que dividiam a sociedade do séc.
XX, era necessário separar as
Política e Teoria do Estado I – UFRGS
Esquema 9 –– Prof. Dr. Marcelo Schenk Duque
Estado Social Contemporâneo (ESC)
I. Contexto (tempo e espaço)
Surge, racionalizado, na Alemanha (Constituição de Weimar, 1919),
com 5 poderes, para permitir que a democracia (mantidas conquistas
liberais) possa funcionar bem com partidos socialistas e comunistas
fortes e atuantes na arena política. Constituição Mexicana 1917.
Duas fases do ESC: a do pós-1ª guerra (modelo axio-aspirado ou puro
de valores: Kelsen & Weber) E a do Pós-2ª guerra (a) modelo axio-
orientado a valores mínimos fundados na dignidade humana + (b)
Tribunal Constitucional.
A ascensão das massas foi o fenômeno do séc. XX. Havia uma
emergência de atores comunistas atuantes. Surgem as ideologias, ou
seja, uma sociedade dividida entre capitalismo e socialismo – grande
marco do séc. XX.
O voto tornou-se universal no início do séc. XX. Isso modificou o perfil
do poder legislativo, permitindo a ascensão da ideologia socialista.
Os partidos fascista e nacional-socialista apresentavam-se como
partidos “ligados aos trabalhadores”, buscando disseminar no
operariado as suas idéias.
Já na Península Ibérica, esses partidos tiveram outra conotação. Como
lá não houve revolução industrial, esses partidos possuíam um caráter
conservador e não socialista (Franquismo – Espanha e Salazarismo –
Portugal), semelhante ao Estado Novo no Brasil.
II. Encíclica Rerum Novarum “Das coisas novas”
No declínio do ELC, o Papa Leão XIII lançou a encíclica, em 15.5.1891,
com o objetivo de debater as condições das classes trabalhadoras,
discutindo as relações entre o governo, a classe industrial, trabalho e a
Igreja. Ela trata de questões levantadas durante a revolução industrial
e as sociedades no final do séc. XIX: “pouco a pouco os trabalhadores,
isolados e sem defesa, têm-se visto com o decorrer do tempo,
entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça de uma
desenfreada concorrência”.
A encíclica propôs o restabelecimento do equilíbrio social: fixação de
um salário-mínimo compatível com a dignidade humana, limitação das
horas de trabalho, amparo à maternidade, direito de férias, indenização
por acidentes, amparo à velhice, assistência nos casos de doenças,
organização da previdência social etc.
Em parte, o Estado Liberal rumou para um novo curso: intervenção
pontual no setor socioeconômico. Surge o embrião do Estado social.
III. Características
1ª O Estado intervém crescentemente na economia e na vida social:
o Estado precisa atuar (ter "governabilidade").
 (POLÍTICO-ECONÔMICAS)
2º Assuntos (ou funções) de governo são amplos: surge o governo
institucionalizado moderno, com políticas econômicas e sociais.
3ª O sufrágio (direito de votar) é universal: abre-se espaço político para
os trabalhadores e as camadas sociais menos favorecidas (democracia
pluralista, governante, intervencionista ou socia).
(POLÍTICO-FUNCIONAIS)
4º Partidos políticos de massas, razoavelmente ideológicos
(conservadores X socialistas), consagrados como instrumentos de
governo dividem o Parlamento e a sociedade, onde se enraízam.
Democracia pelos partidos.
(POLÍTICO-FUNCIONAIS)
5º Parlamento é o órgão (a) de partidos, (b) onde maiorias decidem, (c)
cuja função não é mais tanto legislar, mas sim definir a linha ideológica
(conservadora ou socialista) vencedora das eleições gerais, à qual
competirá criar, orientar, fiscalizar e derrubar os governos do dia.
6ª Rompeu-se o consenso social em torno da ordem econômica e
social, tornando-se, pois, indispensável criar um consenso político
superior às divergências ideológicas.
(POLÍTICO-IDEOLÓGICAS)
7ª Os assuntos de governo (amplos) são controversos
ideologicamente, pois se discute o próprio modelo econômico-social em
vigor: desenvolve-se e ganha força a oposição dita ideológica.
IV. Doutrina
Os autores mais importantes para se entender o ESC são Max Weber
e Hans Kelsen. As idéias desses autores foram “atropeladas” pelo
pensamento totalitário na Alemanha e Itália. Disso extrai uma lição: as
normas formais podem ser manipuladas, distorcidas, acabando
com a democracia. Além disso, é possível atingir o consenso
quanto a valores abstratos.
