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Tem as Básicos de Psicologia

Coordenadora: Clara Regina Rappaport

D a d o s In tern a cio n a is de C a ta lo g a çã o na P u b lic a ç ã o (C IP )


(C âm ara B ra sileira d o L ivro, SP, B ra sil)

Trinca, Walter
T 752d D iagnóstico psicológico: prática clínica / Walter
Trinca e colaboradores. — São Paulo : EPU , 1984.
(Temas básicos de psicologia; v. 10)

B ibliografia
1. P sicodiagnóstico 1. Título

8 4 -1 4 1 6 C D D -157.92

ín d ic e s p ara ca tá lo g o sistem á tico :


1. D iagnóstico psicológico: P sicologia clínica 157.92
2. Psicodiagnóstico: P sicologia clínica 157.92
W A L T E R T R IN C A
O rg a n iza d o r

DIAGNÓSTICO
PSICOLÓGICO

A Prática Clínica
Capa: P aulo H iss

11" reimpressão, 2010

ISB N 9 7 8 - 8 5 - 1 2 - 6 2 2 1 0 - 1

© E.P.U . - E ditora P edagógica c U niversitária L tda., São Paulo, 1984. T odos o s d ireito s
reserv ad o s. A re p ro d u ç ã o d e sta o b ra, n o to d o o u em p a rte , p o r q u a lq u e r m eio , sem
a u to riz a ç ã o e x p re ss a e p o r e scrito d a E d ito ra, su je itará o in frato r, n o s term o s d a Lei
n“ 6 .8 9 5 , d e 1 7 -1 2 -1 9 8 0 , à p e n a lid a d e p re v ista n o s artig o s 184 e 186 do C ó d ig o P enal,
a sab er: re clu são d e u m a q u a tro anos.
E. P. U. - T elefone (0++11) 3168-6077 - Fax. (0 + + 11) 3078-5803
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Im presso no B rasil P rinted in Brazil
Sobre os Autores

W a l t e r T r i n c a é psicólogo pela F .F.C .L . da U SP . É mestre em P sicologia


C línica e doutor em C iências (P sico lo g ia ) p elo I.P . da U S P Trabalha no
D epartam ento de P sicologia C línica do I.P . da U SP, do qual é professor
L ivre-D ocente, e no D epartam ento de P ós-G raduação do I.P. da P ontifícia
U niversidade C atólica de Cam pinas, com o Professor Titular. É psicanalista,
pertencente ao Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise
de São Paulo. Entre suas publicações destacam -se os livros I n v e s t i g a ç ã o C l í ­
n ic a d a P e r s o n a lid a d e e O P e n s a m e n to C lín ic o e m D ia g n ó s tic o d a P e r s o ­
n a lid a d e .

C olaboradores

A n a M a r i a T r a p é T r i n c a é psicóloga pela F .F C.L. de S ão B ento da P U C de


São P aulo e pós-graduanda em P sicologia C línica n o I.P. da U SP . A tualm ente
é professora e supervisora de estágio de D iagn óstico P sicológico na Faculdade
de P sicologia da P U C de São Paulo.

E l i s a b e t h B e c k e r é psicóloga e pós-graduanda em P sicologia C línica no I.P.


da U SP . f , supervisora de estágio e professora das disciplinas P sicologia do
E xcepcional e M étodos de Exploração e D iagnóstico em P sicologia C línica
do I.P . da U SP . E xerce d ocência no I.F..S. Senador F laquer de Santo
A ndré (S P ).
G i l b e r t o S a f r a é psicólogo e pós-gradiiando em P sicologia C línica n o I.P.
da U S P . É supervisor de estágio e professor da disciplina Psicoterapia In­
dividual no I.P . da U SP.

M a r íliaA n c o n a - L o p e s é p sicóloga pela F .F .C .L . da U S P e m estre em P si­


cologia C línica peia F .P da P U C de São Paulo. É diretora da C línica
P sicológica das F aculdades São M arcos e chefe do D epartam ento de P si­
cologia C línica e Social do I.U .P F aculdades Objetivo.

M a r y D o l o r e s E w e r t o n S a n t i a g o é psicóloga pela F .F .C .L . da U S P e pós-


graduanda em P sicologia C línica pela F.P. da PU C de São Paulo. É super­
visora de estágio em P sicologia C línica nas F aculdades Objetivo.
S ô n iaR e g i n a J u b e l i n i í psicóloga pelo I.P. da U S P e pós-graduanda em
P sicologia C línica pela F .P. da P U C de São Paulo. É supervisora de estágio
e m P sicologia C línica nas Faculdades Objetivo.

T â n i a M a r i a J o s é A i e l l o T s u é psicóloga e m estre em P sico lo g ia C línica


pelo I.P. da U S P . É docente responsável pela disciplina P sicopatologia G eral
no I.P. da U SP.

V
Sumário

P refácio geral da C oleção .................................................................. XI

Prefácio .......................................................................................... X III

1. C ontexto geral do diagnóstico p sico ló g ico (M arília A nco-


na-L opes) ........................................................................................ 1

1.1. O te rm o “ d ia g n ó stic o ” .................................................. 1


1.2. A P sico lo g ia C lín ic a e as a b o rd a g e n s p sico d iag n ó s-
tic a s ..................................................................................... 3
1.3. T e o ria e p rá tic a ................................................................ 10
1.4. B ib lio g ra fia ....................................................................... 13

2. Processo diagnóstico de tipo com preensivo (W alter T rinca) 14

2.1. in tro d u ç ã o .......................................................................... 14


2.2. F a to re s e s tru tu ia n te s d o pro cesso c o m p re e n siv o . . 16
2.3. O u tro s asp ecto s ................................................................ 22
2.4. B ib lio g rafia ....................................................................... 24

3. R eferenciais teóricos do processo diagnóstico de tip o com ­


preensivo (W alter T rinca) ......................................................... 25

3.1. I n tro d u ç ã o ......................................................................... 25


3.2. P ro cesso s in tra p s íq u ic o s ................................................ 26
3.3. D e se n v o lv im e n to e m a tu ra ç ã o .................................... 28
3.4. D in â m ic a fa m ilia r ........................................................... 29
3 5 R elaçõ es p s ic ó lo g o - p a c ie n te ............................ 30

V II
3.6. T e o ria s q u e fu n d a m e n ta m os testes p sico ló g ico s 32
3.7. B ib lio g ra fia ................................................................ 33

4. A re la ç ã o p sicó lo g o -clien te n o p sic o d ia g n ó stic o in fa n til


(T â n ia M a ria J o s é A ie lío Tsi<) .................................................. 34

4.1. I n tr o d u ç ã o ......................................................................... 34
4.2. D e fin iç ã o d e c lie n te ....................................................... 34
4.3. A in s tru m e n ta ç ã o d a re la ç ã o p sicó lo g o -clien te . . . 40
4.4. A in s tru m e n ta ç ã o d a re la ç ã o d o p o n to d e v ista
e p iste m o ló g ic o ................................................................ 42
4.5. A re la ç ã o p sicó lo g o -clien te d o p o n to d e v ista té c n ic o 44
4 6 . A re la ç ã o p sicó lo g o -clien te d o p o n to d e v is ta é tic o 48
4.7. B ib lio g ra fia ....................................................................... 50

5. P ro c e d im e n to s clín ico s u tiliz a d o s n o P sic o d ia g n ó stic o


( G ilb e rto S a fra ) .............................................................................. 51

5.1. In tro d u ç ã o ......................................................................... 51


5.2. O jo g o d e ra b isc o s ......................................................... 52
5.3. O p ro c e d im e n to d e d ese n h o s e estó ria s ................. 55
5 .4 O lu d o d ia g n ó stic o ........................................................... 57
5.5. A e n tre v is ta v e rb a l com a c ria n ç a ............................ 60
5 .6 T e ste s p sico ló g ico s u su a is n o p sic o d ia g n ó stic o . . . 62
5.7. B ib lio g ra fia ....................................................................... 65

6 . E n tre v ista s c lín ic a s (M ary D o lo re s E w e rto n S a n tia g o ) .. 67

6.1. I n tr o d u ç ã o .......................................................................... 67
6 .2 . A im p o rtâ n c ia d e u m m a rc o re fe re n c ia l n a e s tru ­
tu ra ç ã o d a e n tre v is ta ...................................................... 68
6.3. A re la ç ã o p sic ó lo g o -p a c ie n te n a e n tre v is ta p sic o ló ­
g ica ..................................................................................... 69
6.4. A e n tre v is ta in ic ia l ......................................................... 69
6 5 A s e n tre v is ta s su b se q ü e n te s ........................................ 74
6 .6 . A s e n tre v ista s d e v o lu tiv a s ............................................. 75
6.7. B ib lio g rafia ....................................................................... 81

7 O p e n s a m e n to c lín ic o e a in te g ra ç ã o d o s d a d o s n o d ia g n ó s­
tic o p sic o ló g ico (A n a M a ria T ra p é T rin c a e E lisa b e th
B eck er) ............................................................................................. 82

7.1. In tro d u ç ã o .......................................................................... 82


7.2. E stu d o s so b re in d ic a d o re s d e in te g ra ç ã o n o s testes
p ro je tiv o s ............................................................................ 83

* V III
7.3. E stu d o s so b re a in te g ra ç ã o d e c o n te ú d o s n o p ro ­
cesso d ia g n ó stic o .............................................................. 86
7.4. F o rm a s d e p e n sa m e n to c lín ic o e m d ia g n ó stic o d a
p e rs o n a lid a d e .................................................................. 87
7.5. O p e n s a m e n to clín ico e as co n d içõ es b á sic a s p a ra
o seu fu n c io n a m e n to ...................................................... 89
7.6. B ib lio g ra fia ....................................................................... 93

8 O térm ino do processo p sicod iagnóstico (Sônia R egina Ju-


b elin i) .......................................................................................... 95

8.1. In tro d u ç ã o ......................................................................... 95


8.2. E n c a m in h a m e n to s ........................................................... 96
8.3. C o n sid eraçõ es g erais so b re o in fo rm e p sico ló g ico 97
8.4. S ugestões p a ra a c o m p o sição do in fo rm e p sico ló g ico 99
8.5. B ib lio g rafia ..................................................................... 101

9. Bibliografia geral ....................................................................... 102

IX
Prefácio geral da C oleção

A C o leção T e m a s B ásicos d e P sic o lo g ia te m p o r f in a lid a d e a p re ­


s e n ta r d e fo rm a d id á tic a e d e sp re te n sio sa tó p ic o s q u e sã o m in is ­
tra d o s e m v á ria s d isc ip lin a s dos c u rso s s u p e rio re s de P sic o lo g ia ou
o u tro s em c u jo curriculum c o n ste m d isc ip lin a s p sico ló g icas.

O o b je tiv o fu n d a m e n ta l é o fe re c e r le itu ra s in tro d u tó ria s q u e


sirv a m c o m o ro te iro b á sic o p a r a o a lu n o e q u e a ju d e m ao p ro fe sso r
n a e la b o ra ç ã o e d e se n v o lv im e n to d o c o n te ú d o p ro g ra m á tic o .

N e ste se n tid o , sele c io n a m o s a u to re s co m v a sta e x p e riê n c ia d i­


d á tic a e m n o sso m e io , o s q u a is, e m v irtu d e d a p r o fu n d id a d e de
seus c o n h e c im e n to s e d o c o n ta to p ro lo n g a d o com a lu n o s, cien tes
d a d ific u ld a d e de a d a p ta ç ã o d a lite r a tu r a im p o rta d a p a ra o n o sso
e s tu d a n te , se d is p u s e ra m a c o la b o ra r c o n o sco .

E sp e ra m o s, a ssim , c o n trib u ir p a r a a fo rm a ç ã o de p ro fissio ­


n a is p sicó lo g o s o u n ã o , siste m a tiz a n d o e tra n s m itin d o , d e fo rm a sim ­
p le s, o c o n h e c im e n to a c a d ê m ico e p rá tic o a d q u irid o p o r n o sso s c o la ­
b o ra d o re s ao lo n g o d o s an o s, e ta m b é m to r n a n d o a le itu ra u m ev e n to
p ro d u tiv o e a g ra d á v e l.

Clara Regina Rappaporl

C o o rd e n a d o ra

XI
Prefácio

E ste liv ro p ro c u ra o fe re c e r ao le ito r u m a v isã o b a s ta n te c o n ­


d e n s a d a d a q u ilo q u e se p a ssa n o c o n te x to p s ic o d ia g n ó s tic o . E sse c o n ­
te x to é c o n s titu íd o p o r tu d o o q u e o c o rre d e sd e o in íc io d o c o n ta to
c o m o p a c ie n te e / o u seus re sp o n sá v e is (o u , m e s m o , d e s d e o c o n ta to
p ré v io co m a p e sso a q u e o e n c a m in h o u ) a té o f in a l d e s lig a m e n to d o
caso. U m d o s p rin c ip a is e le m e n to s q u e c o m p õ e m o c o n te x to p sic o ­
d ia g n ó stic o é o p ro c e sso d e re a liz a ç ã o q u e se e s ta b e le c e , isto é, a se­
q ü ê n c ia d e fa se s o u p a sso s e s tru tu ra d o s e o rie n ta d o s e m fu n ç ã o d e
d e te rm in a d o s e m b a sa m e n to s te ó ric o s e p rá tic o s q u e e x is te m p a r a a
co n se c u ç ã o d o s o b je tiv o s d ia g n ó stic o s. N a v isã o in tr o d u z id a p o r este
liv ro d estacam -se e stu d o s e o b se rv a ç õ e s a re sp e ito d o s p r in c ip a is in ­
g re d ie n te s d o p ro c e sso d ia g n ó stic o , te n d o c o m o p r o p ó s ito a f u n d a ­
m e n ta ç ã o d a p rá tic a c lín ic a , b e m co m o se rv ir d e re c u r s o a u x ilia r à
e fe tiv a ç ã o d a m e sm a .
A o f a la r d e p sic o d ia g n ó stic o re fe rim o -n o s, a q u i, e sp e c ific a m e n te
ao tr a b a lh o fe ito p o r p iscó lo g o s clín ic o s em s itu a ç ã o d e d ia g n ó stic o
in d iv id u a l, q u e se m a n ife sta em re la ç ã o b ip e s s o a l ( in c lu in d o psicó-
lo g o -p a c ie n te e p sicó lo g o -fam ília d o p a c ie n te ). N ã o a b o r d a m o s , p o is,
tem as re la c io n a d o s a p sic o d ia g n ó stic o s d e c a sa l, d e f a m ília , d e o u tro s
g ru p o s e d e situ a ç õ e s e x iste n te s fo ra d o â m b ito d a clínicE p sic o ló ­
g ica. O te x to , co m o u m to d o , a b ra n g e q u e s tõ e s a r e s p e ito d o d ia g ­
n ó stic o p sico ló g ico a p lic á v e l a to d a s as id a d e s ; c o n tu d o , a lg u m a s p a s ­
sag en s sã o d e d ic a d a s e x c lu siv a m e n te ao d ia g n ó s tic o in f a n til.
A o rie n ta ç ã o g e ra l d o liv ro é n o rte a d a p e lo p ro c e s s o d ia g n ó s­
tic o d e tip o c o m p re e n siv o !, ta l c o m o o d e sc re v e m o s n o c a p ítu lo 2 ,

1 S om os reconhecidos ao D r. O sw aldo D ante M ilto n D i l x > qv foi,


em nosso m eio, quem por prim eiro concebeu a ex istên cia de “diagnósticos

X III
q u e co lo c a ê n fa se e ir u m p o sic io n a m e n to d o p sicó lo g o e s trib a d o n o
u so d e su a s p ró p ria s h a b ilid a d e s c lín ic a s, d e riv a d a s d e su as e x p e riê n ­
cias d e c o n ta to com a v id a m e n ta l. N e ste se n tid o , é in d isp e n sá v e l q u e
o s a lu n o s d e cu rso s d e g ra d u a ç ã o e os p ro fissio n a is p rin c ip ia n te s
c o m p le m e n te m a le itu r a d o te x to co m a p rá tic a d o a te n d im e n to s u p e r­
v isio n a d o . E m g ra n d e p a rte , este tra b a lh o refere-se a in fo rm a ç õ e s a
q u e tê m acesso aq u e le s q u e fa z e m u so d a p rá tic a c lín ic a v o lta d a p a r a
a re a lid a d e p s íq u ic a in d iv id u a l e su a s ex p re ssõ e s n o s g ru p o s. É u m a
a b o rd a g e m q u e d ife re , p o r ta n to , d as co n cep çõ es p sic o d ia g n ó stic a s f u n ­
d a m e n ta d a s em m o d e lo s p sic o m é tric o s.
N o sso tra b a lh o te m e m v ista c o n tr ib u ir p a r a a p r e p a ra ç ã o do
p ro fis s io n a l q u a n to à m e lh o r u tiliz a ç ã o d o s re c u rso s fa c ilm e n te d is­
p o n ív e is (e n tre v ista s c lín ic a s, o b se rv a ç õ e s c lín ic a s, técn icas d e in v e s­
tig a ç ã o c lín ic a s d a p e r s o n a lid a d e e tc .), lib e rta n d o -o d a d e p e n d ê n c ia de
m é to d o s e p ro c e sso s c u sto so s e d e d ifíc il a lc a n c e . E stes, g e ra lm e n te ,
n ã o se c o a d u n a m co m a re a lid a d e b ra s ile ira . Á o o b te r m a io r d o m ín io
d a o rie n ta ç ã o a q u i p ro p o s ta , o psicó lo g o p ro v a v e lm e n te te r á m e lh o ­
res co n d iç õ e s p a r a e x e rc ita r a tiv id a d e s p sic o ló g ic a s c o m u n itá ria s,
e n tre o u tr a s .
O p la n o d e sta o b r a e s tá e m c o n fo rm id a d e com os p ro g ra m a s dos
c u rso s de g ra d u a ç ã o e m P sic o lo g ia , seg u n d o a p ro p o s ta d e sta co leção .
C o m o fo i d iv id id o e n tre v á rio s c o la b o ra d o re s , c a d a q u a l d esen v o lv eu
liv re m e n te a su a p a r te , a in d a q u e se g u ia n d o p o r u m re fe re n c ia i ge­
ra l. N o e n ta n to , o tra ta m e n to q u e d e u à su a p a r te , o s c o n c e ito s em i­
tid o s , a ê n fa se e m d e te rm in a d o s a sp e c to s etc ., n e m se m p re c o in c id e m
co m a o p in iã o d o o rg a n iz a d o r o u d o s d e m a is a u to re s. I s to n ã o fez
co m q u e a o b r a , e m seu c o n ju n to , viesse a so fre r p re ju íz o s e m su a
e s tr u tu r a , c o e rê n c ia e u n id a d e . S ão a sp e c to s q u e a c re sc e n ta m c o n tri­
b u iç õ e s ao d e b a te d o s a ssu n to s.
E m q u e m ed id a este liv rú p o d e c o n tr ib u ir p a r a o p ro c e sso c ria ­
tiv o d o p sic ó lo g o e m su a p rá tic a c lín ic a ? P e n sa m o s q u e , e m p rim e iro
lu g a r, ele p r o p o rc io n a u m a v isã o d o c o n te x to d ia g n ó stic o co m o u m
to d o e, d e n tro d e ssa to ta lid a d e , d a s p a rte s q u e m e re c e m m a io r a te n ­
ç ã o . E m se g u n d o lu g a r, o fe re c e p a râ m e tro s à p rá tic a d ia g n o stic a
o rie n ta d a p a r a u m a d ire ç ã o q u e tem -se re v e la d o e fic a z n o a te n d i­
m e n to d e p a c ie n te s. A ssim , in d ic a o s re fe re n c ia is te ó ric o s e p rá tic o s
b ásico s e os m eio s d e se a tin g ir a re a liz a ç ã o d a ta re fa . F in a lm e n te ,
é u m e sb o ç o d e u m siste m a e s tr u tu r a d o . Is to sig n ifica q u e o d ia g n ó s­
tic o p sic o ló g ic o é c o n c e b id o c o m o u m c o rp o o rg a n iz a d o e sig n ific a ­
tiv o d e p rin c íp io s , m é to d o s e té c n ic a s.

com preensivos" com o processos que se caracterizam por um a síntese har­


m ônica e descritiva do conjunto dos dados.

X IV
P ro c u ra m o s, se m p re q u e p o ssív e l, m e n c io n a r as p rin c ip a is q u e s­
tõ es q u e h o je se co lo c a m a p ro p ó s ito d o te m a , co m o p ro p o s ta de
a b e r tu r a p a r a d iscu ssõ es e n tre p ro fe sso re s e a lu n o s (e n tre p ro fissio ­
n a is, o u co m o su b síd io s p a r a f u tu ra s p e s q u is a s ). P a r a isso , in se rim o s
u m a b ib lio g ra fia g e ra l, a lé m d a b ib lio g ra fia e sp e c ífic a d e c a d a ca­
p ítu lo .
A lg u n s e sc la re c im e n to s, a in d a , se fa z e m n e c e ssá rio s. D e lib e ra d a ­
m e n te , os a u to re s n ã o p ro c u ra ra m u n ifo rm iz a r e n tre si o u so de
te rm o s co m o : a) c lie n te e p a c ie n te ; b ) d ia g n ó stic o p sico ló g ico , p sico-
d ia g n ó stic o , e stu d o d e caso e a v a lia ç ã o d ia g n o stic a . E stes te rm o s são
e m p re g a d o s ta n to co m o sin ô n im o s, q u a n to d e a c o rd o com o se n tid o
q u e tê m n o c o n te x to d e c a d a c a p ítu lo . O u tr o a sp e c to , la c u n a r n o
tra b a lh o q u e o ra a p re se n ta m o s, é a in s u fic iê n c ia d e ilu stra ç õ e s c lí­
n ic a s, q u e se d e v e à re s triç ã o d o n ú m e ro d e p á g in a s p ro g ra m a d a s
p e la E d ito ra (d e v id o às c a ra c te rístic a s p ró p ria s d a c o le ç ã o T em as
B ásicos d e P sico lo g ia).
A p e sa r de to d a s as d ific u ld a d e s , crem o s q u e se to m a im p re s­
c in d ív e l n e ste m o m e n to a p re s e n ta r u m a te n ta tiv a de siste m a tiz a ç ã o
m e to d o ló g ic a d o d ia g n ó stic o p sico ló g ico .

W alter Trinca

XV
1
C ontexto geral do diagnóstico psicológico

M arília A ncona-Lopez

1.1. O term o “ d ia g n ó stic o ”

1.1.1. Sentido am plo e restrito

A p a la v r a d ia g n ó stic o o rig in a-se d o g reg o diagnõstikós e sig n i­


fic a d isc e rn im e n to, fa c u ld a d e d e c o n h e c e r, d e _ v e r a tra v é s d e. C o m ­
p re e n d id o d essa fo rm a , o d ia g n ó stic o c in e v itá v e l, p o is, se m p re que:
e x p lic ita m o s n o ssa c o m p re e n sã o so b re u m fe n ô m e n o , rea liz a m o s u m
d e seus p o ssív eis d ia g n ó stic o s, isto é, d isc e rn im o s n e le a sp e c to s, c a ra c ­
te rístic a s e rela ç õ e s q u e co m p õ em u m to d o , o q u a l ch a m a m o s de
c o n h e c im e n to d o fe n ô m e n o . P a r a c h e g a rm o s a esse c o n h e c im e n to ,
u tiliz a m o s p ro c e sso s d e o b se rv a ç õ e s, d e a v a lia ç õ es e d e in te r p r e ta ­
ções q u e se b a se ia m em n o ssa s p e rc e p ç õ e s, e x p e riê n c ia s, in fo rm a ç õ e s
a d q u irid a s e fo rm a s d e p e n sa m e n to . É n e sse se n tid o a m p lo q u e a
c o m p re e n sã o de u m fe n ô m e n o c o n fu n d e -se co m o d ia g n ó stic o d o
m esm o . E m se n tid o m a is re s trito , u tiliz a -se o te rm o d ia g n ó stic o p a r a
re fe rir-se à p o ssib ilid a d e d e c o n h e c im e n to q u e v a i a lé m d a q u e la q u e
o sen so c o m u m p o d e d a r, o u seja, à p o ssib ilid a d e d e sig n ific a r a re a ­
lid a d e q u e fa z u so d e c o n c e ito s, n o çõ es e te o ria s c ie n tífic a s.
Q u a n d o p ro c u ra m o s le r d e te rm in a d o fa to a p a r tir d e c o n h e c i­
m e n to s esp e c ífic o s, e sta m o s r e a liz a n d o u m d ia g n ó stic o n o c a m p o d a
c iê n c ia ao q u a l esses c o n h e c im e n to s se re fe re m . U m a fo lh a de p a p e l
p o d e ser c o m p re e n d id a a tra v é s d e u m e stu d o d o m a te ria l q u e a
c o m p õ e , d e seu c u sto , d a su a u tilid a d e so cial o u d e seu su rg im e n to

1
h is tó ric o , d e p e n d e n d o d o s c o n h e c im e n to s co lo c a d o s a serv iço d a
b u sc a d e c o m p re e n sã o . E v id e n te m e n te , n e m to d o s os c o n h e c im e n to s
p o d e m s e r a p lic a d o s a to d o s os fa to s. C o n h e c im e n to s de Á lg e b ra d i­
fic ilm e n te n o s se rã o ú te is p a r a a c o m p re e n sã o d a H is tó ria d o B rasil
e v ice-v ersa. Se, p o ré m , o o b je to d e e stu d o d e d iv e rsa s ciê n c ia s fo r
o m esm o , se rá p o ssív el a p lic a r a esse o b je to os c o n h e c im e n to s d e
to d a s essas ciê n c ia s. P o r e x e m p lo , ao e s tu d a r u m a n im a l u tiliz a n d o
co n h e c im e n to s d a Z o o lo g ia , e n riq u e c e re m o s esse e s tu d o re c o rre n d o
à B iologia.

1.1.2. O d ia g n ó s tic o p s ic o ló g ic o

A P sico lo g ia se in se re n o c o n ju n to d a s C iên cias H u m a n a s . U ti­


liz a m o s seu s c o n h e c im e n to s p a r a a c o m p re e n sã o d e q u a lq u e r fe n ô ­
m e n o h u m a n o . E sse m esm o fe n ô m e n o p o d e rá ta m b é m ser o b je to de
e stu d o d e o u tra s c iê n c ia s, o q u e p e rm itirá in te g ra r c o n h e c im e n to s,
e n riq u e c e n d o n o ssa c o m p re e n sã o . P o ré m , a in d a q u e e m p re g u e m o s
d a d o s d e o u tra s c iê n c ia s, ao tra ta rm o s d a s fu n ç õ e s d o p sic ó lo g o , e s ta ­
rem o s se m p re n o s re fe rin d o ao c o n ju n to d e fe n ô m e n o s p o ssív eis de
serem e stu d a d o s p e la P sico lo g ia e ao c o n ju n to d e c o n h e c im e n to s p s i­
co ló g ico s q u e se d e se n v o lv e ra m a p a r tir d o e stu d o d esses fe n ô m e n o s.
D e fa to , o o b je to d e e s tu d o , os c o n h e c im e n to s e m é to d o s u tiliz a d o s
c a ra c te riz a m n o sso tra b a lh o , d e lim ita m n o sso c a m p o d e c o m p e tê n c ia
e p e rm ite m q u e se d e se n v o lv a n o ssa id e n tid a d e p ro fissio n a l.
O s c o n h e c im e n to s d e n tro d o ca m p o d a P sico lo g ia, co m o de q u a l­
q u e r o u tr a ciê n c ia , n ã o se a g ru p a m in d is c rim in a d a m e n te . C o n stitu e m
e e stã o c o n stitu íd o s em te o ria s d a s q u a is d e c o rre m os p ro c e d im e n to s
e as té c n ic a s.
N a h is tó ria d a P sic o lo g ia e n c o n tra m o s in ú m e ra s te o ria s q u e d e fi­
n e m d e fo rm a d ife re n te seu o b je to d e e stu d o e o m é to d o a u tiliz a r.
A lg u m a s to m a ra m m é to d o s e m p re sta d o s d a s ciê n c ia s n a tu r a is , d e fi­
n in d o e m fu n ç ã o dos m esm o s o fe n ô m e n o a e s tu d a r, e a lg u m as b u s ­
c a ra m c ria r m é to d o s p ró p rio s . M esm o a c la ssific a ç ão d a P sico lo g ia
co m o c iê n c ia h u m a n a , o u co m o c iê n c ia n a tu r a l, e o re c o n h e c im e n to
d a e x istê n c ia d e te o ria s p sic o ló g ic a s fo ra m e são m u ita s v ezes q u e s­
tio n a d o s p e lo s e stu d io so s d o c o n h e c im e n to . P o ré m , estas são as o r ­
g a n iz a ç õ es d o c o n h e c im e n to q u e e n c o n tra m o s n o a tu a l estág io do
d e se n v o lv im e n to d a P sico lo g ia. S ão as q u e e stu d a m o s, fre n te às q u a is
n o s p o sic io n a m o s e co m as q u a is tra b a lh a m o s.
N e ste liv ro tra ta re m o s d o d ia g n ó stic o p sic o ló g ic o . 0_ d ia g n ó stic o
p sic o ló g ic o b u sca u m a f o rm a .d e . co m p reer.são s itu a d a n o â m b ito 3 ã
P sico lo g ia. E m n o sso P aís, é u m a d a s fu n ç õ e s ex c lu siv a s d o p sic ó ­
logo g a ra n tid a s p o r lei (L ei n .° 4 1 1 9 d e 2 7 -8 -1 9 6 2 , q u e d isp õ e so b re

2
a fo rm a ç ã o em P sico lo g ia e re g u la m e n ta a p ro fissã o de p sic ó lo g o ).
O u tra s fu n ç õ e s e x c lu siv a s são a o rie n ta ç ã o e seleção p ro fissio n a l,
o rie n ta ç ã o p sic o p e d a g ó g ic a , so lu ç ã o d e p ro b le m a s de a ju s ta m e n to ,
d ire ç ã o d e serv iço s de P sico lo g ia, e n sin o e su p e rv isã o p ro fis s io n a l,
asse sso ria e p e ríc ia s so b re a ssu n to s de P sico lo g ia.
Q u a n d o nos d isp o m o s a re a liz a r u m p sic o d ia g n ó stic o , p re s u m i­
m os p o ssu ir c o n h e c im e n to s te ó ric o s, d o m in a r p ro c e d im e n to s e téc­
n ic a s p sic o ló g ic a s. C o m o são m u ita s as te o ria s e x iste n te s, e nem sem ­
p re c o n v e rg e n te s, a a tu a ç ã o do p sicó lo g o em d ia g n ó stic o , a ssim co m o
n a s o u tra s fu n ç õ e s p riv a tiv a s d a p ro fissã o , v a ria c o n sid e ra v e lm e n te .
E m o u tra s p a la v ra s , é p o rq u e a a tu a ç ã o p ro fissio n a l d e p e n d e de u m a
fo rm a d e c o n h e c im e n to , m éto d o d e e stu d o e p ro c e d im e n to s u tiliz a ­
d o s — c o n s id e ra n d o q u e n a P sico lo g ia estes são m u ita s v ezes in c i­
p ie n te s — , q u e se e n c o n tra m m u ita s c o n c e p ç õ es e e s tru tu ra ç õ e s d ife ­
re n te s d o d ia g n ó stic o p sico ló g ico . O p ró p rio uso d o te rm o v a ria , de
a c o rd o co m essas co n cep çõ es. E n c o n tra -se , m u ita s vezes, ao in v és d e
“ d ia g n ó stic o p sic o ló g ic o ” , a u tiliz a ç ã o d o s term o s “ p s ic o d ia g n ó s tic o ” ,
“ d ia g n ó stic o d a p e rs o n a lid a d e ” , “ e stu d o de c a s o ” o u “ a v a lia ç ã o
p sic o ló g ic a ” . C ad a um d esses term o s é u tiliz a d o p re fe re n c ia lm e n te
p o r g ru p o s d e p ro fissio n a is p o sic io n a d o s d e fo rm a s d ife re n te s d ia n te
d a P sico lo g ia.
A ssim , a n te s de nos p ro p o rm o s a a t u a r p ro fissio n a lm e n te , será
in te re ssa n te e x p lic ita rm o s so b re q u e fe n ô m e n o s p re te n d e m o s at uar ,
q u a is se rã o os re fe re n c ia is te ó ric o s, os m é to d o s e p ro c e d im e n to s a
u tiliz a r.

1.2. A P s ic o lo g ia C linica e as ab ord a g en s


p sico d i a g n ó stic a s

O te rm o P sico lo g ia C lín ic a foi u tiliz a d o , p ela p rim e ira vez, em


1896, re fe rin d o -se a p ro c e d im e n to s d ia g n ó stic o s u tiliz a d o s ju n to à
c lín ica m é d ic a , com c ria n ç a s d e fic ie n te s físicas e m e n ta is. O in te ­
resse p o r esse d ia g n ó stic o su rg iu a p a r tir d o m o m en to em q u e as
d o e n ç a s m e n ta is fo ra m c o n sid e ra d a s se m e lh a n te s às d o e n ç a s físicas.
P a ssa ra m , e n tã o , a fa z e r p a rte d o u n iv e rso d e e stu d o d a c iê n c ia , e
n ão m ais da relig ião , com o a n te rio rm e n te , q u a n d o era m c o n s id e ra d a s
castig o s d iv in o s o u possessões.
P a re a d a s com as d o e n ç a s físicas foi n e c e ssá rio o b s e rv a r as
d o e n ç a s m e n ta is, v e rific a r su a e x istê n c ia co m o e n tid a d e s e sp e c ífic as,
d escrev ê-las e classificá-las. D essa fo rm a , a p a r d a P s iq u ia tria , a tiv i­
d ad e m é d ic a d e stin a d a a c o m b a te r a d o e n ç a m e n ta l, d esen v o lv eu -se
a P sic o p a to lo g ia . ou seja, o ra m o da c iê n c ia v o lta d o ao e s tu d o d o

3
c o m p o rta m e n to a n o rm a l, d e fin in d o -o , c o m p re e n d e n d o seus asp e c to s
su b ja c e n te s, su a e tio lo g ia , c la ssific a ç ão e a sp e c to s so ciais. D o m esm o
m o d o , a p a r d o d e se n v o lv im e n to d a P sico lo g ia, isto é, d o e s tu d o sis­
te m á tic o d a v id a p s íq u ic a e m g e ra l, d esen v o lv eu -se a P sic o lo g ia C lí­
n ic a , c o m o a tiv id a d e v o lta d a à p re v e n ç ã o e ao a lív io d o so frim e n to
p síq u ic o .

1.2.1. A busca de um conhecim ento objetivo

A fo rm a d e a tu a ç ã o in ic ia l e m p sic o d ia g n ó stic o re fle tiu a p o s­


tu r a p re d o m in a n te , n a é p o c a , e n tre os c ie n tista s. E stes c o n sid e ra v a m
p o ssív e l ch eg ar-se ao c o n h e c im e n to o b je tiv o d e u m fe n ô m e n o , u tili­
z a n d o u m a m e to d o lo g ia b a s e a d a em o b se rv a ç ã o im p a rc ia l e e x p e ri­
m e n ta ç ã o . E sta p o s tu r a , n a q u a l a c o n firm a ç ã o d e h ip ó te se s se b a ­
seia e m m a rc o s re fe re n c ia is e x te rn o s, c o n h e c id a em se n tid o am p lo
c o m o p o s tu ra p o s itiv is ta , p re d o m in o u p rin c ip a lm e n te n o c o n tin e n te
a m e ric a n o . D e n tro d e ssa o rie n ta ç ã o , d e se n v o lv e ra m -se o m o d e lo m é ­
d ic o d e p sic o d ia g n ó stic o , o m o d e le p sic o m é tric o e o m o d e lo b eh a-
v io rista .

a) O m o d e lo m é d ic o

O tra b a lh o e m d ia g n ó stic o p sico ló g ico ju n to aos m éd ico s m a rc o u


o in íc io d a a tu a ç ã o p ro fissio n a l. H o u v e u m a tra n s p o s iç ã o d o m o d e lo
m é d ic o p a r a o m o d e lo p sico ló g ico . E ste a d q u ir iu a lg u m a s c a ra c te ­
rístic a s: e n fa tiz o u o s asp e c to s p a to ló g ic o s d o in d iv íd u o , u s a n d o com o
q u a d ro s re fe re n c ia is as n o so lo g ias p sic o p a to ló g ic a s e e n fa tiz o u o u so
d e in s tru m e n to s d e m e d id a s de d e te rm in a d a s c a ra c te rís tic a s d o in ­
d iv íd u o .
N o ca m p o d a P sic o p a to lo g ia , m u ltip lic a ra m -se as te n ta tiv a s de
e s ta b e le c e r d ife re n ç a s e n tre d e so rd e n s o rg â n ic a s, e n d ó g e n a s, e d e so r­
d e n s fu n c io n a is , e x ó g e n a s, p ro c u ra n d o -se e s ta b e le c e r relaçõ es e n tre
as m e sm a s e os d is tú rb io s d e c o m p o rta m e n to . E sta b e le c era m -se , ta m ­
b é m , re la ç õ e s de c a u s a lid a d e e n tre os d is tú rb io s o rg â n ic o s e os d is­
tú rb io s p sic o ló g ic o s, p rin c ip a lm e n te n a s á re a s d a N e u ro lo g ia e d a
B io q u ím ic a . N a p ro c u r a d o e sta b e le c im e n to d e q u a d ro s classifica-
tó rio s d a s d o e n ç a s m e n ta is, p re c iso s e m u tu a m e n te ex c lu siv o s, b u s­
cou-se o rg a n iz a r s ín d ro m e s sin to m á tic a s q u e c a ra c te riz a sse m esses
q u a d ro s e p u d e sse m ser o b se rv a d a s.
O s c o m p o rta m e n to s c o n sid e ra d o s p ato ló g ic o s p a s s a ra m a s e r d es­
crito s d e ta lh a d a m e n te . E la b o ra ra m -s e te ste s p a r a d e te r m in a r e d e te c ­
ta r os p ro c e sso s p síq u ic o s su b ja c e n te s, in clu siv e d e te c ta r te n d ê n c ia s
p a to ló g ic a s. O o b je tiv o d esses te ste s, n a p rá tic a , e ra fo rn e c e r in fo r­
m açõ es ao s m éd ico s q u e as u tiliz a v a m , co m o su b síd io s p a r a d e te r­

4
m in a r os d ia g n ó stic o s p sic o p a to ló g ic o s. P ro c u ra v a m -se ta m b é m , n o s
te ste s, sin a is d e d is tú rb io s o rg â n ic o s q u e , p a re a d o s aos d a d o s s in to ­
m ático s, ju stific a sse m p e sq u isa s m éd ic a s m a is a p ro fu n d a d a s .
A s d ific u ld a d e s e n c o n tra d a s n e ssa a b o rd a g e m ligavam -se ao fa to
d e q u e o s q u a d ro s sin to m á tic o s n e m se m p re se a d e q u a m ao q u a d ro
a p re s e n ta d o p e lo su je ito . A lé m d isto , o s m esm o s sin to m a s p o d ia m
te r m u ita s v ezes c a u sa s d iv e rsa s e, v ice-v ersa, as m e sm a s c a u sa s
p o d ia m p ro v o c a r d ife re n te s sin to m a s.
D o p o n to d e v ista d o p sic ó lo g o , a g ra n d e ê n fa se n o s a sp e c to s
p sic o p a to ló g ic o s d eix av a em se g u n d o p la n o c a ra c te rís tic a s n ão -p ato -
lógicas d o c o m p o rta m e n to d a s p esso as, lim ita n d o o e s tu d o e o co ­
n h e c im e n to so b re o in d iv íd u o .
A p e sa r d essas d ific u ld a d e s , u tiliz a m -se a té h o je classific a ç õ es
p sic o p a to ló g ic a s, p rin c ip a lm e n te n o q u e se re fe re aos g ra n d e s g ru p o s
n o so ló g ico s. C o n v é m le m b ra r q u e , d e n tro d a P sic o p a to lo g ia , h á d ife ­
re n te s cla ssific a ç õ es, e estas o b e d e c e m a d ife re n te s c rité rio s . A u ti­
liz a ç ã o d e c rité rio s c la ssific a tó rio s ju stific a -se , p o ré m , p e la b u sc a d e
u m a lin g u a g e m co m u m .

b) O m o d e lo p sic o m é tric o

O d e se n v o lv im e n to d o s te ste s fo i, aos p o u c o s, e s ta b e le c e n d o u m
c a m p o d e a tu a ç ã o ex c lu siv o p a r a o p sicó lo g o e g a ra n tin d o s u a id e n ­
tid a d e p ro fis s io n a l, e m b o ra p re c á ria , já q u e c o n d ic io n a d a à a u to ri­
d a d e d o m é d ic o a q u e m c a b ia so lic ita r esses te ste s e re c e b e r os
re s u lta d o s d o s m esm o s.
N a a tu a ç ã o , foi com o uso d e te ste s, p rin c ip a lm e n te ju n to a
c ria n ç a s, q u e o s p sicó lo g o s g a n h a ra m m a io r a u to n o m ia . N esse t r a ­
b a lh o , e sfo rçav am -se p o r d e te rm in a r, a tra v é s d o s te ste s, a c a p a c id a d e
in te le c tu a l d a s c ria n ç a s, su a s a p tid õ e s e d ific u ld a d e s, assim com o
su a c a p a c id a d e e sc o la r. E sses re su lta d o s, com o te m p o , d e ix a ra m
d e se t o b rig a to ria m e n te e n tre g u e s a o u tro s p ro fissio n a is. U tiliz a d o s
p e lo s p ró p rio s p sic ó lo g o s, se rv ia m a g o ra p a r a o rie n ta r p a is , p ro fe s ­
so res o u os p ró p rio s m éd ico s. N a u tiliz a ç ã o d o s re s u lta d o s d o s tes­
tes, to rn o u -se m e n o s im p o rta n te d e te c ta r d is tú rb io s e classificá-lo s
p sic o p a to lo g ic a m e n te , m a s sim e sta b e le c e r d ife re n ç a s in d iv id u a is e
o rie n ta ç õ e s e sp e c ífic as.
A v isã o d e h o m em s u b ja c e n te ao m o d e lo p sic o m é tric o im p lic a v a
a e x istê n c ia d e c a ra c te rís tic a s g e n é ric a s d o c o m p o rta m e n to h u m a n o .
E ssas c a ra c te rís tic a s , d e o rd e m g e n é tic a e c o n s titu c io n a l, e ra m c o n ­
sid e ra d a s re la tiv a m e n te im u tá v e is. O s te ste s v isa v a m a id e n tific á -la s,
c lassificá-las e m ed i-las. E n tre as te o ria s d a P sico lo g ia q u e p ro c u ra ­
ra m e x p lic ita r essa v isã o , e n c o n tra m -se a T ip o lo g ia , a P sico lo g ia d as

5
F a c u ld a d e s e a P sic o lo g ia d o T ra ç o , c a d a u m a d e la s d e fin in d o u m
c o n c e ito d e h o m e m e in d ic a n d o u m a fo rm a d e d ia g n o stic á -lo .
O d e se n v o lv im e n to d a P sico lo g ia n e ssa s d ireçõ es fo i b a s ta n te
in flu e n c ia d o p o r a c o n te c im e n to s h istó ric o s, p rin c ip a lm e n te n o s E s­
ta d o s U n id o s. N e ste p a ís , d u r a n te a S e g u n d a G u e r r a M u n d ia l a tr i­
b u iu -se à P sic o lo g ia a fu n ç ã o d e se le c io n a r in d iv íd u o s , a p to s o u n ã o
p a r a o e x é rc ito , e a v a lia r os e fe ito s d a g u e rra so b re os q u e d e la
re to rn a v a m . F oi d e s tin a d a m a io r v e rb a às p e sq u isa s p sico ló g icas e
p r o life ra ra m os te ste s. E ste s fo ra m a m p la m e n te d ifu n d id o s n o B rasil.

c) O m o d e lo b e h a v io ris ta

E n fa tiz a n d o a p o s tu r a p o s itiv is ta , d e se n v o lv e ra m -se as te o ria s


b e h a v io ris ta s . E sta s, p a r tin d o d o p rin c íp io d e q u e o h o m e m p o d e se r
e s tu d a d o co m o q u a lq u e r o u tro fe n ô m e n o d a n a tu re z a , in c lu íra m a
P sico lo g ia e n tre as c iê n c ia s n a tu ra is e tr a n s p o rta ra m seu s m éto d o s
p a r a o e stu d o d o h o m e m . A fim de p o d e r a p lic a r o m é to d o d as c iê n ­
cias n a tu r a is , n e c e ssita v a m de u m o b je to d e e s tu d o o b se rv á v e l e
m e n su rá v e l, e d e c la ra ra m o c o m p o rta m e n to o b se rv á v e l co m o o ú n ic o
o b je to p o ssív e l d e ser e s tu d a d o p e la P sico lo g ia.
C o n s id e ra ra m q u e o c o m p o rta m e n to h u m a n o n ã o d e c o rre de
c a ra c te rís tic a s in a ta s e im u tá v e is, m a s é a p re n d id o , p o d e n d o se r m o ­
d ific a d o . P a s s a ra m a e stu d á -lo , p re o c u p a n d o -se e m a lc a n ç a r as leis
q u e o reg em e as v a riá v e is q u e n e le in flu e m , a fim d e se p o d e r ag ir
so b re e le, m a n te n d o -o , s u b s titu in d o -o , m o d e la n d o -o o u m o d ific a n d o -o .
O s b e h a v io ris ta s c ria ra m fo rm a s p ró p ria s d e a v a lia ç ã o d o co m ­
p o rta m e n to a ser e s tu d a d o . N ã o u tiliz a ra m o te rm o "p s ic o d ia g n ó s-
tic o ” , v ale n d o -se d o s te rm o s “ le v a n ta m e n to s d e r e p e r tó r io ” o u “ a n á ­
lises d e c o m p o rta m e n to ” .

