Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Metodologia de Pesquisa Artigos Compactados Joseval Martins Viana
Metodologia de Pesquisa Artigos Compactados Joseval Martins Viana
1
Conferir os quatro volumes publicados pela Comissão de Ensino Jurídico do Conselho Federal da OAB,
Brasília, 1992, 1993, 1996 e 1997. Também Luciano Oliveira - João Maurício Adeodato: O Estado da Arte
da Pesquisa Jurídica e Sócio-Jurídica no Brasil. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos
Judiciários, 1996.
2
Aristóteles: Retórica, I, 2, 1357b, 30-35, in The Works of Aristotle, trad. de W. Rhys Roberts, coleção
Great Books of the Western World. Chicago: Encyclopaedia Britannica, 1990, vol. 8.
3
Estelle M. Phillips - Derek. S. Pugh: How to get a PhD - A Handbook for Students and their Supervisors.
Buckingham - Philadelphia: Open University Press, 1995, passim.
4
Franz Wieacker, já autor consagrado, escreveu a História do Direito Privado Moderno mas teve o
cuidado de colocar como subtítulo: Com especial atenção ao desenvolvimento alemão. V.
Privatrechtsgeschichte der Neuzeit - unter besonderer Berücksichtigung der deutschen Entwicklung.
Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1967.
5
Cf. Antônio Carlos Gil: Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991, p. 48.
trabalho de grifar trechos dos textos consultados; a ficha de leitura será mais eficiente se
já expressar o conteúdo das fontes nos termos e na perspectiva do pesquisador.
Uma regra geral importante é atentar para a necessidade de referir
especificamente, no decorrer do texto, tudo aquilo que aparecer listado na bibliografia. E
vice-versa. Conforme já sugerido, não se devem listar obras de leitura obrigatória ou
fontes que, embora tenham sido importantes na formação do pesquisador, pouco ou nada
tenham a ver com a efetiva elaboração daquela pesquisa e não apareçam diretamente
referidas nos rodapés.
Fontes não-bibliográficas de pesquisa, tão ao gosto dos demais estudiosos dos
fenômenos sociais, não vêm sendo utilizadas pelos juristas como seria de desejar:
questionários, entrevistas, amostragens estatísticas, dentre outros métodos, desde que
corretamente conduzidos, só trarão conseqüências benéficas à credibilidade de uma
pesquisa jurídica. Até mesmo relatos provenientes de observações pessoais quase nunca
são aproveitados, perdendo-se por vezes a rica experiência que juízes, advogados,
procuradores, promotores que querem participar das discussões científicas têm a relatar.
Outro meio importante de acesso a fontes de pesquisa jurídica são as redes de
computação, eficientes para consulta a bibliotecas, legislação, jurisprudência e a imensa
gama de informações que possibilita. O mais importante nessas redes é que as regiões
geográficas diminuem sua importância, difundindo-se a informação a pesquisadores de
regiões distantes dos grandes centros, outrora monopolizadores das fontes. Isto é
fundamental para o pesquisador brasileiro, a quem o debate científico quase sempre
chega com atraso. Com as redes computacionais, desde que domine alguma língua
estrangeira mais universal, qualquer pessoa pode comunicar-se e acessar de imediato
fontes antes indisponíveis.
6
Artigo assinado no Jornal Gazeta do Povo. Curitiba: sábado, 6 de setembro de 1997, 6a. página.
7
Código Civil (Lei n. 3.071 de 1.1.1916). São Paulo: Saraiva, 1997.
Muitos outros exemplos poderiam ser pinçados, mostrando como a vigilância em prol da
clareza precisa ser permanente e incansável.
indevidamente o nome do mesmo, daí porque Umberto Eco sugere o uso da sigla AAVV
(autores vários)8, que tem a vantagem de colocar todos os autores em um mesmo plano;
3. Se a obra é coletiva mas com um ou mais organizadores, a referência deve vir em
nome destes, seguidos da abreviatura “orgs.” entre parênteses.
Existem os dados indispensáveis e dispensáveis nas referências. Na primeira
categoria, em caso de livros, estão autor, título da obra (que deve vir em destaque - em
negrito ou itálico), cidade, editora, ano de publicação e página ou páginas específicas
referidas no caso. Quando se tratar de artigos de revistas ou capítulos de livros, são
indispensáveis o título do texto (entre aspas ou não), o título do veículo em que a obra se
insere (em destaque), referências deste veículo (fascículo, número, anos de existência -
quando houver - em suma, como ele se apresenta para identificação), páginas de início e
fim do texto, além de página ou páginas específicas referidas ali. Dispensáveis, porém
úteis e assim desejáveis, são o tradutor, a edição, a coleção em que a obra se insere
(quando houver, é claro), o número de páginas da obra etc. A opção do pesquisador fica
basicamente entre dar comodidade ao leitor ou economizar espaço. Na listagem
bibliográfica, obviamente, dispensa-se a página específica referida.
E é justamente pelo critério da economia de espaço que cresce a adesão ao sistema
autor-data. Aqui, as referências podem vir no rodapé ou mesmo no próprio corpo do
texto: o nome do autor é seguido de vírgula, do ano de publicação da obra, de dois pontos
e da página ou páginas específicas consultadas (Saldanha, 1982: 68). Os dados completos
da referência estarão na listagem das fontes, sem que seja necessário referi-los a cada
oportunidade. A única diferença na forma é que o ano de publicação, na listagem
bibliográfica, deve aparecer logo depois do nome do autor, entre parênteses, já que é o
ano, além do nome, que individualiza a referência feita ao longo do texto. Se o
pesquisador tiver consultado mais de uma obra de um mesmo autor, publicadas no
mesmo ano, a diferenciação deve ser feita através de letras minúsculas colocadas logo
após o ano. Caso haja mais de um autor com o mesmo sobrenome, deve-se recorrer às
iniciais do primeiro nome; se ainda ainda assim houver confusão, às iniciais do segundo e
assim por diante. Colocar os primeiros nomes por extenso no corpo do texto não é usual
neste sistema, posto que seu critério-guia é a economia de espaço. Na listagem
bibliográfica, porém, é desejável.
Note-se que o sistema autor-data não afasta necessariamente os rodapés, ainda que
elimine boa parte deles, aqueles simplesmente referenciais. Mas há os rodapés
explicativos, os quais não podem vir entre parênteses no corpo do texto.
A listagem bibliográfica final (bibliografia) é dispensável quando se optar pelo
sistema completo e se tratar de texto relativamente curto e com poucas referências, como
é o caso deste aqui.
Mas a norma formal básica é uma só, além daquele “critério material” já
mencionado, o de possibilitar ao leitor refazer os passos da pesquisa: a uniformidade. O
pesquisador deve escolher seu próprio sistema de listagem de fontes e estabelecer com o
leitor um código de comunicação o mais possívelmente objetivo e inequívoco.
8
Umberto Eco: Como se Faz uma Tese em Ciências Humanas. Trad. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão,
prefácio de Hamilton Costa. Lisboa: Editorial Presença, 1977, pp. 86-87.
A numeração das referências deve ser contínua, por capítulo ou ao longo de todo
o trabalho, com preferência para esta, pois individualiza cada referência, sem precisar
citar o capítulo. Embora isto pareça trivial, muitos pesquisadores iniciantes preferem
recomeçar a numeração a cada página, o que é inadmissível.
Idem significa o mesmo autor, ibidem significa na mesma obra; da mesma forma
que op. cit. (obra citada), vêm sendo pouco usados, sobretudo porque podem dificultar o
acesso do leitor à informação. Só devem ser usados quando a obra que indicam teve suas
referências completas discriminadas imediatamente antes, por exemplo: na nota número
12 o livro foi referido; se as notas 13 e 14 se referem à mesma fonte, as expressões acima
são palatáveis. Mas se as notas seguintes referem-se a outras obras, como é comum
acontecer, e a obra referida na nota 12 volta a aparecer lá na frente, digamos, na nota 32,
o leitor dificilmente achará as referências necessárias quando se defrontar com idem ou
ibidem, principalmente se entre elas há referências a várias outras obras, todas lançando
mão das mesmas expressões, por sua vez. É confuso.
Para evitar tais dificuldades, alguns autores9 repetem o nome do autor
anteriormente citado e colocam entre parênteses o número da nota em que as referências
completas daquela obra primeiro apareceram. A vantagem sobre ibidem ou op. cit. é
óbvia, pois o leitor saberá exatamente onde encontrar as referências completas, quando
delas precisar. Mas se o número de referências é muito grande, o leitor terá algum
trabalho.
No sistema autor-data, como as referências se repetem tantas vezes quantas
necessárias, as expressões idem, ibidem e op. cit. não são utilizadas.
Mas as expressões latinas apud, (citado por, conforme) e passim (aqui e ali)
servem para os dois sistemas. A citação apud cabe quando o autor que se cita não foi
diretamente consultado mas a informação chegou através de um outro autor. Deve ser
usada com toda parcimônia, pois não se trata de fonte bibliográfica primária, e apenas
quando a obra que se cita é de difícil acesso; não fica bem citar Pontes de Miranda apud
Lourival Vilanova, pois a fonte que se quer pode ser sem dificuldade consultada
diretamente. A expressão passim é usada quando o tema abordado está em tantas páginas
da obra-fonte que o pesquisador não se dispõe a enumerá-las. É um tipo de referência que
implica responsabilidade de ter consultado toda a obra citada e que a mesma esteja
realmente imbricada com o assunto sob exame. Sempre é mais exato citar página por
página.
A citação ipsis literis, aquela que transcreve literalmente um enunciado da fonte,
também é utilizada independentemente do sistema de referência que se escolha. Deve ser
da mesma maneira usada com economia, quando o pesquisador considere que a fonte
chegou a uma formulação irretocável, exemplar para algum argumento, para analisá-la
especificamente etc.
Quem escreve um trabalho sempre se pergunta a quantidade de referências que
deve fazer. Esta questão é impossível de ser precisamente respondida, devendo, como
9
Como Robert Alexy: “Probleme der Diskurstheorie”, in Zeitschrift für philosophische Forschung, Band
43, 1989, pp. 81-93, ou a tradução brasileira: “Problemas da Teoria do Discurso”, in Anuário do Mestrado
da Faculdade de Direito do Recife n° 5. Recife: ed. UFPE, 1992, pp. 87-105.
7. Sugestões bibliográficas.
1 INTRODUÇÃO
No que se refere à educação superior, de forma geral (ou seja, para todas
as IES, mesmo que não sejam universidades), o tema é tratado pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) da seguinte forma:
1
É importante ressaltar que a LDB se refere à educação superior e não à ensino superior, exatamente porque nesse nível
as exigências não se restringem ao ensino.
2
Um programa desse tipo tem de respeitar as normas constitucionais em termos de isonomia, o que implica em estabelecer
critérios objetivos e claros de escolha dos alunos, sendo recomendável a utilização de seleção pública por prova específica
ou por análise de projeto (como ocorre no PIBIC/CNPq).
3
Relativamente ao corpo docente o incentivo pode ocorrer através da concessão de bolsa, do pagamento de carga horária
especificamente destinada ao desenvolvimento do projeto ou, em se tratando de professores em tempo parcial ou integral,
de destinação de parte da carga horária atinente ao regime de trabalho especificamente para essa atividade.
Art. 2º [...].
§ 1º O Projeto Pedagógico do curso, além da clara concepção do curso de
Direito, com suas peculiaridades, seu currículo pleno e sua
operacionalização, abrangerá, sem prejuízo de outros, os seguintes
elementos estruturais:
[...]
VIII - incentivo à pesquisa e à extensão, como necessário prolongamento da
atividade de ensino e como instrumento para a iniciação científica;
[...]
XI - inclusão obrigatória do Trabalho de Curso.
6
Sobre esse tema ver: RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Pensando do ensino do Direito no século XXI: diretrizes
curriculares, projeto pedagógico e outras questões pertinentes. Florianópolis: Fund. Boiteux, 2005.
7
Em grande parte essa situação decorre de tais disciplinas terem sido entregues, na maioria das instituições, para os
departamentos de biblioteconomia. Embora o grande respeito que merecem esses profissionais, a sua tendência é
transformar a metodologia em normalização do trabalho acadêmico. Na forma como é pensada aqui a Metodologia da
Pesquisa, como estratégia do processo de ensino-aprendizagem, é absolutamente indispensável para ministrá-la que se
possua formação docente e epistemológica. Especificamente nos Cursos de Direito, essa realidade se deve também à
ausência de uma tradição de pesquisa e ao privilegiamento que os aspectos formais regra geral recebem dos profissionais
da área jurídica.
8
Ver FEYERABEND, Paul. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
ser humano; a elas estão vinculadas em grande parte as atividades de lazer e, como
conseqüência, a alegria e a felicidade. Também algumas áreas técnicas trabalham
com conhecimentos fundamentais para o ser humano, mas que não são produzidos
por pesquisa científica, como é o caso do Direito; não se pode, em sã consciência,
dizer que a legislação e a jurisprudência são construções científicas, embora
possam ser construções derivadas de atividade de pesquisa. Nesse sentido é
importante iniciar verificando quais são as principais espécies de conhecimento.
tanto que existem várias escolas filosóficas e várias explicações filosóficas para um
mesmo fenômeno. O conhecimento filosófico pode nascer em qualquer espaço,
sobre qualquer objeto e a qualquer momento. Sua essencialidade está em impedir a
dogmatização de qualquer um dos demais conhecimentos. A Filosofia é, por
essência, anti-dogmática; se se tornar dogmática, Filosofia não é.
12
Sobre a questão da construção do objeto da ciência ver, de BACHELARD, Gaston, O racionalismo aplicado e A
epistemologia.
Escolha do tema
13
Regra geral o aprender pressupõe o fazer, exigindo atividades práticas reais, ou seja, estratégias pedagógicas específicas.
14
Conforme René Descartes (Discurso do método. São Paulo: Abril, 1979. p. 37-38. Os Pensadores.), os quatro princípios
básicos que compõe o método adequado ao conhecimento são:
“O primeiro era de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é,
de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão
clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.
O segundo, o de dividir.cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas
necessárias fossem para melhor resolvê-las.
O terceiro, o de conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de
conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma
certa ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada
omitir.”
15
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco; 2000.
16
Essa dimensão não consta da obra de Edgar Morin e está aqui incluída tendo em vista as posições pessoais do autor deste
artigo.
17
Conforme Eliane Junqueira, na lista de discussão da Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDi), durante um
debate ocorrido sobre a pesquisa nos cursos de Direito, no segundo semestre de 2004.
18
Eliane Junqueira, na lista de discussão da Associação Brasileira de Ensino do Direito, durante um debate ocorrido sobre a
pesquisa nos cursos de Direito, no segundo semestre de 2004.
5 CONCLUSÃO
E s t u d o Dirigido
"Toda longa caminhada começa Penal, Direito Processual Penal, Criminologia, Na realidade, muitos dos pretensos traba-
com um primeiro passo. " etc; optando por Direito Penal, deverá escolher lhos científicos produzidos em nossas universi-
Provérbio chinês entre Teoria do Delito, Teoria da Pena, Execução dades não passam de manuais ou resumos da
Penal, etc. e assim sucessivamente, até delimitar matéria objeto de estudo sem qualquer caráter
Estuclo D i r i g i d o
apresentado como certo e indiscutível, cuja ver- Nem sempre, porém, é possível obter Evidentemente, na fase do projeto, não
dade se espera que as pessoas aceitem sem ques- os dados de forma direta, através dos proce- há necessidade de o pesquisador ter acesso
tionar: a lei, a jurisprudência, os costumes, os dimentos acima. Assim, na pesquisa empírica, físico às obras, muito menos de adquiri-las.
princípios gerais do Direito, etc. poderá o pesquisador valer-se de dados obti- Deverá, no entanto, ter as referências com-
O Direito deverá ser pesquisado en- dos indiretamente que podem ser encontra- pletas das obras que futuramente poderá con-
quanto ciência pura e, portanto, isolado dos dos em livros, em artigos de periódicos e em sultar devidamente formatadas no padrão
elementos sociais que se relacionem com o todo e qualquer material bibliográfico impresso ABNT. Atualmente, é indispensável a con-
problema pesquisado. ou informático. sulta através da Internet às bibliotecas das
O único objeto válido para este tipo de Ainda que o ideal - até por uma ques- principais Faculdades de Direito do Brasil,
pesquisa jurídica é o dogma, daí porque a pes- tão de confiabilidade dos dados - seja obter bem como à base de dados da Biblioteca do
quisa teórica pode muito bem ser denominada os dados diretamente, vale lembrar que o pes- Senado Federal 6 .
de dogmática. quisador empírico não necessita obrigatoria-
A solução do problema não é buscada mente realizar trabalhos de campo, pois mui- Conclusões
no mundo fático, mas é concebida na mente tos dos dados da realidade social, política e
do pesquisador a partir da análise dos dogmas econômica de seu problema podem perfeita- Evidentemente, não tivemos a preten-
jurídicos no tempo (História do Direito) e no mente ser encontrados em material bibliográ- são de nestas breves linhas esgotar o assunto,
espaço (Direito Comparado). fico das mais diversas fontes. mas tão-somente de oferecer os primeiros
Trata-se de uma concepção formal do O que caracteriza a pesquisa empírica subsídios à elaboração de um projeto de pes-
Direito que é entendido como ciência inde- não é a coleta dos dados, mas sim a postura quisa original.
pendente das demais ciências sociais e, por do pesquisador em relação ao objeto da pes- Esperamos ter despertado o interesse
conseguinte, dotada de autosuficiência quisa: enquanto na pesquisa teórica a solução daqueles que darão os primeiros passos na
metodológica e técnica. do problema encontra-se no dogma, na pes- trabalhosa, mas sempre instigante, pesquisa
Vê-se claramente que a pesquisa jurí- quisa empírica deverá o pesquisador buscá-la jurídica.
dico teórica é uma pesquisa de gabinete, na realidade social.5
construída em uma torre de marfim e abso- NOTAS
lutamente alienada quanto à realidade soci-
al, econômica e política da sociedade para a 1 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de
O cronograma: Direito Internacional Público. 13§ed. Rio de Janei-
qual o dogma jurídico está sendo construído.
O pesquisador crítico deve, pois, evi-
quando pesquisar? ro: Renovar, 2001. p. 38. O Prof. Celso Mello se
coloca entre os "divulgadores do Direito", o que só
tar uma análise exclusiva dos dogmas jurídi- se justifica pela infinita humildade do mestre
cos, procurando as respostas do seu proble- Como já foi dito anteriormente, nenhu-
ma pesquisa pode prolongar-se indefinida- internacionalista, haja vista o inegável conteúdo ci-
ma não só na lei, na doutrina ou na jurispru- entífico de sua obra.
dência, mas principalmente na realidade soci- mente no tempo. Assim, necessário é que o
2 Sobre o tema-problema e sua delimitação cf.
al onde está inserido seu objeto de estudo. pesquisador estabeleça um cronograma no qual
PEREIRA, Lusia Ribeiro. VIEIRA, Martha Louren-
especificará quanto tempo levará na realiza-
ço. Fazer pesquisa é um problema? Belo Horizon-
ção de cada etapa de sua pesquisa. te, Lápis Lazúli, 1999. 39p.
Em geral este cronograma é apresenta- 3 Para maiores detalhes sobre o marco teórico cf.
do através de uma tabela na qual as colunas GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa. DIAS, Maria
Pesquisa empírica representam os meses em que será realizada a Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa jurídica:
pesquisa e as linhas, as tarefas a serem con- teoria e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 2002.
É uma estratégia de pesquisa que tem cluídas. p.55
por objeto a análise da norma jurídica no Dentre outros itens, deverão constar no 4 Sobre os diversos procedimentos da pesquisa
contexto da realidade social em que se ma- cronograma: levantamento bibliográfico, ob- empírica cf. GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa.
nifesta. servações, entrevistas, transcrição das entre- DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pes-
Por esta concepção, deverá o pesquisa- vistas, análise das entrevistas, leitura do ma- quisa jurídica: teoria e prática. Belo Horizonte: Del
dor analisar uma série de fatores econômicos, Rey, 2002. p. 100
terial bibliográfico, cruzamento de dados, re-
políticos e sociais e a partir destas 5 Sobre as diferenças da pesquisa jurídico teórica e
dação preliminar do texto, discussão do texto
constatações empíricas, estabelecer a solução da pesquisa empírica cf. WITKER, Jorge. Como
preliminar com o orientador, redação final do elaborar una tesis en derecho: pautas metodológicas
do problema pesquisado. texto, revisão e edição final. y técnicas para el estudiante o investigador del
Parte-se do "ser" para se alcançar o "de-
Derecho. s/l: Civitas, s/d. p. 85-120.
ver ser"; do "real" para o "ideal"; por isto, é
6 Os endereços eletrônicos destas bibliotecas po-
uma concepção realista de pesquisa jurídica.
A observação direta (espontânea ou
A bibliografia preliminar: dem ser obtidos em: www.tuliovianna.org
"... any viable education theory has to begin with a language that links schooling to democratic
public life, that defines teachers as engaged intellectuals and border crossers, and develops fonns of
pedagogy that incorporate difference, plurality, and the language of the everyday as central to the
production and legitimation of leaming.... Postmodem educational criticism offers the opportunity for a
discursive practice, works in the interest of mankind... aclawwledging difference as the basis for a public
philosophy that rejects totalizing theories that view the Other as a deficit, and providing the basis for
raising questions the dominant culturefinds too dangerous to raise." (ARANOWI17JGIROUX,Postmodem
Education- Politics, Culture & Social Criticism, University ofMinnesotaPress, Minea)xllis, 1993, p. 187 e 188).
lntJ:odução
• inquietude, a curiosidade, o interesse brir a solução de um caso ou um problema da
peio são características normais de quem vida, para reconstruir o respeito e a admiração
está a aprender, de quem está desenvolvendo e pelas descobertas e caminhos dos juristas que
acumulando conhecimentos, como os alunos nos antecederam, para conhecer e acompanhar
de Direito de qualquer Universidade brasileira. as novas descobertas e os novos caminhos dos
Penso ser possível direcionar e utilizar esta for- juristas de hoje, para desenvolver uma visão
ça de inquietude e de dúvida para a pesquisa própria da realidade, para admirar e descortinar
científica, para a beleza da descoberta e da ex- a lógica - racional ou sentimental- das atuais
plicação da realidade, para o prazer de construir soluções jurídicas para os velhos e novos con-
o pensamento, de desenvolver o raciocínio crí- flitos e problemas de nossa sociedade.
tico, dedutivo ou indutivo, o prazer de desco-
1
Trabalho apresentado no IX Encontro Nacional do CONPEDI -Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação
em Direito, PUC-RIO, no dia 19 de setembro (GTR4-Cooperação Interinstitucional e Programa Simon Bolívar)
e discutido no dia 20 de setembro (GTEl-Direito Internacional e Integração regional: os efeitos da globalização).
A autora gostaria de agradecer (e homenagear) ao Prof. Michael R. Will e ao Programa DAAD/CAPES pelo apoio
recebido durante meu aprendizado na Alemanha.
Réf;ista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 63
Pesquisar é pensar, refletir, ler, discutir, tas atuais com uma visão pós-moderna. 4 Quem dernos, 7 mister construir em atitude afirmati- relatar aqui um pouco a forma, o método, as
perguntar, criticar, descobrir, enfim, é buscar uma sabe, assim poderei contribuir um pouco para va,8 recusando-se a sermos nós, juristas-pes- dificuldades e os resultados deste trabalho de
visão, uma explicação, uma idéia, uma solução uma - a meu ver, ainda necessária - reconstru- quisadores, mais um instrumento de exclusão e pesquisa em grupo na Faculdade de Direito da
para as perguntas e problemas que nos movi- ção e redirecionamento de nossos próprios pre- de preconceito em relação aos nossos colegas, UFRGS. Este testemunho tem como finalidade
mentam e interessam; é construir, formar e or- conceitos em relação à pesquisa em Direito e à das Universidades e das Instituições da socie- não só abrir a metodologia que desenvolvi para
ganizar um pensamento (próprio ou não); é al- pesquisa realizada em nossas Faculdades de dade,9 pesquisadores em Direito (Parte I). A ensinar a pesquisar e que denominei
cançar um resultado que apazigúe ou que con- Direito. segunda parte será dedicada aos problemas e "Sprechstunde", mas principalmente, como
firme a inquietude inicial. dificuldades de se "ensinar a pesquisar em Di- se trata de um caminho misto, altamente in-
Neste sentido, gostaria de dividir minhas
fluenciado pelos métodos alemães e não-
Se pesquisar em Direito é algo tão sim- reflexões em duas partes. A primeira analisan- reito". Em nossa realidade acadêmica, a pesqui-
convencionais no Brasil, de ajudar a refle-
ples e hermenêutico, quase natural e intrínseco do a pesquisa em Direito na Universidade e as sa extraclasse de estudantes, a pesquisa de ini-
tir sobre a necessária abertura de espírito
a nossa ciência, porque é tratado como algo tão dificuldades de pesquisar hoje em Direito, cons- ciação científica, sem finalidade de nota ou para
em relação aos esforços dos colegas em ini-
complexo, egoístico e exclusivo de poucos? As cientes da crise da pós-modernidade. 5 A reali- trabalhos de conclusão, é ainda muito pouco ciação científica e em ensino da pesquisa.
explicações são muitas, de jogos de poder, 2 à dade é que, na Universidade e nas outras ciên- realizada no país. Como tive a sorte e o privilé- Talvez, assim, possamos refletir um pouco
influência do positivismo e do empirismo em cias, considera-se pouco a pesquisa realizada gio de ter sido pesquisadora-junior da Univer- sobre o norinal "egoísmo" dos professores-
nosso pensamento científico. 3 Parece-me útil, em Direito. Mister, pois, refletir o porquê deste sidade de Saarlandes, do Instituto Max-Planck, pesquisadores e do "fechamento" da
pois neste IX Encontro Nacional do CONPEDI preconceito contra a pesquisa jurídica, mister na Alemanha e do Instituto Suíço de Direito redoma da pesquisa. 10 Talvez, assim, pos-
-Conselho Nacional de Pesquisa em Direito, re- defender a pluralidade de métodos em pes- Comparado, e, como desde minha entrada na samos iniciar uma contratendência, de tra-
fletir sobre esta pergunta e, analisar as respos- quisa,6 especialmente em tempos pós-mo- Universidade Federal do Rio Grande do Sul,\h4 balho mais cooperativo, interdisciplinar, em
10 anos, tenho trabalhado em iniciação científi- grupo, respeitoso das diferenças e da
ca e pesquisa em grupo, penso poder contri- pluralidade atual, em uma espécie de
2
Assim TRINDADE, Hélgio, Universidade, Ciência e Poder, in Universidade em ruínas, 2ed., Ed. Vozes, 2000, buir à discussão com um testemunho. Quero "criticismo educacional pós-moderno" 11
p. 14 a 21.
3
Assim ensina SAMAJA, Juan, Apartes de la metodologia a la refexión epistemológica, in in La posciencia-El
conocimento cientifico en las postrimerías de la modernidad, Esther Díaz (Editora), Ed. Biblos, Buenos Aires,
2000, p. 151. 7
Defendo a idéia que a crise da pós-modernidade no Direito advém também da modificação dos bens economica-
4
Esta análise pós-moderna é uma homenagem ao mestre orientador de Doutorado, Prof. Dr. Dr.h.c. Erik Jayme, mente relevantes, que na idade média eram os bens imóveis, na idade moderna, o bem móvel material e que na idade
da Universidade de Heidelberg, que em seu brilhante curso de Haia lançou sua teoria dos reflexos da pós-modernidade atual seria o bem móvel imaterial ou o desmaterializado "fazer" dos serviços, do software, da comunicação, do
no direito. Veja JAYME, Erik, ldentité culturelle et intégration: Le droit internationale privé postmoderne - lazer, da segurança, da educação, da saúde, do crédito. Se só este bens imateriais e fazeres que são a riqueza atual,
in: Recueil des Cours de I' Académie de Droit International de la Haye, 1995, II, pg. 36 e seg. os contratos que autorizam e regulam a transferência destas "riquezas" na sociedade também têm de mudar, evoluir
5
Sobre os reflexos da atual pós-modernidade, na pesquisa e na ciência do Direito, veja meu artigo A crise cientifica do modelo de dar da compra e venda para modelos novos de serviços e dares complexos, adaptando-se a este
do Direito na pós-modernidade e seus reflexos na pesquisa, in Cidadania e Justiça-Revista da AMB, ano 3, n. 6 desafio desmaterializante "pós-moderno". Veja nosso livro, Contratos, p .. 89 e seg. Os sociólogos preferem
(1999), p. 237 e seg. (republicado na Revista Arquivos do Ministério da Justiça) e no livro de Anais da Conferên- estudar o fenômeno na mudança dos meios de produção: pré-industrial, industrial e pós-industrial ou
cia , Rumos da Pesquisa-Múltiplas Trajetórias , Organizadoras Maria da Graça KRIEGER e Marininha Aranha informacionalismo (informationalism), veja Castells analisando os ensinamentos de Tourraine, CASTELLS,
ROCHA, Porto Alegre: Pró-Reitoria de Pesquisa!Ed.UFRGS, 1998, p. 95 a 108. Manuel, The rise of the network society, vol. I, The lnformation age: economy, society and culture, Blackwell,
6
Inspiro-menestetrabalhonolivrodeARANOWI1ZeGIROUX(ARANOW11Z,StanleyeGIROUX,Henry A.,Postmodem Massachusetts, 199611999, p. 14 e seg.
