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Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento


ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
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O ALEITAMENTO MATERNO COMO FATOR PROTETOR DA OBESIDADE


1
Juliana Toledo Pastorelli

RESUMO ABSTRACT

Introdução: A obesidade é considerada uma Breastfeeding protector of obesity as a factor


epidemia global e sua prevalência em crianças
e adolescentes está aumentando nas últimas Introduction: Obesity is considered a global
décadas. Diversos estudos têm procurado epidemic and its prevalence in children and
relacionar a obesidade com variáveis adolescents is increasing in recent decades.
ambientais influentes na vida das crianças. Several studies have sought to link obesity
Entre estas, encontra-se o aleitamento with environmental variables that influence the
materno, que tem-se descrito como fator lives of children. Among these is
protetor para o desenvolvimento de sobrepeso breastfeeding, which has been described To
e obesidade. Objetivo: Sistematizar os artigos systematize the articles that aims to
que tem como objetivo o aleitamento materno breastfeeding as a protective factor for
como fator protetor de sobrepeso e obesidade. overweight and obesity. Review of the
Revisão da Literatura: Por meio de revisão Literature: Through systematic review in the
sistemática nas bases de dados da CAPES databases were selected from CAPES
foram selecionados títulos científicos scientific papers published between 2001 and
publicados entre 2001 e 2011. Foram 2010. We excluded review articles, case
excluídos artigos de revisão, relatos de casos, reports, associated diseases and studies
patologias associadas e estudos cujo objetivo whose aim was not breastfeeding as a
não era aleitamento materno como fator protective factor in obesity. A total of eight
protetor da obesidade. Um total de 8 artigos articles were analyzed, and all authors have
foram analisados e, todos os autores, found breastfeeding as a protective factor in
encontraram o aleitamento materno como fator obesity. The duration of breastfeeding was
protetor da obesidade. O tempo de also considered by most studies, suggesting
aleitamento também foi considerado pela that the mere fact that the child had been
maioria dos estudos, o que sugere que o breastfed, regardless of the duration of
simples fato da criança ter recebido protection is already showing results, however,
aleitamento materno, independente do tempo the longer, more protection there is.
de duração, já apresenta resultados de Conclusions: It can be concluded that, besides
proteção, porém, quanto maior o tempo, mais the already known benefits that breastfeeding
proteção se verifica Conclusão: Pode-se provides, you can add protection against
concluir que, além dos benefícios já overweight and obesity throughout childhood,
conhecidos que o aleitamento proporciona, but for deeper understanding the mechanisms
pode-se acrescentar a proteção contra o of action should be studied further.
sobrepeso e obesidade durante toda a
infância, porém, para melhor aprofundamento, Key words: Breast Feeding, Overweight,
os mecanismos de ação devem ser mais Obesity , Child.
estudados.

Palavras-Chave: Aleitamento Materno,


Sobrepeso, Obesidade, Criança. E-mail:
juliana.pastorelli@gmail.com

Endereço para correspondência:


Av. Getúlio Vargas, 218
1-Programa de Pós Graduação Lato Sensu da Baeta Neves, São Bernardo do Campo, São
Universidade Gama Filho em Obesidade e Paulo.
Emagrecimento. CEP: 09751- 251.

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INTRODUÇÃO podem ter estes mecanismos prejudicados