1.2.2. A importância da subjetividade

P a ra le la m e n te a essas te n d ê n c ia s , d esen v o lv eu -se u m a n o v a f o r­


m a d e c o n h e c im e n to q u e re p e rc u tiu c o n sid e ra v e lm e n te n a P sico lo g ia.
D e sd e o in íc io d o sécu lo , a lg u n s filó so fo s in su rg ira m -se c o n tra a
v isã o d e c iê n c ia q u e c o n s id e ra v a p o ssív e l u m a to ta l se p a ra ç ã o e n tre
o su je ito e o o b je to d e e s tu d o . P a r a esses filó so fo s, to d o o c o n h e ­
c im e n to é e sta b e le c id o p e lo h o m e m , n ã o se p o d e n d o n e g a r a p a r ti­
c ip a ç ã o d e su a s u b je tiv id a d e . D essa fo rm a , n ã o é p o ssív e l a d m itir
c o m o v á lid a u m a p sic o lo g ia p o sitiv ista , o b je tiv a e e x p e rim e n ta l. O
h o m e m n ã o p o d e se r e s tu d a d o co m o u m m e ro o b je to , fa z e n d o p a rte
d o m u n d o , p o is o p r ó p r io m u n d o n ã o p a ssa d e u m o b je to in te n c io n a l
p a r a o su je ito q u e o p e n sa . D esse m o d o , os m é to d o s d a s ciên cias

6
n a tu r a is n ã o p o d e ria m se r tra n s p o s to s p a ra as ciê n c ia s h u m a n a s , já
q u e e sta s p o ssu em c a ra c te rís tic a s e sp e c ífic as.
E sta fo rm a d e p e n s a r foi m a rc a n te p a r a a P sic o p a to lo g ia e p a ra
a P sic o lo g ia . N o c a m p o d e sta ú ltim a , d e u o rig e m à P sic o lo g ia F e n o ­
m en o ló g ic o -e x iste n c ial e à P sic o lo g ia H u m a n is ta . T o d a s essas c o rre n ­
tes a firm a m q u e a c o n sc iê n c ia , a v id a in te n c io n a l, d e te rm in a e é
d e te rm in a d a p e lo m u n d o , se n d o fo n te d e sig n ific a ç ã o e v a lo r. S a­
lie n ta m o c a rá te r h o lístic o d o h o m e m e su a c a p a c id a d e d e e sc o lh a e
a u to d e te rm in a ç ã o .
P a r tin d o d e ssa p o siç ã o fre n te ao h o m e m e â c iê n c ia , in ú m e ra s
e sco las s u rg ira m e e n c a ra ra m d e fo rm a s d iv e rs a s a q u e s tã o d o psi-
c o d ia g n ó stic o .

a) O H u m a n ism o

A s c o rre n te s h u m a n is ta s , e v ita n d o p o siçõ es re d u c io n ista s ao


lid a r co m o h o m e m , p r o c u ra ra m m a n te r u m a v isã o g lo b al d o m esm o
e c o m p re e n d e r seu m u n d o e seu sig n ific a d o , sem as re fe rê n c ia s te ó ­
ric a s a n te rio re s . In su rg ira m -se c o n tra o d ia g n ó stic o p sic o ló g ic o , c ri­
tic a n d o seu a sp e c to c la ssific a tó rio e o u so d o in d iv íd u o a tra v é s dos
te ste s. P ro c u ra ra m re s titu ir ao se r h u m a n o su a lib e rd a d e e co n d iç õ e s
d e d e se n v o lv im e n to , re p u d ia n d o o p sic o d ia g n ó stic o e c o n sid e ra n d o -o
u m v e rd a d e iro le ito d e P ro c u s to . 1 P a r a os h u m a n is ta s , os p ro c e d i­
m e n to s d ia g n ó stic o s são a rtific ia is . C o n stitu e m -se e m ra c io n a liz a ç õ e s,
a c o m p a n h a d a s d e ju lg a m e n to s b a se a d o s em c o n stru c to s te ó ric o s q u e
d e sc a ra c te riz a m o s e r h u m a n o . E sses p sicó lo g o s n ã o se u tiliz a m d e
d ia g n ó stic o s e d e te ste s, c o n s id e ra n d o q u e , a tra v é s d o re la c io n a m e n to
e sta b e le c id o co m o c lie n te , d u r a n te a p s ic o te ra p ia o u a c o n se lh a ­
m e n to , a lc a n ç am u m a c o m p re e n sã o d o m esm o .

b) A P sico lo g ia F e n o m e n o ló g ic o -e x iste n c ial

A lg u m a s c o rre n te s d a P sic o lo g ia F en o m e n o ló g ic o -e x iste n c ial re


fo rm u la ra m a v isã o d o p sic o d ia g n ó stic o . P a ra estes p sic ó lo g o s, os
d a d o s o b tid o s e m e n tre v ista s e / o u e m te ste s p o d e m se r ú te is e tr a ­
z e r in fo rm a ç õ e s a re sp e ito d a s p esso as, a ju d a n d o -a s n o c a m in h o d o
a u to c o n h e c im e n to . E sses d a d o s d e v e m s e r d isc u tid o s d ire ta m e n te co m
o s c lie n te s, e sta b e le c en d o -se co m os m esm o s as p o ssív e is co n c lu sõ e s.
A p e s a r d e e m p re g a re m te ste s e in fo rm a ç õ e s d e riv a d a s d e d ife re n te s
c o rre n te s d o c o n h e c im e n to p sico ló g ico , u tiliz a m -n a s a p e n a s c o m o r e ­

1 Procusto, na M itologia G rega, era um salteador, A tacava o s viajantes e


o s m atava, forçando-os a se deitarem num leito que nunca se ajustava ao
seu tam anho. C ortava as pernas dos que excediam a m edida e esticava o s
que não a atingiam .

7
c u rso s o u e stra té g ia s a se re m tra b a lh a d a s co m os c lie n te s. O p s ic o ­
d ia g n ó stic o é c o n s id e ra d o m ais d o q u e u m e s tu d o e a v a lia ç ã o . S a­
lie n ta -se o seu a sp e c to d e in te rv e n ç ã o , d ilu in d o -se os lim ite s q u e se­
p a ra m o p sic o d ia g n ó stic o da in te rv e n ç ã o te ra p ê u tic a .

c) A P sic a n á lise

D e c o rre n te d a m e sm a p o s tu r a q u e n ã o c o n s id e ra p o ssív e l a
c o m p le ta o b je tiv id a d e , assim c o m o n ã o a c e ita a c o m p le ta s u b je tiv i­
d a d e e a tr ib u i sig n ific a ç ã o p a r tic u la r a to d o c o m p o rta m e n to h u m a n o ,
d e se n v o lv e u -se a P sic a n á lise . S u a in flu ê n c ia , s e n tid a in ic ia lm e n te n a
E u ro p a , fez-se n o ta r n o c o n tin e n te a m e ric a n o , p rin c ip a lm e n te n o p e ­
r ío d o d a S e g u n d a G u e r r a M u n d ia l, q u a n d o h o u v e u m a g ra n d e im i­
g ra ç ã o d e p s ic á n a lis ta s e u ro p e u s.
A P sic a n á lise p ro v ê u m a re v o lu ç ã o n a P sic o lo g ia , e x p lic ita n d o o
c o n c e ito d e in c o n sc ie n te e e x p lic a n d o , a tra v é s d e p ro c e sso s in tra p s í-
q u ic o s , os d ife re n te s c o m p o rta m e n to s q u e p r o c u r a c o m p re e n d e r.
A tra v é s d a ó tic a p s ic a n a lític a , re d isc u te m -se a d e te rm in a ç ã o p s íq u ic a ,
a d in â m ic a d a p e r s o n a lid a d e , revêem -se os c o m p o rta m e n to s p sic o p a -
to ló g ic o s, su â orig em e p ro g n ó stic o .
E m b o ra , d e sd e o in íc io , o s e stu d o s p sico ló g ico s te n h a m se p re o ­
c u p a d o e m d e fin ir e c o n h e c e r a p e rs o n a lid a d e , foi a P sic a n á lise q u e
p ro p ô s o c o m p le x o m ais c o m p le to d e fo rm u la ç õ e s s o b re s u a fo r m a ­
ç ã o , e s tr u tu r a e fu n c io n a m e n to . E n tre o s p sic a n a lis ta s , d e se n v o lv e ­
ram -se v á ria s e sco las, q u e se d ife re n c ia m p e la ê n fa se c o lo c a d a em
d ife re n te s a sp e c to s d a p e rs o n a lid a d e , e p e la s e x p lic a ç õ e s s o b re o
d e se n v o lv im e n to d as m esm as. T o d a s c o n c o rd a m q u a n to ao s c o n ­
ceito s p s ic a n a lític o s fu n d a m e n ta is.
A p e s a r d a s d ife re n ç a s e n tre as c o rre n te s p s ic a n a lític a s , su a
in flu ê n c ia n a p rá tic a d o p sic o d ia g n ó stic o fo i a m e sm a . A c e n tu o u -se
o v a lo r d a s e n tre v is ta s co m o in stru m e n to d e tra b a lh o , o e s tu d o d a
p e rs o n a lid a d e a tra v é s d a u tiliz a ç ã o d e o b se rv a ç õ e s e té c n ic a s p r o je ­
tiv a s e se d e se n v o lv e u u m a m a io r c o n s id e ra ç ã o d a r e la ç ã o d o p s i­
c ó lo g o e d o c lie n te c o m a in s tru m e n ta liz a ç ã o dos a sp e c to s tra n s f e ­
re n c ia is e c o n tra tra n s fe re n c ia is . E n fim , a P sic a n á lise d e se n v o lv e u in s­
tru m e n to s d ia g n ó stic o s su tis, q u e p e rm ite m v e rific a r o q u e se p a ssa
co m o in d iv íd u o p o r d e trá s de seu c o m p o rta m e n to a p a re n te .

1.2.3. A procura de integração

T o d a s as a b o rd a g e n s e m P sico lo g ia, q u e su rg ira m e fo ra m se


d e se n v o lv e n d o ao lo n g o d o te m p o , tê m seu s e q u iv a le n te s a tu a is . Isto
q u e r d iz e r q u e . h o je , e n tre os p sic ó lo g o s, e n c o n tra m o s a q u e le s q u e
a tu a m a p a r tir d e c o n c e ito s d o h o m e m e d a c iê n c ia p o sitiv ista s, fe n o -

8
m e n o ló g ic o -e x iste n c iais, h u m a n is ta s e p sic a n a lític o s. E sta s se ria m as
g ra n d e s te n d ê n c ia s e n c o n tra d a s e m P sic o lo g ia . P o d em o s d iz e r q u e ,
a p e s a r d e a p re s e n ta re m d ife re n ç a s fu n d a m e n ta is , m u ita s v ezes se
in te rse c c io n a m , n ã o se n d o se m p re p o ssív e l d e te c ta r as fro n te ira s e n tre
as m e sm a s. A p e s a r d o s d ife re n te s m a rc o s re fe re n c ia is, a c o n c e itu a ç ã o
d e c a d a u m a d e ssa s te n d ê n c ia s é m u ito a m p la e c a d a u m a d e la s a p rè -
se n ta in ú m e ro s d e s d o b ra m e n to s , d e ta l fo rm a q u e, n a p rá tic a d a P si­
c o lo g ia e , p o r ta n to , n a p r á tic a d o p sic o d ia g n ó stic o , te m o s, c o m o já
fo i d ito , v á ria s fo rm a s de a tu a ç ã o , m u ita s d as q u a is n ã o p o d e m se r
c o n sid e ra d a s d e c o rre n te s e x c lu siv a m e n te d e u m a o u d e o u tr a d essas
a b o rd a g e n s. E m o u tra s p a la v ra s , q u a n d o o lh a m o s c o n c re ta m e n te p a ra
a P sico lo g ia C lín ic a , v e rific a m o s g ra n d e s v a ria ç õ e s d e c o n h e c im e n to s
e a tu a ç õ e s. A lg u n s p o d e m se r a g ru p a d o s e m b lo co s ra z o a v e lm en te
o rg a n iz a d o s, o u tro s são a in d a m u ito e m p íric o s e co m d e se n v o lv i­
m e n to b a s ta n te in c ip ie n te .
N a tr a n s c o r r e r d a h is tó ria d a P sic o lo g ia , a lg u m a s te o ria s p s i­
co ló g icas p ro v o c a ra m g ra n d e e n tu sia sm o p o r p a r te d o s p ro fissio n a is.
P a re c ia q u e s a n a ria m as d ific u ld a d e s in te rn a s d e s ta c iê n c ia e p re e n ­
c h e ria m as la c u n a s de c o n h e c im e n to , a lé m d e p ro v e re m -n a d e in s tr u ­
m e n to s e fe tiv o s d e a tu a ç ã o . E m a lg u n s m o m e n to s, isto a c o n te c e u co m
m ais d e u m a te o ria . E sta s te o ria s, d esen v o lv en d o -se às v ezes e m d i­
reçõ es d ife re n te s, c ria ra m e m c e rto s p e río d o s v e rd a d e ira s d is p u ta s
e n tre p ro fissio n a is, q u e p ro c u ra v a m p r o v a r a m a io r o u m e n o r q u a li­
d a d e d e su as p ro p o s ta s . O fa to é q u e n e n h u m a te o ria , a té a g o ra ,
m o stro u -se su fic ie n te p a ra r e s p o n d e r a to d a s as q u e stõ e s c o lo c a d a s
p e la P sico lo g ia.
O q u e se n o ta h o je , n a m a io ria d o s p sicó lo g o s, já n ã o é u m a
a c ir r a d a b a ta lh a n o se n tid o d e f a z e r p re v a le c e r su a p o siç ã o , m a s sim
u m a p o s tu ra c rític a d ia n te d o c o n h e c im e n to p sic o ló g ic o , e a p ro c u ra
d e u m a in te g ra ç ã o e n tre as d iv e rsa s c o n q u is ta s a té a g o ra re a liz a d a s
e m se u c a m p o . E ste p ro c e sso d e in te g ra ç ã o reflete-se ta m b é m n o tr a ­
b a lh o d e p sic o d ia g n ó stic o .
A tu a lm e n te , to d a s as c o rre n te s e m P sic o lo g ia c o n c o rd a m , e m b o ra
p a r tin d o d e p re ssu p o sto s e m é to d o s d ife re n te s , q u e , p a r a se c o m ­
p re e n d e r o h o m e m , é n e c e ssá rio o rg a n iz a r c o n h e c im e n to s q u e d ig am
re sp e ito à su a v id a b io ló g ica, in tr a p s íq u ic a e so c ia l, n ã o se n d o p o s­
sív el e x c lu ir n e n h u m d esses h o riz o n te s . E m re la ç ã o aos a sp e c to s
b io ló g ic o s d o su jeito , ao re a liz a re m o p sic o d ia g n ó stic o , o s p sicó lo g o s
se p re o c u p a m co m os fa to re s d e d e se n v o lv im e n to e m a tu ra ç ã o , co m
e sp ecial a te n ç ã o à o rg a n iz a ç ã o n e u ro ló g ic a re fle tid a n o e x e rc íc io d a s
fu n ç õ e s m o to ra s. A a v a lia ç ã o d e ssa s fu n ç õ e s o c u p a u m lo c a l d e im ­
p o rtâ n c ia n o p sic o d ia g n ó stic o in fa n til (ao la d o d a a v a lia ç ã o co g n i­
tiv a ) p o is e s tá d ire ta m e n te lig a d a ao p ra g m a tis m o e ao su cesso es­
c o la r. A in d a , n e s ta a v a lia ç ã o , c a b e ao p sic ó lo g o p e rg u n ta r-se so b re

9
p o ssív e is c a u sa s o rg â n ic a s su b ja c e n te s à q u e ix a a p re s e n ta d a . C aso
su sp e ite d a e x istê n c ia d e d is tú rb io s físico s, d ev e re m e te r o c lie n te ao
m é d ic o . E v ita rá , d e ste m o d o , o s risco s d a ' ‘p sic o lo g iz a ç ã o ” , isto é,
fo rn e c e r e x p lic a ç õ es p sic o ló g ic a s a d is tú rb io s d e o u tr a o rig e m . A a v a ­
lia ç ã o d o s p ro cesso s in tra p s íq u ic o s , p rin c ip a lm e n te d a e s tr u tu r a e
d in â m ic a d a p e r s o n a lid a d e , co n stitu i-se n o c e rn e d o p sico d iag n ó s-
tic o . É ao re d o r d e la q u e se o rg a n iz a m o s d e m a is d a d o s. A re la ç ã o
d o c lie n te co m o p sic ó lo g o , assim c o m o o s p a p é is fa m ilia re s e
so ciais, v a lo re s e e x p e c ta tiv a s , n ã o d e ix a m d e se r c o n sid e ra d o s. A
m a io r r e s p o n s a b ilid a d e d o p sic ó lo g o , p o ré m , re sid e n o tra b a lh o d e
in te g ra ç ã o d esses d a d o s, já q u e a d iv isã o d o s m esm o s n ã o p a s s a de
u m a rtifíc io p a ra p e r m itir u m tra b a lh o m a is siste m á tic o .
A p e sa r d a b u s c a d e in te g ra ç ã o , sab em o s q u e u m p sico d iag n ó s-
tic o , p o r m ais c o m p le to q u e seja, refere-se a u m d e te rm in a d o m o ­
m e n to d e v id a d o in d iv íd u o , e c o n stitu i se m p re u m a h ip ó te se d iag ­
n o stic a . I s to p o rq u e a P sico lo g ia, co m o q u a lq u e r o u tra c iê n c ia , n ã o
p o d e se r c o n s id e ra d a u m c o rp o d e c o n h e c im e n to s a c a b a d o , co m ­
p le to e fe c h a d o .

1.3. T eo ria e p rá tica

É m u ito im p o rta n te c o n h e c e rm o s a situ a ç ã o n a q u a l se e n c o n tra


a P sic o lo g ia , p o r d o is m o tiv o s. P rim e iro , p o rq u e s a b e n d o d o s p r o ­
b le m a s d e c o n h e c im e n to co m o s q u a is n o s s a p ro fissã o se d e p a ra , n ã o
p o d e m o s d e ix a r d e la d o q u e stõ e s d e F ilo so fia e d e E p iste m o lo g ia ,
q u e n o s im p e d irã o d e c a ir n u m a a tu a ç ã o a c rílic a e a lie n a d a , isto é,
u m a a tu a ç ã o n a q u a l se u tiliz e m , in d is c rim in a d a m e n te , d ife re n te s c o n ­
c e ito s, n o ç õ e s e p rá tic a s , sem ex p lic itá -lo s e sem d e fin ir n o ssa p o ­
siç ã o f r e n te a o s m e sm o s. E m se g u n d o lu g a r p o r q u e c o n h e c e n d o as
d ific u ld a d e s q u e a P sic o lo g ia e n c o n tra , p o d e m o s c o m p re e n d e r com
m a io r fa c ilid a d e co m o e sta s se re fle te m n a p rá tic a , e e n c o n tr a r fo r­
m as d e a tu a ç ã o , ju n to ao s c lie n te s, q u e n o s p e rm ita m a g ir co m seg u ­
r a n ç a e tr a n q ü ilid a d e .
A re la ç ã o e n tre a p rá tic a e a te o ria e m d ife re n te s c iê n c ia s e,
p o r ta n to , ta m b é m e m P sic o lo g ia , é u m a d a s q u e stõ e s q u e o c u p a os
estu d io so s. P a ra a lg u n s, a p rá tic a d ev e d e c o rre r e strita m e n te d e u m a
p o s tu ra e m é to d o s te ó ric o s. P a ra o u tro s, o im p o rta n te é a e x p lic i­
ta ç ã o d o c in tu rã o d e c o n c e ito s e n o çõ es n o q u a l o su je ito se a p ó ia ,
sem q u e , o b rig a to ria m e n te , esse c in tu rã o e ste ja o rg a n iz a d o a n te rio r­
m e n te e m u m a te o ria . O fa to é q u e a p rá tic a e a te o ria se a lim e n ta m
m u tu a m e n te . U m a n ã o se d e se n v o lv e sem a o u tr a , n ã o p o d e n d o h a v e r
d e sv in c u la ç ã o e n e m s u b o rd in a ç ã o to ta l e n tre e la s . A in c o m p re e n sã o
d o s a sp e c to s im p lic a d o s n e ssa re la ç ã o p o d e le v a r a u m a d e sq u a lifi-

10
Bi b l i o t e c a - f a c u l o a d e p i t á g o r a s
caçãci d o tra b a lh o p rá tic o d o p ro fissio n a l, p o r p a r te d a q u e le s q u e se
c o n sid e ra m p ro d u to re s d o c o n h e c im e n to , o u a u m a a tu a ç ã o d e sv in ­
c u la d a d a te o ria e q u e se. d e s c a ra c te riz a ria co m o p rá tic a p ro fissio n a l.
P o r o u tro la d o , a to ta l su b o rd in a ç ã o d a p rá tic a à te o ria é re stritiv a
e im p ro d u tiv a p a r a a m b a s.

13 1. A prática do psicodiagnóstico

N a p rá tic a d a P sico lo g ia C lín ic a visa-se, b a sic a m e n te , a a liv ia r o


so frim e n to p síq u ic o d o c lie n te . N a p rá tic a d o p sic o d ia g n ó stic o , o o b ­
je tiv o é o rg a n iz a r os e le m e n to s p re se n te s n o e s tu d o p sic o ló g ic o . de
f o r n u f l í o b te r u m a c o m p re e n sã o d o c lie n te a f im d e a ju d á -lo . N a
c o n c re tiz a ç ã o d e ssa p r á tic a , m u ita s a tu a ç õ e s b aseiam -se e m so lu çõ es
p ra g m á tic a s, m a is d o q u e e m so lu çõ es d e c o rre n te s d e u m a a b o r d a ­
g em te ó ric a . Is to p o rq u e , n a p r á tic a , e n tra m e m jogo n o v a s d i­
m en sõ es.
A o a tu a r e m p sic o d ia g n ó stic o , o p sic ó lo g o e stá a te n d e n d o a o b ­
je tiv o s d e fin id o s te o ric a m e n te . E stá a p lic a n d o c o n h e c im e n to s te ó ­
rico s, v a lid a n d o -o s o u m o d ific a n d o -o s. A s o b se rv a ç õ e s d e c o rre n te s
d essa a p lic a ç ão , se p e sq u isa d a s e in fo rm a d a s , tr a r ã o su b síd io s ú te is
a re v isõ e s e re fo rm u la ç õ e s te ó ric a s. E stá ta m b é m c u m p rin d o su a f u n ­
çã o p ro fissio n a l d e a ju d a r o c lie n te , D e s e m p e n h a n d o essa fu n ç ã o ,
a firm a o p a p e l d o p sic ó lo g o , p re s e rv a o e sp a ç o d a p ro fis s ã o e a te n d e
à n e c e ssid a d e d a m e sm a . A lé m d esses o b je tiv o s , in e re n te s à p ro fissã o ,
o p sic ó lo g o e s ta rá se rv in d o a o u tro s d e síg n io s q u e d e c o rre m d as co n ­
d içõ es so ciais e o rg a n iz a c io n a is o n d e a tu a . E sta s co n d iç õ e s d e te rm i­
n a m o c o n te x to n o q u a l v a i se d e se n v o lv e r a a tu a ç ã o . A ssim , ao re a ­
lizarm o s u m p sic o d ia g n ó stic o , te n d o d e fin id o p a r a n ó s m esm o s as
q u e stõ e s lig a d a s a o c o n h e c im e n to p sico ló g ico e à p rá tic a p ro fis s io ­
n a l, d e v e m o s c o n s id e ra r o c o n te x to n o q u a l essa a tu a ç ã o e stá in ­
se rid a .

1.3.2. O contexto da atuação

O m a io r d e se n v o lv im e n to d o s m o d e lo s d e p sic o d ia g n ó stic o
a tu a is d eu -se em c o n su ltó rio s p riv a d o s , n o a te n d im e n to a u m a c lie n ­
te la so c ia lm e n te p riv ile g ia d a . A v a lo riz a ç ã o d o p sicó lo g o co m o p r o ­
fissio n a l lib e ra l c o n trib u iu p a r a a p re fe rê n c ia p e la a tu a ç ã o a u tô n o m a ,
em d e trim e n to d a a tu a ç ã o em in stitu iç õ e s. N e sta s, a m e ra tra n s p o ­
sição d o s m o d e lo s d e p sic o d ia g n ó stic o u tiliz a d o s em c o n su ltó rio s,
m o stro u -se in e fic ie n te . A s itu a ç ã o p a sso u a in c lu ir, a lé m d o p sic ó lo g o
e d o c lie n te , u m te rc e iro e le m e n to , a in s titu iç ã o , q u e m o d ific o u a

11
e s tru tu ra ç ã o d o tra b a lh o . N e m se m p re a in s titu iç ã o , o s p sicó lo g o s e
os c lie n te s a p re s e n ta m n e c e ssid a d e s e o b je tiv o s c o in c id e n te s.
A a tu a ç ã o em p sic o d ia g n ó stic o p re v ê o c o n h e c im e n to d a s n e ­
ce ssid a d e s d o c lie n te . Q u e stõ e s étic a s p ro p õ e m ao p sicó lo g o o co ­
n h e c im e n to e a e la b o ra ç ã o d e su as p ró p ria s n e c e ssid a d e s e d esejo s,
a fim d e q u e o s m esm o s n ã o in te rfira m n o tr a b a lh o p ro fis s io n a l, p r e ­
ju d ic a n d o -o . C o n sid e ra m o s n e c e ssá rio q u e as in flu ê n c ia s in s titu c io ­
n a is sejam re c o n h e c id a s ta m b é m . O p sicó lo g o , ao a tu a r em cre c h e s,
h o s p ita is , p re síd io s e o u tra s o rg a n iz a ç õ e s, en c o n tra -se fre q ü e n te m e n te
so b o rie n ta ç ã o e s tr a n h a ao s in te re sse s d e su a p ro fissã o . A p e s a r d a
re g u la m e n ta ç ã o p re v e r, c o m o fu n ç ã o e x c lu siv a d o p sic ó lo g o , a d ire ­
çã o d e serv iço s d e P sic o lo g ia , essa re g u la m e n ta ç ã o n e m se m p re é
re s p e ita d a . O p sic ó lo g o é m u ita s v ezes p re s s io n a d o a se rv ir p rim o r­
d ia lm e n te aos in te re sse s d a in s titu iç ã o . E sta , a tra v é s d e re g u la m e n to s
in te rn o s o u de p o d e r b u ro c rá tic o , d e te rm in a a q u a n tid a d e d e tr a ­
b a lh o a p r o d u z ir , lo c a l, te m p o e re c u rso s a serem u sa d o s. A p r ó ­
p r ia u tiliz a ç ã o d o s re s u lta d o s d o tr a b a lh o , p o r p a r te d a in s titu iç ã o ,
p o d e se r c o n tr á r ia aos in te re sse s d o p sic ó lo g o e d o c lie n te . P re s­
sões d e m e rc a d o e q u e stõ e s tr a b a lh is ta s lim ita m a a u to n o m ia d o
p ro fissio n a l.
A lé m d a in flu ê n c ia d a s co n d iç õ e s o rg a n iz a c io n a is, a d e m a n d a
d a a tu a ç ã o p ro fissio n a l é c la ra m e n te in flu e n c ia d a p o r co n d iç õ e s
so ciais. E ssa d e m a n d a p o d e se r v e rific a d a m a is fa c ilm e n te em ser­
v iço s in s titu c io n a is , d a d o o g ra n d e a flu x o d e p e sso a s ao s m esm o s.
A o e x a m in a rm o s as c a ra c te rístic a s g e ra is d a p o p u la ç ã o q u e p ro c u ra
esses se rv iç o s, p o d e m o s re c o n h e c e r a lg u n s d e te rm in a n te s so ciais. A
m a io ria p e rte n c e a seg m en to s p o p u la c io n a is d e sv a lo riz a d o s so cial­
m e n te , p o r n ã o c o n stitu íre m fo rç a p ro d u tiv a . A p ro c u ra d o serv iço
p sic o ló g ic o d e c o rre d e e n c a m in h a m e n to s d e te rc e iro s, v e rific a n d o -se
ra ra m e n te a b u s c a e s p o n tâ n e a . A e x p e c ta tiv a , n esses caso s, é d e
a d e q u a ç ã o rá p id a às ex ig ên cias e x te rio re s. O p ro fis s io n a l n e m
se m p re e n c o n tra a seu d is p o r as té c n ic a s m ais a d e q u a d a s ao caso
em a te n d im e n to . A m a io ria d a s téc n ic a s à d isp o siç ã o fo i d e se n ­
v o lv id a e m o u tro s p a íse s, e o acesso às m esm as d e p e n d e d e su a d i­
v u lg a ç ã o e c o m e rc ia liz a ç ã o . A o b te n ç ã o d e c e rto s m a te ria is im p lica
em a lto c u sto fin a n c e iro . N e ssa situ a ç ã o , c o m p o u c o s in stru m e n to s
d isp o n ív e is, o p sic o d ia g n ó stic o p o d e tra n sfo rm a r-se n a re p e tiç ã o es­
te r e o tip a d a d e u m a se q ü ê n c ia fix a d e te ste s, q u e n e m se m p re se ria m
os e sc o lh id o s p e lo p ro fissio n a l, o u os q u e m e lh o r se rv iria m ao clie n te .
O re c o n h e c im e n to d a s in flu ê n c ia s o rg a n iz a c io n a is e so ciais às
q u a is o p sicó lo g o e stá su b m e tid o é im p o rta n te , n a m e d id a em q u e
lh e p e rm ite c o m p re e n d e r m e lh o r a fu n ç ã o so cial q u e a p ro fissã o e stá
d e s e m p e n h a n d o e co m a q u a l o p ro fissio n a l e s tá se n d o c o n iv e n te .
P e rm ite ta m b é m q u e este c o la b o re , e fe tiv a m e n te , n a p ro d u ç ã o e di-

12
v u lg a ç ã o d e té c n ic a s e fo rm a s d e tra b a lh o v o lta d a s à n o ssa re a li­
d a d e só cio -eco n ô m ica e c u ltu ra l.
C o m o v em o s, n ã o é fá c il tr a b a lh a r e m p sic o d ia g n ó stic o . P o d e ­
m o s, p o ré m , u tiliz a r to d o s os c o n h e c im e n to s e re c u rso s a n o sso d is­
p o r , d e fo rm a c ria tiv a e c o e re n te , se le m b ra rm o s q u e o c o n h e c i­
m e n to é c o n tin g e n te , as téc n ic a s n ã o são re g ra s im u tá v e is, e to d a sis­
te m a tiz a ç ã o é p ro v is ó ria e p a ssív e l d e re e s tru tu ra ç ã o .

1.4. B ib lio g ra fia

C oelho, A . M . F . G om es. P s i c o d i a g n ó s t i c o : u m a c o n v e n i ê n c i a o u u m a n e ­
c e s s i d a d e ? M onografia. U niversidade Federal do R io de Janeiro, 1982.

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Jaspers, Karl. P s i c o p a t o l o g i a G e n e r a l . Buenos A ires, Ed. Beta, 1971.

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M acedo, R. M . (o rg .) P s i c o l o g i a e I n s t i t u i ç ã o . N o v a s F o r m a s d e A te n d i-
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1975.
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N udler, Oscar, (o rg .) P r o b l e m a s E p i s t e m o l ó g i c o s d e la P s ic o lo g ia . M éxico,


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c e s o P s i c o d i a g n ó s t i c o . Buenos A ires, Ed. N u eva V ision, 1976.

Rotter, Julian B. P s i c o l o g i a C l í n i c a . R io de Janeiro, Zahar, 1967.

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Trinca, W alter. O P e n s a m e n t o C l í n i c o em D ia g n ó s tic o da P e r s o n a lid a d e .
P etrópolis, V ozes, 1983.

13
2
Processo diagnóstico de
tipo com preensivo

W alter Trinca

2.1. In tro d u çã o

P ro c e sso d ia g n ó stic o jé a fo rm a r e s u lta n te 4g d e te rm in a d a o rg a ­


n iz a ç ã o e __e§iruturação d o s e le m e n to s d e u m e stu d o -de caso , re a li-
z a d o se g u n d o u m a _ c e rta c o n c e p ç ão d ia g n o s tic a. E x p ressa-se n a se­
q ü ê n c ia de fases e n o s p a sso s q u e se d ã o p a r a a c o n se c u ç ã o d o s o b ­
je tiv o s d ia g n ó stic o s. E stes são e s tru tu ra d o s e o rie n ta d o s em fu n ç ã o
d e d e te rm in a d o s e m b a sa m e n to s te ó ric o s e p rá tic o s. S e g u n d o a e s tru ­
tu ra ç ã o q u e lh e é d a d a , u m p ro c e sso d ia g n ó stic o p o d e se r c la ssifi­
c a d o d e c o n fo rm id a d e co m os tip o s e x iste n te s (M a h e r, 1 9 7 4 ). O s
p rin c ip a is tip o s são :

Processo psicom étrico. É a q u e le q u e te m , n o p sic ó lo g o , u m sim ­


p le s a p lic a d o r e a v a lia d o r d e testes p sico ló g ico s, c u ja f in a lid a d e é
a u x ilia r o tra b a lh o d e o u tro s p ro fissio n a is. O p sic ó lo g o e n tr a em
c o n ta to so m e n te co m a sp e c to s p a rc ia is d a p e rs o n a lid a d e d o p a c ie n te ,
d e m o d o “ o b je tiv o ” , e v ita n d o m a io re s co m p ro m isso s p ro fissio n a is
co m a v id a p e sso a l e a fe tiv a d o m esm o . N e ste s caso s, fic a p re ju d i­
c a d a a in te g ra ç ã o d o s d a d o s n u m a v isã o g lo b a liz a d o ra . O in s tr u ­
m e n ta l p sic o m é tric o é, a q u i, d e se n v o lv id o a p a r tir d a m a te m á tic a e
d a e sta tístic a .
Processo com portam ental. C o n sid eram -se p r io ritá rio s os d a d o s
d e o b se rv a ç ã o o b je tiv a , co m e x c lu sã o d e a p re c ia çõ e s a re sp e ito d o

14
m u n d o in te rn o . O s re fe re n c ia is sao , n e ste p ro c e sso , e x tra íd o s d a P si­
co lo g ia d a A p re n d iz a g e m . E n fa tiz a m -se os p ro g ra m a s d e se n v o lv id o s
p e la P sico lo g ia E x p e rim e n ta l, os q u a is fa z e m u so d a s n o ç õ e s d e c o n ­
d ic io n a m e n to s c lássico e o p e ra n te .

Processo psicanalítico. A P s ic a n á lise co n stitu i-se em modelQ. de


tr a b a lh o p a r a os p ro fis sio n ais q u e s p n tilh a m -fte ste . tip o d a p ro cesso .
A c o n c e p ç ã o p re d o m in a n te é a d e q u e o d ia g n ó stic o d e ve ç o n fig u ra r
u m a esp é c ie de an tev isâcT jlo s.,f e n ô m e n o s .q u e a p rá tic a p s ic a n a lítica
B em -su ced id a e n c o n tra m T n o jp a c ie n te , e co m os q u a is lid a ria .

Processo baseado no m odelo m édico. T ra ta -se d e tra n sp o siç ã o ,


p a r a o d ia g n ó stic o p sico ló g ico , d e n o çõ es a d v in d a s d o d ia g n ó stic o
c lín ic o e m m e d ic in a . A v isã o m é d ic a , q u e im p re g n a o d ia g n ó stic o
p sic o ló g ico n e ste p ro cesso , to m a a v id a e m o c io n a l em te rm o s sim i­
la re s à q u e le s e m p re g a d o s p a r a o o rg a n ism o , o u seja, u m o b je to c o n ­
c e b id o c o m o d o e n te , p ró p rio p a r a se r m a n ip u la d o , d isse c a d o , tr a ta d o
e tc. A c o n d u ta d o p sicó lo g o , co m o , tra d ic io n a lm e n te , a d o m éd ico ,
é d e sp e rso n a liz a r-se p a ra n ã o p re ju d ic a r a c o le ta d e in fo rm a ç õ e s
e o p e n s a m e n to c lín ic o .

Processo com nreensivo. A id é ia d e u m p ro c e sso de tip o co m ­


p re e n siv o d e c o rre u d a n e c e ssid a d e d e u m a d e sig n a ç ã o b a s ta n te a b r a n ­
g e n te , q u e a b a rc a sse a m u ltip lic id a d e d e fa to re s em jo g o n a re a li­
z a ç ã o d e e stu d o s d e caso s, ta l co m o a e n c o n tra m o s h o je em n o sso
m eio . O te rm o d e riv a d e com praehendere q u e , em la tim , sig n ifica
a b ra ç a r, tom a r e a p r e e n d e r o co n ju n to . D e sig n a , p re s e n te m e n te , no
d ia g n ó stic o p sico ló g ico , u m a série d e situ a ç õ e s q u e in c lu i, e n tre o u ­
tro s a sp e c to s, o d e e n c o n tr a r u m se n tid o p a r a o c o n ju n to d as in f o r ­
m açõ es d isp o n ív e is, to m a r a q u ilo q u e é re le v a n te e sig n ific a tiv o na
p e rs o n a lid a d e , e n tr a r e m p a tic a m e n te e m c o n ta to e m o c io n a l e, ta m ­
b é m , c o n h e c e r os m o tiv o s p ro fu n d o s d a v id a e m o c io n a l d e alg u ém .
E m b o ra este p ro c e sso p o ssa in c lu ir p a rte s d e o u tro s já m e n c io n a d o s,
c a ra c te riz a -se d e m o d o in c o n fu n d ív e l, n a P sico lo g ia C lín ic a , co m o
a q u e le tip o q u e le v a em c o n ta a n a tu re z a e sp e c ífic a d a ta r e f a diag-
n ó stic a (q u e a p re s e n ta p ro b le m a s p a r tic u la re s , e x ig in d o m e to d o lo g ia
p r ó p r ia p a r a so lu c io n á -lo s); c o n sid e ra a n e c e ssid a d e d o e m p re g o d e
re fe re n c ia is m ú ltip lo s , a fim d e e v ita r a u n ila te ra lid a d e q u e se e n ­
c o n tr a n o s d e m a is p ro c e sso s; e é p o n to d e c o n flu ê n c ia d e u m a v isão
to ta liz a d o ra d o in d iv íd u o h u m a n o . Já tiv e m o s o p o rtu n id a d e d e n o s
re f e r ir a este p ro c e sso (T rin c a , 1 9 8 3 , p . 17) co m o a b ra n g e n te d a s
“ d in â m ic a s in tra p s íq u ic a s , in tra fa m ilia re s e só c io -c u ltu ra is, co m o fo r­
ças e c o n ju n to s d e fo rç a s em in te ra ç ã o , q u e re su lta m em d e sa ju sta ­
m e n to s in d iv id u a is ” , te n d o p re s e n te os d in a m ism o s d e d e se n v o lv i­
m e n to e m a tu ra ç ã o d o in d iv íd u o , ta n to d o p o n to d e v ista do desa-
ju sta m e n to q u a n to d a n o rm a lid a d e . À s vezes, d e c o n fo rm id a d e co m
o q u e r e q u e ira a s itu a ç ã o , a a v a lia ç ã o p o d e e n fa tiz a r d e te rm in a d o s
asp e c to s (in te le c tu a l, p sic o m o to r, e m o c io n a l) sem p e r d e r d e v ista o
in d iv íd u o co m o u m to d o .
A d e sc riç ã o d a fo rm a p e la q u a l u m tip o d e p ro c e sso d ia g n ó s­
tic o é e s tr u tu r a d o a ju d a -n o s a fa z e r id é ia m ais c la ra a re sp e ito d o
m esm o . O p ro c e sso d e tip o c o m p re e n siv o te m seus fatores estrutu-
rantes: são a q u e le s q u e lh e im p rim e m c a ra c te rístic a s e id e n tid a d e
p ró p ria s , d istin g u in d o -o d o s d e m a is tip o s.