Education - Culture & Social Criticism, University of Minnesota Press, Mineapolis, 1993) que demonstra como os 8
Segundo ROSENAU, Pauline Marie, Post-modernism and the social sciences, Princeton Uni v. Press, Princenton,
paradigmas pós-modernos, como o pluralismo e o fim das metanarrativas absolutas e universais para todas as ciências (como 1992, p. 117. Na classificação de ROSENAU, p. 53, seriam "skeptical" pós-modernos, para contraponto aos
por exemplo, o fim da tradicional metarrativa da necessidade do uso de métodos empíricos para uma pesquisa ser considerada "affirmative" pós-modernos (ROSENAU p. 57), estes últimos clamam por reconstrução e utilização de parte das
"científica''), pode e deve ser usada para discutir a crise na educação e os nossos métodos universitários atuais: "Regardless of metanarrativas da modernidade, como a posição defendida neste artigo.
whether critics see postmodemism as pastiche, parody, o r serious cultural criticism, the postmodem temperament arisesfrom 9
the exaustion of the still prevailing intellectual and artistic knowledge and the crisis of the institutions charged with their
Mister frisar que a pesquisa em Direito naao está restrita às Faculdades e Universidades, ao contrário, após minha
production and transmission - the schools. The "nihilism" of postmodem discourse does not signify ist rejection of ethics, experiência em Institutos de pesquisa na Alemanha e Suíça e no Brasilcon-Instituto Brasileiro de Política e Direito
politisc, and power, only its refosai to accept the givens ofpublic and private moraiity and the judgements arising from them do Consumidor, considero que no futuro a pesquisa, também no Brasil, se fará tanto nas universidades como nas
Of course, we go forther in this book and argue that criticai postmodemism provides a politicai and pedagogicai basis not organizações e Instituições do Terceiro Setor.
10
only for challenging current fonns ofacademic hegemony but aisofor deconstructing conservative fonns ofpostmodemism Defendi o pluralismo na pesquisa escrevi no trabalho "A crise", p. 95 e seg ..
in which sociallife merely made over to accommodate expanding fields of infonnation in which reaiity collapses into the 11
A expressão "Postrnodern educational criticism" é um tanto incongruente, pois a crítica é típica da modernidade,
proliferation of images. At its bests, a criticai postmodemism signals the possibility for not only rethinking the issue of mas esta expressão foi usada por ARANOVITZ/GIROUX, p. 188, para descrever sua teoria de reconstrução da
educational refonn but aiso creating a pedagogical discourse that deepens the most radical impulses and social practices educação, de forma democrática, plural e crítica em plena pós-modernidade: "Postmodem educational criticism
of democracy itse!f" (ARANOW11Z, Stanley e GIROUX, Henry A., Postmodem Education - Politics, Culture & Social points to need for constructing a criticai discourse to both constitute and reorder the ideological broader
Criticism, University of Minnesota Press, Mineapolis, 1993, p. 187). parameters of a radical democracy"
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
também em Direito. 12 compreensão da realidade e fundamentação do A) Dificuldades da pesqu&lemDireito e do diálogo de científica. Isto teve enorme repercussão na
conhecimento, um modo empírico: "El pensa- Universitário em tempos pós-modernos Filosofia, na Religião e no Direito. Inicialmente o
mento cientifico abandoná la incuestiona- Direito não mudou seus métodos de pesquisa, de
bilidad del dogma y la tradición que teíiiá el O termo "método", usado no contexto
I. A pesquisa em Direito na da pesquisa científica, tem um duplo significa-
procura, de investigação e de "descoberta" dos co-
pensamento medieval para opornele la nhecimentos, continuou utilizando o método
Universidade legitimidad y lafuerza de los hechos empíricos. do: a) pode evocar os procedimentos para ob-
hermenêutico (dogmático e dedutivo)24 típico des-
Como ensina Pádua, em "um sentido La razón vinculada con la experiencia permitió ter um conhecimento, para descobri-lo, para
de os estudos dos livros romanos na Idade Média, o
amplo, pesquisa é toda atividade voltada para el conocimiento de los fenómenos físicos y conhecê-lo, para investigá-lo e b) pode evocar
que resultou em uma grande crise de validação (ou
a solução de problemas, como atividade de natureales. La observación, la experimen- os procedimentos para "validar" ou ')ustificar"
de justificação) para a pesquisa em Direito, ajudan-
busca, indagação, investigação, inquirição da tación y la medición fueron las metodologías um conhecimento, uma assertiva, um resultado
do no triunfo do método positivista, único conside-
realidade, é a atividade que vai nos permitir, fundamentales que facilitaron esta fructífera que já se sabe. 18
rado "científico" àépoca. 25
no âmbito da ciência, elaborar um conheci- relación entre teorias y hechos. " 15 A dificuldade básica da pesquisa em
mento, ou um conjunto de conhecimentos, que Direito é seu método, apesar de ser polêmico
Os êxitos alcançado nas ciências
nos auxilie na compreensão desta realidade e também seu resultado. 19 Efetivamente, em Di-
nos oriente em nossas ações." 13
exatas permitiram aos pensadores do sécu- 1. O método hermenêutico e o
lo XVII transferir esta visão "científica" reito, é polêmico tanto o método de pesquisa
Durante os séculos XVI e XVII assenta- para as análises dos fenômenos sociais, (método de investigación )20 em si, quanto o menosprezo pela pesquisa em
ram-se as bases epistemológicas e forçando as ciências sociais e aplicadas, 16 método de validação da pesquisa jurídica (mé- Direito: a falta de validação ou
metodológicas do saber científico moderno, 14 como o Direito, para ter "validade" e alcan- todo dejustificaciôn). 21 A primeira crise foi,de
no qual Galileu Galilei, Isaac Newton e Johannes çar a "verdade", a utilizar estes métodos. 17 seu método de validação. Nos séculos XIX'e justificação dos métodos qualita-
Kepler são considerados precursores, e que Estava aberta a crise do método de pesqui- XX, o Wienerkreis, o Círculo de Viena com tivos
resultou na constituição de um modo novo de sa em Direito. Carnap22 e o fundador da sociologia empírica e
do método positivista, Auguste Comte, 23 aca- Por muito tempo, os pensadores menos-
baram por defender, contra toda metafísica e prezaram a importância e mesmo a possibilida-
especulação, que somente o que se podia expli- de de se pesquisar em Direito. 26 Sem querem
12
Para alguns, esta é uma tarefa muito difícil, que exige uma volta ao pensamento epitesmologico. Assim o mestre argentino, car positivamente e empiricamente teria valida- repetir esta discussão estéril (e hoje felizmente
Carlos Alberto Ghersi (GHERSI, Carlos Alberto, Tercera Vw-ÂnúJito Jurídico, Ed. Gowa, 2000), considera que a pós-
modernidade construiu um perigoso subjetivismo jurídico e uma metodologia abstrata de ensino, que abstrai da realidade e
discursa sobre o direito posto como se fosse real, mesmo que não seja efetivo (p.30), que exalta o individualismo e vê o direito
como um fim em si mesmo (p. 44), a destruir a própria validade e função social do Direito (p. 45). Prega o autor uma 18
Assim ensina SAMAJA, Juan, Apartes de la metodologia a la refexión epistemológica, in in La posciencia-El conocimento
contratendência (p. 33), que "el derecho debe ensefíarse como fenómeno social complejo" e com recurso às outras ciências, cient(fico en las postrimerías de la modernidad, Esther Díaz (Editora), Ed. Biblos, Buenos Aires, 2000, p. 151.
pois "definir la frontera de una ciencia, es limitar la investigación, es no permitir la consubstanciación o entrecruzamento de 19
Os hoje denominados produtos da pesquisa em Direito são incialmente os mesmos das outras ciências: livros,
los saberes, lo social es un todo inescindible, pues apunta a la humanidad en comunidade, parcializada en Estados o globalizada artigos, estudos, relatórios, palestras, conferências etc. Mas também os resultam indiretamente da pesquisa em
en un solo mundo"(p. 33 e 34) e conclui: ''Pensamos que a partir de involucrar el derecho con los saberes que están en lo social,
Direito o próprio "objeto" ou Direito, uma lei, um Tratado, uma doutrina nova, um parecer opinativo ou
mostramos aspectos de las normas que las sumergen en un mundo de contradicciones y de causalismos; la contextuación
consultivo, um trabalho forense, uma decisão de líder. Estes são normalmente desconsiderados como produtos da
enfrenta así a la abstracción individualista, es la ciência, pois fáticos-jurídicos.
13
Assim define pesquisa, PÁDUA, Elisabeth Matallo Marchesini de, Metodologia da pesquisa- Abordagem 20
Segundo ensina GIANELLA, p. 78: "[Los métodos de investigación]... están dirigidos al incremento dei conocimiento, a
teórico-prática, Ed. Papirus, 2.ed, Campinas, 1997, p. 29. conocer neuvos hechos, propriedades, relaciones y regularidades." (GIANELLA, Alicia E., Introduccion a la epistemologia
14
Assim ensina Trindade, op. cit., p. 14. y la metodologia de la ciencia, Ed. da la Universidad Nacional de la Plata, La Plata, 1995, p.78).
21
15 Segundo ensina GIANELLA, op. cit., p. 78: "[Los métodos de validación o justificación} tiene por función
LUQUE, Susana de, El objeto de estudio en las ciencias sociales, in La posciencia-El conocimento científico en
ejercer una espécie de "contrai de calidad" de los conocimientos, evaluar las hipótesis y teorías desde los
las postrimerías de la modernidad, Esther Díaz (Editora), Ed. Biblos, Buenos Aires, 2000, p. 223. corriente de
fundamentos que ofrecen."
reacción o su contratendencia."(p. 37). 22
16
Assim ensina SAMAJA, op. cit., p. 152.
Sobre o tema das especificidades das áreas das ciências e a cada vez maior distinção entre "ciência básica" e "ciência 23
Assim ensina LUQUE, op. cit., p. 228.
aplicada'', veja síntese do congresso,REGNER, Anna Carolina K. P. , O fazer científico: as especificidades das áreas e uma 24
Assim as palavras clássicas de Reinhold Zippelius: "Der Gegenstand bestimmt die Methode", ZIPPELIUS,
nova agenda para a ciência, in Rumos da Pesquisa-Múltiplas Trajetórias , Organizadoras Maria da Graça KRIEGER e Reinhold, Juristische Methodenlehre, 5. Aufl., Beck, München, 1990, p. 1.
Marininha Aranha ROCHA, Porto Alegre: Pró-Reitoria de Pesquisa/Ecl.UFRGS, 1998, p. 273. 25
PÁDUA, op. cit., p. 31.
17 26
Assim LU QUE, Laposciencia, p. 223: "Los éxitos alcanzados en el ámbito de las cienciasfísicas impulsionaron Veja sobre o tema as reflexões de ZITSCHER, Harriet Christiane, Como pesquisar?, in Revista da Faculdade de
a los pensadores dei siglo XVII a trasladar la mirada científica hacia dos fenómenos sociales ... [las ciencias Direito da UFRGS, vol. 17(1999), p. 103 e seg., que distingue entre pesquisa conceitualldogmática e pesquisa
sociales] sólo alcanzarían la verdad en la emedidad en que siguieran el modelo de la físico-matemática ..." empírica, também no Direito.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
quase superada), 27 gostaria apenas de desta- Relembre-se, porém, que na Idade Mé- xa realidade social pudesse ser compreendida e rei to passaram a valorar e a elaborar seu pensa-
car que esta visão é típica da mono-metodologia dia, o método científico era exclusivamente captada apenas pelos métodos empírico e de mento científico de forma distinta das demais
da idade moderna e não mais condiz com o hermenêutico. Quando surgiram as primeiras pesquisas quantitativas. ciências sociais, 34 em uma independência de
pluralismo de métodos28 da idade atual ou pós- Universidades, a hermenêutica é a ciência por "descompreensão" e falta de diálogo. A pes-
moderna.29 Em nossas Universidades ainda hoje
excelência, ciência da compreensão e da inter- quisa era individual, por interesse próprio dos
encontramos alguns que pensam que o caráter
pretação dos textos , das escrituras e das leis. docentes 35 ou comercial das editoras, 36 sem
Como ensina Pádua: "Até meados do científico (da pesquisa) depende do uso de
As três primeiras Faculdades organizadas fo- chegar aos alunos e muito menos aos colegas
século XX, considerou-se como cientifico o métodos empíricos. Criticam os juristas e seus
ram justamente de Teologia (Filosofia), Direito de outras áreas. 37
conhecimento produzido a partir das bases métodos, criticam sua falta de dedicação à pes-
e MedicinaY
estabelecidas pelo método positivista, apoia- quisa, à Universidade, sua baixa produção "ci- A avaliação da produção científica
do na experimentação, mensuração e contro- O Direito, Teologia e Filosofia constro- entífica" , sua preocupação com a prática, sua oriunda das Faculdades, porém, veio da Uni-
le rigoroso dos dados (fatos), tanto nas ciên- em seus conhecimentos, sua ciência, seu saber falta de profissionalismo. 33 Mal ou bem este versidade, utilizando seus métodos, seus crité-
cias naturais como nas ciências humanas. As- de forma hermenêutica. É historicamente, pois, menosprezo estrutural pelo método rios, seu empirismo, suas perguntas ao traba-
sociou-se a idéia de cientificidade à pesquisa recente considerar-se científico apenas o méto- hermenêutico usado no Direito contribuiu para lho realizado pelos juristas, poucas vezes foi
experimental e quantitativa, cuja objetivida- do empírico, da reação de Galilei até a formula- o isolamento (e fechamento) do pensamento, este classificado de científico. Chegamos ao
de seria garantida pelos instrumentos e técni- ção do empirismo por Locke e outros. Como do discurso e das atividades científicas dos ju- ponto de documentos oriundos da universida-
cas de mensuração e pela neutralidade do pró- vimos anteriormente, é somente nos séculos ristas nas Universidades. Se nos séculos XVIII de considerarem que não havia "pesquisa ci-
prio pesquisador frente à investigação da re- XIX e XX que chegarão os pensadores a consi- e XIX, o Direito era ciência de destaque e os entífica" nas Faculdades de Direito, apesar da
alidade. Com o desenvolvimento das investi- derar o método empírico, mais afeito às ciências juristas consistiam na elite pensante daqti'elas representativa produção intelectual, especial-
gações nas ciências humanas, as chamadas exatas e ciências outras do que ao Direito, como sociedades, no século XX, a partir. da década mente livros de grande repercussão lá realiza-
pesquisas qualitativas procuraram consolidar o único científico, em uma visão perfeccionista de 60, com a reforma das universidades e com dos. 38 Importantes eram estátisticas de "impac-
procedimentos que pudessem superar os limi- típica das crenças universais e absolutas da um novo "cientifismo-neutro" imposto as Fa- to", a repercussão abstrata dos veículos utili-
tes das análises meramente quantitativas. A idade modema. 32 O método hermenêutico e tra- culdades de Direito, esta posição científica de zados para publicação nacional e internacional
partir de pressupostos estabelecidos pelo mé- dicional do Direito causa espécie, é considera- destaque, modificou-se, isolando ainda mais e não as citações ou a repercussão, prática que
todo dialético, e também apoiadas em bases do problemático, não científico ou não-válido. nossos predecessores. As Faculdades de Di- nossos mestres conseguiram nos Tribunais, na
fenomenológicas, pode-se dizer que as pesqui- É preciso fugir deste método, separar-se, é pre-
sas qualitativas têm se preocupado com o sig- ciso medir, comparar, preparar estudos empíricos
nificado dos fenômenos e processos sociais, e quantitativos sobre a realidade, para que a 33
Efetivamente, TRINDADE, p. 12 comprova que o "profissionalismo" na universidade está intimamente ligado
levando em consideração as motivações, cren- pesquisa em Direito seja científica. à pesquisa e à dedicação acadêmica, desde o século XVIII: "Com a criação das academias cientificas, intensifica-
ças, valores, representações sociais, que Passa-se a menosprezar a forma de pro- se a profissionalização das ciências,fato que vai permitir sua inserção nas universidades através da pesquisa. Até
permeiam a rede de relações sociais. Como dução do conhecimento jurídico até então exis- o século XVII, o cientista não tem um papel especializado na sociedade, mas a partir daí desencadeia-se uma
estes aspectos não são passíveis de mesuração mudança profunda no sistema de valores e normas universitárias, reconhecendo-se, não sem conflitos, a
tente, menosprezam-se os juristas e legitimidade de uma atividade relacionada com as ciências em geral" (p. 12)
e controle, nos moldes da ciência dominante, doutrinadores desta época, como não-científi- 34
Assim OLIVEIRA, Luciano e ADEODATO, João Maurício, O Estado da Arte da pesquisa jurídica e sócio-
sua cientificidade tem sido freqüentemente cos. Força-se o Direito a mudar, a usar métodos jurídica no Brasil, Ed. CJF/CEJ, Brasília, 1996, p. Il: "Há um notório descompasso entre a pesquisa jurídica e
questionada." 30 outros e com exclusividade, como se a comple- o estágio atual" nas outras ciências.
35
Bastante críticos, OLIVEIRA/ADEODATO, p. I2, usam a expressão " quase diletante" para descrever a
pesquisa das Faculdades de Direito desta época.
27 36
Assim, bastante pós-moderna, REGNER, op. cit., p. 274. Não se pode desconhece o fato do mercado editorial de livros jurídicos estar muito ligado aos nomes da
28
Sobre pluralismo de métodos, como reflexo nessário dos tempos atuais, veja JAYME, Curso, p. 36 e seg. academia. Veja no Brasil, a tradição em publicações dos professores, por exemplo, da Faculdade Largo de São
29
Veja uma bela defesa do pluralismo, in SILVA, Tomaz Tadeu, A produção social da identidade e da diferença, in Francisco da USP.
37
Identidade e Diferença, Coord. SILVA, Tomaz Tadeu, Ed. Vozes, São Paulo, 2000, p. 73. Veja também excepci- OLIVEIRA/ADEODATO, p. 11, comprovam que a pesquisa jurídica está quase toda concentrada nas Univer-
onal sobre pluralismo no Direito. FRIEDMAN. Lawrence, The Republic ofChoice, Cambridge, Harvard University sidades Públicas, mas que o "debate sobre a pesquisa e o ensino jurídico no Brasil remonta a San Thiago Dantas e
Press, I994, p. II e seg. Como explica Vattimo em sua introdução, "O pós de pós-moderno indica, com efeito, Rui Barbosa" (p. 9).
38
uma despedida da modernidade ...", veja VATTIMO, Gianni, O fim da modernidade- niilismo e hermenêutica Surpreende o número de publicações dos professores da Faculdade de Direito de 1904 a 1975, levantadas no livro
na cultura pós-moderna, São Paulo, Martins Fontes, 1996, p. VII. de nosso falecido professor SANTOS, João Pedro, A Faculdade de Direito de Porto Alegre- Subsídios para sua
30
PÁDUA, op.cit., p. 31. História, Ed. Síntese, Porto Alegre, p. 189 a 277 e p. 341 a 370.
31 de Kuhn e a evolução da epistemologia, veja em português, BOMBASSARO, Luiz Carlos, Ciência e Mudança
Veja sobre a universidade medieval, TRINDADE, op. cit., p. 12.
32
PÁDUA, op. cit., p. 31. conceituai- Notas sobre Epitesmologia e História da Ciência, Edipucrs, Porto Alegre, 1995, p. 61 e seg.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
sociedade, nas leis que ajudaram a realizar, nas dedicação de nossos predecessores foi pouca lise jurisprudencial45 e a pesquisa de campo, 2. Crise da pós-modernidade:
Constituições e na jurisprudência em gerai.3 9 à Universidade e à pesquisa então considerada em suas mais variadas formas. 46 Geralmente,
Chegamos a ponto de considerar não-cientis- científica, também foi grande a falta de compre- hoje optamos por uma combinação de método "desconstrução" do Direito e
tas, os grandes autores e doutrinadores do Di- ensão quanto as especificidades de nossa ci- de investigação. Com a consolidação da pós- novo acirramento metodológico
reito do início deste século. 40 ência e métodos tradicionais. graduação no país, a produção científica no
Direito aumentou fortemente, 47 assim como o Efeti vamente, veio a crise da pós-
A incorreção desta lógica de exclusão Bem, hoje, nós juristas, superamos os
profissionalismo do professor-pesquisador. O que modernidade,50 as incertezas e o caos atingi-
da produção jurídica da Universidade repousa preconceitos, o sentimento de vergonha de
parecia um avanço calmo e certo, porém, sofre com a ram todas as ciências. 51 Por ironia do destino,
principalmente em sua visão metodológica re- nosso próprio método, repensamos nosso pa-
perda de modelo com a crise social da pós- foi justamente a ciência do Direito uma das que
duzida. Um exemplo pode esclarecer: os médi- pel na Universidade, envidamos esforços pelo
mcx:lemidade.48 É necessário continuar a construir.49 mais se descontruiu com a crise da pós-
cos, geralmente, também dedicam pouco tempo pluralismo de pensamento e multiplicação da
à Universidade, praticam e realizam suas técni- pesquisa jurídica, aceitamos e utilizamos mui-
cas na sociedade, modificam a realidade e apli- tos métodos e discursamos sobre a pesquisa
cam sua ciência em prol da coletividade. Nunca quase de iguais para iguais com as outras ciên- 45Bom exemplo é a pesquisa quantitativa e qualitativa de jurisprudência gaúcha sobre seguro-saúde e o CDC,
ninguém, porém, acusaria estes brilhantes pro- realizada pelo Grupo de Pesquisa CNPq "Mercosul e Direito do Consumidor", coord. Claudia Lima Marques e
cia sociais. 41 O pluralismo de métodos, de abor-
fessores e práticos da medicina de não-científi- Harriet C. Zitscher, conjuntamente com estudantes, cujo Relatório foi publicado na Revista Direito do Consumi-
dagens, de procedimentos na pesquisa jurídica dor (São Paulo), vol. 29, jan/mar 1999, p. 88 a 105.
cos. E porque não? Simplesmente por que a
é uma realidade. 42 As pesquisas qualitativas 46Bom exemplo de pesquisa de campo é fornecido por RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio, Manual da Monografia
Medicina, ao contrário do Direito e da Teolo-
de hoje não usam apenas o método Jurídica, 2. ed., Ed. Saraiva, São Paulo, 1999, p. 22",
gia, sempre utilizou o método empírico. Fácil
hermenêutico, o comparatista e o histórico, mas 47 Veja sobre o tema, trazendo lista das monografias publicadas no país de 1980 a 1995, LEITE, Eduardo de
acusar um hermenêuta de "a-científico", dificí-
há também a análise jurisprudencial qualitativa Oliveira, A monografiajurídica, Ed. Revista dos Tribunais, 3. ed., 1997, p. 288 e seg.
limo acusar um médico, que usa quase que ex-
ou discursiva, o estudo das diferenças no Di- 48 Assim MINDA, Garry, Postmodern Legal Movements- Law and Jurisprudence at Century's end, New York
clusivamente os métodos empíricos, de não ci-
entífico. Observem, pois, como cala fundo este reito Comparado Pós-moderno, 43 sem falar no University Press, New York, 1995, p. 247 e, conclusão, p. 249: "Academic trends in legal scholarship do not
occur in a vaccum, nor are law schools and legal scholars autonomous. To understand what has been going on
preconceito, pré-concebido mito de uma só crescente uso das pesquisas quantitativas no
in contemporary legal theory, one must look to what has been going on at the university... an intellectual and
metodologia científica para a pesquisa. Se a Direito, como o estudo de casos, 44 como a aná- cultural revolution is now under way at American Universities ... The crisis of representation, known as
postmodernism, has reached the legal academy and it is represented by a new form ofpostmodernjurisprudence"
Veja como ZIMA, Peter, Moderne!Postmoderne, UTB, Francke, Tübingen, 1997, p. 61, identifica nos movimen-
tos neo-liberais conservadores e economicistas (de direita) um dos braços da pós-modernidade. Assim também
39Como ensina LOPES José Reinaldo de Lima, Direito e Tramformação Social, Belo Horizonte, Ed. Nova MINDA, p. 83, identifica o movimento conservador de "direita" da análise econômica do Direito como pós-
1997, p. 77 tanto o Direito faz parte da cultura quanto possui sua própria cultura e reflexos típicos na moderno.
sociedade: " ... o sistema jurídico é constituído de uma "cultura". São as atitudes que fazem do sistema um todo 49 Assim também, para todas as ciências sociais, conclui REGNER, p. 276.
uma unidade e que determinam o lugar dos aparelhos e das normas na sociedade globalmente considerada. A 50Assim manifestou-se ROSENAU, 1992, p. 124: "Legal theory is an arena where post-modern views of
cultura jurídica engloba tanto as atitudes hábitos e treinamento dos profissionais quanto do cidadão comum."
epistemology and method have created one of the most serious intellectual crises, questioning the very legitimacy
Tal linha de pensamento possui tradição no Brasil através da escola de Recife e a influência do ,culturalismo
of judicial systems and the integrity of legal studies."
jurídico" de Tobias Barreto sobre o tema veja o nosso Artigo Cem anos de BGB e o Código Civil Brasileiro, in:
51 Como antes escrevi, A crise, p. 99: "A realidade denominada pós-moderna (LYOTARD, 1994, p. 13) é a
Revista dos Tribunaus vol. 741. p. 21 e seg.
40Sobre a intolerância científica como forma de manutenção de paradigmas, veja KUHN, Thomas, Die Struktur realidade da pós-industrialização, do pós-fordismo, da tópica, do ceticismo quanto às ciências, quanto ao positivismo
wissenschaftlicher Revolutionen, Suhrkamp, Frankfurt, 1996, p. 38 e seg., sobre o neo-radicalismo, como respos- (HABERMAS, 1992, p. 35); época do caos, da multiciplicidade de culturas e formas, do Direito à diferença, da
ta à intolerância frente ao pluralismo pós-moderno e à nascente neo-ortodoxia, veja GELLNER, Ernest, Pós- ,euforia do individualismo e do mercado",(GHERSI, p. 27) da globalização e da volta ao tribal. É a realidade da
modernismo, Razão e Religião, Instituto Piaget, Lisboa, 1992, p. 70 e seg. O autor denomina esta última vertente substituição do Estado pelas empresas particulares, de privatizações, do neo-liberalismo, de terceirizações, de
neo-ortodoxa de "ultra-subjetivismo" como forma de responder ao antigo ultra-cientismo moderno.Sobre a obra comunicação irrestrita, de informatização e de um neo-conservadorismo. Realidade de acumulação de bens não
de e a evolução da epistemologia, veja em português, BOMBASSARO, Luiz Carlos, Ciência e Mudança materiais, de desemprego massivo (GHERSI, 1994, p. 13), de ceticismo sobre o geral, de um individualismo
concettual- Notas sobre Epitesmologia e História da Ciência, Edipucrs, Porto Alegre, 1995, p. 61 e seg. necessário, da coexistência de muitas meta-narrativas simultâneas e contraditórias, da perda dos valores moder-
41 VejaZitscher, Como pesquisar?, p. 104 a 107. nos, esculpidos pela revolução burguesa e substituídos por uma ética meramente discursiva e argumentativa, de
42 legitimação pela linguagem, pelo consenso momentâneo e não mais pela lógica, pela razão ou somente pelos
Veja bom exemplo deste pluralismo no recente livro de VENTURA, Deisi, Monografia Jurídica- uma visão
valores que apresenta (KAUFMANN, 1994, p. 224 ). É uma época de vazio, de individualismo nas soluções
prática, Ed. Livraria dos Advogados, Porto Alegre, 2000, p. 76 a 78.
43 Veja sobre o tema JAYME, Erik, Visões para uma teoria pós-moderna do Direito Comparado, in Revista dos (LIPOVETSKY, 1996, p. 7) e de insegurança jurídica, onde as antinomias são inevitáveis e a de-regulamentação
do sistema convive com um pluralismo de fontes legislativas e uma forte internacionalidade (JAYME, 1995, p. 36)
Tribunais nr. 759, janeiro 1999, p.24 a 40.
44 das relações. É a condição pós-moderna que, com a pós-industrialização e a globalização das economias, já atinge
Veja sobre o tema ARAÚJO, Nádia, Formação do jurista pesquisador: Pressupostos e requisitos. Técnicas de pesquisa e ensino
a América Latina e tem reflexos importantes na ciência do Direito. É a crise do Estado do Bem-Estar Social."
na pós-graduação, in Revista Direito, Estado e Sociedade, nr. 14, janJjulho. 1999, PUCIRJ, p. 23 a 37.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
modernidade, mas uma das últimas a se dar conta quisa renovada, ao mesmo tempo cientifica e dos sentimentos, do discurso, à literatura ou à subjective judgment, imagination, as well as
sobre os efeitos desta crise em sua ciência, tal- jurídica, plural e tolerante, como se está ten- economia. 55 Rejeitada a verdade jurídica, aber- diverse forms of creativity and play. "
vez por seu isolamento ainda existente. Como tando fazer na Faculdade de Direito da to o sistema do Direito, deslegitimado o Direi- ... Como ensina Rosenau 59 , esta frag-
ensina Rosenau, conhecer o fenômeno da pós- UFRGS, 53 apesar das dificuldades. Pesquisa to e suas instituições, cria-se assim um vazio mentação e desconstrução não pode ser acei-
modernidade e seus efeitos nas ciências soci- renovada esta que, consciente da crise pós- cientifico e uma desconfortante igualdade ci- ta totalmente, uma reação deve existir. Em
ais é o melhor caminho para superar seu efeito moderna, possa responder à crescente dispu- entifica dos discursos, todos iguais56 uma vez outras palavras, para evitar o atual vazio do
destruidor: "Postmodemism haunts social science ta vazia de formas, métodos e linhas de pensa- que todos sem base e subjetivados ou estudo do discurso é necessário um reviva[ do
today. ln a nwnber of respects, some plausible and mento, que ameaçam hoje devastar as nossas flexibilizados 57 há uma grande dificuldade sério estudo da filosofia do Direito. Para com-
some preposterous, post-modem approaches dis- F acuidades, reduzindo-as em um misto de ra- para os estudantes e professores identificarem bater o vazio das formas metodológicas, é ne-
pute the underlying assumptions of mainstream dicalismo, intolerância e passividade cientifi- e avaliarem a qualidade das pesquisas e suas cessário revisitar a especificidade do conhe-
social science and ist research product over the ca no final de século. Pesquisa esta que de- contribuições à sociedade e ao Direito. cimento jurídico, 60 aceitar as bases do Direito
la.st three decades. The challenges post-modemism monstre que a ciência do Direito ainda possui Esta crise da pós-modernidade é, em como procura do justo e valorizar mesmo seus
poses seem endless. lt rejects epistemological um valor em si mesmo, que o Direito ainda verdade, uma mudança na maneira de pensar métodos tradicionais e específicos. 61 Para
assumptions, refites methodological conventions, pode e deve dar respostas aos problemas do o Direito a resultar um certo apatismo e combater a guerrilha metodológica, é neces-
resists knowledge claims, obscures all versions of homem em sociedade e não só pesquisar sobre imobilismo em relação às novidades por parte sário defender o pluralismo de pesquisas e a
truth, and dismisse policy recommendations. lf so- seu método, sua ideologia, seu discurso, seus da maioria, combinado com um certo radica- tolerância cientifica, única forma de evitar que
cial scientits are to meet this challenge and take afores, suas relações de poder, isto é, que a lismo por parte de minorias, face aos novos os radicais "antimodernos" acabem excluin-
advantage of what post-modemism has to offer ciência do Direito ainda está legitimada a desafios da sociedade pós-moderna. É uma do vários cientistas que poderiam dar alguma
witlwut becoming casualities ofit excesses, then an procurar o justo e o eqüitativo, apesar da sua desconcertante crise de ideais e de valores, contribuição à criação de um Direito adapta-
adequate understanding of the challenge is atual e profunda crise de fundamentos. entre pluralismo e radicalismo de verdades, do ao novo milênio. Em outras palavras, há
essential."52 que tem grande influência no Direito e na pes- que se superar a visão que o Direito em si, sua
... Neste sentido, como Rosenau, mister
Sobre o tema já escrevi de forma crítica e alertar que ao quebrar sua legitimidade como quisa deste final de século. Como ensina metodologia e seu discurso ou a economia se-
ati vista que: "Se o desafio do passado era ver ciência de conduta, a crise pós-modernidade Rosenau, 58 o vazio e a insegurança nas ciên- ria o único objeto de pesquisa válido. Há que
a pesquisa em Direito reconhecida como tal levou a uma desconstrução dos fundamentos cias sociais são grandes: " Post-modernists se defender a pesquisa em Direito como con-
na Universidade, o desafio do presente é supe- do Direito tão profunda que nenhuma teoria reduce social science knowledge to the status tribuição à ciência do Direito, contribuição à
rar a crise da pós-modernidade, de forma a ou linha de pensamento mais seria absoluta- of stories .. Post-modern methodology is post- procura do justo e da solução dos problemas
reconstruir uma razão para a pesquisa jurídi- mente válida e a pesquisa teria ficado "sem positivist or anti-positivist. As substitutes for individuais e sociais atuais, não importando
ca e viabilizar um avançar do Direito no objeto ". 54 O foco o ponto de concentração se- the 'scientific method', the affirmatives (post- a sua linha de pensamento, se alternativa
futuro.A reação necessária é, pois, de uma pes- ria qualquer outro objeto que não o Direito, modernists) look to feelings, personal desdogmatizante, se tradicional ou se conser-
experience, empathy, emotion, intuition, vadora neo-liberal." 62
52
ROSENAU, p. 3.