favorecendo o desenvolvimento de sobrepeso
A obesidade é considerada uma e promovendo uma ingestão excessiva de leite
epidemia global e sua prevalência em crianças e/ou prejudicando o desenvolvimento dos
e adolescentes está aumentando nas últimas mecanismos de auto-regulação (Simon e
décadas tanto em países desenvolvidos com colaboradores, 2009).
nos países em desenvolvimento. Este cenário Portanto, diante do disposto, esta
provoca um alto impacto negativo para a revisão teve como objetivo sistematizar os
saúde pública. De acordo com a POF 2008- artigos que tem como objetivo o aleitamento
2009 a frequência do excesso de peso entre materno como fator protetor de sobrepeso e
crianças de 5 a 9 anos de idade e obesidade.
adolescentes praticamente triplicou nos
últimos 20 anos (Siqueira e Monteiro, 2007). MATERIAIS E MÉTODOS
Este aumento da obesidade infantil
tem levantado uma série de hipóteses sobre Nesta revisão, buscaram - se artigos
os motivos do desencadeamento desse indexados na base eletrônica CAPES,
processo. Estudos mostram que o publicados em língua portuguesa e inglesa,
desenvolvimento da obesidade poderia ocorrer entre 2001 a 2011.
de um desequilíbrio entre a ingestão calórica e Os descritores utilizados foram:
o gasto energético ou ser determinado por “Aleitamento Materno”, “Obesidade”,
fatores genéticos, fisiopatológicos (endócrino- “Sobrepeso”, “Breast Feeding” e “Obesity”,
metabólicos), ambientais (prática alimentar e sendo encontrados um total de 36 artigos.
atividade física) e psicológicos (Moraes e Estudos de revisão, artigos abrangendo
Giugliano, 2011). percepção dos pais com relato de caso sobre
Nesse sentido, diversos estudos têm o assunto, pesquisas envolvendo demais
procurado relacionar a obesidade com patologias associadas, estudos cujo objetivo
variáveis ambientais influentes na vida das não era aleitamento materno e obesidade
crianças. Entre estas, encontra-se o infantil, artigos em línguas que não sejam
aleitamento materno, que tem-se descrito portuguesa e inglesa e artigos duplicados
como fator protetor para o desenvolvimento de foram excluídos, totalizando 8 artigos para
sobrepeso e obesidade, além de melhorar análise nesta revisão.
desenvolvimento neurológico, psicossocial e Foi desenvolvida uma tabela com
proteção contra várias morbidades (Moraes e resultados da pesquisa na literatura para
Giugliano, 2011). melhor apresentação dos dados.
O termo “imprinting” metabólico Para maior aprofundamento do tema
descreve um fenômeno através do qual uma foram incluídos outros artigos relevantes com
experiência nutricional precoce, atuando busca na PUBMED, CAPES e consulta à
durante um período crítico e específico do Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008 -
desenvolvimento, acarretaria um efeito 2009.
duradouro, persistente ao longo da vida do Os artigos selecionados foram
indivíduo, podendo predispor a determinadas avaliados, mantendo a ter¬minologia dos
doenças (Simon e colaboradores, 2009). autores da pesquisa, de acordo com o ano de
O aleitamento materno é considerado estudo. Para a discussão dos dados e
uma das experiências nutricionais mais interpretação das pesquisas, levou-se em
precoces do recém-nascido e a composição consideração o ano de publicação do artigo e
única do leite materno pode, portanto, estar o período de estudo em que foi realizado o
envolvida no processo de “imprinting” trabalho, pois essa questão pode alertar para
metabólico, alterando o número e/ou tamanho mudanças ocorridas dentro do intervalo “ano
dos adipócitos, ou induzindo o fenômeno de da pesquisa - ano de publicação”.
diferenciação metabólica (Simon e Para apresentação dos artigos
colaboradores, 2009). encontrados foi criada uma tabela comparativa
É possível que crianças alimentadas na qual foram citados os dados: autor, tipo de
ao seio materno desenvolvam mecanismos estudo/período, amostra, variáveis analisadas
eficazes para regular sua ingestão energética. e resultados.
Crianças recebendo fórnulas industrializadas

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Tabela 1 - Resultados da pesquisa na literatura


Base de dados pesquisada Número de artigos encontrados Total
Aleitamento Materno 619
Aleitamento Materno + obesidade 14
Capes Aleitamento Materno + sobrepeso 9
Breast Feeding 47
Breast Feeding + Obesity 13
Artigo de revisão 1
Artigos em duplicidade 17
Artigos com objetivos diferentes de
Critérios de Exclusão aleitamento materno como fator 8
protetor de obesidade
Artigo Alemão 1
Artigo Espanhol 1
Total 28
Total de Artigos avaliados 8

RESULTADOS E DISCUSSÃO Bernardi, Jordão e Barros Filho, 2009


em estudo com 2857 lactentes observaram
Os artigos analisados nos permitiram que as crianças que receberam amamentação
apontar que o aleitamento materno atua como predominante por mais de 120 dias
fator protetor contra a obesidade infantil. Em 8 apresentaram peso mais baixo das que foram
artigos analisados foi mostrado a correlação amamentadas por menor período.
de aleitamento e menor risco para o
desenvolvimento de sobrepeso e obesidade.