2.2. F a to r e s e str u tu r a n te s do p r o c esso com p reen siv o

N o caso d o p ro c e s s o d ia g n ó stic o d e tip o c o m p re e n siv o e n c o n ­


tra m o s , c o m u m e n te asso c ia d o s em u m m esm o e stu d o d e ca so , os
seg u in tes p rin c ip a is fatores estruturantes:

2.2.1. O bjetivo de elucidar o significado das perturbações

U m dos p rin c ip a is fa to re s e s tru tu ra n te s é a im p o rtâ n c ia d a d a


p e lo p sic ó lo g o ao e sc la re c im e n to d o sig n ific a d o dos d e sa ju sta m e n to s
q u e o c a sio n a ra m a p ro c u ra d o a te n d im e n to p sico ló g ico . H á u m co m ­
p ro m isso d o p ro fissio n a l p a r a co m a c o m p re e n sã o p r o f u n d a d a s q u e i­
x as, sin to m a s e p e rtu rb a ç õ e s , e m term o s d e a p re e n s ã o d e c o n te ú d o s
in c o n sc ie n te s d a v id a m e n ta l d o p a c ie n te . Se u sássem o s o m o d elo
m é d ic o , d iría m o s q u e im p o rta a tin g ir u m a e x p lic a ç ã o e tio ló g ic a ; to ­
d a v ia , sob o m o d e lo c o m p re e n siv o , d izem o s q u e o d ia g n ó stic o p s i­
c o ló g ico a b ra n g e a e x p lic ita ç ã o d as fu n ç õ e s d a s p e rtu rb a ç õ e s e d o s
m o tiv o s in c o n sc ie n te s q u e as m a n tê m . P o r e x e m p lo , fa la n d o -se p a r ­
tic u la rm e n te d e d e te rm in a d a c ria n ç a , a fu n ç ã o d e su a e n u re se p o d e
ser: fa z e r se n tir a u m a m ã e p o sse ssiv a e d o m in a d o ra q u e e la , c ria n ç a ,
é in d e p e n d e n te e liv re ; q u e seus m o tiv o s p ro fu n d o s p a r a a m a n u ­
te n ç ã o d o sin to m a é h a v e r u m a á re a , em su a p e rs o n a lid a d e , liv re d a
in flu ê n c ia m a te rn a . O sin to m a , n e ste ca so , ta n to p o d e se r a e x p re ssã o
d e u m c o n flito co m a m ã e re a l, q u a n to u m c o n flito in tra p s íq u ic o
co m a fig u ra m a te rn a in te rn a liz a d a . A o p sic ó lo g o colo ca-se o o b je tiv o
de e lu c id a r os d e te rm in a n te s e, se p o ssív e l, a o rig e m d a s p e r tu r b a ­
ções d a p e rs o n a lid a d e . A ssim se n d o , su a v isã o a lc a n ç a m ais além
d o q u e é im e d ia ta m e n te v isív el, u s a n d o , p a r a isso , o re fe re n c ia l p si-
c a n a lític o . N e m se m p re o sig n ific a d o d a s p e rtu rb a ç õ e s d e u m a c ria n ç a
re sid e n a c la rific a ç ã o d o s d e te rm in a n te s d o m u n d o e x te rn o (fa m ília ,
in stitu iç õ e s e tc .). Ê n e c e ssá rio u m esfo rç o d o p sic ó lo g o , n o se n tid o
d a e lu c id a ç ã o dos c o m p o n e n te s d o m u n d o in te rn o d o p a c ie n te . So­

16
b re tu d o d a q u e le s q u e são re sp o n sá v e is p e lo s c o n flilo s e p e la o rg a ­
n iz a ç ã o d a p e r s o n a lid a d e em d e te rm in a d o s m o ld e s. E m te rm o s k lei-
n ia n o s, s e ria a te n ta tiv a de a p re e n sã o dos p o n to s n o d a is de a n g ú stia s
e fa n ta s ia s in c o n sc ie n te s q u e p ro v o c a m d e sa ju sta m e n to s n a p e rs o n a ­
lid a d e (m as q u e , v isto s d e o u tro p ris m a , sã o fo n te s p a r a o d e se n v o l­
v im e n to d o in d iv íd u o ).

2 .2 .2 . Ênfase na dinâm ica em ocional inconsciente

A e s tru tu ra ç ã o d o p ro c e sso d ia g n ó stic o d e tip o c o m p re e n siv o


r e q u e r a fa m ilia riz a ç ã o d o p ro fissio n a l co m a a b o rd a g e m p sic a n a lí-
tic a d o s fe n ô m e n o s m e n ta is. E le d ev e e s ta r a p to a re c o n h e c e r os
fe n ô m e n o s in c o n sc ie n te s q u e in c lu e m , p rin c ip a lm e n te , a d in â m ic a e n ­
c o b e rta d o s c o n flito s, a e s tr u tu r a e a o rg a n iz a ç ã o la te n te s d a p e rs o ­
n a lid a d e . N ec e ssita , a in d a , a d o ta r o re fe re n c ia l p sic a n a lític o p a r a o
c o n h e c im e n to d a d in â m ic a fa m ilia r, u m a vez q u e o jo g o d e fo rç a s
q u e o p e r a n a s re la ç õ e s fa m ilia re s é, e m g ra n d e p a r te , d e n a tu re z a
in c o n sc ie n te . O p sic ó lo g o c o stu m a p re s ta r a te n ç ã o aos fe n ô m e n o s d a
tra n s fe rê n c ia e d a c o n tra tra n sfe v ê n c ia , q u e se d ã o d u r a n te o p ro c e sso
d ia g n ó stic o , re c o n h e c en d o -o s e lid a n d o c o m os m esm o s.
A c re sc e n te im p o rtâ n c ia q u e tê m a ssu m id o as e n tre v is ta s liv re s
e s e m i-e stru tu ra d a s. a re a liz a ç ã o de a n a m n e se d e ta lh a d a , o u so de
testes p ro je tiv o s e d e p ro c e d im e n to s in te rm e d iá rio s e n tre estes e as
e n tre v is ta s liv re s a te s ta m a ê n fa se n o re fe re n c ia l p sic a n a lític o . E ste
tem , n a a sso c ia ç ã o liv re d o p a c ie n te , a su a p e d r a a n g u la r. N o caso
d e c ria n ç a s, os p a is e re sp o n sá v e is são c o n v id a d o s a e x p rim ir, a tr a ­
vés d e e n tre v is ta s liv re s, a n a tu re z a e a d in â m ic a d o fu n c io n a m e n to
d o a m b ie n te d a c ria n ç a e a in te ra ç ã o c ria n ç a -a m b ie n te . E ste e x p e ­
d ie n te c o n s titu i u m u so m o d ific a d o d a té c n ic a de a sso c ia ç ã o liv re
co m fin a lid a d e s d ia g n o stic a s.
A d e c ifra ç ã o d o c o n te ú d o in c o n sc ie n te d as m e n sa g e n s q u e e m e r­
gem n o p ro c e sso d ia g n ó stic o d e p e n d e , c o n tu d o , d a e x p e riê n c ia c lí­
n ic a d o p ro fis s io n a l; d e e s ta r ele p ró p rio , h a b itu a d o a lid a r co m os
co n te ú d o s d o m u n d o in te rn o , p rin c ip a lm e n te a tra v é s de a n á lise p e s­
soal. T e n d o e x p e rim e n ta d o em si m esm o a p a ssa g e m d o in c o n sc ie n te
p a r a o c o n sc ie n te , p o d e m ais fa c ilm e n te re c o n h e c e r c o n te ú d o s d e n a ­
tu re z a s e m e lh a n te n a q u e le s co m q u e m e n tr a e m c o n ta to p ro fissio n a l.

2.2.3. Considerações de conjunto para o material clínico

O p sic ó lo g o in te re ssa d o em e s tr u tu r a r u m d ia g n ó stic o p sic o ló ­


g ic o d e tip o c o m p re e n siv o re a liz a u m le v a n ta m e n to e x a u stiv o de
d ad o s e in fo rm a ç õ e s, a b ra n g e n d o os m ú ltip lo s asp ecto s d a p e rs o n a ­

17
lid a d e d o p a c ie n te , d o a m b ie n te fa m ilia r e so cial d e ste , e d a in te ­
ra ç ã o e n tr e esses fa to re s , e n fim , d e tu d o q u e in te re ssa ao e sc la re c i­
m e n to d o s p ro b le m a s q u e d e m a n d a ra m a b u s c a d e a te n d im e n to . T a l
a titu d e c o n tra s ta co m a d o p sic ó lo g o q u e m e ra m e n te a p lic a a lg u n s
testes e a p re s e n ta seu s re s u lta d o s , c o n fig u ra d a m e n te p a rc ia is e u n i­
la te ra is . A a m p la c o le ta d e in fo rm a ç õ e s a b ra n g e tu d o o q u e é re le ­
v a n te n o e stu d o d e caso , d e fin in d o u m c o n te x to d ia g n ó stic o . E ste
c o n te x to é, p re c isa m e n te , a to ta lid a d e d o s d a d o s , in c lu in d o o b s e rv a ­
çõ es, e n tre v is ta s , re s u lta d o s de testes p sico ló g ico s e d e o u tra s té c n ic a s
de in v e stig a ç ã o , fa to re s d a p e rs o n a lid a d e d o p sic ó lo g o q u e são u ti­
liz a d o s p a r a a c o m p re e n sã o c lín ic a (im p re ssõ e s, se n tim e n to s, p e n s a ­
m e n to s e tc .), c o n te ú d o s d o m a te ria l c lín ic o , d e te o ria s e re fe re n ­
ciais e tc . N e ste caso — a p re s e n ta d o d e m o d o a m p lo — , c o n te x to
d ia g n ó stic o é tu d o o q u e o c o rre d e m o d o sig n ific a tiv o n a re a liz a ç ã o
d e d e te rm in a d o e stu d o d ia g n ó stic o , d e sd e o in íc io d o c o n ta to co m o
p a c ie n te e / o u fa m ilia re s (o u , m esm o , d e sd e a n te rio re s c o n ta to s com
q u e m e n c a m in h a o c a so ), a té o d e slig a m e n to fin a l d o p a c ie n te . Ê o
c o n te x to q u e e n c a m in h a a in v e stig a ç ã o , d e te rm in a a fo rm a e o c o n ­
te ú d o d o p e n s a m e n to c lín ic o , te n d o im p lic a ç õ e s so b re as co n clu sõ es
d ia g n ó stic a s. D isse m o s, e m o u tro tra b a lh o , q u e “ u m d e ta lh e é a p r e ­
c ia d o e m fu n ç ã o d esse c o n te x to , e as h ip ó te se s d ia g n ó stic a s le v a m
e m c o n ta a to ta lid a d e d o s d a d o s ” (T rin c a , 1 9 8 3 , p . 19). A id é ia de
to ta lid a d e q u e n o rte ia o p ro fissio n a l c o n c ita -o a q u e n ã o d eix e fo ra
d o c a m p o d e o b se rv a ç ã o n a d a d o q u e é e ssen cial p a ra a c o m p re e n ­
são d o caso. E m o u tra s p a la v ra s , ele assu m e o caso c o m o u m to d o .
C o n sid e ra c a d a e le m e n to co m o p a r te d e u m c o n ju n to n o q u a l esse
e le m e n to a d q u ire se n tid o . A v isã o é, se m p re , u m a v isã o d e c o n ­
ju n to p a r a o m a te ria l c lín ic o , d e m o d o q u e o se n tid o d e u m a sp e c to
é o se n tid o q u e e le fa z d e n tro d o to d o . A ssim , o p sic ó lo g o n ã o a p e ­
n a s d e sc re v e su a s o b se rv a ç õ e s, m as e sta b e le c e re la ç õ e s e c o n ex õ es
e n tre os d ife re n te s n ív eis d o o b se rv a d o , re a liz a n d o u m a a n á lise glo-
b a lístic a .

2.2.4. Busca de com preensão psicológica globalizada do paciente

P a ra o tip o d e d ia g n ó stic o q u e esta m o s d e sc re v e n d o , a a v a lia ç ão


p sic o ló g ic a é u m a o p e ra ç ã o q u e atin g e o p a c ie n te em su a to ta lid a d e .
I s to d ife re d e u m a a v a lia ç ã o em q u e c e rto s a sp e c to s d a p e rs o n a li­
d a d e são c o n sid e ra d o s in d e p e n d e n te m e n te d e o u tro s. P o r ex e m p lo ,
u m a a v a lia ç ã o d o n ív e l in te le c tu a l, re a liz a d a p o r testes p sico ló g ico s,
q u e n ã o le v a e m c o n s id e ra ç ã o o se n tid o d o s re s u lta d o s fa c e à v id a
a tu a l e à h is tó ria c lín ic a d o p a c ie n te . N a a v a lia ç ã o d ia g n ó stic a co m ­
p re e n siv a , re a liz a m o s u m b a la n c e a m e n to g e ra l d a s fo rç a s q u e nos

18
c o m p e te e x a m in a r. In te re ssa m -n o s, p rin c ip a lm e n te , as e s tr u tu r a s psi-
co p a to ló g ic a s e as d isfu n ç õ e s d âm ic a s q u e se in se re m n o a rc a b o u ç o
sa d io d a p e rs o n a lid a d e , as b a se s d e fu n c io n a m e n to d a p e rs o n a lid a d e
em seu s v á rio s n ív e is, os tra ç o s d e c a r á te r, a o rg a n iz a ç ã o e a e s tr u ­
tu ra ç ã o d a p e rs o n a lid a d e , co m a te n ç ã o e sp e c ia l à d is tin ç ã o e n tre es­
tr u tu r a s n e u ró tic a s e p sic ó tic a s, o s e le m e n to s c o n stitu tiv o s d a p e rs o ­
n a lid a d e , su a in te ra ç ã o co m o m u n d o e x te rn o etc. E sta v isã o , to ta ­
liz a d o ra e in te g ra d o ra , c o n sid e ra a p e rs o n a lid a d e em si m esm a co m o
in d e c o m p o n ív e l e e m c o n s ta n te v ir a ser. C o n sid e ra o d ia g n ó stic o
p sic o ló g ic o co m o u m a sín te se d in â m ic a e e s tr u tu r a l d a v id a p síq u ic a .
A p ro c u ra d e u m a c o m p re e n sã o p sic o ló g ic a g lo b a liz a d a le v a em
c o n ta a e x istê n c ia d e d ife re n te s fa to re s e m in te ra ç ã o n a p e rs o n a li­
d a d e , d e n tre os q u a is d e sta c a m o s: a) forças intrapsíquicas, a q u e la s
q u e n ã o só se e x p re ssa m n o m o m e n to a tu a l d a v id a d o p a c ie n te
co m o , a in d a , a q u e la s q u e tra z e m a m a rc a d e p ro cesso s e v o lu tiv o s:
b ) forças intrafam iliares, p rin c ip a lm e n te a q u e la s q u e são d e cisiv as
em te rm o s p sic o p a to ló g ic o s e p sic o p a to g ê n ic o s, se n d o o p a c ie n te p o r
ela s d e te rm in a d o co m o , ta m b é m , as p o d e d e te rm in a r: c) forças só-
cio-culturais , q u e , p o r se c o n stitu íre m e m d a d o s b á sic o s, n ã o p o d e m
se r n e g lig e n c ia d as.

2.2.5. Seleção de aspectos centrais e nodais

E ste tip o d e p ro c e sso d ia g n ó stic o p re ssu p õ e q u e o p ro fis s io n a l


s a ib a d is c e rn ir q u a is d a d o s são sig n ific a tiv o s p a r a c o m p o r o e stu d o
d e ca so , d e m o d o a e x ig ire m u m a e sc o lh a se le tiv a . E le fo c a liz a os
a sp e c to s esse n c ia is, se p a ra n d o -o s d o s in c id e n ta is . Im p o r ta a s s in a la r
q u e m esm o os a sp e c to s n ã o re le v a n te s são c o n sid e ra d o s, d e n tro d o
p e n s a m e n to c lín ic o . M as o psicó lo g o n ã o m is tu ra os a sp e c to s re le ­
v a n te s co m o s irre le v a n te s . D e ste m o d o , a co n c lu sã o é d e c o rre n te d e
u m a o rie n ta ç ã o se g u ra , e m q u e o s fa to re s d e te rm in a n te s se so b re s­
saem d o s d e m a is. N o caso d a s p e rtu rb a ç õ e s e m o c io n a is, tra ta -se d e
d is c rim in a r o s a sp e c to s m ais g ra v e s e e x am in á-lo s à lu z d e c o n h e c i­
m e n to s p sico ló g ico s a tu a liz a d o s. C o m alg u m a e x p e riê n c ia , o p sic ó ­
lo g o p o d e v is u a liz a r, n o c o n te x to d ia g n ó stic o , as p rin c ip a is fo rç a s e
c o n ju n to s d e fo rças p sic o p a to ló g ic a s e p sic o p a to g ê n ic a s q u e se re ssa l­
ta m p o r su a in te n s id a d e , re p e tiç ã o , c o lo rid o e m o c io n a l, m o d o p e c u lia r
d e se c o m p o rta r, d a n o p ro d u z id o e tc.
N o s d e sa ju sta m e n to s e m o c io n a is, p o d e-se p e rc e b e r a p re s e n ç a
d e a n g ú stia s e fa n ta s ia s in c o n sc ie n te s, re sp o n sá v e is p e la e x istê n c ia e
m a n u te n ç ã o d a s p e rtu rb a ç õ e s . H á a n g ú stia s e fa n ta sia s, in c o n sc ie n te s
q u e são c e n tra is e n o d a is , n a c a ra c te riz a ç ã o d o s p ro b le m a s p síq u ic o s.
E la s n e c e ssita m se r tra z id a s à lu z , co m o c o n s titu in te s fu n d a m e n ta is

19
dos p ro c e sso s p a to ló g ic o s. S ão, p o r assim d iz e r, n ú c le o s d estes p r o ­
cessos e d ev em se r d ife re n c ia d a s d o s a sp e c to s se c u n d á rio s q u e , in e ­
v ita v e lm e n te , g ra v ita m ao r e d o r dos n ú c le o s. P o r isso, u m d o s o b je ­
tiv o s d a re a liz a ç ã o d o d ia g n ó stic o da p e r s o n a lid a d e é le v a n ta r e d es­
c re v e r os p rin c ip a is fo co s d e a n g ú stia e fa n ta sia s in c o n sc ie n te s q u e
p ro v o c a m d e sa ju sta m e n to s e m o c io n a is, b e m c o m o os m ec a n ism o s d e ­
fe n siv o s u tiliz a d o s p e lo in d iv íd u o . N o e n ta n to , d ev em o s n o s re c o r­
d a r d e q u e a p e rs o n a lid a d e é u m d e v e n ir d ia le tic a m e n te em m u d a n ç a .
P o rta n to , a c o n ste la ç ã o d e fa to re s q u e é f u n d a m e n ta l em d e te rm in a d o
m o m e n to p o d e d e ix a r d e sê-lo em o u tro m o m e n to d a v id a q u a n d o ,
sob d ife re n te o rg a n iz a ç ã o , a p e rs o n a lid a d e p o d e se c e n tr a r em n o v as
o rie n ta ç õ e s, a n g ú stia s e fa n ta s ia s in c o n sc ie n te s.
A e sc o lh a se le tiv a e m p re s ta u n id a d e , o rd e m e c o esão à ta re fa
d o p sicó lo g o . E m v e z d a d e sc riç ã o d e alg o fra g m e n tá rio , tem o s a
p re v a lê n c ia d o p rin c íp io d e c o n s id e ra r a q u e le s fa to re s n u c le a re s q u e
d ã o se n tid o ao s d a d o s.

2.2.6. Predom ínio do julgam ento clínico

N a d é c a d a d e 1 9 5 0 , a lg u n s p ro fissio n a is d a sa ú d e m e n ta l e s ta ­
b e le c e ra m , n o s E sta d o s U n id o s, u m a c o n tro v é rs ia a re sp e ito d o v a lo r
p re d itiv o d e a firm a ç õ e s d ia g n ó stic a s, p ro v e n ie n te s d o ju lg a m e n to clí­
n ic o , em c o m p a ra ç ã o co m o v a lo r p re d itiv o d e a firm a ç õ e s p ro v e ­
n ie n te s d e in s tru m e n to s d ia g n ó stic o s e s ta tis tic a m e n te v a lid a d o s (v id e
M e e h l, 1 9 5 4 ; H o lt, 1 9 5 8 ). A te n d ê n c ia d o m in a n te , n a é p o c a , p a re c ia
e m p re s ta r g ra n d e im p o rtâ n c ia d ia g n ó stic a aos testes p sico ló g ico s o b ­
je tiv o s, a q u e le s c u jo s re s u lta d o s e ra m e x p re sso s o m a is q u a n tita ti­
v a m e n te p o ssív e l, e q u e tin h a m o rig em e d e se n v o lv im e n to n o m o d e lo
e x p e rim e n ta l. C o n c lu sõ e s d e e stu d o s p sico ló g ico s o riu n d o s d o m é ­
to d o c lín ic o n ã o se ria m c o n sid e ra d a s p le n a m e n te v á lid a s , a n ã o ser
q u e fo ssem c o rro b o ra d a s ou su b sid ia d a s p o r in s tru m e n to s d e c o m ­
p ro v a d a e fic á c ia e x p e rim e n ta l e e sta tístic a . F e liz m e n te , e sta p o siç ã o
fo i re v ista ao lo n g o d o te m p o , u m a v ez q u e c o n d u z ia a u m e sta d o
d e im p a sse n a P sic o lo g ia C lín ic a . E n tr e o u tra s co isas, v erifico u -se
n ã o so m e n te q u e o s te ste s p sico ló g ico s o b je tiv o s n ã o p o d ia m a b a rc a r
a m a io ria d o s p ro b le m a s h u m a n o s co m q u e u m p sicó lo g o c lín ico
h a b itu a lm e n te se d e fro n ta , co m o , a in d a , q u e o ju lg a m e n to c lín ic o era
c a p a z d e re a liz a r, s e g u ra m e n te , o q u a n to esses in s tru m e n to s se p ro ­
p u n h a m . H o je se re c o n h e c e , la rg a m e n te , q u e p a r a se p o d e r lid a r
p ro fis s io n a lm e n te co m a h e te ro g e n e id a d e d a s situ a ç õ e s m e n ta is, os
fa to re s d ec isiv o s são u m a só lid a fo rm a ç ã o p ro fissio n a l a lia d a à se n ­
s ib ilid a d e h u m a n a e à e x p e riê n c ia c lín ic a . O ju lg a m e n to c lín ic o é
c o n se q ü ê n c ia n a tu r a l d a p e rm issã o q u e o p sicó lo g o se co n c e d e de

20
u s a r o s re c u rso s de su a m e n te p a r a a v a lia r o s d a d o s d e u m ca so , e é
o q u e d e c id e , em ú ltim a in stâ n c ia , so b re a im p o rtâ n c ia e sig n ific a d o
d o s d a d o s. O m o d e lo d ia g n ó stic o d e tip o c o m p re e n siv o n ã o d isp e n sa
o u so d e te ste s p sico ló g ico s o b je tiv o s; co lo ca-o s a serv iço d o ju lg a ­
m e n to c lín ic o . E ste , p o r su a v ez, d e p e n d e d o g ra u d e e v o lu ç ã o p r o ­
fissio n a l e m a tu rid a d e a lc a n ç a d o p e lo p sic ó lo g o em su as a tiv id a d e s
c lín ic a s.

2.2.7. Subordinação do processo diagnóstico ao


pensam ento clínico

. E m tra b a lh o a n te rio r (T rin c a , 1 9 8 3 ), c a ra c te riz a m o s , ilu s tra m o s


e d isc u tim o s q u in z e d ife re n te s fo rm a s d e p e n sa m e n to s clín ic o s em
d ia g n ó stic o d a p e rs o n a lid a d e . V im o s a li q u e a ad o ç ã o _do p o flto _ d s.
v ista d a s fo rm a s d e p e n sa m e n to s p o d e tr a n s fo rm a r to d o o a tu a l re fe ­
re n c ia l te ó ric o com q u e se e n fo c a o d ia g n ó stic o p sico ló g ico . A g o ra,
p o d e m o s a firm a r q u e , n o d ia g n ó stic o p sic o ló g ic o d e tip o c o m p re e n ­
siv o , a e s tru tu ra ç ã o d o p ro c e sso d ia g n ó stic o fic a s u b o rd in a d a à fo rm a
d e p e n s a m e n to q u e se re a liz a em c a d a caso c lín ico . I s to sig n ific a
q u e , 3 0 in v é s d a e x is tê n c ia d© u m p ré v io p ro c e sso d ia g n ó stic o re la ­
tiv a m e n te u n ifo rm e e im u tá v e l p a r a to d o s os caso s, o q u e re a lm e n te
e n c o n tra m o s e" a m a g ra n d e fle x ib ilid a d e p a r a e n fo c a r e t r a ta r d a s
situ a ç õ e s m e n ta is e m e rg e n te s. C a d a c a s o 1clínicc^ p e rm ite q u e ocorra_
f E lo I m e n o s u m a fo rm a d e p e n s a m e n to -£_ele re la tiv a . O p ro c e sso
l d ia g n ó s tiç o 'ç e ; "estruturarem " c o n fo rm id a d e co m essa fo rm a . A ssim , o
a p a re c im e n to o u n ã o d e d e te rm in a d o s e le m e n to s n o c o n te x to d ia g ­
n ó stic o (testes p sic o ló g ic o s, p o r ex em p lo ) fic a n a d e p e n d ê n c ia d as
e x ig ên cias d o p e n sa m e n to c lín ic o em q u e stã o . O q u e se d e p re e n d e ,
e n tã o , é q u e o p ro c e sso d ia g n ó stic o é e s tr u tu r a d o n o c o n te x to de
relaçõ es sig n ific a tiv a s d a d a s p e lo p e n sa m e n to c lín ic o , e n ã o a tra v é s
d e ju sta p o siç õ e s cegas d e e le m e n to s o u a rra n jo s d a s in fo rm a ç õ e s
c o m o “ c o lc h a s d e r e ta lh o s ” . Is to to rn a o a ssu n to a m p lo e in te ­
re ssa n te , d e sc o rtin a n d o -se -lh e h o riz o n te s d e im en sas p o ssib ilid a d e s.

2.2.8. Prevalência do uso de m étodos e técnicas de exam e


fundam entados na associação livre

P a r a a e s tru tu ra ç ã o d e u m p ro c e sso d ia g n ó stic o , n o rm a lm e n te


se e m p re g a m té c n ic a s e m é to d o s e sp e c ia liz a d o s d e ex a m e p sico ló g ico .
N o p ro c e sso d e tip o c o m p re e n siv o , o c u p a m lu g a r de re le v o a e n tr e ­
v ista c lín ic a , a o b se rv a ç ã o c lín ic a , os testes p sico ló g ico s, o s testes
psico ló g ico s u sa d o s co m o fo rm a s a u x ilia re s d e e n tre v is ta s , d em ais
té c n ic a s d e in v e stig a ç ã o c lín ic a d a p e r s o n a lid a d e e tc. T e m o s verifi-

21
c a d o q u e o u so d esses p ro c e d im e n to s é d e te rm in a d o p o r su a c a p a c i­
d a d e d e e lic ia r m a te ria l c lín ic o sig n ific a tiv o . A m a io ria d eles foi
d e se n v o lv id a a p a r tir d a e n tre v is ta c lín ic a , c o m o u m a esp é c ie de
d e s d o b ra m e n to d e sta , e sp e c ia lm e n te q u a n d o se a p lic a a c ria n ç a s. U m
a sp e c to q u e c h a m a a a te n ç ã o n o e m p re g o d e m é to d o s e té c n ic a s n o
d ia g n ó stic o c o m p re e n siv o é a esc o lh a d a q u e le s p ro c e d im e n to s q u e
p e rm ite m m a ic r lib e rd a d e p a r a a e m e rg ê n c ia d e m a te ria l c lín ic o . O s
m ais u sa d o s sã o ju s ta m e n te a q u e le s q u e se fu n d a m e n ta m n o s p r in ­
c íp io s d e a sso c ia ç ã o liv re d e F re u d . É o ca so , p o r e x e m p lo , d o Jogo
d e R a b isc o s ( W in n ic o tt, 1 9 7 1 ), d a O b se rv a ç ã o L ú d ic a o u H o ra d e
Jogo (A b e ra s tu ry , 19 6 2 ) e d o P ro c e d im e n to d e D e se n h o s-E stó ria s
( T rin c a , 1 9 7 6 ). S ão p ro c e d im e n to s q u e a p re s e n ta m , h a b itu a lm e n te ,
u m a situ a ç ã o d e e stím u lo s n ã o e s tru tu ra d o s o u se m i-e stru tu ra d o s, in ­
c e n tiv a n d o os p a c ie n te s a e x p rim ir sü a s d ific u ld a d e s em o c io n a is.
A lg u n s d eles se a d a p ta m fa c ilm e n te ao m o d o p e c u lia r d e c o m u n i­
c a ç ã o d e c ria n ç a s e d e ad o le sc e n te s. O u tro s fa c ilita m a e x p re ssã o
e m o c io n a l d o s a d u lto s , e m fu n ç ã o d e c o n te re m o p rin c íp io d a as­
so c ia ç ã o liv re (c u ja te n d ê n c ia é d e se d irig ir p a r a se to re s d a p e r ­
s o n a lid a d e em q u e o in d iv íd u o é e m o c io n a lm e n te m a is se n sív e l). A
a v a lia ç ã o d esses p ro c e d im e n to s clín ic o s é fe ita g e ra lm e n te a tra v é s d a
liv re in sp e ç ã o d o m a te ria l, co m b a se n a e x p e riê n c ia d o p ro fissio n a l.

2.3. O u tro s a sp e cto s

A lé m d o s fa to re s re fe rid o s , a e s tru tu ra ç ã o d o p ro c e sso d ia g n ó s­


tic o d e tip o c o m p re e n siv o é in flu e n c ia d a e p o d e se r e s tu d a d a a p a rtir
d o s se g u in te s a sp e c to s:

a) C om o um a fo rm a da relação do psicólogo com o seu tra­


balho. P a ra e ste tip o d e d ia g n ó stic o , o p sic ó lo g o re le v a a im p o rtâ n ­
c ia d o background d e su as e x p e riê n c ia s e a p re n d iz a g e m , n ã o só
a q u e la s e s p e c ific a m e n te p ro fissio n a is co m o , ta m b é m , su a fo rm a ç ã o
h u m a n ís tic a e d e se n v o lv im e n to e m o c io n a l. Is to in d ic a u m a d ire ç ã o
d e e sc o lh a p ro fis s io n a l q u e co lo ca, e m p rim e iro p la n o , a p e sso a d o
p sic ó lo g o c o m o in s tru m e n to , co m o q u a l d ev e c o n ta r p a r a o d esem ­
p e n h o d e su a s a tiv id a d e s.

b ) C om o um a form a da relação psicólogo-paciente. O re la c io ­


n a m e n to p sic ó lo g o -p a c ie n te é u m a s itu a ç ã o p ro p íc ia p a r a a o b s e rv a ­
ç ã o e a p re e n sã o d e fe n ô m e n o s e m o c io n a is. T a n to o p a c ie n te com o
se u s fa m ilia re s c o stu m a m tr a n s p o r ta r e m o c io n a lm e n te , p a r a e s ta si­
tu a ç ã o , fe n ô m e n o s d e n a tu re z a s e m e lh a n te à q u e le s q u e su c e d e m n o
a m b ie n te e x te rn o (p o r e x e m p lo , n a s re la ç õ e s fa m ilia re s). A lém d isso .

22
v e rific a -se, aí, a e m e rg ê n c ia d e a titu d e s in c o n sc ie n te s, c o n h e c id a s
em p sic a n á lise c o m o tra n s fe rê n c ia e c o n tra tra n s fe rê n c ia : re p e tiç õ e s
a u to m á tic a s , d ia n te d o p sic ó lo g o o u d ia n te d o p a c ie n te , d e reaçõ es
e m o c io n a is o rig in á ria s e m a c o n te c im e n to s d o p a ssa d o d a v id a em o ­
c io n a l d o su je ito . D e so rte q u e o p sic ó lo g o , le v a n d o e m c o n ta a
e x istê n c ia d esses fe n ô m e n o s, p ro c u r a re s p e ita r as c o n d iç õ e s n a s
q u a is se d ã o e lid a r co m eles e m b e n e fíc io d e su as a tiv id a d e s.
Q u a n d o isto a c o n te c e , in stala-se u m a situ a ç ã o a b e rta , fa v o rá v e l à
e lim in a ç ã o d a s b a rre ira s d e c o m u n ic a ç ã o e à o b se rv a ç ã o d o s m o v i­
m e n to s e m o c io n a is co m q u e se d e fro n ta m o s p a r tic ip a n te s d o r e la ­
c io n a m e n to .

c) Com o um leque de finalidades práticas. T o m a d o e m su a


a c e p ç ã o c o m p re e n siv a , o d ia g n ó stic o tem -se m o stra d o u m re c u rso
ú til p a ra :
— a a v a lia ç ã o g lo b al d a p e rs o n a lid a d e ;
— a d e te rm in a ç ã o d a n a tu r e z a , in te n s id a d e e re le v â n c ia d o s d is ­
tú rb io s ;
— a o rie n ta ç ã o p sico ló g ica ao p a c ie n te , aos p a is e re sp o n sá v e is, à
e sc o la e tc .;
— o fo rn e c im e n to d e su b síd io s a d e m a is p ro fissio n a is;
— in d ic a ç õ e s e e n c a m in h a m e n to s te ra p ê u tic o s ;
— a d e fin iç ã o d o tip o de in te rv e n ç ã o p s ic o te ra p ê u tic a ;
— a d e te rm in a ç ã o d o s o b je tiv o s, á re a s re le v a n te s e in te n s id a d e da
in te rv e n ç ã o p sic o te ra p ê u tic a (p la n e ja m e n to p s ic o te ra p ê u tic o );
— o p ro g n ó stic o d o caso ;
— o p ro g n ó stic o d a e v o lu ç ã o te ra p ê u tic a ;
— a p e sq u isa p sic o ló g ic a etc.

d ) Com o um posicionam ento epistem ológico do psicólogo. F ace


às v á ria s c o rre n te s d e p e n s a m e n to q u e se o c u p a m d e su a d isc ip lin a ,
o p sicó lo g o q u e e s tr u tu r a o d ia g n ó stic o c o m p re e n siv o o p ta p o r ex­
c lu ir as in flu ê n c ia s d e c o n c e p ç õ es e s trita m e n te d e te rm in is ta s , associa-
c io n ista s, e le m e n ta ris ta s e m e c a n ic ista s. E le se o rie n ta , p re d o m in a n ­
te m e n te , p o r u m a v isã o q u e to m a a p e rs o n a lid a d e co m o ú n ic a e
in d e c o m p o n ív e l, co m o u m a to ta lid a d e e s tr u tu r a l o rg a n iz a d a , e m q u e
ex istem e x p e riê n c ia s su b je tiv a s e d in â m ic a p s íq u ic a in c o n sc ie n te .
L ev a efn c o n sid e ra ç ã o n o çõ es fe n o m e n o ló g ic a s, g e stá ltic a s, e x iste n ­
ciais e p sic o d in â m ic a s.

e) Com o um sistem a de referenciais m últiplos. O s co n ceito s


te ó ric o -p rá tic o s f u n d a m e n ta is d o d ia g n ó stic o d e tip o c o m p re e n siv o
se rã o a p re s e n ta d o s n o p ró x im o c a p ítu lo .

23
2 . 4 . B ib lio g r a fia

Aberastury, A . T e o r i a y T é c n ic a d e l P s ic o a n á lis is de N in o s . B uenos A ires,


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Freud, A . I n f â n c i a N o r m a l e P a t o l ó g i c a : D e t e r m i n a n t e s d o D e s e n v o l v i m e n t o .
T rad, de Á lvaro Cabral. R io d e Janeiro, Zahar, 1971.

H olt, R. H. C linical and statistical prediction: a reform ulation and som e


new data. J o u r n a l o f A b n o r m a l a n d S o c i a l P s y c h o l o g y , 5 6 : 1-12, 1958.
M aher, B. I n t r o d u c c i ó n a la I n v e s t i g a c i ó n e n P s i c o p a t o l o g i a . Trad, de A .
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Trinca, W . I n v e s t i g a ç ã o C l í n i c a d a P e r s o n a lid a d e : O D e s e n h o L iv r e com o


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------------- . O P e n s a m e n t o C l í n i c o e m D ia g n ó s tic o da P e r s o n a lid a d e . Petró-


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W innicott, D . W. P r o c e s s u s d e M a t u r a t i o n c h e z l' E n f a n t: D é v e l o p p e m e n t
A f f e c t i f e t E n v i r o n n e m e n t . Trad, de J. K alm anovitch. Paris, Payot, 1970.
3
Referenciais teóricos do processo
diagnóstico de tipo com preensivo

W alter Trinca

3.1. In trod u çã o

O d ia g n ó stic o p sic o ló g ic o e m P sico lo g ia C lín ic a tem , co m o p r o ­


p ó s ito b á sic o , a e x p lo ra ç ã o e o e stu d o d o s fa to re s in tra p s íq u ic o s , in ­
te rp e sso a is e só c io -c u ltu ra is, c u ja in te ra ç ã o a c a rre ta d e sa ju sta m e n to s
n o p a c ie n te . P a ra a re a liz a ç ã o d e u m e x a m e d esse tip o , o p sicó lo g o
e s tr u tu r a u m p ro c e sso d ia g n ó stic o , q u e é c o m p o sto p o r m ú ltip lo s
ele m e n to s. O s e le m e n to s q u e m ais fre q ü e n te m e n te su rg em n o p r o ­
cesso são : id e n tific a ç ã o d o p a c ie n te , e n q u a d ra m e n to d a a tiv id a d e
d ia g n o stic a , e n tre v is ta s e o u tra s té c n ic a s d e in v e stig a ç ã o c lín ic a d a
p e rs o n a lid a d e , a n a m n e se , testes p sic o ló g ic o s, ex am es a d ic io n a is, o rie n ­
taçõ es, e n c a m in h a m e n to s e tc. A a titu d e d o p ro fissio n a l, as té c n ic a s
p o r ele u tiliz a d a s e d e m a is fa to re s q u e d e se m p e n h a m u m p a p e l em
c a d a fa se d o p ro c e sso são , em p a rte , d e c o rre n te s d a s b a se s teó ric a s
em q u e o p ro fissio n a l se a lic e rç a. Em P sico lo g ia C lín ic a , as b ases
te ó ric a s im p lic a m a fu n d a m e n ta ç ã o d o s p asso s d o p ro c e sso d ia g ­
n ó stic o , b e m c o m o d as té c n ic a s p sico ló g icas d e q u e se fa z u so.
À p rim e ira v ista , p o d e p a re c e r q u e a p ro life ra ç ã o d e ele m e n to s
d o p ro c e sso d ia g n ó stic o , in c lu in d o a m u ltip lic a ç ã o de seu s in s tr u ­
m e n to s técn ico s (d ife re n te s testes e té c n ic a s d e in v e stig a ç ã o , p o r
e x e m p lo ), c o n s titu i u m a esp écie de T o rre d e B ab el em q u e o c o n ­
flito e sta b e le c e o seu im p é rio , e n ã o a h a rm o n ia . T a l, p o ré m , n ão

25
é o q u e se v e rific a n a p rá tic a d o a te n d im e n to . O b s e rv a n d o a q u ilo
q u e re a lm e n te o c o rre n essa p r á tic a , e n c o n tra m o s q u e o e s tu d o d ia g ­
n ó stic o , em seu s m ú ltip lo s c o m p o n e n te s, e s tá la s tre a d o e m p rin c í­
p io s g e ra is re la tiv a m e n te c o e re n te s e n tre si. E sses p rin c íp io s são os
re fe re n c ia is te ó ric o s d o d ia g n ó stic o p sic o ló g ic o , co m o ele é h o je
r e a liz a d o . 1
H á , p e lo m e n o s, c in c o classes o u c a te g o ria s q u e m e lh o r c a ra c ­
te riz a m os p rin c íp io s te ó ric o s b á sic o s:
1 . e stu d o s so b re o s p ro c e sso s in tra p s íq u ic o s ;
2 . e stu d o s so b re os p ro c e sso s d e d e se n v o lv im e n to e m a tu ra ç ã o ;
3 . e stu d o s so b re a d in â m ic a fa m ilia r e su a in te ra ç ã o co m a v id a
p s íq u ic a d o p a c ie n te ;
4 . e stu d o s so b re as relaçõ es p sic ó lo g o -p a c ie n te;
5 . e stu d o s d a s te o ria s q u e f u n d a m e n ta m as té c n ic a s d e ex am e
p sic o ló g ic o . 2

3.2. P r o c e sso s in tra p síq u ico s

O p sic ó lo g o c lín ic o q u e re a liz a u m d ia g n ó stic o , n o s m o ld e s q u e


e sta m o s c o n s id e ra n d o , fu n d a m e n ta -se n a te o ria d a p e r s o n a lid a d e q u e
in d isc u tiv e lm e n te m a is te m c o n trib u íd o p a r a o c o n h e c im e n to d a v id a
p síq u ic a : a P sic a n á lise . O g ra n d e in o v a d o r q u e fo i S ig m u n d F re u d
esta b e le c e u o s p ila re s d a c o n s tru ç ã o q u e p e rm ite o acesso à v id a
m e n ta l p ro fu n d a . F re u d leg o u -n o s im e n sa e fe c u n d a o b ra q u e e x ­
p lo r a m ú ltip la s d im e n sõ e s d a m e n te h u m a n a . E le se p re o c u p o u , e n tre
in ú m e ro s a sp e c to s, com trê s fa to re s esse n c ia is p a r a o p sicó lo g o q u e
tr a b a lh a n a re a liz a ç ã o d e e stu d o s d ia g n ó stic o s: a re la ç ã o d o p a c ie n te
co m a re a lid a d e (e x te rn a e p s íq u ic a ), a fo rm a ç ã o d e sin to m a s (o sin ­
to m a c o n c e b id o co m o u m m eio de c o m u n ic a ç ã o d a q u ilo q tie ex iste
n o p la n o in c o n sc ie n te ), e a v id a in s tin tiv a to m a d a co m o u m p ro cesso
e v o lu tiv o . E m re la ç ã o a este fa to r, é d e p a r tic u la r re le v â n c ia a d e s­
c o b e rta de q u e a v id a in s tin tiv a se p ro c e ssa p o r fases d e d e se n v o l­
v im e n to (o ra l, a n a l, fá lic a e g e n ita l) e q u e h á d u p lo a sp e c to e m c a d a
u m a d essas fa se s: p ro g re ssã o e re g re ssã o . E x iste , ta m b é m , u m a ins-
tin tiv id a d e a sso c ia d a à libido, o u tr a à ag ressão .
A te o ria f r e u d ia n a , ao se d e se n v o lv e r, a d ic io n o u n o v a s o b se r­
v açõ es e a m p lio u a e sfe ra d o c o n h e c im e n to h u m a n o . D a s te o ria s to ­
p o g rá fic a s d a m e n te , F re u d p a sso u a c o n s id e ra r, c o n se q ü e n te m e n te ,

1 R eferim o-nos ao diagnóstico psicológico de tipo com preensivo, descrito


no capítulo anterior.
2 Estas classes de fenôm enos não esgotam o assunto nem são, tam pouco,
m utuam ente exclusivas. A presentam o-las com propósitos m eram ente didáticos.