Veja ROSENAU,l992, p.50 a 52: "Post-modernists in almost
55 field ofthe social sciences
53
Destaque-se que no livro da Pesquisa UFRGS de 1988 a 1992, a Faculdade de Direito aparece com 41 professores, have been experimenting with a subjectless approach in their inquiries... Rejecting the subject
autores de livros e artigos, no Brasil e exterior, denotando que mais da metade dos professores 80 professores da permits them to the focus of the inquiry elsewhere... "
instituição e 70% dos professores ativos de sala de aula fazem pesquisa e submetem-se à crítica através de
56
publicações. No livro da Pesquisa UFRGS de 1993 a 1994, este número aumenta para 51 professores-autores da ROSENAU,1992,p.77 ep. 89.
Faculdade de Direito e no livro da Pesquisa UFRGS de 1995-1996 chega a um total de 54 autores, denotando que FACHIN, Luiz Edson e CARNEIRO, Maria Francisca, A5pectos da avaliação institucional dos programas de
57
67% dos professores oficialmente ligados à instituição e quase 90% dos 62 professores ati vos de sala de aula fazem pós-graduação em Direito: instrumentos e concepções, in Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 35, nr.
pesquisa individual e publicam. Desde 1988, já chegam a seis os grupos de pesquisa oficialmente reconhecidos pelo 137, jan/mar 1998, p. 205.
CNPq. Dois são os nossos pesquisadores A 1, contamos com um Mestrado cientificamente muito ati vo, assim 58
ROSENAU,1992, p. 91 e p.117.
como multiplicam-se os trabalhos de iniciação científica de acadêmicos orientados por professores de nossa casa;
59
de 3 trabalhos no I Salão para os 32 trabalhos inscritos em 1998, assim como dois prêmios Jovem Pesquisador e ROSENAU, 1992, p. 124.
6
vários destaques e menções honrosas nesses dez anos de Salão. Este aumento quantitativo é acompanhado por uma °FACHIN/CARNEIRO, p. 205.
crescente preocupação com a formação acadêmica dos professores, Doutores e Mestres, sensibilizados todos para 61
LARENZ, Karl, Methodenlehre der Rechtswissenschaft, 6.Aufl., Springer, Berlin, 1991,p. 6.
a pesquisa científica. 62
54
Assim ROSENAU, 1992, p. 50. Extratos de nosso artigo, "A Crise, p. 96 a 101.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
Parece-me, efetivamente, se vamos ser Will, professor da Universidade de Saarbrücken, com a exatidão e exaustão das fontes. Esta pri-
pós-modernos, sejamos pelo menos conscien-
1. Compilando influências ale-
durante os seus seis meses de estadia em Porto meira pesquisa com casos foi uma experiência
tes de nosso papel na evolução da ciência do Alegre. Estas duas experiências confirmaram mãs e brasileiras para formar ímpar, que muito me ajudou no futuro, especial-
Direito, sejamos ao menos pós-modernos afir- minha vocação para ser professora e para con- mente na escolha de meus temas de Mestrado e
mativos.63 É o momento do reviva! pós-moder-
a "Sprechstunde"
tinuar na pesquisa. A convite do Professor Will Doutorado. Nada melhor para descortinar as
no, plural e tolerannte, dos Direitos humanos fui para a Alemanha, realizei um Mestrado e uma A monitoria é uma boa experiência para perguntas importantes, do que saber o que
refletir-se na própria academia e na liberdade especialização e ainda tive a sorte e honra de quem quer ser professor, mas a pesquisa é uma acontece na prática e quais as falhas o nosso
científica de cada um, como forma de constru- ter sido sua pesquisadora-assistente por seis boa experiência para qualquer futuro profissio- sistema legal ainda possui. Esta pesquisa aju-
ção de uma teoria não-discriminatória e efetiva meses na Universidade de Saarlandes, assim nal do Direito. A pesquisa é um elemento dou-me muito também quando dos trabalhos
de harmonia social, teoria de inclusão científica como pesquisadora contratada por 3 meses no diferenciador, tão ou mais importante hoje, quan- de elaboração e crítica do Estatuto da Criança e
para o Direito no novo século. Repito: O desa- Instituto Max-Planck, de Freiburg im Breisgau, do tantos estudam Direito e apenas passam nas do Adolescente, quando trabalhava na
fio neste início de século não é mais a simples trabalhando com o Professor Hühnerfeld, além Faculdades, como números à procura de um Consultaria Jurídica do Ministério da Justiça.
inclusão da pesquisa jurídica nas ciências soci- de ser colaboradora científica por três meses diploma autorizador do exercício de uma profis- Por ironia do destino, justamente a evolução e
ais, mas o seu desenvolvimento como efetiva no Instituto Suíço de Direito Comparado, em são. Saber pesquisar é um instrumento de cria- a mudança da lei brasileira de 1990 acabou por
contribuição à sociedade64 e à Justiça , não ao Lausanne, trabalhando com o Professor Alfred ção de competência em Direito, é um caminho deixar inédito o trabalho resultado destapes-
cientificismo e à burocracia. von Overbeck. Ao retornar para o Brasil, que- para a excelência e a especialização cada vez quisa. De outro lado, esta pesquisa quantitati-
ria compartilhar estes ensinamentos. Procurei mais procuradas no mercado, é uma base a mais va e qualitativa ajudou-me decivamente a abrir
basear-me nos modelos europeus que obser- para a formação própria, a suprir falhas eventu,.., meus horizontes também para a
II - Ensinando a pesquisar: O vei, adaptando-os à nossa realidade e necessi- ais nos curricula das Faculdades ou os limites interdiciplinariedade, pois tive a oportunidade
dade. dos nossos próprios mestres e de nossas bibli- de trabalhar durante um ano com as assistentes
Grupo de Pesquisa CNPq otecas. Saber pesquisar é uma maneira para sociais e psicológas do então Juizado de Me-
A solidão da pesquisa, da elaboração
"Mercosul e Direito do Con- dos trabalhos é inevitável. Aprendi, porém, que
enfrentar qualquer desafio novo em Direito e a nores.66
vida dos profissionais é uma constante reno-
sumidor" e o desenvolvimen- é possível crescer em conjunto, observando e
vação destes desafios.
Já na Alemanha, fui contratada como
compartilhando os trabalhos prévios de elabo- pesquisadora-junior no Instituto Max-Planck de
to da metodologia de ensino da ração das produções científicas com os gran- Particularmente, considero que a pesqui- Freiburgjunto ao Prof. Dr. Peter Hühnerfeld. O
pesquisa ''Sprechstunde'' des mestres. Observei que de um talentoso sa foi meu caminho de destaque e de excelên- Instituto, que consiste em uma maravilhosa Bi-
"aprendiz" de pesquisa se pode fazer um bri- cia. Quando o professor Michael Will me con- blioteca, realiza estudos para o governo alemão
lhante sucessor, e que vários aprendizes moti- vidou para com ele levantar e pesquisar todos e pude participar de dois destes trabalhos de
A. Metodologia de pesquisa em grupo vados mantém e renovam importantes escolas os casos de adoção internacional em Porto Ale- pesquisa, transformados mais tardes em livros,
"Sprechstunde" do pensamento. Efetivamente, eu própria apren- gre nos últimos 5 anos, poderia ter dito "não", um sobre o aborto e a condição da mulher no
di muito com a precisão, rigorismo e sincerida- mas aceitei e isto me descortinou o mundo do Brasil e outro sobre a proteção do meio ambien-
Desenvolvi uma metodologia para ensi- de intelectual destes grandes professores-pes- Direito. Não há pesquisa em Direito Internacio- te no Brasil. Aprendi que o simples levanta-
nar a pesquisar e parar pesquisar em grupo, quisadores e fundar um grupo de pesquisa foi a nal, porém, sem conhecimento de línguas es- mento bibliográfico e fichamento das obras já é
compilando influências alemãs e brasileiras, o maneira que encontrei para multiplicar estes trangeiras e neste caso, fui escolhida inicial- um momento de grande crescimento para o alu-
resultado final é mais uma experiência do que ensinamentos. Desde minha entrada na Uni- mente por esta aptidão. 65 Então no quarto ano no. Aprender a resumir, a criticar as obras por
um caminho, um método, mas de qualquer ma- versidade Federal do Rio Grande do Sul, há 10 da Faculdade tive o prazer de acompanhar o sua relevância, sua organização, suas notas ou
neira quero agora compartilhar este modelo de anos, tenho trabalhado em iniciação científica e mestre de Saarbrücken, desde a elaboração das pela origem de suas principais teses, é um vali-
erros e acertos. Como antes observei, fui pesquisa em grupo. Ao desenvolver uma fichas de casos e formulários, das fichas de lei- oso exercício, que poupa o tempo do pesquisa-
monitora na Faculdade de Direito da UFRGS, e metodologia própria para ensinar a pesquisar, turas e bibliográficas, até o fotocopiar de todas dor sénior (ainda mais em um Brasil que tudo se
ainda aluna pude colaborar com uma pesquisa nomeie em sua homenagem, face à acessibilida- as fontes e os processos. Observei seu rigor e publica) e enriquece em muito, solidificando,
quantitativa realizada pelo Prof. Dr. Michael R. de e à grandeza de meus mestres europeus: preciosismo, sua preocupação com os erros, os conhecimentos do pesquisador-júnior. Des-
"Sprechstunde".
65
63
Assim também ARAÚJO, p. 29.
ROSENAU, 1992, p. 57. 66
Minhas homenagens à assistente social Sylvia Nabinger, que realizou com os mesmos casos a pesquisa de seu
64
GELLNER, Ernest, Pós-modernismo, Razão e Religião, Instituto Piaget, Lisboa , 1992, p. 60. doutorado na Faculdade de Direito de Lyon, França, por seu aopoio e modelo.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
taque-se a sinceridade intelectual deste mes- Privado junto ao Prof. Alfred von Overbeck. O lência e da camaradagem. A organização de um pode cala ou manifesta o motivo porque não
tres alemães. Foi muito positivo poder observá- Instituto conta, ao total, com cerca de 1O cola- Instituto como o de Heidelberg (que também é pode participar. Assim valoriza-se a tarefa e o
los e ajudá-los a elaborar suas notas de rodapé, boradores, que se reúnem regularmente com o uma das mais excepcionais Bibliotecas que co- grupo desenvolve uma dinâmica própria de aju-
seu minucioso re-exame das fontes e organiza- professor coordenador, este e os colaborado- nheci) é o ideal de qualquer pesquisador. da àqueles que receberam uma tarefa e não po-
ção lógica do pensamento. Os pesquisadores- res de todos os continentes escrevem juntos dem a cumprir sozinhos. A reunião é toda
junior nada escrevem, mas tudo acompanham, os livros do Instituto. Cada colaborador ou pes- conduzida pelo líder, que determina a ordem de
e este acompanhar, inclusive em Congressos e quisador tem seu tema individual, afeito a sua
em discussões de grupos de pesquisadores, origem, sua língua materna, sistema jurídico ou
2. O resultado final: temas a ser discutidos. Quando as reuniões
semanais terminam, o líder coloca-se à disposi-
são momentos de grande crescimento. Outro religião, e assim todos trabalham com uma fina- a "Sprechstunde" ção dos pesquisadores juniores para tratar de
fator a destacar é a liberdade no trabalho de lidade comum, mas individualmente e com ple- suas pesquisas individuais e aconselhá-los em
pesquisa, organizado nas horas (inclusive nos Se o resultado final parece-se um pouco
na liberdade de opinião. Este método pareceu- suas dificuldades. 68
finais de semana) e espaços livres e "inspira- com tudo - e não é idêntico a nada que conheci
me muito frutífero, pois estimula a cooperação
dos" do pesquisador-júnior. Há controle de ta- -,resolvi nomear a metodologia com uma ex- O método usado distingüe-se de outros
e o trabalho em grupo, na convergência do ob-
refas, não de horas ou dedicação, que apare- pressão alemã, justamente na esperança que grupos de pesquisa por nunca impor leituras
jetivo comum, mas valoriza as individualidades
cem claras nos resultados concretos do levan- fosse algo sólido e frutuoso, como o que ob- obrigatórias, referenciais teóricos ou discutir
e as origens diferentes (contávamos, por exem-
tamento. servei. Queria bem marcar as influências que textos previamente lidos em conjunto. O cresci-
plo, em 1987, com especialistas sobre os siste-
sofri: "Hora de aconselhamento", "hora da con- mento do aluno de iniciação científica é fomen-
Em Tübingen, tive o prazer de acompa- mas socialistas, sobre China e Japão, sobre os
versa", "hora de encontro" são algumas possí- tado individualmente, pela dinâmica de coope-
nhar o Professor Dr. Wolfgang Knutt Norr em países muçulmanos, sobre Israel, sobre Aus-
veis traduções desta expressão alemã que está· ração do grupo, pela reincidência das tarefas,
muitas de suas "Sprechstunden". Chamou-me trália e Oceania, sobre o sistema da common
na porta de cada professor, em cada Faculdade nunca por condução do pensamento. Leituras
muita a atenção como este grande historiador law, sobre o direito alemão, direito francês, di-
de Direito: "Sprechstunde". dirigidas, reflexões coordenadas e em grupo
do Direito estava lá, todas as semanas, na mes- reito suíço e direitos da América-Latina).
A metodologia de ensino da pesquisa é dirigem e manipulam o interesse dos alunos,
ma hora, a nossa disposição, junto com seus Ao retornar para o Brasil, em 1988 e nivelando-os e igualando-os no pensamento.
assistentes, para aconselhar e tirar dúvidas, para simples. Repousa sobre três pilares básicos: a)
após, em 1990, ao passar no concurso da Facul- O método "Sprechstunde" se assenta justamen-
liberdade acadêmica, b) uso positivo do inte-
guiar-nos e repassar-nos literatura e tarefas dade de Direito da UFRGS, procurei organizar te na manutenção das diferenças e tendências
resse, das tarefas e dos erros, c) Aprender pes-
como se isto fosse parte de uma missão. O aces- algo semelhante, adaptado as nossas circuns-
quisa, pesquisando e observando. individuais. Leituras são recomendadas indivi-
so ao professor-orientador é um fator de segu- tâncias e contextos. Não posso porém deixar de dualmente e nunca discutidas em grupo. Natu-
rança. O contato com o mestre, o poder partici- mencionar a enorme influência que os anos de A liberdade acadêmica está retratada no ralmente, porém, os participantes do grupo aca-
par das reuniões de Cátedra e observar suas Doutorado, passados no Instituto de Direito grupo em dois flSpectos: na liberdade do pes- bam por ler a produção intelectual dos profes-
discussões e trabalhos com os assessores, Estrangeiro e Direito Internacional Privado da quisador-senior em escolher o assunto das pes-
sores que participam do grupo, por curiosidade
enriquece o aluno. Outra boa experiência na Universidade de Heidelberg, sob a coordena- quisas guarda-chuva e na liberdade de escolha
e interesse, não, por imposição. O ritmo de lei-
Faculdade de Direito de Tübingen foi ter parti- ção do Prof. Dr. Dr. h. c. multi Erik Jayme, exer- dos temas individuais pelos pesquisadores-
turas de cada um, o despertar de seus interes-
cipado dos "Doktorseminaren", seminários ceram em mim. Neste Instituto, observei apre- juniores. O pesquisador-líder determina livre-
ses próprios (mais filosóficos, mais ligados à
onde os doutorandos expõem suas pesquisas paração das reuniões de redação da Revista mente o tema da pesquisa guarda-chuva, a de-
ao direito comparado etc.) é um dos
para se submeter às críticas dos professores e IPRAx, onde todos os 26 pesquisadores pender de seu interesse ou necessidade mo-
objetivos do método.
assistentes. A mistura entre ambos, da gradua- (seniores e juniores) do Instituto colaboram com mentânea, ele determina também as tarefas que
ção e da pós-graduação, agradou-me muito. 67 material, traduções e artigos. Observei como deverão ser cumpridas pelos pesquisadores A iniciação científica, nas pesquisas
organizavam em conjunto os congressos - as juniores e seus prazos, explicando-as. Receber guarda-chuva, dá-se por observação, por cons-
Já mestre fui contratada para ser cola- tradicionais festas de final de semestre- e semi- uma tarefa é sinal de confiança no potencial do trução própria e imitação, não é conduzida, nem
boradora científica do Instituto Suíço de Direi- nários, como cooperam para cumprir com as ta- aluno. Quem pode participar naquela semana, o método é discutido ou revelado para os alu-
to Comparado em Lausanne, podendo escrever refas distribuídas pelos 3 professores Direto- manifesta-se e pede para colaborar, quem não nos, sendo a tarefa de condução metodológica
um artigo (Prêmio van Calker), mas tendo que res, como compartilham o conhecimento com
escrever pareceres de Direito Internacional seus "sucessores", sempre na procura da exce-
68
Como ensina Jeniffer GORE,p. 12, citando Foucault, por vezes ser menos democrático, dar forma e dirigir a
conduta dos indivíduos em formação pode ser positivo, pois "nesse sentido, é estruturar o campo possível de ação
67
Assim também o testemunho de GUERRA, Willis,Critérios de avaliação e reconhecimento dos cursos de pós- dos outros".(GORE, Jeniffer, Foucault e Educação: fascinantes desafios, in SILVA, Tomaz Tadeu, O Sujeito da
graduação em Direito, Cad. Pós-Grad. Dir. UFPA, Belém, Ed. Especial, out.1999 , p. 79 Educação, Ed. Vozes, Petrópolis, 1994, p. 12).
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
apenas do líder do grupo. Não há qualquer lei- mapear a pesquisa na Faculdade, assim como concursados nos Tribunais. Como as reuniões ticados e explicados. A crítica é sempre cons-
tura metodológica indicada, nem qualquer dis- treinar e desinibir os alunos para a apresenta- do grupo são entre 12h30min e 14horas, quase trutiva, mas a demonstrar a valorização do tra-
cussão sobre o método entre aluno de inicia- ção principal na Universidade. todos que fazem estágios podem participar. A balho do aluno, pois se o erro persistir, o traba-
ção científica e o professor-pesquisador, as lei- combinação entre prática e ensino da pesquisa lho principal pode ser comprometido. Por exem-
Há liberdade de determinação do tempo
turas metodológicas nascem da necessidade em grupo tem sido muito exitosa, tanto que vá- plo, se o aluno fotocopia uma fonte e não indi-
de dedicação à pesquisa, pois o importante é a
sentida pelo aluno, que é então orientado. rios juizes do Rio Grande do Sul hoje dão prefe- ca a Revista da qual retirou o artigo, ou esque-
realização da tarefa, não quando e como o alu-
rência (ou convidam) os pesquisadores do nos- ce de fotocopiar uma página, o erro será identi-
A liberdade acadêmica do aluno se ma- no a cumprirá. Observei no Instituto Max-Planck
so grupo para assessores, vários escritórios e ficado pelo orientador, que pedirá para o aluno
nifesta na escolha de seu tem a individual. Cada que a determinação própria do tempo é uma ex-
grandes empresas de Porto Alegre e São Paulo corrigir, explicando que assim a fonte está in-
aluno, que participar das pesquisas guarda-chu- celente medida de disciplina e de adaptação.
nos telefonam pedindo "pesquisadores" dos completa e não pode ser citada, o que a inutili-
va e das reuniões do grupo, deve escolher um Cada um tem um ritmo para trabalhar e a pesqui-
últimos anos e as cartas de recomendação do za. No Brasil, há certo receio em criticar e mos-
tema, um aspecto, dentre os três tópicos possí- sa muitas vezes necessita de inspiração ou aten-
grupo têm aberto várias portas profissionais, trar os erros, mas isto pode levar a uma repeti-
veis: "Direito do Consumidor", "Mercosul", ção redobrada. Poder pesquisar apenas uma
assim como permitido vantagens comparati vas ção negativa. Na Alemanha, criticar é sinônimo
"Pós-modernidade jurídica". Cada aluno passa hora por dia ou 5 horas corridas ou 2 noites na
ao se concorrer por bolsas de estudo. O grupo de respeito e, seriedade pelo trabalho alheio e
a pesquisar um tema individual, por ele livre- semana, vai depender de cada um e de suas
oferece também pequenas aulas sobre próprio, leva ao crescimento, a melhoria. Errar é
mente determinado, de acordo com a sua curio- tendências. Parece-me que não deve haver ho-
metodologia da pesquisa, que são dadas pelos natural, e é um indício que o aluno se esforçou,
sidade, seu interesse e vocação individual. 69 rários obrigatórios para a pesquisa ou para a
mestrandos e professores visitantes DAAD/ está ativo, atuando, pesquisando. Só erra, quem
Neste tema ele prepara um pequeno trabalho presença do pesquisador na Universidade. A
CAPES. faz. Quem erra, porque está iniciando e se de-
oral de 1O a 20 minutos para ser apresentado liberdade é também manifestada na presença
senvolvendo (em pesquisa), merece saber como
nos Congressos Acadêmicos do Brasilcon (Ins- não obrigatória nas reuniões do grupo. As reu- O uso positivo do interesse, das tarefas
acertar na próxima .71
tituto Brasileiro de Política e Direito do Consu- niões e o contato mais íntimo com os professo- e dos erros, é uma tentativa de respeitar as indi-
midor), em caso de intercâmbio internacional res-orientadores e mestrandos é um oferecimen- vidualidades e permitir que cada um desenvol- Mais do que funcional, o grupo deve
(como aconteceu nos anos de 1996,97,98 e 99 to. Se o aluno pode e quer aproveitar do ofere- va-se no seu ritmo e conforme suas inclinações servir para convívio. A aprendizagem passa
com congressos acadêmicos organizados na cimento, excelente, se não, poderá mesmo as- temáticas (linguísticas e ideológicas). Todos os pelo convívio. É o que distingue a escola da
Argentina e no Paraguai) e, especialmente, nos sim pesquisar. pesquisadores falam pelo menos uma língua Universidade, que é fórum e lugar de convívio.
Salões de Iniciação Científica da UFRGS. Os estrangeira e entendem espanhol, que é consi- Do modelo do hiwi alemão aprendi a beleza e
Especialmente com alunos que trabalham prazer de conhecer e conviver mais intimamen-
salões de iniciação científica realizam-se há 12 derada língua de trabalho no Rio Grande do Sul.
durante a graduação, dois caminhos são possí- te com os grandes mestres. O grupo de pesqui-
anos na UFRGS, sempre em setembro. Há tam- O grupo facilita o acesso dos pesquisadores
bém o Salão preparatório da Faculdade de Di- veis: ou os alunos mantém a comunicação por sa é uma maneira de conviver com o professor
aos cursos de línguas, através do pedido de
reito da UFRGS, que se realiza, há quatro anos, e-mail e participam das demais atividades do orientador, mas principalmente de encontrar,
bolsas (principalmente de alemão) e recebe a
sempre em agosto, organizado pela Comissão grupo (seminários, encontros, congressos) ou acompanhar e ajudar, durante sua estada na ci-
colaboração constante do Instituto Goethe e
de Pesquisa da Faculdade (que atualmente co- os alunos combinam com seus chefes poder do DAAD. 70 As tarefas são valorizadas atra- dade, os professores convidados de fora. Co-
ordeno) e o Centro Acadêmico André da Ro- participar de algumas reuniões. Muitos pesqui- vés da explicação de sua função: o aluno sabe nhecer um importante professor estrangeiro, um
cha. Este foi o pioneiro salão de uma unidade sadores voluntários não tem bolsas de pesqui- então da importância do levantamento que vai professor de uma outra Universidade, um dou-
da UFRGS e tem como finalidade divulgar e sa, justamente pois fazem estágios ou já são fazer para a pesquisa guarda-chuva do profes- torando, um pesquisador associado é também
sor ou do grupo, sabe se está procurando uma o descortinar de novos horizontes, novos inte-
69
Como exemplo podemos observar a diversidade de temas escolhidos pelos alunos mais adiantados (pesquisado- nota de rodapé ou uma recente crítica publicada resses, novos temas, nova bibliografia, novas
res-seniôres) este ano de 2000 nos Salões de Iniciação Científica da UFRGS e da Faculdade de Direito: 1. Aspectos da posição defendida do professor, de forma a idéias, é sobretudo , importante motivação e
da Harmonização do Direito Societário na União Européia: Um exemplo para o Mercosul -Lucas Faria Annes, 2. demonstrar ao aluno como ele está colaboran- modelo para se continuar a pesquisar, a querer
Publicidade Abusiva: sua regulamentação no Mercosul- Daniela Correa Jacques, 3. Serviços públicos essenciais e saber sempre mais, a acompanhar este mundo
do com o pesquisador-senior. Os erros são cri-
o princípio da continuidade: tutela do consumidor versus Estado-Fornecedor - Fernanda Girardi, 4. As várias
nuances do dever de informar no Código de Defesa do Consumidor- Fernanda Nunes Barbosa, 5. Medicamentos
genéricos: a liberdade de escolha do consumidor - Laura Ederich, 6. Cláusulas abusivas na Argentina e no Brasil- 70 Em 2000, receberam as bolsas de curta do duração DAAD para cursos de verão em alemão, na Universidade de
Guillermo Campbell (UFRGS!Univ. de Cordoba, Argentina), 7. Fundamentos da proteção dos direitos da persona- Heidelberg e Freiburg, Rafael Garcia e Aline J ackisch.
lidade: a evolução da tutela do direito de imagem na jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (
71 Veja sobre análise do erro (Fehleranalyse) na aprendizagem, EDMONDSON, Willis e HOUSE, Juliane,Einführung
1984 a 2000) - Bruno Nunes Barbosa Miragem; 8. Internet e Direito- Antonia Espíndola Longoni Klee, 9.
Garantia globalizada: Análise de um possívelleading case - Rafael Garcia; 10. Limitação de juros nos cartões de in die Sprachlehrforschung, Ed. Francke, Tübingen, 1993, p. 205: "Fehler sind aus dieser Sichtweise also durchaus
crédito- Odiléa Oliveira de Almeida Simão. etwas natürliches, namlich Indizien dafür, dass der Lerner sich aktiv mit [dem Objekt] auseinandersetzt."
