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RELATÓRIO

Rio de Janeiro, 12, 13 e 14 de julho de 2011


Centro de Referência Cultura Infância — Teatro do Jockey - Rua Bartolomeu Mitre, 1110, Gávea,
Rio de Janeiro-RJ
Elaborado por:
Eliana Cristina Taveira Crisostomo
Maria da Penha de Oliveira
Silvia Maria de Mattos Arruda

Apoio Administrativo:
Mariana Samartini Coelho
Nayara Oliveira

Mãos dadas (Poema da Obra Sentimento do mundo)

Não serei o poeta de um mundo caduco.


Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho os meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considera a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Carlos Drummond de Andrade


SUMÁRIO

Introdução 5
I - Apresentação 7
II - Resumo Executivo 7
III - Desenvolvimento dos Trabalhos 8
1 - Abertura 8
2 - Contextualização 9
3 - Painéis 9
4 - Trabalhos em Grupos 20
5 - Grande grupo 25
6 - Encerramento 25
IV - Produtos 26
V - Considerações e Encaminhamentos 29
VI - Avaliação 31
VII - Anexos 34
Anexo 1 34
Anexo 2 36
Anexo 3 38

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Introdução
Pensar a cultura da infância e fomentar a produção de conteúdos,
programas, e metodologias culturais para esse público significa atuar num
momento significativo da trajetória de vida dos sujeitos, ampliando suas
possibilidades de fruição estética e de incorporação de valores éticos.

Orientado por este pensamento, o Ministério da Cultura, por meio da


Secretaria de Cidadania Cultural (SCC), foi parceiro do Festival Internacional
de Linguagens (FIL) para a realização do I Encontro Nacional Cultura e
Infância, que aconteceu de 12 a 14 de julho de 2011, na cidade do Rio de
Janeiro. Para esse Encontro, foram convidadas pessoas de reconhecida
atuação em diversas vertentes artístico-culturais na área da infância,
generosamente dispostas a compartilhar seu tempo e conhecimento.

Durante os três dias, esses representantes se reuniram para


discutir conteúdos relacionados ao tema e apontar diretrizes para
a formulação de uma Política Cultural para a Infância Brasileira,
a ser lançada em breve pelo Ministério da Cultura.

Assim, este relatório contempla o resultado do Encontro, que é saldo parcial de


um processo de formulação mais amplo – é ainda um documento de trabalho,
um documento interno. Representa, portanto, a fala dos participantes e as
discussões realizadas, não caracterizando um posicionamento institucional
do Ministério da Cultura – o que não exclui os eixos conceituais delineados
entre a instituição e os participantes, reforçando a pactuação maior e mais
abrangente a respeito da centralidade da questão para o Ministério.

O I Encontro Nacional Cultura e Infância ambicionou ser mais do que um


evento, para tornar-se um detonador de processos de aprendizagem e difusão
de ideias e conhecimento sobre a cultura da infância. Este é apenas o início!

Aproveitem e boa leitura!

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I-APRESENTAÇÃO

Este Relatório apresenta, de forma sistematizada, as exposições, os debates


e os trabalhos de grupos realizados no I Encontro Nacional Cultura e Infância,
envolvendo vários atores na identificação de indicativos de diretrizes
para a formulação da Política Nacional de Cultura para a Infância.

Buscou-se estruturar o documento de modo a possibilitar uma visualização


abrangente das reflexões e dos debates realizados, a partir do compartilhamento
do conteúdo preconizado nos instrumentos legais que tratam do assunto, das
experiências trazidas pelos painelistas, assim como o registro das proposições
surgidas dos grupos de trabalho, apreciadas e referendadas no grande grupo.

A apresentação dos resultados do I Encontro Nacional Cultura e Infância


visa contribuir para a ampliação das reflexões e definições posteriores das
diretrizes que orientarão a Política Nacional de Cultura para a Infância.

II- RESUMO EXECUTIVO

O presente relatório registra o desenvolvimento e os resultados do


1º Encontro Nacional Cultura e Infância promovido pelo Ministério da
Cultura, por meio da Secretaria de Cidadania Cultural, realizado no Teatro
Municipal do Jockey - Rio de Janeiro nos dias 12, 13 e 14 de julho de 2011,
em parceria com o 9º Festival Internacional de Linguagens (FIL).

Participaram do evento 69 pessoas — entre gestores, dirigentes e


coordenadores de projetos culturais, professores, servidores do Ministério
da Cultura, participantes do 9º FIL, curadores e especialistas.

O encontro é parte integrante do processo de formulação e implementação de uma


Política Cultural para a Infância Brasileira, prioridade definida pela Constituição
Brasileira e pelos documentos internacionais dos quais o Brasil é signatário.

De caráter consultivo teve como objetivo “propor indicativos de


diretrizes que possibilitem formular uma política cultural para a
infância que tenha na experiência estética um de seus pilares”.

A metodologia de trabalho do encontro consistiu-se de exposições apresentadas por


especialistas da área da cultura, em dois painéis seguidos de trabalhos de grupos.

O evento teve o mérito de ensejar a atualização dos participantes em


questões próprias da cultura e a troca de informações sobre suas práticas,
suas percepções acerca da cultura como instrumento de promoção da
cidadania da infância e se constituiu em um espaço de participação,
compartilhamento de informações e de construção coletiva.

A programação foi estruturada no primeiro dia, a partir de uma fala


política da Secretária de Cidadania Cultural - Marta Porto - na abertura dos
trabalhos, seguida de uma fala de contextualização proferida por um dos
idealizadores do Programa Doutores da Alegria -Wellington Nogueira.

Em seguida houve o primeiro painel do Módulo 1: Construção a partir


das experiências artístico-culturais, seguido de debate. Foram eles: Ilo
Krugli (Teatro Vento Forte) Beth Carmona (Midiativa), José Maria Braga
(Escola de Musica Villa Lobos) e Evandro Salles (artista plástico).

Após o Painel todos os participantes compartilharam, em grupo, percepções


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advindas do mesmo e, em conjunto, apresentaram indicativos de diretrizes para
a formulação e implementação de Política Cultural para a Infância Brasileira.

O segundo dia foi iniciado com as falas Guti Fraga (Nós do Morro) e Ziraldo.

Prosseguindo, realizou–se o painel do Módulo 2: Construção a partir de


práticas e metodologias – que contou com a participação de Carlos Barmak
(Fundação Bienal de São Paulo); Luciana Chen (Centro Cultural Banco do
Brasil); Angela Mascelani (Museu Casa do Pontal); Claudius Ceccon (CECIP);
Karen Acioly (FIL); e Laura Dalla Zen (Fundação Iberê Camargo).

No trabalho de grupos, os participantes tiveram a possibilidade de


propor diretrizes, tendo como indicativos as seguintes temáticas:
metodologias de arte educação; projetos educativos- mediação e
fruição; e concepções de espaços culturais voltados para crianças.

O terceiro dia do encontro foi dedicado ao compartilhamento,


discussão e validação das diretrizes propostas ao longo dos
dois dias, bem como a inserção de novas propostas.

A Secretária de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura, Marta


Porto, encerrou o Encontro, agradecendo a todos e reafirmando a
importância da Política Nacional de Cultura para a Infância.

III - DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS

1-ABERTURA

O encontro foi iniciado com a fala da senhora Karen Acioly, criadora, curadora
e diretora artística do 9º Festival Internacional de Linguagem- FIL, dando
boas vindas aos presentes e tecendo comentários a respeito do festival.

Em sua apresentação destacou a receptividade da Secretária Marta Porto para a


parceria pela infância aproveitando a realização do FIL, e agradeceu a presença de
cada um dos participantes, pois representam a cultura da infância de sua cidade.

Passou então, a palavra à Secretária de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura


para abertura oficial dos trabalhos do I Encontro Nacional Cultura e Infância, que:

- agradeceu em nome do Ministério a presença dos participantes e destacou o


esforço por parte do MinC para implementar o Sistema Nacional de Cultura;
- ressaltou a importância do momento e da parceria firmada para a
formulação da política para a infância por parte do Ministério;
- reafirmou o interesse pela infância e destacou a parceria com o UNICEF;
dentre as providências para entregar em outubro próximo, a Política
Nacional de Cultura para a Infância, formulada, para ser implementada;
- falou sobre a criação de um grupo de trabalho para ouvir e entrevistar
o maior número de pessoas e grupos que possam contribuir para a
formulação de uma matriz focada no desenvolvimento da criança,
para o diálogo com governos de estados e municípios;
- enfatizou o programa de valores de cidadania, em consonância com a
reflexão do atual governo sobre qual é o projeto político de sociedade
que se quer desenvolver, como pedido da Presidenta Dilma.

Finalizou dizendo o quanto acredita e agradece a todos, o compromisso de


fazer com que as coisas aconteçam de verdade, e informando, ainda, que
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era portadora de um abraço amigo, por parte da Ministra da Cultura.

2- CONTEXTUALIZAÇÃO

Wellington Nogueira
Fundador e Coordenador Geral Doutores da Alegria

O potencial da linguagem artística na transformação de


ambientes e na construção de experiências afetivas

A partir de sua experiência o expositor desenvolveu sua fala na


trilha do encontro do palhaço com a criança, enfocando os vinte
anos dos “Doutores da Alegria” com alguns comentários:

- Há sessenta iniciativas desse formato em vários estados;


- Diferentes metodologias têm sido adotadas: buscando criança
por criança, ou apresentando espetáculos em corredores de
hospitais, potencializando espaços que tocam a vida delas;
- a adesão de médicos, enfermeiros e cuidadores,
todos se tornam atores e platéia.

Fez algumas constatações decorrentes do desenvolvimento


das atividades dos Doutores da Alegria:

- o resgate da criança do controle do seu corpo e da sua vida;


- a alegria como uma comunicação bem sucedida,
entendendo a necessidade do outro;
- o artista servindo o público com sua arte, trabalha
o que tem de melhor servindo à criança;
- a alegria é que permite o contato e o relacionamento com a criança;
- o impacto provocado pelo trabalho nas unidades de saúde;
- a missão dos palhaços: brincar com as perguntas e não trazer respostas;
- humanização dos espaços de saúde como reais espaços de cultura.

Informou ainda aos presentes sobre os resultados de uma pesquisa


para criar indicadores de resultados do trabalho.

Concluiu sua exposição com a mensagem: “conectar as pessoas pela alegria”

3- PAINÉIS

Módulo 1- CONSTRUÇÃO A PARTIR DAS


EXPERIÊNCIAS ARTISTICO-CULTURAIS

Neste módulo foram discutidas, a partir da experiência dos participantes, as


múltiplas potencialidades da fruição de linguagens artísticas pelas crianças.