Tabela 2 - Comparação de artigos.


Tipo de
Autor estudo/ Amostra Variáveis Analisadas Resultados
Período
Peso, altura, IMC, dobras cutâneas
555 crianças (triciptal e subescapular), período de
A prevalência de obesidade na
com idade entre amamentação. sexo, idade, peso ao
população estudada foi de 26%.
Siqueira e 6 e 14 anos nascer, padrão alimentar, padrão de
O risco de obesidade em crianças
Monteiro 2004 estudantes de atividade física, tempo assistindo TV ou
que nunca receberam aleitamento
(2007) escola particular utilizando o computador e quanto às mães
materno foi duas vezes superior
situada em São (idade, IMC – com medidas referidas,
ao risco das demais crianças.
Paulo escolaridade e prática de esporte ou
exercício físico).
Sobrepeso foi observado em
409 crianças, na 18,6% das crianças. As crianças
faixa etária de que receberam aleitamento
dois a seis anos, materno exclusivo por tempo
Estudo de
Balaban, e que inferior a quatro meses
corte Período de aleitamento materno exclusivo,
colaboradores freqüentaram apresentaram uma prevalência de
transversal, peso, estatura, IMC
(2004) creches sobrepeso maior (22,5%; 52/231)
2002
vinculadas à do que aquelas que receberam
Prefeitura na aleitamento materno exclusivo por
Cidade de Recife quatro meses ou mais (13,5%;
24/178)
As variáveis explanatórias foram a
Dentre as 716 crianças estudadas,
exposição ao aleitamento materno
489 (68,3%) mamaram, 65 (9 %)
716 crianças, (mamou; não mamou) e a duração dessa
não mamaram e 162 (22,7%)
com 12 a 60 exposição (em meses).
Ferreira e Artigo Original, ainda estavam mamando. Entre as
meses (pré As variáveis referentes às características
colaboradores Janeiro a que mamaram, 213 (43,5%) foram
escolares da maternas foram: idade, situação conjugal,
(2010) Março 2007 amamentadas por mais de um
região semi-árida escolaridade, Índice de Massa Corporal
ano. A prevalência de sobrepeso
de Alagoas) (IMC, Kg/m2) e tabagismo durante a
foi maior entre crianças que não
gestação. As variáveis referentes à criança
mamaram (12,7% vs 6%).
foram: idade, sexo, peso ao nascer.

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Peso, estatura, IMC. As variáveis