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
que passa a estar ao alcance. Receber a tarefa cas existentes na Universidade e na cidade, acer- e Direito do Consumidor", já com 9 anos de Observei uma primeira dificuldade, pois
de acompanhar, de ser o "Angel" do mestre vo de documentos disponível na Internet, nas existência prática em Direito Internacional e Di- como todos os alunos de Direito Internacional
visitante, pode determinar o lugar onde o es- publicações e levantamentos anteriores do pró- reito Comparado. Privado, cadeira obrigatória do 9 e 10 semestres
tudante fará seu futuro mestrado e doutorado, prio grupo, etc.). Mesmo sem escrever ou elabo- na UFRGS, formaram-se naquele ano e inicia-
pode mudar a perspectiva de vida do pesqui- rar textos científicos, é possível aprender a vam suas carreiras, as reuniões semanais eram
sador-júnior. O convívio também deve se fazer pesquisar. Observar vários momentos e méto- 1. Evolução e Estrutura atual difíceis e começavam a rarear. As tarefas pedi-
no próprio grupo, por isso aprendi em dos do orientador, pesquisar de forma própria, das não eram realizadas com regularidade e o
Heidelberg que é preciso encontrar-se em ou- útil e orientada, são os caminhos escolhidos. do Grupo de Pesquisa CNPq incentivo à pesquisa era pouco. Em 1991, mi-
tros momentos e tempos do que apenas na "Mercosul e Direito do Con- nistrei algumas aulas de Direito Civil, nos pri-
Universidade, especialmente em festas e co- meiros anos da Graduação, e a pedido destes
memorações. sumidor"IUFRGS alunos reavivei as reuniões. Este pequeno gru-
po de quatro alunos perseverou e apresentou
O terceiro pilar é a prática da pesquisa: B) O Grupo de Pesquisa CNPq ''Mercosul e Di- O Grupo de Pesquisa CNPq "Mercosul seus trabalhos de DIPr., no Salão de Iniciação
aprender, pesquisando. Se o Grupo de Pesqui- reito do Consumidor" e a pesquisa em Direito e Direito do Consumidor", que fundei e tenho a Científica da UFRGS em 1992.75 Observei a difi-
sa funciona como grupo de apoio e levanta- Internacional honra de liderar, completa agora 11 anos de ex- culdade dos alunos com os temas de Direito
mento de fontes para os pesquisadores seniors periência. Iniciou-se em fins de 1990, com alu-
Uma vez que leciono na graduação da Fa- Internacional Privado, motivo pelo qual, em
e ao líder, ajudando na elaboração de seus tra- nos da minha primeira turma de Direito Interna-
culdade de Direito da UFRGS as cadeiras de Di- 1993, permiti apenas aqueles quinto-anistas, que
balhos, produções científicas e acadêmicas, cional Privado na Faculdade de Direito
reito Internacional Privado e Direito das Rela- realizassem suas pesquisas nestes temas. Os
especialmente para preparar artigos de doutri- UFRGS, então formandos, com o mesmo méto-'
ções Internacionais (Direito da Integração) fico demais foram direcionados a pesquisar sobre
na, livros, pesquisas quantitativas de jurispru- do proposto, mas não frutificou. Como na épo-
especialmente honrada com o convite da colega Mercosul e/ou Direito do Consumidor no
dência, levantar novos leading cases, nova ca era apenas Mestre e Especialista em Direito
e eminente colaboradora, Profa. Dra. Nádia de Mercosul. 76 Os resultados foram melhores e a
bibliografia e acompanhar a rapidez das modi- Comunitário Europeu, fazíamos parte do Grupo
Araújo, para participar das discussão do Grupo pesquisadora voluntária Elaine Ramos da Sil-
ficações legislativas. O Grupo funciona, prin- de Pesquisa sobre Mercosulliderado pela Profa.
Temático 1 "Direito Internacional e Integração va, conquistou neste ano de 1993, no V Salão
cipalmente, como um laboratório de iniciação Dra. Martha Olivar no PPGD da UFRGS, com
Regional: os efeitos da globalização". Gostaria de Iniciação Científica UFRGS e CNPq, na Se-
científica para os alunos, que assessoram as um sub-projeto intitulado "Mercosul: Realida-
de colaborar tecendo algumas observações e ção III: Ciências Sociais Aplicadas, pela primei-
pesquisas principais (exceção feita à redação de Jurídica?", dentro da linha de pesquisa do
reflexões sobre dois aspectos: 1. A possibilida- ra vez para a Faculdade de Direito, o PRÊMIO
dos trabalhos, que é exclusiva dos pesquisa- PPGD/UFRGS "Integração como tarefa para a
de que a pesquisa em Direito Internacional abre JOVEM PESQUISADOR UFRGS, com o traba-
dores-seniors),72 que levantam o material, dis- ciência do Direito". Visava o grupo pesquisar
para trabalhos conjuntos, para a produção do lho: " Sobre a necessidade da Harmonização
cutem a sua relevância, precisão, orientação e apenas os temas momentosos de Direito Inter-
conhecimento em grupos de pesquisa, em gru- das Legislações nos países integrantes do
atualidade, lêem e elaboram fichas de leituras nacional Privado73 e do nascente MercosuJ.74
pos interdisciplinares, interinstitucionais e inter- Mercosul".
individuais (do material selecionado como im-
nacionais, através da análise comparativa, da pro-
portante pelos pesquisadores seniors), obser-
dução em conjunto e na diversidade atual; 2. A
vam as técnicas de delimitação, de precisão,
vocação intrínseca e estrutural do Direito Inter-
de clareza, de sinceridade intelectual e de re- 73
nacional, como matéria, e da pesquisa realizada Este projeto de Pesquisa, na linha de pesquisa "Integração como tarefa para a ciência do Direito" e teve três fases intituladas:
flexão usadas pelos pesquisadores seniores, 1991192- Fase I: Contratos InterÍlacionais e Mercosul/Circulação de bens, 1992/93 -Fase II:Contratos Internacionais e
neste campo do conhecimento refletir, desenvol-
assim como passam a dominar os instrumen- Mercosul/Circulação de pessoas; 1993/94- Fase ill: Proteção do Consumidor no Mercosul.
ver e ser instrumento da integração regional.
tos técnicos da pesquisa (fichas de leituras, 74
Este projeto de Pesquisa intitulado "Integração do Cone Sul- Realidade Juríd.ca ?"teve apenas duas fases: 1991-
fichas de bibliografia, desenvolvimento de fi- Como forma de unir e organizar estes dois Fase I- Mercosul- Aspectos Jurídicos; 1992-1994- Fase II- Mercosul- Realidade Jurídica.
75
temas usarei minha experiência como líder e fun- 0s trabalhos individuais apresentados em 1992 tinham como temas: 1. Mercosul e Harmonização: Política
chas de análise de casos, etc.) e instrumentos
de Transportes (Ana Inês Algotarta Latorre); 2. Mercosul - Realidade Jurídica (Luiz Carlos Hagmann); 3. O
materiais (domínio dos acervos das Bibliote- dadora do Grupo de Pesquisa CNPq "Mercosul Contrato de Transporte Internacional de Cargas no contexto da integração Latinoamericana (Sabina Cavalli); 4.
O papel do projeto de Código de Conduta da ONU sobre transferência de tecnologia nos países em desenvolvimen-
to (Elaine Ramos da Silva).
76
72
Ao não permitir que os pesquisadores juniores elaborem qualquer texto, nem que ajudem nas pesquisas de Os trabalhos individuais de pesquisa apresentados no Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em 1993, tinham
Mestrado e Doutorado dos outros pesquisadores seniores, evita-se qualquer tipo de exploração de idéias e textos como títulos: 1. Sobre a necessidade da Harmonização das Legislações nos países integrantes do Mercosul (Elaine
dos pesquisadores juniores e mantém-se a sinceridade intelectual de trabalhos exigida pelo modelo alemão, permi- Ramos da Silva); 2. Responsabilidade do Importador no Mercosul (Katia Kneipp); 3. A pessoa como consumidor
tindo a sua participaçao somente em algumas atividades básicas e que acompanhem os resultados e observem os no Mercosul (Fabiana d' Andrea Ramos); 4. Direito Internacional Privado- O casamento e as novas uniões (Ana
métodos de cada pesquisador senior. Inês Latorre); 5. Relações de Sucessão no Mercosul (Sabina Cavalli).
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
Em 1994, em virtude da saída dos quin- até março de 1996, o grupo ficou sob a coorde- caso incluindo, na área de Ciências Sociais com o trabalho individual: "Comunicação
to-anistas, resolvi reformular novamente os pro- nação da Profa. Dra. Martha Olivar. A;licadas, novamente o PRÊMIO JOVEM de Massa: implicações legais das
jetas direcionando-os apenas para a pesquisa PESQUISADOR UFRGS, em 1999, 81 com tecnologias emergentes".
Com o meu Doutorado em 1996,78 resol-
em temas envolvendo o Mercosul e o Direito vi formalizar o Grupo e minha posição de pes- 0 trabalho do Pesquisador e Bolsista O Grupo de Pesquisa CNPq
do consumidor interno, de forma a permitir que quisador líder junto ao CNPq, dando-lhe a es- FAPERGS Fábio Costa Morosini, que mere- "Mercosul e Direito do Consumidor", atu-
alunos dos primeiros anos participassem do trutura e o nome atual "Mercosul e Direito do ceu o prêmio máximo do Salão da UFRGS almente congrega 12 alunos de graduação
grupo. Novamente fomos premiados e o grupo Consumidor". Desde então o Grupo tem sido
renovou-se, 77 mas como retornei para a Alema- muito ati vo e de 1996 a 2001 79 recebeu mais
800s prêmios recebidos pelos integrantes do Grupo, em iniciação científica, foram: 1. Pesquisadora PROPESP-
nha em fins de 1994 e lá escrevi meu Doutorado 25 prêmios de pesquisa de iniciação científi- UFRGS Patrícia Peressutti, DESTAQUE no XI Salão de Iniciação Científica UFRGS e CNPq, Seção III, 1997 . 2.
Pesquisadora FAPERGS Giovana Maciel (PUC), DESTAQUE no IX Salão Iniciação
Seção III, 1997 . 3. Pesquisador CNPq/UFRGS Pedro Montenegro- .. PREMIO no I Salao de Ctenttfica
77
Os trabalhos individuais de pesquisa apresentados no Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em 1994, tinham da Faculdade de Direito/UFRGS, Bolsa de estudo do Mestrado em Dtretto/UFRGS para 1998. 4. CNPq/
como títulos: 1. A informática e o Direito à Privacidade (Angela Dumerque); 2. Direito de Arrependimento no UFRGS, Bárbara S. Garcia, DESTAQUE no I Salão de Iniciação Científica do Direito, .de
Código de Defesa do Consumidor (Clarissa Costa de Lima); 3. A nova concepção de oferta e cláusulas abusivas no 1998 . 5. Pesquisadora CNPq/UFRGS, Ariane Cunha Freitas, DESTAQUE no I Salão de Imciação Ctenttflca do
CDC (Elaine Ramos da Silva); 4. Os contratos de adesão e as cláusulas abusivas sob a perspectiva do CDC (Ana Direito, Faculdade de Direito UFRGS, 1998. 6. Pesquisador voluntário Fabiano Menck, DESTAQUE
Letícia Fialho); 5. O sistema de solução de controvérsias no Mercosul (Pedro Montenegro); 6. O dever de X Salão de Iniciação Científica UFR<}S e CNPq, Ciências So.ci.ais_ 1998 . 7. voluntána
informar e a publicidade no CDC (Fabiana D' Andrea Ramos). Cláudia Travi Pitta Pinheiro - 2. PREMIO no III Salão de Imciaçao Cientifica da Faculdade de Dtreito/UFRGS,
78 Os trabalhos individuais de pesquisa, apresentados no Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em 1996, tinham 1999 Bolsa de estudo do Mestrado em Direito/UFRGS para 2000. 8. Pesquisadora CNPq/PIBIC Aline Jackisch,
como títulos: 1. O direito da Concorrência no Mercosul (Pedro Montenegro); 2.Mercosul: Arcabouço jurídico e Co-o;ientador o Prof. Sérgio José Porto, DESTAQUE no III Salão de Iniciação Científica do Direito, de
políticas universitárias (Fábio Morosini); 3.Meio ambiente e consumidor (Ana Letícia Fialho); 4. Importância do Direito UFRGS, 1999. 9. Pesquisadora CNPq/PIBIC Laura Oliveira Ederich, DESTAQUE no III Salão de Imciação
conceito de consumidor no Mercosul (Ariane Freitas); 5. Evolução da Família no Direito Brasileiro (Clarissa Costa Científica do Direito, Faculdade de Direito UFRGSl 1999.10. Pesquisadora PROPE:S91UFRGS Rosaura Macagna.n
de Lima); 6. A responsabilidade civil por dano ambiental (Jesus Tupã Silveira Gomes). Viau, DESTAQUE no III Salão de Iniciação Científica do Direito, Faculdade de Direito !999:11.
79
0s trabalhos individuais de pesquisa, apresentados no Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em 1997, tinham como títulos:
sador PROPESQ/UFRGS Bruno Nunes Barbosa Miragem, III. ?e!mciaçao _do
Direito, Faculdade de Direito UFRGS, 1999. 12. Pesquisadora voluntana Odtleia Ohvetra de Almeida Simao,
- 1. Ilusão de Segurança Jurídica no Mercosul (Pedro Montenegro); 2. Comissão de Comércio do Mercosul (Rodrigo Cogo); 3. DESTAQUE no III Salão de Iniciação Científica do Direito, Faculdade de Direito UFRGS, 1999. 13.
A importância do Art. 28 do COC-A Desconsideração da Personalidade Jurídica frente ao consumidor (Barbara Garcia); 4. FAPERGS Fábio Costa Morosini (PUC), DESTAQUE no XI Salão de Iniciação Científica UFRGS e CNPq, Ciências
Contratos à distância e a proteção do consumidor (Ariane Freitas); 5. Quantificação do dano moral: determinação de critérios Sociais Aplicadas, 1999 .14. Pesquisadora voluntária Fernanda Nunes Barbosa DESTAQUE no .XI Salã? de
(Patrícia Peressutti); 6. O conceito de consumidor no CDC (Fernanda Barbosa); 7. Contratos de Seguro-Saúde e o Código de Iniciação Científica UFRGS e CNPq, Ciências Sociais Aplicadas, 1999. 15. Ahne Jackisch,
Defesa do Consumidor (Alberto Franco); 8. Direito do consumidor de serviços médicos (Giovanna Maciel); 9. Reconhecimen- Co-orientador o Prof. Sérgio José Porto, DESTAQUE no XI Salão de Imciaçao Cientifica UFARGS e CNPq,
to de Paternidade: Um estudo paralelo entre Brasil e Argentina (Fábio Costa Morosíni). Os trabalhos individuais de pesquisa, Ciências Sociais Aplicadas, 1999. 16. Pesquisador FAPERGS Fábio Costa Morosini (PUC), PREMIO JOVEM
apresentados no Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em 1998, tinham como títulos: 1. A publicidade enganosa e abusiva PESQUISADOR do XI Salão de Iniciação Científica e CNPq, Ciências
no CDC e suas tendências (Aline Jackisch); 2. Consumo sustentável e o Direito do Consumidor (Bárbara Garcia); 3. Novo Pesquisadora voluntária, ex-CNPq/PIBIC, Laura Oliveira DESTAQUE no IV Salao de Cientifi-
regime das incorporações imobiliárias e o Coe (Fernanda Barbosa); 4. A responsabilidade civil no Coe pelo fato do produto ca do Direito, Faculdade de Direito UFRGS, 2000. 18. Pesqmsador PROPESQ/UFRGS, Bruno Mtragem, DESTA-
e pelo vício do produto (Fabiano Menck); 5. O atual direito do consumidor de serviços no Brasil (Giovana Maciel) 6. O QUE no IV Salão de Iniciação Científica do Direito, Faculdade de Direito UFRGS, 2000.19. Pesquisa.dora volun-
consumidor equiparado: reflexos nos serviços bancários (Fábio Morosini); 7. Contratos à distância e perspectivas de harmonização tária, Daniela Jacques, DESTAQUE no IV Salão de Iniciação Científica do Direito, .de
das leis (Ariane Freitas), 8. Atividade da Comissão de Comércio no Mercosul (Rodrigo Cogo). Os trabalhos individuais de 2000. 20. Pesquisadora voluntária, Fernanda Gíradi, DESTAQUE no IV Salão de. Imciaçao Cientifica do DI_:etto,
pesquisa, apresentados no Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em 1999, tinham como títulos: ... Os trabalhos individuais Faculdade de Direito UFRGS, 2000. 21. Pesquisador CNPq/UFRGS, Rafael Garcia, DESTAQUE no IV Salao de
de pesquisa, apresentados no Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em 2000, tinham como títulos: 1. Aspectos da Iniciação Científica do Direito, Faculdade de Direito UFRGS, 2000. 22. voluntária, Klee,
Harmonização do Direito Societário na União Européia: Um exemplo para o Mercosul (Lucas Faria Annes); 2. Publicidade DESTAQUE no IV Salão de Iniciação Científica do Direito, Faculdade de Direito UFRGS, 2000. 23. Pesqutsadora
Abusiva: sua regulamentação no Mercosul (Daniela Correa Jacques) 3. Serviços públicos essenciais e o princípio da continui- voluntária, ex-CNPq/PIBIC, Laura Oliveira Ederich, DESTAQUE no XII Salão de Iniciação Científica UFRGS e
dade: tutela do consumidor versus Estado-Fornecedor (Fernanda Girardi) 4. As várias nuances do dever de informar no Código CNPq, Ciências Sociais Aplicadas, 2000 .24. Pesquisador Bruno DESTAQUE no XII
de Defesa do Consumidor (Fernanda Nunes Barbosa) 5. Medicamentos genéricos: a liberdade de escolha do consumidor (Laura Salão de Iniciação Científica UFRGS e CNPq, Ciências Aplicadas, 2000 .
Ederich) 6. Cláusulas abusivas na Argentina e no Brasil - Guillermo Campbell (UFRGS/Univ. de Cordoba, Argentina); 7. Rafael Garcia, DESTAQUE no XII Salão de Iniciação Cientifica UFRGS e CNPq, Ciencias Sociais Aphcadas, 2000
Fundamentos da proteção dos direitos da personalidade: a evolução da tutela do direito de imagem na jurisprudência do Tribunal . Em 2001 recbemos dois destaques internacionais: primeiro lugar Brasil na nacional. realizada na
de Justiça do Rio Grande do Sul (1984 a 2000) (Bruno Nunes Barbosa Miragem); 8. Garantia globalizada: Análise de um possível UFSC do Philip C. Jessup International Law Moot Court Competttwn/2001 1 parttctpaçao em Washmgton, D.C.,
leading- case (Rafael Garcia); 9. Limitação de juros nos cartões de crédito (Odiléa Oliveira de Almeida Simão). Os trabalhos Estados Unidos , com Professores Cláudio Moretti e Manoel André da Rocha), e estudantes do grupo: Ana Gerdau
individuais de pesquisa que serão apresentados no XIII Salão de Iniciação Científica da UFRGS, que ocorrerá entre os dias 03 de Borja ; Thomaz Francisco Silveira de Araújo Santos Maitê de Souza Schmitz , Ricardo Medeiros. de Castro.
e 07 de dezembro próximo, têm como títulos: 1. A Homologação de Sentenças Arbitrais Estrangeiras pelo Supremo Tribunal Prêmio de Melhor Delegado, representando o Canadá, no Comitê de Direitos Humanos, no IV Amencas. Model
Federal: comércio Brasil-Alemanha (Ana Gerdau de Botja); 2. Dever de Informação e os Produtos Transgênicos (Ana Rispoli United Nations (AMUN), realizado em Brasília, D.F, entre 14 e 19 de julho de 2001 para Thomaz Francisco de
d'Azevedo); 3. A Proteção dos Consumidores nos Contratos Eletrônicos (Antonia Espíndola Longoni Klee); 4. Alimentos Araújo Santos.
Transgênicos: Ética, Consumo e Meio Ambiente (Laura Oliveira Ederich); 5. Aspectos Jurídicos do "Recai!'' e sua Introdução
no Direito Brasileiro (Lucas Faria Annes); 6. Análise Crítica do Caso Colgate/Kolynos (Lúcia Carvalhal Sica); 7. Aspectos 81 Os trabalhos individuais de pesquisa apresentados no Salão Iniciação da •. em 199?, tinham
Jurídicos da Proteção aos Programas de Computador com Código-Fonte Aberto no Brasil (Maitê de Souza Schmitz); 8. O como títulos: 1. A cláusula de indexação no contrato de leasmg e o consumidor- Laura Oliveira Edench; 2. A
Código de Defesa do Consumidor enquanto Lei de Função Social (Man1ia Zanchet); 9. Os Contratos de Previdência Privada garantia como pós-venda no direito do consumidor- Rafael B. 3. C? prazo de nos de
e o Código de Defesa do Consumidor (Odiléa Oliveira de Almeida Simão); 10. O Uso da Internet para a Aquisição de Bens e incorporação imobiliária - Fernanda Nunes Barbosa; 4. A prestaçao de serviços a luz do do
Serviços: alternativa segura? (Rafael Barreto Garcia); 11. Posição Imutável do Superior Tribunal de Justiça: A Questão da consumidor- Carina Bonzanini da Silva; 5. O Bug do milênio e seus reflexos para o consunndor - Roberto Silva da
Importação de Merluzas (Rafael Pellegrini Ribeiro); 12. Comparação Principiológica entre a Affirrnative Action e o Código Rocha; 6. Multi propriedade - Rosaura Macagnan Viau; 7. A. problemática se:viços através das linhas
de Defesa do Consumidor (Ricardo Medeiros de Castro); 13. Responsabilidade do Transportador Aéreo por Extravio de 0900 - Odiléia Oliveira de Almeida Simão; 8. O Plano NaciOnal de Desestattzaçao e o consunndor - Bruno Nunes
Bagagem (Tatiana de Campos Aranovich); 14. O Cartel de Preços e a Defesa do Consumidor (Thales Gonçalves Della Barbosa Miragem; 9. A agência estadual de regulação dos serviços públicos do Rio do Sul -
Giustina); 15. As linhas gerais da responsabilidade pelo fato do serviço no coe e sua recepção ou não pelo Tribunal de Justiça AGERGS e o consumidor- Cláudia Travi Pitta Pinheiro;lO. As sociedades comerciais no Mercosul - Simone Stabel
do Rio Grande do Sul - (Thomaz Francisco Silveira de Araújo Santos) Daudt. 11. Comunicação de Massa: implicações legais das tecnologias emergentes - Fábio Costa Morosini.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
da Faculdade de Direito da UFRGS, 82 3 alu- naco-orientação, contamos até o mês de janei- com 2 colegas professoras da Faculdade de França, com o Center of Comparative Law da
nos da Faculdade de Direito da PUC/RS, 83 ro de 2001, com um jovem professor alemão, o Direito da UFRGS. 89 Universidade de Baltimore, com o Texas
uma aluna estrangeira (convênio ) 84 , seis docente de longa duração DAAD/CAPES 86 International Law Jornal da Universidade do
mestrandos do PPGDIUFRGS, 85 que realizam na lotado na Faculdade de Direito da UFRGS e com Texas-Austin, USA.
co-orientação do grupo, como parte de sua "ati- professores convidados estrangeiros 87 por cur- 2. Relações institucionais, O Grupo de Pesquisa participa ativamen-
vidade docente", um doutorando, que oriento to período, assim como com professores brasi- te do Departamento Acadêmico do Brasilcon,
e uma economista, especialista em regulação, e leiros e mestrandos de outras instituições, 88 e inter-institucionais e com a Instituto Brasileiro de Política e Direito do Con-
sociedade sumidor, uma organização não-governamental
82
Atualmente fazem parte do grupo, que se reúne sempre as terças feiras na sala de aula da Biblioteca Depositária de caráter científico, criada pelos autores do
da Organização das Nações Unidas (ONU), na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
A UFRGS mantêm vários convênios,90 Código de Defesa do Consumidor para estudar
os seguintes alunos: Ana Gerdau de Borja, Ana Rispoli d' Azevedo, Antonia Espíndola Longoni Klee, Laura a Faculdade de Direito 91 também, mas o grupo a eficácia desta lei e controlar a sua manuten-
Oliveira Ederich, Lucas Faria Annes, Lúcia Carvalhal Sica, Maitê de Souza Schmitz, Marília Zanchet, Odiléa mantém contatos próprios e menos formais, além ção no mercado brasileiro. A colaboração com
Oliveira de Almeida Simão, Rafael Barreto Garcia, Rafael Pellegrini Ribeiro, Ricardo Medeiros de Castro, Tatiana destes já formalizados, especialmente com o o Brasilcon se concretiza de várias formas. Em
de Campos Aranovich, Thales Gonçalves Della Giustina e Thomaz Francisco Silveira de Araújo Santos. Instituto Brasileiro de Política e Direito do Con-
83
primeiro lugar, através de publicações, trabalho
Ana Rispoli d' Azevedo, Lúcia Carvalhal Sica e Tatiana de Campos Aranovich, Faculdade de Direito da sumidor (São Paulo), algumas cátedras da UBA,
Pontifícia Universidade Católica, PUC/RS, Porto Alegre.
que foi iniciado com a organização do congres-
da Universidade de Rosário e de Santa Fé (Ar- so e após do livro que coordeno "Estudos so-
84
Já participaram do grupo os seguintes alunos estrangeiros: No ano letivo de 1996, o aluno alemão Christian gentina), com a UROU de Montevidéu, com o
Schindler, aluno então matriculado na Universidade de Heidelberg, Alemanha, hoje assistente do Prof. Dr. Erik bre a proteção do Consumidor no Brasil e no
Centre de Droit de la Consommation, na Mercosul", publicado em 1994 pela Editora Li-
Jayme, no Instituto de Direito Estrangeiro e Direito Internacional Privado da Univ. de Heidelberg, justamente
ca, com o Instituto de Direito Internacional Pri'-
por seu conhecimento do Direito brasileiro. O Doutorando Schindler, que recebeu na época crédito educativo do vraria dos Advogados, de Porto Alegre.
governo alemão para sua estada na UFRGS, é o secretário da Associação de Juristas Luso-Alemã da Univ. de vado da Universidade de Heidelberg, mais re-
Heidelberg e coordenou a ida de alunos do grupo para a Alemanha, como o mestrado de Fabiana D 'Andrea Ramos centemente com a Universidade de Bremen na Especialmente, depois volta de meu dou-
na Universidade de Heidelberg, e os cursos de verão em alemão, na Universidade de Heidelberg de Rafael Barreto Alemanha, com o Centre de Recherches torado, o grupo passou a realizar traduções do
Garcia e Aline Jackisch. No ano de 2000, por dois meses, duas alunas da Universidade conveniada de Santa Fé Européeennes da Université de Rennes I, na francês, 92 alemão 93 , inglês 94 e espanhol95 para
(Argentina). Este Intercâmbio de estudantes da graduação da Faculdade de Direito da Universidad Nacional dei
Litoral, Argentina, por dois meses na Faculdade de Direito da UFRGS, para assistir aulas e pesquisar sobre Direito
do Consumidor, em maio/junho 2000, foi uma experiência muito positiva para o grupo e foi financiando pela
UNL, que deu prêmios de pesquisa às duas estudantes, e esperamos que se repita em 2001. Atualmente, temos
s9 As colegas que colaboram nas publicações coletivas do grupo, na organização de congressos e eventos do grupo,
acompanhado a estada de Helene Heyd, aluna de Relações Internacionais da Universidade de Berlim, Alemanha.
85
assim como acompanham o grupo em suas viagens ao exterior são as colegas Vera Jacob de Fradera (UFRGS) e
Atualmente Fernanda Nunes Barbosa, Daniela Correa Jacques, Michele Costa da Silveira, Bruno Nubens Martha Olivar Gimenez (UFRGS-PPGD e PUC/RS). Há 4 anos contamos também com a cc-orientação de um
Barbosa Miragem, Cristiano Heineck Schmidt e José Salvador Cabral Marks., PPGD/UFRGS. bolsista pelo Prof. Me. Sérgio José Porto (UFRGS).
86 90 O grupo utilizou os convênio da UFRGS até agora com a Universidade de Heidelberg, Tübingen, Kiel na Alemanha, UBA-
Até o mês de janeiro do ano de 2001 tivemos o acompanhamento e orientação do Dr. Ulrich Wehner, professor
convidado UFRGS, DAAD/CAPES, oriundo da Universidade de Colônia, Alemanha e indicado pela Universidade Argentina, Universidad Nacional de Córdoba e Universidad Nacional dei Litoral, na Argentina, Universidade de Baltimore, nos
de Heidelberg, conveniada com a UFRGS, mas antes contamos por 2 anos com o acompanhamento da Dra. EUA, Universidad Nacional de Assunción, Paraguai, e Universidad da República, Uruguai.
91 A Faculdade de Direito e o PPGD possuem convênios com a Universidade de Münster, Alemanha, Universidade
Harriet Christiane Zitscher, do Instituto Max-Planck em Hamburgo (Alemanha), professora convidada UFRGS/
DAAD/CAPES, nesta cátedra alemã na Faculdade de Direito de 1998 a 1999. de Paris I (Panthéon- Sorbonne), Universidad Nacional de Rosário, Argentil,ia e USP, São Paulo.
92Assim os artigos de Alfred von Overbeck (Instituto Suíço de Direito Comparado), "Eleição de Foro segundo a
87
Entre junho e outubro de 2000 tivemos a colaboração do pesquisador do Centre de Droit de la Consommation nova lei suíça sobre Direito Internacional Privado de 18 de dezembro de 198T', in Revista da Faculdade de Direito
da Universidade Católica de Louvain-la-Neuve, Bélgica, o Mestre alemão Jens Karsten, enviado pelo Prof. Dr. da UFRGS, vo. 12, 1996, p. 7 a 18 e artigo do Prof. Bernard Dutoit.
Thierry Bourgoignie para pesquisar sobre a proteção do consumidor no Mercosul. Tentamos enviar nossos 93 Tradução do artigo de Michael R. Will (Instituto Europa, Saarbücken), A experiência de harmonização das
mestrandos para o mesmo intercâmbio no Centre, mas não obtivemos financiamento. O Intercâmbio de Mestrandos legislações na Europa-Harmonização Autônoma?, executada por Elaine Ramos da Silva e publicada na Revista da
do Grupo de Pesquisa CNPq "Mercosul e Direito do Consumidor"IUFRGS com pesquisadores do Centre de Droit Faculdade de Direito da UFRGS, vol. 13, 1997, p. 207-234. e tradução executada pela líder do grupo do capítulo
de La Consommation da Universidade de Louvain-la-Neuve, Bélgica, em estágios de pesquisa de 4 meses, iniciou- do livro de Eike von HIPPEL, "Verbraucherschutz" e publicada na Revista Direito do Consumidor, São Paulo, vol.
se com a vinda do Me. Jens Karsten. 1, pg. 7 a 15:"A proteção do consumidor-comprador" e também a tradução de artigo do alemão para o português
88
do Prof. Dr. Dr. h.c. Erik Jayme, com 31 pgs., publicada na Revista dos Tribunais nr. 759,janeiro 1999, p.24 a 40,
0s hoje jovens professores das Faculdades de Direito de Porto Alegre, os hoje mestrandos e especializandos,que
sobre o tema:"Visões para uma teoria pós-moderna do Direito Comparado".
tem sua origem como pesquisadores do grupo, costumam acompanhar as reuniões do grupo e colaborar na 94Tradução do artigo de J.H.A. van Loon, do inglês para o português, "Os Aspectos Legais da Adoção internaci-
orientação dos mais jovens em seus temas de especialização, assim hoje colaborarm com o Grupo as professoras onal e a proteção da criança- Relatório da Associação de Direito Internacional", publicada no livro : -Homenagem
Fabiana D' Andrea Ramos (PUC/RS), Elaine Ramos da Silva (UFSMIRS), Sandra Lima Alves (CEUB/Brasilía), à Carlos Henrique de Carvalho, Ed.Revistas dos Tribunais, São Paulo, 1995, pg. 241ss
Sabina Cavalli (Católica!CE). Assim também colaboram os especializandos: Fabiano Mencke, Roberto Silva, 95 Veja tradução executada pela líder do grupo, para o português de artigo em espanhol do Prof. S. Stiglitz
Gustavo Aguiar, Alberto Franco, os mestrandos Cláudia Pitta Pinheiro (UFRGS) e Evelena Boenning (UFRGS) e (Universidad de Buenos Aires), publicado na Revista Direito do Consumidor, São Paulo, vol. 13, Janlmarço 1995,
o doutorando Fábio Costa Morosini, University of Texas, Austin. pg. 5 a 11, com o título: "Aspectos Modernos do Contrato e da Responsabilidade Civil"
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
o português e publicar na Revista do Basilcon inicialmente, de 1992 a 1998, ajudamos o os trabalhos de nossos correspondentes. 99 de saúde, coordenada nacionalmente pelo Prof.