A discussão, em painel, foi conduzida no sentido de analisar as experiências


e delas abstrair, por meio do debate e sua sistematização, diretrizes que
possibilitem formular uma política cultural para a infância que tenha na
experiência estética um de seus principais pilares. Essa opção se justifica
na medida em que se tem como parâmetro a noção de trajetória de vida,
ganhando importância fundamental a experiência estética na infância
para a incorporação de valores éticos e a plena formação do ser.
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1-A Importância da Linguagem Cênica na
formação do Imaginário Infantil
Ilo Krugli
Fundador Teatro Vento Forte

As palavras do painelista trouxeram algumas reflexões sobre a


disponibilidade para vivenciar a criança do outro e a nossa própria criança,
pois ninguém pode deixar desaparecer a criança que há em si.

Ilustrou a sua explanação com a sua trajetória de vida desde a chegada ao


Brasil e a inserção na cultura brasileira, especialmente fazendo teatro.

Destacou que no imaginário é importante a memória, pois ninguém faz


música, poema se não tem memória, não importa se seja real ou irreal,
no teatro tudo tem que ser verdade, pois somos materiais e imateriais.
O imaginário está no desenvolvimento de todas as vivências.

2- A Produção de Conteúdos audiovisuais para a Infância


Beth Carmona
Presidente MIDIATIVA

A painelista iniciou sua fala dizendo como se conectou com a


questão da infância como uma profissional de televisão.

Viajando pela América Latina foi se aperfeiçoando, e identificando


que a criança era tratada com diferentes percepções.

Lembrou que no audiovisual infantil o Brasil se desenvolvia


pouco, andava devagar para produzir coisas.

Falou da criação do Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes


- MIDIATIVA e que seu papel principal foi de articuladora dialogando
com vários públicos, especialmente com os produtores, com o propósito
de sensibilizá-los para as diferentes fases do desenvolvimento infantil
e o que isto significa para diferentes percepções de mundo.

Chamou a atenção sobre a importância da formação dos produtores para


a infância e dos talentos que existem no Brasil que podem ministrar
“workshops”, ouvindo também experiências de fora do país.

Destacou a Mostra de Cinema que fizeram para atingir pais e


famílias no sentido de formar seu conceito audiovisual.

Insistiu na existência de diferentes formas de linguagens para que a


criança possa fazer suas escolhas além do desenho animado.

Informou sobre os festivais, mostras e premiações promovidas,


falando ainda de sua experiência na TVE, hoje TV Brasil.

Finalizou dizendo que se tem que mergulhar e acreditar na potencialidade


do universo digital, pois as crianças de hoje são muito conectadas
com respostas imediatas e precisa-se povoar esses espaços interativos
com as crianças, oferecendo-lhes produtos de qualidade.

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3- A Importância da Linguagem Musical
no Desenvolvimento Infantil
José Maria Braga
Diretor da Escola de Música Villa Lobos

O painelista colocou sua trajetória de vida, com riqueza de detalhes, desde suas
dificuldades na escola como criança até como a música o ajudou em sua mudança
de residência do Pará para o Rio de Janeiro, em sua adaptação à nova cultura.

Ressaltou que a escola que dirige faz parte do seu projeto de vida, e que
a música e tudo o que ela lhe ofereceu possibilitou-lhe resgatar o seu
exílio e a sua inserção em todos os grupos. Dessa forma, procura trazer
isto para a sua vida: possibilitar que as pessoas possam se comunicar,
expressar, falar das suas angústias, das suas histórias, dos seus desejos.

Contou que estudou bandolim e flauta, destacando a importância


desses instrumentos para sua inserção na comunidade do Rio.

Colocou-se como um animador cultural, dirigindo uma escola


há 12 anos, com experiência nos CIEPS dentre outras.

Enfatizou que não precisamos mais de leis, porém de que as que


existam sejam cumpridas para que se melhore a escola pública.

Falou da escola pública que dirige que faz parte do seu


projeto de vida, e das dificuldades que enfrenta para fazer
uma profissionalização de nível médio, na música.

Referiu-se à inexistência do ensino da música na educação


fundamental, e do descompasso que isso significa para o aluno
que quer se profissionalizar a partir do ensino médio.

Colocou que vê a escola como um grande laboratório para experiências


musicais. Antes de qualquer coisa a criança precisa aprender a fazer e a falar
com a música e, no entanto, não há ensino de música na escola pública.

Fez questão de dizer que não estava falando do ensino de


um instrumento, mas de uma formação mais ampla.

4- A Experiência de Curadoria voltada


especificamente ao Público Infantil
Evandro Salles
Artista plástico

Texto do painelista lido durante sua apresentação no Encontro:

“Gostaria de agradecer ao Ministério da Cultura, à Secretaria de Cidadania pelo


convite, agradecer pela oportunidade e saudar a realização deste evento.

Entre os anos de 2007 e 2009 realizamos uma exposição chamada Arte Para
Crianças que foi totalmente pensada, da curadoria ao design expositivo, para
priorizar e acolher o público infantil, crianças a partir de 4/5 anos de idade.

Em função da grande quantidade de público que atraiu em sua primeira edição, a


exposição tornou-se itinerante tendo sido apresentada nas cidades de Vila Velha no
Espírito Santo, no Museu da Vale onde se iniciou o processo, depois no MAM do Rio
de Janeiro, Museu Casa das Onze Janelas em Belém do Pará, Convento das Mercês
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em São Luís do Maranhão, CCBB de Brasília, terminando sua trajetória no SESC
Pompéia em São Paulo. Nesse percurso recebeu em torno de 400.000 pessoas.

Apesar de ter sido uma exposição, como foi dito acima, totalmente pensada
para priorizar o público infantil, não podemos dizer que a mostra tenha
reunido obras produzidas exclusivamente para esse público, e, muito
menos, que as obras apresentassem um caráter infantil, notadamente
lúdico, ou didático, qualidades que geralmente são associadas à busca de
aproximação com o universo infantil. Nossa opção foi reunir um conjunto
de obras que julgamos de alta qualidade e que apresentasse a diversidade,
a riqueza e a complexidade da chamada arte contemporânea no que
poderíamos chamar “sua plenitude poética”, ou “sua potência poética”.

O projeto Arte Para Crianças surgiu diante de alguns impasses que encontramos
quando - entre 1997/98 na função de Secretário Adjunto de Cultura do Distrito
Federal - no governo de Cristóvan Buarque - buscamos estabelecer uma política
pública para as artes visuais que atendesse a um universo mais amplo de público,
um universo que incluísse também o público infantil. Tais impasses se constituíam
como “mitos” de difícil transposição, ou “pretensas verdades” amplamente
enraizadas nos sistemas culturais e que foram construídas ao longo do tempo.

Algumas dessas premissas ou verdades com as quais


trabalham muitos sistemas institucionais:

1 - Para usufruir da experiência da arte é preciso “compreender”


o objeto de arte, a significação, o conteúdo, o sentido, o
conceito que o objeto de arte traz em sua âmago.
2 - A arte contemporânea é de dificílima compreensão e usufruto para a
maioria dos mortais e para que possa ser plenamente compreendida
ou experimentada torna-se necessário a posse de informações
comparativas e interpretativas em torno da história e da teoria da arte
ou até mesmo informações de outras disciplinas como antropologia,
sociologia, bem como informações técnicas sobre os objetos de arte
além de informações biográficas sobre os artistas e suas trajetórias.
3 - Em função dessas dificuldades seria necessário criar sistemas de informação,
educação e estímulo intelectual para o grande público, sistemas chamados
de “mediação” entre o objeto de arte e público, sistemas didáticos em
torno da história da arte, pois a grande maioria das pessoas seria incapaz
de “alcançar” por si o sentido pleno das obras de arte e da própria
experiência estética, de viver diretamente a experiência da arte.

Em síntese, em um processo de inclusão de novos públicos, de democratização


da arte, a experiência estética plena em torno do objeto de arte só seria
possível através de um processo paralelo de informação e educação, sem
o qual a arte seria irremediavelmente lançada na obscura posição de
objeto sem a mínima possibilidade de compreensão e experimentação pelo
grande público, pela grande massa que permanece distante e alienada
dos processos da cultura erudita. A arte seria então, desde esse ponto de
vista, impotente para exercer sozinha sua própria função de arte.

Ora, mas se encontramos na arte exatamente a possibilidade infinita do fazer


e refazer de sentidos e leituras; se encontramos na arte a especificidade da
linguagem e sua intraduzibilidade, pois sua experiência é estruturalmente pessoal
e intransferível; e se, por outro lado, encontramos na arte a possibilidade da
universalidade de sua posse e usufruto; a possibilidade de arrebatamento através
de sua experiência por qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta e em
qualquer época, como é possível supor uma intermediação para essa experiência,
uma educação de sentidos (e não dos sentidos) geralmente baseada em conteúdos
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- sejam eles históricos, antropológicos, psicológicos ou mesmo biográficos?

Esse problema teórico entre os meus pares na época acabou por inviabilizar
a realização de uma exposição específica para o público infantil. Ela
só se tornou possível dentro dos parâmetros teóricos que desejávamos
quase dez anos depois, já trabalhando de forma autônoma.

E esses parâmetros teóricos que buscávamos, longe de carregar um caráter


didático, propunham privilegiar a relação direta do público com o objeto de arte
no que podemos chamar de experiência poética plena: a disponibilização do
objeto de arte para que a pessoa torne-se sujeito da experiência de linguagem,
parte fundamental da construção de sentido - sentido este que certamente não se
fundamenta na história da arte, mas na vivência do poético, da “coisa” poética.

Entretanto, tínhamos o problema, mas não tínhamos a solução, ou seja,


como, dentro dos sistemas culturais, institucionais, museológicos nos
quais vivemos onde uma filosofia da mediação está profundamente
enraizada; como, dentro das codificações e sistematizações do circuito
de arte no qual trabalhamos, a natureza radical do poético pode ser
aberta, experimenta e tomada pelo sujeito de forma plena e radical?

A história dessa exposição é exatamente a história da busca de respostas


para esse problema. E a partir dessa busca, novas constatações surgiram
e surgem em processo de substituição das antigas premissas.

