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Política e Gestão da

Educação

GENTILLI, Pablo. Neoliberalismo e


educação: manual do usuário
GENTILLI, Pablo. Neoliberalismo e
educação: manual do usuário
• Objetivo geral: abordar criticamente algumas dimensões
da configuração do discurso neoliberal no campo
educacional.
• Objetivos específicos:
• 1- Mostrar de que forma esta dimensão cultural,
característica de toda lógica hegemônica, foi sempre
reconhecida como um importante espaço de construção
política por aqueles intelectuais conservadores que, em
meados deste século, começaram a traçar as bases teóricas
e conceituada do neoliberalismo enquanto alternativa de
poder.
• 2- Apresentar algumas considerações gerais sobre como se
constrói a retórica neoliberal no campo educacional.
Objetivos específicos:
• 3- Identificar as dimensões que unificam os
discursos neoliberais para além das
particularidades locais que caracterizam os
diferentes contextos regionais onde tal retórica é
aplicada.
• 4- Questionar a forma neoliberal de pensar e
projetar a política educacional. Destacar algumas
das mais evidentes conseqüências da pedagogia
da exclusão promovida pelos regimes neoliberais
em nossas sociedades.
I .O neoliberalismo como
hegemônica
Uma estratégia de poder que se implementa em dois
sentidos articulados:
• 1- conjunto de reformas concretas no plano econômico,
político, jurídico, educacional, etc.

• 2- série de estratégias culturais orientadas a impor novos


diagnósticos acerca da crise e construir novos significados
sociais a partir dos quais legitimar as reformas neoliberais
como sendo as únicas que podem (e devem) ser aplicadas
no atual contexto histórico de nossas sociedades.
I .O neoliberalismo como
hegemônica
• Se deve ao fato de ter conseguido impor uma
intensa dinâmica de mudança material e de
reconstrução discursivo-ideológica da sociedade;
• Discursos, diagnósticos e as estratégias
argumentativas, a retórica, elaborada e difundida
por seus principais expoentes intelectuais.
• O neoliberalismo deve ser compreendido na
dialética existente entre tais esferas, as quais se
articulam adquirindo mútua coerência.
I .O neoliberalismo como
hegemônica
Expoentes:

• Friedrich A. Hayek
• Milton Friedman
• Ludwig Von Mises
I .O neoliberalismo como construção
hegemônica
• Experiências:
• Margaret Thatcher na Inglaterra
• Ronald Reagan, nos Estados Unidos.
• Helmut Khol na Alemanha...
• Verdadeira alternativa de poder no interior
das principais potências do mundo
capitalista.
I .O neoliberalismo como
hegemônica
• Contexto da intensa e progressiva crise
estrutural do regime de acumulação fordista
• Desmoronamento da fórmula keynesiana
cristalizada nos Estados de Bem-estar.
• A América latina - primeiro experimento
político do neoliberalismo em nível
mundial: a ditadura do general Pinochet
iniciada no Chile em 1973.
II- A retórica neoliberal em educação:
elementos para o seu reconhecimento
• Podemos nos aproximar de uma compreensão
crítica da forma neoliberal de pensar e traçar a
política educacional procurando responder,
brevemente, a quatro questões:
• 1. como entendem os neoliberais a crise educacional?
• 2. quem são, de acordo com essa perspectiva, seus
culpados?
• 3. que estratégias definem para sair dela?
• 4. quem deve ser consultado para encontrar uma saída para
a crise?
1-Como entendem os neoliberais a crise
educacional?
• Na perspectiva neoliberal os sistemas educacionais
enfrentam, hoje, uma profunda crise de eficiência,
eficácia e produtividade, mais do que uma crise de
quantidade, universalização e extensão.

• Crise de qualidade decorrente da improdutividade


que caracteriza as práticas pedagógicas e a gestão
administrativa dos estabelecimentos escolares.
1-Como entendem os neoliberais a crise
educacional?
• A educação funciona mal porque foi
marcadamente e penetrada pela política, porque
foi profundamente estatizada.

