Você está na página 1de 12

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS

GERAIS – PUC Minas


IPUC – Instituto Politécnico
Engenharia Química – Optativa I - Processamento e
Fundamentos de Combustíveis.

CARVÃO VEGETAL

Barbara Costa Borges (647207)


Dalila Aparecida Teixeira (666605)
Henrique Ramos Vieira (588453)

Profa: Dra. Marcela Rabelo Menezes Vilela

Belo Horizonte
10/2020
2

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................3
2 PROCESSO DE PRODUÇÃO...............................................................................................4
3 UTILIZAÇÃO.........................................................................................................................5
4 CONTEXTO NO BRASIL.....................................................................................................6
5 VANTAGENS E DESVANTAGENS....................................................................................8
6 LEIS........................................................................................................................................9
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................9

2
3

1 INTRODUÇÃO
Não se sabe ao certo quando foi a descoberta e o começo da utilização do carvão
vegetal mas supõe-se que tenha sido descoberto na era primitiva, quando os homens
descobriram que a madeira queimada que restava de fogueiras poderia ser utilizada para uma
outra queima mais controlada e confiável, sem muito fogo e fumaça. À medida que a
humanidade evoluiu, foram encontrados mais usos do carvão vegetal nas indústrias e casas.
(SANTOS; HATAKEYAMA, 2012).
Atualmente sabe-se que o carvão vegetal é proveniente da queima parcial da
madeira, para isso a lenha é queimada em um ambiente fechado com pouco oxigênio
disponível para ser consumido. (SANTOS; HATAKEYAMA, 2012).
Existem diversos relatos sobre o uso do carvão vegetal na área medicinal de
civilizações antigas e até mesmo em tribos indígenas, tanto no Brasil quanto pelo mundo. Um
exemplo disso seria misturar o carvão vegetal com gorduras naturais visando tratar úlceras e
alguns ferimentos superficiais. Pode ser usado como tratamento para envenenamentos e
desintoxicação do oxigênio na guerra, nos filtros de máscaras de gás, devido a suas
propriedades adsortivas. Devido a essas propriedades eventualmente foi descoberto o carvão
ativado que se diferencia do carvão vegetal por ter origem de materiais mais porosos,
geralmente lascas de madeiras específicas que darão ao carvão características adsortivas
muito maiores devido a sua estrutura microscópica. (PORTAL MACAÚBA, 2020). A
estrutura é mostrada na Figura 1 abaixo:
Figura 1 – Estrutura microscópica do carvão comum e ativado

Fonte: Portal Macaúba, 2020.


Podemos observar que o carvão ativado tem mais tipos de poros que o carvão
comum, ou seja, ele adsorverá maior quantidade de materiais de diferentes tamanhos e
propriedades. (PORTAL MACAÚBA, 2020).

3
4

2 PROCESSO DE PRODUÇÃO
O processo de produção do carvão pode ser visto simplificadamente na figura a
seguir:

Figura 2 – Fluxograma da produção do carvão vegetal

Fonte: Zona de Risco, 2012.

De acordo com a imagem, o processo de produção do carvão vegetal se inicia com o


corte da madeira, que é transportada e empilhada na frente do forno. A madeira então é
disposta dentro do forno, que então é fechado com tijolos para ser aceso. Durante o processo
de carbonização da madeira, o cozimento deve ser vigiado e controlado pela abertura e
fechamento dos respiradores. Após a carbonização, os tijolos são quebrados e o carvão é
retirado manualmente com uma pá e transportado para ser ensacado e armazenado para
venda.

4
5

A parte mais técnica da fabricação de carvão vegetal é a carbonização, os outros


processos são mais físicos e manuais. Segundo Rezende (apud SANTOS; HATAKEYAMA,
2012) temos a seguinte descrição do processo para a carbonização da madeira de eucalipto
como exemplo:
Primeiro ocorre a secagem da lenha, processo que ocorre a cerca de 110 °C, isso tira
o excesso de umidade presente na madeira.
Em seguida ocorre a torrefação, processo de 110-250 °C onde a partir de 180 °C a
água de constituição da madeira começa a ser liberada devido a decomposição das estruturas
orgânicas (Celulose e Hemicelulose) da lenha.
Após a torrefação a madeira é carbonizada, processo que ocorre entre 250-350 °C,
onde as partes orgânicas que começaram a ser degradadas na torrefação vai ter uma
degradação ainda mais intensa, existe formação de gases, óleos e água durante esse processo,
até que o carvão atinge uma quantidade de 75% de carbono e está quase pronto.
Para finalizar o processo após os 350°C existe uma liberação de elementos voláteis
que reduzem a pureza do carvão, melhorando assim sua qualidade, enfim o carvão vegetal
está pronto para ser retirado do forno.