Nesse ponto talvez pudéssemos listar algumas dessas novas premissas com as
quais tentamos trabalhar e que nasceram literalmente da experiência da arte:

- A boa arte geralmente transcende seu criador, ou seja, os conteúdos, temas,


conceitos, e significados usados pelo artista para construir sua obra revelam-
se, com o tempo, menores que a própria obra. A obra é geralmente muito
maior que seu autor. O artista não possui plena consciência nem controle de
seu objeto porque a arte é, na verdade, uma articulação de significantes e
não de significados. A arte se constitui como arte através de uma articulação
de significantes e não pela articulação dos significados que possa conter. E
é por isso que seus sentidos são móveis e abrem-se para, indistintamente,
diferentes sujeitos localizados em tempos e espaços distintos. É por
isso, por exemplo, que uma obra de arte que contenha significados
cristãos possa comover indistintamente ateus, budistas ou muçulmanos.
A comoção advém de uma nova articulação de sentido estabelecida
entre o corpo da obra e novos sentidos lançados por seu observador.
- Reside nesse ponto a potência política, transformadora da arte, do poético:
ela possibilita através de novas acoplagens de significados, a mudança de
pontos de vista do sujeito, a transformação de sua percepção sobre o mundo.
- A partir disso, a arte vista como processo educativo seria a
instrumentalização do sujeito em sua ação de construção de sentido.
Ser dono do instrumental poético é poder nomear as coisas do mundo.
É na infância onde a arte pode ser mais intensamente sentida, vivida,
experimentada, pois é nesse momento onde o aparato de linguagem está
em formação, aberto e plenamente disponível para a reinvenção do mundo.
- Como instrumento de poder, a história da arte se interpõe entre o
objeto de arte e seu público, causando o encobrimento de seu objeto;
como instrumento de conhecimento a história da arte, em certo
momento, deve silenciar, revelando o vazio surpreendentemente
vertiginoso e voraz existente entre o objeto de arte e seu público.
- No silêncio do vertiginoso, no esteio do poético, o que conta é a postura
do corpo, a posição do olhar, a direção da mente. A maioria das pessoas
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sabe como se colocar dentro de uma igreja, em um campo de futebol,
em uma festa de casamento e até mesmo em uma escola, mesmo que
não a tenha frequentado intensamente. São muito poucos os que sabem
como se colocar diante de uma obra de arte. “A idéia de ensinar a
experimentar a arte talvez se resuma a ensinar uma disciplina do corpo,
uma postura do corpo e da mente no momento vertiginoso de se defrontar
com a arte, com o objeto que faz a arte existir no corpo do sujeito.”

Módulo 2- CONSTRUÇÃO A PARTIR DE PRÁTICAS E METODOLOGIAS

No painel do Módulo 2 foram destacadas as práticas e metodologias que


possibilitam o contato das crianças com o fazer e a fruição cultural. Os
participantes aportaram as especificidades de suas experiências profissionais nas
áreas da programação cultural, projetos educativos de instituições culturais e
práticas que propõem novos contextos e funções para as linguagens artísticas. O
objetivo do debate foi abstrair possibilidades de replicação dessas experiências
no nível de uma política cultural para infância, que respeite os contextos locais
e esteja pautada por princípios como a ética, a liberdade e o pluralismo.

Fala de abertura
Guti Fraga
Diretor Nós do Morro

Iniciou com uma apresentação poética falando da arte e o papel do artista na


perspectiva do sonho, passando em seguida a palavra para o escritor Ziraldo.

Ziraldo
Cartunista

Em sua apresentação discorreu sobre sua trajetória de vida no


mundo da literatura e sua prioridade pela educação.

Lastima que o livro não faça parte das prioridades da vida dos brasileiros,
o que vê uma consequência do modo de colonização do Brasil, com a
chegada do livro ao país após trezentos anos do descobrimento.

Falou da importância da leitura e escrita na vida e formação do cidadão e o


seu papel de mobilizar a sociedade para fazer a criança gostar de ler. Para
tanto, se deve ler com ela, ler para ela e deixá-la escolher o que ler.

Finalizou sugerindo o incentivo à leitura, levando sempre mais livros às escolas.

1-As Potencialidades de um projeto Educativo


Permanente: Pesquisa e Formulação
Carlos Barmack
Coordenador do Projeto Educativo da Fundação Bienal de São Paulo

O painelista contextualizou a sua fala a partir de sua história de vida, quando


ancestrais oriundos da Rússia vieram em direção à América do Sul.

Colocou-se fazendo parte de um grupo de artistas, educadores


que não acha piegas falar de amor, paixão e compaixão.

Afirmou que é com este espírito que se vem trabalhando


o educativo permanente na Bienal.

Destacou como eixo principal do trabalho: a educação como relação,


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princípio fundamental, significando que não se faz educação sozinho,
ela se faz na relação dialógica, no encontro e descoberta do outro.

A visita a Bienal nessa ótica, é vista como processo e significa


uma experiência transformadora, construindo sentido, que seja
prazerosa, mas que tira o visitante de sua zona de conforto e o
coloca em um lugar de indagação e não mais um consumo.

Outro eixo enfocado foi o da investigação. O visitante é um


investigador, e esse processo tem inicio, desde o momento que
a criança acorda até o momento que ela chega a Bienal.

Conclui dizendo que se tem que pensar em metodologias


que construam sentido na vida das pessoas.

2- A construção de programas educativos para


públicos a partir de curadorias preestabelescidas
Luciana Chen
Coordenadora do Educativo do Centro Cultural Banco do Brasil

A panelista abordou o trabalho educativo desenvolvido no Centro


Cultural Banco do Brasil-CCBB cujo público principal é de estudantes
da rede pública, ONGs, seguidos da rede particular.

Explicou que as exposições são voltadas à arte, história, design e


outros temas e sobre a adequação desses temas e conceitos das
exposições à faixa etária e ao repertório cultural do público.

Destacou que o trabalho se fundamenta nas referências conceituais de educação


e arte-educação baseadas, dentre outros autores, em Paulo Freire e Hein.

Enfatizou que há um esforço para tornar as exposições o


mais significativas possível para o público infantil.

Descreveu a forma como se desenvolvem as várias ações


educativas: visitas mediadas em libras, visitas mediadas para
deficientes cognitivos e cadeirantes, visitas sensoriais etc.

Concluiu dizendo que o objetivo do CCBB neste trabalho é fazer a criança se


sentir à vontade no espaço cultural, proporcionando uma visita prazerosa.

3-O uso de novas linguagens na construção


de possibilidades de mediação
Ângela Mascelani
Antropóloga, diretora do Museu Casa do Pontal

Na sua apresentação, a painelista iniciou apresentando um vídeo sobre o trabalho


desenvolvido na Casa do Pontal, destacando o enfoque na arte popular.

Em seguida fez uma reflexão e análise dos trabalhos do primeiro dia do encontro.

O uso de multilinguagens no projeto educativo do Museu Casa do Pontal1

1 Texto produzido para o I Encontro Nacional de Cultura e Infância, realizado no Rio de Janeiro
nos dias 12, 13 e 14 de julho de 2011, no Centro de Referência Cultura Infância (Teatro do Jockey), organizado
pela Secretaria de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura.

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Me permito fazer uma reflexão a partir do que vimos no dia de ontem. José
Maria Braga (Escola Villa Lobos) falou de seu exílio involuntário, destino de
migrante, de alguém que se vê na experiência da margem. De certa forma,
ele está falando dos comportamentos prescritivos e modeladores vigentes
na contemporaneidade. Fala do preconceito dos que estão fora da norma,
dos que diferem dos padrões modelados a partir dos interesses corporativos
– da indústria, do comércio, de tudo aquilo que está a serviço de fomentar
o consumo. Essa experiência narrada por ele é bastante comum expressar-
se no Museu Casa do Pontal. Recebendo crianças da rede pública do Rio de
Janeiro temos tido a oportunidade de ver esses preconceitos se desfazendo e
se transformando a partir da experiência da visita guiada teatralizada. Arte
Popular Brasileira é a arte dos nordestinos? Não somente. É a dos pobres? Muitas
vezes. É a arte dos que quase nunca têm nome e estão à margem? Sim.

Em nosso projeto educacional optamos por trabalhar com multilinguagens


porque sabemos que as crianças aprendem mais e melhor quando
estão estimuladas, quando podem rir, quando respondem a
apelos poéticos e são chamadas a algum protagonismo2.

Evandro Salles (curador da exposição “Arte para crianças” e artista) nos falou
da complexidade do entendimento e da vivência da arte contemporânea. Tomo
suas palavras emprestadas para falar da recepção da arte popular escultórica.
A arte popular tem uma aparente facilidade de decodificação. Sua comunicação
é imediata no sentido de permitir a articulação de significados. Contudo essa
comunicação fácil pode estar enredada numa teia de pré-conceitos. Afinal “o”
povo é sempre alguém que está distante de nós, que habita um outro território,
sobre quem ouvimos falar, sobretudo de suas carências e faltas. Ou de sua
violência. Cada grupo de estudantes que chega ao Museu Casa do Pontal, que
vem ver a arte do povo brasileiro, traz em sua bagagem cultural maiores ou
menores cargas de pré-conceitos sobre este Outro, que jamais é um de nós.
E, paradoxalmente, não estamos falando apenas de especificidades de classe
social ou pertencimento social. Estamos falando de como essas imposições
dominantes e formais se generalizam e se impõe sobre a própria experiência.

Ex.: O “navio de guerreiros” de Adriano é lido insistentemente como “navio


negreiro”. A obra “retirantes”, de Zé Caboclo, pode ser escolhida pela beleza
e pelas cores, sem que se faça nenhum contato sensível com o que ela
porta como significado. Sem se deixar tocar pelas posturas corporais caídas,
semblantes entristecidos, por um segundo de reflexão sobre os que fazem uma
caminhada forçada, a caminhada dos que se retiram por falta de condições de
permanecer em suas terras, em suas casas, em suas vidas. Nada da escassez
que ali está presente faz sentido para um olhar desavisado e insensível.

Porque essa relação com a arte popular é recorrente, a metodologia


adotada no atendimento das crianças e dos adolescentes, ao invés de
apenas prover conteúdos, propõe permanentemente questões.

O Museu Casa do Pontal desenvolve, desde 1996, um programa educativo


composto por visitas teatralizadas ao acervo e exposições itinerantes.
Nas visitas, uma equipe especializada, coordenada pela arte-educadora
2 Quando nos coube optar sobre o trabalho educativo que faríamos nós tínhamos apenas uma
certeza: os alunos não iriam apenas ser guiados pelas galerias e ao final não seriam convidados a jogar cores
nos papéis, produzir espécies de “provas materiais” de que houvera uma interação sem ter tido. A partir da
formação universitária em artes plásticas, sabíamos que muitas vezes utilizar materiais e técnicas ditas “artísticas”
como pincéis e tintas, pouco quer dizer, se este ato não está ritualizado, e não se dá dentro de um contexto de
experiência cultural. A criança é extremamente sincera e se ela não estabelece vínculos, ela explicita isso quase
imediatamente, e uma das maneiras de fazê-lo é deixar para trás, esquecer aquele papel tintado, aquela “técnica
da xilogravura”, pseudo “popular”, que lhe deu uma sensação de cor, que lhe permitiu imitar o entalhe na madeira
nos 30 ou 40 minutos de “atividades criativas” e, nada mais, além disso.

