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O ENSINO DE TÉCNICAS DE ABORDAGEM POLICIAL MILITAR:


Desafios Impostos pelas Novas Demandas Sociais

Sílvio César Nunes da Silva1


silvio-cn@hotmail.com
Polícia Militar de Alagoas

RESUMO

Um fator relevante que nos impeliu ao desenvolver tal pesquisa foi a constatação de vários processos
administrativos e penais militares impetrados em desfavor dos policiais militares de Alagoas no que
pertine à atuação destes, posto que muitas pessoas sentem-se incomodadas pela abordagem,
alegando o constrangimento ilegal no seu direito de ir e vir e intimidade, direitos estes insculpidos na
nossa Carta Magna, bem como o excesso de vigor, fomentando a reclamação da sociedade quanto
ao abuso de autoridade e a truculência por parte dos policiais militares. Ao abordar-se sobre o Ensino
de Técnica Policial Militar: Desafios Impostos pelas Novas Demandas Sociais buscou-se responder a
seguinte questão norteadora: o atual modelo de ensino de técnicas policiais militares, adotado pela
Polícia Militar de Alagoas atende aos novos parâmetros adotados pela sociedade? Acredita-se que o
modelo de ensino adotado pela Corporação não privilegia o ensino de técnicas policiais, sendo
voltado apenas ao caráter repressivo. O objetivo desta pesquisa foi analisar a atual dinâmica do
ensino de técnicas policiais militares nas Unidades de Ensino da PMAL. O método utilizado para esta
pesquisa será o dedutivo, sendo uma pesquisa aplicada e abordagem do problema através de uma
pesquisa qualitativa. Quanto aos fins a pesquisa será explicativa, e os meios de investigação da
pesquisa serão norteados pela pesquisa bibliográfica. Do que foi analisado, evidencia-se que a
Polícia Militar deve adequar-se de forma integral à filosofia de policiamento comunitário e nesta
buscar novas metodologias para o desenvolvimento do processo de abordagem, com o fito de
minimizar as denúncias de abuso de autoridade.

Palavras-Chave: Técnica Policial. Abordagem. Polícia Cidadã. Ensino.

ABSTRACT

A factor that drove us to develop this research was the realization of various administrative and
military criminal cases filed in disfavor of the military police in Alagoas that pertains to the performance
of these, since many people feel disturbed by the approach, saying the illegal constraint their right to
come and go and intimacy, these sculptured rights in our Constitution, as well as excessive force,
promoting the company claims as the abuse of power and brutality by the military police. To be
approached on the Teaching of Technical Officer Military: Challenges for New Social Demands Taxes
we sought to answer the following question: the current teaching model of military police techniques
adopted by the Military Police of Alagoas meets the new standards adopted by the company? It is
believed that the teaching model adopted by the Corporation does not favor the teaching of police
techniques and is intended only to repressive character. The objective of this research was to analyze
the current dynamics of teaching techniques in military police units Teaching PMAL. The method used
for this research is deductive, and an applied research and approach the problem through qualitative
research. As for research purposes will be explanatory and means of investigation will be guided by
the research literature. From what has been discussed, it is evident that the Military Police should suit
up in full to the philosophy of community policing and in this search for new methodologies for the
development of the process approach, with the aim of minimizing allegations of abuse of authority.

Keywords: Technical Officer. Approach. Citizen Police. Education.

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Graduado em História pela Universidade Federal de Alagoas. 1º Tenente da Polícia Militar do
Estado de Alagoas e Aluno do Curso de Pedagogia Estratégica do convênio SEDS-AL/FITS (2014).
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INTRODUÇÃO