(Revista Direito do Consumidor) e também na trabalho pioneiro e inovador de Antônio A pesquisadora líder é correspondente in- Dr. José Reinaldo de Lima Lopes (USP). Tive a
Revista da Faculdade de Direito UFRGS. Tam- Herman Benjamin, presidente e fundador do ternacional da Revista argentina, "Revista oportunidade de coordenar a pesquisa no Rio
bém organizamos e publicamos colabora- Brasilcon, 98 na editoração da Revista Di- de Responsabilidad civil y seguros", cujo Grande do Sul e Paraná, realizada no Rio Gran-
ções em espanhol de nossos "correspon- rei to do Consumi dor. Ao assumir a Diretor é o Prof. Atílio Alterni, publicado por La de do Sul com a ajuda da Docente convidada
dentes estrangeiros" ,96 especialmente nos- editoração da Revista, em 1998, criamos uma Ley, Buenos Aires e da revista belgo/inglesa, alemã, Dra. Harriet Zitscher e contando no
seção especial para doutrina internacional, Consumer Law Jornal, que tem como editores Paraná com a contribuição no levantamento dos
sos professores visitantes argentinos. 97
Quanto à editoração de Revistas Jurídicas, onde continuamos a publicar, em espanhol, gerais Thierry Bourgoignie (Uni v. de Louvain- casos da acadêmica da PUC/PR, Caroline Araú-
la-Neuve) e Geraint Howells (Uni v. of Sheffield), jo, também co-autora do relatório do Grupo.
publicada pelo Centre de Droit de la O Grupo fornece jurisprudência atu-
Consommation-CDC .100
96
Assim publicamos os trabalhos dos jovens professores e pesquisadores estrangeiros que se correspondem
alizada para a Revista do Instituto, Revista
com o grupo, Diego Fernandez Arroyo, argentino, professor na Univ. de Autonoma Madri (Sobre Ia
existência de una família jurídica latinoamericana, in Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, vo. 12, Outro exemplo de colaboração com o Direito do Consumidor, que atualmente co-
1996, p. 93 a 110), Gilles Cistac, francês, Diretor da Univ. de Maputo, Monçambique (Poder Legislativo Brasilcon foi a elaboração e a publicação do ordeno, revista especializada considerada
e Poder regulador na Constituição Moçambicana de 30 de novembro de 1990, in Revista da Faculdade de relatório de pesquisa exaustiva sobre seguro- a 3a Revista mais vendida pela Editora Re-
Direito da UFRGS, vo. 12, 1996, p. 148-160), Christoph Benicke, alemão, assitente na Universidade de vista dos Tribunais e editada em São Pau-
saúde realizado pelo grupo no TJ/RS da entra-
Heidelberg ( La convención sobre los derechos dei nino de las naciones unidas y la reforma dei derecho lo. Da mesma forma, a professora alemã Dra.
de custodia y de visita en Alemania, , in Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, vo. 13, 1997, p. 51- da em vigor do CDC até a elaboração da lei de
seguro-saúde, de 1996 a 1998. Este relatório foi Harriet Zitscher publicou pelo Brasilcon,
70), Erasmo Marcos Ramos, brasileiro, mestrando na Universidade de Heidelberg, Alemanha (A influên-
cia do BGB na parte geral do novo Código Civil português, in Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, publicado na Revista do Instituto (Revista Di- com apresentação minha, seu livro
vol. 15, 1998, p. 75-98). reito do Consumidor/RT) 101 e no livro do Insti- "Metodologia do ensino com casos práti-
tuto "Saúde e Responsabilidade" em 1998 e fa- cos- Exemplos do Direito do Consumi-
97
Yeja os artigos de Carlos Alberto Ghersi (UBA) publicados na Revista da Faculdade de Direito da
UFRGS (La contracción entre la reformulación de la categoria jurídica dei dano resarcible y ele acceso ai zia parte de uma pesquisa do Brasilcon sobre a dor"102, inaugurando uma nova linha de pu-
dano resacible en el final dei siglo XX, in vol. 11,1996, p. 24-39 e Posmodernidad jurídica- el analisis jurisprudência brasileira em seguros e planos blicações do Brasilcon/MG.
contextuai dei Derecho como contracorriente a la abstracción jurídica, in vol. 15, 1998, p. 21-32 ) e na
Revista Direito do Consumidor, de Ricardo Lorenzetti (UBA), publicados na Revista da Faculdade de
Direito da UFRGS (La descodificación y fractura dei Derecho Civil, in vol. 11,1996, p. 78-93 e Redes
Contractuales, in Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, vo. 16, 1999, p. 161-202) e na Revista 99 Assim foram publicados, na Revista Direito do Consumidor, os trabalhos de nossos correspondentes da
Direito do Consumidor e apresentação do livro de Lorenzetti publicado pela Editora Revista dos Tribu- Argentina: Gabriel Stiglitz- Modificaciones a la ley argentina de defesa dei consumidor y su influencia en el
nais (Fundamentos do Direito Privado), Maria Blanca Noodt Taquela (UBA), publicado na Revista da mercosur, RDC n.29- jan./mar. 1999, p. 9/20; Carlos Alberto Ghersi- La caracterización de los servicios
Faculdade de Direito da UFRGS, vol. 15, 1998, p. 181-192, Atílio Alterini (UBA), Informe sobre la professionales de la abogacia. El poder cultural y la desigualdad en la formación contractual. RDC n.25- jan./mar
Responsabilidad Civil en el Proyecto de codigo Civil de 1998,vol. 17, 1999, p. 3 e seg. e os publicados 1998, p. 9/18 e Consumo sustentable y medio ambiente, RDC n.31- jul./set. 1999, p. 971103; Medida anticipativa.
na Revista Direito do Consumidor. Prevención de agravamiento del dano a la persona, RDC n.32- out./dez. 1999, p. 1491154 e Esquema de una teoria
98
Assim foram publicados de nossos correspondentes, por inicativa do Dr. Benjamin, na Revista Direito sistemica del contrato, Revista n.33- jan./mar. 2000, p. 51177; Ricardo Lorenzetti- Redes Contractuales:
do Consumidor (RT, São Paulo), os seguintes trabalhos: Gabriel Stiglitz "O direito contratual e a prote- Conceptualización jurídica, relaciones internas de colaboración, efectos frente a terceros, RDC n.28- out./dez.
ção jurídica do consumidor". RDC n. 01, p. 184-199, "O Direito do Consumidor e as práticas abusivas- 1998, p. 22/58, Esquema de una teoria sistemica del contrato, RDC 33, jan/mar. 2000, p. 51177; Atilio Aníbal
Realidade e perspectivas na Argentina" RDC n.03, set/dez 1992, p. 27-35 e "Las acciones colectivas en Alterini- Tendencias en la contratación moderna, RDC n.31- jul./set. 1999, p. 104/114 e Roberto M. Lopez
proteccion dei consumidor"RDC n. 15,jul/set 1995, p. 20-27. Rúben S. Stiglitz "Aspectos modernos do Cabana- Defesa jurídica de los más débiles, RDC n.28- out./dez. 1998, p. 7/21.
contrato e da responsabilidade civil" RDC n. 13, jan/mar 1995, p. 5-11. Ricardo Luiz Lorenzetti 100 Veja Informações sobre jurisprudência e legislação brasileira, artigos de Claudia Lima Marques, no "Consumer
"Analisis crítico de la autonomia privada contractual" RDC n. 14, abr/jun 1995, p. 5-19. Atílio Aníbal Law Jornal" (CDC Publications, Bélgica), vol. 7 (1999), p. 108-109 e p. 119-120 :"Consumer car leasing
Alterini "Os contratos de consumo e as cláusulas abusivas", in RDC n. 15, jul/set 1995, p. 5-19 e contracts- Repayment indexed in dollars -Currency devaluation - Court applies principies of Consumer code" e
"Control de la publicidad y comercialización"RDC n. 12, out/dez 1994, p. 12-16; Roberto M. López "Brazil- New healph insurance law", no vo1.8 (2000), com Gabriel Stiglitz: "New Consumer Protection Laws in
Cabana "Ecología y consumo" RDC n. 12, p. 25-28 e, após, 1994: Gabriel A. Stiglitz - Danõ moral Mercosur" e a aparecer: "The cigarette industry have the burden of proving that nicotine is not addictive to
individual y colectivo, medioambiente consumidor y danosidad coletiva, RDC n.l9- jul./set. 1996, p. consumers".
68176, Atilio Aníbal Alterini- Bases para armar la teoría general del contrato em el derecho moderno,RDC 101 Relatório de Pesquisa quantitativa e qualitativa de jurisprudência gaúcha sobre seguro-saúde e o CDC, realizada
n.19- jul./set. 1996, p. 7/24; Rubén S. Stiglitz- Seguro contra la responsabilidad civil. Control estatal de pelo Grupo de Pesquisa CNPq "Mercosul e Direito do Consumidor", coord. Claudia Lima Marques e Harriet C.
las condiciones generales de la poliza- estado actual en los países del mercosul, RDC n.20- out./dez. Zitscher, conjuntamente com estudantes, publicado na Revista Direito do Consumidor (São Paulo), vol. 29, jan/
1996,p. 9114; Ricardo Lorenzetti- La relación de consumo: conceptualización dogmática en base al mar 1999, p. 88 a 105:"Relatório BRASILCON sobre seguro-saúde no TJRS, de 1991 até maio de 1998"
derecho del mercosur, RDC n.21- jan./mar 1997, p. 9/31; Rubén S. Stiglitz- La obligación precontractual
102Livro de Bolso, "Metodologia do ensino com casos práticos- Exemplos do Direito do Consumidor" Ed. Del
y contractual de información. El deber de conseso, RDC n.22- abr./jun. 1997, p. 9/25; Carlos Alberto
Rey, Belo Horizonte, 1999. Apresentação de Cláudia Lima Marques, p. 1 a 19.
Ghersi- Los profesionales y la posmodernidad- los abogados, RDC n.23/24- jun./dez. 1997, p. 9118.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
107
Em 1993 veja capítulo de Livro publicado na Argentina, "MERCOSUL - Perspectivas desde el Derecho
Privado", Carlos Alberto Ghersi(Director), Editorial Universidad, Buenos Aires, 1993, p. 167 a 209: Cap.VIII-
"Tranferencia de Tecnología." e 1996 - Parte Brasileira do Capítulo IX do Livro coletivo publicado na Argentina,
,,MERCOSUR- Perspectivas desde el derecho privado- Segunda Parte", org. Ghersi, Carlos Alberto, Editorial
Universidad, Buenos Aires, 1996, tradução para o espanhol de Carlos Alberto Ghersi, pg. 199 a 226: Cap.IX-"Los
derechos del consumidor. Una visión comparativa entre el Brasil y la Argentina. A) El Código Brasilefío de
103
São professores do Curso, além da autora, as professoras Vera Fradera, Martha Olivar e Fabiana Ramos, além Defensa dei Consumidor y el Mercosrn'' e em 2000 , capítulo de Livro publicado na Argentina, "Los Nuevos
do professor convidado DAAD/CAPES, Ulrich Wehner. Danos- Soluciones modernas de reparación", vol. 2, Carlos Alberto Ghersi (Director), Editorial Hammurabi,
104 Buenos Aires, 2000, traduzido para o espanhol, pg. 69 a 105: Cap.IV-"Contratos de Time-Sharing en Brasil y la
São professores do Curso do Departamento, além da autora, que o coordena junto com o Prof. Manoel André
protección de los consumidores: critica ai Derecho Civil en tiempos posmodernos".
da Rocha, as professoras Vera Fradera, Martha Olivar e Fabiana Ramos, além do professor convidado DAAD/
CAPES, Ulrich Wehner. 108
Assim foram publicado os artigos dos Assistentes da Cátedra de Carlos Alberto Ghersi, Manuel Cunha Rodriguez
105
Cooperaram com o Projeto os alunos Fábio Morosini e Fernanda Barbosa, além da líder do grupo. (El Sistema de Franchising y la tutela de los consumidores y usuários en el derecho argentino, in Revista da
106 Faculdade de Direito da UFRGS, vo. 13, 1997, p. 147-172), GracielaLovece (El tiempo compartido,, in Revista
Como conclama FERNADEZ ARROYO, Diego, Propuestas para la enseiíanza y la investigación deZ Derecho
da Faculdade de Direito da UFRGS, vo. 13, 1997, p. 131-146), Eduardo Barbier (La tutela dei cliente bancaria
Internacional Privado en América Latina, no livro "Jornadas de Derecho Internacional', Ed. OEA/Sec. de
desde Ia Iey de defensa dei consumidor en el derecho argentino, , in Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v o.
Asuntos Jurídicos, 2000, p. 93 a 112, há que se criar um "jurista americano abierto ai mundo",p. 96 e especialmen-
13, 1997, p. 99-116), Célia Weingarten (Estado de la doctrina y jurisprudencia en la responsabilidade medica, in
te frisar os estudos e pesquisas na "integración Iatinoamericana", p. 97.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, vo. 13, 1997, p. 39-50).
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 20, Outubro/2001
RESUMO: Abundam na mídia informações sobre o desempenho brasileiro nos testes internacionais de leitura, inferior ao de países com economia
muito menos avançada. Também não faltam comentários sobre a proliferação de cursos de Direito com baixa qualidade. De um lado, professores
do ensino fundamental e médio trabalham em péssimas condições, com remuneração, no mínimo, vexatória; de outro, professores do ensino
superior estarrecidos com a “qualidade” do novo acadêmico. Em meio a tudo isso fica o alunado: “mal lê, mal fala, mal ouve e mal vê”. Nesta
conjuntura sobressai a questão da leitura, que há muito tem preocupado os educadores e a sociedade em geral. É fato que os alunos pouco ou
nada lêem durante todo o processo de escolarização, deficiência que persiste mesmo diante do prejuízo para sua formação profissional. Quando
lêem, restringem-se a um baixo nível de compreensão das informações contidas em textos simples. Assim, o problema em torno do qual se firma
esta pesquisa é o do resgate da leitura nos bancos universitários, a partir da vivência coletiva e da cosmovisão artística e interdisciplinar, visto que
a leitura permite dialogar com diversas outras áreas do conhecimento, em suas várias interfaces. Para tanto, este projeto, posto em prática na
disciplina de Comunicação e Investigação Científica, tem por escopo explorar questões relacionadas à leitura aliando-a à expressão oral, com vista
à expansão e aprimoramento do conhecimento acadêmico. Pretende-se dinamizar o processo de leitura, com a conseqüente transformação do
aluno em cidadão, em falante e em leitor da sua própria língua e da ciência jurídica.
ABSTRACT: There are, inside the media, a lot of information about the Brazilian performance in international tests of reading, which is lower than
countries with its economy less advanced comparing to Brazil. Also comments about the Law schools proliferation with low quality exist. On the
one hand, teachers of the elementary and high school works in poor conditions with remuneration at least embarrassing; on the other hand,
college teachers astounded with the “quality” of the new college student. Among all of this, there are the learners: barely read and speak; barely
hear and see. In this context, the issue of the reading highlights, once it has been concerning the educators and the society in general for a long
time. It is a fact that the students do not read or do it very bad during the whole learning process, a deficiency that persists even standing the
damage for its own professional formation. When read, restrict itself to a low level of comprehension of the information founded in simple texts.
Thus, the problem around this research is the recover of the reading at the university field, starting from living as a group and from the artistic and
interdisciplinary cosmovision, once reading allows to dialogue with many other areas of knowledge in its various interfaces. This project, put into
practice at the Communication and Scientific Investigation subject, aims at exploring questions related to the reading, working together with the oral
expression, aiming the expansion and improvement of the student knowledge. It intends to improve the reading process with the consequent
transformation of the student into a citizen, a speaker and into a reader of its own language and of the juridical science.
*
Docente da disciplina de Comunicação e Investigação Científica no curso de Direito no Centro Universitário de Maringá – CESUMAR; Mestranda em Direito da Personalidade
no Centro Universitário de Maringá – CESUMAR; Licenciada em Letras e em Direito pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. E-mail: judithbede@cesumar.br
Buscou-se explorar o desenvolvimento de estratégias de leitura Diante deste estado de coisas, é preciso agir, buscar novos
que levassem o acadêmico do primeiro ano de Direito a tomar contato paradigmas, o que passa pela concepção de língua como discurso
com as leituras do universo jurídico e algumas boas obras da literatura que se efetiva nas diferentes práticas sociais, cabendo à escola
nacional, aprimorando-lhe o gosto e incentivando a perspicácia e agudeza oportunizar o contato com textos literários que aprimorem o
de sentidos, assim como a argumentação a partir de determinados pensamento crítico e a sensibilidade estética dos alunos; fomentando
pontos de vista. Boa literatura é como uma obra de arte: vem carregada o espaço dialógico e polissêmico da Literatura.
de prazer estético, primordial à humanidade. Assim, o problema em torno do qual se firma esta pesquisa é o do
Toda área dispõe de mestres, pesquisadores, estudiosos que, através resgate da leitura como forma de subsidiar o aluno no trato da vivência
de seu trabalho, ofereceram valioso contributo às ciências às quais se coletiva a partir da cosmovisão artística e interdisciplinar, visto que a Literatura
filiaram; nos bancos universitários são eles chamados de clássicos. dialoga, em suas variadas interfaces, com diversas outras áreas do
Entretanto, com o passar do tempo e as mudanças sociais e idiomáticas, conhecimento. Para tanto, haverá o estudo de questões relacionadas à
o acesso àquele saber fica mais “difícil”, falta intimidade com os termos leitura do texto literário, a partir do qual se pretende desenvolver práticas de
técnicos, faltam pré-requisitos cognitivos, são escassas as habilidades de estudo que conduzam à dinamização do processo de leitura com a
leitura e muito daquilo que é valioso, motivador e interessante, perde-se. conseqüente formação do aluno como leitor, sobretudo um leitor do universo
Quando se trata de uma ciência milenar como o Direito, a compreensão jurídico, e também da arte da palavra: a Literatura.
do desenvolvimento histórico-social e da evolução do pensamento jurídico O fracasso escolar, desde as séries iniciais, tem sido associado, de
em muito pode contribuir para a formação do acadêmico. Não obstante, a acordo com Magnani (1989, p.10), à falta de leitura, e isso se agrava quando
leitura dos clássicos da área, da boa literatura, das matérias bem redigidas se fala de formação profissional, pois existe o pressuposto da leitura para
dos melhores jornais, habilita o aluno a conviver com o outro de modo aprimoramento, complementação e descoberta de conhecimentos através
mais abrangente, tornando-o homem mais completo, cidadão cônscio de do ato de ler. À deficiência da leitura da palavra junta-se a falta de leitura de
seus direitos e deveres, profissional apto a diligenciar em favor do direito mundo, como diria Paulo Freire, e o resultado é um acadêmico que se ilude
de seu cliente ou a aplicar a melhor interpretação da lei ao caso concreto. acerca do desenvolvimento de seus conhecimentos - além de um professor
Ler, para o acadêmico de Direito, é pressuposto fundamental. desestimulado, pois sente estar sempre voltando a etapas iniciais, dizendo o
dito. A conseqüência disso é o fracasso do cidadão, uma vez que sua
2 DESENVOLVIMENTO compreensão fica turvada, sua ação não tem objetivo, se é que se pode falar
de ação. Forma-se um homem pela metade: alijado do poder da arte literária
2.1 LEITURA, LITERATURA E ARTE e da força dos argumentos e inconsciente da potência do discurso, vai
sendo engolido por ele. Mostrar ao aluno que a leitura está ligada ao prazer
No intuito de buscar soluções para o déficit de leitura demonstrado estético e à arte de dizer, em muito contribui para que ele veja o mundo que
pelos alunos do curso de Direito, buscou-se a melhor teoria sobre os o cerca. A esta idéia se filia Fischer (2002, p. 19):
problemas da leitura na escola. O ponto de partida está no próprio homem.
O ser humano, à semelhança das formigas, símios e cupins, vive em O poder educacional e social das palavras e
das imagens é pacifica-mente reconhecido.
sociedade; no entanto, diferentemente dos animais, não apenas se
Uma obra de arte é encarada não como um
movimenta em meio à natureza, mas age motivadamente, visando atingir acontecimento efêmero, mas como uma ação
um objetivo; transforma a natureza, a si mesmo e aos outros a partir de cujas conseqüências alcançam muito longe:
seus atos; como ser social, precisa conviver. Aliás, já dizia Aristóteles: “O nascida do real, ela reage sobre a realidade.
homem só ou é um bruto ou é um deus”. Ocorre que, desde a Revolução
Industrial até nossos dias, houve um processo crescente de mecanização A leitura, assim, transmuta-se em meio de difusão da arte, da cultura,
da vida, e a sociedade, dividida em classes, gera um homem insociável, do saber acumulado. Alfredo Bosi (2002, p. 109) defende a idéia de que,
ou seja, desligado do compromisso de conviver. em tempos de televisão e cinema muito evoluídos, a leitura, sobretudo
A grande expansão do mercado livreiro deixa entrever que o problema dos textos clássicos, parece ter perdido o fascínio, sendo fulminada pela
da leitura encontra ainda outro percalço: a massificação e a crise da boa comodidade da imagem pronta.
leitura. Para Alfredo Bosi (1999, p. 108), o indivíduo foi massificado. A Não se advoga contra os recursos tecnológicos, mas há que se
complexidade da leitura dá lugar ao folhetim de qualidade duvidosa e ao compreender que, se o aluno de outras épocas chegava aos bancos
apelo aos sentidos, perdem-se valores e padrões estéticos. A leitura universitários com poucas leituras, isso se devia, muitas vezes, à falta
passou a ser mercadoria vendida no shopping neste século de extremos. de acesso ao livro, ao passo que o acadêmico de hoje tem o acesso,
as condições e até facilidades, mas não se interessa por um meio Assis, além de diversos excertos de textos interessantes, promoveu-se
menos imediatista que os jogos eletrônicos, filmes e programas, em amplo debate sobre a natureza humana do ponto de vista dos autores dos
que se torna mero ouvinte, platéia muda. A leitura exige participação. textos. Seguiu-se a leitura do clássico jurídico “Como nasce o Direito”, de
Desta feita, novos tempos exigem novos paradigmas, cabendo Francesco Carnelutti, em consonância com os conteúdos abordados na
aos operadores da educação superior oportunizar o contato com textos disciplina de Economia Jurídica. Eram freqüentes os debates, a produção
literários, com doutrinas clássicas, com obras de relevo, aprimorando de parágrafos de forma individual, em duplas e equipes, o que favorece a
o pensamento crítico e a sensibilidade estética dos alunos; fomentando troca de idéias e amplia a compreensão a partir da visão do outro,
um espaço dialógico e polissêmico, que estimule a leitura e a reflexão acrescentando-se, neste ponto, a necessidade de exercitar o respeito à
sobre ela. O ato da leitura é complexo, exigindo amadurecimento do diversidade na convivência social necessária.
leitor, ainda mais quando o texto tem alto padrão e valor estético O passo seguinte, já no segundo bimestre, exigiu uma leitura mais
A sociedade cria o homem a partir de um modelo preexistente, complexa, recheada de termos técnicos e conceitos jurídicos: o livro de
impondo ideologias, por isso não é neutra, mas plena de significado. Roberto Lyra Filho “O que é Direito”. Em sala de aula, após a leitura,
Desse modo, não pode a academia deixar o indivíduo à mercê das realizada pela maioria dos acadêmicos, aliou-se à compreensão básica
ideologias dominantes, mas deve oferecer-lhe os meios para compreender a exposição de técnicas de resumo e fichamento. Primeiramente,
o universo no qual se insere. Para Bordini e Aguiar (1993, p.11-12), é comentou-se em sala a obra como um todo, colhendo-se dúvidas
inegável o prestígio conferido ao texto escrito e a desvalorização daqueles surgidas durante a leitura. Posteriormente, a professora releu com os
que não dominam o código. O livro, detentor por excelência do texto alunos o capítulo inicial, marcando trechos de destaque e registrando-
escrito em código verbal, é o mediador do conhecimento e pertence à os no quadro. Para o capítulo segundo, os trechos de destaque foram
classe dominante, que veicula apenas a sua versão da realidade. De dados pelos alunos seguindo-se um roteiro oral, do tipo perguntas e
acordo com as autoras supracitadas, o ser humano busca dar sentido à respostas, dado pela professora. Para os dois últimos capítulos, os
sua existência e ao mundo que o cerca, e o livro pode ser o veículo para alunos elaboraram o resumo e realizaram o fichamento para estudo da
este diálogo, e mais ainda aqueles livros que, por sua abrangência, atingem obra. A fim de exercitar o raciocínio lógico e a capacidade de comparação,
uma significação mais ampla. explorou-se a música “O meu país”, cantada por Zé Ramalho,
Desse modo, o primeiro aspecto a ser considerado é o da leitura-frui- estabelecendo-se relações entre a teoria do direito e sua prática na
ção, tentando provocar no aluno a emoção do belo; para tanto, serão pro- sociedade brasileira contemporânea. Na ocasião, casos recentes de
movidos cotejamentos de textos variados, filmes, dramatizações. A leitura crime e corrupção foram analisados a partir de noticiários de TV e
será tomada como espectro de possibilidades a partir da exploração de reportagens do jornal escrito. Diante da superação de muitas das
textos variados (no sentido mais abrangente que a palavra texto possa dificuldades iniciais, introduziram-se, no terceiro bimestre, as aulas de
comportar, significando todo material visual, audiovisual, verbal ou não- teatro e a solicitação de leitura de uma obra de fôlego “A cidade antiga”,
verbal). O intuito é desenvolver, reavaliar, aplicar e criar técnicas de mo- de Fustel de Coulanges. Em consonância com a disciplina de Ciência
tivação da leitura que efetivem a melhora da leitura e da qualidade do leitor. Política, foi recomendada a leitura do livro “O povo brasileiro”, de Darci
Ribeiro, além de termos assistido partes do documentário de mesmo
2.2 ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E TRABALHO nome, o qual prendeu muito a atenção de todos, gerando reflexão. Nas
aulas de teatro, exploram-se a expressão corporal, a concentração, a
A fim de dar conta dos objetivos a que o projeto se propôs, atacou-se a dicção, a postura, o volume adequado à exposição oral de conteúdos,
capacidade de compreensão de textos escritos curtos, chegando-se até os enfim. Ainda no terceiro bimestre, desenvolveu-se a idéia de um
mais longos e finalizando-se com a leitura completa de obras ligadas ao uni- seminário dramatizado, a saber, a junção de teoria e prática, um recurso
verso jurídico. Para tanto, foram usados os recursos de análise lingüística, criado pela professora para que os alunos leiam, escrevam, expliquem
gramática aplicada e exposição de conceitos jurídicos e idiomáticos funda- e dramatizem capítulos da obra de Coulanges, o que lhes oferece a
mentais à compreensão dos textos, trabalhando com acadêmicos de pri- oportunidade de trabalhar individualmente enquanto leitores e
meiro ano de Direito dos períodos diurno e noturno - por volta de 200 alunos. coletivamente, na qualidade de componentes de um grupo que deverá
Os métodos utilizados são os mais comuns em pesquisa jurídica: o explanar um tema. É obrigatória a pesquisa sobre a situação do Direito
indutivo, o dialético e o sistêmico. Foram utilizados testes de concursos na Antigüidade e atualmente, comparando-se práticas sociais e jurídicas;
públicos, inicialmente, partindo-se para a leitura do livro de Paulo Freire: “A o que lhes exige pesquisa e leitura da legislação e da doutrina, além do
importância do ato de ler”, com destaque para as idéias principais nele que lhes é dado no primeiro ano. Foi freqüente a relação estabelecida,
contidas. Em seguida, com o conto “A igreja do diabo”, de Machado de pelos próprios alunos, com conteúdos ministrados pelos demais
12. Explique com suas palavras como Carnelutti desenvolve a e adequação” e escapam ao que é “verdadeiro e correto”
idéia de que pela propriedade chegou-se ao direito de crédito, juridicamente”. O que ele quis dizer? Você concorda? Por quê?
ressaltando a importância deste instituto para o direito. 5) Gramsci, importante líder marxista italiano, defendia: “a visão
13.Explique a seguinte assertiva: “Pode-se comparar a dialética precisa alargar o foco do Direito”. Qual a abrangência deste
economia à terra sobre a qual a ética espalha sua semente; sobre posicionamento? Explique o que ele quis dizer.
essa terra e dessa semente nasce, cresce e agiganta-se o direito. 6) Dentro da temática da ideologia abordada no livro, explique a assertiva:
Por analogia, não há, no complexo ordenamento jurídico, uma “O ‘discurso competente’, em que a ciência se corrompe a fim de servir à
vegetação mais luxuriante do que a do contrato”. dominação, mantém ligação inextrincável com o discurso conveniente”.
14.O que é e como deve ser o ler, de acordo com Carnelutti? 7) Quais os principais modelos de ideologia jurídica citados no início
15.Existe, para Carnelutti, relação entre o progresso da do segundo capítulo? Como se caracterizam? Que autores são citados?
sociedade e o número de leis criadas para ela? Quais as palavras-chave para estes modelos? Há uma subdivisão nesses
16.O que vem a ser a “Lei das XII Tábuas”? E o “Código de modelos? Seja abrangente na resposta, mas sem copiar do livro.