16
Juliana Prado, apresenta aos estudantes e professores das redes públicas e
privadas de ensino e aos participantes de projetos sociais aspectos da arte
popular feita no Brasil. O programa potencializa o uso do espaço e promove
o acervo, integrando o museu, a escola e os processos educativos.

A visitação teatralizada é conduzida por arte-educadores familiarizados


com diferentes linguagens artísticas, tais como encenação, performance,
música, teatro de mamulengo, dança e literatura de cordel. A proposta é
mobilizar as pessoas para aspectos às vezes não vistos ou mais silenciosos
dessa produção. É a partir dos retornos dados às formulações feitas pelos
arte-educadores – que podem ser lançadas sob a forma de desafios,
canções, provocações - que os conteúdos são apresentados. Há um claro
privilégio das linguagens artísticas – a música e a encenação – e do diálogo
de forma a permitir que apareça o saber que trazem consigo.

A pedagogia adotada nessas ações não se contenta com pressupostos


conceituais do tipo “conhecer é olhar”. Embora reconheça a importância
do olhar, entende que conhecer é também experimentar, viver, ouvir,
compartilhar, sentir. Ainda que as obras em exposição não possam ser
concretamente tocadas, entendemos o “tocar” como algo que vai além do
palpável, e que envolve a abertura para o conhecimento, para a imaginação,
para as provocações ao pensamento, à memória e à sensibilidade.

Assim, ao mesmo tempo em que os visitantes estão diante de esculturas,


modelagens e objetos tridimensionais, observando e sendo tocados por
algo que seria mais do domínio das artes plásticas, eles também ouvem
músicas que vêm do repertório popular, vivem experiências inspiradas
nas festas populares, nos saberes e nas formas vivas por meio das quais
as tradições se afirmam, se modificam e o novo se apresenta.

Também buscamos recuperar os vínculos quebrados ou diluídos no percurso


de deslocamento das obras de seu contexto originário para as coleções
e museus, sublinhando aqueles aspectos distintivos da vida e dos valores
que informam os indivíduos e as coletividades nas quais esse gênero
de obra é produzido. As obras podem desencadear múltiplos diálogos e
gerar informações que transcendem a história de seu autor, atravessam
as linhas do tempo, as elaborações artísticas que nascem no seu entorno
e as diferentes maneiras pelas quais essa produção se comunica.

Como resultado, amplia-se a percepção da comunidade escolar sobre a peculiar


leitura do mundo contemporâneo que os artistas dos segmentos populares
apresentam. Mas não apenas isso. Porque os estudantes e visitantes são chamados a
opinar, a refletir, a se envolver com o acervo a partir de estímulos diversos, outras
relações podem vir à tona, outros significados podem emergir. Um dos muitos
resultados que este tipo de interação produz é o surgimento de novos olhares
sobre as identidades culturais no Brasil, despertando a criatividade dos estudantes
e professores, favorecendo seu pensamento crítico e instigando sua imaginação.

Os estudantes, com maior ênfase naqueles que estudam na rede pública, mas não
só, encontram nesse tipo de trabalho um espaço para introduzir o saber não oficial,
que ainda não está na escola nem nos livros, porque se trata de um saber produzido
em meios periféricos. O saber que se aprende em casa – para o bem e para o mal.
Porque há muitas formas de aprendizado e a vida cotidiana está permanentemente
colocando questões que têm que ser estudadas, revistas e aprendidas. Mas,
pode-se dizer: preconceitos também se aprendem em casa! De toda maneira, é
importante a provocação das crianças e jovens para que elas digam o que pensam
sobre o que estão vendo. Quando um preconceito é expresso ele pode ser discutido,
questionado e transformado. Da mesma forma que os saberes não convencionais,
17
os saberes regionais, os saberes que nascem na experiência cotidiana podem
encontrar lugar no mundo da formalidade – do qual o museu faz parte.

A ida ao museu não é encarada como mais uma oferta de consumo


cultural e, sim, como uma oportunidade que os estudantes, os
professores e gestores dos projetos sociais – partindo de um acúmulo
de memórias e histórias - têm de criar e recriar a realidade.

No caso de filhos de migrantes que vem das regiões mais pobres do


país, ou dos estudantes cujos pais vêm da zona rural ou da periferia
do Rio de Janeiro para as favelas e que se deparam com tudo aquilo
sobre o que nada sabem, a visita ao museu funciona como um balizador
no qual os contrastes podem ser explicitados e compreendidos.

Não podemos considerar que o estoque de conhecimento acumulado por outras


vias, que não as oferecidas pela sociedade urbana contemporânea, se transforme
em resíduo inservível. Esse conteúdo que faz parte da vida mutante dos que não
encontram parada, pois não encontram lugar social, estando permanentemente
migrando de um lado a outro, sem estabilidade, é transmitido às crianças e jovens.

Mas, sobre isso, ninguém quase nunca é perguntado. Quando chegam ao museu,
sensibilizados por músicas inspiradas nos cancioneiros populares, por convocações
à dança e ao ritmo, os alunos passam a ter o que dizer. É lógico que consideramos
importante que essa experiência seja oferecida a todos os alunos, tanto da rede
pública como da rede particular de ensino. Essas trocas são essenciais, pois o que
está sendo transacionado é um patrimônio comum. Não somos favoráveis a nenhum
tipo de guetização. Mas não podemos deixar de sublinhar que, com a queda da
qualidade do ensino público e com a proliferação das escolas privadas, instalou-se
no país um tipo de segregação social que, como nas sociedades de castas, separa
as pessoas, desde a mais tenra idade, em função de suas posses econômicas.

Esses muros divisórios são perversos. Entretanto, no Museu Casa do Pontal as


camadas tidas como subalternas são protagonistas. Isso atua decisivamente
na autoestima dos que se situam nesses segmentos. E não estamos falando
de impor cercas conceituais, filosóficas e estéticas invertidas. Estamos
falando de valorizar tradições humanísticas, estamos falando de raízes
culturais, estamos falando de balizamento identitário. E de uma entre
tantas outras maneiras da arte ser fruída na contemporaneidade.

Na composição do acervo do Museu Casa do Pontal foram tomados como eixos


norteadores as autorias singulares, a coerência entre os temas abordados e
as soluções plásticas encontradas, e os atributos propriamente formais das
modelagens e entalhes: as formas, as cores, as marcas estilísticas. Em nosso
trabalho educativo, valorizamos além da atmosfera poética os contextos
social, econômico e cultural nos quais essa arte e seus artistas têm origem.

Para finalizar, lembro que não podemos ser ingênuos, pois não existe
neutralidade nem na educação nem na arte. A educação, assim como a
memória que se escolhe guardar é sempre fruto de uma escolha e de um
tipo de olhar. Escolha que está permanentemente em transformação.

4- O Castelo das Crianças Cidadãs


Claudius Ceccon
Diretor Executivo Centro de Criação de Imagem Popular - CECIP

Na apresentação desse tema o painelista fez uma fala introdutória sobre a


origem do seu trabalho no CECIP voltado para a capacitação de educadores e
agentes sociais, campanhas de mobilização social de interesse público, produção
18
de vídeo e CD’S, apresentando em seguida um vídeo. Sua apresentação foi
complementada por sua filha Cláudia que também integra o trabalho.

Foi explicitado que a base do trabalho é o protagonismo infantil


viabilizado por meio da fala e escuta das crianças, a construção de
regras coletivas e do trabalho integrado com a escola e a família.

As crianças escolhem as atividades que vão desenvolver (brinquedoteca,


música, dança...) e se deslocam de forma autônoma no centro cultural.

Procura-se sempre valorizar a produção da criança, mas apresentam-


se a ela outras atividades para ampliar o universo cultural.

Os educadores são preparados para o trabalho com


as crianças dentro e fora do centro.

O centro cultural foi construído com os pais e essa integração continua


quando as famílias são convidadas para atividades no centro.

Encerrou dizendo que este projeto pode ser modificado, reproduzido


e se transformado em política pública pode mudar o cenário e
contribuir para o desenvolvimento de muitas crianças.

5- Programação Cultural para a


infância: princípios e abordagens
Karen Acioly
Criadora, curadora e diretora artística do FIL

A painelista inicia sua apresentação convocando a platéia para repetir, como um


mantra, a frase ouvida do senador Claudio Arns: “Lugar de criança é no orçamento”.

Fala na trajetória de concepção e evolução do FIL. Referindo–se ao festival


como um contato amoroso com a arte em um processo que mistura jovens de
todo Brasil para fazer um trabalho conjunto com um tema que eles escolhem.

O objetivo é como olhar, como perceber os canais que se formam


por mistura de linguagens, no sentido de proporcionar crescimento.
Não existem regras, mas o dever de produzir qualquer coisa.

A conclusão da apresentação é de que o festival proporciona a ampliação


artística por meio da mistura de linguagens e que a sua principal
característica é descobrir juntos parcerias com potencial de vida.

6- A extensão do projeto educativo para além da


instituição: possibilidades de ação no espaço escolar
Laura Dalla Zen
Coordenadora do Educativo da Fundação Iberê Camargo

Em seu pronunciamento, a palestrante inicia contextualizando a Fundação Iberê,


com seus objetivos e suas expectativas. Fala da sua inserção e atuação na Fundação.

Destacou que o grande desafio é trabalhar arte na Fundação, que em


virtude de sua localização, tem acesso difícil em Porto Alegre.

Em decorrência de onde está situada optou-se por iniciar o projeto pela


aproximação com as comunidades do entorno e pelo trabalho com os mediadores.

19
Ressaltou o significado das diretrizes de trabalho
educativo em uma instituição cultural.

Alertou para que se tenha atenção na formulação de diretrizes de política cultural


para a infância, tendo em vista que a instituição cultural não é uma escola.

4-TRABALHOS EM GRUPOS

Após as exposições de cada módulo os participantes foram conduzidos


para os trabalhos em grupos com o objetivo de formular indicativos
de diretrizes para a Política Nacional de Cultura para a Infância.

A cada trabalho em grupo correspondeu uma metodologia específica.

