que a educação infantil passou a ser um direito constitucional
nos últimos anos e muitos municípios, responsáveis por esse nível de ensino, ainda estão
organizando suas redes de ensino para garantir esse direito (DEMO, 1997). Vale ressal-
tar ainda que, mesmo sendo garantido o acesso à pré-escola, a partir dos 4 (quatro) anos
de idade, é necessário uma discussão do modelo educacional e da identidade desses
espaços educativos para a primeira infância (OLIVEIRA, 2011), pois, historicamente,
esses eram considerados lugares de assistência social para crianças carentes, sem uma
definição do seu propósito educacional. No entanto, com as recentes políticas públicas
para a educação básica, incluindo a educação infantil, como a BNCC, vem se forçando
os entes públicos a repensarem as práticas e os propósitos educacionais desses espaços
de educação infantil. Aprofundaremos esse tema nas unidades 3 e 4.

Já o art. 58º da LDB volta a tratar da educação especial, dizendo que o atendi-
mento especializado aos alunos com “deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
mento e altas habilidades ou superdotação” deverá ser realizado, preferencialmente,
nas escolas regulares de ensino. No entanto, abre a possibilidade de realização de
convênios com instituições particulares ou sem fins lucrativos para a oferta de ensino
especializado. Destaca-se nesse artigo que, para essa modalidade de ensino, a garan-
tia constitucional é a partir do 0 (zero) ano, ou seja, a oferta se inicia na primeira etapa
da educação infantil.

O artigo a seguir apresenta um convênio realizado entre a prefeitura de Agudos, em São


Paulo, e a APAE para a oferta de ensino especializado na educação especial, nos moldes
previstos na LDB. Disponível em: http://bit.ly/360wn8Z

Fazer valer o Direito à Educação


Retomando o caso da Sandra, ela viu até agora que o direito à educação está presen-
te na Constituição Federal, no ECA e na LDB como um direito fundamental e social,
mas faz-se a necessidade de acompanhar o seu cumprimento pelo poder público e fazer
valer os direitos como cidadãos.

Muitos são os desafios, principalmente no atendimento à educação infantil, pelo


seu déficit de vagas x oferta. Ofertar vagas em escolas próximas da residência do aluno
ou, em sua negativa, ofertar transporte escolar gratuito que leve o aluno ao estabe-
lecimento escolar mais próximo são deveres do Estado. Ainda, garantir que a família
matricule a criança na escola e acompanhe seu desempenho escolar é outro grande
desafio. No entanto, garantir padrões mínimos de qualidade na educação, mesmo sem
uma definição do que são esses padrões pelo poder público, é questão urgente para a
sociedade brasileira.

Todo cidadão tem o direito garantido na constituição e deve fazer valer esse
direito. Quando não respeitado, deve buscar seus direitos acionando órgãos e
instituições que têm como propósito a solução de problemas na área educacional.

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Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

Na Tabela 1, são apresentadas as responsabilidades de cada instituição e o que o


cidadão comum pode fazer para garantir o direito à educação.

Tabela 1 – Responsabilidade de cada instituição e o que fazer para a garantir do direito à educação
Instituição/organização O que fazer
Estabelecimento de ensino Comunicar diretamente o diretor da escola.
Caso a direção da escola não tome providência, deve se
comunicar às coordenadorias ou diretorias de ensino, que são
Coordenadorias ou diretorias de ensino
órgãos auxiliares da secretaria de educação do município,
Distrito Federal e do Estado.
Caso a diretoria de ensino ou as coordenadorias não
solucionem o problema, busque diretamente a Secretaria
Secretaria de educação
de Educação que cuida daquela rede de ensino, sendo
municipal, estadual ou do Distrito Federal.
Persistindo o problema, busque o Conselho Tutelar, que é,
Conselhos tutelares segundo o ECA, responsável por garantir o direito à educação
de Crianças e Adolescentes.
Também busque o auxílio do Ministério Público, que pode
Ministério Público
instaurar inquérito civil para a garantia do direito constitucional.
Varas da infância e da juventude (poder judiciário); Conselhos
São órgãos públicos que podem garantir os direitos
dos Direitos da Criança e do Adolescente (poder executivo); e
constitucionais à educação e podem ser acionados pelo cidadão.
Defesa dos Direitos Humanos (legislativo e executivo)

Considerações finais
Concluímos esta unidade retomando novamente o caso da professora Sandra apre-
sentado na contextualização. Como descrito, a professora de educação infantil se en-
volveu com os problemas educacionais da comunidade e identificou que o direito à
educação não é uma realidade para muitas crianças e jovens e começou a se perguntar:
como são oportunizadas a todos o direito à educação, em especial da educação infantil?
Como são desenvolvidas políticas públicas para a educação? E qual é o papel do Estado
e da sociedade na oferta de uma educação de qualidade?

Como vimos na unidade, o direito à educação está presente na Declaração Universal


dos Direitos Humanos e, no Brasil, temos a formalização desse direito na Constituição
Federal (CF), na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e no Estatuto da Criança e do Adoles-
cente (ECA). O Estado tem grande responsabilidade na oferta do ensino e cabe à socie-
dade acompanhar o cumprimento dessa garantia constitucional.