26
um a teo ria estru tu ra l. D essas bases, o psicólogo extrai um perfil
diagnóstico b astan te razoável. A p a r tir do referencial freu d ian o , A nna
F reu d elab o ro u um esboço de p erfil diagnóstico, no q u al o psicó­
logo en co n tra indicações p a ra a localização, em um estudo de caso,
de fatores in trap síq u ico s que provocam desajustam entos. E la estende
e clarifica concepções de F reu d , aplicáveis especialm ente a estudos
de crianças.
T o d av ia, com o sabem os, o desenvolvim ento da Psicanálise não
se deteve em seu descobridor. As conclusões de M elanie K lein, a
respeito dos estágios m ais precoces do desenvolvim ento em ocional
do ser hu m an o , constituem u m a d iscip lin a teórica ap ro fu n d ad a , que
lastreia o trab alh o do psicólogo clínico.
M elanie K lein enfatiza que h á duas form as básicas de ansie­
dade. A p rim eira form a de ansiedade é de n atu re za p ersecu tó ria, A
atuação do in stin to de m orte, in tern am en te, dá origem ao m edo de
an iq u ilação , e este é a causa p rim o rd ial d a angústia p ersecu tó ria.
D esde o com eço d a vid a pós-natal, os im pulsos destrutivos co n tra o
objeto provocam m edo à retaliação. Estes sentim entos persecutórios,
oriu n d o s de fontes internas, são intensificados por experiência ex­
ternas dolorosas, visto que, logo no início d a vida, a fru straçã o e o
desconforto originam n a criança sensações de que está sendo ata­
cada. M as h á, ain d a, o que se pode ch am ar de “ forças b o as” . A
criança dirige sentim entos de gratificação e am or p a ra o “ seio b o m ” ,
e seus im pulsos d estrutivos e sentim entos de perseguição p a ra o seio
fru strad o r, o “ m au seio” . N esse estágio, o processo de cisão se acha
no apogeu: h á separação en tre o “ b o m ” e o “ m au ” seio, en tre am or
e ódio. A lém d a cisão, predom inam , tam bém , negação, onip o tên cia e
idealização nos três ou q u atro m eses de v id a (situação denom inada
posição esqui zoparanóide). A relativ a segurança da crian ça neste es­
tágio é o b tid a p ela fan tasia de um objeto idealizado, extrem am ente
bom , q u e a protege do objeto persecutório. E n tretan to , em co n d i­
ções norm ais de evolução, a p a rtir do 6.c m ês de v id a do indivíduo
hum ano, a crescente capacidade de integração e síntese do e g o con­
duz à percepção e introjeção d a m ãe com o pessoa in teira. E ste fato
resu lta na segunda form a de ansiedade básica: a depressiva. A m or
e ó d io e, conseqüentem ente, os bons e m aus aspectos dos objetos
vão sendo sintetizados. D esejos e im pulsos hostis da crian ça p a ra
com o “ seio m a u ” são, agora, sentidos com o perigosos p a ra o “ seio
b o m ” . A ansiedade depressiva é in crem en tad a p o rq u e a criança
sente que d estru iu ou está d estru in d o u m objeto in teiro , total, de
quem ela depende. A síntese das em oções p erm ite à cria n ça sentir
que seus im pulsos destrutivos estão dirigidos co n tra um a pessoa am a­
da. Essas ansiedades e defesas constituem , p a ra M elanie K lein, a
posição depressiva, cuja essência é a angústia e a cu lp a relacionadas

27
a ataques, destruição e p erd a de objetos am ados (internos e ex ter­
nos). Com base nas posições esquizoparanóide e depressiva é que se
instalam processos os m ais variados de relações objetais, en tre os
q u ais a form ação de um superego extrem am ente prim itivo e cruel,
e o início do com plexo de Édipo. T u d o isto desem penha im por­
tân cia capital na gênese das psicoses e nas escolhas n eu ró ticas dos
indivíduos. M elanie K lein alargou, tam bém , a p a rtir de F reu d e
A b rah am , a teoria do desenvolvim ento lib id in al, incluindo im pulsos
sádicos que se expressam p o r fantasias sádico-orais, sádico-uretrais
e sádico-anais.
M odernam ente, as teorias kleinianas receberam im pulso devido
às contribuições de Bion, en tre outras. Bion ap ro fu n d o u o conheci­
m ento do funcionam ento da p arte psicótica da p ersonalidade. U m a
de suas afirm ações sustenta que o paciente faz uso de id en tifica­
ções projetivas patológicas, sentindo que aloja objetos fragm entados
d en tro de um o u tro indivíduo, assim com o p artes de um o u tro in d i­
víduo são sentidas com o alojadas d en tro da personalidade do p a ­
ciente. Por o u tro lado, é de grande u tilid ad e clínica sua concepção
de r e v e r i e nos processos da com unicação m ãe-criança. Ele configu­
rou em bases m ais sólidas nossos conhecim entos p ara a diferen cia­
ção entre personalidades psicóticas e não-psicóticas.

3.3. D e s e n v o lv im e n to e m a tu r a ç ã o

O psicólogo, em seu trab alh o diagnóstico, depende de teorias


do desenvolvim ento e m atu ração que, felizm ente, constituem áreas de
pesquisa b astan te exploradas. Ele se interessa pelo conhecim ento de
todas as áreas do desenvolvim ento hum ano. As observações acu m u ­
ladas a respeito das diversas etapas da vida são-lhe preciosas, não
apenas p ara a diferenciação entre norm al e patológico, com o ainda
p ara a construção de teorias, de instrum entos de m edida, p a ra o
julgam ento clínico etc. C ham am -lhe bastante atenção, p o r sua rele­
vância, os estudos realizados sobre etapas precoces da vida, com o o
fizeram G esell e A m atru d a e inúm eros outros. D en tre vários as­
pectos do desenvolvim ento hum ano (m otor, intelectual, social etc.),
o psicólogo clínico tem especial interesse pelo aspecto em ocional.
As teorias que, aq u i, têm oferecido expressivas contribuições são
as de Spitz, M ahler e W innicott.
D evido a suas peculiaridades, p erm itindo um a abordagem p rá ­
tica im ediata, ressaltam oç as concepções de W innicott. Ele p a rte do
p rincípio de que, no início do desenvolvim ento em ocional, a criança
necessita de um a ',“ m ãe suficientem ente b o a ’^ D evido à fragilidade

2 8
do e g o d a criança, é necessário que no início d a vida exista um a
su. ten tação p a ra o m esm o — o que corresponde, n a linguagem de
W in n ico tt, aos elem entos diatróficos do e g o — feita pela m ãe ou
quem a su b stitu a. Se tu d o c o rrer bem , no sentido de u m a relação
m ãe-criança ad e q u ad a, o processo de m aturação cam in h a em direção
à integração cada vez m aior d a perso n alid ad e, à obtenção d a p er­
sonalização e a u m a relação de objetos calcada em bases relativ a­
m ente harm ônicas. O bebê, ten d o um a “ m ãe suficientem ente b o a ” ,
tem , tam bém , u m a necessária experiência de onipotência, que o au ­
xilia a fazer face às angústias inim agináveis (de tipo psicótico) que
surgem no início do desenvolvim ento. A d ependência do bebê à
m ãe, que é absoluta nos prim eiros 6 m eses, passa a ser relativa de
6 m eses a 2 anos, cam inhando em direção à in d ep en d ên cia a p a rtir
dos 2 anos de idade, j A m ãe que possui p reo cupação m atern al p ri­
m ária : u d a seu bebé a realizar um aban d o n o progressivo das ex­
p eriências de onipotência, em direção a u m a crescente ad ap ta ção à
realidade. F alhas n a relação p rim ária en tre o bebê e a m ãe podem
co n d u zir à psicose, ao com portam ento anti-social, à personalidade
esquizóide etc. Isto devido a q u e carências e privações precoces co­
locam em risco a co n tin u id ad e d a existência da crian ça e dos p ro ­
cessos de integração (avolum am -se defesas prim itivas com o cisão,
fragm entação etc.) O psicólogo clínico que o rien ta seu trab a lh o ali­
cerçado em teorias de desenvolvim ento e m aturação do indivíduo
en co n tra, em W in n ico tt, um referencial indispensável.

3.4. D in â m ica fa m ilia r

O indivíduo h u m an o é um ser social, sendo sua p rim eira socie­


d ad e a fam ília. C e l l u l a m a t e r , núcleo de conflitos, m as, ao m esm o
tem po, de conforto, segurança, e p reenchim ento das possibilidades
de crescim ento e realização. A ssim sendo, os psicólogos clínicos vi­
ram -se n a contingência de estu d ar a d in âm ica fam iliar. P erceberam
que, nela, operam forças e conjuntos de forças que incidem sobre
os pacientes, tan to provocando processos psicopatológicos, com o p ro ­
cessos de saúde e evolução m ental. A ênfase dos estudos é d a d a sobre
a psicopatogênese, razão pela qu al os psicólogos se interessam , p ri­
m eiram ente, pelos fatores que fazem o rig in ar e m anter as p e rtu rb a ­
ções em ocionais. A fam ília patogênica é observada, seja com o u n i­
d ad e dinam icam ente configurada, seja através da dissociação e exam e
de p er si d a perso n alid ad e de cad a u m de seu s com ponentes. A jus­
tificativa p ara esses estudos está em basada no fato, às vezes verifi­
cável, de que os pacientes m elhoram relativam ente q u an d o a fam ília,

29
ao ser tra ta d a com o um todo, m elhora. T o d av ia, essas confirm ações
têm-se m ostrado válidas, prin cip alm en te, p a ra os casos d e psicose
psicogênica. Nos casos de d istú rb io s em q u e está em jogo a prev a­
lência d a dinâm ica de conflitos neuróticos d a p erso n alid ad e, parece
que a im p o rtân cia dos fatores externos é m inim izada.
G eralm ente, os estudos sobre a concorrência da psicopatologia
fa m iliar p a ra a p ertu rb açã o do paciente enfatizam três aspectos:
a) a relação precoce en tre m ãe e bebê;
b) a intern alização dos pais, pela criança, d u ra n te os anos in i­
ciais de vida; e
c) as forças externas, que operam d u ra n te toda a vida do in ­
d ivíduo, p a ra a criação, desencadeam ento e m anu ten ção de distúrbios.
D este m odo, é necessário re co rrer a teorias psicológicas de
relações en tre casais (relações sim étricas, com plem entares etc.), teo­
rias descritivas do funcionam ento p síquico d a m ãe (m ãe esquizo-
frenogênica, m ãe q u e estabelece relação p o r d uplo vínculo etc.), teo­
rias do jogo de forças in trafa m iliar, teorias a resp eito do papel do
p ai (ausente, au to ritário , cru el etc.), en tre ou tras.
C ontudo, parece que as p rin cip ais teorias psicológicas sobre fa­
m ílias psicopatogênicas são aquelas que se referem à fam ília d o es­
quizofrênico. N estas estão exacerbados os fatores m ais difíceis de
serem observados nos dem ais grupos fam iliares p ertu rb ad o s. _A fa-
m ília esq n izo fren o g ên ica tem a tendência de c ria r um doente m ental
que se caracteriza, p rio ritaria m e n te, pelo fa to de ele ser o " b o d e ex­
p ia tó rio ” das p ertu rb açõ es de todos os dem ais m em bros da m esm a.
P o r exem plo, ele se desdobra p a ra c o n ten ta r a todos, com renúncia
inclusive de sua p ró p ria in d iv id u alid ad e, e esforça-se p a ra m an ter
a fam ília u n id a (especialm ente os pais). E le se an iq u ila, servindo
com o dep o sitário dos fracassos de cad a m em bro e dos aspectos p ato ­
lógicos de cada um . G eralm ente, nestas fam ílias, o p ai não é p a rti­
c ip an te com o m ed iad o r e ap lac ad o r das angústias em ergentes, e a
m ãe, ansiosa (exasperada e ex asperante), sem critérios em ocionais
claram en te definidos, funciona através de m ensagens co n trad itó rias
en tre si.
T em os v erificad o que essas teorias, ao isolar e e stu d a r alguns
fatores patogênicos nas fam ílias, h ab itu alm en te têm o cu idado de
p ô r em evidência que eles n ão são os ú n ico s e, sim , que fazem p a rte
de u m co n ju n to com plexo de fato res em interação.

3.5. R elaçõ es p sic ó lo g o -p a c ie n te

E m o u tro cap ítu lo deste livro será exam inada a im p o rtân cia das
relações psicólogo-paciente no diagnóstico psicológico. N o presente
tópico, insistim os, apenas, em a p o n tar q u e essa relação d u al é fu n ­
d am entada em certas teorias.
N este aspecto, o diagnóstico psicológico é influenciado p o r teo­
rias psicanalíticas, q u e consideram a tran sferê n cia e a contratrans-
ferência. H ouve época em q u e o psicólogo clínico, en co b erto p ela
capa da o b jetividade, m an tin h a com o pacien te u m a relação p o r
assim dizer asséptica, ou seja, não h av ia evidência de que o psicólogo
experim entava reações em ocionais no contato com o paciente. Isto
se traduzia p o r u m a a titu d e profissional d istan te, in stru m en tad a com o
m ero aplicador e avaliad o r de testes psicológicos. H oje, felizm ente,
auxiliado p ela larg a difusão clínica da Psicanálise, o psicólogo, q u an ­
do ele p ró p rio é analisado, pode u tilizar suas em oções p ara p artic ip a r
da v id a em ocional do paciente, de m odo a p o d er p en e trar em cam a­
das p ro fu n d as desta, i 2 m necessariam ente p e rd e r a objetividade. M as
é necessário q u e o psicólogo clínico tom e consciência das im plica­
ções decorrentes do co n tato com a v id a psíquica do p acien te, a fim
de que possa a d q u irir m elhor controle do p ró p rio com portam ento en ­
qu an to profissional.
A títu lo de exem plo, referim o-nos a algum as teorias associadas a
tran sferên cia e co n tratran sferên cia que, costum eiram ente, aparecem
em estudos de caso:

a) T eorias sobre doença e cura


O paciente, logo nos prim eiros contatos, expressa fan tasias de
doença e esperanças de que possa ser co m preendido pelo p ro fissio n al.
Estas teorias foram desenvolvidas p o r A berastury, do g ru p o psicana-
lítico argentino.

b) T eorias sobre d epositante, d epositário e depositado

F orm uladas p o r Pichon-R ivière, m ostram o interjogo de papéis


en tre os p artic ip a n te s do estudo diagnóstico, d u ra n te todas as fases
do processo. A quilo q u e é depositado, o ra o é em um , o ra em o u tro
p articip an te da relação, em concordância com as conclusões de Freud
e K lein sobre tran sferên cia e co n tra transferência.

c) T eorias sobre contra-identificação p ro jetiv a


Estas teorias su b lin h am o uso, p o r p a rte do profissional, de iden­
tificações projetivas patológicas no decurso do processo diagnóstico.
Alertam p a ra o fato de q u e ele pode ser o receptáculo de p artes in­
fantis e patológicas do paciente, e que estas, invadindo-o, provocam
reações de sua p a rte que conduzem a lacunas e im pedim entos à rea­
lização da tarefa.

31
D e m odo geral, as teorias das relações psicólogo-paciente en fa­
tizam que, ao longo d a realização de um estu d o diagnóstico, o p a­
ciente tran sfere à pessoa do psicólogo conteúdos inconscientes de sua
v id a m ental in fan til, seja nas entrevistas, n a aplicação de testes psi­
cológicos, no m om ento da o rientação ou em q u a lq u e r o u tra circuns­
tân cia. O psicólogo, p o r sua vez, é m obilizado em suas fantasias e
angústias p rim itiv as. E stas podem ser deslocadas p a ra a situação de
trab alh o , in terfe rin d o no an d am ento d a m esm a. N os casos bem -suce­
didos, ao se d e fro n ta r com essas ocorrências, tan to a tran sferên cia
q u an to sua c o n tra p artid a, a co n tratran sferên cia, são reconhecidas e
utilizadas em p ro l d a com preensão diagnostica.

3.6. T e o r ia s que fu n d am en ta m o s te s te s p sic o ló g ic o s

O s testes psicológicos recebem sua fu n d am en tação teórica das


m ais d iversificadas fontes e origens. N os assim cham ados testes obje­
tivos, encontram os a fu n d am en tação a p a rtir de experim entação é
pesquisa. T eorias de desenvolvim ento, aprendizagem , cognitivas etc.
desem penham , aq u i, um im p o rtan te p a p e l. Em estudos de p erso n a­
lid ad e, o p ra to d a b alan ç a parece p en d e r a fav o r do increm ento do
uso de testes e técnicas projetivos, cu ja fu n d am en tação é p red o m in an ­
tem ente psican alítica. Com o cad a teste psicológico recebe fu n d a m e n ­
taçã o p ró p ria , não nos deterem os em considerações sobre os referen­
ciais teóricos de cad a um , m as recom endam os ao leito r um a análise
específica daqueles instrum entos de q u e faça uso c lín ic o .8
U m fa to r porém , deve ser frisado, p a ra esclarecer o problem a
das bases teóricas d o estu d o de caso: nenhum teste psicológico é usado
de m odo isolado, de sorte q u e sem pre prevalece um a o rientação de
con ju n to q u e o psicólogo em presta ao processo diagnóstico. A in d a que
algum ou alguns elem entos sejam co n flitan tes em certo nível, eles
tendem à integração, u n id ad e e coerência em o u tro nível, o nível do
pensam ento clínico. As bases teóricas q u e n o rteiam a ativ id ad e do
psicólogo clínico são, geralm ente, coerentes e u n itárias, q u an d o o p ro ­
cesso é tom ado com o um todo.
P a ra fin alizar, diríam os que, em bora as teorias sejam fatores
im p o rtan tes no b a c k g r o u n d do profissional, é m ister que sua ativi­
d ad e clínica seja em p reen d id a com o m ínim o de in terferên cia de suas
teorias sobre sua cap acidade de o b serv ar e c a p ta r os fatos relevantes.

a O capítulo 5 deste livro aborda, especificam ente, os principais testes psi­


co lógicos e procedim entos clínicos utilizados na prática d o diagnóstico em
nosso m eio.

32
3.7. B ib lio g ra fia

Aberastury, A . T e o r i a y T é c n ic a del P s ic o a n a lis is de N in o s . B uenos A ires,


Paidós, 1962.
A ckerm an, N . W . D ia g n ó s tic o y T r a ta m ie n to de la s R e la c io n e s F a m ilia r e s —
P s i c o d i n a m i s m o s d e la V id a F a m ilia r . 3 .a ed. Trad. H. Friedenthal.
B uenos A ires, H orm é, 1971.

Baranger, W. P o s i ç ã o e O b j e t o n a O b r a de M e la n ie K le in . Trad. M . N .
Folberg. P orto A legre, A rtes M édicas, 1981.

B ateson, C. F . e l a l i i . F a m ily P r o c e s s e s a n d S c h iz o p h r e n ia . N ew Y ork, Science


H ouse, 1968.

Bion, W. R. V o lv ie n d o a P e n sa r. Trad. D . R. W agner. B uenos A ires, H orm é,


1972.
Brenner, C. N o ç õ e s B á s i c a s d e P s i c a n á l i s e — I n t r o d u ç ã o â P s i c o l o g i a P s ic a -
n a l í t i c a . Trad. A . M . Spira. 2 .a ed. R io de Janeiro, Im ago, 1973.

Freud, A . N o r m a l e P a to ló g ic a — D e te r m in a n te s d o
I n fâ n c ia D e s e n v o lv i­
m e n to . Trad. A . Cabral. R io de Janeiro, Zahar, 1971.

Freud, S. O b r a s C o m p le ta s . Trad. L.-B. y de Torres. M adrid, Biblioteca


N u eva, 1948, 2v.
G eets, C. M e l a n i e K le in . Trad. F. C. Ferro. São P aulo, M elhoram entos —
U SP, 1977.
ijesell, A . e A m atruda, C. D i a g n ó s t i c o dei D e s a r r o llo . Trad. B. Serebrinsky.
B uenos A ires, P aidós, 1966.
Urinberg, L. e t a l i i . I n t r o d u ç ã o à s I d é ia s d e B io n . Trad. T. O. Brito. Rio de
Janeiro, Im ago, 1973.
Klein, M. O b r a s C o m p l e t a s . Trad. S. Zysm an. 2 .a ed. B uenos A ires, Paidós-
H orm é, 1979, 6v.
Mnhler, M . S. O n H u m a n S y m b i o s i s a n d th e V ic is s itu d e s of I n d iv id u a tio n .
N ew Y ork, Int. U niv. Press, 1968.
M eyer, L. F a m í l i a : D i n â m i c a e T e r a p ia — Um a A b o rdag em P s ic a n a lític a .
São Paulo, Brasiliense, 1983.
1’lchon-Rivière, E. T e o r ia dei V ín c u lo . B uenos A ires, N ueva V ision , 1979.
Plncus, L. & D are, C. P s ic o d in â m ic a da F a m ília . P orto A legre, A rtes M é­
dicas, 1981.
K'Uker, H. E s tú d io s s o b r e T é c n ic a P s ic o a n a lític a . Buenos A ires, Paidós, 1960.

■ kl, H . I n t r o d u ç ã o à O b r a d e M e la n ie K le in . Trad. M. B. Lopes. São Paulo,


lid. N acion al, 1966.
I « tt, R. A. E l P r im e r A n o d e V id a d e i N in o — G e n e s is d e la s P r im e r a s
R e l a c i o n e s O b j e t a l e s . Trad. P. B arcelo e L. F . C ancela. 3.» ed. M adrid,
1968.
'vjnnlcott, D . W . O A m b i e n t e e o s P r o c e s s o s d e M a tu r a ç ã o — E s tu d o s s o b r e
11 T e o r i a d o D e s e n v o l v i m e n t o E m o c i o n a l . Trad. I. C. S. Ortiz. Porto
A legre, A rtes M édicas, 1982.

33
4
A relação psicólogo-cliente
no psicodiagnóstico infantil

T â n ia M a r ia J o s é A ie llo T su

4.1. In trod u ção

O processo de realização de um psicodiagnóstico in fan til se dá


através do en co n tro de pelo m enos três p artes — o psicólogo, a cria n ­
ça e seus pais — n ãò sendo raros os casos em q u e ocorre a p a rtic i­
pação de outros elem entos com o a escola ou o m édico. E videntem ente,
a crian ça é sem pre o foco do trab alh o , n a m edida em que estam os
tra ta n d o de diagnóstico in fan til e não fam iliar. C om a criança, o psi­
cólogo estabelece um a relação que, em seus diferentes m om entos,
pode ser m ed iad a pelo uso de instrum entos psicológicos específicos.
E n treta n to , é im prescindível acrescentar que a relação criança-profis-
sional se en co n tra inserida n u m a com plexa rede de relações, à qual
se adiciona a figura do psicólogo, crian d o outras tan tas ligações (figs.
4 .1 e 4 .2 ) . Fazer um psicodiagnóstico in fan til é um a tarefa alta-
m ente conjplexa que d em anda o delineam ento de um m odelo especí­
fico de trab alh o que difere do psicodiagnóstico de adultos e dos p ro ­
cessos psicoterapêutico e psicanalítico.

4.2. D e fin iç ã o de clien te

O contato com a p rá tic a m ais freq ü en te de realização de um diag­


nóstico e a consulta à lite ra tu ra disponível descortinam um a seqüência

34

I
Médico Irmão

Mãe

F ig u r a 4.1.

Médico

Irmão
Escola

Irmã

Psicólogo

F ig u r a 4 2.
de eventos sem pre presente: entrevista ou entrevistas com os pais, que
ap resentam a queixa e fornecem os dados de anam nese, e entrevistas
com a crian ça, usualm ente utilizadas p a ra aplicação de testes. À p ri­
m eira vista, esse esquem a parece ad eq u ad o , ten d o em conta que as
crian ças, p rin cip alm en te nu m a sociedade com plexa, n ão são in d iv í­
duos psicossocialm ente autônom os. E n treta n to , um exam e dessa p rá ­
tica com um suscita algum as questões, sendo a p rim eira delas, po rq u e
a m ais fu n d am en tal, a seguinte: quem é o cliente do psicólogo no
processo de psicodiagnóstico in fan til?
A rigor, essa q uestão deve ser colocada sem pre que a pessoa que
c o n trata o serviço psicológico não é a m esm a que recebe o a te n d i­
m ento. E m clínica deparam o-nos com situações desse tip o em dois
casos: em p rim eiro lu g ar q u an d o lidam os com adultos que, em fu n ­
ção de seu p ró p rio estado psíquico, n ã o se reconhecem com o necessita­
dos de ajuda, e, em segundo lugar, q u an d o som os solicitados a aten d e r
crianças. N o caso do psicodiagnóstico in fan til, surge a seguinte p er­
g unta: quem devem os co n sid erar com o cliente, a criança, em relação
à q u al é ap resen tad a a queixa, seus pais, q u e co n tratam nossos ser­
viços, ou o m édico, p o r exem plo, que solicita u m p arecer psicoló­
gico? 1 A resposta d epende d o critério subjacente à definição do ter­
m o “ clien te” , sendo dois os pontos de vista m ais com uns. A ssim ,
p a ra alguns o cliente é aquele que se ap resen ta ou é ap resen tad o p o r
o u tro s com o objeto de atendim ento. P ara ou tro s profissionais o cliente
é quem co n trata o serviço, ap resenta qu eix a relativ a a o u trem e tem
p a rtic u la r interesse no tra b a lh o co n tratad o . Esses pontos de v ista p a r­
tem de considerações iniciais d istin tas, de m odo que o p rim eiro p a ­
rece p ro v ir da trad ição m édica, que en ten d e com o paciente aquele
que recebe a atenção clínica, seja qu em fo r a pessoa que venha a se
en carreg ar do pagam ento de ho n o rário s. O segundo p o n to de v ista se
assenta sobre u m a b ase de caráter n itid a m e n te co n tratu al.
O bservam os, na experiência clínica, que o serviço psicológico é,
via de regra, p ro cu rad o pelos pais espontaneam ente ou p o r indicação
d a escola. As coisas se encam inham h ab itu alm en te de form a tal que
aquele que p ro c u ra a ajuda profissional já vem com u m a definição
prév ia de quem é o cliente, n o sentido de p o rta d o r do p roblem a.
M esm o em situações que exibem claram en te, p a ra o profissional, o
com prom etim ento de to d a u m a d in âm ica fam iliar, observam os, fre ­
q ü en tem en te, a apresentação de queixa focalizada sobre um a suposta
“ crian ça-p ro b lem a” . Por exem plo, o setor de psicologia de um a in sti­
tuição, aqui em São P aulo, foi p ro cu rad o p o r um casal a fim de que

1 Os psicólogos que atendem pessoas através de convênios recebem , fre­


qüentem ente, pais m unidos de form ulários assinados p elo m édico do convênio
que solicita expressam ente um relato d o psicólogo acerca do “caso”.

36
um a m en in a de oito anos fosse exam inada psicologicam ente. A criança
vin h a ap resentando, h á alguns m eses, agressividade ac en tu ad a, enu-
rese n o tu rn a, choro co n stan te e in capacidade de p erm an ecer só no
p ró p rio q u arto , m esm o com adultos em o u tras dependências da casa.
Os p ais n ão tinham dú v id a acerca do fato de que essa era um a
“ crian ça-p ro b lem a” . E n treta n to , o psicólogo, através de seu tra b a lh o ,
logo se dep aro u com um a realid ad e fam iliar b astan te p ro b lem ática,
d a q u al a m enina era um em ergente. V eio a co n stata r q u e a pessoa
que se ap resentara com o m ãe da crian ça h avia se casado recente­
m ente com o p ai, e que a m ãe v erd ad eira ab a n d o n ara o la r h á p o u ­
cos m eses. Esses acontecim entos geravam u m clim a de m u ita an­
siedade e insegurança em todos os m em bros d a fam ília. O p ro fis­
sional concluiu, então, que o que p arecia ao casal com o algo que
brotava patologicam ente do in terio r d a crian ça revelava-se com o in­
dissoluvelm ente ligado ao seu contexto de v id a, gerando ansiedades
atuais e re ativ an d o ansiedades m ais antigas. P o r seu tu rn o , o estado
em ocional p e rtu rb a d o d a m en in a levava-a a com portar-se de fo rm a
a prom over um increm ento de ansiedade nos ou tro s m em bros da
fam ília. Essas constatações d eterm in aram o en cam inham ento que foi
dado ao caso., n a m edida em que ficou claro que tan to o casal q u an to
a crian ça necessitavam de atendim ento.
A través desse exem plo vem os que, se o leigo já vem com um a
definição acerca de q u em é o indivíduo-problem a, o profissional não
pode aceitar acriticam ente essa colocação, sob p en a de a d o ta r um a
posição ingênua.
Ê bem v erdade, com o têm estudado os sociólogos interessados
em p roblem as de saúde m ental, q u e m u ita coisa ocorre, n a rede de
relações sociais, que contém a crian ça, antes d a p ro c u ra de a ju d a p ro ­
fissional. Em p rim eiro lu g ar, algum fato , no dia-a-dia fam iliar, é
selecionado. P o r exem plo, a enurese n o tu rn a de u m a m enina de
q u atro anos passa a receber m aio r atenção p o r p a rte d a fam ília e a
ser m anifestam ente co n sid erad a comi> objeto de preocupação. Em
um segundo passo, o grupo fa m iliar decide se o fato deve ou não
ser in terp re tad o com o problem ático, sendo freq ü en tes, nessa etap a,
as consultas inform ais aos grupos prim ários (fam ília nu clear, p a­
rentes, am igos, vizinhos etc.). M ostram os sociólogos (M iles, 82),
em suas pesquisas, que existe sem pre um a tentativa de acom odação,
de norm alização do fa to observado, O êxito dessa ten tativ a depende
do tipo de com portam ento em qu estão , pois alguns sintom as são
m elhor ou p io r tolerados p o r esse o u aquele grupo fam iliar ou cul­
tural. A p a rtir do m om ento em que, fru strad as as ten tativ as de aco­
m odação, a fam ília p assa a d efin ir um a certa m anifestação com o
problem ática, u rge d ecidir se se b u sca aju d a externa e, em caso a fir­
m ativo, a q u e tip o de aju d a se d everá reco rrer. E videntem ente, o

37
tipo de aju d a escolhida d ependerá das concepções socialm ente exis­
tentes acerca do pro b lem a, desde que h a ja disponibilidade de re cu r­
sos externos.
C onstatam os, m ais freq ü en tem en te, três tipos de causas às quais
são atrib u íd o s os sintom as in fantis: causas som áticas, psicológicas e
caracterológicas. A ssim , se a enurese fo r considerada com o sintom a
de doença física, um m édico pode v ir a ser p ro c u rad o . Esse p ro fis­
sional, p o r sua vez, pode ou n ão en cam in h ar o caso a um serviço de
psicologia. P or o u tro lad o , se a en urese fo r vista com o expressão
de um p ro b lem a em ocional ou resu ltad o de o rien tação educacional
in ad eq u a d a, um psicólogo po d erá ser req u isitad o . D e o u tra p arte,
se fo r tid a com o d eco rrên cia de falhas caracterológicas, que se vin­
culam através de julgam entos do tipo “ ele é m im ad o ” , “ é agressiva
com o a fam ília do p a i” , “ sem pre foi p reguiçosa” etc., nen h u m tipo
de aju d a será p ro c u rad o e outras providências podem v ir a ser to­
m adas, tais com o castigos, adm oestações de vários tipos, pan ca­
das etc.
A p a rtir desse rá p id o esboço do q u e ocorre n a red e social antes
d a consulta, podem os te r u m a idéia acerca d a com plexidade dos fenô­
m enos ligados ao assu m ir q u e u m a crian ça precisa de ajuda. A s eta­
pas descritas, desde a seleção do fato considerado problem ático até
a b u sca do aten d im en to , dem onstram o q u an to pode ser discutível
e distorcida a visão do g ru p o fam iliar. Isso decorre do fa to de a
crian ça estar tão intim am ente ligada à fam ília a p onto de expressar
sem pre, através de seu sofrim ento psicológico, dificuldades que não
são só suas, m as de todo o grupo. A ssim , defensivam ente, a fam ília
tende, q u ase sem pre, a co n sid erar o sofrim ento psicológico in fan til
com o expressão d a in terio rid ad e da crian ça. F elizm ente, de outro
lad o , o psicólogo tem condições de se colocar em um p onto p riv ile­
giado de observação que lhe p erm ite v er o fato pro b lem ático em sua
inserção n a d in âm ica fa m iliar com m aio r nitid ez do que a conse­
guida pelos m em bros do grupo.
A definição d a crian ça, pelos rep resen tan tes d a rede social, com o
ob jeto do aten d im en to , não dispensa o psicólogo da reflexão acerca
de qu em é o seu cliente. O bservam os que freq ü en tem en te o p ro fis­
sional adere, sem o devido q u estionam ento, à ten d ên cia a d efin ir a
crian ça com o cliente, segundo a trad iç ão m édica, o que se superpõe
à aceitação dos pais ap en as com o clientes-contratantes. D efinir,
a p r i o r i , a criança com o cliente a receber atenção psicológica leva o
psicólogo a endossar, com seus procedim entos técnicos, a form ulação
social p ré v ia que colocou a crian ça nessa posição. Tal p o stu ra con­
duz à realização de diagnóstico apenas p arcial, n a m elh o r das hipó­
teses, m ascarando situações h u m anas m ais com plexam ente p ro b le­
m áticas do q u e o g ru p o social pode reco n h ecer sem aju d a especia­

38
lizada. C om plem entarm ente, a aceitação dos pais tão-som ente com o
clientes co n tratan tes pode levar o profissional a sujeitar-se às d em an­
das explícitas ou im plícitas que estes lhe fazem , direcionando o tra ­
balho para aquilo que o co n tra tan te re q u er, o que prejudica a visão
m ais geral do problem a exam inado. N esse caso, o atendim ento pode
se e stru tu ra r, in ad eq u ad am en te, sob a form a de um a aliança en tre
os pais e o profissional, excluindo a criança. T al fenôm eno pode
acontecer q u an d o não está suficientem ente esclarecida a definição do
cliente ou q u an d o o psicólogo, ainda n ã o suficientem ente analisado,
envolve-se em ocionalm ente de form a im p ró p ria com o g ru p o fam iliar
em atendim ento. Um a conseqüência gravíssim a desse tipo de estru ­
turação é o fato de desobrigar os grupos sociais que contêm a criança
de q u estio n ar sua dinâm ica interna. A decorrência im ediata desse
posicionam ento é apenas “ tra ta r a cria n ç a ” . A p a rtir disso, m uitos
profissionais se sentem internam ente im pelidos a reagir co n tra esse
estado de coisas, seja po rq u e intuem que a estru tu ração do aten d i­
m ento nessas bases não atende aos propósitos definidos, seja pela
não elaboração de problem as pessoais, identificando-se in ad eq u a d a­
m ente com a criança. O correm , nesses casos, alianças im plícitas do
profissional com a criança e contra os pais. Nessa linha, o grupo
fam iliar é visto com o patogênico e a crian ça com o vítim a. Com o sa­
bem os, a in terp retação de problem as psicológicos na lin h a da viti-
m ação tem sido bastante p o p u lar nas duas últim as décadas, incluindo
concepções com o as de “ m ãe-esquizofrenogênica” ou a leitura dos
d istú rb io s m entais com o resultantes diretam en te do ato social de
rotulação. Pode-se o bservar, no en tan to , que essas concepções b a­
seadas na vitim ação têm-se revelado inoperantes em term os de p rá ­
tica clínica. Um erro básico que com etem é d esprezar o fato de que
a fam ília está solicitando aju d a, de um m odo ou de outro, o que
descortina a possibilidade de se co n tar, até certo p onto, com sua
colaboração.
A nosso ver, o único m eio de solucionar satisfatoriam ente a
q uestão de quem é o cliente do psicodiagnóstico in fan til é considerar
que, dadas as condições e características das crianças, em nossa so­
ciedade (pois elas são dependentes, psicossocialm ente falan d o ), é
a te n d e r m o s s itu a ç õ e s h u m a n a s p r o b le m á tic a s que s u p o s ta m e n te tê m
r e p e r c u s s õ e s d ir e ta s s o b r e a v id a de u m a c r ia n ç a , o r ig in a n d o s o fr i­
m e n to p s i c o l ó g i c o . A ajuda psicológica é buscada em função da
criança, m as o problem a a ser focalizado pelo profissional transcende
a indiv id u alid ad e in fan til. O que se focaliza, então, é um todo com ­
plexo, um a dinâm ica de relacionam ento en tre interioridades. O psi­
cólogo se relaciona, então, com todo um grupo fam iliar, o que não
significa desconhecer diferenças fu n d am en tais nas características das
relações que estabelece com a criança e seus pais, em um nível m ais

39
próxim o, e com o u tras pessoas ou grupos envolvidos, em ou tro n í­
vel. Em term os p ráticos, os procedim entos psicológicos serão dis­
tintos segundo o fa to de os elem entos da rede relacional (vide fi­
guras 4 .1 e 4 .2 ) serem ou não psicologicam ente entrevistados.
A quele que e n tra r em contacto d ireto com o profissional po d erá v ir
a ser psicologicam ente conhecido em sua d in âm ica in tern a , ou seja,
visto com o pessoa que se relaciona com as dem ais a p a r tir dos dados
d a realid ad e ex terio r e de sua p ró p ria realid ad e psíquica. O s outros,
que se com unicarem com o profissional através de o u tras vias, com o
professores que m andam cartas, m édicos ou outros psicólogos que
enviam laudos etc., com o in form antes, n ão são passíveis de ser psi­
cologicam ente conhecidos de m odo confiável.

4.3. A in str u m en ta ç ã o da rela çã o p sic ó lo g o -c lie n te

N a perspectiva do diagnóstico com preensivo, o q u e im p o rta é


u m a apreensão globalizante do ser h u m an o , en ten d id o en q u a n to su­
jeito q u e possui um a m ente, um a realid ad e psíquica, ao m esm o
tem po em que se en co n tra inserido n u m a red e de inter-relações so­
ciais. P ara atin g ir essa apreensão, utiliza-se a to talid ad e das m anifes­
tações do en trev istad o no deco rrer do encontro, seja ele crian ça ou
ad u lto . A ssim , n en h u m en trev istad o deve ser visto com o sim ples
“ in fo rm an te” pois, a p a rtir do seu en co n tro com o profissional,
m uito m ais pode ser cap tad o em term os de fenôm enos relacionais
internos, psiquicam ente falan d o , e externos, psicossocialm ente falando.
É fu n d a m e n tal d estacar que a co n d u ta to tal que se m anifesta
d u ra n te a en trev ista é um fenôm eno que se atualiza e n t r e pessoas,
ou seja, no âm bito de um a d a d a relação interpessoal. A co nduta
total sem pre acontece e n tre pessoas, expressando o m u ndo in tern o
de cad a um em seu co n tín u o interjogo com o m u n d o externo das
relações interpessoais. R econhecendo esse fato , o profissional p ro ­
p o rcio n ará, no en co n tro com o cliente, u m a o p o rtu n id ad e p a ra m a­
nifestação da co n d u ta to tal, a p a rtir d a q u al p o d erá o b ter conheci­
m ento psicológico e fo rm u lar p ro p o stas de solução. D esse p o n to de
v ista, a u tiliza ção de técnicas psicológicas específicas deve ser en­
ten d id a com o artifício q u e visa a fa cilitar a cap tação do m u ndo in­
tern o e dos fenôm enos relacionais, no sentido da econom ia de tem po.
As questões concernentes à relação en tre o psicólogo e o cliente,
vistos com o sujeitos q u e possuem in terio rid ad e p síq u ica e que se
m ovem nu m a red e de inter-relações, têm u m ca ráter ce n tral em toda
a práxis psicológica. Sem dú v id a, as considerações que o tem a acar­
re ta ex trap o lam sensivelm ente o m odo com o se ap resen ta em outras
atividades q u e lidam diretam en te com o ser h u m an o , sejam “ assis-

40
B IB L IO T E C A - F A C U L D A D E P IT Á G O R A S

tenciais” ou “ ed u c ativ as” . Ê v erd ad e q u e, atu alm en te, já se reco­


nhece a im p o rtân cia fu n d am en tal da relação p ro f ssional-cliente nes­
sas áreas, com o podem os ap reciar em trab alh o s com o o de B alint
(1975), no cam po m édico, ou o de K u p fe r (1982), q u e em nosso
m eio estudou a relação professor-aluno a p a rtir d a perspectiva de
um a le itu ra psicanalítica. E n treta n to , com o verem os m ais adiante,
en q u a n to o aspecto relacional pode fa cilitar ou d ificu ltar o trab a lh o
de profissionais de o u tras áreas, n o cam po psicológico a relação é
in stru m en tad a, ou seja, é o m eio através do qu al se pode conhecer
e d iagnosticar, assim com o in terv ir terap eu ticam en te. A tente-se, p o r­
tanto, q u e nos encontram os em cam po de trab a lh o in teiram en te
s u i g e n e r is .
O que q u e r d izer, exatam ente, u sa r in stru m en talm en te a re la­
ção? Podem os com p reen d er essa noção, lem brando-nos de q u e, na
execução de q u alq u er trab alh o , seja m an u al ou intelectual, o ser h u ­
m ano usa sem pre instrum entos ou ferram en tas que p ossibilitam a
realização da tarefa proposta. O m ecânico usa ferram en tas especí­
ficas, o cirurgião usa seus instrum entos, o engenheiro u sa seus p ro ­
cedim entos de cálculo p ara p ro jeta r. O m anejo adeq u ad o do in stru ­
m ento é fru to d a perícia do profissional. N o caso do psicólogo clí­
nico, a ferram e n ta p rin cip al é a observação a p u ra d a de tu d o q u an to
acontece, ou em erge, no cam po relacional. E xem plificando, podem os
dizer que, se o d en tista tra b a lh a nu m a situação q u e tecnicam ente se
denom ina “ cam po re la x ad o ” , realiza a tarefa contando com a m aior
colaboração do cliente. Isso lhe p ro p icia condições satisfatórias p ara
o exercício de sua perícia técnica. E n treta n to , o m esm o trab alh o
pode, m uitas vezes, ser feito com pacien te em estado de anestesia
geral. S im ilarm ente, u m a boa relação en tre professor e alu n o auxilia,
indu b itav elm en te, a aprendizagem , e, q u an d o in ad eq u a d a, p o d e até
bloqueá-la. N ão se pode dizer, no en tan to , q u e to d a a aprendizagem
depende essencialm ente da relação.
A o co n trário , é o u s o i n s t r u m e n t a l da relação psicólogo-cliente,
seja este crian ça ou ad u lto , a ferram e n ta básica de trab a lh o com que
contam os. É fu n d am en tal in sistir nesse ponto: usam os a relação ins­
tru m en talm en te tan to n a en trev ista com a crian ça com o naquelas
q ue fazem os com seus p ais, responsáveis ou ou tro s adultos envolvi­
dos no psicodiagnóstico in fan til. N ão é aceitável, nessa p erspectiva,
a p rá tic a, b astan te d ifu n d id a em nosso m eio, segundo a q u al as en­
trevistas com os pais e com a crian ça são q u alitativ am en te diferentes,
na m edida em que as p rim eiras se destinam à “ ob ten ção de dados
de an am n ese” e as segundas ao “ exam e psicológico da cria n ç a ” . Evi­
dentem ente essa p rá tic a está su p erad a, um a vez q u e está v in cu lad a
à aceitação de u m a definição leiga que não concebe a crian ça com o
elem ento d a e stru tu ra fam iliar que se ap resen ta com o em ergente de

41
p ro b lem ática relacional. C oerentem ente com a nossa posição, todas
as entrevistas, sejam com pais ou com a criança, sua professora ou
ou tro s, realizam -se a p a rtir do m anejo in stru m en tal d a relação que
se atu aliza no d ec o rre r do encontro.
A instrum entação d a relação é o fu n d am en to de to d a a práxis
psicológica, seja diagnóstica ou terap êu tica. N esse sen tid o específico,
n ão existe d iferen ça en tre o trab a lh o q u e se faz no psicodiagnóstico
in fan til ou ad u lto , nem en tre o psicodiagnóstico e a psicoterapia.
T odas essas práticas se alicerçam sobre o m esm o fu n d am en to . As
diferenças características só surgirão posteriorm ente. A ssim , a fei­
tu ra do diagnóstico in fan til é d iferen te d a do diagnóstico de adultos
em fu n ção do fato de lidarm os com dois tipos diferentes de cons­
telação m ental. De o u tro lado, o psicodiagnóstico e a psicoterapia
diferem pelos seus objetivos e tem po disponível.
Sendo o fenôm eno relacional u m a tem ática n u clea r em psicolo­
gia, é com preensível que sua abordagem descortine um a série de
questões fu n d am en tais. E n tre essas, parece-nos o p o rtu n o destacar
algum as, tais com o: de q u e fo rm a se in stru m en taliza a relação?
Essa p rá tic a p ro p o rcio n a conhecim ento co nfiável? Essa p rá tic a é
eticam ente ju stificáv el? Q uais são as conseqüências éticas do m anejo
d a relação psicólogo-cliente?