Para o módulo1: CONSTRUÇÃO A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS ARTISTICO-CULTURAIS


a metodologia escolhida para o alcance dos objetivos foi o “World Café”, aqui
nominado como “Café da Infância”. Tem a conversação como um processo essencial
que se constitui a partir da reflexão e exploração de idéias; percepções coletivas;
coleta de descobertas; planejamento de ação; implantação; feedback e avaliação.

Os princípios para a realização de conversas significativas,


propostos pela metodologia foram:

- Estabelecimento do contexto
- Criação de espaço acolhedor
- Exploração de questões significativas
- Estimulação da contribuição de todos
- Promoção da conexão de diferentes pontos de vista
- Escuta conjunta para descobrir padrões,
percepções e questões mais profundas
- Coleta e compartilhamento de descobertas coletivas.

Nesta etapa, os participantes, divididos em 05 subgrupos compartilharam reflexões


sobre as falas do Painel. Os conteúdos dessas reflexões constituíram-se em insumos
para o alcance dos objetivos quais sejam: elaboração de diretrizes para a Política.

O registro dos produtos obtidos dessa conversação encontra-se no Anexo1.

Como etapa subsequente do trabalho em grupos foi solicitado, ainda, aos


participantes a formulação de indicativos de diretrizes (linhas orientadoras)
para uma política de cultura voltada para a Infância, tendo como resultados:

Grupo 1

• Criação de Secretaria de Políticas para Infância e Juventude.


• Utopia: Ministério da Infância e Juventude.
• Primeira ação: Congresso Nacional de Cultura para Infância e Juventude
• Debate sobre concessões de programas de rádio e televisão focada
na qualidade da programação para infância e juventude.
• Reconhecer organizações/instituições que trabalham com qualidade.

20
Grupo 2

• Assegurar o direito de brincar;
• Reconhecer, apoiar e investir nos grupos, movimentos que fazem
trabalhos de qualidade, consistência, constância para infância;
• Assegurar a preservação e de acervos
• Viabilizar espaços públicos para o exercício da convivência e da brincadeira
• Oferecer formação adequada a todos os produtores, professores,
educadores e agentes sociais que trabalham com a cultura da infância
• Criar e manter museus vivos e modernos dedicados as crianças.
Um espaço de brincadeira, conhecimento e pesquisa e manter
• Disponibilizar mídias de qualidade em quantidade e variedade
• Potencializar o acesso da literatura infantil brasileira
através de outras mídias que não só o livro
• Reconhecer e considerar o mundo infantil e suas várias
faixas etárias em fase de desenvolvimento.
• Formar produtores para falar e produzir para criança
• Capacitar educadores e famílias para aceitar e
usar a mídia com os filhos e alunos.
• Garantir o acesso a banda larga e equipamentos
digitais para escolas e famílias.

Grupo 3

• Promover o acesso a experiência estética privilegiando os


produtos culturais de qualidade na área da infância.
• Capacitar os profissionais envolvidos no setor cultural em seu
segmento de atuação na área da infância e práticas de mediação.
• Capacitar os profissionais pareceristas que analisam
os projetos culturais na área da infância.
• Promover intercâmbio entre os projetos culturais na área da infância.
• Assegurar a continuidade dos projetos culturais
já existentes na área da infância.
• Promover maior transparência e ética nos projetos
e editais de cultura para infância.
• Criar estratégias de acessibilidade cultural que inclua
não só as crianças, mas os seus familiares.
• Promover a parceria entre o MEC e MinC com ações que facilitem
a comunicação e o acesso aos equipamentos culturais.
• Fomentar estratégias que facilitem a participação de TODAS as crianças. Não
segmentar projetos para crianças com deficiência, mas incluí-las em todos
os projetos. Priorizar os projetos que assegurem recursos de acessibilidade
para todos os projetos culturais na área da infância (audiodescrição, material
em braile, intérprete de libras, legenda eletrônica e acessibilidade física)
• Criar critérios na lei Rouanet que priorizem os projetos na área da
infância. (Como 100% de abatimento dado aos patrocinadores.)
• Manter e fomentar a ampliação dos editais para sociedade civil.

Grupo 4

• Reconhecer a infância como período da vida humana


que precisa ser prioridade como investimento para um
21
futuro adulto que gera riquezas e cultura.
• Reconhecer que o desenvolvimento da arte e da riqueza como
fundamental para o desenvolvimento pleno da sociedade.
• Garantir a acesso à arte, à criação, ao conhecimento como meio
privilegiado de educação com acesso a acervos materiais e imateriais.
• Acesso garantido em todos os espaços à arte, rua, hospital,
mídias e não só na escola ou equipamentos culturais fazendo
da arte um bem publico universalizado e democratizado.
• Reconhecer que a cultura é produto das diferenças sociais,
geográficas etc. com espaços mais abandonados que
outros. Estabelecer uma nova distribuição da riqueza para
produção cultural de acordo com as necessidades.
• Estabelecer a oferta de programação cultural infantil para
as crianças em particular nas mídias e com regulação
das propagandas e estímulo ao consumo.
• Necessidade de formar adequadamente e qualificar permanentemente
as pessoas e projetos que atuam com a infância. Preparar pessoas
das comunidades para que elas atuem com as crianças da sua
respectiva comunidade ampliando as suas potencialidades.

Grupo 5

• Memória - Desenvolver vivências e garantir a liberdade de


expressão para as crianças e adolescentes onde se desdobra
o material e o imaterial “a história pode ser mudada”;
• Sugerir que escolas se configurem um lugar estratégico
de experimentação, vivências culturais.
• Simplificação de editais culturais;
• Implementar as leis 10649/03 e 11645/08 a partir de
vivências das manifestações culturais do lugar cultura de
raiz) como possibilidade agregadora e cultura da paz;
• Propor como foco central do curso de pedagogia, o ensino
e experimentação de linguagem das artes;

Para o módulo 2 - CONSTRUÇÃO A PARTIR DE PRÁTICAS E METODOLOGIAS


– o trabalho em grupos utilizou a metodologia de Estações de Trabalho
que consistiu em fazer com que todos participassem da atividade, por
meio de rodadas sucessivas de debates, agregando em cada estação,
contribuições aos produtos formulados na rodada anterior.

Previu-se para este trabalho um total de quatro rodadas


em quatro estações, conforme figura a seguir:

22
B
Projetos educativos:
mediação e fruição

A
C
Metodologias
Concepções de
de arte
espaços culturais
educação
voltados para
crianças

D
Outras

Na 1ª rodada foi solicitado aos participantes que destacassem os aspectos


impulsores do Painel, em relação às temáticas nominadas nas estações. O
registro dos produtos obtidos dessa conversação encontra-se no Anexo 2.

Nas demais rodadas os participantes formularam e/ou agregaram indicativos de


diretrizes para a Política Nacional de Cultura voltada à Infância, quais sejam:

Estação A

• Qualificação de educadores;
• Simplificar editais para projetos voltados para a infância;
• Criação de uma secretaria da infância;
• Interação entre escola e cultura de seu entorno;
• Aprimorar o conhecimento, a qualificação de educadores,
através da relação entre o educador e a criança;
• Estabelecer política de longo prazo voltada para o desenvolvimento
da curiosidade artística, cultural e da liberdade de expressão das
crianças e adolescentes, a partir de desejos e realidades próprias;
• A cultura pode ser um meio de aprendizagem. A cultura e a educação são
complementares. No entanto, cada um guarda suas vivências de memórias;
• Reconhecer o terceiro setor como parceiro das escolas,
complementando a educação integral
• Pesquisar e validar a cultura afro-brasileira e indígena;
• Consideramos que o conceito e práticas que engendram o termo arte
e educação não respondem às necessidades da vivência plena da
arte e não substituem a natureza intransferível dessa experiência.
Propomos o desenvolvimento de novas práticas de apresentação
da arte e seu público que privilegiem a relação não didática, não
de ensino que supostamente sabem para o que não sabe, mas
tornar a arte como instrumento de criação e de sentido;

23
Estação B

• Reconhecer, fortalecer e implementar ações dos projetos


educativos que contemplem a multiplicidade de culturas;
• Valorizar os projetos educativos que contemplem as diversas manifestações
culturais considerando os saberes familiares e culturas locais;
• Adotar, fortalecer e divulgar o conjunto de
experiências inovadoras de sucesso;
• Fortalecer os projetos educativos voltados para a implantação de espaços
que estimulem a livre expressão da criança nas mais diferentes linguagens;
• Contribuir para uma cultura social em que os adultos aprendam
a ouvir e considerar as opiniões e percepções das crianças;
• Contribuir para a transformação da escola em local de
compartilhamento e prática da cultura e da arte. A escola
precisa da arte, assim como a arte precisa da escola;
• Fomentar projetos educativos que estimulem as crianças a criar
e produzir conteúdo cultural, tornando-as multiplicadores.
• Valorizar projetos educativos que cumpram o Decreto
5296, e que sejam acessíveis a TODAS as crianças.
• Desburocratizar projetos culturais contemplados pelo MinC, viabilizando
a referida prestação de contas de forma clara e precisa.

Estação C

• Implementar políticas que fortaleçam projetos em espaços culturais bem


sucedidos, garantindo sua continuidade independe das mudanças de governo;
• Viabilizar e fortalecer a utilização de espaços públicos e abertos, ao ar livre,
com elementos da natureza, como espaços culturais. (Quintais culturais.)
• Estruturar espaços de expressão cultural e artística nas escolas, abertos aos
alunos e à comunidade, valorizando as múltiplas linguagens (Palquinhos);
• Equipar as escolas com pequenos palcos e estações de
rádio para estimular a expressão oral das crianças;
• Viabilizar o acesso das crianças aos espaços culturais (formais e informais),
valorizando seu entorno, como uma forma de conhecer melhor sua cidade;
• Melhorar a distribuição geográfica dos equipamentos
culturais nos espaços das cidades;
• Elaboração de uma política integrada com outros órgãos federais, municipais
ou estaduais que garantam a mobilidade dos usuários de cultura;

Estação D

• Condução das diretrizes voltadas ao acesso da cultura pelo CONANDA;


• Promoção de medidas de circulação contínua e aperfeiçoada de pesquisas
e ações culturais para a infância por meio de encontros regionais,
mapeamentos, banco de dados e materiais de registro e mediação;
• Dentro do programa Cultura Viva, dar continuidade aos convênios
dos pontos de cultura e de leitura, sendo um dos critérios de
seleção estarem dirigidos à infância e adolescência;
• Simplificar os critérios de cadastramento e seleção de
projetos de pontos de cultura e de leitura;
• Fomentar políticas para obras e regulamentação da programação audiovisual;
• Fomentar políticas para produção de obras concebidas por crianças e jovens;
24
• Incentivar a produção e a experimentação artística, ampliando de
maneira permanente o acesso a obras significativas das artes em geral;
• Viabilizar mecanismos de formação cultural e artística para educadores;
• Estimular projetos voltados para múltiplas linguagens,
englobando as novas mídias digitais.