Ao vivenciarmos mais de uma década dentro da atividade policial, seja na


área operacional e na área de formação, verifica-se que o ensino das técnicas
policiais militares sempre foi pautado para o “combate à criminalidade” e não a
“proteção da sociedade”.
Nesse dilema do reprimir e proteger encontra-se a importância da formação, o
local de onde deve sair um profissional capaz de entender sua verdadeira missão e
diferenciar o momento de exercer a atividade de repressão e desenvolver o senso
profissional da atividade de prevenção e do senso comunitário que é
veementemente discutido na busca da “polícia de aproximação”.
Merece destaque a figura da abordagem, que é uma das principais atividades
desenvolvidas no serviço operacional e por isso é de fundamental importância que
se tenha uma capacitação adequada deste preceito, pois servirá de supedâneo para
o policiamento ostensivo e preventivo.
Um fator relevante que nos impeliu ao desenvolver tal pesquisa foi a
constatação de vários processos administrativos e penais militares impetrados em
desfavor dos policiais militares de Alagoas no que pertine à atuação destes, posto
que muitas pessoas sentem-se incomodadas pela abordagem, alegando o
constrangimento ilegal no seu direito de ir e vir e intimidade, direitos estes
insculpidos na nossa Carta Magna, bem como o excesso de vigor, fomentando a
reclamação da sociedade quanto ao abuso de autoridade e a truculência por parte
dos policiais militares.
Ao abordar-se sobre o Ensino de Técnica de Abordagem Policial Militar:
Desafios Impostos pelas Novas Demandas Sociais buscou-se responder a seguinte
questão norteadora: O atual modelo de ensino de técnicas policiais militares,
adotado pela Polícia Militar de Alagoas atende aos novos parâmetros adotados pela
sociedade? Acredita-se que o modelo de ensino adotado pela Corporação não
privilegia o ensino de técnicas policiais, sendo voltado apenas ao caráter repressivo.
O objetivo desta pesquisa foi analisar a atual dinâmica do ensino de técnicas
policiais militares nas Unidades de Ensino da PMAL. O método utilizado para esta
pesquisa será o dedutivo, sendo uma pesquisa aplicada e abordagem do problema
através de uma pesquisa qualitativa. Quanto aos fins a pesquisa será explicativa, e
os meios de investigação da pesquisa serão norteados pela pesquisa bibliográfica.
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1 A IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO NO DESENVOLVIMENTO


INSTITUCIONAL

O desenvolvimento organizacional, associado ao treinamento profissional é


importante para o indivíduo, para a organização e até para a sociedade. Isto se
percebe pelos resultados obtidos nos últimos anos.
Para crescer e desenvolver-se, uma organização precisa ter dentro dela,
pessoas que cresçam e se desenvolvam. De fato, os superiores sempre pagam o
custo de desenvolver seus funcionários, ainda que não tenham um programa formal
de treinamento.
Alguns, em lugar de investirem em desenvolvimento, preferem gastar em
desperdícios, supérfluos, maus profissionais e desmotivação funcional, gerando um
“turnover” extremamente negativo.
Segundo Megginson apud Guimarães (2004, p. 47), o desenvolvimento
profissional associado ao treinamento possibilita:
a) Atender aos progressos tecnológicos - o profissional adquire confiança e
capacitação para atuar em um cenário cada vez mais competitivo, acompanhando
os diversos processos que possam obstar o sucesso institucional ou individual;
b) Conduzir à maior satisfação pessoal - à medida que as pessoas se tornam
mais instruídas, treinadas e desenvolvidas, têm um maior senso de valia, dignidade
e bem-estar. Também se tornam mais valiosas para seus superiores e para a
sociedade (em geral, o profissional com maior qualificação causam menos
problemas e têm maior satisfação no cargo); e
c) Ser dinâmico e contínuo - aprender é um processo da vida inteira; não se
encerra na escola, ou na formação profissional. As pessoas precisam continuar a
aprender e a se desenvolver, para que se tornem em profissionais efetivos.

1.1 TREINAMENTO: EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO

Segundo Carvalho apud Neto (2008, p. 55), o treinamento é, basicamente,


uma contínua reconstrução de nossa experiência profissional. Na verdade, essa
reconstrução é caracterizada pela observação e prática do dia a dia de nossa
existência.
Educando-se continuamente, o indivíduo é profundamente influenciado pelo
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meio onde vive, trabalha e se desenvolve. Torna-se praticamente impossível separar