4.4. A in str u m en ta ç ã o da relação do p o n to de v is ta


e p iste m o ló g ic o

V am os in iciar nossa discussão pela segunda p erg u n ta que aca­


bam os de en u n ciar, p o rq u e nos rem ete a um a p ro b lem ática de ca­
rá te r epistem ológico: até que p o n to podem os co n fiar no conhecim ento
que obtem os acerca de u m a situação psicologicam ente problem ática
q u an d o sua investigação se p ro d u z no in terio r de um a relação
h u m an a?
E m seus p rim ó rd io s, a Psicologia, e n q u a n to d iscip lin a q u e se
p ro p u n h a alcan çar um a posição indiscutivelm ente científica, envere­
do u p o r u m cam inho denom inado ex p erim en tal, ten tan d o su p erar
tudo o q u e pudesse com prom eter o alcance de um a objetividade in a ­
b alável. A ssim , esses cientistas estavam co n stantem ente preocupados
com “ variáveis” q u e, in flu in d o nas condições de observação ou ex­
p erim en tação , im pedissem a apreensão do fenôm eno em sua objeti­
vid ad e ou n atu ra lid a d e. E n treta n to , m uito cedo se percebeu que a
presença de u m o b serv ad o r e a p ró p ria realização da investigação
condicionavam os resultados obtidos.

42
A tualm ente, podem os perceb er que o problem a da objetividade,
que os ex perim entalistas p ro curavam resolver, deriva de u m a posi­
ção epistem ológica, d iscu tid a p o r inúm eros autores, q u e L ew in de
n om inou aristotélica (a p u d Bleger, 1973), segundo a q u al as m an i­
festações de com portam ento são qu alid ad es que em ergem a p a rtir
de u m in terio r q u e aflo ra p a ra o exterior do organism o. E n tretan to ,
o p ró p rio desenvolvim ento das ciências físicas e biológicas, assim
com o a reflexão filosófica que esse desenvolvim ento suscitou, co n d u ­
ziram ao ab an d o n o desta posição p o r o u tra , que L ew in denom inou
galileana. A p a rtir dela, pode-se co n sid erar que as q u alidades do
ser h u m an o derivam , invariavelm ente, de sua relação com o conjunto
das relações totais e reais en tre os fenôm enos, o u seja, que aconte­
cem em situações. V istas as coisas segundo essa perspectiva, pode-se
ab a n d o n ar a ten tativ a de apreensão da verdade tal com o se d aria na
ausência do o b servador. Percebe-se q u e não tem sentido perseguir o
in tu ito de o b te r conhecim ento em condições de m áxim a ab stração
das condições reais de existência do fenôm eno estudado. D esneces­
sário en fatizar, p o rtan to , que as colocações de L ew in tiveram o
efeito indireto de p o ssib ilitar confiabilidade n o conhecim ento que se
obtém n a prática clínica. O psicodiagnóstico pode ser visto, nessa
lin h a, com o procedim ento válido de investigação psicológica, desde
que certos cuidados, que são o equivalente do controle estatístico ou
experim ental, sejam observados. O s testes, q u an d o utilizad o s, devem ,
sob esse p o n to de v ista, ser apreciados à lu z da relação estabelecida,
não rep resen tan d o , nesse contexto de pensam ento, m om entos de
m aio r o bjetividade. D evem , sim , ser vistos com o m eios válidos de
facilitar a em ergência de conteúdos derivados do m u n d o interno.
A títu lo de esclarecim ento e ilustração, vale a p en a rep ro d u zir
um exem plo de Bleger (1973) a respeito d a questão. C erta vez, em
um a escola, fez-se necessário um estudo acerca das atividades das
crianças d u ra n te o recreio. A consecução dessa tarefa foi antecedida
p o r algum as discussões, en tre os profissionais envolvidos, as quais
centravam -se no tem or de que a p resen ça de um o b serv ad o r alte ra ­
ria o com portam ento “ n a tu ra l” de b rin c a r. O ra , discute o au to r, se é
v erd ad e que a presença do profissional condiciona as observações, o
q u e ninguém p en sa em negar, n a d a justifica cham arm os as co n d i­
ções em que n ão ocorre tal presença de “ condições n a tu ra is ” , in v a­
lid an d o dados q u e a observação possa p ro v er. A rigor, as condições
em q u e as crianças se encontram sozinhas devem ser denom inadas
h ab itu ais e n ão n atu rais, pois n ão dependem da “ n a tu re z a ” dos
fatos, m as de condições que, em bora sejam freqüentes, são essen­
cialm ente relativas. S im ilarm ente, em Psicologia C línica, n ão estare­
m os interessados, p o r exem plo, em c a p ta r a “ agressividade em si
m esm a” de um a crian ça, e n ten d id a com o um a q u alid ad e in terio r

43
que aflo ra em alguns m om entos, e sim em investigar esse fenôm eno
nas condições relacionais em que ocorre. C onclui-se, en tão , q u e a
realização dessa investigação em contexto relacional, que é o da en­
trevista psicológica, é não apenas aceitável com o tam bém coerente
com o p ró p rio ca ráter do objeto estudado.
A conclusão d e que os conhecim entos obtidos em contexto rela­
cional são epistem ologicam ente confiáveis, nos leva, a p a r tir desse
po n to , a reflexões acerca de quais serão os cuidados necessários, em
term os das situações p articu lares, p a ra g aran tia de rigor científico.
Esses cuidados, p assan d o pelo conceito de en q u ad ram en to , que dis­
cutirem os m ais ad ian te, transportam -nos desde o nível epistem ológico
até o nível técnico de análise d a relação profissional-cliente, a q u al
se expressa, basicam ente, através d a questão: com o se in stru m en ta
a rela ção ?

4.5. A relação p sic ó lo g o -c lie n te d o p o n to de v ista


técn ico

C onsiderações m ais gerais acerca do p o n to de vista técnico de­


vem an teced er os pontos m ais específicos, q u e serão focalizados em
cap ítu lo s posteriores, que versam sobre a en trev ista e o uso de ins­
tru m en to s psicológicos. D evem com eçar, a nosso ver, p o r u m a clara
colocação da q u estão em term os d a h istó ria d a Psicologia C línica,
q u e nos fo rn ecerá os elem entos necessários p ara o enten d im en to
dos fundam entos técnicos do m anejo in stru m en tal da relação.
O uso da situação relacional com fin alid ad e de captação de
fenôm enos psicológicos rem onta, historicam ente, à descoberta freu ­
d ian a d a transferência. G rosso m odo, esta era concebida com o a re­
p etição, com figuras do presente, do p assado em ocional vivido com
figuras p rim árias. A tran sferên cia não é um fenôm eno que ocorre
apenas no contexto terapêutico, sendo en co n tráv el e identificável em
variad as situações hum anas. Inicialm ente, F reu d in terp re to u a sua
ocorrência, d u ra n te as sessões de P sicanálise, com o sinal de resis­
tên cia do paciente ao trab a lh o analítico, n a m edida em que este
p arecia “ p re fe rir” re p e tir do que re le m b rar (Freud, 1948). P osterior­
m ente, en tretan to , percebeu que a p ró p ria tran sferên cia p o d eria ser
u tilizad a com o in stru m en to de investigação e terap êu tica. As coisas
cam in h aram até o p o n to d a cu ra p sican alítica chegar a ser concebida
de acordo com um m odelo segundo o qu al a neurose clínica deve
se tran sfo rm ar em neurose transferencial.
Em term os psicanalíticos, o tem a da tran sferên cia tem sido
ob jeto de m uito deb ate e controvérsia. E ncontram os desde posições

44
com o a d a escola inglesa, que consideram a in terp retação tran sfe­
rencial com o o único m eio através do q u al se pode realizar um a
v erdadeira psicanálise, até p ontos de vista com o os de L acan
(1971). que concebe a ocorrência do fenôm eno tran sferen ciai com o
fru to de e rro com etido pelo an a lista N ão en trarem o s em p ro fu n ­
d id ad e no m érito dessas questões. Basta-nos, no m om ento, assinalar
a im portância da descoberta d a tran sferên cia pelo que significa de
reconhecim ento d e q u e o tra b a lh o analítico se d á em u m contexto
relacional que é in stru m en tad o pelo profissional. Foi justam ente
esse reconhecim ento, que atu alm en te se estende tan to aos encon­
tros de ca ráter diagnóstico com o terap êu tico , que p erm itiu o su r­
gim ento de um a concepção psicodiagnóstica q u e se fu n d am en ta no
m anejo d a relação, sem m ais co n sid erar o cliente com o objeto a
ser subm etido a exam e.
N u m a acepção b astan te am pla, m as não im precisa, podem os
co n sid erar a tran sferên cia com o a po ssib ilid ad e de o cliente trazer,
p a ra o contexto d a sessão, em m odo relacio n al, vivências e em o­
ções relativas aos objetos significativos de sua vida. Isto pode ser
facilitado p ela observação de certas condições que foram satisfa­
toriam ente descritas p o r Bleger (1972) q u an d o afirm ou que a en ­
trevista psicológica se d á através do estabelecim ento de um cam po
relacional em que as configurações dependem , em m aio r grau, das
variáveis decorrentes d a perso n alid ad e do en trev istad o . V ale dizer,
o cam po se e stru tu ra em função, p rin cip a lm en te , d a realidade in ­
tern a do cliente.
D etalh an d o m elh o r essa colocação, lem brem o-nos de que q u a n ­
do duas pessoas interagem , n o rm alm ente, estabelece-se, en tre elas,
um cam po q u e d epende das duas p ersonalidades. P o r exem plo,
podem os p en sa r nu m a criança de seis anos que. ao ser solicitada
p o r sua m ãe no sentido de g u ard ar seus b rin q u ed o s, responde, cos-
tu m eiram en te, algo do tipo: " . . . só guardo tu d o se você m e d er
um d o ce” . U m a d eterm in ad a m ãe pode resp o n d er a essa co nduta
dizendo que quem m an d a em casa é ela e até aplicando u ns tapas
n a crian ça. O u tra m ãe pode ex p licar a situação à crian ça no in ­
tu ito de o b ter um com portam ento razoável, e n q u a n to um a terceira
m ãe p ro m ete o doce. T erem os aí a configuração de três diferentes
cam pos relacionais q u e d ependerão da in teração das condutas da
m ãe e d a crian ça, as q u ais, o b v iam ente, são tam bém expressão da
p erso n alid ad e de cada pólo d ian te da situação ap resen tad a. N um
en co n tro en tre o psicólogo e a criança, o p rim eiro evita responder
ao nível de um a in teração sim ples e im ediata, p a ra u tiliza r tan to
a co n d u ta in fan til, com o as respostas em ocionais que a m esm a p ro ­
voca nele, no sentido de com preender, d a fo rm a m ais precisa p os­

45
sível, o q u e se passa no m u ndo in tern o d a criança. Essa p o stu ra
do psicólogo corresponde ao que a escola argentina d enom ina “ dis­
sociação in stru m en tal” . C onsiste essa dissociação num a espécie de
divisão in te rn a realizad a pelo psicólogo. A ssim , com o que um a
p a rte dele perm anece m ergulhada na relação, a p o n to de receber
vivam ente o im pacto em ocional p ro d u zid o pela co n d u ta do cliente;
um a o u tra p a rte de seu psiquism o m antém um certo d istan cia­
m ento da situação, que resu lta n a possibilidade de com preensão
m ais p ro fu n d a do q u e está o co rrendo n a relação e na suspensão de
interações do m esm o nível dos com portam entos do cliente. P o r
exem plo, se um a criança diz ao profissional, n a sessão de ludodiag-
nóstico, que só g u ard ará as coisas se g an h a r u m doce, o profissio­
n al d ev erá colocar-se suficientem ente no in terio r da relação p ara
perceb er seus p ró p rio s sentim entos a respeito (raiva, p en a, desejo
de aju d a r etc.), não p a ra resp o n d er tal com o o fa ria a m ãe ou
um ed u cador, m as p a ra com preender a realidade in tern a daquela
criança.
É justam ente n a m edida em que o psicólogo se ap resen ta num a
p en u m b ra , criada p ela am bigüidade d ecorrente da suspensão de
reações de m esm o nível, que se pode c ria r um a situação n a q u al o
m odo de agir do en trev istad o d ep en d erá cad a vez m ais de seu
m u n d o in tern o , de sua histó ria em ocional. T rata-se do m esm o p ro ­
cesso que se provoca, p o r exem plo, ao ap resen tar a um a pessoa
um a p ra n ch a do teste de R orschach. E ssas p ran ch as, q u e apresen­
tam desenhos apenas relativam ente estru tu rad o s, m u ito diferentes
de representações figurativas de objetos reais, convidam a um vol­
tar-se p a ra o m u n d o interno. R ealm ente, são borrões de tinta, m as
a apreensão de um a form a associada a um m ovim ento subjetivo,
p roveniente d a realid ad e in tern a , p erm ite a visão de borboletas,
m orcegos etc. U sando a expressão de W in n ico tt (1975), a estru ­
tu raç ão desse cam po propício à m anifestação do m u ndo in tern o
equivale a d izer que trab alh am o s em um a área tran sicio n al, a q u al
p erm ite a atualização da realid ad e psíquica em um a zona in ter­
m ed iária de experiência. A qui todos os term os são im p o rtan tes. O
sentido da p alav ra “ a tu a liz a r” é o de passagem ao ato , de reali­
zação, o m u n d o in tern o se m an ifestan d o em co n d u ta. O ato, nesse
sentido, é algo que pode ser en ten d id o e p artilh ad o , sendo, p o r­
tanto, qualitativ am en te d iferente de um a vivência psicótica ou do
sonhar. A expressão “ zona in term ed iária” se refere a um “ lu g a r”
d a existência h u m an a, m etaforicam ente fa la n d o , que não é nem o
m u n d o real dos objetos externos nem o m undo in tern o p ro p ria ­
m ente dito, sendo este ú ltim o totalm en te p riv ad o e não com parti-
lhável. A tividades transicionais são, p o r exem plo, a arte e a reli­

46
gião. U sando um a analogia, pode-se dizer q u e n a sessão, diagnos­
tica ou terap êu tica, cria-se um espaço p ro p ício à m anifestação do
m undo interno. D essa form a, ele pode ser ap reen d id o p o r o u tro ser
hum ano, sim ilarm ente ao que acontece no espaço teatral, que se
p resta a realização da fan tasia criativ a do dram atu rg o à q u al a platéia
tem acesso.
T ra b a lh a r em cam po transicional significa m o b ilizar o psi­
quism o do en trev istad o em m ais de um nível. D e um lad o , os níveis
m ais evoluídos e discrim inados d a p erso n alid ad e exigem um a rela­
ção de confiança no profissional, que p erm ita a p articip ação nesse
tipo de experiência. T al colocação é v álid a tan to p a ra adultos
com o p a ra crianças. D e o u tro lad o , níveis m ais regredidos p reci­
sam ser atingidos, já que são esses que, pelo seu ca ráter incons­
ciente, lançam o indivíduo em situações relacionais problem áticas
que levam à b u sca de auxílio profissional. O lid a r com esses dois
níveis d a p ersonalidade depende, diretam en te, do estabelecim ento
do en q u ad ram en to .
C onform e B leger (1973), o en q u ad ram en to equivale à estan ­
d ardização do q u e em Psicologia E x perim ental se denom ina si­
tuação de estím ulo. N ão se p reten d e com isso, com o m uitos er­
roneam ente supõem , q u e a situação relacional deixe de a tu a r com o
estím ulo, m as sim que certos elem entos da m esm a deixem de v aria r
p a ra o psicólogo. Essa não-variabilidade é conseguida através da
transform ação de um certo n úm ero de variáveis em constantes.
Assim , o q u e se m an têm constantes são: os objetivos do trab alh o ,
o p ap el profissional, a atitu d e técnica e as coordenadas de espaço
e tem po. Sendo fixo o en q u ad ram en to , to d o e q u a lq u e r m ovim ento
relacional pode ser observado, o que não seria possível em um
universo q u e fosse, ele m esm o, in teiram en te m óvel.
N a p rática, o m anejo do en q u ad ram en to depende do respeito
a certas cláusulas co n tratu ais (horário, local, p ap el e tarefa) e da
atitu d e técnica que corresponde à dissociação in stru m en tal já
descrita.
E rroneam ente, a atitu d e técnica, conseguida através do m anejo
da dissociação in stru m en tal, tem sido en ten d id a com o algo que fi ;a
p róxim o d a “ n e u tra lid a d e ” ou d a “ o m issão” , term os com um ente as­
sociados a frieza afetiva, distanciam ento, não-com prom etim ento etc.
Essas po stu ras destoam m arcadam ente do nosso universo cu ltu ra l e
p o r isso são sentidas p o r alguns clientes e pela população em geral
com o m u ito artificiais. N a v erd ad e, a a titu d e técnica m ais adequada
prevê q u e o psicólogo não resp o n d erá, com o norm alm ente acontece,
a p a rtir da configuração em ocional e cognitiva que o com portam ento
do o u tro elicia nele, m as deixará de a tu a r sua resposta p o r dois m o

47
tivos principais: em prim eiro lu g ar p a ra p erm itir ao o u tro a m aior
expressão possível de sua subjetividade, q u e não ten d erá a se aco­
m o d ar ao p ad rão de co n d u ta do in terlo cu to r; e em segundo lugar
p ara p erm itir a si m esm o um p en sar m ais p ro fu n d o acerca de sua
p ró p ria resposta in tern a, a q u al, no profissional devidam ente an a­
lisado, é, com grande p ro b ab ilid ad e, eco do q u e se passa na m ente
do en trev istad o . E m term os técnicos estam os falan d o de m anejo
técnico de fenôm enos transferenciais.
Q u a n d o não se tra b a lh a adequ ad am en te com a tran sferên cia,
acabam o co rrendo distorções relacionais que podem com prom eter a
realização da tarefa n a m edida em que im peçam ao psicólogo um a
visão m ais n ítid a da situação. Podem os citar um exem plo. U m a alu n a
iniciou um psicodiagnóstico infantil realizando entrevistas com a
m ãe d a criança. A pesar de a a lu n a ser b astan te jovem , essa m ãe,
em bora p ertencente à ch am ada “ classe m éd ia” , tratava-a com o se
fosse alguém m uito im p o rtan te, de m ais idade, sugerindo que deve­
ria possuir um a grande experiência profissional. E ram com uns fra ­
ses d o tip o : " . . . a senhora já deve te r visto m uitos casos desse
t i p o a senhora deve te r poucos h orários livres, né d o u ­
to ra . . . ” etc. T ais colocações, que veiculavam , n o contexto, a inse­
g u rança q u e sentia p o r estar sendo aten d id a p o r u m a estagiária ap a­
rentem ente m uito inexperiente, provocaram reações em ocionais na
alu n a, que tin h am m u ito a ver com o tem or de não ser capaz de
realizar a tarefa, em bora se encontrasse, de fato, razoavelm ente
p re p a ra d a p a ra fazê-lo. E n tretan to , p o r não conseguir, em um p ri­
m eiro m om ento, lid a r adequ ad am en te com esse m aterial clínico, a
alu n a passou a se vestir diferentem ente p a ra aten d er à cliente, tro ­
cando seu estilo esportivo p o r trajes m ais austeros. M udou o corte
do cabelo p ara algo que a “ envelhecesse” e passou a u sa r m aq u ia­
gem . Em sum a, não ca p tan d o a tran sferên cia, que expressava algo
do m undo in tern o da m ãe naq u ela situação, e não se ap ro fu n d an d o ,
em tera p ia pessoal, nos seus próprios sentim entos, a estagiária com o
q u e “ en tro u no jogo” d a en trev istad a p ara, num a certa “ cum plici­
d a d e ” com a m esm a, ev itar ansiedades despertadas pela situação.

4.6. A relação p sic ó lo g o -d ie n te d o p o n to de v ista


é tic o

As considerações p ertinentes à esfera técnica nos conduzem ,


em term os da p ráx is psicológica, d iretam ente a questionam entos de
ca ráter ético, com o verem os a seguir.

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A Psicologia, assim com o outras profissões, é norteada pela
observação de um a série de princípios q u e se encontram organizados
sob a form a de um Código de É tica Profissional que vigora em todo
o territó rio brasileiro. C onsta desse C ódigo um capítulo específico
referente às responsabilidades p ara com o cliente, o qual é aí defi­
nido com o a pessoa, entidade ou organização a que se presta serviço.
São arrolados oito itens referentes a deveres, e cinco a interdições.
O não-cum prim ento dessas disposições, passível de penalidades, cul­
m ina na suspetisão definitiva da autorização p ara exercício p ro fis­
sional.
Esse Código, pela sua p ró p ria n atu reza, versa sobre questões
derivadas do fato de o psicólogo, em sua ro tin a, en tra r em contato
extrem am ente íntim o com outro seres hum anos. E ncontram os, assim ,
itens com o o seguinte: “ aten d er seus clientes, sem q u alq u er discri­
m inação ou p rio rid a d e decorrente de raça. prestígio, au to rid ad e,
credo ou situação econôm ica” . A bem d a v erdade, tal colocação deve
ser respeitada não apenas pelo psicólogo, m as p o r todo aquele que
tra ta r com p roblem as hum anos, seja de q u e ponto de vista for.
O que verificam os, p o rtan to , é que o Código, se bem que co­
loque princípios e responsabilidades fu n d am en tais, não en tra d eta­
lhadam ente no m érito da questão da in stru m en tação da relação psi-
cólogo-cliente. E n treta n to , p ara que o uso técnico da relação seja
feito tendo em v ista o interesse do cliente, focalizarem os, a seguir,
um im p o rtan te p o n to que não consta do C ódigo.
Com o vim os, algum as condições técnicas devem ser cum pridas
para que a instrum entação da relação possa o co rrer Essas condi­
ções técnicas correspondem ao que descrevem os com o en q u a d ra ­
m ento. Esse. p o r sua vez, dem anda um a atitu d e especial denom inada
dissociação in stru m en tal. Surge, então, a seguinte questão: quais são
os requisitos que o profissional deve p reen ch er p ara estabelecer o
enq u ad ram en to e realizar a dissociação in stru m en tal? A resposta é
a seguinte: de um lad o existe a necessidade de conhecim entos psi­
cológicos, os quais são obtidos academ icam ente e considerados sufi­
cientes p ara a concessão do títu lo profissional e da autorização p ara
exercício da p rofissão; de outro lado é fu n d am en tal o conhecim ento
de si p ró p rio que g aran te a possibilidade de estabelecer o carnpo ad e­
q uado de trab a lh o , É básico, p ara boa consecução da tarefa, certo
grau de autoconhecim ento que p erm ita, pelo m enos, o discernim ento
entre aq u ilo que vem do cliente e aq u ilo q u e em ana das p róprias
dificuldades em ocionais. N ão sendo, e n tre tan to , fo rnecida o u exigida
no âm to da in stru ção acadêm ica, a psico terap ia pessoal torna-se
im perativo ético q u e deve ser resolvido indiv id u alm en te pelo profis-
onal. A té m esm o o alu n o que p ratica atendim ento deveria sentir-se
eticam ente im pelido a realizar sua psicoterapia.

49
O que nos q u alifica tecnicam ente a m an ejar a relação psicólogo-
cliente, na concepção do trab a lh o clínico, é o p re p aro e o aperfei­
çoam ento pessoal que só pode ser obtido em p sicoterapia de tipo
reco n stru tiv o que lide diretam en te com o m undo in tern o do p ró p rio
psicólogo. Esse tip o de trab a lh o pessoal, q u an d o seriam ente reali­
zado, é m uito m ais árd u o do q u e o d e obtenção de conhecim entos
teóricos ou técnicos, p o rq u e envolve a pessoa com o um todo cog­
nitivo e em ocional. A decisão de subm eter-se à psicoterapia é in tei­
ram ente pessoal, m as, de o u tro lado, é condição indispensável para
u m dom ínio técnico adequado. P or isso, é um im perativo de cons­
ciência do profissional.
Conclui-se que m u ita coisa é req u erid a daquele que p reten d e
ser psicólogo clínico p ara que possa re alizar psicodiagnóstico, p sico ­
tera p ia e o u tra s tarefas p ró p rias dessa área. Seu difícil p re p aro se
alicerça, com o vim os, em três pontos p rin cip ais: nos conhecim entos
teóricos e técnicos acerca da Psicologia, na psico terap ia pessoal, e
nos estágios q u e se realizam sob a o rien tação d ireta e pessoal fo r­
necida pelo supervisor.

4.7. B ib lio g ra fia

Balint, M . O M é d i c o , s e u P a c i e n t e e a D oença. Trad. R. O. M usachio. R io


de Janeiro, A theneu, 1975.
B leger, J. T em as de P s ic o lo g ia . B uenos A ires, N ueva V isión , 1972.

Bleger, J. P s ic o lo g ia de la C o n d u ta . B uenos A ires, Paidós, 1973.

Freud, S. R e c u e r d o , R e p e t i c i ó n y E l a b o r a c i ó n . Trad. B allesteros y de T or­


res. Obras C om pletas, B iblioteca N u ev a M adrid, 1948.

K upfer, M . C. R e l a ç ã o p r o f e s s o r - a l u n o - , u m a le itu r a p s ic a n a lític a . D issertação


de M estrado, U S P , São Paulo, 1982.

L acan, J. Intervención sobre la transferencia. In: L e c t u r a E s t r u t u r a l i s t a de


F r e u d . Trad. T . Segovia. M exico, S iglo V einteun o, 1971.

M iles, A . O D o e n t e M e n t a l n a S o c i e d a d e C o n te m p o r â n e a . Trad. V era R i­


beiro. R io de Janeiro, Zahar, 1982.

W innicott, D . W . O B r i n c a r e a R e a lid a d e . Trad. J. A breu e V . N obre. R io


de Janeiro, Im ago, 1975.

50
5
Procedim entos clínicos utilizados
no Psicodiagnóstico

G ilb e r to S a fra

5.1. In trod u çã o

N os últim os anos tem os observado em nosso m eio um a tra n s ­


form ação da m etodologia aplicada ao psicodiagnóstico, ocasionada
p o r u m a revisão do posicionam ento epistem ológico do profissional
na área da Psicologia C línica.
O psicólogo clínico, q u e an terio rm en te em pregava em seu tra ­
balho m étodos e abordagens p ró p rio s de o u tras áreas (m odelos m é­
dicos, estatísticos etc.), passou, a p a rtir das últim as décadas, a se
p o sicionar diante da tarefa diagnostica com m odelos p ró p rio s de
seu cam po de atividades. Assim , à m edida q u e a relação com seu
cliente passou a ser revalorizada com o in stru m en to de con h eci­
m ento e aju d a, surgiram técnicas derivadas de um a abordagem deno­
m inada “ co m preensiva” no diagnóstico psicológico (vide cap. 2 deste
livro).
D e n tro desta nova p erspectiva, q u al é o p ap el dos testes p si­
cológicos? Pensam os que o elem ento p rim o rd ial do processo diag­
nóstico é a cap tação pelo profissional dos fatores p e rtu rb a d o re s e
das angústias básicas do cliente, assim com o dos m ecanism os m ais
im portantes q u e este utiliza p a ra lid a r com suas angústias. O s testes
psicológicos inserem -se aqui com o fonte de obtenção de inform ações
e tam bém com o instrum entos parciais do processo, a serem u tiliza­
dos naqueles casos em que o psicólogo necessite de inform ações

51
adicionais que o auxiliem a co n stru ir u m a visão m ais in teg rad a do
cliente. N a p rá tic a clínica a escolha dos testes é n o rtea d a pela ex­
periência do profissional, com binada com os in stru m en to s n o m o­
m en to disponíveis. A ssim , n ão h á um a bateria-p ad rão , sendo que
cad a estu d o de caso necessita ser considerado d en tro de suas peculia­
ridades.
N ão nos parece ad eq u ad o iniciar-se um trab a lh o ap lican d o tes­
tes psicológicos específicos que p ro p o rcio n am apenas inform ações
m uito parciais e frag m en tárias. É, contudo, de m áxim a im p o rtân cia
a escolha de procedim entos que ofereçam a o p o rtu n id ad e de o cliente
ex p ressar suas angústias e d ificuldades m ais prem entes. C aso essa
necessidade do cliente não seja respeitada, o p ró p rio processo psico-
diagnóstico ver-se-á co n tu rb a d o , pois corre o risco da diluição de
toda a riqueza da com unicação que seria u tiliza d a pelo indivíduo
caso sentisse e sta r sendo co m preendido e aju d ad o de fato.
P o r essa razão vam os ap resen tar neste ca p ítu lo alguns in stru ­
m entos clínicos que p ossibilitam ao psicólogo um co n tato m ais p e­
n e tra n te com a v id a psíq u ica de seu cliente.

5.2. O jo g o de ra b isco s

E ste procedim ento clínico foi ap resen tad o p o r W in n ico tt em


1971 em “ T h erap eu tic C onsultations in C h ild P sychiatry” , com o um a
fo rm a de in teração com a crian ça, ten d o com o o b jetiv o básico estru ­
tu ra r u m a co n su lta com efeitos terapêuticos. A técnica está fu n d a ­
m en tad a n a concepção de espaço tran sicio n al tam bém fo rm u lad a
p o r W in n ico tt (1975).
Q u an d o do n ascim ento do bebê, a m ãe, se fo r suficientem ente
boa, realiza u m a ad ap tação quase com pleta às necessidades do bebê;
este tem a ilusão de que o seio de sua m ãe faz p a rte dele. T u d o se
passa com o se ele fosse de fa to o n ip o ten te: q u an d o necessita de sua
m ãe, ela aparece. O b eb ê recria sua m ãe diversas vezes, a cada m o­
m ento que necessita dela, “ A m ãe coloca o seio real exatam ente
onde o beb ê está p ro n to p a ra criá-lo, e no exato m o m ento” (W in­
n ico tt, 1975). A través da ad ap tação intensa da m ãe é favorecida
a in terp re taçã o subjetiva d a realid ad e feita pelo beb ê que tem , a tra ­
vés desse vínculo, um a experiência de ilusão. W in n ico tt (1975) diz
que esta adap tação d a m ãe dá ao bebê “ a ilusão de que existe um a
realid ad e ex tern a corresp o n d en te à sua p ró p ria cap acidade de c ria r” .
E sta sobreposição en tre a realid ad e ex tern a e a cap acidade criativa
do in d iv íd u o é ch am ada de espaço transicional. É o m eio cam inho
q u e fica en tre a realid ad e ex tern a e a realid ad e in tern a . U m a vez
que tal processo tenha se realizado de fo rm a satisfatória, fornecendo
ao bebê a experiência de criar u m a ilusão, ele estará ap to p ara ser
d esiludido, ou seja, ab d icar de sua onipotência e aceitar a realidade
externa sem sentir-se invadido ou subm etido a ela. T erá a capacidade
de viver de fo rm a criativa e satisfatória, preservando sua espon­
taneidade.
O Jogo de R abiscos é um a técnica clín ica que, de o u tra form a,
ten ta rep ro d u zir as condições p ara o aparecim ento do espaço tran-
sicional en tre psicólogo-cliente, gerando um a situação com o que oní­
rica, o n d e a com unicação de aspectos p ro fu n d o s do psiquism o fica
facilitad a. P or esta razão, a disp o n ib ilid ad e que o psicólogo neces­
sita m a n te r ju n to ao cliente é fu n d am en tal p a ra a eficácia do p ro ­
cesso. P ara isso, o profissional identifica-se com seu cliente, sem p er­
d er sua id en tid ad e pessoal, e ag u ard a que ele realize a com unicação,
sem q u e re r “ tir a r ” a inform ação do cliente. O objetivo é d a r a este
a o p o rtu n id ad e de expressar conflitos a alguém que esteja interessado
em com preendê-lo. D epreende-se que o psicólogo deve estar em
sintonia com a crian ça: a com preensão que terá dela será conse­
q üência desta su a presença viva e p articip an te.
O contato necessita, pois, ser sim ples, sincero e n a tu ra l; so­
m ente assim a crian ça c ria rá u m vínculo de confiança p a ra com o
psicólogo, a fim de p o d er expressar suas angústias. Podem os p er­
ceber que se tra ta de um m étodo em que a personalidade do psi­
cólogo tem bastante influ ên cia sobre a eficiência da abordagem , e
isto constitui sua m aior lim itação, já que não b asta conhecer a téc­
nica. Os resultados vão d ep ender, em grande p arte , d a cap acidade
do profissional ser co n tin en te favorável às angústias do cliente.
P a ra a realização do Jogo de R abiscos usam os folhas de papel
em bran co , de preferência de tam anhos diferentes, dois lápis (um
p ara o cliente, o u tro p a ra o psicólogo). Coloca-se o m aterial sobre
um a m esa e form ula-se a seguinte instrução: “ Faço um rabisco sobre
o papel e você o tran sfo rm a em algum a coisa; depois é a sua vez:
você faz um rabisco e será a m in h a vez de transform á-lo em algum a
coisa” . Faz-se um rabisco q u a lq u e r sobre o p apel, oferecendo-se este
à criança a fim de que ela o tran sfo rm e em um desenho; em se­
guida, ela faz u m rabisco que o psicólogo u sará p a ra fazer um de­
senho. e assim sucessivam ente.
À m edida que os desenhos são realizados, colocam -se as p ro ­
duções espalhadas sobre a m esa ou sobre o chão, onde a criança
possa ter u m a visão p an o râm ica dos m esm os. D este m odo pode re­
to rn ar a um o u a o u tro , se assim desejar.
O tem po de d u ração da entrevista é variável, segundo o ritm o
p ró p rio d a criança. E la term ina q u an d o a com unicação fo i desen­
volvida até o nível em q u e a crian ça expressa suas angústias b á ­

53
sicas. G eralm ente, o tem po de d u ração deste tip o de contato varia
de cin q ü en ta m inutos a um a h o ra e m eia.
U m a das dificuldades en co n trad as neste m étodo, principalm ente
p a ra aqueles q u e se iniciam no seu uso, é p o d er d iscrim in ar em que
m om ento as angústias básicas do cliente são com unicadas. G u an d o
o corre esta com unicação, a crian ça norm alm ente u tiliza m eios a tra ­
vés dos quais d á im p o rtân cia p a rtic u la r a determ inados desenhos (por
com entários verbais, alterações d a fo rm a dos desenhos, m udanças
no ritm o d a sessão, uso de folhas de papel m aiores etc.). Com
freq ü ên cia, nestes m om entos, indaga-se sobre a v id a o n írica d a cria n ­
ça, com p erg u n tas co tipo: “ Você já sonhou com is to ? ” . E la pode,
então, re la ta r sonhos relacionados com o m aterial de seus desenhos
que expressem seus conflitos p ro fu n d o s. A ssim , p o r exem plo, um
m enino de 8 anos de idade, em dado m om ento, tran sfo rm a o rabisco
do psicólogo n a figura de F ran k en stein e an d a p ela sala im itando o
m onstro (en fatizan d o desta fo rm a a im p o rtân cia d a com unicação).
O psicólogo diz-lhe: “ Esse F ran k en stein parece b ra v o , h e in ü V ocê
já sonhou com e le ? ” . A crian ça responde: “ Ah! Já! Sonhei um a
vez que ele co rria atrás de m im , e m e escondi atrás de u m a p e d ia ,
eu tin h a u m revólver de raio laser, atirei nele, ele caiu e eu m e
salvei
W innicott esclarece que, ao lado do v alo r diagnóstico do m é­
todo, h á um valor terapêutico. O e n q u a d ram en to oferecido à cria n ­
ça p ro p icia a ela se sen tir p eran te experiências p ro fu n d as, m uitas
vezes tem idas. A co m p an h ad a pelo psicólogo, pode aproxim ar-se dessas
vivências. E ste co n tato p o d e p erm itir q u e a criança integre aspectos
de sua vida em ocional, ten d o , assim , a possibilidade de se ver livre
de bloqueios q u e paralisavam em certa m edida seu desenvolvim ento.
A técnica não é rígida; ao co n trário , a cria n ç a pode e stru tu ra r
a situação com o m elhor lhe convém . A lgum as vezes, p o r processos
de inibição, ela não consegue realizar o p rim eiro desenho com o
rab isco do en trev istad o r; este, então, pode fazer o desenho, ou, ainda,
em ou tro s m om entos, a p ró p ria crian ça faz o rabisco e o com pleta,
ou faz um desenho quase p ro n to , esp eran d o que o en trev istad o r o
com plete. E m todas estas situações, cabe ao psicólogo adaptar-se às
necessidades expressas p e la criança. C om o vem os, neste tip o de
trab a lh o , o co n tato psicólogo-criança rep ro d u z algum as caracterís­
ticas do co n tato m ãe-bebê: o en trev istad o r oferece-se com o co n ti­
n en te a fim de que a crian ça o use p a ra se p ro p icia r descobertas a
respeito de si m esm a. A crian ça tem a o p o rtu n id ad e de “ e n tra r em
co n tato com o núcleo de seu p ró p rio ser e p a ra ach ar assim , um a
renovação, u m ren ascim en to ” (M arion M ilner, 1978)
Umas das grandes dificuldades desta técnica consiste em que,
sendo n ão-estruturada, facilita a em ergência de núcleos em ocionais

54
m al-elaborados do exam inador. * N ão é utilizável com crianças pe­
quenas (com idade inferior a 5 anos), nem com crianças autistas
ou com problem as orgânicos (com o im obilidade dos m em bros su ­
periores). A lguns autores n arram terem -na em pregado ju n tam en te
com testes psicológicos no processo diagnóstico e tam bém em psi-
co terap ia (q u an d o houve blo q u eio na com unicação) (V ainer, 1975).
De nosso p o n to de vista, é um p ro ced im en to que, q u an d o usado de
form a ad eq u ad a, p ro p o rcio n a à crian ça u m a experiência rica e sin­
gular.

5.3. O p roced im en to de d esen h o s e e stó ria s

P a ra que um cliente possa expressar u m a com unicação verbal


d ireta de suas dificuldades, é necessário q u e h aja cap acidade de re­
pre sen tar sim bolicam ente essas dificu ld ad es. Em crianças e adoles­
centes, os recursos são ain d a insuficientes p a ra rep resen tação sim bó­
lica v erb al. P or esta razão, técnicas in d iretas de com unicação têm
sido desenvolvidas no psicodiagnóstico.
O desenho livre vem sendo utilizad o p o r psicólogos e educa­
dores com o um processo de obten ção de inform ações sobre vários
aspectos da criança (inteligência, p sicom otricidade, v id a afetiv a etc.).
E m nosso m eio, T rin ca (1976) pesquisou e sistem atizou um
m étodo de aplicação de desenhos associados a estórias, que tem se
m o strad o ú til à p rá tic a clínica. E le classificou este m étodo com o
in term ed iário en tre as entrevistas não estru tu ra d as e os instrum entos
projetivos gráficos e tem áticos. Sua fun d am en tação é lastread a em
princípios de associações livres, aliados a princípios de organização
do m aterial, a p a rtir de dados incom pletos ou pouco estru tu ra d o s,
em que o indivíduo ten h a a lib erd ad e de com posição.
P a ra uso deste procedim ento, utilizam -se folhas de papel em
branco tipo ofício, lápis de cor e lápis p re to n.° 2. U m a vez que um
bom r a p p o r t ten h a se estabelecido e exam inador e cliente estejam
sentados fren te a fren te, espalham -se os lápis sobre a m esa, colocan­
do-se a folha de papel em b ra n co em posição h orizontal à fren te
do exam inando. Pede-se-lhe que faça um desenho livre: “ V ocê tem
essa fo lh a em b ra n co e pode fazer o desenho que quiser, com o q u i­
ser” . Feito o desenho, solicita-se que ele conte um a estória: “ Você,
agora, olhando o desenho, pode in v en tar u m a estória, dizendo o .que
acontece” . C oncluída a estória, realiza-se um in q u érito p o r m eio de
perguntas feitas pelo psicólogo, onde se p ro c u ra esclarecer aspectos
ainda não m uito claros do desenho e /o u d a estória. T entam -se enfo­
car idéias in terro m p id as, situações obscuras en tre os personagens do

55
desenho e da estória, e m esm o esclarecer aspectos de cada perso­
nagem (o que irá acontecer com ele, p o r que o correu a situação
d escrita etc.). P ara fin alizar, pede-se ao cliente que dê um títu lo
relativo a esta u n id ad e de produção.
Em seguida, o m esm o procedim ento aq u i descrito é rep etid o
até a obtenção, p ara cada sujeito, de cinco u n id ad es (cada qu al
com posta p o r desenhos, estórias, in q u érito e títu lo ). C aso não haja
possibilidade de se conseguir as cinco u n id ad es de p ro d u ção em um a
ú n ica sessão, m arca-se o u tra sessão (apenas m ais um a) p ara com ple­
ta r o n ú m ero necessário.
N a análise do P rocedim ento de D esenhos e E stórias é ú til le­
var-se em conta seus diversos com ponentes com o aspectos de um
ún ico processo. Isto é, ao estudarm os as cinco un id ad es de p ro ­
dução, geralm ente conseguim os o b serv ar que o cliente ex pressa fan ­
tasias e angústias básicas daquele m om ento de sua v id a. C ada com ­
p o n en te oferece-nos um ângulo de visão a respeito d aq u elas angústias
e fan tasias. Assim , sugerim os que, com o p rim eiro passo p ara a
análise, sejam observados os m ovim entos gráficos e v erb ais p a ra se
delinearem essas angústias e fantasias. Em seguida, estuda-se cada
pro d u ção em p artic u la r, levantando-se as defesas utilizad as n aq u e la
u n id ad e de p ro d u ção , e com o o u so dessas defesas in flu en c ia na
solução dos conflitos etc. Deve-se realizar este trab a lh o p ara cada
um a das un id ad es. Assim é possível que consigam os u m a visão
dinâm ica dos recursos de que o in d iv íd u o lança m ão p ara lidar
com suas situações de conflitos básicos, ob ten d o , desta form a, in fo r­
m ações sobre sua capacidade ad ap tativ a, segundo o tip o de defesa
utilizado.
T em os observado que este m étodo nos dá de fo rm a clara um a
síntese dos aspectos fu n d am en tais do fu n cio n am en to m en tal do
cliente, ou seja, fan tasias e ansiedades básicas, p ontos de regres­
são e fixação, recursos defensivos, capacidade elab o rativ a do e g o ,
tipos de relações objetais etc. P erm ite u m a visão sintética e d inâm ica.
O P rocedim ento de D esenhos e E stórias é de fácil aplicação e
perm ite ser u tilizad o n aq u elas condições onde não h aja m uitos re ­
cursos técnicos à disposição do psicólogo, com o, p o r exem plo, em
instituições (onde o fluxo de clientes é grande e necessitam os co­
n h ecer o essencial do funcionam ento das m esm as).
T rin c a (1976) p ropõe um esquem a referen cial de análise que
pode ser utilizad o p o r aqueles que en tra m em co n tato inicial com
o in strum ento e que encontram m aiores dificu ld ad es de in terp retá-lo .
Ao analisar-se os resultados é necessário te r em m ente a integração
dos diversos dados em um todo coerente.
Q u an d o da apresentação do procedim ento (T rin c a, 1976), foi
observado que deveria ser em pregado p a ra sujeitos na faixa etária

56
de 5 a 15 anos. N o entanto, tem os aco m panhado seu u so em algu­
mas instituições (hospitais, postos de saúde etc.) onde tem sido ap li­
cado inclusive em sujeitos adultos, com ótim os resultados diagnós­
ticos. O in strum ento m antém o seu v alo r de detecção das angústias
básicas e seus m ecanism os de defesa, tam bém em sujeitos adultos.
N estes, apesar d a idade, não h á em sua m aioria resistências obs­
tru tiv as a d esenhar e co n tar estórias, e m uitos deles, à m edida que
realizam a tarefa, se surpreendem ao n o ta r que estão expressando
algo m uito p ro fu n d o de si m esm os.
A utores com o M estrin er (1982) e A l’O sta (1984) estu d aram o
uso do P rocedim ento de D esenhos e E stórias em sujeitos adultos,
esquizofrênicos e m aníacos-depressivos, respectivam ente, co rro b o ran ­
do a eficiência clínica deste m étodo no diagnóstico psicológico.