3 UTILIZAÇÃO
De acordo com Brito e Barrichelo (1981), o carvão vegetal tem diversas utilizações
como:
a) uso doméstico: o carvão deve ser facilmente inflamável, deve emitir pouca
fumaça e não deve ser muito duro. Obtido a temperaturas de 350-400 °C;
b) metalúrgico: o carvão deve ser denso, pouco friável e resistente. Usado na
redução de minérios de ferro em altos fornos, fundição, entre outros. Obtido a partir de
temperaturas de 650 ºC em um processo longo de carbonização. Sua composição química
deve ter no mínimo 80% de carbono.
c) gasogênio: o carvão deve ser pouco friável com teor em carbono de 75%.
d) ativo: carvão deve ser leve com alta porosidade. Usado em produtos alimentares,
desinfecção e purificação de solventes.
e) indústria química: suas especificações variam de acordo com seu objetivo dentro
das indústrias.
Porém sua maior demanda é na siderurgia a carvão vegetal com a produção de ¼ de
ferro-gusa (isento de enxofre, o que não acontece quando há a queima do carvão mineral) e
½ de ferro-liga de acordo com a figura 3.

5
6

Figura 3 – Utilização de carvão vegetal no Brasil

4 CONTEXTO NO BRASIL
Apesar de ser sabido há centenas de anos que a queima da madeira consegue aquecer
uma casa com fogueiras ou cozinhar um alimento, ela ainda não era considerada uma fonte de
energia até recentemente na história. Até que em meados de 1972 a madeira foi considerada a
fonte primordial de energia no Brasil. Porém, nessa mesma época, o investimento em
energias derivadas do petróleo era muito alto e o achado da Bacia de Campos desbancou o
carvão vegetal e ele perdeu o primeiro lugar da matriz energética brasileira. E em 1978 as
hidrelétricas tomaram sua vice-liderança. (BRITO, 1990).
Em pleno século 21 é de se espantar que a participação do carvão vegetal no
Balanço Energético Nacional (BEN) seja significativa e que corresponda a ⅓ da produção
mundial . Uma produção que tem histórico de trabalho análogo ao de escravo e com alto grau
de poluição devido a falta de tecnologias e estudos para técnicas avançadas nas carvoarias
com seus fornos de “rabo quente” além da devastação de matas nativas para matéria prima.
(PINHEIRO et al., 2006).

6
7

No Balanço Energético Nacional de 2020, que tem como base os anos de 2018 e
2019, é visível a manutenção da lenha e carvão vegetal na matriz energética brasileira, como
exposto na figura 4, entrando como biomassa junto com bagaço de cana e biodiesel.

Figura 4 – Matriz Elétrica Brasileira

Fonte: Empresa de Pesquisas Energética, 2020.

Outra categoria estudada no BEN é a repartição da oferta interna de energia (figura


tico) que reitera a parcela considerável de energia obtida do carvão vegetal.

Figura 5 – Repartição da oferta interna de energia

7
8

Fonte: Empresa de Pesquisas Energética, 2020.


Alguns dados indicam que mais de 75% da matéria prima do carvão vegetal vem de
matas nativas e isso implica uma questão bastante complicada quando o país se esforça para
se tornar uma nação responsável com a sustentabilidade ambiental. (BRITO, 1990).
Há locais que tem capacidade de se recuperar do desmatamento em mais ou menos
10 anos, como o cerrado mineiro, que já são de conhecimento de carvoarias. Porém é
importante que haja movimento para que essa recuperação seja mais rápida. O uso de
terrenos com responsabilidade ambiental deveria ser contínuo e bastante regulamentado para
que não haja perdas permanentes.