o processo de treinamento da reconstrução da experiência individual. Isso envolve
todos os aspectos educacionais pelos quais a pessoa adquire compreensão do
mundo, bem como a necessária capacidade de melhor lidar como seus problemas
(NETO, 2008).
Por sua vez, o treinamento constitui-se no processo de ajudar o profissional à
adquirir eficiência no trabalho, através de apropriados hábitos de pensamento, ação,
habilidades, conhecimentos e atitudes.
Esse enfoque sobre o treinamento enfatiza a educação como forma de
preparar o indivíduo para o desempenho eficiente de uma determinada tarefa que
lhe é confiada. Nesta linha de raciocínio, o treinamento pode ser caracterizado como
a somatória de atividades que vão desde a aquisição de habilidades motrizes, até o
conhecimento técnico complexo, à assimilação de novas atitudes administrativas e à
evolução de comportamentos em face de problemas sociais complexos.
Assim, o treinamento apresenta-se como um instrumento vital para o aumento
da produtividade do trabalho, ao mesmo tempo em que é um fator de
autossatisfação profissional, constituindo-se num agente motivador comprovado.

2 ABORDAGEM POLICIAL MILITAR

Segundo Ferreira apud Guimarães (2004, p. 18), abordar significa “acometer


e tomar, aproximar de uma pessoa para dirigir-lhe a palavra, chegar, interpelar”. No
nosso caso, poderíamos considerar como sendo uma técnica policial.
Isto é, ato de aproximar de uma pessoa, ou pessoas, a pé, montada ou
motorizadas, e de que emanam indícios de suspeição de que tenham praticado ou
estejam na iminência de praticar ilícitos penais, com intuito de investigar, orientar,
advertir, prender, identificar e/ou tomar outros procedimentos legais movido pela
circunstância da situação encontrada.

2.1 PRINCÍPIOS DA ABORDAGEM POLICIAL MILITAR

Segundo Fraga apud Wanderley e Lúcio e Silva (2011, p. 38), ao efetuarmos


uma abordagem, devemos observar alguns princípios basilares, que são:
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1) Segurança – é a certeza, a confiança e a garantia de que não há


perigo a recear, no momento de efetuar uma abordagem, sabendo o está fazendo e
se está empregando o procedimento correto. Portanto, constitui-se no ato de cerca-
se de todas as cautelas necessárias para a eliminação dos riscos de perigo, em
todas as suas minúcias, para consecução dos objetivos almejados, lembrando
sempre que a ação deve resultar em eficácia.
2) Surpresa - é a ação inopinada do policial, não possibilitando fuga ou
reação do abordado. Esse fator, além de contribuir decisivamente para a segurança
dos executantes da abordagem, é dissuador psicológico da resistência, propiciando
o êxito da ação.
3) Rapidez – é a ação de curta duração na hora de abordar, não devendo
esquecer a segurança no que faz. Este princípio está proporcionalmente ligado à
segurança com que é desencadeado e executado a operação.
4) Ação Vigorosa – é a ação resoluta, decidida e firme do policial na hora
de abordar. Devendo entender o real significado de “ação vigorosa” – essa energia
fortalecida – nunca a confundindo com violência arbitrária, com desrespeito ao
cidadão, do qual deve obter compreensão da ação e respeito.
5) Unidade de comando – é agir sob comando único, evitar conflito de
ordens. É de fundamental importância a existência desse princípio em uma
operação, onde os executores devem ter na mente o objetivo maior da ação,
evitando-se os atropelos, multiplicidade de ordens, indefinição, indecisão e outros
fatores prejudiciais à ação operacional.

2.2 ASPECTOS LEGAIS DA ABORDAGEM POLICIAL MILITAR

As atividades da Polícia Militar, como regra constitucional, tipificada no artigo


144, são ostensivas e preventivas, mantenedoras da ordem pública, e não
prescindem dos atributos dos atos administrativos presunção da legitimidade, a
imperatividade e a auto-executoriedade. As ações não atropelam os direitos
individuais, mas justificam as abordagens com razoabilidade, firmeza e autoridade
legítima (ASKOUL, 1998).
Segundo Graeff apud Boni (2006, p. 4), o Policial Militar estará amparado em
dois aspectos fundamentais:
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Aspecto Ético – (legitimidade): O exercício consciente de proteção à


sociedade, justifica o ato de abordar por parte do Policial. Ético é o conjunto
de valores morais e dos princípios ideais que regem a conduta do policial
militar. Pode ser considerado o exercício da descrição.
Aspecto Legal – (legalidade): A ação discricionária de Policia, através do
poder de polícia, fundamenta a ação policial.