5.4. O lu d o d ia g n ó stico

Este procedim ento foi ap resen tad o originalm ente p o r A berastury


(1962) com o resu ltad o de observações feitas d u ran te o p rim eiro con­
tato d a crian ça com o analista. Essas observações evidenciaram o
v alo r diagnóstico da en trev ista lú d ica, em que a crian ça estru tu ra
através dos b rinquedos a representação de seus conflitos básicos,
suas principais defesas e fantasias de doenças e cura, p erm itindo,
dessa form a, o aparecim ento de um a perspectiva am p la a respeito
do seu fu n cio n am en to m ental. A berastury sugeriu que possivelm ente
esses fenôm enos surgiam devido ao tem or d a crian ça de que seu
psico terap eu ta repetisse com ela a conduta negativa dos objetos o ri­
ginários que lhe provocaram a p ertu rb ação , e que, agora, prevale­
ceria o desejo de que o p sico terap eu ta assum isse um a função através
da q u al lhe desse condições p ara m elhorar.
D e fato, o valor do jogo e do b rin q u ed o com o form as de expres­
são de conflitos e desejos tem sido salientado p o r diversos autores
que estudaram as form as de expressão infantis.
F reud (1948) descreveu o jogo de um garoto fren te à separação
de sua m ãe, salientando que o b rin q u ed o era um a ten tativ a de ela­
bo ração da angústia sentida pela criança.
K lein (1964), que utilizou o jogo com o m eio de acesso ao in­
consciente in fan til, afirm a que “ a crian ça expressa suas fan tasias,
desejos e experiências de um a fo rm a sim bólica através de jogos e
b rin q u ed o s. A o fazê-lo, u tiliza os m esm os m odos arcaicos e filogené-
ticos de expressão, a m esm a linguagem com que já nos fam iliari­
zam os nos sonhos” .

57
A berastury (1962) diz, baseando-se em suas observações, que,
ao jogar, a criança desloca p a ra o exterior seus m edos, angústias e
problem as in tern o s, dom inarido-os deste m odo. T odas as situações
excessivas p a ra seu ego déb il são repetidas no jogo, e isto perm ite
à crian ça um m aio r dom ínio sobre objetos externos, to rn an d o ativo
o que sofreu passivam ente.
Segundo a opinião de K nobcl (1977), através do jogo a criança
pode projetar angústias e conflitos que de certa fo rm a aparecem ,
assim , o bjetificados, concretizados em objetos igualm ente concretos,
que podem ser m an ip u lad o s num a ten tativ a de elaboração lúdica.
O potencial diagnóstico do jogo é realçad o n a med ia em que
é oferecido à crian ça u m en q u ad ram en to com posto p o r um espaço,
um tem po e um a relação, que a criança estru tu ra segundo sua d in â­
m ica in tern a , articu lan d o com os b rin q u ed o s um texto flexível e
passível de ser com preendido.
O ludodiagnóstico costum a ser realizad o em um a sala p re p ara d a
p ara b rin c a r e jogar, ou seja, um lugar razoavelm ente am plo, fácil
de lim par, onde o en trev istad o r possa perm itir à criança a m anifes­
tação dc suas necessidades de expressão.
O s b rin q u ed o s m ais usados nessa situação são bonecos de p lás­
tico, anim ais dom ésticos e selvagens de plástico, carrinhos de p lás­
tico, cam inhõezinhos, aviões de plástico, b o la, tin tas de diversas co­
res, p ap el sulfite, lápis (preto e de cores), pincel, tesoura sem p o n ta,
cola, b arb a n te , argila, b acia com água etc. Os b rin q u ed o s devem ser
dispostos sobre a m esa, sem u m a ordem ap aren te, h av endo de p re­
ferência um a caixa onde a crian ça possa g u ard ar os brin q u ed o s no
final d a sessão, ou utilizá-la no jogo, se assim o desejar.
Inform a-se à crian ça que ela p o d erá u sa r os b rin q u ed o s da
fo rm a com o quiser. E la costum a fazer perg u n tas a respeito dos
brin q u ed o s, com o, p o r exem plo, “ O que é isso ?” . D eve-se responder
solicitando-lhe associações, p o r exem plo: “ O que lhe parece?” ou
“ O que você a c h a ? ” . E spera-se que com isso a crian ça estru tu re
livrem ente o seu jogo. É im portante o b serv ar com o a crian ça d á
início à estru tu ração , com o dá seqüência aos jogos, com o form ula
com entários verbais etc.
A lgum as vezes, d u ra n te o ludodiagnóstico, a angústia d a criança
cresce a p onto de p a ra lisa r o jogo ou de desejar não perm anecer na
sala. N essas ocasiões, pode-se fazer algum assinalam ento com o fim
de ajudá-la a lid a r com a angústia. E xistem crianças que, devido a
sua pro b lem ática em ocional, rom pem o en q u ad ram en to , exigindo,
assim , a colocação de lim ites p o r parte do profissional.
A ntes do térm ino d a sessão costum a-se avisar a criança do tem po
restan te, p a ra que ela possa se p re p a ra r psiquicam ente p a ra o en­
cerram ento.

58
A m aior dificuldade existente no ludodiagnóstico consiste p re ­
cisam ente na sua avaliação, p o r se tra ta r de m aterial clínico não sis­
tem atizado, d ep endente d o uso da experiência clínica. Podem os, no
en tan to , avaliar a h o ra de jogo p ara diagnóstico sob dois pontos de
vista: o evolutivo e o psicopatológico.
A análise do jogo do p o n to de vista evolutivo foi p ro p o sta p o r
Soifer (1974) com o ten tativ a de desenvolver critérios m ais objetivos
de in terp retação . Com eça pela ordenação dos dados de observação,
tom ando-se cada u m a das m anifestações de co nduta apresentadas
pela crian ça e classificando-as de conform idade com as idades co r­
respondentes dos referenciais d a Psicologia E volutiva. R ecom enda-se
o uso das descrições de G esell (1948) p a ra essa classificação. T a ­
bulando-se esses dados terem os, segundo Soifer, um a descrição do
desenvolvim ento do e g o p ela observação d a freq ü ên cia de co m p o rta­
m entos apresentados (adequados e não adequados à idade da crian ça).
É indício de regressão q u an d o um a co n d u ta é classificada em idade
inferior à cronológica, desde que se apresente en tre co ndutas que
foram classificadas segundo a idade real d a criança.
N o en tan to , se várias condutas correspondem a u m a m esm a
idade abaixo d a cronológica, considera-se que um a p arte do e g o
não pôde desenvolver-se a p a rtir do p o n to de fixação. C ada u m a
das condutas classificadas em idades inferiores à cronológica é com ­
p arad a com conhecim entos a respeito do desenvolvim ento psicos-
sexual, segundo o referencial psicanalítico; os dados assim obtidos
são com parados com os conhecim entos sobre os aspectos sim bólicos
do jogo, o que nos oferece um a visão psicopatológica.
P a ra a in terp retação do conteúdo inconsciente expresso no jogo,
K lein (1969) lem b ra que é preciso lev ar em consideração todos os
m ecanism os e m étodos de representação em pregados, jam ais p e r­
dendo de vista a relação de cad a fa to r isolado com a situação glo­
bal. B rinquedos ou peças de jogo podem ter significados diferentes,
de acordo com cad a m om ento d a sessão. T o d a a verbalização que
ocorre d u ra n te o jogo tem um v alo r associativo que é ú til p ara es­
clarecer o m aterial. E ste, assim ab o rd ad o , é visto com o um a estru ­
tu ra em que certos elem entos se repetem de diferentes m aneiras,
p ro p o rcio n an d o acesso aos eixos desSa e stru tu ra .
D o p o n to de vista psicopatológico, devem os n o tar: as defesas
m ais utilizadas pelas crianças d u ra n te o jogo (obsessivas, negação,
form ação reativ a etc.); as ansiedades (paranóides, depressivas, con-
fusionais etc.); as form as de relações objetais (dependência, subm is­
são, oposição, com petição etc.) e, tam bém , as fantasias inconscientes
expressas (m orm ente aquelas que dizem respeito a doença e cura).
Essas observações conduzem a um q u ad ro nosográfico, caracterizad o
prin cip alm en te p ela especialização em determ inados tipos de defesa.

59
E m seguida, a in terp re taçã o d inâm ica p o d e r á se r com parada
com a classificação evolutiva. O que norm alm ente s e ob tém é um a
co rresp o n d ên cia en tre os dois tipos de análise. P o r ex e m p lo , regres­
sões são en co n trad as ao lad o de fantasias c a ra c te rís tic a s d a idade da
regressão. Isto conduz a um a o p o rtu n id ad e de se o b t e r um a coerên­
cia in tern a p a ra as diferentes interpretações.
O ludodiagnóstico pode, ainda, ser estu d a d o segundo outros
referenciais. E le in fo rm a sobre a capacidade a d a p ta tiv a , criativ a, sim ­
bólica etc. d a criança. Com o vem os, é um p ro c e d im e n to clínico b as­
tan te rico, fornecendo inform ações am plas que p e r m ite m fo rm u lar
opiniões prognosticas, diagnosticas e indicações te r a p ê u tic a s .

5.5. A e n tr e v ista verb al com a criança

A capacidade de v erb alizar é o in stru m en to m a i s característico


da espécie h u m ana. É através do uso do código v e r b a l que o ser
hu m an o tem m aior cap acidade de p en sa r sobre s u a s angústias ou
condições d e vida.
A o observarm os as diversas técnicas p s ic o te ra p ê u tic a s existentes
em nosso m eio, notam os que a m aio r p a rte delas s e ca racteriza por
u tiliz a r o código v erb al com o m eio de explicitação d a v id a em ocional.
Q u an d o a criança exam inada dispõe-se a v e r b a liz a r a respeito
do que se passa em ocionalm ente com ela, deve-se sem hesitação
u tiliza r este m étodo p ara a com preensão d a m esm a. “ Se o especia­
lista resp eita o seu p eq ueno paciente e reconhece a su a id en tid ad e
com o pessoa, não pode deix ar de co n sid erar a n e c e ssid a d e de e n tre ­
vistá-lo. R efiro-m e ao processo em si de fa la r com e le , de in tera tu a r
tecnicam ente p ara conhecer seu p o n to de v ista so b re tu d o o q u e lhe
aco n tece” (K nobel, 1977).
A rfouilloux (1976) com enta que é a en tre v ista v erb al que p er­
m ite o b serv ar os fatos, diferenciando-os dos p ro d u to s im aginários.
A linguagem é não só um processo de co m u n icação , m as é tam bém
um m eio de expressão de angústias, de alívio de te n sã o e in stru ­
m ento fu n d am en tal do pensam ento. N o en tan to , a p o ssib ilid ad e de
d eterm in ad a crian ça utilizar-se desse in stru m en to , n a situação de
en trev ista, d ep en d erá:
a) d o p r o c e s s o d e m a t u r a ç ã o n e u r o p s i c o m o t o r q u e irá p erm itir
o aparecim ento da linguagem com o in stru m en to e s tru tu ra d o r do
m undo; e q u e favorecerá o uso d a linguagem com o fo rm a de vin-
culação afetiva com o o u tro ;
b) d o s p s i c o d i n a m i s m o s d a c r i a n ç a que d e term in a rão as fo r­
m as de o en trev istad o reag ir ao en trev istad o r e à en trev ista.

60
u m a form a-pa-
Assim, não parece ser adeq u ad o o em prego d%^ ter flexibili-
drão de entrevista, já que o en trev istad o r necessii àquela criança
d ade suficiente p a ra a d e q u ar a situação de entrevist .e a crjan ça é
em p a rtic u la r. O profissional deve lem brar-se de » jm pcrícias etc.
extrem am ente sensível a seduções, co ndutas f a l s a s ■interessado em
E la se co m u n icará m elhor com quem esteja de fat<?
com preendê-la e ajudá-la. 3presentando-se
Deve-se receber a criança n a sala de espera, {(ar n a sa[a de
e convidando-a de fo rm a sim ples e receptiva a eí> e h esitan te; se
atendim ento. A lgum as vezes ela se m o stra retraíd a ente a cria n ça
nessas ocasiões o psicólogo lhe estende a m ão, n a tu ra 1
o segue. m ge N estes
Em alguns casos é difícil à crian ça separar-se pedindo-se
casos a en trev ista pode ser realizada em presença d a ^ e a criança,
a esta que não in terfira, que apenas observe e acom j1 acordo com a
O profissional em prega um a linguagem sim ples, d e £ ste n go do-
idade e cap acidade de com preensão de seu c lien te. com unicação,
m ina plen am en te o código lingüístico e, d u ra n te a SUrgirem
m uitas vezes seu discurso v erb al é ro m pido de ^ f l o g o necessita
m anifestações de tip o pré-verbal ou lúdico. O psi^/0 e p articip ar
estar receptivo a todas estas form as de c o m u n ica ç'
delas, caso a crian ça assim o solicite. e c ri ança se
N orm alm ente, no início d a en trev ista, p e rg u n ta -f z _se um breve
sabe o m otivo de sua v in d a à consulta. Em seguida l ‘e sua opinião
relato d aq u ilo q u e se sabe a seu respeito. In d a g a -’^ a sua Verba-
sobre o q u e lh e está acontecendo. Procura-se e s tim u l* ^ b rin q u ed o s,
lização, perguntando-se-lhe sobre o que faz: n a esc o p a jS; irm ãos,
jogos etc. C onversa-se sobre seus heróis p re fe rid o s ' s> m edos etc.
colegas, relacionam ento com anim ais, sonhos, p e sa d e ’ ng entrevista.
As perg u n tas devem aco m p an h ar o clim a c ria d tf <0 d iretam ente
P or exem plo, não se in icia u m a en trev ista p e r g u n ta n ^ jta s apenas a
sobre pesadelos ou tem ores. E stas p erg u n tas serão f a j encontra-se
p a rtir do m om ento em que o vínculo com o p ro fissi o ^ r a com unicar
estabelecido, e a crian ça se sente m ais con fian te p
suas angustias. ^ perguntas
N ão cabe ao en trev istad o r u sa r c o n tin u a m e n te ^ ü d a de é c o n -
(como é h a b itu a l em entrevistas d irig id as), pois a fií* sua vida. Em
v e r s a r com a criança sobre seus p roblem as e tem as d e sente q u e foi
um a en tre v ista bem co n d u zid a a crian ça nem se q u e r de fato, o en-
en trev istad a, m as sim que conversou com alguém . Se, te r a oportu-
trev istad o r estiver em co n tato com a crian ça, p o d e r á v jd a interior,
n id ad e de observá-la expressando de form a rica a s u a
61
A ssim , p o r exem plo, ao fa la r de seus heróis., ela os im ita, desenha
veículos que eles utilizam ou conta o últim o episódio assistido na
televisão. N enhum a crian ça terá esse tipo de expressão fren te a üm
en tre v ista d o r frio , q u e só deseja tira r inform ações e que evita re la­
cionar-se de fo rm a p len a com ela. W in n ico tt (1971) disse: “ Se lhe
oferecerm os a po ssib ilid ad e de m an eira a d e q u ad a no q u ad ro lim i­
tado do contato profissional, o cliente tra rá e revelará (de início com
algum a hesitação) seu p ro b lem a de m om ento, seu conflito afetivo
ou ain d a o esquem a de tensão que é o seu nesse p erío d o de sua
v id a ” .
M ais ad ian te W innicott (1971) tam bém afirm a que, se a ver­
balização n ão lev ar a n a d a em p artic u la r, é p o rq u e não se está dis­
posto, naq u ele m om ento, a u sa r de m aneira d elib erad a e profissio­
n al do m aterial oferecido pela criança, que se to rn a difuso e can­
sativo. P o r ou tro lado, a en trev ista torna-se interessante q u an d o o
paciente a d q u ire logo a certeza de q u e po d erá en c o n tra r em seu in­
terlo c u to r um a certa com preensão e q u e u m a com unicação em nível
p ro fu n d o n ão está excluída.
A pós a en trev ista v erbal poderem os ter o b tid o inform ações sobre
angústias básicas, relações objetais, m ecanism os de defesa m ais u sa­
dos, atenção, cap acidade de elaboração, am p litu d e de interesses etc.
O p o n to negativo deste tip o de entrevista está em que se m ostra
pouco eficaz com crianças que se sentem m uito perseguidas e
inibidas.

5.6. T e s te s p s ic o ló g ic o s u su a is n o p sic o d ia g n ó stic o

O s testes psicológicos são in strum entos valiosos p a ra o escla­


recim ento de pontos im p o rtan tes do psicodiagnóstico. E n treta n to ,
d u ra n te m u ito tem po eles fo ram in adequadam ente usados pelo p si­
cólogo com o um a form a defensiva ao co n tato com o seu cliente, d ifi­
cultando a este en c o n tra r no processo diagnóstico um espaço próprio
p a ra a expressão de suas angústias.
N orm alm ente, o cliente p ro cu ra atendim ento tem endo en con­
tra r reproduções de seus objetos in tern o s am eaçadores. P or essa
razão n ão parece ser adeq u ad o logo no prim eiro co n tato u sa r testes
psicológicos que n ão ofereçam o p o rtu n id ad es p a ra o fortalecim ento
do vínculo psicólogo-cliente.
A escolha dos testes psicológicos deverá estar em função das
entrevistas, de observações clínicas e dos resultados do uso de p ro ­
cedim entos m enos estru tu rad o s. O u tro elem ento a ser realçado é a

62
ordem de aplicação dos testes. N ão é conveniente aplicarm os um
teste de inteligência antes de um teste projetivo, pois assim pro ce­
dendo po d erá o co rrer que a realização do prim eiro influencie na
execução do segundo. Com o norm a geral, que deverá ser ad a p ta d a
segundo a n atu re za do caso, recom endam os a seguinte seqüência
de passos: procedim entos não estru tu ra d o s, testes projetivos, testes
psicom otores, testes de inteligência etc.
N ão é nosso objetivo ap resen tar e desenvolver aspectos teóricos
e práticos de cad a teste, já que existe extensa e copiosa lite ra tu ra
a esse respeito. M as crem os ser ú til a p o n ta r os testes psicológicos
m ais usados em nosso m eio. C lassificam os os testes existentes em
três grandes grupos: projetivos, psicom otores e de inteligência.

5.6.1. T e s te s P r o je ti v o s

O s testes projetivos oferecem a possibilidade de, em cu rto p e­


río d o de tem po, obterm os inform ações sobre diferentes níveis de
funcionam ento d a p ersonalidade. P ara isso são oferecidos ao cliente
estím ulos pouco estru tu ra d o s, que ele org an izará (de conform idade
com aspectos de seu m undo in tern o , in clu in d o angústias, conflitos,
defesas, relações objetais etc).
E n tre as diversas técnicas projetivas, algum as têm sido usadas
com m aior freqüência. E n tre elas citam os:

a) T .A .T . (T hem atic A p perception T est) de M urray (1964)


P ro cu ra rev elar em oções, sentim entos, com plexos e conflitos do ­
m inantes n a p ersonalidade, através d a análise de estórias relatadas
a p a rtir de determ inadas p ran ch as que são apresentadas ao sujeito.
E stas p ra n ch as sugerem cenas q u e p ro c u ram ex p ressar situações de
angústia. F rente a elas o sujeito m obiliza seus recursos internos a
fim de e stru tu ra r u m a estória que con ten h a a angústia evocada pela
p ra n ch a. T rata-se de um teste b astan te u sad o na clínica psicológica,
d estinado à observação de aspectos dinâm icos d a personalidade.

b) C .A .T . (C h ild ren ’s A pp ercep tio n T est) de B eliak e Beliak


(1964)

U sado p a ra crianças de 3 a 10 anos, é com posto p o r 10 p ra n ­


chas. Sua in terp retação é sem elhante à do T .A .T . E xiste um a form a
em que os personagens são anim ais (C A T-A ). P ara crianças que
ev entualm ente rejeitam esses estím ulos, h á u m a form a p aralela em
que os personagens são seres hum anos (C A T -H ).

63
c) P sicodiagnóstico de R orschach
É um m étodo que envoive a análise de um a am ostra da p ercep ­
ção do sujeito. P ara isso, é-lhe ap resen tad a um a série de m anchas
com o estím ulo p erceptivo. Sua aplicação e avaliação d epende ds
g ran d e hab ilid ad e clínica; p o r essa razão, deve ser utilizad o por
especialistas na técnica. É de grande valor q u an d o se deseja um
diagnóstico da e stru tu ra da p ersonalidade, com am plas possibilidades
p a ra se estabelecer diagnósticos diferenciais.

d) D esenho de F am ília

Este teste, assim com o outros testes gráficos, foi estudado


p o r H am m er (1969). Solicita-se ao in d iv íd u o o desenho de um a
fam ília. A pós sua execução, faz-se um in q u érito b u scan d o investigar
os diversos vínculos do exam inando com os m em bros e a estru tu ra
de sua fam ília. A través de seu uso procura-se localizar a posição do
sujeito em sua e stru tu ra fam iliar, bem com o as fan tasias associadas
a cada elem ento presen te no traç ad o gráfico.

e) D esenho d a Figura H u m an a

P or m eio do desenho d a fig u ra h u m an a busca-se o b serv ar a


im agem co rp o ral que o sujeito possui de si m esm o, a e stru tu ra psí­
q uica que o constitui e a capacidade de o indivíduo orientar-se e
conduzir-se em um a situação determ in ad a, adaptando-se a ela.

f) H .T .P .

A través dos desenhos de um a casa, um a árvore e um a pessoa,


pretende-se o b serv ar a im agem in te rn a que o cliente tem de si
m esm o e de seu am biente. O s desenhos têm grande p o d e r sim bó­
lico, saturados de experiências em ocionais e ideacionais ligadas ao
desenvolvim ento da personalidade.

5.6.2. T e s te s P s ic o m o to r e s

M uitas vezes, no psicodiagnóstico, h á necessidade de se inves­


tig ar a form a com o o sujeito in stru m en ta suas funções m otoras
P ara isso existem testes psicológicos q u e estudam essas funções, do
p o n to de vista de sua n o rm alid ad e ou alteração. T em os o teste de
S tam back, que p ro c u ra o bservar se o sujeito é cap az de re p ro d u zir
estru tu ra s rítm icas; o teste de P iaget-H ead, que exam ina a la terali­
dade; o teste de B ender, que estu d a aspectos perceptivo-m otores,

64
sendo de grande valia ne. detecção de sinais indicadores de dis­
tú rb io s neurológicos.
U ltim am ente têm sido utilizados em grande extensão roteiros
de exam es psicom otores, com postos de diversos ite n s .q u e recobrem
as diferentes funções m otoras. C abe ressaltar que às vezes é possível
co rrelacio n ar distúrbios psicom otores com características dinâm icas
da perso n alid ad e.

5.6.3. T e s te s d e I n te lig ê n c ia

N esta categoria encontram -se os testes que, p o r apresentarem


aos .u je ito s p roblem as ou tarefas intelectuais específicas, extraem
inform ações sobre a inteligência, d efin id a com o sendo a capacidade
de resolução de problem as. O s m ais conhecidos são a E scala W es-
chsler (W isc-W ais), onde os itens de conteúdos sem elhantes são agru­
pados em subtestes e organizados em o rd e m de d ificu ld ad e cres­
cente; o T erm an-N enill, em que os conteúdos são organizados p o r
níveis de idade, com arranjos de itens a p a rtir de 2 anos de idade
até a idade ad u lta. Em nossa o p inião, são testes que avaliam a cap a­
cid ad e ad a p ta tiv a do sujeito. P or isso, se a capacidade ad ap tativ a
estiver alterad a p o r fatores alheios à inteligência, a pro d u ção nesses
testes estará tam bém alterad a. H á, co n tu d o , testes de inteligência
q u e tentam co n to rn a r esse pro b lem a p o r m eio da avaliação de o u tro s
recursos. C onstitui exem plo dessa ten tativ a o T este de R aven, que
b u sca aproxim ar-se do que é conhecido com o fa to r G (definido
com o o potencial de inteligência possuído pelo sujeito).
D e q u alq u er form a, n a avaliação do nível intelectual, é m ister
realizar-se um a análise q u alitativ a d a p ro d u ção o b tid a nos testes.
E sta análise leva em conta fato res em ocionais que possam alterar
o desem penho in telectu al do sujeito.

5.7. B ib lio g ra fia

Aberastury, A . T e o r i a y T é c n ic a dei P s ic o a n a lis is de N ifio s . B uenos A ires,


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65
Beliak, L. e Beliak, S. S. M anuel du T est D ’ A p p e r c e p tio n pour E n fa n ts
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W innicott, D . W . O B r in c a r e a R e a lid a d e . R io de Janeiro, Im ago, 1975.


6
Entrevistas clínicas

M a r y D o lo r e s E w e r to n S a n tia g o

6.1. In trod u ção

O term o e n t r e v i s t a significa en co n tro e conferência de duas ou


m ais pessoas em um local p red eterm in ad o p a ra tra ta r de um assunto.
N o caso da en trev ista psicológica, o assunto se relaciona a um
pedido de a ju d a feito a um profissional (psicólogo), sendo que a
pessoa que o faz, via de regra, encontra-se num m om ento em que
seu bem -estar em ocional está am eaçado. O u tra s vezes, o pedido é
feito p o r insistência de terceiros (am igos, escolas, m édicos etc.).
T an to no prim eiro com o no segundo caso, o fato de ser um en­
contro p a ra a form ulação de um pedido de aju d a já sugere a dife­
rença en tre aquele q u e p ro cu ra e aquele q u e é p ro cu rad o (entre
aquele q u e tem dificuldades que não consegue resolver p o r si só e
o u tro q u e se dispõe a ajudá-lo), o que facilita o desenvolvim ento
de um a relação assim étrica. É im p o rtan te considerar este aspecto a
fim de n ão p e rd e r de vista o longo cam inho que m uitas vezes p e r­
correu o indivíduo até p o d er chegar ao consultório do profissional.
A en trev ista psicológica se constitui, p o rtan to , n a relação esta­
belecida en tre duas ou m ais pessoas d en tro de um m arco referencial
estabelecido, sem p e rd e r de vista que ela se caracteriza p o r ser b a ­
sicam ente um a relação h u m an a. N este sentido, o psicólogo deve ser
considerado tam bém com o um dos elem entos que influem nos fenô­
m enos que p o d erão em ergir nesta situação; no entanto, sua in ter­
venção deve ser de tal form a que não os determ ine. C om isto que-

67
rem os d izer que o psicólogo deve p erm itir que o cam po d a e n tre ­
vista se configure essencialm ente em função d a e stru tu ra psicológica
p a rtic u la r do en trev istad o . Som ente assim po d erá o b ter conhecim ento
de alguns aspectos da p ersonalidade do últim o, com o tam bém dos
m otivos que o levaram a solicitar a entrevista. A fo rm a e o con­
teú d o do seu relato p o ssibilitam ao psicólogo e n tra r em contato com
as angústias, ansiedades e defesas que estão sendo ex pressadas nesta
com unicação. Isto supõe que a técnica u tilizad a n a en trev ista ini­
cial, p rin cip alm en te, seja da entrevista ab e rta e que todos os fen ô ­
m enos observados na m esm a (tran sferên cia, co n tratran sferên cia, tipo
de com unicação v erb al e não-verbal etc.) sejam levados em conside­
ração a fim de se o b ter u m a com preensão d a pessoa que solicita
ajuda.

6.2. A im p o rtâ n cia de um m a rco referen cial na


e stru tu r a çã o da e n tr e v ista

N a en trev ista in icial é que tem lu g ar o estabelecim ento de um


m arco referencial. E ste tem com o fin alid ad e m an ter constantes certas
variáveis que dizem respeito a: 1) objetivos do tra b a lh o ; 2) papel
do psicólogo; 3) lugar e h o rário cias entrevistas; 4) d u ração ap ro ­
xim ada do trab a lh o ; 5) honorários.
É necessário q u e estas constantes sejam m an tid as p o r p a rte do
psicólogo, u m a ^ez que q u aisq u er m odificações in tro d u zid as (m u ­
d an ç a de sala de atendim ento, p o r exem plo) fu ncionam com o va­
riáveis que intervêm no contexto da relação, im pedindo um a com ­
preensão clara dos fenôm enos que possam em ergir, tais com o: an ­
siedades confusionais, reações de ho stilid ad e etc. P o rtan to , som ente
com a m anutenção de um m arco referencial é possível estu d ar, an a­
lisar e in te rp re ta r os fenôm enos que nele aparecem .
R olla (1971) considera que h á um “ período de in stru çõ es” da
en trev ista e enfatiza q u e ele deve ser explícito, concedendo um a
m argem m ínim a de dúvidas ao paciente. A firm a que o processo de
identificação do profissional e do paciente é im p o rtan te, e m esm o
q u e o p rim eiro já possua alguns dados sobre o segundo (nom e, so­
brenom e, idade, endereço etc.) deve coletá-los novam ente ju n to ao
paciente p a ra que este se sinta auto e alopsiquicam ente o rientado.
In fo rm a q u an to tem po de d u ração terá a en trev ista e que o paciente
p o d erá usá-lo p a ra expressar-se livrem ente, e que intervenções po­
d erão ser feitas q u an d o se ju lg ar necessário, seja p a ra esclarecer
algo, p e rg u n ta r algum d ad o a m ais ou fazer algum a consideração
que parecer o p o rtu n a. A dverte tam bém o paciente que tom ará al­

6 8
gum as n o tas p a ra fazer u m a reco n stru ção e que, no fin al, com uni-
car-lhe-á as conclusões d a(s) en trev ista(s). Segundo R olla, com este
procedim ento se elim in a u m a fo n te cap az de d eterm in ar ansiedade
no paciente, e que às vezes cn cobre a que o sujeito tra z em relação
à sua problem átic?.

6.3. A relação p sic ó lo g o -p a c ie n te n a e n tr e v ista


p sic o ló g ic a

A relação psicólogo-paciente im plica reações e im pactos em o­


cionais com o os existentes em todo o co n tato hu m an o . São justam ente
eles q u e fornecem ao psicólogo u m conhecim ento in tu itiv o do p a­
ciente e lh e perm item ap ro fu n d ar a investigação das entrevistas.
O bserva-se, p o rta n to , q u e as p ró p rias em oções do psicólogo se cons­
tituem em um dos seus in strum entos de trab alh o . Isto posto, depa-
ram o-nos com o fato de que esse p ro fissio n al precisa dispor, aiém
de um m arco referencial e de recursos intelectuais, de suas p ró ­
p rias em oções. C om estes elem entos o psicólogo p o d e o b serv ar,
id en tificar e an alisar os fenôm enos que ocorrem em si m esm o, no
paciente e en tre am bos. A ssim , p o d erá chegar a u m a com preensão
desta relação que é de sum a im p o rtân cia p a ra o em preendim ento
de q u a lq u e r trab a lh o clínico, u m a vez que ela o perm eia cons­
tantem ente.

6.4. A e n tr e v ista inicial

A en tre v ista in icial se caracteriza p o r ser o p rim eiro encontro


en tre o psicólogo e o p acien te, p o d en d o ser co n sid erad a um a si­
tuação desconhecida p a ra am bos, o q u e talv ez faça com q u e tan to
um q u a n to o u tro sintam m uito tem or fren te a ela. P or isto, psicó­
logo e paciente podem ir p a ra a p rim eira en trev ista com idéias
preconcebidas. O s tipos de idéias que atu am antes do contato ini­
cial dependem das características de perso n alid ad e de cada um
dos elem entos envolvidos n a fu tu ra relação, e surgem p ela neces­
sidade de tran sfo rm ar a situação desconhecida que causa tem or
nu m a situação já conhecida, fam iliar, a fim de que o receio seja
dim inuído. A ssim , o paciente pode ir p a ra a p rim eira en trev ista
im aginando “ sa b e r” a quem se dirige ou com quem irá conversar,
e o q u e vai oco rrer. P ode até g en eializar suas experiências com

69
o u tro s profissionais p ara o psicólogo, considerando-o, de antem ão,
“ com preensivo” ou “ a u to ritá rio ” etc. O m esm o é passível de ocor­
re r com o psicólogo: pode ten d er a u m a caracterização do paciente
antes m esm o de tê-lo visto (idéia que form a a p a r tir do nom e do
paciente, do m odo com o o m esm o solicitou a consulta, de quem o
encam inhou etc.). É, p o rtan to , o m edo do desconhecido que aciona
alguns m ecanism os de defesa, fazendo com que o psicólogo e o p a­
ciente se p re p are m p a ra a situação de encontro.
T al fato pode to m ar-se perigoso n a m edida em que o psicó­
logo se apegue às caracterizações iniciais que faz a respeito do p a ­
ciente, sem lev ar em conta a atitu d e real do m esm o. A m anutenção
dessas idéias im pede sua percepção d a situação ex p erienciada, po­
d endo ser u sada, com o estereótipo, de form a defensiva. O que está
em jogo aq u i é a sobreposição de u m a situação im aginária sobre
a real, sendo esta ú ltim a acobertada pela p iim e ira. E n treta n to , ir
p a ra a en trev ista ab so lu tam en te desprovido de q u alq u er idéia é p ra ­
ticam ente im possível. M as, ain d a que todos esses elem entos existam
e possam p erm e ar a relação psicólogo-paciente, faz-se necessário re­
fle tir sobre eles a fim de g aran tir a objetividade d o tra b a lh o clí­
nico. O m odo com o o paciente solicita a consulta (se p o r telefone,
pessoalm ente, através de outros etc.) e a form a com o trata as p ri­
m eiras regras que lhe são fixadas (lugar e h o ra d a consulta) são
im portantes e devem ser registrados, m as só podem ser com preen­
didos no contexto total d a entrevista.
É , p o rtan to , no contato direto com o paciente, n a en trev ista
inicial, que podem os sab er c o m o ele é e p o r q u e solicitou a consulta.
N o caso do diagnóstico in fan til, a p ro c u ra é feita pelos pais
ou responsáveis pela criança, sendo esta caracterizad a p o r eles
com o paciente. M uitas vezes, os pais vêm com a expectativa de que
o pro b lem a d a crian ça seja solucionado, isto é, consideram a situa­
ção diagnóstica com o um a situação tera p êu tica (m ágica, evidente­
m ente, um a vez que supõem que os conflitos e sintom as deles decor­
rentes desapareçam no lim itado prazo de tem po em que se realiza
o diagnóstico). Isto se d á não só pelo desconhecim ento dos pais do
que seja um processo psicodiagnóstico e um processo psicoterapêu-
tico, m as tam bém p o r outras necessidades, tais com o: de que o psi­
cólogo se encarregue dos problem as do filh o e os trate , ou de que
o psicólogo resolva rap id am en te a situação que os incom oda. C abe
ao psicólogo investigar estas expectativas no atendim ento inicial e
ir m ostrando-as aos p ais, pois, caso co n trá rio , estes sentir-se-ão fru s­
trad o s, pouco com preendidos em suas necessidades e pouco dispo­
níveis p a ra aceitar os encam inham entos propostos com o necessários
p a ra a resolução da pro b lem ática apresentada.

70
b ib l io t e c a - FACULOADE w t á g o r a s

É claro que nem sem pre as expectativas dos pais podem ser
ex p licitad as, ou p o rq u e lhes é difícil (“ não agüento m ais m eu filho,
cuide d ele” ) ou p o rq u e estão a um nível inconsciente. N estes casos,
é im p o rtan te que o psicólogo faça alguns assinalam entos não so­
m ente p a ra que os pais possam e n tra r em contato com as suas ex­
pectativas, m as tam bém p a ra esclarecer o objetivo do trab a lh o que
está sendo realizado, E ste aspecto é m u ito relevante p o rq u e im plica
tam bém na definição do p ap el do psicólogo na situação diagnóstica
e, q u an d o negado, acarreta graves prejuízos que afetam a p ró p ria
relação (o psicólogo não reconhece o desejo dos pais e, portanto,
n ão é sensível às suas inquietações, possibilitando assim que c s pais
m antenham suas idéias iniciais com relação ao trab a lh o que está
sendo desenvolvido) H á aqui u m a disto rção n a com unicação po rq u e
o psicólogo n ão “ o u v e” o que o paciente diz, desenvolvendo-se então
u m a situação alienada e alien an te, u m a vez que cad a um dos ele­
m entos dessa relação se rep o rta ao o u tro que não é aquele que está
ali de fato.
O psicólogo tem que estar envolvido no processo de psicodiag-
nóstico, n ão som ente p o rq u e ele é u m a variável n a relação de en tre­
v ista (isto p o rq u e ele é d a m esm a n atu re za de seu objeto de estudo,
p aciente), m as tam bém p o rq u e é a p a r tir d a in stru m en tação d a con-
tratra n sferên cia que ele pode co m p reen d er o paciente. E m o u tras
palavras, a reação em ocional, o im pacto afetivo que o paciente p ro ­
voca n o psicólogo pode ser ú til p a ra este n a m edida em que o ajuda
a com p reen d er os tipos de vínculos que o paciente estabelece e que
são, algum as vezes, p roblem as dos quais ele se queixa. Se o psicó­
logo n ão consegue se en v o lv er no processo, isto é, q u an d o se m a r­
ginaliza, sua com preensão fica m ais lim itad a e lh e im possibilita d e­
senvolver um trab a lh o com o b jetividade, E sta depende ju stam en te de
sua inserção n o processo e das considerações sobre sua pessoa no
m esm o. A ssim , o psicólogo tem q u e constantem ente re fletir sobre
suas p ró p ria s atitu d es d u ra n te a en trev ista e v er se elas não são a
causa de algum a reação do paciente. P a ra tal é necessário que ele
d isp o n h a de um conhecim ento sobre sua pessoa, que lhe p erm ita
se n tir m enos m edo de suas p ró p ria s em oções e utilizá-las com o ins­
tru m en to de trab a lh o . T a n to no psicólogo com o no pacien te su r­
gem em oções d u ra n te o aten d im en to ; a d iferen ça é que o p rim eiro,
d ispondo de um conhecim ento sobre si m esm o, pode experienciá-las
sem tan to tem or, reconhecê-las e até usá-las p a ra a p ro fu n d a r seu
conhecim ento a respeito d o paciente. Tem os, en tão , u m a situação
ap aren tem en te p arad o x al na psicologia clínica: a o b jetividade de­
corre justam ente d a po ssib ilid ad e de se in clu ir o subjetivo com o
elem ento de análise.