5 VANTAGENS E DESVANTAGENS
O primeiro pensamento que pode vir a mente quanto a produção do carvão vegetal é
de onde sairá tanta matéria prima. Como supracitado, há indícios de que mais de 75% dessa
matéria-prima seja de mata nativa, o que é a grande desvantagem do carvão vegetal como
fonte de energia. Contudo, nem tudo é ruim.
Quando é preciso tirar a mata de um determinado lugar, geralmente é empregado o
fogo. Com a possibilidade de usar essa madeira para outra fonte de lucro, há o
aproveitamento dessa madeira em vantagem econômica. Além de que a emissão de CO2 será
menor do que quando tem a queima total da madeira em uma queimada descontrolada porque
entre 30 e 40% da madeira vira carvão vegetal ao invés de gases. (MUNDO EDUCAÇÃO,
c2020)

8
9

Outro ponto importante a se debater é sobre as propriedades medicinais que tem sido
cada vez mais usadas devido ao aumento da busca por produtos mais naturais para uso
estético e medicinal. Nesse mesmo aspecto pode-se considerar suas propriedades adsortivas
que são utilizadas para adsorver impurezas para o tratamento de gases e água, pode ser
encarado como um eliminador de toxinas natural. (MUNDO EDUCAÇÃO, c2020)
Mesmo sendo considerado uma fonte de energia renovável que caracteriza como
aquela energia inesgotável e/ou de fonte que se renova de forma cíclica em função de um
curto período de tempo, a produção de carvão vegetal emite gases poluentes com o uso dos
seus fornos primitivos o que implica no aumento do efeito estufa. (PACHECHO, 2006).
Mais um fator a ser discutido é que o carvão vegetal não é tão potente quanto o
carvão mineral, entretanto ele é usado em contextos diferentes, ou seja, isso pode ser
considerado um ponto negativo ou positivo, depende do contexto. (MUNDO EDUCAÇÃO,
c2020)
Como a agropecuária tem pegado para si grandes extensões de território, está
ficando cada vez mais difícil ter uma reserva de madeira perto de carvoarias, o que pode
causar prejuízos em relação a transportes a longas distâncias. Incrivelmente, isso incentiva as
empresas a se empenharem nos programas de reflorestamento que estão suprindo por volta de
22% da quantidade de carvão necessário no Brasil, podendo até ter macro empresas que têm
100% de autossuficiência.

6 LEIS
A resolução CONSEMA n° 365/2017 diz respeito aos critérios para a produção do
carvão vegetal de forma regularizada, tratando principalmente sobre tamanhos e espessuras
para fornos e chaminés e a distância que o forno deve estar de habitações e rodovias (PORTO
ALEGRE, 2017). O projeto de lei 7.478 de 2006 buscava proibir a exploração da bacia do rio
São Francisco para produção de carvão, enquanto o projeto de lei 2.340-B, de 2007, buscou
regulamentarizar as atividades de comércio, revenda, transporte e empacotamento do carvão
vegetal; entretanto, ambos os projetos foram arquivados.
Existem algumas leis acerca da produção, distribuição e uso do carvão vegetal, como
as já citadas, porém, como geralmente a produção é rústica e não fiscalizada, às vezes várias
leis trabalhistas acabam sendo negligenciadas. Leis que deveriam proteger o trabalhador de
jornadas de trabalho extensas, da insalubridade do ambiente de trabalho como o calor
excessivo, os gases tóxicos e problemas ergonômicos causados pelo excesso de peso e falta
de equipamentos adequados que, a longo prazo, podem acarretar em vários problemas de

9
10

saúde, além da falta de equipamentos de proteção individual (EPI’s) e equipamentos de


proteção coletivos (EPC’s) que, por aumentarem o custo final de produção, acabam sendo
considerados gastos desnecessários. Portanto, por mais que essas leis não fiscalizem a
obtenção e uso do carvão em si, é necessário levá-las em consideração uma vez que são
importantes para assegurar a saúde e segurança do trabalhador, porém, são muito ignoradas
nesse ramo.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Jeham Serafim de. Produção de carvão vegetal: desafios e