Assim, oportuno lembrar a observação de Meirelles apud Guimarães (2004, p.


23):

O uso do poder é prerrogativa da autoridade. Mas o poder há de ser usado


normalmente, sem abuso. Usar normalmente o poder é empregá-lo
segundo as normas legais, a moral da instituição, a finalidade do ato e as
exigências do interesse público. Abusar do poder é empregá-lo fora da lei,
sem utilidade pública. O poder é confiado ao administrado para ser usado
em benefício da coletividade administrada, mas usado nos justos limites que
o bem-estar social exigir. A utilização desproporcional do poder, o emprego
arbitrário da força, da violência contra o administrado constituem formas
abusivas do uso do poder estatal, não tolerados pelo direito nulificadores
dos atos que as encerram. O uso do poder é lícito; o abuso, sempre ilícito.
Daí por que todo ato abusivo é nulo, por excesso ou desvio de poder.

O policial militar, no exercício de suas atividades de abordagens, deve agir


conforme preceituam os artigos 240 a 250, do Código de Processo Penal, e os
artigos 170 a 189, do Código de Processo Penal Militar, além da observância dos
direitos e garantias individuais prescritas na Carta Magna, para que seu ato torne
legítimo, e tenha na sua consecução final o sucesso da persecução criminal.
Aspectos Culturais, Religiosos e Variação da Incidência Criminal, podem e
devem ser observados numa ação policial.
É importante para o Policial Militar, analisar seu local de atuação. Para tanto,
a vivência e as experiências colhidas com o passar do tempo, servem para ajustar a
conduta do policial Militar diante das mais diversas situações encontradas, as quais
poderão variar em função de local, horário, tipos de delitos praticados e outras
considerações que certamente facilitarão a ação policial.

3 ASPECTOS DA FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR

A conduta do policial militar sempre foi alvo de observação de toda a


população, em especial da mídia, devido a sua missão constitucional de
mantenedora da ordem pública.
Sendo assim, agregados à sua figura estão vários adjetivos que contribuem
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para a formação de sua imagem como alguém cujo erro é inaceitável, chegando-se
até mesmo a esperar do policial que ele seja capaz de responder aos chamados da
sociedade com total domínio de suas emoções (ASSUNÇÃO; LOPES, 2009).
Quando esse ideal é rompido e o policial age como um ser humano comum,
mais um cidadão da sociedade civil, surgem então as manchetes de jornal
condenando suas falhas.
Não raro nos deparamos com denúncias de policiais corruptos, arbitrários, e
muitas vezes violentos que, a despeito da autoridade que lhes é conferida, inclusive
possibilitando-lhes legalmente usar a força física necessária para garantir a
manutenção da ordem pública, praticam a violência ilícita contra os cidadãos que
neles confiam para proporcionar-lhes segurança.
Segundo Assunção e Lopes (2009, p. 23), “um dos grandes elementos que
colaboram para a deficiente ação policial na abordagem é a má formação policial e a
falta da educação continuada (instruções de manutenção)”. Elas propiciam
renovação de conhecimentos e acompanhamento por parte dos superiores do
comportamento de seus subordinados, para a formação de uma identidade
profissional de suas equipes.
Sobre isso, Souza (2005, p. 137) afirma que:

A identidade profissional não se forja só no orgulho, nos cursos de formação


e no desejo de pertencer à organização policial, mas também num
compromisso maior que inclui a reaprendizagem constante e a renovação
crítica, que exigem reflexões sobre os processos formativos.

Para a autora, a formação policial proposta pela Matriz Curricular Nacional


para a Formação em Segurança Pública valoriza a utilização crítica e criativa dos
conhecimentos e não o acúmulo de informações, uma vez que a formação policial
pode ser entendida como um tempo de aquisição e construção de saberes
necessários à prática policial, bem como período ideal para repensar as práticas
vigentes sob diferentes pontos de vista e de reconstruir conhecimentos apropriando-
se criticamente da cultura elaborada (SOUZA, 2005).
A Matriz Curricular Nacional (MCN) para a formação em Segurança Pública
foi aprovada em 2003, por intermédio do Ministério da Justiça e da Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP). Essa Matriz teve a intenção de “ser um
referencial teórico-metodológico para orientar as Ações Formativas dos Profissionais
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de Segurança Pública, independentemente da instituição, nível ou modalidade de