• A crise é produto da difusão da noção de


cidadania. Para eles, o conceito de cidadania em
que se baseia a concepção universal e
universalizante dos direitos humanos (políticos,
sociais, econômicos, culturais etc.)
2- Quem são, de acordo com essa
perspectiva, seus culpados?
• O modelo de Estado assistencialista e uma das
configurações institucionais que o tem
caracterizado: os sindicatos.
• Os próprios sindicatos de professores e todas
aquelas organizações que defendem o direito
igualitário a uma escola pública de qualidade.
• Os indivíduos são também culpados pela crise.
3- Que estratégias definem para sair
dela?
• Existe um consenso estratégico entre os
intelectuais conservadores sobre como e com que
receitas enfrentar a crise educacional.
• Formulação de um diagnóstico comum, a partir do
qual é possível explicar e descrever os motivos
que originaram a crise e, ao mesmo tempo, de uma
identificação dos supostos responsáveis por essa
crise.
3- Que estratégias definem para sair
dela?
• Estabelecimento de mecanismos de controle
e avaliação da qualidade dos serviços
educacionais.
• Articular e subordinar produção
educacional às necessidades estabelecidas
pelo mercado de trabalho
3- Que estratégias definem para sair
dela?
• As práticas escolares devem estar
submetidas aos mesmos critérios de
avaliação que se aplicam em toda empresa
dinâmica, eficiente e flexível. Se os
sistemas de Total Quality Control (TQC)
• A educação deve estar atrelada à
empregabilidade.
3- Que estratégias definem para sair
dela?
• Empregabilidade: capacidade flexível de
adaptação individual às demandas do
mercado de trabalho. A função "social" da
educação esgota-se neste ponto. A educação
deve apenas oferecer essa ferramenta
necessária para competir nesse mercado. O
restante depende das pessoas.
3- Que estratégias definem para sair
dela?
• Dinâmica paradoxal: descentralização centralizante e de
centralização-descentralizada.
• Transferem-se as instituições escolares da jurisdição
federal para a estadual e desta para a esfera municipal:
municipaliza-se o sistema de ensino.
• Propõe-se para níveis cada vez mais micro.(Foco na
escola)
• desarticulam-se as organizações dos trabalhadores da
educação.
• Flexibilizam-se as formas de contratação e retribuições
salariais dos docentes, etc.
3- Que estratégias definem para sair
dela?
• Ao mesmo tempo, os governos neoliberais centralizam
certas funções:
• a) a necessidade de desenvolver sistemas nacionais de
avaliação;
• b) Reformas curriculares a partir das quais estabelecer os
parâmetros e conteúdos básicos de um Currículo Nacional;
• c) Formação de professores centralizadas nacionalmente e
que permitam atualização dos docentes segundo o plano
curricular estabelecido na citada reforma.
• O Estado neoliberal é mínimo quando deve financiar a
escola pública e máximo quando define de forma
centralizada o currículo e avaliação.
3. 1. A mcdonaldização da escola
• A mcdonaldização da escola, uma metáfora apropriada
para caracterizar as formas dominantes de reestruturação
educacional propostas pelas administrações neoliberais.
• O ponto comum entre os McDonalds e a utopia
educacional dos homens de negócios é que, em ambos, a
mercadoria oferecida deve ser produzida de forma rápida e
de acordo com certas e rigorosas normas de controle da
eficiência e da produtividade.
• A escola, pensada e projetada como uma instituição
prestadora de serviços, deve adotar esses princípios de
demonstrada eficácia para obter certa liderança em
qualquer mercado.
3. 1. A mcdonaldização da escola