Hamurabi”?
17. Qual a concepção de juízo defendida pelo autor? 3.3 SEMINÁRIO DRAMATIZADO
18. Explique a evolução do Estado a partir da célula familiar,
ressaltando pontos relevantes desse desenvolvimento histórico A leitura do livro “A cidade antiga” foi solicitada com bastante antecedência,
explicitados no capítulo VIII do livro mas contando-se com as dificuldades de compreensão e concentração e
19. Pode-se dizer que a “previsão” de Victor Hugo (1851) realizou-se? com a possível resistência à leitura de uma obra de mais de quatrocentas
20.Se Estado e Direito se encontram tão intimamente páginas, optou-se por um trabalho em grupo. A fim de deixar claros os
relacionados que um pressupõe a existência do outro, seria correto objetivos do trabalho e o processo de desenvolvimento, foi dado ao aluno um
afirmar que a globalização atual poderia corresponder a um Estado roteiro com as regras do trabalho a ser desenvolvido.Além disso, as equipes
Internacional? Explique de acordo com o seu entendimento do texto. puderam marcar horário para atendimento com a professora, a fim de
21. Direito e justiça são a mesma coisa, de acordo com o autor? sanar dúvidas e discutir idéias. O roteiro não foi discutido em sala, mas
Explique. disponibilizado no sistema aluno on line. O intuito deste ato foi, justamente, o
22. “Se o Direito é um instrumento da justiça, nem a técnica nem a de promover a leitura, uma leitura que, para o acadêmico, se tornaria
ciência bastam para saber manejá-lo. (...) mas qualquer um de nós fundamental.As perguntas direcionadas à professora deixaram claro quais
tem o dever de fazer o quanto puder para alcançar esse objetivo (a os problemas mais comuns no campo da compreensão de textos
justiça)”. O que você compreende desta afirmação de Carnelutti? instrucionais, os quais são comuns no cotidiano de todos os indivíduos
letrados, da receita de bolo à receita de remédio, passando pelos manuais
3.2 “O QUE É DIREITO” dos utensílios da casa e os cadastros em sites, onde seguir instruções é
fundamental. Eis as instruções dadas:
Considerando a complexidade da leitura do livro “O que é Direito”, o
professor deve retomar alguns conceitos, até mesmo discutir a SEMINÁRIO DRAMATIZADO_ORIENTAÇÕES GERAIS
organização do livro, que pode ser feita oralmente, mas seguindo um 1. O que é?
roteiro que leve o aluno a compreender a leitura, a assimilar os conteúdos 2. Para que serve?
ali veiculados. Um exemplo de questões a serem vistas é o que segue: 3. Como deverá ocorrer?
4. Quem participará?
1) A organização topográfica proposta pelo autor (colocação de 5. Quanto vale?
capítulos, itens, seqüência) favoreceu a leitura? Seguiu uma ordem
de complexidade? Propôs retomadas de temas citados em capítulos Caros alunos, penso que alguma(s) pergunta(s) acima ainda possa(m)
antecedentes ou exigia conhecimento sobre teorias jurídicas? estar ecoando na cabeça de muitos; assim, aproveito o serviço do aluno on
Explique como você realizou a leitura. line, que a instituição oferece, para trazer, por escrito, mais detalhes.
2) Existe diferença entre lei e direito?
3) Seria correto afirmar que da lei emana o Direito? 1. O que é?
4) Roberto Lyra, autor do livro estudado, afirma na p. 09 que Um seminário é um trabalho acadêmico que tem como meta a
também no Socialismo “surgem leis que carecem de “autenticidade exposição e o debate de assuntos explorados por grupos de estudos
a partir da explanação de cada um dos participantes. Já uma a) ajudar o aluno a compreender os conteúdos veiculados por
dramatização tem por escopo tornar ou procurar tornar interessantes diversas fontes de pesquisa;
(curiosos, dramáticos ou comoventes) fatos, situações, problemas, b) explorar o trabalho em grupo como ferramenta do profissional
narrativas (HOLANDA, 1998). do Direito;
A modalidade seminário dramatizado foi desenvolvida pela c) favorecer a oralidade, muito negligenciada no ensino
professora com o objetivo de reunir os dois elementos, portanto, a fundamental e médio e essencial para a nossa área;
partir do estudo do grupo, haverá a explicação de um dos conteúdos d) oportunizar situações de postura pública com certa carga de
previamente selecionados, juntamente com a dramatização dos estresse;
fatos que envolvem o citado conteúdo. e) por meio da discussão em grupo e da elaboração de material
Assim, os grupos estão cientes de que deverão apresentar-se a ser repassado aos colegas, aprimorar a prática da pesquisa e da
contemplando os dois requisitos. escrita em língua padrão;
Para o seminário, considera-se correto que a equipe escolha f) o aluno se fazer entender oralmente e por escrito;
ou combine alguns dos elementos abaixo: g) completar o entrosamento entre colegas a partir da base do
a) cartazes; respeito mútuo, havendo situações de embate, discussão e
b) lâminas de transparência; concórdia a serem resolvidas internamente;
c) eslaides do power point; h) gerar um ambiente de parceria responsável, uma vez que
d) material fotocopiado; todos os conteúdos poderão ser objeto de avaliação escrita posterior.
e) banner;
f) apostilas; Enfim, como podem ver, o presente trabalho é um recurso
g) imagens e textos variados. didático muito valioso e que não deve ser negligenciado.
Para a parte a ser dramatizada, o grupo deverá atentar para a 3.Como deverá ocorrer?
presença de: Uma vez organizados os grupos, com as devidas datas
a) cenário mínimo; agendadas, cada equipe terá em torno de 20 minutos para se
b) caracterização das personagens; apresentar (não menos que 10 nem mais que 30 minutos).
c) diálogos claros e compreensíveis; Durante a apresentação, a equipe deverá observar os critérios
d) fala audível para todos os presentes; salientados nos itens anteriores, sempre respeitando colegas e
e) obediência aos conteúdos do livro; professores e tentando ser o mais clara possível nas suas explanações.
f) relação com a atualidade. O grupo que, por qualquer motivo, não se apresentar no dia e
Os alunos podem optar por registrar previamente em material local marcados, sofrerá como sanção a perda total dos pontos do
audiovisual seu trabalho, mas este deve obedecer aos mesmos trabalho (4,0, a saber).
critérios acima, assumindo a equipe a responsabilidade por Nos casos legais previstos pela instituição para faltas, o grupo
eventuais problemas técnicos. deverá encaminhar requerimento escrito e documentado para a
professora com, no mínimo, 24 horas de antecedência, solicitando
Pressupostos mínimos: nova data para apresentação.
a) leitura do capítulo com o qual se comprometeu; Caso seja marcada nova data, esta NÃO se prenderá a dias de
b) compreensão suficiente para solidarizar as informações mais aula da disciplina ou a dias letivos.
relevantes, interessantes, curiosas; Se apenas um elemento do grupo enquadrar-se numa das
c) pesquisa em outros materiais como forma de enriquecer sua situações anteriores (abandono ou falta justificada), deverão os
apresentação, compreensão e repasse para os colegas; demais integrantes substituí-lo como possível, a fim de não se
d) ambos – seminário e dramatização - serem trabalhados, prejudicarem ou trazerem prejuízo aos colegas.
não importando a ordem em que apareçam; Ao final da apresentação do seminário dramatizado, os alunos
e) fazer a relação da Antigüidade com a atualidade. poderão fazer perguntas aos colegas para o esclarecimento de
eventuais dúvidas. O fato de o grupo, porventura, não saber
2. Para que serve? responder a alguma questão, não trará prejuízo à equipe.
O presente trabalho servirá para:
4. Quem participará? 2. Quais informações são muito importantes e quais dados são
Participam do evento todos os acadêmicos de primeiro ano de secundários?
Direito, matutino e noturno, regularmente matriculados no Cesumar. 3. Qual é o problema a ser resolvido?
Os alunos em dependência ou adaptação poderão anexar-se a 4. Esquematize todos os elementos do problema.
qualquer grupo ou entrar em contato com a professora para fazerem 5. Registre tudo até aqui.
o trabalho correspondente. 6. Extraia informações de um documento e tome notas de
comunicação oral.
5. Quanto vale?
A apresentação (seminário dramatizado), juntamente com o APRENDER A SINTETIZAR
respectivo resumo, valerá 4,0 (quatro) pontos, sendo 3,0 (três) para 7. Estruture a resolução do problema;
o dia do evento (apresentação) e 1,0 (um) para a parte escrita, que 8. organize informações sobre o tema;
deverá estar em conformidade com as regras para trabalhos científicos
da instituição disponíveis no site. Por isso, todos da equipe devem APRENDER A DEDUZIR (apoiar-se em princípios e deles
“falar” no dia e escrever bem o texto!!! extrair conseqüências para um fato)
Para a apresentação serão observados: empenho, desenvoltura, 9. Quais conclusões lógicas poderiam ser feitas?
domínio do assunto, dicção, clareza na exposição de idéias, recursos
utilizados e demais elementos que possam ser explorados pelo APRENDER A COMUNICAR-SE
grupo para transmitir o conteúdo do seu trabalho. 10. Conte a história com outras palavras:
6.No dia da apresentação, já marcado, a equipe deverá entregar a) deixando a situação melhor;
o resumo impresso da parte que lhe coube, incluindo as falas de b) deixando a situação pior.
encenação e detalhes pertinentes da apresentação, indicando a
função de cada elemento da equipe. Ao final, deverá ser anexada APRENDER A DECIDIR (julgar e estabelecer planos de ação)
uma conclusão da equipe. Este trabalho será, em seguida, enviado APRENDER A AGIR (a partir dos planos, dar vida aos projetos)
por e-mail para a professora, no formato de documento do Word e APRENDER A REFAZER (fazer ajustes nos planos ou decisões)
disponibilizado para os colegas no aluno on line. Dadas as bases para o raciocínio dos casos, a turma é dividida
7. Alunos de DP e ADAP deverão procurar a professora para em equipes:
fazerem o respectivo trabalho; 1. Defesa;
8. Caso ainda restem dúvidas, por favor, entrar em contato com 2. Acusação;
a professora no horário de aula. 3. Magistrados;
Sucesso! Beijo carinhoso, abraço apertado! Profª Judith Bedê 4. Jurados;
Invoca-me no dia da angústia, e eu te livrarei, e tu me 5. Réus e testemunhas;
glorificarás” Salmos 50:15 “ 6. Dois indivíduos para registro do evento.
3.4 JÚRI SIMULADO Definidas as funções, são discutidas com a turma as condições
de uso da palavra, o tempo de intervenção, o devido respeito aos
O recurso do júri simulado como técnica de trabalho traz resultados colegas, a forma de votação. Tenta-se seguir, ao máximo, o rito do
muito alentadores, porque o aluno de Direito vivencia, pelos meios de tribunal do júri, fazendo as adaptações necessárias.
comunicação de massa, sobretudo a televisão, situações em que o Direito O resultado é uma turma comprometida com a argumentação,
é discutido. Pelo fato de ser ligada à sua opção profissional, essa é uma lendo teses sobre as obras, buscando soluções em códigos e minúcias
atividade que lhe desperta interesse e para a qual ele já vem motivado. do texto escrito que poderão ajudá-los no deslinde da situação.
Assim, o roteiro básico de trabalho envolve algumas etapas, a saber:
Pede-se que leiam os livros:”O caso dos exploradores de 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
cavernas” e “O caso dos denunciantes invejosos” de Lon Füher e
refletam seguindo os passos dados: Favorecer a leitura, estimular a oralidade, proporcionar
APRENDER A VER + APRENDER A INFORMAR-SE crescimento e emancipação são papéis da escola em todos os
1. Qual a situação? níveis, e quando o ensino superior se propõe a resgatar alunos,
buscando soluções para os problemas que o atingem, está-se COULANGES, Fustel de. A cidade antiga: estudos sobre o culto,
cumprindo o papel social da educação. o direito e as instituições da Grécia e de Roma. Tradução de Edson
Ainda que os resultados só sejam percebidos a longo prazo, não é Bini. São Paulo: Edipro, 1998.
recomendável desistir, porque se a leitura é relevante para o acadêmico
do curso de Direito, ainda é mais importante para o homem que, convivendo FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. Tradução de Leandro
com outros homens, transforma tudo o que o cerca. A percepção estética, Konder. 9. ed. Rio de Janeiro: Guababara Koogan, 2002.
o trato com o próximo, as lições de solidariedade, o companheirismo
desenvolvido, a responsabilidade cobrada e assumida trarão ao aluno FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três volumes
mais que um diploma para o exercício profissional, pois o estudo, a leitura, que se completam. 42. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
a pesquisa e a prática do raciocínio lógico são recursos que possibilitarão
ao acadêmico acesso a uma formação em humanidades capaz de FÜHER, Lon. O caso dos exploradores de cavernas. São Paulo:
transformar sua vida e a dos que o cercam. É esse o maior papel da RT, 2005.
educação: favorecer o pleno desenvolvimento das potencialidades do
homem a fim de fazê-lo conviver com outros homens segundo os preceitos ________ . O caso dos denunciantes invejosos. Tradução de
de justiça, honradez, dignidade e sabedoria; enfim, fornecer-lhe os meios Dimitri Domoulis. São Paulo: RT, 2005.
de acesso aos instrumentos de uma vida feliz.
HOLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário eletrônico Aurélio.
REFERÊNCIAS Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
ASSIS, Machado de. A igreja do diabo. In: OBRA COMPLETA de LIRA FILHO, Roberto. O que é Direito. São Paulo: Brasiliense,
Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. II. 1996. (Coleção Primeiros Passos).
Disponível em: < http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/diabo.html>
Acesso em: 20 fev. 2007. MAGNANI, Maria do Rosário Mortatti. Leitura, Literatura e
escola: sobre a formação do gosto. São Paulo: Martins Fontes,
BORDINI, Mª da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura e 1989.
formação do leitor: alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1993. MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Rio de
Janeiro: Editora Sabiá,1969.
BOSI, Alfredo. Literatura na Era dos Extremos. In: AGUIAR, Flávio.
Estudos em Homenagem a Antônio Cândido. São Paulo: RIBEIRO, Darcy. O Povo brasileiro: a formação e o sentido do
Humanitas, 1999. Brasil. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
1. Introdução
Apesar de o enfoque deste capítulo ser o fichamento,
destacamos que as três formas básicas de apresentação de
análise do texto acadêmico podem ser: fichamentos, resumos
e resenhas. Entre os manuais metodológicos é comum dizer
que fichar, resumir e resenhar documentos fazem parte dos
métodos de [1] estudo do pesquisador iniciante. Na verdade
fazem parte dos métodos de quase todo pesquisador que lida
com fontes e registros de informação.
Esses elementos do processo da documentação e da
pesquisa não são estanques e nem se isolam em suas etapas
e formas de desenvolvimento. Pode-se fichar um documento
e, logo em seguida, usar o fichamento para confeccionar um
resumo ou uma resenha.
Além de recursos essenciais para estudantes e pesqui-
sadores, fichamentos, resumos e resenhas acadêmicos tam-
bém são parte das atividades cotidianas de trabalhos em
disciplinas e relatórios de pesquisa. Portanto, podem ser con-
siderados etapas de investigação acadêmico-científica.
No caso dos trabalhos acadêmicos não há um único
método de desenvolvimento ou padrão de apresentação. Pro-
fessores requisitam esses trabalhos como atividade e podem
se apoiar em concepções e formatos distintos de fichamentos,
resumos e resenhas. Dessa maneira, mesmo sabendo como
121
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
122
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
123
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
2. Formas de análise
Salomon (2001, p.91) diz que resumir faz parte da vida
dos estudos, porém, esse exercício intelectual torna-se evi-
dente, e frequente, na universidade, seguindo também como
uma necessidade na vida profissional.
O autor revela ainda que os estudantes têm dificulda-
des em resumir, encontrar as ideias centrais e detalhes do
texto lido. Assim, Salomon (2001, p. 92-94), indica duas “fon-
tes” principais dessas dificuldades.
Dificuldades do estudante: alguns têm facilidade em
encontrar semelhanças (processo de síntese), outros, diferen-
ças (processo de análise). O principal problema, no entanto,
reside no fato de, diante da necessidade de identificar o que
é “fundamental, integrante ou acessório”, acaba-se agindo
de forma apressada e retirando, de forma irrefletida, partes
e mais partes do texto. “Antes tudo do que nada.”, conforme
diz o autor.
124
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
125
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
126
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
127
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
128
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
129
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
130
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
ESPISTEMOLOGIA
Conceituação
131
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
132
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
EPISTEMOLOGIA
JAPIASSU, Hilton F.
O mito da neutralidade científica
Rio, Imago, 1975 (Série Logoteca), 188p.
Resenhas: Reflexão I (2): 163-168. abr. 1976.
Revista Brasileira de Filosofia 26
O texto visa fornecer alguns elementos e instrumentos introdutó-
rios a uma reflexão aprofundada e crítica sobre certos problemas
epistemológicos (p.15) e trata da questão da objetividade científica,
dos pressupostos ideológicos da ciência, do caráter praxiológico das
ciências humanas, dos fundamentos epistemológicos do cientificis-
mo, da ética do conhecimento objetivo, do problema da cientificida-
de da epistemologia e do papel do educador da inteligência.
Embora se trate de capítulos autônomos, todos se inscrevem dentro
de uma problemática fundamental: a das relações entre ciência obje-
tiva e alguns de seus pressupostos.
O primeiro capítulo, “Objetividade científica e pressupostos axio-
lógicos” (p.17-47), coloca o problema da objetividade da ciência e
levanta os principais pressupostos axiológicos que subjazem ao pro-
cesso de constituição e de desenvolvimento das ciências humanas.
No segundo capítulo, “Ciências humanas e praxiologia” (p.49-70),
é abordado o caráter intervencionista destas ciências: elas, nas suas
condições concretas de realização, apresentam-se como técnicas de
intervenção na realidade, participando ao mesmo tempo do descri-
tivo e do normativo.
No terceiro capítulo, “Fundamentos epistemológicos do cientificis-
mo” (p.71-96), o autor busca elucidar os fundamentos epistemoló-
gicos responsáveis pela atitude cientificista e mostra como o méto-
do experimental, racional e objetivo, apresentando-se como único
instrumento particular da razão, assumiu um papel imperialista, a
ponto de identificar-se com a própria razão.
133
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
134
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
JAPIASSU
1934-
135
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
136
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
Exemplos de fichas
137
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Tópicos para o Ensino de Biblioteconomia
138
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
José Fernando Modesto da Silva e Francisco Carlos Paletta
Referências
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Tradução Gilson Cesar
Cardoso de Souza. 25. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.
LÉTOURNEAU, Jocelyn. Como fazer uma resenha de leitura.
In:_________. Ferramentas para o pesquisador iniciante. São
Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 19-35.
MACEDO, Neusa Dias de. Iniciação à pesquisa bibliográfica:
guia do estudante para a fundamentação do trabalho de pes-
quisa. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1994.
SALOMON, Délcio Vieira. Como resumir. In:________. Como
fazer uma monografia. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2001. p. 91-120.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científi-
co. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
139
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
GÊNEROS TEXTUAIS PRÓPRIOS DA COMUNIDADE DISCURSIVA FORENSE
ABSTRACT: This work aims the investigation of the several criminal suit court record text categories: types,
genres and species (according to TRAVAGLIA, 2003a) which are used in our society in the criminal court.
Therefore, our intention is to verify the existence of these several categories of texts and verify in the genre
“sentence” the reflexes, by means of linguistic marks, of those text genres which were used in criminal processes
and motivated the judge to make up his decision and declare his “sentence”. Once the law science depends
substantially on the language which can not nominate different institutes with the same name neither can it
nominate the same institutes with different names. Such analyses and characterizations are based on the
foundations of the Text Linguistics, the Theory of the Speech Acts (AUSTIN, 1962), The Communicative Action
Theory (HABERMAS, 1983), as well as the postulate of Discourse Communities (SWALES, 1990).
1. Introdução
Este estudo tem como finalidade investigar as várias categorias de texto forenses da
área criminal: tipos, gêneros e espécies (segundo TRAVAGLIA, 2003a) que circulam em
nossa sociedade. Destarte, é necessário contemplar a idéia de que grande é o número das
categorias de texto que circulam em nossa sociedade e que cada época vive um complexo de
regras que lhe são próprias, ou seja, não desprezam o passado, não rompem com as tradições,
contudo, modelam ou disciplinam os fatos humanos, segundo as exigências do seu momento.
Norteia-se, este estudo, teoricamente pelos estudos da Lingüística Textual e pelas
reflexões sobre as mais variadas categorias de texto presentes no nosso dia a dia forense,
sobre as quais manuais de advogados ora se referem como peças processuais, ora como
processo, ou simplesmente pela terminologia jurídica proposta na legislação, que muitas vezes
leva ao erro, uma vez que não possui um rigor da terminologia na linguagem jurídica. Haja
vista, que o rigor da ciência jurídica depende substancialmente da linguagem, não devendo
designar com um nome comum institutos diversos, nem institutos iguais com nomes
diferentes. O legislador não abraçou, porém, critério lingüístico e divorciado de qualquer
preocupação científica ou sistemática, preferiu, em cada lei, as soluções meramente empíricas.
As análises dos gêneros textuais que mais influenciam o juiz ao proferir sua sentença
norteiam-se, também, pelos pressupostos teóricos da Teoria dos Atos de Fala (AUSTIN,
1962), da teoria da Ação Comunicativa (HABERMAS, 1983), assim como do postulado
teórico de Comunidades Discursivas (SWALES, 1990).
Sobre o ato de fazer pesquisa e sobre as conseqüências éticas das escolhas envolvidas
na pesquisa. Em consonância com Cameron et al (1992), entendemos que os pesquisadores
são pessoas posicionadas socialmente, e assim, trazem, inevitavelmente, seus pensamentos e
tudo o que constitui sua subjetividade para dentro dos processos de pesquisa com os quais se
envolvem. No entanto, segundo os mesmos autores, essa subjetividade não deve ser vista
como algo negativo, mas como “um elemento presente nas interações humanas que incluem o
objeto de estudo” (CAMERON et al, 1992, p.5).
Assim, estando na posição de pesquisadora de um tema interdisciplinar, crítico (não
ingênuo)1 não podemos ignorar “as condições afetivas, sociais e históricas, sob as quais
1
Entendemos que a interdisciplinaridade é uma questão de atitude, está longe de ser apenas fusão de conteúdos
ou métodos, e, ao invés de se prender nos elementos, busca sempre as relações entre eles, ou seja, trabalha-se
sempre com uma estrutura de relações. Não se realiza sob ordens/decretos, nem tampouco tem etapas definidas
2028
que possam ser aplicadas indiscriminadamente, é um processo que se desenvolve de acordo com as necessidades
específicas de cada contexto e estudo.
2
"Senso comum", seria, na nossa opinião, uma analogia com a formulação de Bakhtin (1997) sobre a
circularidade da cultura, em que existe uma influência recíproca entre a cultura das classes subalternas e a
cultura hegemônica. As formas ideativas do "senso comum" concebido para analisar como determinadas "idéias
e noções" científicas são apropriadas pelo conhecimento ordinário.
2029
2. Fundamentação teórica
3
O juiz não pode julgar fora do que foi apresentado nos autos do processo mesmo que ele tenha conhecimento
de algo que não foi citado no processo ‘extra petita’. Também não pode julgar além do que foi pedido ‘ultra
petita’.
2030
Finalmente Swales (1990) esclarece que as comunidades de fala são centrípetas, pois
tendem a absorver as pessoas enquanto que as comunidades discursivas são centrífugas e
tendem a separar as pessoas em termos de ocupação ou grupos de interesses. O autor advoga
que uma ‘comunidade de fala’ herda sua participação por meio do nascimento, por acidente
ou por adoção enquanto que uma ‘comunidade discursiva’ recruta seus membros por meio de
persuasão, treinamento ou qualificação.
Swales (1990) apresenta seis características que considera suficientes para identificar
um grupo como sendo uma ‘comunidade discursiva’. Para o autor uma ‘comunidade
discursiva’:
“1. Possui um conjunto de objetivos públicos comuns;
2. Possui mecanismos de inter comunicação entre seus membros;
3. Utiliza seus mecanismos de participação para oferecer informação e feedback;
4. Utiliza e possui um ou mais gêneros na função comunicativa de seus objetivos;
5. Além de possuir gêneros, uma comunidade discursiva possui um léxico
específico;
6. Possui um nível de membros com uma formação própria de conteúdo relevante e
uma expertise em discurso.”5(SWALES, 1990, p.24 - 27).
O autor finaliza com algumas questões ainda restantes, mostrando que o uso da
linguagem é uma forma de comportamento social, e o discurso mantém e aumenta o
conhecimento do grupo segundo os critérios utilizados por ele para definir ‘comunidade
discursiva’.
Para Swales (1990) por várias razões, é possível negar a premissa de que a
participação leva à assimilação, de que a participação não é tão incomum, e toma um contexto
relativamente inócuo. Assim, um indivíduo pode participar de várias comunidades
discursivas, os indivíduos podem variar de comunidades de acordo com os gêneros que eles
comandam.
Para fins deste trabalho sobre os gêneros textuais próprios da comunidade discursiva
forense, adotamos a proposta de tipologia textual advogada por Travaglia (1991, 2001 e
2003a) que afirma que os tipos e as espécies compõem os gêneros, ou seja, os tipos e
espécies não se apresentam sozinhos, necessitam dos gêneros para tomarem forma. Assim, a
título de ilustração, não encontramos uma narrativa solta no espaço e no tempo se auto-
denominando ‘sou uma narrativa’, mas a encontramos no gênero DENÚNCIA, mais
especificamente na parte do texto que trata do relato dos fatos.
Devemos ressaltar que, como toda tipologização, a proposta por nós adotada deve ser
entendida como uma proposta que possui critérios que não devem ser vistos como únicos e
4
Tradução nossa para o seguinte trecho: “a discourse community consists of a group of people who link up in
order to pursue objectives that are prior to those of socialization and solidarity, even if these latter should
consequently occur. In a discourse community, the communicative needs of the goals tend to predominate in the
development and maintenance of its discoursal characteristics.”
5
Tradução nossa para os trechos: “1. A discourse community has a broadly agreed set of common public goals.
2. A discourse community has mechanisms of intercommunication among its members. 3. In addition to owing
genres, a discourse community has acquired some specific lexis. 6. A discourse community has a threshold level
of members with a suitable degree of relevant contents and discoursal expertise.”
2031
6
Esta denominação é ligeiramente diferente da proposta por TRAVAGLIA (1991) e foi proposta pelo autor em
comunicação pessoal em sala de aula.
2032
7
Travaglia (2001 e 2002a) utilizou o termo “subtipo”, para o que hoje chama de espécie.
2033
8
Grifo nosso.
2034
2035
2036
2037
4. Considerações finais.
2038
Referências
2039
2040
É claro que o profissional do Direito não pode se esquecer nunca da função social
da linguagem nesta área, pois muito mais do que produzir uma peça o profissional
deve ter em foco o outro o qual é destinatário de sua mensagem deseja saber que
direitos estão sendo defendidos ou violados. Assim, o operador do Direito precisará
dosar o seu texto, de forma que a linguagem técnica não deverá sacrificar nunca a
clareza do que está sendo dito. Não é um campo fácil, mas é algo que se pode
realizar.
Voltando ao juridiquês, este não surgiu por causa da linguagem técnica, mas, sim,
por causa do excesso de formalismo na área jurídica, que é visto até hoje nos
pronomes de tratamento, mesmo fora do âmbito forense entre os pares, nos trajes,
na burocracia que envolve o processo, nas formas de acesso à justiça.
1
Doutora em Língua Portuguesa pela UERJ, mestre em Linguística e Filologia pela UNESP,
professora de Linguagem Jurídica da Faculdade de Direito de Vitória – FDV.
A única área que resiste a essas mudanças é a do Direito, mas muito pior que
resistir é cometer o desvio, o exagero. É exatamente isso que é o juridiquês – um
desvio da linguagem jurídica. Isso se dá de duas formas, a saber: o preciosismo
empregado na linguagem jurídica e os problemas que rondam a construção textual
na área do direito.
Apenas para perceber como isso ocorre, vejamos alguns exemplos desse desvio
que está exposto em um site (http://www.paginalegal.com/categoria/juridiques). Para
designar “petição inicial” (peça que se inicia uma ação – petição ! pedir), como é
• peça atrial
• peça autoral
• peça de arranque
• peça de ingresso
• peça de intróito
• peça dilucular
• peça exordial
• peça gênese
• peça inaugural
• peça incoativa
• peça introdutória
• peça ovo
• peça preambular
• peça prefacial
• peça preludial
• peça primeva
• peça primígena
• peça prodrômica
• peça proemial
• peça prologal
• peça pórtico
• peça umbilical
• peça vestibular
Os problemas do juridiquês não residem apenas nisso, visto que essa ânsia de
trazer para língua portuguesa um status de erudição em nome da “clareza jurídica”,
pois os que defendem tal tese asseguram que os termos técnicos não dão margem
à ambigüidade (quem assegura isso é está extremamente equivocado). Muitas
vezes, os profissionais criam códigos que são só conhecidos por eles, inclusive as
abreviações são, quase sempre, incógnitas. Isso pode ser visto em
[...] que o d. Juízo de V.Exa. omitiu-se acerca do que deveria se pronunciar, d.m.v.,
como se sustenta nas razões que se seguem:[...]
O que será “d. Juízo de V.Exa”? Será que é uma homenagem à inteligência do juiz?
Como disse Shakespeare – “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha
nossa vã filosofia”. Ademais, ninguém sabe informar, de fato, o que seja “D.M.V.”.
Por curiosidade, apenas para verificar, indaguei o que seria a possível sigla para
alguns juízes – nem eles mesmos sabem. Quem dirá então o cidadão comum. Isso
não é linguagem jurídica, mas é pura e simplesmente ERRO de língua portuguesa.
2
Exemplos disponíveis em: < www.gazetadotriangulo.com.br>. Acesso em: 16 fev. 2008.