ensino que se espera atender”.
No ano de 2005, a MCN sofreu implementações e dois outros documentos
foram acrescentados de acordo com os trabalhos que foram desenvolvidos pela
SENASP: as Diretrizes Pedagógicas para as Atividades Formativas dos Profissionais
da Área de Segurança Pública, que se caracteriza como “um conjunto de
orientações para o planejamento, acompanhamento e avaliação das Ações
Formativas” (BRASIL, 2003, p.2). E a Malha Curricular para Segurança Pública, que
se baseia como “um núcleo comum composto por disciplinas que congregam
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, cujo objetivo é garantir a
unidade de pensamento do profissional da Segurança Pública” (BRASIL, 2003, p.2).
Com isso, pode se afirmar que a execução da atividade policial militar, por
sua natureza e complexidade, requer acompanhamento mais próximo possível da
Dinâmica Social. Para tanto, faz-se necessário que o Policial Militar se conscientize
de que sua destreza eficácia no desempenho da missão de prestar segurança,
depende sua vida e as de outrem.
As disciplinas que envolvem a temática de Técnicas de Abordagem
constituem um parâmetro que deve ser seguido de perto, todavia por se tratar de
uma “Ciência Exata”, precisa e tem que ser ajustada às diversas situações que
possam ser sanadas com o emprego correto da Técnica Policial, para tanto, é
importante a observação da situação como um todo, aliado ao bom emprego do
“Faro Policial” (vivência), que certamente implicará numa melhor aplicação das
instruções seguintes, objetivando a implantação de uma doutrina de procedimentos
e atitudes em ocorrências policiais, visando propiciar maior segurança e
profissionalismo ao Policial Militar, para melhor servir à sociedade (WANDERLEY;
LÚCIO E SILVA, 2011).
Para prevenir a prática de delitos desestabilizadores da ordem pública, o
policial militar, ostensivamente, patrulha as áreas do território que lhe é designado,
continuamente observando as ações das pessoas que cruzam seu horizonte de
visão. Sua formação profissional lhe dita a necessidade de cotejar cada
comportamento que sua experiência entenda de classificar como suspeito.
Em razão de sua origem, e por ser uma ação dinâmica, o Policiamento
Ostensivo visa, nos termos e limites da lei, propiciar para que as comunidades vivam
um verdadeiro clima de tranquilidade pública.
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Segundo Ramos e Musumeci (2004, p.48):

A atuação da Polícia Militar deve ser de caráter preventiva, obedecendo a


um criterioso planejamento, elaborado em bases realísticas, que atente para
as informações pertinentes à defesa pública e que propicie a alocação de
recursos humanos e materiais nos horários de maior risco, inibindo a
oportunidade de ação de delinquir, interrompendo o ciclo de violência.

Tendo a Polícia Militar, a missão precípua do policiamento preventivo, é


necessária que possa exercer sua função, com poder de polícia, com os meios
adequados para atingir seus fins, dentro da legalidade (BRODEUR, 2002).
Daí porque a atuação da Polícia Militar implica na execução de atos
discricionários, que lhe dão a flexibilidade exigível para a consecução de suas
operações. Nos casos de situações em que há alto risco de ações contra a
segurança e incolumidade das pessoas, com fundado risco de ocorrência de crime,
deve a Polícia Militar, no primeiro raciocínio, designar forte aparato policial
ostensivo, destinado a preservar a ordem pública, inibindo o crime.

