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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA
DISCIPLINA: Seminário de Teoria e Metodologia da História II (2009.2)
PROFESSOR: Francisco Santiago Júnior

SENTIDOS DA IDEOLOGIA

Hoje em dia o termo ideologia está carregado de significações variadas, seja por aqueles
que ainda trabalham com ele, seja pelos que o detratam. As diversas ramificações que o conceito
adquiriu desde sua popularização por Marx tornam inviável qualquer definição sumária. Ainda
assim podemos traçar um rápido histórico do termo ressaltando alguns dos aspectos conceituais
centrais dele nas ramificações do marxismo.
Entre as acepções centrais de ideologia podemos destacar três variantes: 1) sistema de
valores de uma classe ou grupo; 2) sistema de crenças ilusórias; 3) processo geral de produção de
significados e idéias. Seguindo Raymond Williams, para Marx e Engels a ideologia variava entre a
primeira acepção e a segunda. A ideologia na obra de Marx englobava as representações que uma
classe social dava de si própria, das suas relações com outras classes e da estrutura global da
sociedade. Neste sentido, numa formação social, a ideologia da classe dominante constituía a
ideologia dominante. Já a classe dominada só poderia resistir a essa dominação elaborando sua
própria ideologia. Ora, na obra de Marx a ideologia assumia uma dupla função: exprimia e traduzia
os interesses de classe e deformava e ocultava as relações reais de classe, criando um mascaramento
das condições sociais. Foi deste segundo ponto que adveio a idéia de ideologia como ilusão social.
O advento da classe operária criaria uma alternativa nesse jogo ideológico entre expressão
de valores e mascaramento das relações sociais: a tomada de consciência do operariado implicava
no combate à burguesia e na desmontagem de todo e qualquer dispositivo ideológico e de seus
modos de funcionamento. Por isso, para Marx, os valores e conhecimentos elaborados pelo
proletariado, seus sistemas de valores de classe não implicavam, eles próprios, numa ideologia, mas
se constituíam numa crítica das ideologias, uma vez que rompia com a necessidade de ocultar o
funcionamento das relações sociais.
A crítica de Gramsci, todavia, inaugurou novo momento de consideração da compreensão
de ideologia. O pensador italiano faz uma revisão das idéias de Marx e propõe um
reposicionamento do termo dentro de novas chaves, tentando superar o confinamento obtuso da
ideologia dentro do que se convencionou chamar super-estrutura, enquanto as forças determinantes
estariam na infra-estrutura. Por isso, para ele, a ideologia deve ser concebida como uma concepção
de mundo que não é necessariamente uma derivação imediata da situação de classe.
A concepção gramsciana ampliou sobremaneira as possibilidades contidas no conceito. Na
verdade, como concepção de mundo, a ideologia estaria muito próxima da idéia de cultura como é
concebida na antropologia. Existem, para Gramsci, várias modalidades de ideologia que ganham em
complexidade conforme o caso, tais como filosofia, o folclore ou o senso-comum.
Foi na matriz dos estudos culturais que o termo readquiriu uma direção que caminhava no
sentido pensado por Gramsci. Raymond Williams pensa no termo como complicado processo no
qual os homens se tornam (são) conscientes de seus interesses e seus conflitos, dizendo respeito
diretamente a experiência social. Em Williams, a ideologia é o resultado de um processo social
material de produção da significação, um conceito que permite estabelecer elos práticos entre
valores, crenças, idéias e teorias e a produção da vida.

REFERÊNCIA PRINCIPAL:
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979.

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