Parece ser absurdo isso – mas pode ter certeza de que não é!!!
Nota-se que, nesses casos, o emprego da expressão latina é mais sucinta e precisa
que o equivalente em língua portuguesa, em virtude disso tais expressões (assim
como outras – “per capita”, “vide”, “vade mecum”, “versus”, “corpus”, “supra”,
“status”, etc) têm sido incorporadas na língua portuguesa. Tal processo de
incorporação de palavras de outras línguas à nossa língua mãe é algo comum.
Apenas para exemplificar, basta lembrarmo-nos de algumas palavras, tais como:
show, abajur, entre outras.
3
Definição trazida pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
4
Ibidem.
5
Ibidem.
A falsa cultura disseminada por aqueles que utilizam o latim como forma de tornar o
texto mais claro e mais culto revela, geralmente, uma falta de conhecimento da
língua portuguesa, pois, com freqüência, erram o uso da vírgula e de outros sinais
de pontuação, empregam inadequadamente o gerúndio entre tantos outros erros
comuns.6 O descaso com a língua atinge todos os âmbitos gramaticais
(concordância, regência, ortografia, etc)7. Como se vê nos exemplos8 a seguir:
6
Para ter mais informações acerca de problemas em textos jurídicos, ver a pesquisa desenvolvida pelo
advogado, especialista em Direitos Humanos, Daniel Roepke Viana, cujo título é “DIREITO E LINGUAGEM: OS
ENTRAVES LINGÜÍSTICOS E SUA REPERCUSSÃO NO TEXTO JURÍDICO PROCESSUAL”.
7
Para se ter mais informações acerca desses problemas, verificar a monografia de Daniel Roepke Viana.
8
Os exemplos foram retirados da monografia de Daniel Roepke Viana.
Este cenário é paradoxal – a pessoa emprega a língua latina com tantos cuidados,
que não é a nossa língua oficial, nem mesmo é falado por comunidades lingüísticas
(trata-se, para muitos, de uma língua morta), no entanto é incapaz de empregar
corretamente, de acordo com a norma padrão, a língua portuguesa que é o
instrumento diário de interação do profissional da área jurídica no Brasil.
Parece que alguns profissionais do Direito se esquecem do que está posto no art.
156 do Código de Processo Civil – “Em todos os atos e termos do processo, é
obrigatório o uso do vernáculo”. Ora o vernáculo a que se refere o art. 156 é a língua
portuguesa de acordo com o padrão da norma culta.
Vivemos uma época em que tempo é algo precioso, portanto não adianta se produzir
textos extensos, redundantes, pois os mesmos não serão lidos nem mesmo pelos
magistrados. É época de se primar pela economia lingüística, de se primar pela
clareza, pela objetividade, pela concisão e porque não dizer pela cientificidade.
A grande questão é como conseguir esses atributos para um texto. Para conseguir
isso, é preciso que o profissional do Direito se esforce para melhorar sua produção
textual jurídica. É importante, então, que se desfaçam os conceitos preconcebidos, a
fim de se obter melhor qualidade do que será produzido.
O texto deve ter apenas o essencial, falar o que deve ser dito, argumentar com
coerência e precisão, averiguar o veículo adequado da comunicação e vislumbrar o
destinatário, sabendo que, muitas vezes, este nem sempre coincide com
interpretante real. O desafio está posto.
[...] Cabe ressaltar, como cediço, que o trabalho dignifica o homem, de forma
que a sociedade e o Estado não podem mais ficar assistindo inertes ao
aumento assustador da legião de pessoas que estão sendo aleijadas,
mutiladas e mortas por falta de proteção e segurança no trabalho, face
costumeiramente à omissão das empresas em cumprirem com as normas de
segurança e medicina do trabalho e a imprudência de prepostos mal eleitos
para o exercício de certas funções.
Como dito, a Autora depois de ocorrido o fato, tem dificuldade até mesmo
para andar, o que somente consegue realizar com o auxílio de muletas, fato
este que se soma as enormes dores físicas que vem sentindo desde então e
que somente são amenizadas com os remédios que se vê obrigada a
adquirir.
Parece que, quando faltam argumentos e quando falta clareza acerca do que será
dito, o profissional do Direito passa a andar em círculos em seu próprio texto – na
verdade, quando falta argumentação, sobra “enrolação”.
Em oposição a esta cultura do juridiquês, falar, falar e não dizer nada, é importante
que exista uma atenção especial à produção dos parágrafos. Neste sentido,
apresentamos a seguir alguns princípios que devem ser observados, a saber:
" Todo parágrafo deve ter apenas uma idéia básica que deve ser expressa em
uma frase.
" A frase que contém a idéia básica (tópico frasal) deve ser grafada no início do
parágrafo (topicalização), pois, se alguém ler o texto superficialmente, lerá a
primeira frase de cada parágrafo. Neste caso, o autor do texto já cumprido
com seu objetivo (ao menos em parte) comunicacional.
" O parágrafo não deve ser longo – máximo entre 8 a 10 linhas. Não mais que
isso.
" Os parágrafos devem promover uma continuidade textual – quando o leitor
terminar de ler o texto, deve conseguir percorrer mentalmente os argumentos
elencados pelo autor.
" Os parágrafos devem ser encadeados adequadamente – empregar as
relações textuais necessárias para promover a progressão textual e, desta
forma, a continuidade do que se está tratando no texto.
Há ainda que se informar que não é só pôr a citação, fazer referência, é preciso
muito mais. É preciso que tal citação seja fundamental e que ela seja explorada por
quem está argumentando, deste modo reforça a tese à luz de outros textos que
conferem credibilidade que se está defendendo.
Tais dicas não são regras infalíveis para abolir o juridiquês, mas são um bom
caminho para que tenhamos um texto mais limpo, claro, conciso e coerente.
Por fim, usar a linguagem técnica não é nem pode ser pressuposto para o emprego
do juridiquês. É possível usar a linguagem técnica jurídica e ser claro e objetivo.
RESUMO
O presente estudo visa perscrutar os pressupostos processuais para concessão da cautela preparatória de
indisponibilidade de bens particulares dos sócios controladores, administradores e dos conselheiros de
sociedade anônima aberta, bem como os efeitos jurídicos daí decorrentes, à luz da doutrina e jurisprudência.
Palavras-chave: Cautelar Preparatória. Indisponibilidade de bens. Sociedade Anônima. Capital Aberto. Sócios. Controlador.
Administrador. Conselheiro.
ABSTRACT
This research aims to examine the procedural prerequisites for granting the preparatory precautionary measure
of the unavailability of the assets of the controlling shareholders, directors and advisers of the Publicly-Held
Company, as well as the legal consequences arising therefrom, within the doctrine and jurisprudence spectrum.
Keywords: Preparatory Precautionary Measure. Unavailability of Assets. Joint-Stock Company. Publicly-Held Company.
Shareholders. Controlling Shareholder. Director. Advisers.
a
Desembargador do TJRS. E-mail: <jcanto@tj.rs.gov.br>.
Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada
sob forma de uma licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
Cabe mencionar que na década de 90 já havia Neste caso, em face da dispersão dos tomadores
decisões na seara falimentar a esse respeito, com base de valores mobiliários emitidos pela companhia, que
no poder geral de cautela do juiz da falência (art. se presume incapazes de formar uma comunidade apta
14, VI, da Lei nº 7.661/45, atual 99, inc. VII, da Lei a defender eficazmente seus interesses perante aquela,
nº 11.101/2005). seus controladores e administradores, a lei estabelece
O primeiro ponto a ser abordado no presente um regime especial de tutela do Poder Público em
trabalho diz respeito à sociedade anônima de capital favor dessa coletividade de acionistas, debenturistas e
aberto, esta, em apertada síntese, é aquela que admite demais portadores de títulos acionários.
a captação de recursos mediante negociação de ações
no mercado mobiliário, ou seja, bolsa de valores ou Se a sociedade logra ou não colocar seus títulos
mercado de balcão. em consequência da oferta, pouco importa. Basta
Sob esse viés é que há o interesse jurídico de que haja a oferta junto ao público investidor para
proteger acionistas e terceiros, no caso, aplicadores que, sobre a sociedade, incida o regime especial de
no mercado de ações, como os debenturistas, quanto tutela estatal previsto em lei.
à malversação dos recursos de companhia aberta,
resultante do controle exercido, da má administração Não obstante isso, resta indubitável no art. 4º da
ou da conivência com esta. Lei das Sociedades Anônimas que há intervenção do
Por fim, o último tópico a ser tratado no presente Estado na regulação deste mercado, diante da previsão
trabalho é quanto às questões de ordem processual, que de que a empresa deve registrar-se na Comissão de
exsurgem da cautela de indisponibilidade de bens, no Valores Mobiliários para negociar suas ações na Bolsa
que tange aos seus efeitos em função de sua natureza de Valores. Destaque-se que o prévio registro mostra-
jurídica e requisitos necessários para concessão da se essencial quando a sociedade anônima de capital
mesma, além do prazo razoável pela qual esta pode aberto é de economia mista, uma vez que o prevalente
vigorar. interesse público se faz presente.
Desta forma, a complexidade deste tema, diante Em qualquer destas hipóteses há que se levar
da interpolação de questões de direito material e em conta o interesse do particular, na condição de
processual, privado e público, bem como garantias investidor, e o interesse público, no sentido de preservar
de ordem constitucional, assim como, a prevalência a coletividade que atua na economia para consecução
entre interesses distintos, no caso o particular e o de um fim determinado, ao mesmo tempo que busca o
coletivo, é que torna fascinante este estudo, diante desenvolvimento desta e o avanço econômico-social
dos mais diversos matizes jurídicos a serem exami- daí decorrente.
nados. Desse modo, imprescindível voltar a atenção para
este tipo de sociedade de capital, sem olvidar-se daqueles
1 SOCIEDADE ANÔNIMA DE que a controlam, gerem ou administram, bem como as
CAPITAL ABERTO pessoas que atuam em seus conselhos de administração
ou fiscal, as quais podem ser consideradas, no mínimo,
A companhia aberta é a que melhor personifica o coniventes com a má administração deste tipo de
sistema capitalista, pois se trata de sociedade de capital, sociedade em prejuízo da coletividade.
cuja formação gira em torno da obtenção de recursos
no mercado para constituição desta, a fim de alcançar 1.1 Os sócios, administradores e conselheiros
a justa remuneração do investimento feito mediante a da companhia aberta
realização do objeto social, sendo mais evidente aqui o A responsabilidade dos sócios, administradores
intuito de obter o lucro almejado, sob o ponto de vista e conselheiros na sociedade anônima aberta não
econômico. decorre de causa indistinta ou de razão jurídica que
O insigne jurista Modesto Carvalhosa1, a meu não esteja subsumida na forma de participação nesta,
ver, é quem melhor define este tipo de sociedade, ao pelo contrário, estão sujeitos à indisponibilidade de
lecionar que: bens apenas aqueles atores que atuarem na gestão ou
administração da referida companhia, ou ainda, que
Quando, por outro lado, a companhia procura forem coniventes com os atos praticados por estes,
recursos de capital próprio (ações) ou de terceiros como na hipótese dos conselheiros fiscais.
(debêntures) junto ao público, oferecendo a Igualmente, há que se sopesar a prática de conduta
qualquer pessoa desconhecida ações e debêntures ilícita e o nexo causal entre esta e o dano ocasionado,
de sua emissão, temos uma companhia aberta. para que surja o dever de reparação, aqui independe
se é adotada a teoria da responsabilidade subjetiva ou sobre os atos e negócios jurídicos da sociedade anônima
objetiva, pois, sob o ponto de vista que se analisar, há aberta.
necessidade de averiguar se houve a prática de ilicitude, A partir de tal premissa, conclui-se que não se
de má-gestão ou de atos contrários ao estatuto social. sujeita ao bloqueio de seu patrimônio o mero sócio
Portanto, a medida acautelatória de indisponi- capitalista que não disponha dos poderes precitados,
bilidade de bens particulares do sócio, administrador estando restrita a sua participação ao capital investido
ou mesmo conselheiro decorre do exame prévio e a perceber os frutos civis daí decorrentes.
da responsabilidade destes pela prática dos atos Igualmente, também não se submete a este tipo
precitados, que importem em prejuízo da companhia de medida o conselheiro que não participa relações
aberta considerada, dos sócios desta, ou de terceiro que jurídicas precitadas, ou cuja aprovação destas esteja em
investiu ou negociou com aquela. consonância com a ordem jurídica vigente, inexistindo
omissão que caracterize culpa e possa importar em
a) Extensão de cautela inerente à patrimônio responsabilidade civil.
distinto daquele pertencente à sociedade Estabelecidos estes parâmetros, resta claro que
anônima de capital aberto o denominado sócio controlador, assim como seus
A extensão dessa cautela preparatória de indis- presentantes ou representantes, estão sujeitos à
ponibilidade de bens visa garantir a solvabilidade cautela de indisponibilidade de seus bens particulares,
de sócio controlador, gestor, administrador ou de sendo necessário para tanto investigar se houve
conselheiro da referida sociedade, que tenha o locupletamento ilícito em virtude de seu poder de
dever de responder pelos atos praticados e ressarcir mando na realização de determinado ato ou negócio
os prejuízos causados, enquanto presentante ou jurídico, o qual resulte em prejuízo da sociedade
representante daquela, em função de ter se beneficiado controlada, da coletividade que participa (acionista,
economicamente dos mesmos, direta ou indireta- etc.) ou mantém relação negocial com aquela.
mente. O culto doutrinador Comparato2 traça com precisão
A responsabilização do patrimônio pessoal dos o perfil de quem é o controlador numa sociedade
sócios controladores, administradores, gestores ou anônima, como se vê a seguir:
conselheiros de uma sociedade anônima aberta é
exceção, pois se trata aqui de patrimônios distintos e Na economia da nova sociedade anônima o
controlador se afirma como seu mais recente órgão,
autônomos, cada qual respondendo, como regra, pelas
ou se preferir a explicação funcional do mecanismo
obrigações que assumem em suas relações jurídicas. societário, como o titular de um novo cargo social.
Assim, a responsabilidade pessoal em questão recai Cargo, em sua mais vasta acepção jurídica, designa
sobre o patrimônio pertencente à determinada pessoa, um centro de competência, envolvendo uma ou
seja ela natural ou jurídica, que pratique os atos ou mais funções. O reconhecimento de um cargo, em
negócios jurídicos que causem lesão à sociedade, qualquer tipo de organização, faz-se pela definição
aos sócios ou a terceiro, cujo nexo causal deve estar de funções próprias e necessárias. Ora, tais funções
perfeitamente delineado. existem vinculadas à pessoa do controlador. No
Desse modo, é possível a ampliação da medida vigente direito acionário brasileiro, elas podem
resumir-se no poder de orientar e dirigir, em
processual de indisponibilidade dos bens ao patrimônio
última instância, as atividades sociais; ou como
de pessoa diversa da sociedade anônima em questão, se diz no art. 116, alínea “b” da Lei nº 6.404, no
de sorte a bloquear este e permitir, durante lapso de poder de “dirigir as atividades sociais e orientar o
tempo certo, o exame dos atos e negócios jurídicos funcionamento dos demais órgãos da companhia”
que teriam ocasionado danos à companhia em questão (com o reconhecimento implícito de que o acionista
ou a terceiros, que mantiveram relação jurídica com controlador é um dos órgãos da companhia).
esta, a fim de permitir a justa reparação dos prejuízos Trata-se de um feixe de funções indispensáveis
causados. ao funcionamento de qualquer entidade coletiva –
como assinalamos anteriormente – e especialmente
b) As pessoas passíveis de atingimento pela da sociedade anônima. Poderia, sem dúvida, o
cautela de indisponibilidade de bens legislador manter essas prerrogativas diluídas
– Sujeito Passivo no corpo acionário, tal como ocorria no passado.
Preferiu, no entanto, desde a Lei n. 6.404, localizá-
Ressalte-se que as pessoas que se sujeitam a este las no “titular de direitos de sócio que lhe assegurem,
tipo de cautela preparatória são exclusivamente os de modo permanente, a maioria dos votos nas
sócios, administradores, gestores e conselheiros que deliberações da assembleia geral e o poder de eleger
detêm poder de gestão, administração e fiscalização a maioria dos administradores da companhia”.
daqueles que respondem com o patrimônio particular 2.1 A tutela de indisponibilidade de bens
pelo prejuízo ocasionado à sociedade anônima de do sócio controlador, administradores e
capital aberto, aos sócios destas e mesmo a ter- conselheiros da sociedade anônima aberta
ceiros, que mantêm relação jurídica com a referida
companhia. O bom direito alegado decorre da possibilidade
jurídica de existir o dever de reparar ou de pagar
b) Direito de uso, gozo e fruição dos dívida exequível por parte do sócio controlador,
proprietários na vigência da medida administrador e conselheiro pela prática de conduta
cautelar de indisponibilidade ilícita, consubstanciada em abuso de poder, ato ou
É de se destacar que a indisponibilidade de bens negócio contrário à ordem jurídica ou aos estatutos da
alcança apenas uma das faculdades do domínio e, empresa.
ainda, de forma parcial, pois o proprietário do bem Ao passo que o perigo da demora na prestação
atingido pela medida em questão tem restringido o seu jurisdicional está adstrito ao risco de insolvabilidade do
direito de transmitir para outrem o domínio sobre a proprietário dos bens precitados, o que inviabilizaria
coisa, corpórea ou incorpórea (bens ou direitos), sujeita eventual excussão destes para satisfazer o débito
a cautela analisada. decorrente da ação principal declinada na mesma.
Desse modo, é atingido parte do direito de dis- É de se elucidar que tal cautela também pode
posição, permanecendo o proprietário, sujeito a esta ser incidental, o que seria possível em dois tipos de
medida cautelar, com a posse da coisa, uso, gozo, execução: a) a coletiva falimentar; e b) a fiscal. A
fruição e o direito reipersecutório atinente ao bem primeira, ocorrerá na falência como medida preparatória
indisponível, podendo adotar todas as medidas para apurar a responsabilidade do sócio controlador ou
necessárias à conservação do mesmo, bem como administrador pela quebra, isto é, se esta decorreu da
perceber os frutos relativos a este, o que cessará malversação do patrimônio da empresa. Já a segunda,
mediante a excussão da coisa (corpórea ou incorpórea) dar-se-á no executivo fiscal com o fim de garantir o
através de ação própria. proveito econômico pretendido, coibindo o dolo, a
Portanto, trata-se a indisponibilidade de bens de fraude ou a má fé daquele tipo de ator da sociedade
medida cautelar temporária de restrição de uma das anônima de capital aberto.
faculdades do domínio, no caso, o direito de dispor Note-se que a tutela cautelar em questão destina-
livremente daquele patrimônio, até que seja apurada a se a efetividade da prestação jurisdicional, na medida
responsabilidade dos atores precitados pelos prejuízos em que objetiva manter incólume o patrimônio do
que deram causa. devedor, a fim de que os credores exerçam o seu direito
de reparação mediante a liquidação judicial deste.
2 A CAUTELA DE INDISPONIBILIDADE a) Hipóteses de incidência e solução
DE BENS jurisprudencial
A cautela de indisponibilidade de bens é pre- O direito pátrio estabelece expressamente a
paratória, ou seja, trata-se de medida acessória, indisponibilidade de bens, tanto no art. 4º, § 1º, da Lei
desprovida de caráter satisfativo, não prescindindo da n. 8.397/92, como no art. 83, § 2º, da Lei n. 11.101/2005,
indicação da demanda principal a ser dirimida, bem regulando as condições para obtenção da referida
como se destina a garantir a solvabilidade do sócio cautela acessória.
controlador, administrador, gestor ou conselheiro de Inicialmente, passa-se a abordar a matéria que
sociedade anônima de capital aberto, a fim de que seja diz respeito a indisponibilidade de bens decorrente de
apurada a responsabilidade daqueles pelos prejuízos medida cautelar que precede o executivo fiscal, cuja
que deram causa à sociedade, aos demais sócios desta aparência de bom direito – fumus boni juris – está
ou a terceiros. consubstanciada na existência de obrigação líquida e
A incidência daquela medida ocorre sobre a exigível, bem como na possibilidade jurídica de existir
faculdade de disposição do domínio de determinada a prática de determinada conduta ilícita por parte do
coisa, de acordo com o esclarecido anteriormente, sócio controlador, administrador ou conselheiro que
bem como vigora temporariamente até ser sol- implique no dever de reparação a pessoa certa, física
vida a ação principal que visa à indenização dos ou jurídica.
prejuízos causados pelas pessoas supracitadas, O segundo requisito a ser examinado para concessão
as quais respondem com o seu patrimônio parti- da referida cautela preventiva é o risco de dano grave
cular. ou de difícil reparação – periculum in mora –. Aqui há
que se ater à possibilidade daquelas pessoas, em face Nesse diapasão é entendimento jurisprudencial do
das quais se busca a reparação, estarem em situação Superior Tribunal de Justiça4, cujo precedente delimita
de déficit econômico. Note-se que neste caso deve o uso da referida cautela preventiva, que colaciono a
se atentar a duas circunstâncias fáticas específicas: a seguir:
primeira, a identificação do prejuízo no que concerne
a sua extensão; a segunda, a proporção suficiente PROCESSUAL TRIBUTÁRIO. MEDIDA CAU-
do patrimônio particular do sócio controlador, do TELAR FISCAL. INDISPONIBILIDADE DOS
administrador e conselheiro da companhia aberta que BENS DOS SÓCIOS INTEGRANTES DO CON-
seja útil à reparação pretendida. SELHO DE ADMINISTRAÇÃO. LEI 8.397/92.
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. AUSÊN-
A proporcionalidade aqui é essencial, pois se de
CIA DE COMPROVAÇÃO DE EXCESSO DE
um lado o bloqueio autorizado não pode impedir o
MANDATO, INFRAÇÃO À LEI OU AO REGU-
prosseguimento da atividade mercantil de determinada LAMENTO.
sociedade, de outro, quando incidir sobre coisa atinente 1. É assente na Corte que o redirecionamento
ao patrimônio de pessoa natural, não deve reduzir esta da execução fiscal, e seus consectários legais,
ao estado de miserabilidade, atentando a dignidade da para o sócio-gerente da empresa, somente é
pessoa humana, ou a impeça de prosseguir em suas cabível quando reste demonstrado que este agiu
atividades profissionais habituais. com excesso de poderes, infração à lei ou contra
A esse respeito é oportuno trazer à baila as lições o estatuto, ou na hipótese de dissolução irregular
do jurista Humberto Theodoro Jr.3 que seguem: da empresa (Precedentes: REsp nº 513.912/MG,
Rel. Min. Peçanha Martins, DJ de 01/08/2005;
É fácil verificar, portanto, que a proibição REsp nº 704.502/RS, Rel. Min. José Delgado, DJ
de dispor, regulada pela Lei 8.937/92, não é de 02/05/2005; EREsp nº 422.732/RS, Rel. Min.
automática, nem muito menos pode ser imposta João Otávio de Noronha, DJ de 09/05/2005; e AgRg
discricionariamente pelo juiz. Tal como fez o Có- nos EREsp nº 471.107/MG, deste relator, DJ de
digo de Processo Civil (LGL/1973/5), em relação 25/10/2004).
ao arresto, a lei especial também sujeitou a medida 2. Os requisitos necessários para a imputação
cautelar fiscal a requisitos que obrigatoriamente da responsabilidade patrimonial secundária na ação
devem ser demonstrados pela parte promovente principal de execução são também exigidos na ação
e que, dentro da técnica geral, da tutela cautelar, cautelar fiscal, posto acessória por natureza.
correspondem ao fumus boni iuris e ao periculum 3. Medida cautelar fiscal que decretou a
in mora: o primeiro localiza-se na comprovação indisponibilidade de bens dos sócios integrantes do
de existência de obrigação líquida e certa, Conselho de Administração da empresa devedora,
documentalmente revelada (caput do art. 2º) com base no artigo 4º, da Lei 8.397/92.
e o segundo situa-se na conduta do devedor ina- 4. Deveras, a aludida regra deve ser interpretada
dimplente que põe em risco a exeqüibilidade do cum grano salis, em virtude da remansosa
crédito fazendário, diante do fundado receio de jurisprudência do STJ acerca da responsabilidade
que irá fazer desaparecer os bens que, a seu tempo,
tributária dos sócios.
deverão suportar a penhora no processo de execução
5. Consectariamente, a indisponibilidade patri-
fiscal (incs. I a V do art. 2º).
monial, efeito imediato da decretação da medida
É sempre bom lembrar a insuperável lição
cautelar fiscal, somente pode ser estendida aos bens
de Calamandrei de que todos provimentos
do acionista controlador e aos dos que em razão
jurisdicionais existem como “instrumento do
direito material, que por intermédio deles atua”. do contrato social ou estatuto tenham poderes
Nos provimentos cautelares, porém, “verifica-se para fazer a empresa cumprir suas obrigações
uma instrumentalidade qualificada, ou seja, elevada, fiscais, desde que demonstrado que as obrigações
por assim dizer, ao quadrado: eles são, de fato, tributárias resultaram de atos praticados com
inquestionavelmente, um meio predisposto para excesso de poderes ou infração de lei, contrato
a melhor eficácia do provimento definitivo, que a social ou estatutos (responsabilidade pessoal),
sua vez é um meio para a atuação do direito; isto é, nos termos do artigo 135, do CTN. No caso de
são eles, em relação à finalidade última da função liquidação de sociedade de pessoas, os sócios são
jurisdicional, instrumento do instrumento”. Vale “solidariamente” responsáveis (artigo 134, do CTN)
dizer: os provimentos cautelares nunca são um fim nos atos em que intervieram ou pelas omissões que
em si mesmos, e surgem sempre “da existência de lhes forem atribuídas.
um perigo de dano jurídico, derivado do atraso de 6. Precedente da Corte no sentido de que:
um provimento jurisdicional definitivo (periculum “(...) Não deve prevalecer, portanto, o disposto
in mora)” (apud Clayton Maranhão, in Rev. Direito no artigo 4º, § 2º, da Lei 8.397/92, ao estabelecer
Processual – Genesis, Curitiba, 1996, v. I, p. 134). que, na concessão de medida cautelar fiscal, ‘a
bloqueio da possibilidade jurídica de transmissão do Ainda, há que se aplicar a esse tipo de cautela
domínio de determinada coisa, corpórea ou incorpórea, preparatória o princípio da proporcionalidade, isto é,
ou a cessão dos direitos desta. atenta-se aqui a limitação do estado-juiz, detentor do
É necessário que seja intentado o feito principal poder público, no sentido de que a restrição do direito
do qual a medida acautelatória precitada é acessória, de propriedade precitada não importe em ônus maior
a fim de que seja solvida a questão de direito material do que o objetivo perseguido, qual seja de garantir
pertinente aquele, qual seja, o bom direito alegado na patrimônio suficiente para eventual reparação de
cautelar, assim como aferir o risco de ocorrer prejuízo prejuízo causado.
grave (irreparável) ou de difícil reparação devido à Aliás, a esse respeito à doutrinadora Taíza Ribeiro7
demora da prestação jurisdicional. tece os comentários pertinentes quanto ao tema
Assim, os requisitos exigidos para apreciação da discutido abaixo:
cautela preparatória de indisponibilidade de bens dos
agentes antes mencionados, que atuam na companhia Os princípios da proporcionalidade e razoabi-
lidade, nas palavras de Fabrício dos Reis Brandão
aberta, são: o fumus boni juris e o periculum in mora.
contém elementos intrínsecos para sua utilização
A primeira questão a ser analisada para con- na solução dos conflitos, que se dividem em
cessão da tutela de indisponibilidade de bens é a subprincípios, quais sejam: adequação, exigibilidade
existência de direito plausível, no sentido de que e proporcionalidade em sentido estrito”. Nesse
o sócio controlador, administrador ou conselheiro liame, extrai-se que a proporcionalidade subdivide-
possam ter adotado conduta, comissiva ou omissiva, se em três aspectos: a adequação, a necessidade e a
abusiva, contrária à lei ou ao estatuto da sociedade proporcionalidade estritamente. A adequação refere-
anônima de capital aberto, que resulte no dever de se à escolha de uma medida coerente e propícia a
responder civilmente perante a sociedade, seus sócios alcançar o fim almejado. Por sua vez, a necessidade
ou terceiros com o patrimônio particular, em função do diz respeito à escolha do meio estritamente
necessário e imprescindível para a consecução do fim
referido comportamento antijurídico.
objetivado, sem exceder os limites indispensáveis.