71
Com o a en trev ista in icial, quan tío se tra ta de realizar o diagnós­
tico psicológico d a crian ça, é fe ita com os p ais o u responsáveis,
torna-se possível tam bém o b ter um conhecim ento sobre os m esm os,
ain d a q u e o objetivo p rim o rd ial seja a com preensão do q u e ocorre
com a criança. É nesta en trev ista que os pais expressam o que os
levou a p ro c u ra r um psicólogo. Com o a en trev ista é ab e rta, a form a
com o os pais e stru tu ra m suas queixas é significativa. V ia de regra,
o assu n to q u e os pais escolhem p a ra fa la r é aquele sobre o q u al
p o d e m falar. A in d a q u e o psicólogo ten h a a in tu ição de q u e não é
o v erd ad eiro m otivo da consulta, convém resp eitar os lim ites dos
pais e ex p lo rar o tem a ab o rd ad o , u m a vez q u e é nele q u e os m es­
m os centram sua atenção e, p o rtan to , aquele com o qual o psicólogo
p o d e tra b a lh a r no m om ento. In ic ia r u m a investigação p o r coorde­
nadas q u e o psicólogo supõe im p o rtan tes em p reju ízo do q u e m an i­
festam ente se expressa com o m ais relevante na fala dos pais, pode
re su lta r em fracasso p o r não en c o n tra r m otivação ou disp o n ib ilid ad e
p o r p a rte deles. A ssim , to d a p esquisa deve ser feita a p a r tir do m a­
terial referido pelos p ais, deixando-se p a ra um m om ento m ais ade­
q u ad o aq u e la passível de lhes p ro v o c ar m aio r tem or. E xcetuam -se
aq u i aquelas situações em que a relação psicólogo-paciente possa fi­
car b lo q u ead a em fu n ção de algum as atitu d es dos pais, tais com o:
atrasos ou faltas às entrevistas, expectativas n ão p ertin en tes à função
do psicólogo etc. T ais fatos devem ser considerados e discutidos já
q u e expressam tem ores e ansiedades q u e im pedem q u e a investiga­
ção diagnóstica se efetive adeq u ad am en te. Assim , cabe ao psicólogo
estar sem pre aten to a com o se desenvolve a relação e n tre ele e
os pais.
A utilização d a técnica de en tre v ista ab e rta p o d e d esp e rtar
m aio r an siedade no p acien te p o rq u e ele tem q u e re co rre r aos seus
p ró p rio s referenciais in tern o s p a ra e s tru tu ra r seu discurso nessa si­
tuação desconhecida. D o m esm o m odo, o psicólogo p o d e tornar-se
m ais ansioso, não som ente p o r m edo do desconhecido, m as tam bém
p o r n ã o e n ten d e r o q u e o pacien te diz, o q u e efetivam ente o m o­
tivou p a ra a co n su lta etc. Isto p o d e p ro v o c ar no psicólogo o senti­
m ento de incom petência e im potência. N o en tan to , som ente se ele
reconhece e su p o rta os lim ites do seu conhecim ento naquele m o­
m ento é que p o d e v ir a conhecer de fato o paciente. O que parece
o co rrer, algum as vezes, é q u e o psicólogo não su p o rta u m a situação
desorganizada tal com o p o d e se d a r q u an d o a en tre v ista é ab e rta,
p ro c u ran d o organizá-la atrav és de intervenções q u e m odificam o
cam po da en trev ista, p a ra ev itar se v er d ian te do caos (exem plo:
dirigindo a en trev ista, b lo q u ean d o a expressão v erb al do paciente
etc.). N este tip o de en trev ista, o psicólogo se fru stra q u an d o espera
que o paciente ex p o n h a claram en te suas queixas; via de regra, este

72
vem confuso ou com inform ações que não consegue relacio n ar, en ­
ten d er, e é p o r isto m esm o que busca o auxílio do profissional.
U m o u tro aspecto a ser considerado pelo psicólogo diz res­
peito à atitu d e dos pais p a ra com o pro b lem a do filho, isto é, pode­
rão e sta r p ro c u ran d o aju d a p o r iniciativa p ró p ria ou p o rq u e foram
encam inhados p o r terceiros. N o p rim eiro caso, o que se observa
com m aior freq ü ên cia é que os pais colaboram e se envolvem m ais
n o processo de psicodiagnóstico, um a vez q u e percebem o problem a
do filho e que, de algum a form a, suas atitudes podem te r co n tri­
b u íd o p a ra isto. Ê im p o rtan te que o psicólogo teco n h eça e com ­
p re en d a que os pais, nestes casos, podem v ir p ara a en trev ista sen­
tindo-se culpados e com receio de serem julgados. A situação é
d iferen te q u an d o os pais vêm ao consultório en cam inhados p o r te r­
ceiros (neurologista, p ed iatra, p ro fesso ra etc.). Q u a n d o isto ocorre,
torna-se m ais difícil co n tar com sua colaboração, p o rq u e eles, até
então, n ão aten ta ram p a ra o fato de q u e algo com seu filho n ão ia
bem . E m o u tras p alav ras, não p erceb eram o problem a do filho, ne­
cessitando que o u tro elem ento do m eio am b ien te lhes cham asse a
atenção p a ra tal. P o r vezes, os p ais usam os ou tro s profissionais
com o interm ediários: relatam q u e “ a p rofessora foi q u e m andou
p o rq u e ele é in q u ieto , não p re sta atenção, não grava n a d a ” . O s p ró ­
p rios pais podem até co m p artilh ar estas queixas, porém as expressam
p a ra o psicólogo com o sendo de terceiros, p a ra se defender não so­
m ente da situ ação diagnóstica (colocando-se, p o r exem plo, com o
m eros rep resen tan tes d a p ro fesso ra), m as tam bém da percepção de
seu vínculo com o filho. Q u a n d o esta situação ocorre é interessante
investigar o p o n to de v ista dos pais e o q u e eles pensam a respeito
do filho. Caso co n trário , eles não se envolvem no processo diag­
nóstico.
Se a crian ça fo r tra z id a n a e n tre v ista in icial deverá ser in clu íd a
n a m esm a, pois sua exclusão poderá m o strar q u e ela n ão é im por­
tan te e favorecer atitu d es de d esco n fian ça, negativism o etc. N o caso
em q u e a crian ça é in clu íd a, a en trev ista se lim ita à queixa, convi­
dando-se tam bém a crian ça a fa la r sobre este assunto. N a ocasião,
não se faz um a p esquisa sobre o desenvolvim ento da crian ça (se
foi desejada, se h o u v e abortos etc.) e nem sobre situações em ocionais
de tensão, um a vez q u e ansiedades intensas podem surgir. A e n tre ­
vista em conjunto restringe-se, en tão , às queixas e estabelecim ento
do contrato.
Q u a n d o a en tre v ista é re alizad a com o grupo fam iliar obtem os
elem entos m uito significativos p a ra a análise, pois podem os o bservar
com o os diversos m em bros se relacio n am , quais os papéis que as­
sum em e q u al a atitu d e q u e adotam em relação ao paciente.

73
6.5. À s e n tr e v ista s su b seq ü en tes

A investigação necessári? p a ra se realizar u m psicodiagnóstico


inclui não som ente aquele que é caracterizad o com o paciente — no
caso, a crian ça — m as tam bém to d as as com plexas interações do
grupo fa m iliar ao q u al pertence. Isto significa que h á necessidade
de p esq u isar o sistem a fam iliar e co m preender a crian ça e sua p ro ­
b lem ática a p a rtir daí. Caso co n trário , todo o pro ced im en to u tili­
zado está falseado desde o início: co nsiderar a crian ça com o desvin­
cu lad a da situação fam iliar é aceitar a idéia de q u e ela, sozinha,
desenvolveu-se e q u e os fracassos ou sucessos em sua evolução de­
vem-se a ela som ente. N egar que os tipos de v inculação estabelecidos
no processo de desenvolvim ento possam cristalizar certas condutas
norm ais o u patológicas q u e os indivíduos ap resentam , seria negar a
im p o rtân cia d a p ró p ria vida de relação que é com um aos seres
h um anos.
N a realidade, a investigação necessária não se refere som ente
ao processo evolutivo d a crian ça em seu m icrom undo social (que é
basicam ente sua fam ília), m as tam bém deve lev ar em consideração
o m acrom undo social, com todas as influências sócio-econôm icas,
políticas e cu ltu rais.
K nobel (1977) en fatiza a im p o rtân cia de conhecer a “ história
v ital ’ da crian ça, isto é, a süa h istó ria cronológica biopsicossocial
e d a fam ília até o m om ento em que ela vem ao consultório, para
p o d e r fo rm u lar um diagnóstico, av a lia r um prognóstico e p lan eja r
u m a estratégia terap êu tica. C onsidera que a “ h istó ria v ita l” com eça
desde o m om ento da concepção (se a criança foi d esejada ou não,
condições d a fam ília n a época etc.) e inclui todos os elem entos que
possam in flu ir no desenvolvim ento d a crian ça (investigação sem io­
lógica). A “ h istó ria v ita l1’ é o b tid a através de um a b o a anam nese
q u e p erm ita reco n stru ir o m ais adequ ad am en te possível o p erfil evo­
lutivo d a criança.
T am bém a nosso ver, a p esquisa necessária p a ra u m psicodiag­
nóstico se alicerça nos dados, nas in ter-relações destes, assim com o
n a fo rm a com o são configurados pelos pais no d eco rrer das en tre­
vistas. A seleção das inform ações, as pau sas em seus relatos, as
inibições no processo m nêm ico, as em oções que acom panham seus
inform es ad q u irem significação n a m ed id a em que indicam as p os­
síveis áreas de p ertu rb açã o em ocional. É im p o rtan te tam bém o bser­
v ar os esquem as referenciais com os quais os pais operam , p rin ci­
p alm en te aqueles relativos a concepções de vida, saú d e e doença,
p o rq u e nos perm item estim ar en tre o u tras, suas atitudes p a ra com

74
a p ro b lem ática do filho. Som ente assim poderem os o b ter p a rte do
conhecim ento necessário p a ra o enten d im en to do caso.
D e tu d o que fo i d ito acim a deduz-se que re alizar um a pes­
q u isa am pla e p ro fu n d a nas entrevistas é tarefa difícil, só conse­
gu id a se o psicólogo p e rm itir que apareçam conteúdos em ergentes
n a situação relacional e estiver aten to a estes. P o r esta razão d esa­
conselham os a utilização de roteiros de p esquisa p reestabelecidos,
q u e, além de lim itar a investigação, servem m uitas vezes com o ins­
tru m en to defensivo tan to p a ra os pais com o p a ra o psicólogo. A cre­
ditam os ser m ais interessanie que este últim o ten h a u m consistente
conhecim ento teórico que, aliado à sua capacidade de observação e
in stru m en tação d a co n tra tran sfe rên c ia , perm ita-lhe ad o ta r um a a ti­
tu d e flexível n a investigação, resp eitan d o a seqüência de tem as ad o ­
ta d a pelos pais. A ssim , d u ra n te as entrevistas, po d erá p aralelam en te
desenvolver um p en sam ento clínico, estabelecer conexões e a p ro fu n ­
d a r aqueles aspectos que considera im p o rtan tes p a ra a com preensão
diagnóstica. D aí a relev ân cia destas entrevistas com plem entares p a ra
a am pliação do conhecim ento e exclusão de algum as hipóteses diag-
nósticas inicialm ente lev an tad as, e a form ulação de o u tras.
N este enfoque consideram os não som ente os aspectos p a rtic u la ­
res (congênitos e h ereditários) d a crian ça, m as tam bém os an a lisa­
m os n a sua relação com o am biente fam iliar e social. E m últim a ins­
tân cia, são os fatores individuais, fam iliares e sociais que convergem
p a ra a estru tu ra ção de u m a d eterm in ad a p ersonalidade.
C onvém re ssa lta r que todo esse processo de investigação diag-
nóstica assum e características p articu lares q u an d o realizad o em um a
instituição. O psicólogo d everá então re co rre r a m odelos altern ativ o s
que levem em conta as pecu liarid ad es d a clientela e d a p ró p ria ins­
tituição, sem p e rd e r de vista a q u alid ad e do seu trab alh o .

6.6. A s e n tr e v ista s d e v o lu tiv a s

A entrevista devolutiva é aq u ela n a q u al se tran sm ite ao p a ­


ciente e aos pais a com preensão o b tid a d u ra n te o processo de psico-
diagnóstico. G en ericam ente, ela é realizad a no final deste, q u a n d o o
psicólogo chega às conclusões diagnosticas. N o en tan to , um p ro fis­
sional ex periente e com petente p o d e fazer devoluções no d ec o rre r
das entrevistas, assin alan d o aqueles elem entos sobre os q u a is' tem
um a com preensão significativa.
C onsideram os im prescindível in fo rm ar aos pais e à crian ça, na
ocasião do en q u ad ram en to , que lhes será transm itido o conhecim ento
o b tid o acerca deles. Isto c o n trib u irá p a ra que se sintam m enos

75
am eaçados n a situação relacional e m ais dispostos a co lab o rar. E sta
q u estão rem ete-nos à relação que o paciente e os p ais estabelecem
com o psicólogo, n a q u al expressam em oções e expectativas de dife­
rentes q u alidades e in tensidades, depositam aspectos de sua p erso ­
n alid ad e no psicólogo e necessitam , p o rtan to , saber q u e poderão re ­
cuperá-los. A rein tro jeção e reintegração de elem entos an terio rm en te
depositados tornam -se-lhes im portantes a fim de que as suas iden­
tid ad es sejam conservadas. Isto é feito p o r m eio de entrevistas de­
volutivas.
Pode-se o b serv ar que, se a devolução diagnostica não é incluída
n o objetivo d o tra b a lh o , o paciente e os pais sentir-se-ão am eaçados
d u ra n te o aten d im en to , preocupando-se, m uitas vezes, m ais em se
p ro teg er do psicólogo do que em co o p erar de fato.
M as não são som ente o paciente e os pais que necessitam das
entrevistas devolutivas p a ra p re serv ar suas identidades: o p ró p rio p si­
cólogo, d u ra n te o atendim ento, recebeu o depósito de aspectos tan to
sadios q u an to p ertu rb ad o s da perso n alid ad e daqueles com quem en ­
tro u em contato, e necessita devolvê-los p a ra que seja m an tid a a
discrim inação a respeito de sua p ró p ria pessoa. N o en tan to , nesta
devolução, o psicólogo deverá agir de fo rm a cautelosa, d iscrim i­
n an d o os elem entos im p o rtan tes que podem ser recebidos pelo p a ­
ciente e pelos pais daqueles que, p o r serem fonte de intensa ansie­
dade terão que ser preservados.
As entrevistas devolutivas p o ssibilitam lid a r com o pro b lem a da
separação em ocional e n tre os p artic ip a n te s do processo, n a m edida
em que cada um deles pode, através delas, re cu p erar aspectos q u e lhe
são pertin en tes, m as que tin h am sido atrib u íd o s aos dem ais. Isto
supõe que, q u an d o a en tre v ista d e devolução n ão se realiza, a dis­
crim inação de aspectos em ocionais p ró p rio s de cada um a das pes­
soas que até en tão estiveram envolvidas n a relação pode n ão se
efetivar.
M as a separação em ocional, ain d a q u e necessária — e o é de­
vido ao fato de que a relação estabelecida com fins diagnósticos se
desenvolve d en tro de um in terv alo d e tem po lim itado — , pode rea­
tiv ar intensas ansiedades, tan to no pacien te e nos pais com o no p si­
cólogo. O m odo com o cada um vai lid a r com ela depende, obvia­
m ente, das características de estru tu ra ção de sua personalidade. A l­
gum as vezes, os pais ou o paciente podem ex p ressar o desejo de
c o n tin u a r o aten d im en to com o psicólogo que realizou o diagnóstico
justam ente p a ra ev itar a separação, em bora ju stifiq u em sua neces­
sidade em term os de conhecerem o psicólogo, sentirem -se à von­
tade com ele etc. E stas justificativas podem ser gratificantes p a ra o
psicólogo que, no en tan to , deve precaver-se q u an to a um a atitu d e

76
ingênua, e an alisar o q u e subjaz a este tipo de solicitação. P a ra o
psicólogo, realizar u m psicodiagnóstíco im plica tam bém a p o ssib i­
lid ad e de lid a r com vínculos que te rã o breve du ração . D aí a im ­
p o rtâ n c ia de equipar-se, p o r m eio de um a análise pessoal, p a ra este
tip o de trab a lh o clínico. Caso co n trá rio , p o d era in co rrer em atitudes
defensivas (por exem plo: p ro lo n g ar o processo psicodiagnóstico, au ­
m en tar desnecessariam ente o núm ero de entrevistas devolutivas, de­
sejar c o n tin u a r com o paciente em um aten d im en to psicoterá-
pico etc.).
O u tro aspecto fu n d am en tal d a en trev ista devolutiva é o d i r e i t o
que os p ais têm a ela, um a vez que p ro c u rara m o profissional p re ci­
sam ente p ara q u e este os auxiliasse n a com preensão e resolução de
seus problem as. É n o m om ento d a en tre v ista devolutiva, p o rtan to ,
que o psicólogo pode resp o n d er efetivam ente a estas solicitações,
tran sm itin d o sua visão do p ro b lem a e estim ando as possibilidades de
resolução. É im p o rtan te que os pais se sintam ap oiados em suas ne­
cessidades re p ara tó ria s e, p a ra tal, não convém que o psicólogo lhes
p ro p o n h a soluções inalcançáveis naq u ele m om ento. Se isto acontecer,
os p ais sentir-se-ão im potentes e culpados p o r não p o d er fa zer algo
p elo filh o e /o u p o r si m esm os.
A crian ça tam bém tem d i r e i t o à devolução diagnóstica, pois foi
considerada pelos pais e /o u terceiros (professora, m édico etc.) com o
“ crian ça-p ro b lem a” , sendo n a tu ra l que q u eira sab er algo concernente
a este fato. N ão re alizar en trev istas devolutivas com a crian ça (m esm o
que ela ten h a p o u ca idade) é equiv alen te a considerá-la com o um
m ero objeto de estudo e, p o rtan to , desrespeitá-la, negando sua capa­
cidade de pensar, sen tir e com preender.
A pesar de os pais e as crianças terem necessidade de entrevistas
devolutivas, pode o co rrer, algum as vezes, evitarem -na devido à in­
tensa ansiedade (faltam às entrevistas com binadas, chegam m uito
atrasados, desviam o assunto etc.). Q uase sem pre esta situação ocorre
p o r m edo do co nteúdo a ser devolvido e, tam bém , p o r m edo daq u ilo
que é p ro jetad o no psicólogo com quem não chegaram a estabelecer
um vínculo p red o m in an tem en te positivo. T em em , então, ser julgados
e castigados pelas faltas que com eteram , e n tre inúm eras o u tras fan ­
tasias.
É possível que, p o r o u tro lad o , o psicólogo ten h a receios e d i­
ficuldades de efetiv ar as entrevistas devolutivas u m a vez q u e, se
até aquele m om ento po d ia preservar-se de um funcionam ento ma
ativo, agora deve assum i-lo. E m o u tras p alav ras, o psicólogo, ao
tran sm itir sua com preensão diagnóstica aos pais e criança, confronta-
se necessariam ente com o problem a da sua com petência profissional.
A “ a titu d e de investigação” m an tid a d u ra n te o processo o protegia,
aparen tem en te, de o p in ar sobre as questões levantadas e lhe servia

77
com o ju stificativ a n a m edida em que “ necessitava de m ais dados
p a ra com p reen d er o pacien te e em itir um p a re c e r” . O desejo de
enaltecim ento narcísico p o d e d eterm in a r co ndutas defensivas no psi­
cólogo, im pedindo-o de u m a real com unicação com o paciente e /o u
pais. U m exem plo disto é a sua utilização de um a linguagem exces­
sivam ente técnica que im possibilite o estabelecim ento de um v erd a­
deiro diálogo e q u e ten h a com o objetivo apenas m o strar conhe­
cim ento.
C onsideram os q u e u m a das m aiores dificuldades do psicólogo
em realizar as en trev istas devolutivas é justam ente aq u ela relativa à
c o m u n i c a ç ã o dos resultados obtidos. M uitas vezes, ele n ão consegue
ad e q u a r sua linguagem à do paciente, ex p ressar seu p o n to de vista
de form a com preensível, sem p re cisar re co rre r à term inologia p si­
cológica com a q u al se fam iliarizo u d u ra n te seus estudos, e até
m esm o uso u n a sua com preensão do caso. E sta decodificação, que
realm ente não é sim ples nem fácil, parece d ep e n d er basicam ente de
dois fatores: a) com preensão am pla e p ro fu n d a do paciente e seu
grupo fam iliar; b) aspectos d a perso n alid ad e do psicólogo m obili­
zados d u ra n te o processo psicodiagnóstico. D ito de o u tro m odo, a
clareza d o pen sam en to v erb al d epende d a com preensão, m as relacio­
na-se d iretam ente com a q u alid ad e do m u ndo in tern o do psicólogo.
D istúrbios não resolvidos em relação a seus p ró p rio s aspectos in­
fa n tis in terferem no fu n cio n am en to profissional do psicólogo, um a
vez que favorecem o aparecim ento de contra-identificações p rojetivas.
N a realid ad e, o tra b a lh o do psicólogo n a en trev ista devolutiva
não se restringe às inform ações obtidas d u ra n te as p artes anteriores
do processo diagnóstico. As reações verbais e não-verbais do paciente
e p ais ao m aterial devolvido tam bém devem ser assinaladas, o que
significa que o psicólogo p ro c u ra focalizar sua atenção sobre a si­
tuação de cam po atu al, integ ran d o todos os elem entos existentes.
Este é um fa to que torna difícil ao psicólogo a tare fa devolutiva.
A tu ar neste p onto segundo um planejam ento prévio é inconseqüente
n a m ed id a em que as atitu d es do pacien te e dos país podem ser
im previsíveis, exigindo do psicólogo a necessária flex ib ilid ad e na
fo rm a de co n d u zir a entrevista. P or exem plo, os p ais iniciam um a
en trev ista devolutiva re la tan d o assuntos alheios à m esm a, com o fo r­
m a de m anifestar seu receio de o u v ir o psicólogo. N esse caso, com-
pete-Jbe lid a r p recisam en te com esta an g ú stia antes d e com eçar a
com unicar as inform ações q u e possui.
Ao psicólogo cabe in clu ir n a sua devolução tan to os aspectos
patológicos com o os ad ap tativ o s, pois assim tran sm itirá um a com ­
p reen são global dos p ro b lem as. E n fa tiz ar som ente os aspectos p a to ­
lógicos é u m a atitu d e que, além de fornecer um p o n to de v ista p a r­
cial sobre a p ro b lem ática, co n trib u i p a ra a intensificação de fantasias

78
catastróficas de doença do paciente e /o u dos pais. As inform ações
diagnosticas tran sm itid as pelo psicólogo devem ser aquelas que p o ­
d e m s e r r e c e b i d a s n o m o m e n t o pelo paciente e pelos p ais; h á ne­
cessidade, p o rtan to , de se estim ar os recursos egóicos dos m esm os,
respeitando-se os lim ites im postos pelos seus sistem as defensivos. U m
dos cuidados a serem tom ados é o de n ã o cen tralizar a pro b lem ática
ou n a crian ça ou nos pais, nem induzi-los a p en sar desta form a (que
o p ro b lem a é de u m o u de o u tro ), a c irran d o os conflitos existentes
nas relações fam iliares. Supom os im p o rtan te co n sid erar a p ro b lem á­
tica com o deco rren te dos vínculos estabelecidos, p o r razões já an­
terio rm en te citadas.
A devolução, a nosso ver, refere-se às inform ações diagnósticas,
à com preensão o b tid a e aos encam inham entos necessários; n ão inclui
conselhos, m esm os q u an d o solicitados, um a vez que estes, ao serem
oferecidos, tendem a fazer ev itar o uso do p en sam ento p o r p a rte
daqueles que p ro cu ram atendim ento.
N o entanto, em algum as ocasiões, o psicólogo pode ,sentir-se
pressionado a d a r conselhos (p o r exem plo, se os pais elevem ou não
b a te r n o filho) e ser induzido a expor u m p o n to de vista que não
leva em consideração as questões ielativ as à d em anda dos interes­
sados: p o r que pedem conselhos ao psicólogo? N ecessitam de seu
apoio p a ra m an ter ou evitar atitu d es co n flitiv as? H á diferenças en tre
as sugestões p ráticas form uladas a p a rtir d a com preensão diagnos­
tica (com o, p o r exem plo, um en cam inham ento terap êu tico adeq u ad o ,
um a o rien tação p a ra m udança de escola etc.) e os conselhos. As p r i­
m eiras visam a lid a r com os fatos a p a rtir de u m a visão com preen­
siva, en q u a n to que os últim os, em geral, acobertam os problem ac
subjacentes.
D e m odo geral, n ão se realizam m uitas entrevistas devolutivas.
C onsidera-se sem pre a u tilid ad e de pelo m enos um re to rn o com a
fin alid ad e de estim ar o alcance d a com preensão que os interessados
tiveram daq u ilo q u e lhes foi com unicado (incluindo-se as dúvidas,
as decisões tom adas etc.).
Poder-se-á, outrossim , o b serv ar efeitos psicoterapêuticos decor­
rentes do processo psicodiagnóstico. N o en tan to , o psicólogo, p o r
vezes, n u tre elevadas expectativas q u an to à capacidade de com ­
preensão e m odificação daqueles a quem aten d e em psicodiagnóstico,
sentido-se fru stra d o q u an d o estas não se realizam . N este caso, ele
estabelece confusão e n tre a situação diagnostica e a situação p sic o
terap êu tica.
Q u a n d o se tra ta de diagnóstico psicológico n a in fân cia, as en­
trevistas devolutivas devem ser realizadas p rim eiram ente com os
pais (ou seus substitutos) e depois corr, a crian ça, um a vez que os

79
en cam inham entos, q u an d o necessários, som ente serão pro p o sto s à
crian ça q u an d o aceitos pelos pais ou responsáveis. Se um a criança
é inform ada da necessidade de tratam en to , m as não co n ta com o
apoio dos pais, pode in ten sificar a m anifestação de suas dificu ld ad es
e fazer aguçar os conflitos intrafam iliares.
O u tro aspecto da relação psicólogo-paciente q u e parece ser m uito
im p o rtan te é o fato de ela ser um a relação assim étrica, p o ssib ilitan d o
o estabelecim ento de um a relação de poder, que se to rn a m ais evi­
d en te no m om ento das entrevistas devolutivas. O psicólogo “ sa b e ”
algo que os dem ais p articip an tes da relação aparen tem en te não sa­
bem . T em , p o rtan to , um conhecim ento que pode patologicam ente
m an ip u lar. M as não é som ente o “ s a b e r” do psicólogo que perm ite
esta m anipulação: o p ró p rio paciente pode atrib u ir m agicam ente um
“ sa b e r” ao psicólogo desde o m om ento em que p ro cu ro u sua ajuda.
T em os verificado que q u an to m aior é a diferen ça de classes sociais
e desnível cu ltu ral existente en tre psicólogo e paciente, m aio r é a
possibilidade deste fenôm eno ocorrer. D e fato, ele o corre com m aior
freqüência e in ten sid ad e nas instituições do q u e em consultórios
p artic u la res (visto que as pessoas que recorrem a estes ú ltim os ge­
ralm en te se encontram em m elhores condições sócio-econôm icas e
cu ltu rais).
T o d av ia, m esm o no caso de o atendim ento ser realizad o em con­
sultórios p artic u la res, a relação de p o d er pode se desenvolver como
fenôm eno inconsciente que é.
Os p rin cip ais perigos de um a relação de p o d er se in tro d u zir
n a en trev ista devolutiva são: a) o psicólogo o b ter gratificações su b s­
titu tiv as e m an ter controle sobre c paciente; b) o psicólogo m enos­
p re zar a capacitação m ental do paciente e, com isso, p ro v o car rea­
ções negativas p o r p a rte deste: c) o psicólogo im pedir um real con­
tato , através de jargões técnicos, en tre ou tro s aspectos; d) o paciente
sentir-se in feriorizado o u, m esm o, an iq u ilad o em ocionalm ente; e) o
pacien te to m ar as form ulações do profissional num sentido d e fin i­
tivo (com o verdades absolutas), sem se q u estio n ar a respeito etc.
A ssim , a relação de p o d er sobrepõe-se à relação de ajuda.
O trab alh o em diagnóstico psicológico exige m ais do que um
p re p aro teórico e p rático. A com plexidade que decorre do fato de se
b asear em um a r e la ç ã o en tre os p articip an tes do processo to rn a ne­
cessário que o psicólogo clínico desenvolva seu in stru m en to fu n d a ­
m en tal de trab a lh o : sua pessoa. Isto re q u er não só co n stan te a p e r­
feiçoam ento teórico e p rático, m as tam bém o desenvolvim ento de
sua v id a em ocional (in clu in d o atitudes reflexivas), só conseguidos
através de análise pessoal e prática clínica supervisionada.
6.7. B ib lio g ra fia

Aberastury, A . T e o r i a y T é c n i c a d e i P s i c o a n a l i s i s d e N i n o s . B uenos A ires,


Paidós, 1962.

A ckerm an, N . W . D i a g n ó s t i c o y T r a t a m i e n t o d e la s R e la c io n e s F a m ilia r e s .


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Bleger, J. T e m a s d e P s i c o l o g i a ( E n t r e v i s t a y G r u p o s ) . 4,a ed. B uenos A ires,


Ed. N ueva V isión, 1974.

Grinberg, L. C u l p a y R e p r e s i ó n : E s t ú d i o P s i c o a n a l í t i c o . B uenos A ires, P ai­


dós, 1976.

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A ires, Ed. G alerna, 1971.

81
7
O pensam ento clínico e a integração dos
dados no diagnóstico psicológico

A n a M a r ia T r a p é T r in c a
E l is a b e th B e c k e r

7.1. In tro d u çã o

U m processo de diagnóstico psicológico p ro c u ra a tin g ir u m a p ro ­


blem ática ap resen tad a p elo cliente. Isto im plica que, desde o início,
seja cria d a um a disposição p a ra o aten d im en to p o r p a rte do psicó­
logo, que c a rac te rizará u m a relação de id en tid ad es: a id en tid ad e do
psicólogo e a id en tid ad e do cliente. N este ca p ítu lo focalizarem os
nosso interesse, especificam ente, em d iscu tir a m an ifestação p e c u lia r
da id en tid ad e do psicólogo que se reflete no processo d a in tegração
dos dados, isto é , nos m om entos em q u e ele exerce o pensam ento
clínico.
Q u a n d o supervisionam os a p rá tic a do diagnóstico psicológico,
realizad a p o r estu d an tes o u p ro fissio n ais in ician tes, defrontam o-nos
freq ü en tem en te com d ificu ld ad es em tra n sm itir as noções b ásicas do
uso do pensam ento clínico in teg ran d o os diferentes m om entos do
processo. O s p roblem as surgem tan to no q u e se re fere à p ró p ria de­
fin ição d a n atu re za do p en sa m e n to clínico, com o n a observação dos
m om entos em q u e o co rre esse p e n sa r. P or exem plo, os supervisio-
n an d o s, geralm ente, p ro p õ em as seguintes questões: “ p a ra que é ne­
cessário a p ro fu n d a r esse d a d o ? ” , “ q u an d o , onde e com que recurso

82
vou esclarecer esse fa to ? ” , “ com o chegou a perceb er essas rela­
çõ e s?” , “ de que m an eira é possível o rganizar um volum e im enso de
in fo rm açõ es?” etc. Q uerem os d estacar a dificuldade do assunto, m as,
tam bém , a necessidade de se refletir sobre o que se p assa (ou sobre
o q u e ten h a se passado) n a m ente do profissional d ian te d a m ag­
n itu d e da ta re fa que se lh e im põe n u m processo psicodiagnóstico:
c o n h ecer p ro fu n d a e d in a m ic a m e n te , e m su a s m ú ltip la s ex p ressõ es
e d e t e r m i n a n t e s , a d i m e n s ã o p a r t i c u la r e e s s e n c ia l d a p e s s o a q u e s e
lh e a p r e s e n ta c o m o p o r ta d o r a d e s o fr im e n to p s íq u ic o .
M antido p o r m uito tem po com o um dom , im pregnado, p o rtan to ,
de c a rá te r algo m ágico e pouco científico, acessível apenas àqueles
que passaram p o r árd u o traje to acum ulativo de supervisões, p rática
clínica e psico terap ia ou análise pessoal, o pensam ento clínico coloca-
se atualm ente de fo rm a m ais acessível à observação, exam e e dis­
cussão. B uscarem os, pois, neste tra b a lh o , lev an ta r alguns pontos de
reflexão acerca das vicissitudes da ta re fa de integração dos dados
(in clu in d o sua form alização, sistem atização e organização) derivados
dos procedim entos diagnósticos em psicologia clínica.

7.2. E stu d o s so b re in d ica d o res de in teg r a ç ã o n os


te s te s p ro jetiv o s

São escassas as publicações relativas ao estudo do pensam ento


clínico em nosso m eio. Só m uito recentem ente e n c o n tra n o s a p u ­
blicação de obras especializadas referentes ao assunto. M as, a rigor,
desde o advento da psicanálise, existiu a preocupação d e form alizar
indicadores a respeito d a integração dos dados. O s trab a lh o s reali­
zados com testes projetivos vieram a c o n trib u ir p a ra isso. Estes
testes tro u x eram , em função de suas características p ró p rias, a ne­
cessidade de obtenção de novos parâm etro s de validação, acarretan d o
o estabelecim ento de conexões en tre diferentes aspectos de seus con­
teú d o s, form as e referenciais teóricos. Surgiu, assim , a relevância da
v alid ad e de co n stru cto com o prova significativa de confiabilidade
nos resultados obtidos através do em prego d e tais testes. C onstata-se,
então, que a m aioria dos testes projetivos apresenta um a descrição
m inuciosa dos princípios de in terp retação , referindo-se à teoria de
perso n alid ad e q u e lhe serve de referência. O s prin cíp io s de in ter­
p retação dos testes projetivos não deixam de ser, p o rtan to , indica­
dores de sistem atização e organização de dados, m an ten d o um a co r­
respondência analógica com a integração que se realiza no processo

83
psicodiagnóstico visto em sua form a extensa. T al analogia está na
base do procedim ento de alguns profissionais q u e, tendo desen­
volvido u m a fam iliarid ad e d iferen ciad a com algum as técnicas de
exam e de perso n alid ad e, priorizam o em prego de tais técnicas com o
in stru m en to s de obtenção de inform ações no diagnóstico d a perso­
n alidade.
A pesar de n ão ser, historicam ente, o p rim eiro teste de perso­
n alid ad e , o T .A .T . (T este de A percepção T em ática) de H enry M ur-
ray ilu stra significativam ente sua conexão com u m a teo ria de p e r­
so n alid ad e fu n d am en talm en te m otivacional. M urray (1964) postula,
com o p onto capital de in terp retação do seu teste, a identificação, na
estó ria n a rra d a , de um h eró i, ao q u al o sujeito a trib u iria suas p ró ­
prias m otivações e q u e, in teragindo com outros personagens, pos­
sib ilitaria tam bém a identificação das pressões do m eio às quais o
sujeito se en c o n tra exposto. As ações e em oções vivenciadas pelo
h eró i representariam , assim , as m otivações do sujeito, sendo que, ao
expressá-las, ele p ossibilitaria, segundo M urray, a identificação das:
necessidades laten tes q u e constituiriam a fonte do com portam ento
m anifesto. C onsiderando-se o estado in terio r do h eró i e as relações
estabelecidas p o r ele com ou tro s personagens, teríam os, através das
respostas às p ra n ch as, um a possível ligação do co m p o rtam en to às
suas origens, descobrindo-se m otivações q u e talvez não se expressem
n o com portam ento m anifesto.
V isando a o b te r dados acerca do que d enom ina “ variáveis da
p erso n alid a d e” , M urray enfatiza, n a análise do teste, vin te tipos de
necessidades, ag ru p ad as n u m a lista de m otivações, as q u ais, associa­
das à lista de fatores internos e de traços gerais, constituem um a
o rien tação p a ra a síntese dos resultados individuais. P esquisado p o r
vários autores (T om kins, A ron, P io tro w sk i, Bellak, S h en to u b , Om-
b re d an e, en tre o u tro s), o T .A .T . oferece-nos atu alm en te um am plo
p ain el de indicadores e roteiros de análise, tan to no q u e diz res­
p eito a aspectos form ais q u a n to a conteúdos. C onsideram os tais es­
tudos representativos de u m a das p rim eiras form as de abordagem do
tem a d o p en sam ento clínico, ou seja, q u e a vinculação dos dados a
u m a teo ria de perso n alid ad e p ro p o rcio n a validação aos princípios
o rganizadores de in terp retação .
M ais recentem ente, observam os no em prego de técnicas p ro je­
tivas a co n tin u id ad e do q u estionam ento a respeito de princípios de
validação, os quais podem oferecer subsídios ao uso do pensam ento
clínico. F iccolo (1980), p o r exem plo, preocupa-se em estabelecer in­
dicadores que perm item u tiliz a r critérios explícitos de processam ento
de respostas, tan to com finalidades diagnósticas. q u an to prognósticas.

84
A nosso ver, um diagnóstico da personalidade deve responder basi­
cam ente a questionam entos nas três áreas seguintes:
a) D i f e r e n c i a r g r a u s d e p s i c o p a t o l o g ia . O diagnóstico deve de­
lim itar graus de integração da personalidade, diferenciando funciona­
m entos neuróticos de psicóticos.
b) D i f e r e n c i a r t i p o s d e p e r s o n a l id a d e o u q u a d r o s n o s o g r á fi c o s .
A descrição de características a respeito de com o o indivíduo se vin­
cula, assim com o de suas defesas e ansiedades predom inantes, deve
perm itir re ferir o caso individual aos quadros nosográficos ou às
estru tu ras de personalidade subjacentes.
c) E x p lic a r a d in â m ic a i n d i v id u a l . Form ulam -se indicadores
que perm item determ inar a incidência da história de vida no estado
atual da personalidade, possibilitando um a integração dos com por­
tam entos m anifestos do sujeito, suas queixas, ou sintom as, com o
m aterial oriundo das técnicas projetivas.
O u tra contribuição ao assunto é oferecida p o r Silva (1981).
E la propõe u m a original abordagem que considera as características
form ais da com unicação nos testes projetivos, e traz p ara o cam po
do psicodiagnóstico contribuições da lingüística. A presenta um a boa
visão do que acontece nos testes projetivos porque, “ de certo m odo,
o exam inador p r o j e t a no que é dito pelo sujeito um s e n t i d o , tan to
q u an to o sujeito p r o je ta , naquilo que com põe o teste, um s e n t i d o ,
m ais do que isso: há um a du p la projeção de am bas as partes, decor­
rentes do fato de a interpretação ser um fenôm eno c e n tra l . . . ” 1
(Silva,. 1981, p . 15). T orna-se, assim , necessário rever o caráter dog­
m ático de b u scar significados ocultos nas respostas apresentadas,
substituindo-o pela ênfase no caráter prod u tiv o e criativo da com uni­
cação de quem é in terp retad o , com o atitu d e básica daquele que
assum e a função de in terp retar. T al substituição é evidenciada, na
p rática, m ediante um conjunto de procedim entos desenvolvidos pelo
exam inador ao in terp re tar o m aterial clínico e que refletem a con­
trib u ição p artic u la r dessa au to ra à tem ática do pensam ento clínico
na integração dos dados.
Segundo Silva, existem esquem as de raciocínio a serem seguidos
pelo psicólogo na elaboração da in terp retação de um teste projetivo,
além do uso do sistem a interpretativo (padronizado) do teste. A au ­
to ra apresenta um a p roposta com pleta acerca da seqüência e inte­
gração derivadas do esquem a de in terp retação proposto.

1 Os grifos constam do original.

85
7.3. E stu d o s sobre a in teg r a ç ã o de c o n te ú d o s n o
p r o c esso d ia g n ó stic o

Poucos são os au to res que se d edicaram a ap resen tar m odelos


de integração dos dados p a ra o psicodiagnóstico com o um todo. O b ­
servam os que n a lite ra tu ra especializada essa p reo cupação existe em
pesquisadores que fazem uso de teorias do desenvolvim ento, espe­
cialm ente as de abordagem psicanalítica. A póiam -se em esquem as
referenciais evolutivos.
A n n a F reu d (1971) traç o u critérios p a ra a organização dos
dados diagnósticos e avaliação psicológica da perso n alid ad e de cria n ­
ças. E la propõe um a série de itens a serem observados no processo
diagnóstico da perso n alid ad e in fan til, itens esses referentes p rin cip a l­
m ente às características de desenvolvim ento de im pulsos, Ego e Su­
perego, aspectos regressivos e pontos de fixação, assim com o refe­
rentes à id entificação de conflitos (estes constituindo-se em determ i­
nantes dinâm icos e estru tu ra is).
D e m aneira geral, A nna F reud considera im p o rtan tes os fa to ­
res relativos à to lerân cia à fru straçã o e o p otencial de sublim a­
ção, assim com o a a titu d e global da criança p eran te as ansiedades,
e os conflitos básicos en tre as forças de desenvolvim ento progressivo
v e r s u s as tendências regressivas. Em síntese, num perfil diagnóstico,
o psicólogo deverá lev ar em conta u m a avaliação clinicam ente sig­
nificativa e. p a ra isso, faz p a rte de sua ta re fa decidir-se entre um
certo núm ero de categorias dinâm icas.
A p ro p o sta de A n n a F reu d sugere um m odo de integração do
con ju n to dos dados diagnósticos, sob o m odelo p sicanalítico. O utros
autores de o rien tação psicanalítica. com o W o lff (1970), Soifer (1971)
e Sim on (1977) c o n trib u íra m p a ra o assunto ap resen tan d o e s q u e m a s
r e f e r e n c i a i s e v o l u t i v o s aplicáveis aos conteúdos do m aterial clínico
em ergentes n o processo diagnóstico.
D o p o n to de vista epistem ológico, L u ck ert (1965) e Sem inério
(1977) m o straram preocupações a respeito da integração do conteúdo
das inform ações diagnosticas, questio n an d o pontos com o: a) a pers­
pectiva q u alitativ a v e r s u s a q u an titativ a, considerando-se a neces­
sidade de se m an ter a objetividade e o rigor científico; b) a explica­
ção e a com preensão dos fatos diagnósticos, decorrentes de aspectos
do funcionam ento m en tal do psicólogo; c) o risco de se to m ar os
fenôm enos m om entâneos e situacionais da perso n alid ad e com o sendo
algo estru tu ra l ou p erm an en te; d) o p ro b lem a da subjetividade do
profissional, e sua in terferên cia sobre as conclusões diagnóáticas etc.
O pro b lem a da integração do conteúdo das inform ações difere,
porém , do pro b lem a das form as de p en sam ento utilizadas pelo p ro ­
fissional. E stas podem ser estu d ad as em separado.

86
7.4. F o rm a s de p en sa m en to clín ico em d ia g n ó stic o
da p erson alid ad e

Foi T rin ca (1983) quem se p ro p ô s v erificar, em um a pesquisa


de cam po, as form as de pensam entos utilizadas pelos profissionais
em diagnóstico da personalidade. E le caracterizo u com o form as de
pensam entos “ aquelas disposições que perm anecem constantes q u an ­
do todo com ponente de determ in ad o pensam ento clínico é su b sti­
tu íd o p o r o u tro ” (T rinca, i d e m , p. 32). Em sua pesquisa, determ inou
qu in ze diferentes form as de pensam entos, algum as delas m ais liga­
das à percepção, o u tras à analogia, o u tra s, ain d a, à d edução o u à
indução. H á form as m ais ligadas à in tu ição , e form as que possuem
correspondência com processos descritos pela Psicologia da G e s t a l t .
São as seguintes as form as de pensam ento p o r ele descritas:
a) A p r e e n s ã o d e o b j e t o p r e s e n t e , d a d o . A p e r c e p ç ã o de um a
to talid ad e organizada, ou síntese p erceptiva dos dados, m anifesta-se
com o conclusão diagnostica.
b) I d e n t i f i c a ç ã o d e o b j e t o s s e m e l h a n te s a o s d a e x p e r iê n c i a
a n te r i o r . É o reconhecim ento, p o r p a rte do profissional, daquilo que
está presente, na sua experiência atu al com um cliente, com o an á­
logo àq u ilo que fez p a rte de sua experiência an terio r com ou tro ou
o u tro s clientes. A conclusão decorre da analogia en tre essas duas
situações.
c) A n a l o g i a e n t r e p a r t e s c o n s t i t u i n t e s d e u m m e s m o o b j e t o . V e­
rifica-se em determ in ad o m om ento que h á no contexto diagnóstico
p artes cujo significado é conhecido e p arte s cujo significado é des­
conhecido. H av en d o p ro p ried ad es sem elhantes en tre os dados de
am bas as p artes, a conclusão é in ferid a p o r m eio de analogia.
d) P e n s a m e n t o c l a s s i f i c a t ó r i o . É sep arar, ag ru p ar e d a r sen­
tid o aos dados de acordo com prin cíp io s classificatórios com o, p o r
exem plo, a nosografia.
e) R e c o r r ê n c ia à te o r ia . O s dados são reconhecidos com o se­
m elhantes a o u tro s, referidos p o r teo rias psicológicas explícitas. A
conclusão é, assim , alcançada p o r analogia.
f) D e d u ç ã o . O que é dito de d eterm in ad a re g u larid ad e geral,
é d ito dos fenôm enos singulares que nela estão contidos. A conclusão
é in ferid a p o r m eio da relação lógica que existe en tre as prem issas
(cujo significado é conhecido) e os dados de um caso clínico (cujo
significado é inicialm ente desconhecido).
g) P r o v a d e h ip ó t e s e . São lev an tad as hipóteses diagnosticas e,
a seguir, im aginados processos p ara verificação das m esm as. R eali­
zam-se procedim entos práticos de verificação que resultam em con­
clusões, nas quais as hipóteses são rejeitadas ou não rejeitadas.