explanatórias foram: sexo e idade da A prevalência de sobrepeso e
criança, peso ao nascer, idade e obesidade da população estudada
566 crianças de
escolaridade do pai e renda familiar; idade, foi de 34,4%. Foram fatores de
Simon e Estudo dois a seis anos
escolaridade e condição de trabalho da proteção contra sobrepeso e
colaboradores Transversal, de idade do
mãe, número de irmãos, estado nutricional obesidade o aleitamento materno
(2009) 2004 - 2005 município de São
dos pais; aleitamento materno exclusivo, exclusivo por seis meses ou mais
Paulo
aleitamento materno, alimentação (p=0,02) e o aleitamento materno
complementar e alimentação atual da por mais de 24 meses (p=0,00).
criança.
Da amostra, 14,4% (13/90) e
13,3% (12/90) apresentaram,
90 crianças, na
respectivamente, sobrepeso e
faixa etária de
obesidade. O período de
Estudo dois a cinco
Peso, estatura. Nas crianças com aleitamento materno nas crianças
Araújo e Transversal, anos,
sobrepeso e obesidade foram avaliados: com diagnóstico de sobrepeso ou
colaboradores de Setembro a matriculadas em
período de amamentação e situação obesidade foi assim caracterizado:
(2006) Novembro um centro
socioeconômica. 48% (12/25) mamaram menos de
2005. educacional
seis meses; 36% (9/25) mamaram
infantil da cidade
seis meses ou mais; 12% (3/25)
de Fortaleza.
não mamaram e 4% (1/25) ainda
mamavam.
O sobrepeso e a obesidade foram
identificados em 23,8% (n=32) dos
pré-escolares. O tempo médio de
134 pré- amamentação foi de 4,5±1,6
Massa corporal, estatura, perímetros do
escolares entre meses, sem diferenças entre os
Moraes e braço e da cintura, dobras cutâneas
Estudo três e cinco anos sexos. A frequência de excesso de
Giugliano triciptal e subescapular. Os pais das
Transversal de idade de uma peso nas crianças amamentadas
(2011) crianças responderam a um questionário
escola particular exclusivamente até o sexto mês foi
sobre tempo de amamentação.
de Brasília de 21,2%, enquanto que naquelas
com amamentação exclusiva até o
segundo mês, a frequência foi de
26,7%.
8300 crianças Peso, estatura, IMC, ordens de Foi encontrado prevalência de 6%
Corte
com idade entre nascimento, tipo de alimentação de sobrepeso e 1,3% de
Lafta e seccional +
7 e 13 anos, (aleitamento ou mamadeira), padrão obesidade. Crianças com histórico
Kadhim caso-controle;
sendo: 4100 dietético atual, padrão de atividade física, de amamentação apresentaram
(2005) Outubro a
meninas e 4200 tempo em frente a TV, níveis educacionais associação significativa com peso
Março 2002
meninos dos pais. dentro da normalidade ( P=0.03)
2857 crianças
As crianças que receberam
(lactentes) com
amamentação predominante por
Bernardi e Estudo base na Peso, comprimento, IMC, nível sócio-
mais de 120 dias apresentaram
colaboradores transversal, Declaração de econômico, categorias de amamentação
peso mais baixo das que foram
(2009) 2004 e 2005 Nascidos Vivos (exclusivo, predominante, pleno).
amamentadas por menor período
(Sinasc) de
(-0.18 ± 0,09; P = 0,047).
Campinas, SP.

Em outro estudo com 716 crianças comparados com crianças que receberam
com idade entre 12 e 60 meses, foi aleitamento materno.
encontrado prevalência de sobrepeso em Araujo, Besera e Chaves (2006) em
6,3%. Nessa população 52,4% foi estudo com crianças de 2 a 5 anos 14,4% e
amamentada por mais de 12 meses e 9% não 13,3% apresentaram respectivamente
recebeu aleitamento materno. A frequência de sobrepeso e obesidade. O período de
sobrepeso foi significativamente maior entre aleitamento materno nas crianças com
crianças que nunca mamaram ou mamaram diagnóstico de sobrepeso ou obesidade foi
por menos de um mês em relação às que dividido: 48% mamaram menos de seis
mamaram por mais de 30 dias (Ferreira e meses; 36% mamaram seis meses ou mais;
colaboradores, 2010). 12% não mamaram e 4% ainda mamavam.
De acordo com Koletzko e Desta forma, 60% das crianças com excesso
colaboradores (2009) as populações de de peso (sobrepeso ou obesidade) do estudo
crianças alimentadas com fórmulas atingem apresentaram um padrão de amamentação
um maior peso corporal e peso para o ineficaz, segundo critérios da OMS que
comprimento de 1 ano de idade quando estabelecem um período de amamentação de
seis meses.

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Em estudo semelhante envolvendo relação à obesidade ainda não foram


