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Quem define a profissionalidade e profissionalismo?

Uma questão de poder e


legitimidade

O profissionalismo e profissionalidade são caracterizados por imensos fatores


externos. O professor não será justo se considera que detem a autonomia para
determinar a sua profissionalidade. O professor desempenha a sua função dentro de
um sistema educativo, com as suas finalidades e valores, as suas leis e normas que
prescrevem papéis e circunscrevem a profissionalidade docente, e até o seu
profissionalismo, quando, por exemplo, detalham padrões de competência e de ética
profissional.
O professor está inserido numa comunidade educativa, onde o ministério da
educação tem um grande peso sobre a forma como o professor deve atuar na sua
profissão. Por exemplo, são responsáveis pela elaboração de normas e leis que
estabelecem funções para os professores para as quais não estavam inicialmente
preparados, criando uma nova profissionalidade, assente num enorme trabalho
burocrático. Uma outra maneira é a imposição de sistemas de avaliação que
determinam a maneira de agir dos professores e têm como objetivo o cumprimento de
metas pré-estabelecidas. Estas medidas políticas têm tido um impacto negativo nos
docentes devido ao aumento da burocracia e falta de tempo que têm para dedicar à
sua real profissionalização.
“Como professores temos de preencher muitos papéis e o tempo que se dedica
a estas tarefas é tempo perdido. Poderíamos usar este tempo a fazer investigação ou a
investir no ensino. Atualmente, isso não é possível. (Professora, 19 anos de serviço)”
(Flores, 2016).
Para além do ministério temos nas escolas os diretores, que têm a
responsabilidade de adaptar as diretrizes do ministério à sua comunidade escolar. Por
vezes acontece que os diretores adquirirem a centralização das decisões tomadas, e
não terem em consideração a visão de outros professores que fazem parte do seu
agrupamento. Assim, o professor terá de ajustar a sua prática ao que é exigido por
essa entidade o que levará a, mais uma vez, um ajuste à sua profissionalidade e
profissionalismo.
Existem aindam os teóricos e investigadores educacionais e os professores das
escolas de formação de professores que traçam as linhas de uma profissionalidade
ideal de um professor reflexivo e crítico, ética e politicamente comprometido,
integrado na comunidade de práticos de uma escola aberta à comunidade sem
ponderarem devidamente a falta de condições reais de tempo e de espaço existentes
talvez na maioria das escolas para a realização desse ideal. Elaboram listas de
competências de diferente natureza que servem de base à avaliação. Exercem uma
influência normativa ao contagiar os discursos do poder e o de muitos professores, o
que pode originar nestes alguns efeitos perversos de que alguma literatura nos dá
indícios frustração dos professores pela dificuldade de serem e fazerem aquilo que os
peritos acham que devem ser ou fazer, gerando insegurança e até culpabilidade.
“Faz-se a exortação do ensino como atividade autónoma ao mesmo tempo que
este se situa num contexto de maior vigilância e supervisão por parte dos políticos e da
comunidade numa lógica de prestação de contas em regimes baseados em padrões”.
(Day e Sachs, 2004, citado por Flores 2016).
Estabelecimento da profissionalização e profissionalismo docente fica claro que
um dos fatores que devemos ter mais em consideração é a autonomia. O docente deve
lutar pela sua autonomia e pela possibilidade em agir de acordo com os seus princípios
morais e éticos, que guiam a sua profissão.

Bibliografia

● Flores, M. A. (2016) O futuro da profissão de professor. In Spazziani, M. L (Org).


Profissão Professor: cenários, tensões e perspectivas, São Paulo, Editora Unesp,
pp. 332-355

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