oportunidades. Inflor, 2019. Disponível em: <https://www.inflor.com.br/producao-de-carvao-
vegetal-desafios-e-oportunidades/>. Acesso em: 19 de outubro de 2020.
BRITO, José Otávio. Carvão vegetal no Brasil: gestões econômicas e ambientais.
São Paulo Energia, São Paulo, v. 4, nº 9, mai./ago. 1990. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0103-40141990000200011>. Acesso em: 19 de outubro de 2020.
BRITO, José Otávio; BARRICHELO, Luiz E. G. Considerações sobre a produção
de carvão vegetal com madeiras da Amazônia. Instituo de Pesquisas e Estudos Florestais,
Piracicaba, v. 2, n. 5, p. 1-25, mar./1981. Disponível em:
<https://www.ipef.br/publicacoes/stecnica/nr05/cap01.pdf>. Acesso em: 19 de outubro de
2020.
BRASIL. Projeto de Lei n.º 7.478, de 2006. Proíbe a produção de carvão para fins
comerciais e industriais com base em matéria-prima proveniente de vegetação nativa na bacia
do rio São Francisco. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=02C136AB166
5176786F5844F3306ED94.node2?codteor=418794&filename=Avulso+-
PL+7478/2006#:~:text=rio%20S%C3%A3o%20Francisco.-,Art.,aplica%C3%A7%C3%A3o
%20das%20san%C3%A7%C3%B5es%20penais%20cab%C3%ADveis.>. Acesso em: 19 de
outubro de 2020.
BRASIL. Projeto de lei n.º 2.340-B, de 2007. Dispõe sobre a responsabilidade
solidária das pessoas jurídicas exploradoras de atividade de comércio, revenda, transporte ou
empacotamento de carvão vegetal e demais atividades relacionadas à circulação de carvão
vegetal no mercado nacional e dá outras providências. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=93607AA7B4
A18961A42D4D8D08EF057B.node2?codteor=649570&filename=Avulso+-

10
11

PL+2340/2007#:~:text=24%2C%20II%2C%20e%2032%2C,utiliza%C3%A7%C3%A3o
%20industrial%20do%20carv%C3%A3o%20vegetal.>. Acesso em: 19 de outubro de 2020.
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Balanço Energético Nacional 2020.
Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: <https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-
abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-479/topico-521/Relato%CC%81rio
%20Si%CC%81ntese%20BEN%202020-ab%202019_Final.pdf>. Acesso em: 19 de outubro
de 2020.
MUNDO EDUCAÇÃO. Diferença entre carvão mineral e carvão vegetal. c2020.
Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/diferenca-entre-carvao-
mineral-carvao-vegetal.htm>. Acesso em: 19 de outubro de 2020.
PACHECO, Fabiana. Energias renováveis: breves conceitos. Conjuntura e
Planejamento, Salvador: SEI, n.149, p.4-11, out. 2006. Disponível em: <http://files.pet-
quimica.webnode.com/200000109-5ab055bae2/Conceitos_Energias_renov
%C3%A1veis.pdf>. Acesso em 19 de outubro de 2020.
PINHEIRO, P. C. C. et al. A produção de carvão vegetal: teoria e prática. Belo
Horizonte, 2006.
PORTAL MACAÚBA. Qual a diferença de carvão vegetal e carvão ativado. 2020.
Disponível em: < http://www.portalmacauba.com.br/2020/01/qual-diferenca-de-carvao-
vegetal-e.html>. Acesso em: 19 de outubro de 2020.
PORTO ALEGRE. Resolução CONSEMA n.º 365/2017. Altera a Resolução
315/2016, que estabelece critérios para o licenciamento da atividade de produção de carvão
vegetal em fornos e dá outras providências. Publicado no DOE do dia 19 de outubro de 2017.
Disponível em: https://www.sema.rs.gov.br/upload/arquivos/201710/20092257-365-2017-
altera-a-r-315-2016-carvao-vegetal.pdf>.
SANTOS, Sueli de Fátima; HATAKEYAMA, Kazuo. Processo sustentável de
produção de carvão vegetal quanto aos aspectos: ambiental, econômico, social e cultural.
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, v. 22, n. 2, p. 309-321, mar./abr.
2012. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/prod/v22n2/aop_200803023.pdf>. Acesso
em: 19 de outubro de 2020.
SILVA, Márcio et al. Impacto econômico das áreas de preservação permanente e
reserva legal na produção de carvão vegetal. Revista de Política Agrícola, Ano XVIII, n.º 3,
jul./ago./set. 2009. Disponível em: <
https://seer.sede.embrapa.br/index.php/RPA/article/view/384/331>. Acesso em: 19 de
outubro de 2020.

11
12

ZONA DE RISCO. Riscos na produção de carvão vegetal. 2012. Disponível em:


<https://zonaderisco.blogspot.com/2012/07/riscos-na-producao-de-carvao-vegetal.html>.
Acesso em: 19 de outubro de 2020.

12

Você também pode gostar