A democracia, nesse período, era identificada apenas com a ideologia
liberal, fazendo com que os socialistas não gostassem da democracia.
Era necessário ter uma ordem democrática aceita por todos.
1) Max Weber (1864-1920)
Intuiu que durante o séc. XX a política seria fortemente ideológica
(conservadores X socialistas) e observou que o Estado liberal unia no
Poder Executivo as chefias de Estado, de Governo e a Administração.
Concluiu que para haver uma ordem democrática, devido às ideologias
chefias de Estado e de Governo para formar um modelo de
democracia aceito por todos. Tal democracia seria representada
pelo Chefe de Estado e o perfil dessa democracia (mais socialista
ou mais conservadora) seria definido pelo chefe de governo. Em
função disso, concluiu que a democracia exigia um consenso em torno
das regras do jogo – consenso formal – e não consenso axiológico
(para Weber, não era possível o consenso de valores).
2) Hans Kelsen (1881-1973)
Defendia que o Direito deveria ser aceito por todos, razão pela qual
deveria ser “vazio em valores” (teoria pura do direito), sendo composto,
apenas, por normas formais. Também considerava o consenso formal,
mas acreditava que em matéria de valores não era possível atingir o
consenso. Kelsen é considerado o pai da moderna jurisdição
constitucional, com papel relevante no sistema de controle de
constitucionalidade por meio de um tribunal constitucional.
V. Traço marcante do Estado Social Contemporâneo
O Estado social não se contenta com o respeito às liberdades
básicas do cidadão (liberdade negativa do Estado).
Para que a liberdade ganhe sentido, o Estado tem que intervir,
positivamente, assegurando direitos sociais aos cidadãos:
prestações positivas do Estado. Ex: art. 6ss CF.
Assegurar condições gerais de paz social e prosperidade pública;
Intervenção na ordem socioeconômica;
Impor restrições ao capital, prevenir os litígios, remover as injustiças,
edificar um mundo melhor onde a felicidade seja possível a todos os
homens.
VI. Construção institucional
Tribunal Constitucional
Por que o modelo de Kelsen se ajusta ao ESC?
1º. A penta partição dos poderes (com a integração entre Governo e
Parlamento) assegura a governabilidade.
2º. Os partidos ideológicos podem se opor ao Governo e, ao mesmo
tempo, ser a favor do Estado (pois o modelo separa Estado, Governo e
Administração).
VII. Perspectivas de Evolução
A crítica demonstrou com evidência a inconsistência dos princípios
teóricos do liberalismo, mas não chegou ainda a uma conclusão
definitiva quanto à solução do problema.
Todos os movimentos totalitários importam em transposição dos
erros do liberalismo para o plano coletivista. Não resolvem os
inconvenientes do regime capitalista, que apenas se deslocam para a
direção estatal (ex: ex-URSS).
Quando ameaçado pelas mais duras experiências totalitárias (nazismo,
fascismo e comunismo), o Estado liberal foi colocado ante o dilema de
reformar-se ou perecer. Onde permaneceu fraco e inerte, ocorreu a
transformação violenta, surgindo o Estado revolucionário (Rússia, Itália,
Alemanha).
Quando não, o Estado liberal se transformou de maneira pacífica,
evoluindo para a forma social-democrática, por meio de reformas
constitucionais e medidas legislativas, com destaque para a criação do
Tribunal Constitucional (Alemanha, 1949).
Tornou-se social, intervindo na ordem econômica, colocando-se
como árbitro dos conflitos entre capital e o trabalho,
supervisionando a produção, distribuição e o consumo.
O ESC procura harmonizar as verdades parciais e inegáveis que
existem tanto no individualismo quanto no socialismo, conciliando,
assim, os imperativos da realidade socioeconômica do mundo
moderno.
O puro debate entre Estado máximo ou mínimo é insatisfatório. O
Estado tem que ser eficiente e proporcionar igualdade de oportunidades
a todos.
Abolir os privilégios e proporcionar direitos sociais, combatendo as
desigualdades e a marginalização, na busca do bem comum.
A sobrevida do ESC depende de uma arquitetura institucional racional,
que comporte a complexidade do seu funcionamento.
O presidencialismo de coalizão, na fórmula de tripartição de poderes, é
compatível com as exigências do ESC?