5-Grande grupo

Os indicativos de diretrizes para a formulação da Política Nacional de Cultura


voltada para a Infância, propostos pelos participantes ao longo dos primeiros
dois dias do encontro, foram tratados e agrupados pela equipe de coordenação
do evento e apresentados no 3º dia ao Grande Grupo, como Produtos.

Após apreciação e análise, os participantes propuseram


algumas alterações e inclusões.

Estes indicadores necessitarão de discussão por outros grupos para formulação


mais precisa, tornando-os mais explícitos em suas proposições. Tal providência,
com certeza os enriquecerá com outras referências, que virão desenvolver e
aperfeiçoar este produto, essencial para a formulação de uma política pública.

6-Encerramento
Na conclusão dos trabalhos a senhora Clara Prado registrou as presenças da
Secretária Marta Porto e do Secretário Sérgio Mamberti para o encerramento
do encontro. Referiu-se ao processo desenvolvido durante os três dias
de trabalho visando à construção das diretrizes da Política Nacional de
Cultura para a Infância, passando à palavra a Secretária Marta Porto.

A Secretária em breves palavras referiu-se ao encontro como princípio


para organizar a cultura para a infância, em um processo de produção
política centralizado na formação do ser. Informou sobre a agenda
do MinC colocando a criança como prioridade de gestão.

Nesse sentido, fez menção às parcerias com organismos


internacionais, destacando o UNICEF.

Encerrou agradecendo a dedicação e participação dos presentes


e fazendo uma analogia do momento de construção das
diretrizes, com o poema “Ponte” de Cecília Meirelles.

A curadora do FIL agradeceu a Secretária a parceria e convidou a todos


para a apresentação da Lia de Itamaracá no encerramento do FIL.

A última fala foi do Secretário Sergio Mamberti que cumprimentou os


presentes como companheiros e discorreu sobre a sua trajetória no MinC.

Diante de todo este trabalho conclui-se que na ótica da gestão das políticas
públicas, este evento aponta para uma nova maneira de olhar as questões
que afetam à prioridade constitucional- criança e adolescente, artigo 227-,
focalizando para os atuais modelos de gestão participativa e de institucionalização
das políticas públicas que priorizam a infância e asseguram a cidadania.

25
IV - PRODUTOS

Indicativos de Diretrizes para a Política


Nacional de Cultura para a Infância

1. Reconhecer a infância como prioridade já definida no artigo 227


da Constituição Federal, e como investimento para o futuro.
2. Priorizar políticas públicas para a infância.
3. Reconhecer e considerar o mundo infantil e suas várias
faixas etárias em fase de desenvolvimento.
4. Contribuir para uma cultura social em que os adultos aprendam
a ouvir e considerar as opiniões e percepções das crianças.
5. Reconhecer que o desenvolvimento da arte e da riqueza cultural
é fundamental para o desenvolvimento pleno da sociedade.
6. Reconhecer que a cultura é produto das diferenças sociais e geográficas,
com espaços mais abandonados que outros, estabelecendo uma
distribuição democrática dos recursos para produção cultural.
7. Estabelecer política de longo prazo voltada para o desenvolvimento
da curiosidade artística, cultural e da liberdade de expressão das
crianças e adolescentes, a partir de desejos e realidades próprias.
8. Assegurar o direito de brincar.
9. Desenvolver vivências e garantir a liberdade de expressão para as
crianças e adolescentes onde se desdobra o material e o imaterial.
10. Reconhecer que a cultura pode ser um meio de aprendizagem.
11. Reconhecer que a cultura e a educação são complementares,
guardando cada uma suas vivências e memórias.
12. Propor o desenvolvimento de novas práticas de apresentação
da arte e seu público além da relação didática tornando a arte
instrumento de criação e produção de sentidos, considerando que
o conceito e práticas que engendram o termo arte e educação
não respondem às necessidades da vivência plena da arte e não
substituem a natureza intransferível dessa experiência.
13. Propor ao CONANDA as diretrizes do 1º Encontro Nacional de Cultura
para a Infância, para que as mesmas sejam aprovadas como resolução.
14. Reconhecer, apoiar e investir em grupos e movimentos que fazem
trabalhos de qualidade, consistência e de continuidade para infância.
15. Promover o acesso a experiência estética privilegiando os
produtos culturais de qualidade na área da infância.
16. Estimular projetos voltados para múltiplas linguagens,
englobando as novas mídias digitais.
17. Oferecer formação adequada a todos os produtores, professores,
educadores e agentes sociais que trabalham com a cultura da infância.
18. Formar produtores para falar e produzir para e com as crianças.
19. Formar adequadamente e qualificar permanentemente as pessoas
e projetos que atuam com a infância nos projetos culturais.
20. Preparar pessoas da comunidade para que elas atuem com as crianças da
sua respectiva localidade ampliando as suas potencialidades culturais.
21. Capacitar educadores e famílias para uma leitura crítica da
mídia e para a expressão das crianças através da mídia.
22. Capacitar os profissionais envolvidos no setor cultural em seu segmento
de atuação na área da infância e em práticas de mediação.
23. Capacitar os profissionais pareceristas que analisam
26
os projetos culturais na área da infância.
24. Incluir nos currículos dos cursos de pedagogia e de outras áreas, o ensino e
a experimentação de linguagem das artes e todas as dimensões estéticas.
25. Garantir meios de formação cultural ampla dos educadores
e, em particular, o acesso aos vales-cultura.
26. Qualificar educadores para a utilização adequada
das linguagens artísticas para a infância.
27. Utilizar as vivências da arte como forma de aprimorar a
qualificação docente, em especial nas ações referentes
às relações adulto/criança e professor/aluno.
28. Promover maior transparência e ética nos projetos
e editais de cultura para infância.
29. Manter e fomentar a ampliação dos editais para sociedade civil.
30. Desburocratizar e simplificar os editais para
projetos voltados para a infância.
31. Desburocratizar, ampliar e garantir nos editais, prêmios e programas de
desenvolvimento da cultura da infância, a organismos da sociedade civil
que tenham trabalhos relevantes na área da criança e do adolescente.
32. Viabilizar espaços públicos para o exercício
da convivência e da brincadeira.
33. Fazer da arte um bem público universalizado e democratizado, garantindo
a sua manifestação em todos os espaços: rua, hospital, mídias e outros.
34. Implementar políticas integradas para que as escolas configurem
um lugar estratégico de experimentação e vivências culturais
35. Fortalecer os projetos educativos voltados para a implantação de espaços
que estimulem a livre expressão da criança nas mais diferentes linguagens.
36. Implementar políticas que fortaleçam projetos em espaços
culturais bem sucedidos, garantindo sua continuidade
independente das mudanças de governo.
37. Viabilizar e fortalecer a utilização de espaços públicos e abertos,
ao ar livre, com elementos da natureza, como espaços culturais.
38. Estruturar espaços de expressão cultural e artística nas escolas, abertos
aos alunos e à comunidade, valorizando as múltiplas linguagens.
39. Equipar as escolas com pequenos palcos e estações de
rádio para estimular a expressão oral das crianças.
40. Viabilizar o acesso das crianças aos espaços culturais (formais e informais),
valorizando seu entorno, como uma forma de conhecer melhor sua cidade.
41. Melhorar a distribuição geográfica dos equipamentos
culturais nos espaços das cidades.
42. Criar e manter museus vivos e modernos dedicados às crianças,
como espaço de brincadeira, conhecimento e pesquisa.
43. Disponibilizar mídias de qualidade em quantidade e variedade.
44. Potencializar o acesso da literatura infantil brasileira
através do livro e de diferentes mídias.
45. Garantir o acesso a banda larga e equipamentos
digitais para escolas e famílias.
46. Estabelecer a oferta de programação cultural infantil para
as crianças em particular nas mídias e com regulação
das propagandas e estímulo ao consumo.
47. Promover intercâmbio entre os projetos culturais na área da infância.
48. Assegurar a continuidade dos projetos culturais
já existentes na área da infância.
49. Reconhecer, fortalecer e implementar ações dos projetos
27
educativos que contemplem a multiplicidade de culturas.
50. Valorizar os projetos educativos que contemplem as diversas manifestações
culturais considerando os saberes familiares e culturas locais.
51. Adotar, fortalecer e divulgar o conjunto de experiências
inovadoras na área da cultura para a infância
52. Fomentar projetos educativos que estimulem as crianças a criar
e produzir conteúdo cultural, tornando-as multiplicadoras.
53. Valorizar projetos educativos que cumpram o Decreto 5296
(prioridade de atendimento e promoção de acessibilidade às
pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida),
e que sejam acessíveis a TODAS e cada uma das crianças.
54. Desburocratizar projetos culturais contemplados pelo MINC, viabilizando
a referida prestação de contas de forma clara e precisa.
55. Garantir o acesso a arte, a criação e ao conhecimento como meio
privilegiado de educação, com acesso a acervos materiais e imateriais.
56. Promover a parceria entre o MEC e MinC com ações que facilitem
a comunicação e o acesso aos equipamentos culturais.
57. Elaborar uma política integrada com outros órgãos federais, municipais
ou estaduais que garantam a mobilidade dos usuários de cultura.
58. Criar uma lei específica de isenção fiscal para
projetos para infância e juventude.
59. Criar uma Secretaria de Políticas para Infância e
Juventude dentro de cada Ministério do Executivo.
60. Debater sobre concessões de programas de rádio e televisão focada
na qualidade da programação para infância e juventude.
61. Criar estratégias de acessibilidade cultural que
inclua as crianças e os seus familiares.
62. Fomentar estratégias que facilitem a participação de TODAS e cada uma
das crianças, em todos os projetos, incluindo crianças com deficiência.
63. Priorizar os projetos que assegurem recursos de acessibilidade para todos
os projetos culturais na área da infância (audiodescrição, material em
braile, intérprete de libras, legenda eletrônica e acessibilidade física).
64. Pesquisar e validar a cultura afro-brasileira e indígena.
65. Implementar as leis 10639\03 e 11645\08 (incluir no currículo oficial da
rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena) a partir de vivências das manifestações culturais do
lugar - cultura de raiz, como possibilidade agregadora e cultura da paz.
66. Reconhecer organizações/instituições que tenham
trabalho contínuo de qualidade.
67. Promover interação entre escola e cultura de seu entorno.
68. Reconhecer o terceiro setor como parceiro das escolas,
complementando a educação integral.
69. Contribuir para a transformação da escola em local de
compartilhamento e prática da cultura e da arte.
70. Estabelecer regulamentação para obras e programação audiovisual.
71. Incentivar a produção de obras concebidas por crianças e jovens.
72. Incentivar a produção e a experimentação artística, ampliando de
maneira permanente o acesso a obras significativas das artes em geral.
73. Promover medidas de circulação contínua e aperfeiçoada de pesquisas
e ações culturais para a infância por meio de encontros regionais,
mapeamentos, banco de dados e materiais de registro e mediação.
74. Dar continuidade, dentro do programa Cultura Viva, aos convênios
dos pontos de cultura e de leitura, sendo um dos critérios de
28
seleção estarem dirigidos à infância e adolescência.
75. Simplificar os critérios de cadastramento e seleção de
projetos de pontos de cultura e de leitura.
76. Reivindicar e garantir a representação definitiva para a cultura
da infância no Conselho Nacional de Política Cultural.
77. Reconhecer através de premiação continuada os mestres da nossa cultura.
78. Fomentar a produção de conteúdo de audiovisual com foco na infância.
79. Reconhecer as bibliotecas como equipamentos culturais
80. Reconhecer que a universalização do ensino
deve começar na educação infantil.
81. Estimular e valorizar mestres da cultura popular,
aproximando-os das escolas e dos pontos de cultura.
82. Assegurar mediante campanhas do MinC o reconhecimento da cultura
como um direito fundamental para o desenvolvimento da criança e
adolescente, orientando os conselheiros tutelares a aplicar a medida
de proteção, quando esse direito estiver ameaçado por omissão.