566 pré-escolares (2 a 6 anos), 34,4% totalmente elucidados. É provável que o leite
apresentavam sobrepeso e obesidade. O materno esteja envolvido no fenômeno do
aleitamento materno exclusivo foi considerado “imprinting metabólico”, todavia, sabe-se
fator protetor contra sobrepeso e obesidade e também que o leite materno é composto por
quanto maior o tempo de duração, maior fatores bioativos como os hormônios insulina,
proteção. A mediana do aleitamento materno T3 e T4 e a leptina, que agem no centro da
exclusivo foi de quatro meses enquanto alimentação e saciedade, localizado no
aleitamento materno (não exclusivo) foi hipotálamo, regulando o balanço energético do
encontrado sete meses. (Simon e metabolismo infantil (Araujo, Besera e Chaves,
colaboradores, 2009). Balaban e 2006).
colaboradores (2004) encontraram resultados A leptina é um composto bioativo
similares mostrando que a prevalência de presente no leite materno e é responsável pelo
sobrepeso foi maior nas crianças com início da regulação e homeostase energética
aleitamento materno exclusivo por menos de 4 infantil. Esse hormônio atua inibindo, no
meses. hipotálamo, o apetite e as vias anabólicas, e
Em estudo recente de Moraes e estimulando as catabólicas, sinalizando que
Giugliano (2011) mostra a relação da houve armazenamento suficiente de energia,
frequência do aleitamento e o excesso de diminuindo o apetite e a ingestão de alimentos
peso, sendo encontrado 21,2% de excesso de (Balaban e colaboradores, 2004; Araujo,
peso em crianças amamentadas Besera, Chaves, 2006; Correia, 2009; Ferreira
exclusivamente ate o sexto mês e 26,7% nas e colaboradores, 2010).
crianças com aleitamento materno exclusivo Outro aspecto importante a se
até o segundo mês. considerar é que a amamentação ineficaz,
Outros dois estudos analisando provavelmente, está combinada à adoção de
escolares mostram associação de crianças fórmulas lácteas. O consumo energético das
com histórico de amamentação e o peso crianças em amamentação é inferior aos das
dentro da normalidade. Nestes estudos não que adotam uma dieta artificial, porém, o
foram citados períodos mínimos de consumo quantitativo nas crianças que
amamentação, mas o fato de a criança ter mamam é superior. Isto aponta que a criança
recebido aleitamento materno por qualquer alimentada com fórmulas infantis, mesmo com
duração já diminui a prevalência de sobrepeso menor ingestão está recebendo uma
e obesidade levando em consideração as alimentação hipercalórica em relação as que
crianças que nunca o receberam (Siqueira e recebem o aleitamento materno e este é uma
Monteiro, 2010; Lafta e Kadhim, 2005). possível causa de obesidade precoce por
Quanto ao mecanismo de proteção, aumento do tecido adiposo. Também é
ainda não está muito claro, mas algumas possível que as crianças amamentadas ao
hipóteses são sugeridas. seio desenvolvam mecanismos mais eficazes
A interrupção precoce da para regular a ingestão energética (bebês
amamentação e a adoção da alimentação terminam por si só a sucção quando perdem o
láctea artificial eleva o consumo energético apetite) e quando os pais apresentam este
infantil em 15% a 20% quando comparado ao controle, pode haver prejuízo nos mecanismos
consumo energético de crianças em de auto-regulação (Balaban e colaboradores,
aleitamento materno exclusivo (Araujo, Besera 2004; Araujo, Besera, Chaves, 2006; Correia,
e Chaves, 2006). 2009; Ferreira e colaboradores, 2010).
Uma das hipóteses afirma que o Além dos compostos bioativos outro
consumo de açúcar ou de alimentos que o possível mecanismo é que a alta ingestão de
contenham na fase em que a criança esta proteínas ingeridas por lactentes em uso de
formando seus hábitos pode levar ao maior fórmula industrializada pode estimular a
consumo destes alimentos, elevando assim, o secreção de insulina e do fator de crescimento
valor calórico total da dieta e o risco de semelhante à insulina (IGF 1), o que aumenta
sobrepeso e obesidade (Simon e a atividade adipogênica e a diferenciação de
colaboradores, 2009). adipócitos (Ferreira e colaboradores, 2010).
Os mecanismos pelos quais o leite Embora ainda pouco estudado, alguns
materno desempenharia uma proteção em acreditam haver relação entre a insuficiente