A não garantia dos direitos à educação previstos em lei pode resultar na responsa-
bilização do poder público e dos pais e responsáveis. A escola e os conselhos tutelares,
conforme previsto no ECA, têm a obrigação de informar os órgãos competentes caso
haja o não compromisso de pais e responsáveis com a matrícula e o acompanhamento
escolar de seus filhos. Educação como um direito prevê a possibilidade de responsabili-
zação da autoridade competente, garantindo uma série de mecanismos que possibilitem
a efetivação desse direito.

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Importante destacar os aspectos de obrigatoriedade da pré-escola até o ensino mé-
dio, a gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais em todos os níveis, a garantia
do direito aos que não se escolarizaram na idade ideal, na educação de jovens e adultos
(EJA) e o atendimento especializado aos portadores de necessidades especiais a partir
do 0 (zero) ano, ou seja, da educação infantil.

No entanto, os desafios são enormes para garantir a permanência do aluno no am-


biente escolar e a oferta de uma educação de qualidade para todos, com uma escola
com condições mínimas de acolher o aluno, mantendo a valorização dos profissionais
da educação e ainda um currículo atual e dinâmico. Estado, família e sociedade devem
caminhar juntos para a garantia desses direitos a crianças e jovens.

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Estado, Políticas Públicas e Direito à Educação

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Direito, Políticas Públicas e Desenvolvimento
DIAS, C. J.; SIMÕES, S. A. de S. (coord.). Direito, Políticas Públicas e Desenvolvi-
mento. São Paulo: Método, 2013.
Políticas públicas: principios, propósitos e processos
DIAS, R.; MATOS, F. C. de. Políticas públicas: principios, propósitos e processos.
São Paulo: Atlas, 2012.
Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente
ELIAS, R. J. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
O Direito e as políticas públicas no Brasil
SMANIO, G. P.; BERTOLIN, P. T. M. (org.). O Direito e as políticas públicas no Bra-
sil. São Paulo: Atlas, 2013.
Direito à Educação – Requisito para o desenvolvimento do País
SOUSA, E. F. de. Direito à Educação – Requisito para o desenvolvimento do País.
1. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. (Série IDP).
Judicialização de Políticas Públicas – Para a educação infantil
VICTOR, R. A. de. Judicialização de Políticas Públicas – Para a educação infantil.
1. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. (Série IDP).
Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente
TAVARES, J. de F. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 8. ed.
São Paulo: Forense, 2012.

Vídeos
Debate e as reflexões sobre o direito à educação
O Conviva Educação preparou um vídeo para contribuir com o debate e as reflexões
sobre o direito à educação. Garantir o direito à educação a todas as crianças, adolescen-
tes, jovens e adultos no país é um desafio permanente de todo o gestor público. Para
cumprir esse direito constitucional, é necessário planejar políticas e aprimorar a gestão,
garantindo universalização de acesso, permanência, aprendizagem em tempo adequado
e formação dos profissionais de educação.
https://youtu.be/-ad8t5aSKWw
Unidos pelos Direitos Humanos
Confira o vídeo sobre o Direito Humano Número 26 – O Direito à Educação.
http://bit.ly/33XYC6j

Leitura
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
http://bit.ly/2papwt4
Estatuto da Criança e do Adolescente
http://bit.ly/36c1YVs

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Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2016. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso
em: 20 jan. 2019.

________. Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança


e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 20 jan. 2019.

________. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e ba-


ses da educação nacional. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L9394.htm>. Acesso em: 20 jan. 2019.

BOMENY, H.; PRONKO, M. Empresários e educação no Brasil. Rio de Janeiro: \


PREAL/CPDOC-FGV/Fundação Ford, 2002. Disponível em: <http://bibliotecadigital.
fgv.br/dspace/handle/10438/6845>. Acesso em: 20 jan. 2019.

DEMO, P. A nova LDB: ranços e avanços. 3. ed. Campinas: Papirus, 1997.

GENTILI, P. Pablo Gentili: na América Latina o neoliberalismo mostrou de forma


evidente as perversidades do seu projeto [Entrevista]. Universidade de Santiago de Com-
postela, realizada em fevereiro de 2006, 16 mar. 2007. Disponível em: <http:// firgoa.
usc.es/drupal/node/34855>. Acesso em: 20 jan. 2019.

GUERRA, V. N. de A. Violência de pais contra filhos: a tragédia revisitada. 6. ed. São


Paulo: Cortez, 2008.

OLIVEIRA, Z. de M. R. de. Educação infantil: fundamentos e métodos. 7. ed. São


Paulo: Cortez, 2011.

SAVIANI, D. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 9. ed. Campinas:


Autores Associados, 2004.

________. Da nova LDB ao FUNDEB: por uma outra política educacional. 4. ed. Cam-
pinas: Autores Associados, 2011.

SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologia, Porto Alegre,


ano 8, n. 16, p. 20-45, jul./dez. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/soc/
n16/a03n16>. Acesso em: 26 jun. 2019.

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