V- CONSIDERAÇÕES E ENCAMINHAMENTOS

O 1º Encontro Nacional Cultura e Infância se constituiu em um espaço


concreto de participação, respeito, produção e de intercâmbio
de produções, experiências, inquietações e desafios.

Entende-se que o mesmo atingiu seu objetivo, qual seja “propor indicativos
de diretrizes que possibilitem formular uma política cultural para a
infância que tenha na experiência estética um de seus pilares”.

A leitura do conjunto de propostas elaboradas pelos participantes do I


Encontro aponta para alguns aspectos subjacentes, que permitem uma
contextualização, merecendo, portanto, algumas considerações:

- O Reconhecimento do Governo e da sociedade civil na discussão nacional


do papel relevante da cultura no desenvolvimento da infância cidadã.
- A disponibilidade do arcabouço legal que fundamenta a construção de
uma política de cultura na área da infância, com orçamento próprio.
- A formulação atual do Plano Decenal de Promoção dos Direitos da Criança
e do Adolescente e as conseqüentes exigências de definições setoriais.
- A acumulação histórica de atividades culturais que envolvem a
infância torna o momento oportuno para a formulação da Política
de Cultura específica, na área da Infância e Juventude.
- A necessidade de ampliar a discussão sobre a pertinência
de criação de estruturas administrativas próprias, para
encarregar-se das questões ligadas à infância.
- O amadurecimento, em todos os níveis de gestão, no entendimento
da relação da educação formal e informal com a cultura e
os necessários desdobramentos político estratégicos.
- O valor e o significado da pesquisa para a validação da cultura afro-
brasileira e indígena no que se refere à infância, pelo Estado Brasileiro.

Estas considerações ratificam a pertinência do I Encontro dentro desse macro cenário.

Além disso, a produção dos participantes aponta para alguns aspectos enfocados:

29
• O estabelecimento de princípios e premissas orientadoras de uma
política, muitos deles já garantidos constitucionalmente (art. 227).
• Indicativos de ações estratégicas e de projetos
culturais voltados para a infância,
• Temas pontuais de maior interesse, também chamados, por alguns
participantes, de pontos de tensão, que se referem, basicamente a:
——Espaços formais e informais;
——Mediação e fruição;
——Acesso à cultura e produção à cultura;
——Acesso da comunidade à cultura e o acesso
à cidade como espaço cultural;
——Conceito de qualidade na produção cultural e,
——Inclusão e acessibilidade.

O encontro no tocante ao trabalho de grupo refletiu a concepção de Didier


Anzieu (1993)- O grupo é uma superfície projetiva para a cultura e para
a Sociedade. É um espelho de dois lados: reflete imagens da realidade
do momento do grupo e reflete imagens da rede institucional.

Nesse sentido, o encontro favoreceu a vivência de papéis, foi uma casa de


espelhos refletindo imagens de diferentes formas, resultando ressonância
que a experiência proporciona. Algumas falas e propostas dos participantes
merecem aqui serem citadas pela freqüência e ressonância, quais sejam:

• “Ninguém cria sem memória, ninguém faz poema, música,


se não tem memória. Porque é a memória que faz isto. Não
importa se seja real ou irreal, somos materiais e imateriais”
• “Importância da experiência estética na infância para a formação do ser”
• ”Conectar as pessoas pela alegria”
• “Incentivar o uso do verbo brincar”
• “É preciso aprender, respirar, fazer mais e mergulhar mais fundo”
• “Volte para o imaginário, ele tem que ser construído, as
vivências, a memória, o material cênico, estético...”
• “Todas as histórias podem ser mudadas”
• “Temos que mergulhar no universo digital, de milhares de
oportunidades... As crianças hoje são muito conectadas, com respostas
muito imediatas, e nós precisamos povoar estes espaços interativos
com as crianças, de forma a oferecer produtos de qualidade. Nós
não temos que controlar, mas sim acreditar na potencialidade do
mundo digital... Trabalhar e proporcionar oportunidades para que
as crianças possam atuar de forma consciente e criadora”.
• “É na infância onde a arte pode ser mais intensamente sentida, vivida,
experimentada, pois é nesse momento onde o aparato de linguagem está em
formação, aberto e plenamente disponível para a reinvenção do mundo”.
• “Antes de qualquer coisa a criança precisa aprender a fazer e a falar com
a música e, no entanto, não há ensino de música na escola pública”.
• “A educação como relação, princípio fundamental, significando
que não se faz educação sozinho, ela se faz na relação
dialógica, no encontro e descoberta do outro”.
• “Procura-se sempre valorizar a produção da criança, mas apresenta-
se a ela outras atividades para ampliar o universo cultural”.
• “Apoiar a construção do sentido, orientar para a fruição”.
• “Entendimento de que os espaços são culturais e têm papel

30
importante na educação, mas não são escolas.”
• “Música integra, resgata, sociabiliza, inclui a família”.
• “Formar bons profissionais é fundamental”

Como encaminhamentos foram sugeridos:

• Que a produção do encontro seja incluída no Plano Nacional


de Cultura, com vigência de 10 (dez) anos;
• Que haja um representante da área da infância no
Conselho Nacional de Política Cultural.
• A constituição de uma Comissão e ou Grupo de Trabalho-GT
ministerial para elaborar o texto final e atuar como articulador com
todos os participantes e setores. Para este GT foram indicados
Karen Acioly, Alcemir Palma, Lúcia Coelho, Luciana Chen, Beth
Carmona, Marcos Cordiolli, Jacques Schwarzstein, Ana Dourado.

Entendendo que há um terreno fértil para o processo de formulação


da Política Cultural voltada para a Infância, recomenda-se:

• Dar continuidade ao processo de construção de indicativos


para a formulação da Política de Cultura para a Infância;
• Dar continuidade à interlocução com o grupo.
• Incluir novos atores no processo de formulação da Política
e, notadamente, de integrantes do CONANDA;
• Atuar, de forma articulada e integrada com o CONANDA,
órgão responsável pela definição das diretrizes macro das
políticas voltadas às crianças e adolescentes.

VI-Avaliação
Para encerrar os trabalhos do encontro, as moderadoras solicitaram
que os participantes avaliassem os três dias do evento.

Os resultados da avaliação indicaram que foram atendidas às expectativas dos


participantes e que o mesmo correspondeu à necessidade política e técnica do
momento, uma vez que na maioria dos questionários de avaliação preenchidos,
os conceitos do evento foram ótimo e bom, tanto em relação à consecução dos
objetivos, quanto à sua organização, conforme demonstrado nos gráficos abaixo:

Suas expectativas foram atendidas?

Sim. 95% Não. 5%


31
Pontos positivos:

• Reunião de grupo diverso com experiências diferentes; interação social.


• Discussões ricas, concretização de ideais.
• Espaço democrático garantido, espaço de escuta.
• Convocação de personagens relevantes da cultura.
• Engajamento dos profissionais da cultura.
• As dinâmicas de grupo, boa condução do debate/propostas.
• Excelente organização.
• Abertura da mesa. Condução das discussões da equipe de
coordenação de forma democrática, educada e gentil.

Pontos Negativos:

• Estrutura de organização do evento.


• Muitos participantes não puderam se apresentar.
• Pouco tempo para as exposições dos palestrantes
e debates, pela dimensão do assunto.
• Ausência de explicação pontual sobre o que é uma política pública.
• Angústia, desânimo, expectativa de mudanças que não acontecem.
• Ausência de crianças.
• Local distante, mal cuidado.
• Organização do horário esvaziou os últimos
momentos, muitas pessoas sentiram fome.
• Viagem muito longa.
• Ausência por parte da equipe do Ministério da Cultura de indicativos
concretos da condução e continuidade de ações a partir do encontro.
• Ausência de áreas estratégicas nas exposições de palestras.
• Falta de representatividade das regiões brasileiras
nas mesas e na assembléia.