3.1 O SISTEMA DE ENSINO NA POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS

A Polícia Militar de Alagoas instituiu por força da Lei nº 6.568, de 06 de janeiro


de 2005, o Sistema de Ensino na PMAL, onde em seu art. 2º, II, relacionam-se os
cursos de formação destinados às praças, onde consta na alínea “c”, o Curso de
Formação de Praças (CFP).
A última que ingressou na PMAL foi no ano de 2010, mas até os dias atuais
ainda está admitindo alunos, por força de inúmeras ações judiciais que encontraram
lacunas no processo seletivo.
No art. 10 da Lei nº 6568/2005, descrevem-se os objetivos deste curso de
formação:

Art. 10
[...]
§ 1º O Curso de Formação de Praças é destinado à formação profissional
do jovem recém-incluído nas fileiras da Corporação e tem os seguintes
objetivos gerais:
I – educar o indivíduo de modo a permitir-lhe desenvolver hábitos
imprescindíveis ao bom desempenho da função policial militar ou bombeiro
militar;
II – estimular o espírito de corpo, o amor à carreira e a profissionalização
através dos conhecimentos técnicos peculiares às atividades de polícia ou
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de bombeiro;
III – moldar e aprimorar o caráter e o físico às exigências das atividades
profissionais, capacitando os formandos a tê-los como instrumento valioso
para o exercício de suas funções;
IV – fortalecer as convicções democráticas e a crença nas leis, no direito, na
justiça e na ordem;
V - dotar os militares de qualidades e aptidões indispensáveis às atividades
que lhe são inerentes, tais como: controle emocional, tato, respeito aos
direitos humanos, urbanidade e capacidade de decisão; e
VI – habilitar o militar a ascender na carreira militar, galgando com o
decorrer do tempo as graduações subsequentes, nas suas respectivas
qualificações, até terceiro sargento.

Podemos verificar que na formação existem pontos relevantes para a


obtenção de um profissional compromissado e que desempenhe sua missão com
garbo e denodo, com vistas a proporcionar um serviço de qualidade em prol da
segurança pública e da comunidade.

3.2 O ENSINO DE TÉCNICAS DE ABORDAGEM NA PMAL

No Brasil, as PMS passaram a cuidar realmente do policiamento ostensivo


nos grandes núcleos urbanos somente nos últimos trinta anos, o que torna essa
atividade recente se comparada com a existência da instituição policial militar
alagoana, que teve origem em 1832.
No entanto, os primeiros passos no sentido de estabelecer padrões para
operacionalização da abordagem policial na PMAL, ocorreu em 2009, com a
implementação dos POP (Procedimentos Operacionais Padrão) - um conjunto de
procedimentos operacionais, a fim de orientar os policiais na melhor maneira de
proceder nas diversas situações em que se depara durante as atividades diárias,
descrevendo detalhadamente o comportamento policial durante as situações de
abordagem (WANDERLEY; LÚCIO E SILVA, 2011).
Neste sentido, o POP contribui para aumentar a segurança individual do
policial e dos demais atores envolvidos, direta ou indiretamente, nesses encontros e
para minimizar a probabilidade da ocorrência de pequenos abusos.
O POP é um documento que tem caráter oficial, mas não é impositivo, pois
respeita a autonomia do policial militar na tomada de decisões durante os encontros,
cuja previsibilidade não pode ser alcançada no todo. Entretanto ele tende a reduzir a
margem de erro policial à medida que trata das situações cotidianas com riqueza de
detalhes e orienta a forma ótima de agir, sem inibir a discricionariedade do policial.
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O POP prevê que a abordagem pode se desenvolver de três diferentes