• Mcdonaldizar, a escola supõe pensá-la como uma


instituição flexível que deve reagir aos estímulos
(os sinais) emitidos por um mercado educacional
altamente competitivo.
• Assim como as pessoas precisam comer
hambúrgueres porque o trabalho (e, claro, a mídia)
o exige, também precisam educar-se porque o
conhecimento se transformou na chave de acesso à
nova Sociedade do saber.
3. 1. A mcdonaldização da escola
• A pedagogia da Qualidade Total se inscreve nessa
forma particular de compreender os processos
educacionais, não sendo mais do que uma
tentativa de transferir para a esfera escolar os
métodos e as estratégias de controle de qualidade
próprios do campo produtivo.
• Quem se aventurar a estudar com mais detalhes os
fast foods poderá encontrar uma surpreendente
similitude entre os mecanismos de planejamento
dos cardápios nesse tipo de negócio e as
estratégias neo-tecnicistas de reforma curricular.
4. quem deve ser consultado para
encontrar uma saída para a crise?
• Os exitosos: os homens de negócios.
• Sair da crise pressupõe consultar os especialistas
e técnicos : peritos em currículo, em formação de
professores à distância, especialistas em tomadas
de decisões com escassos recursos, sabichões
reformadores do Estado, intelectuais competentes
em redução do gasto público, doutores em
eficiência e produtividade, etc.
• “Experts” dos organismos internacionais
(especialmente o Banco Mundial)
III. Conclusão
• O aumento da pobreza e da exclusão conduzem à
conformação de sociedades estruturalmente
divididas nas quais, necessariamente, o acesso às
instituições educacionais de qualidade e a
permanência nas mesmas tende a transformar-se
em um privilégio do qual gozam apenas as
minorias.
• O darwinismo social intensifica o processo de
fragmentação e de divisão estrutural produzido no
interior das sociedades neoliberais.
III. Conclusão
• Os governos neoliberais deixaram (e estão deixando)
nossos países muito mais pobres, mais excludentes, mais
desiguais. Incrementaram (e estão incrementando) a
discriminação social, racial e sexual, reproduzindo os
privilégios das minorias.
• Exacerbaram (e estão exacerbando) o individualismo e a
competição selvagem, quebrando assim os laços de
solidariedade coletiva e intensificando um processo
antidemocrático de seleção "natural" onde os "melhores""
triunfam e os piores perdem.
III. Conclusão
• Os "melhores" acabam sendo sempre as elites que
monopolizam o poder político, econômico e cultural, e os
"piores", as maiorias submetidas às condições de pobreza e
violência repressiva que nega os direitos sociais e o direito
à vida.
• É nesse mercado que a exclusão e a desigualdade se
reproduzem e se ampliam. O neoliberalismo nada nos diz
acerca de como atuar contra as causas estruturais da
pobreza; ao contrário, atua intensificando-as.
III. Conclusão
• O desafio de uma luta efetiva contra as políticas
neoliberais é enorme e complexo. A esquerda não deve ser
arrastada (ou arrasada) pelo pragmatismo conformista e
acomodado segundo o qual o ajuste neoliberal é, hoje, a
única opção possível para a crise.
• Para os que atuamos no campo educacional, a questão é
simples e iniludível: logo após o dilúvio neoliberal as
nossas escolas serão muito piores do que já são agora. Não
se trata apenas de um problema de qualidade pedagógica
(embora também o seja), serão piores porque serão mais
excludentes.
III. Conclusão
• Desarticular a aparentemente inquestionável
racionalidade natural do discurso neoliberal
constitui apenas um dos desafios que temos pela
frente.
• A qual depende a possibilidade de se construir
uma nova hegemonia que dê sustentação material
e cultural a uma sociedade plenamente
democrática e igualitária.
III. Conclusão
• Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade. Nosso
pessimismo da inteligência deve permitir-nos considerar
criticamente a magnitude da ofensiva neoliberal contra a
educação das maiorias.
• Nosso otimismo da vontade deve manter-nos ativos na luta
contra um sistema de exclusão social que quebra as bases
de sustentação democrática do direito à educação como
pré-requisito básico para a conquista da cidadania, uma
cidadania plena que só pode ser concretizada numa
sociedade radicalmente igualitária.

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