Abordagem dos temas:

Ótimo: 58% Bom:32% Regular: 10% Fraco: 0%

32
Metodologia dos trabalhos:

Ótimo: 32% Bom: 63% Regular: 5% Fraco: 0%

Espaço Físico :

Ótimo: 42% Bom: 53% Regular: 5% Fraco: 0%

Organização Geral do Evento:

Ótimo: 58% Bom: 37% Regular: 5% Fraco: 0%


33
Sugestões:

• Integrar melhor as áreas com produção de conhecimentos


e práticas para a infância, de forma a enriquecer a
discussão sobre políticas culturais para esse público.
• Criação de um fórum de debates na internet.
• Novo encontro para a apresentação do resultado deste encontro.
• Pensar formas de crianças e adolescentes estarem presentes e
contribuírem na discussão para formulação de políticas públicas.
• Mais tempo de discussão.
• Maior número de apresentações
• Mais encontros em espaços mais tranqüilos, cidade do interior.
• Trazer participantes de todas as regiões do Brasil
• Encontro com duração de uma semana
• Criação de uma pré-comissão antes do evento, responsável
por “finalizar” o documento de diretrizes

VII - ANEXOS

ANEXO 1

Reflexões dos participantes sobre o painel do módulo 1:


construção a partir das experiências artístico-culturais

Nesta etapa, os participantes, divididos em 05 subgrupos


compartilharam reflexões sobre as falas do Painel:

Grupo 1

• Educação englobando:
——Identidade, reconhecimento;
——Memória, resgate, conteúdo, escrita;
——Experiência;
——Formação dos sentidos;
——Ação, expressão.
• Comissões específicas para infância com articulação entre diferentes
esferas governamentais com continuidade e circulação dos projetos;

Grupo 2

Tema: Linguagem cênica

• Ninguém cria sem memória;


• Memória: real ou imaginária;
• Espaços diferentes, inusitados: comunidade, hospital, escola, quintal;
• Brincadeira: incentivar o uso do verbo brincar (besterologia);
• Acesso;
• Identificar as emoções necessárias e saber trabalhá-las;
• Considerar as diferenças;
• Despertar a imaginação para o desejo e o sonho;
• Todas as histórias podem ser mudadas;
34
Tema: Audiovisual

• Despertar a criança pelos sentidos e emoções;


• Olhar a criança como parceiro;
• Tratar a criança de igual para igual;
• Lutar contra a mídia tatibitate;
• Oferecer mídia de qualidade em quantidade;
• Usar a literatura infantil brasileira;
• Reconhecer e conhecer as várias faixas etárias infantis;
• Equilíbrio e busca de uma linguagem atual, porém não exagerado se editada;
• Formar produtores para falar e produzir para crianças;
• Atentar para o universo digital;
• Capacitar educadores e famílias para aceitar e
usar a mídia com os filhos e alunos;
• Mostrar o Brasil, trabalhar com as crianças do Brasil;
• É preciso aprender, respirar, fazer mais e mergulhar mais fundo;

Tema: Música

• Música como chave de entrada para o conhecimento;


• Música como conexão com o mundo quebrando barreiras;
• Busca da experimentação;
• Estudo e respeito a história;
• A conquista da criança pode ser feita a partir da música – resgate;
• A escola pública esta em agonia;
• Nenhuma escola trabalha com música;
• Multiplicação de boas experiências;
• Formação de bons profissionais;

Tema: Artes plásticas

• Arte e educação;
• Fugir dos modelos preestabelecidos;
• Apoiar a construção do sentido, orientar para a fruição;
• A criança dona do instrumental de leitura;
• Formação para o olhar artístico;
• Respeito às individualidades e a história do indivíduo;

Grupo 3

Tema: Linguagem cênica

• O imaginário está no encontro de todas as vivências;


• O imaginário é construído com a memória da vivência;
• Grande patrimônio é a memória e a liberdade criativa;

Tema: Audiovisual

• Espaço eletrônico – espaço de ampliação de repertório – qualidade povoar


esses espaços ou forma interativa – fruição estética de qualidade;

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Tema: Música

• Música integra, resgata, sociabiliza, inclui a família – vivência musical;

Tema: Artes plásticas

• Experiência poética plena. Potencializar os sentidos;

Grupo 4

• Dois eixos básicos:


——Reconhecer o estado da criança como cidadão;
——Estabelecer que a infância é prioritária e precisa de uma quota
das verbas e dos instrumentos públicos – verba para a cultura
tem que ter a sua parte, literatura, cinema, pontos de cultura.
• Uma base sobre as quais poderia se pensar.
Em qualquer área se pensar nisto;

Grupo 5

• Memória - ancestralidade - Cultura Local – Tecnologia –


responsabilidade cultural – identidade – desenvolvimento infantil
– interação com as famílias – Manifestações culturais.

ANEXO 2

Reflexões dos participantes sobre o painel do módulo 2:


construção a partir de práticas e metodologias

Nesta etapa, identificada como 1ª rodada, os participantes, divididos


em 04 subgrupos destacaram aspectos impulsores do Painel, em relação
às temáticas nominadas nas estações, tendo como produtos:

Metodologias de arte-educação para crianças

• Protagonismo das crianças, valorização de seus repertórios, educação com


liberdade, metodologia da descoberta, prazer em existir, metodologia lúdica;
• Conceito arte-educação não dá mais conta dos desafios;
• Metodologia para o estímulo do desenvolvimento cultural da criança;
• O MinC deve disponibilizar metodologias exitosas de
entidades que já desenvolveram metodologias de estímulo
e relação com a criança e o adolescente;

Projetos educativos: mediação e fruição

• Entendimento de que os espaços são culturais e tem papel


importante na educação, mas não são escolas;
• Questionamento: Não somos escolas, mas o que somos. Ponto
chave onde há diferenças e que precisam ser discutidas;
• Afastar dos procedimentos e objetivos do sistema educacional;
• Entrar na escola e propor transformações, revolucionar a própria escola;
• Adotar, fortalecer e divulgar o conjunto de experiências inovadoras;
• Tornar-se um espaço de ampliação de vivências, experiências,
36
de visões. Existem outras formas de viver diferentes outros
mundos. Ampliar as possibilidades de vivências das crianças;
• A arte como processo de humanização;
• Para trabalhar cultura e infância é preciso relacionar a cultura e a escola;

Concepções de espaços culturais voltados para crianças

• Pergunta da condutora – dilema: ou se leva a cultura para a comunidade


ou organiza os espaços de cultura para os quais o público deve
se dirigir. É um problema, pois muitas vezes a falta de acesso de
transporte impede ou limita o acesso – exemplo do Claudius;
• As experiências alternativas de levar os equipamentos
culturais à comunidade são uma saída;
• O Bola de Meia, por exemplo, é um ponto de cultura e faz parceria com
escolas – importância de valorizar a escola e em contrapartida a escola vai
até o ponto. Tem sido uma experiência relevante. Na Fundação Casa Grande,
em Nova Olinda, são as crianças e adolescentes que coordenam o espaço;
• Mas tem outra questão que é a participação, o
protagonismo – a mobilidade é um desafio;
• Para se poder definir o espaço físico – ouvir o adolescente para
definir a concepção do espaço e mesmo a programação;
• O Bola de Meia criou um selo de qualidade – se o
brinquedo é funcional, bonito e lúdico;
• A concepção do espaço da criança precisa levar em conta o transporte;
• O envolvimento da família é também essencial;
• Como o Claudius falou, é também importante tirar a criança
daquele contexto em que ela vive no cotidiano, para interagir
mais com a sociedade, sentir-se menos excluído;
• Também é importante levar em conta a questão do planejamento urbano
– como fazer o sistema de transporte levar em consideração a facilidade
de acesso do público aos equipamentos culturais para toda a população;
• Ventoforte é um Pontão de Cultura que até hoje não recebeu recursos.
Porém, suas atividades continuam a pleno vapor, com espetáculos, oficinas,
sempre absorvendo participantes e públicos de todas as gerações e com
maior diversidade. É como um centro de convivência, etc. Há 25 anos
estão num espaço de 4.000m – a favela em torno foi retirada e a única
coisa que ficou foi o Ventoforte. O que precisa é de recurso para grupos
culturais que precisam de continuidade – que devem ser assumidos como
patrimônio da comunidade. Como dar sustentabilidade a esses grupos e
dar continuidade a sua relação com sua comunidade. Tem sobrevivido
com editais, por muito tempo pela lei, sempre projetos culturais...;
• Ter propostas de continuidade pelo Ministério da Cultura
– ter propostas de sustentabilidade para espaços que
já se fizeram referência na área de infância
• Outro tema – como trabalhar coma comunidade, tanto na
questão da participação, como na mobilidade (acesso);
• Há instituições que incluem atividades itinerantes, o que
deve ser também considerado pelas políticas;
• Há um hiato entre educação e cultura – a escola deveria estar mais
coordenada com os equipamentos culturais – talvez disseminar
informação nas escolas ou capacitar os professores;
• Adequação dos espaços físicos dos equipamentos aos
interesses e especificidades das crianças;

37
Outras propostas

• Criar diretrizes culturais para manutenção de projetos,


visando fortalecer o projeto para que ele não vulnerável às
mudanças de governo, lei de responsabilidade cultural;
• Criar um sistema continuado de circulação ao longo prazo das
produções artísticas e culturais já existentes, visando o acesso de
comunidades locais até então excluídas nos circuitos tradicionais;
• Desburocratizar o credenciamento e a prestação de contas dos projetos
culturais contemplados, voltado para a infância-juventude, capacitar um
responsável da instituição contemplada para o gerenciamento do projeto.
• Facilitar a inserção de projetos ligados a
instituições e artistas independentes;
• Após a contemplação de projetos, o governo tem que cumprir
e liberar a verba num curto período de tempo.

ANEXO 3

Lista de Participantes

• Alberdan Batista
• Alberto Aleixo
• Alcemir Palma
• Alexandre Pimente
• Ana Betina França Rugna Lopesl
• Ana Cristina Dubeux Dourado
• Ana Paula Rossi do Carmo
• Andréa Aloy
• Andrés Leban
• Ângela Mascelani
• Antônio Carlos de Moraes Santini
• Aparecida Marina de Souza Rangel
• Beth Carmona
• Beth Parro
• Bruno Pongelia
• Carla Esmeralda
• Carol Pucu
• Celso Pan
• Chico Simões
• Claudenir Gonçalves
• Claudia Ernest Dias
• Claudius Ceccon
• Daniele Geammal
• Ernesto Neto
• Evandro Sales
• Felipe Silva
• Geraldo Vitor
• Isabela Vieira
• Jacques Schwarzstein
• Jonas B. Martins
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• José Maria Braga
• Jovelina Ceccon
• Juti Fraga
• Laís Dória
• Larissa Montenegro
• Laura Dalla Zen
• Lívia Aceto
• llo Krugli
• Lúcia Coelho
• Luciana Balbino
• Luciana Campos Ramos Martha
• Luciana Chen
• Luiza Lins
• Marcio Caetano
• Marcos Cordioli
• Marcos Nauer
• Margarete Moraes
• Maria Ângela Nogueira
• Maurício Cruz
• Miriam Araújo
• Mônica Atalla
• Natalia Simoneti
• Neide Aparecida da Silva
• Pâmela Jean Croitoron
• Ramon Rocha
• Samanta Sanford
• Silvia Leite Bessa Pires
• Tauã Barbosa D. Silva
• Valério Benfica
• Vanda Machado
• Vera Saboya
• Vicente Mota
• Wellington Nogueira
• Ziraldo

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