maneiras: (1) abordagem a pessoa sob fiscalização de polícia; (2) abordagem a
pessoa em atitude sob fundada suspeita; e (3) abordagem de pessoa infratora da lei.
Na abordagem a pessoa sob fiscalização de polícia, o policial apenas
identifica a pessoa, pedindo seus documentos, e explica o motivo pelo qual ela foi
abordada e a libera em seguida, sua arma permanece no coldre o tempo todo.
Na abordagem a pessoa em atitude sob fundada suspeita, o policial saca sua
arma e a mantém na posição sul, apontando-a para o solo, determina que a pessoa
se vire de costas, entrelace os dedos na nuca e afaste as pernas.
Se a abordagem é feita a uma pessoa, o procedimento padroniza que essa
ação seja operacionalizada por dois policiais, ou seja, que sempre haja
superioridade numérica de policiais em relação aos não policiais.
Após posicionar a pessoa da forma descrita, um dos policiais recoloca sua
arma no coldre e realiza a busca pessoal, enquanto que o outro permanece com sua
arma na posição sul fazendo a segurança.
Na busca pessoal, por medida de segurança, o policial deve se posicionar de
forma a manter sua arma o mais distante possível do revistado e fixar uma base de
apoio com os pés, caso a pessoa reaja.
Deve ainda segurar com uma das mãos os dedos entrelaçados e deslizar a
outra sobre o corpo da pessoa, apalpando os bolsos externamente, tudo isso com o
objetivo de encontrar algum objeto ilícito com a pessoa, como arma ou droga.
Se ainda restar dúvidas, o policial poderá realizar a busca pessoal minuciosa,
que é uma revista mais detalhada e deve ser feita preferencialmente na presença de
testemunhas e em local isolado do público, onde o revistado retira toda a roupa e os
calçados.
Por fim, na abordagem a pessoa infratora da lei, o policial usa a sua arma na
posição 3º olho, apontando-a para o infrator, determina a posição em que deve ficar
para iniciar a busca pessoal: de costas para o policial, dedos entrelaçados na nuca e
ajoelhado, para dificultar a reação dessa pessoa que, reconhecidamente, praticou
um crime.
Quando a pessoa está conduzindo um veículo, além da busca pessoal, o
policial também pode realizar a identificação do veículo, fiscalizando os documentos
e ou a vistoria externa e interna do automóvel.
A escolha do procedimento acompanha a mesma lógica da abordagem a
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pessoa a pé e a vistoria, quando realizada, pretende alcançar o mesmo objetivo –


localização de armas, drogas e outros objetos produto de crime. O condutor ou o
proprietário deve acompanhar a vistoria (WANDERLEY; LÚCIO E SILVA, 2011).
Embora haja autorização legal, não se pode dizer que esta seja uma situação
agradável, fato este que gera muita discussão sobre ser este o procedimento mais
apropriado.
Por um lado é compreensível que uma pessoa honesta sinta-se ofendida por
ter tido sua conduta identificada como suspeita; por outro, o elevado aumento do
crime e da violência leva o policial a aumentar o seu grau de desconfiança nas
pessoas e, consequentemente, a realizar um maior número de abordagens.

CONCLUSÃO

A Polícia Militar do Estado de Alagoas, secular Instituição legalista, tem suas


ações lastreadas nos valores morais e nos deveres éticos que conduzem suas
atividades profissionais sob o signo da retidão moral e, assim, por todos esses anos,
tem cumprido com a sua missão prevista no artigo 144 da Carta Magna desta
Nação, que é a preservação da Lei e da Ordem Pública, visando à incolumidade das
pessoas e do patrimônio.
No entanto, essa missão deve ser cumprida com plena observância aos
princípios dos Direitos Humanos. Razão pela qual o policial militar, ao realizar a
abordagem de pessoas, não pode destoar dos Direitos e das Garantias
Fundamentais dos cidadãos, estabelecidas no artigo 5º da Carta Magna.
É certo que o treinamento oferecido na formação e os Procedimentos
Operacionais Padrão (POP) da PMAL, atinentes à abordagem de pessoas, atendem
os requisitos legais e preconizam o respeito aos Direitos Individuais, porém,
paradoxalmente ao preconizado, ainda ocorre um número considerável de
denúncias feitas na Corregedoria da Corporação e divulgados na mídia local por
pessoas que, de alguma forma, sentiram-se ofendidas ao serem submetidas à
abordagem e à busca pessoal realizadas por policiais militares.
Com isso, apresenta-se como primeira sugestão que as instruções sobre a
Abordagem Policial e os Direitos Humanos devem ser interdisciplinadas, dadas as
dimensões de suas importâncias para o desempenho das atividades policiais
militares.
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Espera-se que, a partir do emprego desses métodos de ensino, seja


otimizada a assimilação, a retenção, a transmissão e a utilização dos conhecimentos
adquiridos, tornando-os mais tangíveis para o policial militar e, assim, possibilitando
a correção comportamental desse militar do Estado e a consequente redução dos
índices de denúncias realizadas contra esses profissionais de segurança pública,
quando da realização da abordagem de pessoas.
Desta forma, haverá uma significativa elevação do nível da qualidade dos
serviços prestados à população e, assim, propiciando que as atividades da
Instituição estejam perfeitamente alinhadas com os anseios da sociedade.
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REFERÊNCIAS

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