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amamentação e um déficit de triptofano. Este breastfeeding. Medical Journal Vol. 127. Núm.
é necessário para o desenvolvimento da 4. p.198-205. 2009.
serotonina no cérebro (Lafta e Kadhim, 2005).
O leite materno é extremamente 4-Correia, A. C. S. Aleitamento materno como
variável em teor de nutrientes, sabor e cheiro factor preventivo da obesidade. Faculdade de
de dia para dia e de refeição para refeição Ciências da nutrição e Alimentação,
(dependendo do estágio da lactação materna, Universidade do Porto. Monografia. 2009.
estado metabólico da mulher a amamentar, o
volume de leite consumido) e, esta exposição 5-Ferreira, H. S.; Vieira, E. D. F.; Junior, C. R.
precoce ao paladar e olfato pode programar C.; Queiroz, M. D. R. Aleitamento materno por
crianças para a seleção de alimentos e hábitos 30 ou mais dias é fator de proteção contra
alimentares um pouco diferentes dos lactentes sobrepeso em pré-escolares da região
que receberam fórmulas (Koletzko e semiárida de Alagoas. Revista da Associação
colaboradores, 2009). Médica Brasileira. Vol. 56. Núm. 1. p.74-80.
Portanto, a alimentação com a 2010.
mamadeira, por exemplo, poderia favorecer o
desenvolvimento do sobrepeso por promover 6-Koletzko, B; Kries, R. V.; Monasterolo, R.
uma ingestão excessiva de leite, excessivo C.; Subi´As, J. E.; Scaglioni, S.; Giovannini,
consumo de proteínas, por prejudicar o M.; Beyer, J.; Demmelmair, H.; Anton, B.;
desenvolvimento dos mecanismos de auto- Gruszfeld, D.; Dobrzanska, A.; Sengier, A.;
regulação além de não possuir os compostos Langhendries, J. P.; Cachera, M. F. R.;
bioativos e estímulos à diversos sabores e Grote, V. Can infant feeding choices modulate
odores que o leite materno possui. later obesity risk? The American Journal of
Clinical Nutrition. Vol. 89. Núm. 1. p.1502-
CONCLUSÃO 1508. 2009.

Pode-se concluir que, além dos 7-Lafta, R. K.; Kadhim, M. J. Childhood


benefícios já conhecidos que o aleitamento obesity in Iraq: prevalence and possible risck
proporciona, pode-se acrescentar a proteção factors. Ann Saudi Med. Vol. 25. Núm. 5.
contra o sobrepeso e obesidade durante toda p.389-393. 2005.
a infância, porém, para melhor
aprofundamento, os mecanismos de ação 8-Moraes, J. F. V. N.; Giugliano, R.
devem ser mais estudados. Aleitamento materno exclusivo e adiposidade.
Revista Paulista de pediatria. Vol. 29. Núm. 2.
REFERÊNCIAS p.152-156. 2011.

1-Araujo, M. F. M.; Beserra, E. P.; Chaves, E. 9-Simon, V. G. N.; Souza, J. M. P.; Souza, S.
S. O papel da amamentação ineficaz na B. Aleitamento materno, alimentação
gênese da obesidade infantil: um aspecto para complementar, sobrepeso e obesidade em
a investigação de enfermagem. Acta Paulista pré-escolares. Revista de Saúde Pública. Vol.
de Enfermagem. Vol. 19. Núm. 4. p.450-455. 43. Núm. 1. p.60-69. 2009.
2006.
10-Siqueira, R. S.; Monteiro, C. A.
2-Balaban, G.; Silva, G. A. P.; Dias, M. L. C. Amamentação na infância e obesidade da
M.; Dias, M. C. M.; Fortaleza, G. T. M.; Motoró, idade escolar em famílias de alto nível
F. M. M.; Rocha, F. M. M. O aleitamento socioeconômico. Revista de Saúde Pública.
materno previne o sobrepeso na infância?. Vol. 41. Núm. 1. p.05-12. 2007.
Revista Brasileira de Saúde Materna Infantil.
Vol. 4. Núm. 3. p.263-268. 2004.

3-Bernardi, J. L. D.; Jordão, R. E.; Filho, A. A.


B. Cross sectional study on the weight and Recebido para publicação em 02/07/2012
length of infantsin the interior or the State of Aceito em 28/07/2012
São Paulo, Brazil: associations with
sociodemographic variables and

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