87
h) D e n o m i n a d o r c o m u m . H á um fa to r que expressa a carac­
terística dos dados de possuírem significado idêntico ou equivalente,
que se repete ao longo das várias p artes d o processo diagnóstico
(tom ando a form a aproxim ada de um a co n stan te), e q u e in d u tiv a­
m ente im plica a conclusão diagnostica.
i) P is ta s i n d i c a t i v a s d a s o lu ç ã o . C onsiste em o b serv ar no m a­
terial clínico pistas, sinais e outros elem entos indicativos da solução,
e inferi-la a p a rtir destes indicadores.
j) A r t i c u l a ç ã o d a s p a r t e s e n t r e s i. O m aterial clínico é sepa­
rad o p o r p artes q u e são analisadas, sofrendo a análise de cada p arte
a in flu ên cia das dem ais, em um processo de interação. H á esclare­
cim ento recíproco (das p artes en tre si e das p artes com o todo) e
co n stru ção de um a configuração, ou conclusão diagnostica, através de
sínteses progressivas.
k) E x c lu s ã o d a s a l t e r n a t i v a s m e n o s v e r o s s í m e i s e m u m p r o c e s s o
A solução diagnostica, aq u i, dim ana de ten tativ as e
d e t e n t a ti v a s .
elim inação de h ipóteses m enos verossím eis. H á um processo de pe-
n eiração e afu nilam ento, cujo objetivo é a d eterm in ação de h ip ó ­
teses decisivas e, afin al, daquela hipótese que tem m aio r aproxim ação
à v erdade.
1) V is ã o s im u l t â n e a d e c o n ju n to . E m determ in ad o m om ento do
processo diagnóstico, h á u m a visão sincrônica e g lobalizadora do
significado dos dados, n a q u al cada p a rte é o b servada com o p a rte de
um todo significativo.
m ) F e c h a m e n to . R econhece-se h av e r no co n ju n to dos dados
um a lacu n a que inicialm ente im pede a solução diagnostica. N o m o­
m ento em que é descoberto o significado do fa to r lacu n a r, ocorre um a
reestru tu raç ão no contexto diagnóstico, surgindo significado p a ra o
con ju n to dos dados.
n) I m a g e n s i n t u i t i v a s . D a com unicação do cliente ao p ro fis­
sional, este seleciona aspectos não-verbais que lhe provocam o ap a­
recim ento de im agens intuitivas, A conclusão diagnostica é alcançada
pela observação e in terp retação do significado dessas im agens.
o) O s e n t i r , e m c o n t e x t o m a is a b r a n g e n te . O sen tir do p ro ­
fissional é em pregado p ara a obtenção da conclusão diagnostica, desde
que seja um sen tir que possa ser tran sfo rm ad o em conhecim ento.

A integração dos dados no diagnóstico psicológico sendo, po ­


rém , um assunto extrem am ente com plexo, perm ite que se o apresente
e discuta a p a rtir de vários ângulos. É o que continuarem os a fazer,
agora, do p onto de vista de um posicionam ento geral a respeito do
problem a.
7.5. O p en sam en to clín ico e a s co n d içõ es b á sica s para
o seu fu n cio n a m en to

Q u ai.d o o psicólogo se d efro n ta com um tra b a lh o específico de


diagnóstico psicológico, percebe, m uitas vezes, a presença de in ú ­
m eros elem entos que interferem em sua m aneira de p ensar. N a re­
lação psicólogo-cliente despontam fatores de inúm eros tipos, pro v e­
nientes de setores b astan te diversos. O objetivo com que se rea­
liza o diagnóstico, o local de trab a lh o , a expectativa que o p ro fis­
sional tem em relação a essa atividade, suas experiências anteriores,
as características p ró p rias do cliente, o g rau de psicopatologia ap re­
sentado, o tipo ou q u alid ad e d a form ação teórico-prática do p ro fis­
sional, os m odos específicos de pensam ento deste e suas form as b á ­
sicas de se relacio n ar com o m u ndo são apenas alguns dos exem plos
d a v asta gam a de fatores que se acham presentes p ressionando, in­
terferin d o , conduzindo o m odo com o o psicólogo realiza sua tarefa.
Às vezes, p rin cip alm en te q u an d o se d ep a ra com seus prim eiros
clientes, o psicólogo não reconhece ou n ão d iscrim ina claram en te a
existência de tais fatores, e não pode, então, avaliar a influência que
eles exercem sobre sua atividade. N estas ocasiões, quase sem pre p re­
valece a angústia de se c o n fro n tar com um estado caótico, onde in­
form ações objetivas se m istu ram com suposições subjetivas. H á, tam ­
bém , no profissional, expectativas p ró p ria s de v ir a ter u m a boa
atuação, aliadas às expectativas atrib u íd as a colegas, superiores, che­
fes etc. e, ainda, seu tem or p ro fu n d o de p o d er v ir a cau sar danos ao
cliente, ao invés de ajudá-lo. Isto p ro d u z no iniciante em diagnós­
tico psicológico a sensação de estar cego p a ra os fatos, im possibili­
tado de en c o n trar um cam inho en tre eles, de v islu m b rar qual seja
seu real objetivo. N ão se sente fortalecido, ao m enos, p o r em pregar
um referencial teórico, pois, nesse estado em ocional, n ão pode reco­
n h ecer p rio rid ad es en tre os fatos.
C onsideram os, pois, de sum a im p o rtân cia, p a ra aquele que ini­
cia a aprendizagem do diagnóstico psicológico, discutir-se a defini­
ção, a d elim itação do cam po e a organização dos fato res externos e
in tern o s à situação d iagnóstica.

I 1 .0 o b j e t i v o e a p r o f u n d i d a d e d o p s i c o d i a g n ó s t i c o e s u a r e­
l a ç ã o c o m a i n te g r a ç ã o d o s d a d o s

P retendem os focalizar inicialm ente a questão relativ a ao o b j e ­


t i v o de determ in ad o estudo diagnóstico. Ele pode, p o r exem plo, ter
i com o fin alid ad e in serir o cliente em q u ad ro s nosográficos (especial­

89
m ente q u an d o é realizado em am bulatórios de hospitais p siq u iátri­
cos), ou pode ser utilizad o apenas com o um processo de triagem
em clínica-escola ligada a F aculdade de Psicologia, ou, ain d a, cons­
titu ir a avaliação psicológica hab itu al do atendim ento de um p ro fis­
sional em seu consultório p articu lar. D ependendo do objetivo a ser
alcançado, o psicólogo pode o rien tar um a pesquisa b u scando, em
cada caso, elem entos que o auxiliem a atingir a conclusão diagnos­
tica. A necessidade que surge m uitas vezes, em h ospitais p siq u iá­
tricos, de se defin ir q u ad ro s nosográficos, induz o profissional a valo­
rizar a sintom atologia apresen tad a pelo cliente, ou os resultados de
testes psicológicos de p er si. Nas clínicas-escolas de Psicologia, a
triagem dos clientes é realizada, quase sem pre, sem se levar em conta
a dinâm ica em ocional p ro fu n d a. A integração dos dados depende,
pois, da n atu reza e q u alid ad e destes, as quais, por sua vez, d epen­
dem do objetivo da tarefa. Pode-se dizer, via de regra, que, q uando
a tarefa é realizada de m odo sum ário, os processos de pensam ento
envolvidos são, tam bém , sum ários.

A variável p r o f u n d i d a d e do estudo diagnóstico refere-se à m aior


ou m enor abrangência com preensiva da com plexidade dos fatores
que com põem a p ertu rb açã o de personalidade de determ in ad o in d i­
víduo. Podem os citar com o exem plo de realização de p ro fu n d id ad e
a pen etração na história do desenvolvim ento da p ertu rb ação , nas
form as de m anutenção da m esm a, nas relações in trafam iliares e só-
cio-culturais do indivíduo, nas defesas utilizadas, nas p rincipais a n ­
gústias e fantasias inconscientes.

H á um a relação en tre o objetivo de um estudo diagnóstico e a


p ro fu n d id a d e que ele pode atingir. Às vezes, não há condições p ro ­
pícias de se atin g ir m aior p ro fu n d id ad e na penetração dos processos
psicopatológicos. Por exem plo, q u an d o o objetivo do trab a lh o é a
realização de um a sim ples triagem , nem sem pre um a m aio r p ro fu n ­
d idade na com preensão da vida psíquica pode ser o btida. Em term os
de pensam ento clínico, a tarefa parece tornar-se sim plificada q u an d o
a pen etração na vida psíquica é m enor G eralm ente, nestes casos, as
form as de pensam ento em pregadas são, tam bém , m ais sim ples. Por
o u tro lado, pode o co rrer, aí, um aum ento no grau de incerteza q u an to
às conclusões diagnosticas devido à insuficiente investigação.

Além das referidas, observam os, outrossim , outras variáveis:


aquelas que são im postas pelas o p o rtu n id ad es que o meio oferece
(local de trab alh o ), aquelas ditadas pelas possibilidades do próprio
cliente c aquelas referentes às possibilidades de quem atende.

90
2 . j4s c o n d i ç õ e s s i t u a c io n a i s e a q u a l i d a d e d o p e n s a m e n t o
c l í n ic o

H á variáveis p ró p rias do local de trab a lh o do psicólogo, que


podem condicionar as m anifestações do pensam ento clínico. F req ü en ­
tem ente, as form as que esse pensam ento assum e são decorrentes das
condições exteriores em que o trab a lh o se dá. Por exem plo, que am ­
p litu d e de altern ativ as existe p a ra um psicólogo que trab a llh a em
setores de serviço público em que h á centenas de crian ças d em an ­
d an d o u m ún ico espaço p a ra aten d im en to ? Problem as com plem en­
tares de m anutenção de em prego, p ro d u tiv id ad e, necessidade de o b ter
ganhos etc. co n trib u em em grande p a rte p a ra condições insatisfa­
tórias de trab a lh o . N estes casos, o psicólogo encontra-se m enos livre
p a ra p o d e r ex ercitar sua apreensão de conteúdos psíquicos em con­
dições em ocionais propicias a ele e ao cliente. T endem a o co rrer
pensam entos de tipo m ais form al e rígido, q uando não estereoti­
pados. As form as de pensam entos que podem p rev alecer nessas si­
tuações são sim ples analogias, relacionadas com experiências an te­
riores. O risco que o profissional corre, ao a tu a r em condições p re ­
cárias de trab alh o , é o de um em pobrecim ento geral em relação à
in d iv id u alid ad e e à id entificação dos problem as do cliente. O u seja,
o cliente será não-diferenciado e, apenas, m a is u m c l i e n t e a ser en­
caixado em um sistem a previam ente configurado. C om relação ao
p ró p rio profissional, im plica riscos de restrições à sua cap acidade de
p en sar, e de cristalização de suas possibilidades de apreensão.

3. O p e n s a m e n to c lín ic o em fu n ç ã o da p e r s o n a lid a d e do
c l ie n te

H á diferenças tão acentuadas e m arcantes en tre os clientes que


n ão ocorrem , p o r assim dizer, dois atendim entos sem elhantes. O
cliente pode p ro c u ra r aju d a psicológica p o r vários m otivos, m as,
considerando-se o aspecto m ais g eral da situação, ele p rocura espon­
tan eam en te (q u a n d o percebe a existência de problem as psíquicos)
ou é en cam inhado (geralm ente pela escola, q u an d o se tra ta de cria n ­
ças, ou p o r ou tro s profissionais). A atitu d e do cliente em relação ao
trab alh o do psicólogo está m uitas vezes previam ente condicionada
em fu n ção de sim ples diferenças iniciais de p rocura. F reqüentem ente,
observam os acen tu ad as divergências de percepção a respeito do p ro ­
blem a en tre quem encam inhou e o p ró p rio encam inhado. E sta d iv er­
gência determ ina, quase sem pre, dificuldades extras no desenvolvi­
m ento do processo diagnóstico, que in flu em n a m odalidade do p en ­
sam ento clínico do psicólogo. E xistem clientes que possuem m aior

91
co n tato com seus conteúdos psíquicos; ou tro s apresentam -se m uito
distanciados de si m esm os, im pelindo o psicólogo a p ro life ra r en tre­
vistas e /o u o uso de o u tras técnicas especializadas a fim de buscar
atin g ir aspectos d a m ente que se m ostram quase inacessíveis. H á
clientes de todo tipo: p ersonalidades histéricas, p sicopáticas, para-
nóides, fóbicos etc., cada q u al convidando o psicólogo a renovar-se,
a ajustar-se e desenvolver novas form as de relacionam ento interpes­
soal e de abordagem dos problem as. O m aterial clínico assim obtido
é p erm eado de sugestões em m ú ltip las direções, resistências, neces­
sidades de expressão em ocional genuína,- com unicações pré-verbais
etc., isto aliando-se a u m fa to r inefável, quase sem pre presente, que
to rn a aq u ela perso n alid ad e ú n ica e inatingível, irred u tív el a descri­
ções. O uso do p en sam ento é, então, algo que p ro c u ra to rn a r inteli­
gível aq u ilo que faz p a rte de um p ro fu n d o desconhecido e que em er­
ge do universo de nossa ignorância.
Em sum a, inúm eras são as forças que exercem pressão sobre o
trab a lh o do profissional e que, de um a ou de o u tra form a, atu am
sobre seu pensam ento, seja na fo rm a ou n o conteúdo. Isto é, a pos­
sibilidade de captação daq u ilo que é significativo no conjunto do
m aterial clínico é conseqüência, en tre inúm eros ou tro s aspectos, de
influências externas, de fatores que perm eiam a relação com o cliente
e de elem entos contidos n a p ró p ria p erso n alid ad e do psicólogo. N ão
podem os d ar a esse respeito senão u m a p á lid a idéia, d a d a a com ple­
x idade dos fatores envolvidos e a in teração en tre eles.

4. O p s ic ó lo g o c o m o e le m e n to c e n tr a l e c a ta lis a d o r

A o realizarm os um diagnóstico de p ersonalidade em pregam os re­


cursos técnicos com a fin alid ad e de o b ter inform ações sobre o cliente,
seu m eio fam iliar, social etc. Essas inform ações refletem tan to aspec­
tos objetivos (saúde, trab a lh o , v id a fa m iliar etc.) com o aspectos
subjetivos (angústias, fan tasias inconscientes, defesas etc.). O m ate­
rial clínico v aria, d en tro de determ inados padrões, de acordo com a
necessidade que o profissional sente de te r acesso a certos setores
de investigação, n a p ersonalidade do cliente. O s resultados obtidos
constituem os assim cham ados “ d a d o s” . P or exem plo, as inform a­
ções que os pais oferecem sobre o desenvolvim ento psicom otor de
um filho, as interpretações das estórias de um C A T (C h ild ren ’s Apper^
ception T est), ou os resultados de um teste de nível m ental são
“ d a d o s” N o en tan to , esses “ d a d o s” , q u an d o p arciais, não são, por
si só, concludentes. P a ra se atin g ir a conclusão diagnóstica, é abso­
lu tam en te necessária a in tro d u ção de um elem ento catalisad o r, que
dê sentido aos “ d a d o s” e que pro d u za u m m ovim ento de m etabo-

92
lização no con ju n to dos resultados parciais obtidos. E ste elem ento
tran sfo rm a a inform ação parcial em algo vivo e to talizad o r. E um
elem ento existente n a p ersonalidade do psicólogo, e é originado em
suas qu alid ad es de p en sar e de sentir. T ais a trib u to s: q u e estão p re­
sentes em todo ser hum ano, estão supostam ente desenvolvidos no
psicólogo clínico. À m edida que ele a d q u ira experiências h u m an as e
profissionais e ten h a conhecim entos m ais p ro fu n d o s de si p ró p rio ,
encontrar-se-á m elh o r ap a relh ad o p a ra o uso de sua equipagem m en­
tal p a ra ap reen d er estados em ocionais em seus clientes. N otam os,
todavia, que tan to estudantes com o profissionais iniciantes em Psi­
cologia pouco confiam em suas possibilidades in tern a s de ca p ta r e
av aliar a vida em ocional de seus clientes fazendo uso de sua in­
tuição, discernim ento e sensibilidade. Surge, talvez por isso, um a
necessidade incoercível de se escorarem em testes “ o b jetiv o s” e in ­
findáveis levantam entos de inform ações.
Q u a n d o o psicólogo está fu n cio n an d o em sua v id a em ocional
de m an eira harm ônica e u n itá ria , em contacto com seus objetos in­
ternos, pode v ir a ap reen d e r a realid ad e psíquica de seu cliente
com o u m a u n idade dinâm ica. N este caso p o d e in teg rar as diferentes
facetas daquela p ersonalidade que, h ab itu alm en te, surge de m odo
fracio n ad o no estudo diagnóstico através de testes psicológicos, en­
trevistas e o u tras técnicas de investigação clínica.
A apreensão de conteúdos latentes (que se enco n tram p a ra além
dos dados m anifestos) define u m a posição do psicólogo fren te ao
cliente. Essa apreensão relaciona-se, fu n d am en talm en te, com sua ca­
p acid ad e de p ercepção do m u n d o in tern o . O pensam ento clínico
(neste m om ento referim o-nos p rin cip alm en te ao diagnóstico psicoló­
gico do tipo com preensivo) é d ependente, pois, d a condição de o psi­
cólogo e n tra r em contacto com fenôm enos m entais de ou tro s in d i­
víduos e de interpretá-los.
O psicólogo é, p o rtan to , a fig u ra cen tral. É o pólo n o rtea d o r, o
co ntinente, o catalisad o r de todo o processo e aquele q u e m etaboliza
os dados. P a ra chegar a este p onto passa p o r um longo processo de
p re p ara ção pessoal, devendo m an ter sem pre presente, com o atitu d e
im plícita, a possibilidade de atualização de seu potencial, tan to no
sentido teórico-prático, com o, prin cip alm en te, n o sentido em ocional,

7.6. B ib lio g r a fia

A nzieu, D idier. O s M é t o d o s P r o je tiv o s . Trad. M . L. Eirado Silva. R io de


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de M . IX R ueda. M adrid, S iglo X X I de Espafia, 1970. (P sicologia y
E ducación)
8
O térm ino do processo psicodiagnóstico

S ô n ia R e g i n a J u b e lin i

8.1. In tro d u çã o

O profissional, ao d a r início ao processo psicodiagnóstico, as­


sum e com prom issos com o paciente, com seus fam iliares e tam bém
com ou tro s profissionais envolvidos com o caso. T o d o o processo ca­
m in h a, pois, p a ra um a conclusão que seja, n a m elhor das hipóteses,
um ad e q u ad o fecham ento do ciclo.
U m dos fato res que d á início ao processo diagnóstico é consti­
tu íd o pelas “ q u eix as” . A p a rtir deste p o n to , o psicólogo p ro cu ra
m eios de elucidação daq u ilo que se p assa com o paciente. P ara isso,
após a obtenção de inform ações e o estabelecim ento de relações e
conexões en tre os diferentes níveis do m aterial clínico, p o d erá chegar
a co m preender os significados dos d istú rb io s e tra n sm itir tal conhe­
cim ento.
F req ü en tem en te, p a ra o paciente, o p o n to alto do processo está
nas entrevistas devolutivas. São os m om entos em que ele tem a
o p o rtu n id ad e de m elh o r sintonizar-se com as razões de suas queixas,
e com o que deve ser feito p a ra m elh o ra r seus sofrim entos. M as
o u tro s elem entos en tram em jogo e m erecem d etid a apreciação. São
eles: encam inham entos, inform es psicológicos e entrevistas com ou ­
tros profissionais interessados.

95
8.2. E n ca m in h a m en to s

N a fase de encam inham entos o psicólogo indica elem entos p a ra


decisões a serem tom adas, ten d o p o r base a com preensão que teve
de aspectos da p erso n alid ad e do indivíduo estudado. Os encam in h a­
m entos devem estar estribados nas conclusões diagnósticas e prognos­
ticas, P ara estim ar q u a l a m elhor o rientação a ser seguida, con­
sidera-se a presença de m ú ltip las variáveis, en tre elas os tipos de
problem as apresentados pelo paciente e a d eterm in ação d a n a tu ­
reza, in tensidade e relevância dos distúrbios. O psicólogo orientar-
se-á, tam bém , pelos aspectos sadios do p acien te, in clu in d o sua cap a­
cid ad e de assim ilar contribuições ad ap tativ as do ex terio r e de se
m o d ificar em fu n ção delas.
As condições psicológicas e econôm icas do grupo fa m iliar as­
sum em , outrossim , relevante papel. D eve-se lev ar em co n ta a m aio r
ou m en o r p erm eab ilid ad e deste grupo em relação aos encam in h a­
m entos, tan to do pacien te q u an to de ou tro s de seus m em bros. P or
o u tro lado, ao se realizar encam inham entos, é ta re fa im p o rtan te dis­
cu tir com os p artic ip a n te s suas reais condições de efetivação e a tu a ­
lização desses encam inham entos, considerando-se a situação sócio-
econôm ica e cu ltu ra l d a fam ília. Q u a n d o n ão é dado o devido peso
a essa situação, despertam -se geralm ente grandes ansiedades, senti­
m entos de im potência e intensificam -se conflitos no pacien te e seus
fam iliares. P o r exem plo, se um grupo fam iliar assum e um aten d i­
m ento p ara um de seus m em bros incom patível com sua realid ad e
fin an ceira, poderá in terro m p e r p re m a tu ram en te esse aten d im en to com
fim de se v er livre do ô nus, ou exercer pressões sobre a pessoa aten ­
d id a a fim de q u e ev o lu a rapidam ente.
M uitas vezes, o psicólogo defronta-se com o fato d a existência
de encam inham entos m últiplos, sejam eles relacionados ao p ró p rio
pacien te ou à fam ília. N em sem pre convém q u e todos os encam in h a­
m entos se realizem sim ultaneam ente, tan to p a ra n ão so b recarregar
o paciente e /o u a fam ília, q u a n to p a ra n ão c ria r incom patibilidade
en tre diferentes técnicas terapêuticas. N este caso, é preciso te r em
vista u m a e s c a la d e p r i o r i d a d e s . N ão h á critérios fixos p a ra a es­
colha de p rio rid ad es, devendo cad a caso ser apreciado em suas p a r­
ticularidades. É essencial, n a d eterm in ação dos encam inham entos
p rio ritário s, q u e o psicólogo clínico se coloque an te u m leque de
possibilidades com um a visão am pla dos problem as, ev itan d o a ten-
denciosidade p ró p ria do especialista q u e prioriza as indicações d entro
de su a área.
C onsiderando que os encam inham entos decorrem de u m a ava­
liação global de diferentes funções ad ap tativ as do indivíduo, nem

96
sem pre dizem respeito, apenas, a indicações de atendim entos psico­
lógicos. A s conclusões diagnósticas, resu ltan d o de u m a análise das
condições in tern as e externas de v id a do paciente, podem im plicar
em indicações p a ra a p ro c u ra de especialistas de o u tras áreas, suges­
tões p a ra o desenvolvim ento de h ab ilid ad es específicas etc.
Q u an to aos encam inham entos à área da Psicologia, costum am -se
verificar, d en tre o leque de possibilidades existentes, quais as a lte r­
nativas q u e m elh o r se ad a p ta m à p ro b lem ática do in d iv íd u o em foco.
Pensam os q u e, sendo cada in d iv íd u o um ser único e su a p ro b lem á­
tica pecu liar, necessita ser posto em co rrespondência com aquilo que
p ro p riam en te lhe diz respeito d en tro d a v aria d a gam a dos possíveis
atendim entos psicológicos existentes. P o r exem plo, em u m encam i­
nh am en to p a ra psico terap ia é m ister in d icar aq u ela q u e se consi­
d era m ais eficaz, p o r conhecim entos an terio rm en te acum ulados em
o u tro s casos, p a ra o tip o de pro b lem ática q u e o paciente apresenta
(psicodram a, análise tran sacio n al, tera p ia co m p o rtam en tal, psicote­
ra p ia psicanalítica, p sicanálise etc.). A com patibilização a ser feita
não é som ente das técnicas psicoterapêuticas com a perso n alid ad e do
pacien te m as, ain d a, desta com a perso n alid ad e do profissional.
São inúm eras as questões q u e podem surgir relacionadas aos
encam inham entos do paciente, de tal fo rm a q u e n ão tem os a p re­
ten são de esgotar o assunto. Deve-se aten ta r, porém , ao fato de que
estes p roblem as são geralm ente ventilados de m odo am plo nas en tre­
vistas devolutivas. Assim , os encam inham entos constituem d eco rrên ­
cia de todos os passos anteriores do processo diagnóstico, cuja dis­
cussão foi fe ita em capítulos anteriores deste livro.

8.3. C o n sid era ções g era is sob re o in form e p sic o ló g ic o

O inform e psicológico é u m a condensação escrita de dados rele­


vantes do paciente, articulados no sentido de to rn a r possível um a
com preensão globalizada deste. O profissional deve elaborá-lo de
fo rm a a p ro p icia r ao leito r o reconhecim ento dos fatores psicológicos
essenciais do paciente, bem com o a elucidação do significado das
pertu rb açõ es.
T ornando-se relativam ente possível a previsão de atitudes do
pacien te em d eterm inadas ocasiões, o inform e psicológico servirá de
subsídio a ou tro s profissionais q u e necessitem dos dados. A ssim , es­
tes profissionais terão m elhores condições de to m ar decisões e ar­
q u ite ta r estratégias de ação p ara seu trab a lh o .
O inform e psicológico não fornece som ente conhecim entos a
respeito do paciente e de seu m eio fam iliar. T orna-se de algum m odo

97
rev elad o r da fo rm a com o o profissional fu n cio n a e percebe seu papel.
N a m edida em que é, tam bém , in strum ento capaz de traz er à tona
aspectos pessoais do psicólogo, pode h a v e r um a tendência de sua
elaboração ser evitad a ou, então, a sua real im p o rtân cia ser negada,
o que se trad u z , neste últim o caso, p o r relatos estereotipados que
pouco inform am sobre o in d iv íd u o em estudo. Segundo L ’A b ate
(1967, C ap. X II), o nível m édio dos relatórios psicológicos é pouco
útil p orque, às vezes, estão em basados n u m a falsa realidade, fo rm u ­
lando recom endações totalm ente irrealizáveis. E isto não é o que se
esp eraria de profissionais que se ocupam do bem -estar dos indivíduos.
O inform e não deve se isen tar de resp o n d er às perguntas fo rm u ­
lad as p o r quem solicitou o estudo (neurologista, p ed iatra, o rien ta d o r
pedagógico, instituições de vários tipos etc.). C ada solicitação traz
im plícita ou explicitam ente u m a necessidade, sendo im p o rtan te que
o psicólogo a reconheça e a aten d a n a m edida do possível.
A tualm ente o n úm ero de psicólogos clínicos que trab a lh am con-
veniados a várias instituições é grande. T ais instituições requisitam
periodicam ente inform es psicológicos com a fin alid ad e de, n a m aior
p arte das vezes, co m p ro v ar a necessidade d a co n tin u id ad e dos aten ­
dim entos em curso.
É im p o rtan te que, no co n trato estabelecido en tre o psicólogo e
a instituição, sejam esclarecidos aspectos concernentes à com unicação
a esta de inform ações sobre os pacientes. E m bora a instituição p re­
cise de inform ações a fim de responsabilizar-se pela m anutenção do
atendim ento psicológico d o indivíduo, estas devem se restrin g ir ao
m ínim o necessário p a ra as tom adas de decisões p o r p arte da insti­
tuição, resguardando-se a in tim id ad e do paciente. N orm alm ente estes
inform es vão p a ra setores ad m inistrativos e podem ser consultados
p o r leigos. Q u an d o , n a instituição, existe u m serviço de psicologia,
os inform es poderão ser m ais d etalhados, cabendo aos psicólogos
responsáveis pelo serviço zelar pelo sigilo das inform ações, não p e r­
m itin d o que as m esm as sejam m an ipuladas em detrim en to do p a ­
ciente.
Q u a n d o se tra ta de inform es p ara uso judicial surgem duas si­
tuações com objetivos diferentes. A p rim eira refere-se aos inform es
q u e têm p o r fin alid ad e assessorar a a u to rid a d e com petente em suas
decisões, sendo feitos de co n form idade com os padrões estabelecidos
p a ra esse tipo de serviço; é um exercício profissional que se cons­
titu i, praticam en te, em atividade especializada. N estes casos, o p si­
cólogo realiza o aten d im en to com a fin alid ad e de elab o rar o inform e
judicial, ten d o a aquiescência do paciente ou de seus responsáveis.
A segunda situação prende-se à socilitação de inform es p o r p a rte de
au to rid ad es, referentes a pacientes do psicólogo, que foram ou estão
sendo atendidos sem as finalidades acim a. T rata-se, p o r exem plo,

98
de solicitações de inform ações sobre pessoas q u e p ro c u rara m o aten ­
d im ento com objetivos psicoterapêuticos ou psicodiagnósticos. O p ro ­
fissional, estrib ad o no Código de É tica, não é obrigado a en v iar in­
form es que possam com prom eter a v id a ín tim a do p ac ie n te ou a
relação profissional estabelecida en tre am bos.
A linguagem nos inform es psicológicos deve ser sem pre clara,
flu en te e acessível. Segundo L ’A bate (1967) ela deve te r consistên­
cia e co n tin u id ad e in tern as, isto é, ser co n stru íd a d en tro de um a es­
tru tu ra coerente e u n itária.
M uitas vezes, é m ais indicado reso lv er o assunto através de
entrevistas com as p artes interessadas do que enviar-lhes inform es
escritos. N em sem pre isto é possível; co n tu d o , sabem os q u e a
discussão de casos através das en trev istas traz inúm eras vantagens,
além de p e rm itir um a noção m ais clara das in ferências e necessida­
des dos dem ais interessados,
É conveniente o u v ir o u tro s profissionais com a fin alid ad e de,
e n tre o u tro s aspectos, to rn a r relativ a a visão psicológica q u an d o in­
serida em um contexto m aior.

8.4. S u g e s tõ e s para a co m p o siç ã o d o in fo rm e


p sic o ló g ic o

E xistem m uitas form as de se p re p a ra r inform es escritos. Estes


dep en d em em p a rte do estilo de cad a profissional e do pensam ento
clínico q u e utiliza d u ra n te o processo de diagnóstico. E n treta n to ,
certos aspectos são relativam ente constantes, de m odo que podem
ser indicados. A seguir, oferecem os algum as sugestões p a ra a ela­
b o ração desses inform es, destinados, p rin cip alm en te, a alunos esta­
giários e psicólogos p rin cip ian tes. P ara sim plificar a red ação , con­
vém su b d iv id ir o texto em itens que facilitem a organização e a
com preensão dos dados. São eles:
a) D ados d e id e n t if ic a ç ã o . N om e, sexo, idade, d ata de nasci­
m ento, escolaridade, n acionalidade, local de origem , religião etc.
P o d erá co n star um genetogram a que especifique nom e, idade, p ro ­
fissão, fu n ção e grau de escolaridade de cada elem ento do grupo
fam iliar. N a figura 8 .1 tem os u m exem plo de caso fictício.
D esta fo rm a, tem-se um a visão im ediata da inserção do in d iv í­
d uo em seu m undo m icrossocial.
b) M o t i v o s d a c o n s u lt a . Que<xas ap resen tad as, relatando-se a
fo rm a com o expressam verbalm ente o p roblem a. H á queixas do p ró ­
prio pacien te, da fam ília, da escola e de o u tras fontes.

99
ST — [— O Roberta
36a.
fCurso
î i i r s n IUniversitário
I n iu p rc itá rin Colegial incompleto
Economista Prendas domésticas

Fábio Roberto Flávia


14a. 9 a. 8 a.
8? série 1? série 1? série

F ig u r a 8 . 1 . N este genetogram a o paciente é assinalado com a notação

c) R e c u r s o s u t i l i z a d o s n o p r o c e s s o d i a g n ó s t i c o . Especificar a
q u an tid ad e das entrevistas e observações realizadas, bem com o as téc­
nicas de investigações clínicas e testes psicológicos utilizados. O s
resultados do em prego destes recursos devem ser expostos de m odo
conciso e claro.
d) H i s tó r i c o d e v i d a . A presenta-se um resum o dos aspectos re ­
levantes da história de vida do sujeito q u e possibilite conhecer seu
processo evolutivo, as principais etapas de seu desenvolvim ento e o
estad o em q u e se en co n tra sua vida no presente. Sugere-se acres­
ce n ta r um a análise in terp re tativ a dem o n stran d o a m aneira com o o
psicólogo considerou estes aspectos.
e) D e s c r i ç ã o d o g r u p o j a m i l i a r e s u a d in â m ic a . Inclui dados
descritivos e dados dinâm icos. Os dados descritivos com preendem :
onde hab itam , qu an to s residem no m esm o lugar, situação sócio-eco-
nôm ica da fam ília, saúde física de seus m em bros, h áb ito s e valores
que possuem etc. O s dados dinâm icos dizem respeito ao jogo de
forças e ao con ju n to das principais forças in trafam iliares em inte­
ração com o paciente.
f) S ín t e s e o u c o n c l u s õ e s d i a g n o s tic a s . E sta p arte é constituída
p o r um relato daq u ilo q u e o psicólogo pôde perceb er e in teg rar no
contexto do psicodiagnóstico com o sendo sua com preensão psico­
lógica globalizadora do paciente. E videncia aspectos descritivos da

100
p ersonalidade, assim com o elu cid a possíveis significados p a ra suas
perturbações, com ênfase nos fatores in tern o s e externos que resultam
em desajustam entos. Im p o rta, tam bém , m encionar os aspectos sau­
dáveis do indivíduo. A com preensão psicológica globalizada im plica
respostas que o psicólogo oferece àquelas indagações que m otivaram
o estu d o . Isto é realizado não em term os de verdades absolutas, m as
sim com o hipóteses dependentes de corroboração. Ê um relato sin­
tético que p ro c u ra, tam bém , co n fig u rar os principais focos de angús­
tias, fan tasias inconscientes e m ecanism os de defesa p red o m in an ­
tem ente utilizados.
g) P r o g n ó s ti c o . Sendo um a decorrência das conclusões diag­
nosticas, refere-se n ã o apenas ao prognóstico sobre as p ertu rb açõ es
com o, tam bém , sobre os recursos em ocionais do paciente e do g ru p o
fa m iliar p ara lid a r com as m esm as e su p o rta r os atendim entos re­
q u erid o s.
h) E n c a m in h a m e n to s . As inform ações, aq u i, dizem respeito às
escolhas e indicações m encionadas n a 2 .a p arte deste ca p ítu lo e que
n o inform e são expressas de m odo b rev e, relacionando-as às e n tre ­
vistas devolutivas.

8.5. B ib lio g ra fia

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106
v a n K o lc k , O d e tte L o u r e n ç ã o

Testes projetivos gráficos


no diagnóstico psicológico
1 2 0 p ., fo r m a to 1 4 x 2 1 c m ., I S B N 9 7 S -8 5 -1 2 -6 2 1 5 0 -0

Esta obra dá ao estudante de Psicologia subsídios para o treinamento


em avaliação e interpretação de testes projetivos gráficos, um dos ins­
trumentos relevantes para um Diagnóstico Psicológico. M ostra a im ­
portância de se chegai' a um todo integrado de si gni ficados que forne­
ça um a compreensão dinâmica da personalidade e, eventualmente, leve
a um a conclusão em term os de indícios patológicos. Trata-se de um
texto para discipl ina de Técnica de Exam e Psicológico dos Cursos de
Psicologia e para as outras que focalizem a avaliação de personalidade
em geral e as Técnicas Projetivas Gráficas em particu lar. Será útil tam ­
bém aos cursos de aperfeiçoam ento e especialização, nas áreas de
E ducação e C om unicação e Artes. D a m esm a form a, o seu uso em
pesquisas será inesgotável: desde sugestões para esquemas de análise
de desenhos até idéias de interpretação dos significados do traço e do
contexto geral da produção gráfica.
Sum ário: Introdução. O uso projetivo dos desenhos e as técnicas
projetivas gráficas. Apresentação de um guia prático para avaliação e
interpretação. Linhas básicas de interpretação e significado dos as­
pectos gerais dos desenhos. Bibliografia. O D esenho da Figura H u­
m ana. O Teste da Árvore. O D esenho Livre.
C ú r ia -S a b in i, M a r ia A p a

Psicologia aplicada à Educação


160 p ., f o r m a to 1 4 x 2 1 c m , I S B N 0 7 8 -8 5 -1 2 -3 0 3 9 0 -1

Sumário: I. Aprendizagem. Teoriado condicionamento (Teorias S-R;


Teoria do reforço). Teoria cognitivista (os teóricos gestaltistas. A abor­
dagem fenomenológica). II. Retenção eTransferência. III. M otivação.
IV. M ensuração da inteligência. V. O desenvolvimento cognitivo: a te­
oria de Jean Piaget. VI. O desenvolvim ento da personalidade, VII. O
desenvolvimento moral.

B e n e v id e s P e r e ir a , A n a M a r ia T eresa

Introdução ao método de Rorschach


1 1 2 p ., f o r m a to 1 4 x 2 1 c m ., I S B N 9 7 8 -8 5 -1 2 -6 4 7 3 0 -2
A g o r a c o m u m E n c a r te d e a tu a liz a ç ã o .

O m étodo de Rorschach é tido com o o mais am plo e com pleto para o


conhecimento de um indivíduo como tal, principalmente se considerar­
mos que independe do grau de escolaridade ou do nível sócio-cultural
do examinando: criança ou adulto, analfabeto ou doutor, todos são iguais
d ia n te d a ta re fa d a p ro v a , v isto q u e não ex iste m re sp o sta s
preestabelecidas, certas ou erradas, nas figuras ambíguas elaboradas
por Rorschach. As “figuras” não fornecem estruturas eventualm ente
estandardizadas, nas quais a pessoa tenha a oportunidade de se evadir.
Introdução ao M étodo de Rorschach foi escrito, tanto quanto possível,
em linguagem simples, acessível ao iniciante, sem descurar, porém, dos
aspectos tccnicos e teóricos indispensáveis ao rigor científico. O método
de avaliação utilizado é o do psicólogo e psiquiatra brasileiro Anibal
Silveira. Destina-se a psicólogos e estudantes de psicologia que dese­
jem adquirir o conhecimento básico deste método.
Sum ário: introdução. Breve histórico do método. Considerações so­
bre a aplicação. Classificação das respostas. Tabulação das respostas.
Interpretação. Elaboração do relatório. Palavras finais. Bibliografia.
T r in c a , W a lte r

Investigação clínica da personalidade


1 7 6 p . , f o r m a t o 1 4 x 2 1 c m ., I S B N 9 7 8 -8 5 -1 2 -6 2 3 4 0 -5

A obra trata do Procedim ento de desenhos - estórias com o m eio de


auxiliar a ampliação da investigação da personalidade. O procedimen­
to é situado, dentro da metodologia do diagnóstico psicológico, como
interm ediário entre as entrevistas não estruturais e instrum entos
projetivos gráficos e tem áticos. O trabalho tem im plicação tanto na
área clínica com o na educacional, sendo a pesquisa realizada com pes­
soas entre 5 e 15 anos, estudantes da etapa final da pré-escola ao
início do 2 ° Grau.
S u m a rio : Introdução. Visão geral do cam po das técnicas e de
apercepção temática de desenho livre. Características do instrumento.
Avaliação. M étodos de pesquisa. A presentação e discussão dos re­
sultados. Utilização clínica. Conclusões. Referências bibliográficas.
Apêndice.
V ilh e n o M o r a e s S il v a , M a r i a C e c ília d e

TAT - Aplicação e interpretação do teste


de apercepção temática
7 2 p . , f o r m a t o 1 4 x 2 1 c m ., I S B N 9 7 8 - 8 5 - 1 2 - 6 4 8 1 0 - 1

O psicólogo que trabalha na área clínica utiliza com o principal instru­


m ento sua habilidade em ver além do comportamento manifesto, cap­
tando a m ensagem subjacente à expressão verbal e não-verbal. A in­
terpretação das histórias narradas ao TAT requer esta m esm a habili­
dade. A utilização de estím ulos padronizados pennite que as interpre-
tações sejam “ancoradas” em padrões m ais definidos, fornecendo a
base para o desenvolvim ento do raciocínio clínico, além de ser pode­
roso instrumento para a investigação da personalidade. TAT - Aplica­
ção e Interpretação do Teste de Apercepção Tem ática tem por obje­
tivo o exercício deste raciocínio, através de inform ações teóricas e
práticas, além de farto m aterial ilustrativo. A m edida que avança na
leitura, o leitor terá a possibilidade de form ular suas próprias hipóte­
ses, entrando em contato, ativamente, com as propostas de interpreta­
ção m ais tradicionais de H enry M urray e aquelas m ais recentes, de­
senvolvidas por Vica Shentoub.
S u m á rio : As técnicas projetivas. H istórico e fundam entos teóricos.
C o n h ecen d o o instrum ento. O m aterial. A aplicação. N orm as
aperceptivas e tem áticas. C om entários sobre as pranchas. C om pre­
endendo a situação. Bases para a interpretação A nálise de conteúdo.
Análise formal. Análise de seqüência. A elaboração da síntese. O TAT
na prática clínica. Folha de sistematização. Bibliografia.
M a r ia C la r a S o d r é S . G a m a , E d .D
Com a colaboração de: Cecília Miranda, Laurinda B. G Melo, Maria Beatriz Ligiéro,
Monica Fom m Rivera, Oneida Hill, MA, Paula Pessoa Cavalcanti

E ducação de Superdotados:T eoria e P rática

1 7 6 p ., f o r m a to 1 5 ,5 x 2 1 ,5 c m . IS B N 9 7 8 -8 5 -1 2 -3 0 8 2 0 -3

Z e n ita C . G u e n th e r

Capacidade e Talento
U m p ro g ra m a p a r a a E scola

1 2 0 p ., f o r m a t o 1 5 ,5 x 2 1 ,5 c m ., I S B N 9 7 8 - 8 5 - 1 2 - 3 0 7 9 0 - 9

F r e e m a n , J o a n ; G u e n th e r . Z e n ita C .

Educando os mais capazes


1 9 2 p ., f o r m a t o 1 5 ,5 x 2 1 ,5 c m ., I S B N 9 7 8 - 8 5 - 1 2 - 3 2 1 5 0 - 9

E u n ic e M . L . S o r ia n o d e A le n c a r ; D e n is e d e S o u z a F le ith

Superdotados: Determinantes,
Educação e Ajustamento
1 9 2 p . fo r m a to 1 5 ,5 x 2 1 ,5 c m ., I S B N 9 7 8 - 8 5 - 1 2 - 3 0 7 4 0 - 4

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