Por fim, o último requisito a ser considerado para E, por fim, a proporcionalidade em sentido estrito
a concessão da cautela preventiva de indisponibilidade significa que o ônus, o sacrifício gerado ao valor
dos bens daqueles agentes é ocorrência de perigo efetivo sacrificado deve ser menor do que as vantagens
de retardo na prestação jurisdicional, o qual importaria advindas do valor preponderante.
em prejuízo grave ou de difícil reparação, decorrente
da insuficiência patrimonial resultante do exercício do Desse modo, a cautela preventiva em questão não
direito de disposição dos bens particulares dos mesmos, pode desbordar da extensão do prejuízo que se pretende
cuja medida restritiva a ser adotada deve se limitar a reparar, devendo guardar relação e proporcionalidade
exata proporção dos prejuízos que se pretende ressarcir a este, de sorte que a medida imposta assegure o
na ação principal indicada. direito vindicado, sem importar em ônus desmedido
ao proprietário da coisa sujeita a esta restrição que
b) Consequências de ordem processual ultrapasse o objetivo a ser alcançado na demanda
O primeiro corolário processual que decorre da principal.
medida de indisponibilidade dos bens é o de que
descabe este tipo de cautela se não há plausibilidade CONCLUSÃO
do direito alegado como bom, nem existe o risco de
ocorrer dano grave ou de difícil reparação, pois se há A natureza jurídica da tutela de indisponibilidade
patrimônio suficiente e a alienação de determinado de bens é de cautelar preventiva, que visa garantir a
bem não desfalca este, a ponto de reduzir o devedor à solvência patrimonial para hipótese de ser respon-
insolvabilidade, carece o pleito de causa jurídica para sabilizado pessoalmente o sócio controlador, adminis-
conceder aquela. trador ou conselheiro, seja fiscal ou administrativo, pela
Outra consequência que exsurge da cautela de prática de conduta lesiva à sociedade anônima aberta,
indisponibilidade de bens em exame, é que ela importa em decorrência do poder de gestão, administração ou
em mera restrição parcial da faculdade de disposição de fiscalização sobre os atos e negócios jurídicos desta.
atinente ao direito de propriedade, provisória e É oportuno destacar que para surtirem efeitos
temporária, cuja deliberação final a esse respeito se dará sobre os bens particulares dos sócios controladores,
apenas quando houver a decisão no feito principal do administradores e conselheiros, como analisado ante-
qual a mesma serve apenas para garantir e efetividade riormente, a eficácia pretendida e a medida preparatória
desta. decorrem de justa causa e estão, necessariamente,
vinculadas a ato ou a negócio jurídico certo, que se O último requisito a ser considerado para a con-
mostraram danosos aos interesses da companhia cessão da cautela preventiva de indisponibilidade dos
aberta, demais sócios ou a terceiro. Aliado ao fato de bens daqueles agentes é ocorrência de perigo efetivo
que a tutela em questão possui caráter excepcional, de retardo na prestação jurisdicional – periculum in
pois o bom direito alegado na cautela proposta deve mora –, o qual importaria em prejuízo grave ou de difí-
estabelecer o nexo causal entre a conduta antijurídica cil reparação, decorrente da insuficiência patrimonial
praticada e o resultado descrito, isto é, o prejuízo resultante do exercício do direito de disposição dos bens
econômico determinado ou determinável. particulares dos mesmos, cuja medida restritiva a ser
Assim, a referida medida cautelar vigora por prazo adotada deve se limitar a exata proporção dos prejuízos
certo, ou seja, até a apuração da responsabilidade que se pretende ressarcir na ação principal indicada.
daqueles que respondem com o patrimônio particular
pelo prejuízo ocasionado à sociedade anônima de REFERÊNCIAS
capital aberto, aos sócios destas e mesmo a terceiros,
que mantêm relação jurídica com a referida companhia. ABRÃO. Carlos Henrique. In: TOLEDO, Paulo F. C. Salles;
ABRÃO, Carlos Henrique (coord.). Comentários à lei de
Trata-se a indisponibilidade de bens de cautela recuperação de empresas e falência. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
provisória de restrição de uma das faculdades do 2009. p. 251-252.
domínio, no caso, o direito de dispor livremente daquele CARVALHOSA, Modesto, Comentários à Lei de Sociedades
patrimônio, até que seja apurada a responsabilidade Anônimas. São Paulo: Saraiva, 1997. Vol. 1: arts. 1º a 74, p. 31-32.
dos atores precitados pelos prejuízos que deram causa. COMPARATO, Fábio Konder, O poder de controle na sociedade
A primeira questão a ser analisada para concessão anônima. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. p. 107.
RIBEIRO, Taíza Irene de Haro Pouchain. A indisponibilidade dos
da tutela de indisponibilidade de bens é a existência bens na cautelar fiscal e sua extensão ao ativo circulante. Revista
de direito plausível – fumus boni juris –, no sentido de da PGFN, p. 161-184.
que o sócio controlador, administrador ou conselheiro THEODORO JÚNIOR, Humberto, medida cautelar fiscal –
possam ter adotado conduta, comissiva ou omissiva, responsabilidade tributária do sócio-gerente (CTN, art. 135).
abusiva, contrária à lei ou ao estatuto da sociedade Revista dos Tribunais, São Paulo v. 739 p. 115, maio 1997.
Doutrinas essenciais de Direito Tributário, v. 6, p. 453, fev. 2011.
anônima de capital aberto, que resulte no dever de
STJ, PRIMEIRA TURMA, REsp 722.998/MT, Rel. Ministro LUIZ
responder civilmente perante a sociedade, seus sócios FUX, julgado em 11/04/2006, DJ 28/04/2006, p. 272.
ou terceiros com o patrimônio particular, em função do TJRS, 5ª Câmara Cível, processo nº 70036298545, julgado em
referido comportamento antijurídico. 26.01.2011.
NOTAS 4 STJ, PRIMEIRA TURMA, REsp 722.998/MT, Rel. Ministro LUIZ FUX,
julgado em 11/04/2006, DJ 28/04/2006, p. 272.
1 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5 ABRÃO. Carlos Henrique. In: TOLEDO, Paulo F. C. Salles; ABRÃO,
São Paulo: Saraiva, 1997, v. 1: arts. 1º a 74, p. 31-32. Carlos Henrique (coord.). Comentários à lei de recuperação de empresas
2 COMPARATO, Fábio Konder, O poder de controle na sociedade
e falência. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 251-252.
anônima, 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 107. 6 TJRS, 5ª Câmara Cível, processo nº 70036298545, julgado em
3 THEODORO JÚNIOR, Humberto, medida cautelar fiscal – responsa-
26.01.2011.
bilidade tributária do sócio-gerente (CTN, art. 135). Revista dos 7
RIBEIRO, Taíza Irene de Haro Pouchain, A indisponibilidade dos bens
Tribunais, São Paulo, v. 739, p. 115, maio 1997. Doutrinas Essenciais na cautelar fiscal e sua extensão ao ativo circulante. Revista da PGFN,
de Direito Tributário, v. 6, p. 453, fev. 2011. p. 161-184.
Abstract: This paper presents some theoretical and methodological notes on the
documentary research. By making this public exposure, through bibliographic essay, we
want to lead the debate on the use of this procedure in daily researches of students,
teachers and researchers. First, we define the documentary research, showing the
similarities and differences between this research and the literature research, and then we
discuss the concept of document. Next, we accost the methodological criteria for pre-
analysis of the written document, and, finally, we present the steps of the documentary
analysis.
Key-words: Documentary research, Methodology, Written documents.
Notas introdutórias
1
Professor Assistente da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e Doutorando em Educação
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS-RS). E-mail: jacksonronie@ig.com.br.
2
Doutorando em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e bolsista CAPES. E-mail: cristovaoalmeida@gmail.com.
3
Mestrando em Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS-RS) e bolsista
CAPES. E-mail: j.educom@gmail.com.
Não se pode pensar em interpretar um texto, sem ter previamente uma boa
identidade da pessoa que se expressa, de seus interesses e dos motivos que a levaram a
escrever. Uma questão é fundamental: “esse indivíduo fala em nome próprio, ou em nome
de um grupo social?”. Cellard (2008) acreditar ser “bem difícil compreender os interesses
(confessos, ou não!) de um texto, quando se ignora tudo sobre aquele ou aqueles que se
manifestam, suas razões e as daqueles a quem eles se dirigem” (p. 300).
Elucidar a identidade do autor possibilita, portanto, avaliar melhor a credibilidade
do texto, a interpretação que é dada de alguns fatos, a tomada de posição que transparece
de uma descrição, as deformações que puderam sobrevir na reconstituição de um
acontecimento. Na mesma ordem de idéias, é salutar nos questionarmos por que esse
documento, preferencialmente a outros, chegou até nós, foi conservado e publicado. Muitas
vezes, sobretudo num passado relativamente distante, uma única categoria de indivíduos,
ou seja, os que pertenciam à classe instruída podiam expressar seus pontos de vista por
meio da escrita. É preciso, então, poder ler nas entrelinhas, para compreender melhor o que
os outros viviam, senão as interpretações correm o risco de serem grosseiramente
falseadas.
A natureza do texto
A análise documental
10
11
12
Considerações finais
13
Bibliográficas
Recebido em 27/05/2009
14
15
Resumo
Este artigo trata de dez pontos essenciais para se compreender o Qualis Periódicos e,
assim, dirimir as dúvidas frequentemente apresentadas aos coordenadores de área por
editores científicos, docentes e alunos de programas de pós-graduação. As questões
serão apresentadas de modo a esclarecer aspectos aplicáveis a todas as áreas de
avaliação sempre que possível. Alguns aspectos particulares terão por base a
experiência da área de Saúde Coletiva.
Saber o que o Qualis não é parece tão importante quanto saber o que ele é,
pois muitos dos usos inadequados e das incompreensões em torno dessa ferramenta
resultam justamente da pouca compreensão sobre esse ponto. O Qualis não é uma
base de indexação de periódicos – este é o ponto que provavelmente gera maior
confusão entre os editores científicos e é fonte de inúmeras consultas aos
coordenadores de área.
Vários são os editores que solicitam a inclusão, vale dizer a indexação, de seus
periódicos na lista do Qualis. Entretanto, tal solicitação não tem sentido visto que o
Qualis só existe como ferramenta para a avaliação de programas. Estar ou não na lista
do Qualis significa tão somente que algum dos alunos ou professores dos programas
credenciados publicaram artigos naqueles periódicos. Do mesmo modo, o Qualis
Periódicos não é uma base bibliométrica e não permite o cálculo de nenhuma medida
de impacto dos periódicos nele incluídos. Sendo assim, o Qualis Periódicos não deve
ser considerado como uma fonte adequada de classificação da qualidade dos
periódicos científicos para outros fins que não a avaliação dos programas de pós-
Como cada uma das áreas de avaliação possui seus próprios critérios
classificatórios e deve classificar todos os periódicos que constem em sua lista, a
mesma revista científica pode ter classificações bastante distintas em cada uma das
áreas de avaliação. Além disso, para cumprir as regras comuns, dando destaque aos
periódicos do próprio campo de conhecimentos, várias áreas rebaixam periódicos de
outros campos, mesmo que eles cumpram os critérios para uma melhor classificação.
Esse aspecto do Qualis é fonte de inúmeros mal-entendidos entre coordenadores de
programas, docentes e editores científicos.
Do ponto de vista dos editores é sempre difícil de compreender como o
mesmo periódico pode assumir classificações tão diferentes. Se os critérios usados
para a classificação são baseados em características do periódico, não é fácil aceitar
que a mesma revista possa ser classificada em praticamente qualquer dos estratos,
dependendo da área de avaliação. Essas discrepâncias podem ter a ver com diferentes
pontos de corte adotados para a classificação com base nos indicadores de impacto,
uma vez que a distribuição desses valores é variável conforme a área de
conhecimento; mas também podem resultar de julgamentos da relevância do
periódico para determinada área do conhecimento aliados, geralmente, a concepções
fortemente disciplinares.
Esses poderiam ser os pontos de corte para os estratos, de tal modo que, em
qualquer área de avaliação, os periódicos classificados no estrato B5 fossem aqueles
com fator de impacto igual a zero ou sem fator de impacto medido; no estrato B4
estariam os periódicos com fator de impacto maior do que zero e inferior ou igual ao
valor do percentil 25; no estrato B3 ficariam as revistas com impacto entre o percentil
25 e a mediana (P50); no estrato B2, aquelas com impacto entre a mediana e o
percentil 75; no estrato B1, os periódicos com impacto entre o percentil 75 e o
percentil 90; no estrato A2, as revistas com impacto entre o percentil 90 e o 95, e,
finalmente, no estrato A1, aquelas acima do percentil 95.
Assim, o Qualis das áreas seria imediatamente comparável, e a produção dos
PPGs poderia ser avaliada com base na proporção de artigos em cada estrato, pois eles
teriam todos o mesmo sentido. Para as demais áreas que ainda não utilizam medidas
de impacto, seria necessário estabelecer critérios de transição e políticas de incentivo
aos periódicos nacionais para que busquem a indexação nas bases bibliométricas; e,
aos autores, para que comecem a publicar em periódicos já indexados nessas bases.
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
Recebido em 28/03/2016
Aprovado em 27/06/2016
Fundamental right to life and the principle of autonomy of will: an historical view
forward practices abortifacient
DOI: 10.15448/1984-7718.2016.2.24691
ABSTRACT: This research is about the fundamental right to life and the principle of freedom
of choice in the Brazilian legal system, which refers to a discussion in the face of abortion
analyzed from a historical perspective. The studies aim to expound briefly on the meaning
and doctrinal understanding of the fundamental right to life and the principle of freedom of
choice. It also intends to explain what kinds of allowed and prohibited abortions in the
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 255
Brazilian legal system, as well as its history and changes over time. Still, developing the
discussion on the practice of abortion in parental rights on such rights. Among those
mentioned and highlighted assumptions are the fundamental right to life, the principle of
freedom of choice, and abortion institute analyzed in line with the principle of human dignity
which is the pillar of the Constitution..
Keywords: Fundamental Right to Life; Principle of Freedom of Choice; Abortion.
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem por base examinar mesmo que de forma sucinta o
direito fundamental à vida e o princípio da autonomia da vontade, tendo como
balizador o princípio da dignidade humana, tratando todos os direitos expressos e
implícitos na Constituição Brasileira de 1988 com o mesmo grau de hierarquia, ou
seja, verticalizados.
O estudo norteia-se pelo instituto do aborto, tema bastante controverso e
polêmico, enraizado culturalmente nas sociedades desde a antiguidade sob
diferentes aspectos. Embora a legislação brasileira venha evoluindo em que pese
alguns posicionamentos no que tange ao direito fundamental à vida e o princípio da
autonomia da vontade, no entanto ainda atrelados a tabus que não mais condizem
com a sociedade contemporânea.
Diante da vasta bibliografia produzida a respeito desses temas e das
diferentes vertentes teóricas que problematizam os assuntos, sem, no entanto,
alcançarem consenso, adota-se a postura científica de simplificar a sua abordagem,
dividindo-a em partes.
Primeiramente estudam-se o conceito de direitos fundamentais, para tanto,
analisa-se os direitos e princípios fundamentais, mais especificamente o princípio da
dignidade humana, seus entendimentos sob o enfoque doutrinário. Além disso,
aborda-se o direito fundamental a vida e o princípio da autonomia da vontade. Após,
disserta-se a respeito do instituto do aborto, tanto do ponto de vista histórico,
filosófico quanto jurídico, para enfim verificar a tutela jurídica do direito
fundamental à vida e do princípio da autonomia da vontade diante das práticas
abortivas.
O aporte teórico deste estudo pauta-se na pesquisa bibliográfica,
consubstanciada na leitura crítica de obras doutrinárias e julgados do Supremo
Tribunal Federal, utilizando-se da abordagem qualitativa para a consecução dos
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 256
objetivos propostos.
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 257
se autodetermina, dessa forma vive de acordo com as leis que ele mesmo produz
sendo um fim em si mesmo o que o diferencia dos seres irracionais que apenas
servem como meio sendo considerados como meras coisas. O fato de possuir
dignidade impede substituição, logo não possui valor.
Dessa forma, o ser humano por ser possuidor de razão e detentor de
autonomia de vontade, consciente de seus atos possui dignidade, diferentemente de
seres irracionais tratados como meras coisas, objetos, ou seja, passíveis de
substituição, coisificação. Dito isso, percebe-se que a dignidade está acima de
qualquer preço, sendo exclusiva ao ser humano (BAEZ, 2010), e não somente por sua
condição humana, mas pelo fato de viver de acordo com seus próprios parâmetros e
decisões (COMPARATO, 2003).
O direito à vida é característico dos direitos de personalidade, sendo
indisponível pelo fato de ser direito à vida e não direito sobre a vida, bem como um
direito de ordem negativa, pois não se pode dispor da vida com ou sem
consentimento, sendo de valor supremo tutelado pelo Estado (Ó CATÂO, 2004).
Considerado também um direito de primeira dimensão1, nasceu com o advento das
revoluções francesas e norte-americanas, onde a burguesia reclamava por liberdades
individuais bem como a limitação dos poderes tidos pelos governos absolutistas.
Mas a proteção do direito à vida começou a ser realmente vista e tutelada
com maior rigor com o advento da Segunda Guerra Mundial, a partir de todas as
atrocidades e desrespeitos cometidos nos campos de concentração nazista, gerando
assim a consciência da proteção da dignidade humana a qualquer custo (PIOVESAN,
2011).
A Organização das Nações Unidas - ONU órgão criado com o intuito de
celebrar e promover internacionalmente a paz e a segurança mundial teve como
precursora a Liga das Nações estabelecida em 1919 durante a Primeira Guerra
Mundial que possuía previsões genéricas relativas a Direitos Humanos, embora
somente com a ONU em meados do século XX que ocorreu a verdadeira
1
Direitos fundamentais de Primeira Dimensão são os direitos conquistados pelo indivíduo em face do
Estado, consagrados no período do liberalismo e implantados nas primeiras constituições. Os Direitos
contemplados são: direito a vida, direito a liberdade, direito a propriedade e igualdade formal.
(GALINDO, 2003)
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 258
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 259
liberdade ao seu povo, para que com ela busque sua felicidade plena (BOBBIO,
1992). Nesse sentido menciona que o homem é um fim em si mesmo não podendo
ser coisificado, sendo um fim e não um meio, pois não possui um preço, possuindo
assim dignidade.
De acordo com Berlim (1981), muitas são as perspectivas que a ideia de
liberdade pode trazer, a liberdade individual pode ser considerada como conclusiva e
de acordo com essa tese ninguém poderia simplesmente retirá-la por ser intrínseca,
visto de forma adaptada como liberdade institucional que prevê a máxima de não
trate os outros como não gostaria de ser tratado, considerada como uma das bases
da moralidade liberal, e dessa forma a liberdade institucional é considerada como
um dos objetivos do homem.
A liberdade em si, apresenta-se num primeiro momento em uma dicotomia:
liberdade interna e liberdade externa. A primeira é subjetiva, a liberdade moral, é o
livre-arbítrio, como simples manifestação da vontade no mundo interior do homem,
a outra liberdade é objetiva, e consiste na reprodução externa do querer pessoal, é a
liberdade de poder fazer, mas esta liberdade implica o afastamento de obstáculo ou
coações, de modo que o homem possa agir livremente (SILVA, 2002).
A liberdade só existe, sempre e onde quer que se aproveite a oportunidade
de auto-realização, adquirindo forma na conduta efetiva dos homens. Portanto, a
principal ideia consiste em eliminar toda espécie de coação que se oponha no
caminho da liberdade. Nada deve restringir a auto-realização do homem no aspecto
de sua vida, restando apenas à sociedade preservar seus principais interesses em
prol da coletividade (DAHRENDORF, 1981).
A liberdade não pode ser conceituada por fórmulas simples ou conceitos
anárquicos, mas pelo estudo dos limites e das condições que, num campo e numa
situação determinada, podem tornar efetiva e eficaz a possibilidade de auto-
realização do homem. Laski (1934) afirma que por liberdade pode-se entender como
a ávida manutenção daquela atmosfera através da qual os homens têm
oportunidade de ser o melhor de si.2
2
“By liberty I mean the eager maintenance of that atmosphere in which men have opportunity to be
their best selves.”
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 260
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 261
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 262
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 263
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 264
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 265
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 266
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 267
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 268
CONCLUSÃO
Embora a Constituição Federal ratifique a posição nacional no que tange ao
direito à vida como direito fundamental, nota-se que o direito a liberdade e em
consequência a autonomia da vontade também direito fundamental mantém-se em
constante colisão ferindo o princípio da dignidade da pessoa humana, sendo este
norteador da legislação brasileira.
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 269
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. M de. Bioética e Biodireito. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000.
BAEZ, N. L. X. Direitos Humanos, Direitos Do Homem e a Morfologia dos Direitos Fundamentais. In;
BAEZ, N. L.X.; LEAL. R. G.; MEZZAROBA, O. (Coord). –Dimensões Materiais e Eficaciais dos Direitos
Fundamentais. São Paulo: Conceito, 2010.
BERLIM, I. Quatro Ensaios sobre a Liberdade. Tradução de Wamberto Hudson Ferreira-Brasília: Ed.
Universidade de Brasília, 1981.
BOBBIO, N. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. – Rio de Janeiro: Campus, 1992.
COMPARATO, F. K. A Afirmação histórica dos Direito Humanos. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 270
DAHRENDORF, R. Sociedade e liberdade: para uma análise sociológica do presente. Trad. Vamireh
Chacon. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1981 (Coleção Pensamento Político). Título original:
Gesellschaft und Freiheit: soziologischen Analyse der Gernwant.
DWORKIN, R. Domínio da Vida: aborto, eutanásia e liberdades individuais. 2 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2009.
HUNGRIA, N. Comentários ao Código Penal, 3ª. ed, v. 5, Rio de Janeiro: Forense, 1955.
JUNGES, J. R. Bioética. Perspectivas e Desafios. São Leopoldo: Unisinos, 2005.
KANT, E. Fundamentação da Metafísica dos Costumes e Outros Escritos. São Paulo: Martin Claret,
2004.
Ó CATÂO, M. do. Biodireito: Transplante de órgãos humanos e direito de personalidade. São Paulo:
Madras, 2004.
PEIXINHO, M. M. Teoria Democrática dos Direitos Fundamentais. In; VIEIRA. J. R. (Org). Temas de
Constitucionalismo e Democracia. Rio de Janeiro/São Paulo: Renovar. 2003.
PIOVESAN, F. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 12ª Ed ver e atual. São
Paulo: Saraiva 2011.
PIOVESAN, F. – Direitos Sexuais e Reprodutivos: Aborto inseguro como violação aos Direitos
Humanos. In; SARMENTO, D; PIOVESAN, F. (Orgs). – Nos Limites da Vida: Aborto, Clonagem Humana
e Eutanásia sob a perspectiva dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007.
ROXIN, C. Estudos de Direito Penal. Tradução Luis Greco. 2ªed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
SARMENTO, D – Direitos Sexuais e Reprodutivos: Aborto inseguro como violação aos Direitos
Humanos. In; SARMENTO, D; PIOVESAN, F. (Orgs). – Nos Limites da Vida: Aborto, Clonagem Humana
e Eutanásia sob a perspectiva dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007.
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 271
Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada sob forma
de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 42, n. 02, jul./dez. 2016. ID 24691. 272
Abstract: The research deals with the relationship between Law and
Language, because the language is materialized through the word
which is the main tool of the Law professionals. It observes how the
linguistic and grammatical obstacles affect the reading comprehension
and hinder the procedural progress, It also seeks to diagnose to what
extent these barriers affect the legal communication, produced in
procedural texts, in addition to observe what is the responsibility of the
Law professional in this area. Therefore, the most common problems
were checked, through the analysis of procedural documents, and
problems were observed both from the perspective of structural and
grammatical construction of meanings of legal text.
INTRODUÇÃO
A PALAVRA
O advogado e a palavra
O profissional do Direito é, por excelência, o profissional da
palavra. Ela é o seu instrumento de trabalho, conforme se depreende da
própria Lei, no artigo 156 do Código de Processo Civil Brasileiro: “Em
OS ENTRAVES LINGUÍSTICO-GRAMATICAIS
Ortografia
A ortografia é um elemento gramatical básico da língua, sendo objeto
de estudo, nas escolas primárias, logo no início, antes de se aprender a
formar e a pontuar as frases. Em virtude disso, cometer deslizes graves
concernentes à grafia das palavras manifesta o reduzido conhecimento
lexical do advogado, o que é inaceitável para um profissional do Direito,
que cursou a disciplina de língua portuguesa por, pelo menos, oito anos
no ensino fundamental e três anos no ensino médio, além, obviamente,
de ter cursado cinco anos do curso de Direito.
Apesar de todos esses anos de estudo, palavras escritas com grafia
errada nos textos processuais são mais comuns do que se esperava, o que
demonstra despreparo técnico do advogado, como podemos ver em:
Regência
Um dos problemas mais usuais, concernentes à regência verbal,
no texto forense, é escrever “residente à”. Das dez peças processuais
examinadas, oito foram perpassadas por esse equívoco. O verbo
residir pede o uso da preposição “em”, pois essa preposição serve
para indicar localizações exatas. Em contrapartida, a preposição “a”
indica localização aproximada. Assim, este tipo de regência, com a
preposição “a”, indica que a localização não é precisa, ou seja, que fica
nas imediações do endereço dado e não é essa a intenção pretendida
pelo advogado ao redigir a peça.
A importância da regência se deve ao fato de ela ser responsável
por estabelecer a relação de dependência gramatical entre os termos
de uma sequência frásica. Por essa razão, nas frases com problemas de
Concordância
Assim como a regência, a concordância é de grande essencial ao
texto, pois auxilia, em sua organização, sentido e clareza. Com relação
a esse item, a gramática especifica diversos casos de concordância, de
maneira que o elevado número de hipóteses dificulta a assimilação das
regras. Cumpre advertir, todavia, que os problemas averiguados na
presente análise não são de grande complexidade, mas de conhecimento
primário, como a concordância entre sujeito e verbo ou substantivo e
adjetivo, tal qual o exemplo a seguir:
Pontuação
A pontuação é fundamental para que o autor expresse suas ideias
de forma correta e precisa. Em virtude disso, erros desta natureza são
responsáveis por causar graves entraves na redação forense, como
mistura de ideias, períodos muito complexos devido ao tamanho da
frase, quebra de encadeamento lógico, dificuldade no ritmo de leitura,
dentre outros.
É oportuno fixar que o emprego de vírgulas não deve seguir
a respiração, como preconizam algumas pessoas. Este é um dos
equívocos mais comuns e que acarretam, algumas vezes, na separação
entre sujeito e verbo pela vírgula, como neste exemplo:
Latinismo
O discurso jurídico, por se tratar de um discurso técnico, exige
um acervo terminológico próprio. Sendo assim, algumas palavras e
expressões estrangeiras, especialmente em latim, são úteis ao texto
jurídico, em virtude de não haver, na língua portuguesa, vocábulos
que exprimam os significados de tais termos com a perfeição e com a
concisão das palavras latinas. São exemplos de expressões latinas úteis:
erga omnes, corpus, habeas corpus, habeas data, ex nunc, ex tunc e outras.
A utilidade dessas expressões/termos é evidente, pois tais vocábulos
estão presentes nos bons dicionários de língua portuguesa não só com
a definição desses termos, mas também com a transcrição fonética que
permite a pronúncia adequada.
Contudo, muitos advogados têm cometido excessos no uso
de termos em latim. No corpus em análise, foram encontradas vinte
e nove ocorrências desnecessárias de expressões latinas, como ad
argumentandum tantum, in casu, in fine, ad cautelan, ab ovo. Não há
motivo real para usá-las no texto jurídico, pois tais expressões possuem
equivalentes na língua portuguesa, que exprimem o mesmo sentido
com perfeição. Veja que muito distinto das demais expressões aduzidas
anteriormente estas expressões não trazem nenhuma informação
nova ou mesmo técnica para o texto, possuem somente o objetivo de
obscurecer o que se está proferindo no texto.
OS ENTRAVES NA COERÊNCIA
No universo discursivo-textual, o qual é construído pelo produtor
e reconstruído pelo receptor, a coerência é um elemento basilar,
pois é ela que permite a percepção adequada do texto por parte do
receptor. Daí advir a afirmação de que a coerência como um princípio
básico de textualidade se constitui num elemento fundamental para a
interpretabilidade do texto.
Neste sentido, a coerência ultrapassa a mera junção de frases
corretas do ponto de vista da língua, ela ultrapassa a noção gramatical
e mesmo a noção coesiva de um texto, pois a função dela é justamente
transformar as sequências frasais em texto com unidade de sentido,
por isso que ela é um pilar fundamental em um texto.
Com vistas a isso, Mira Mateus (2003, p.115) aduz que a coerência
é “um factor de textualidade que resulta da interacção entre os
elementos cognitivos apresentados pelas ocorrências textuais e o
nosso conhecimento do mundo. Assim, uma condição cognitiva sobre
a coerência de um texto é a suposição da normalidade do(s) mundo(s)
criado(s) por esse texto”.
Além disso, Costa Val (1994, p.5) também a vê como um fator
fundamental da textualidade, visto que ela determina o sentido
do texto. Além disso, ela envolve não somente “aspectos lógicos e
semânticos, mas também cognitivos, na medida em que depende do
partilhar de conhecimento entre os interlocutores”.
Assim, é necessário que se ressalte que a coerência não é um mero
traço presente nos textos, mas, sim, o resultado de processos cognitivos
entre produtor e receptor. Isso ocorre porque ela é construída por uma
operação de inferência, uma vez que o texto não tem sentido em si,
mas faz sentido pela interação entre os conhecimentos que apresenta e
o conhecimento de mundo de seus usuários.
Desta forma, a coerência é imprescindível ao texto, pois todo leitor
espera que o texto se desenvolva, mantenha uma continuidade temática
e apresente uma sequência de ideias, de forma a atingir um objetivo pré-
estabelecido. Ela se manifesta no texto por meio dessas características e é
exatamente isso que proporciona a unidade de sentido no texto.
Relação
Das metarregras de coerência apresentadas por Charolles, a
que apresentou mais problemas foi a relação, representando 59% do
total das ocorrências referentes aos problemas de coerência. Tal fato
demonstra que os advogados encontram dificuldades para expor as
ideias e articular os argumentos, conforme destaca o exemplo a seguir:
Progressão
Um texto processual, para ser bem sucedido, deve apresentar
uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Trazendo
para o contexto processual, deve apresentar os fatos, progredir na
argumentação e finalizar com a formulação de pedidos. Para tanto,
é necessário que o texto evolua em seu conteúdo, com a adição de
informações novas. Não basta que sejam acrescentadas palavras novas,
essas palavras devem servir com uma contribuição semântica nova. Na
ocorrência seguinte, não bastasse a ausência de renovação semântica, o
advogado reproduz as mesmas palavras:
Não-contradição
Esse tipo de entrave consiste em permear o texto com elementos
que contradigam um conteúdo posto pressuposto ou dedutível. É
preciso que se diga que o ato de se contradizer revela despreparo
argumentativo – capacidade que se pressupõe que qualquer
profissional do direito deva possuir, afinal a linguagem jurídica é,
por excelência, o campo da argumentação, da dialética. Ora, se o
operador jurídico é incapaz de construir uma proposição e depois
desconstruir o que ele mesmo enunciou, isso se avulta como uma
incapacidade notória de ser representante de alguém. Este realidade
pode ser vista no exemplo seguinte:
Repetição
Um dos casos encontrados é o que se segue:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MEIRELES, Cecília. Obra Poética. 2 ed. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora,
1967.
NOTAS
1
De acordo com Gagliano e Pamplona Filho, a imperícia “[...] decorre
da falta de aptidão ou habilidade específica para a realização de uma
atividade técnica ou científica.” (2003, p. 144)
2
O nome, o endereço, o número da OAB do advogado, bem como o
número da petição foram omitidos por questões éticas.
1
Doutor e mestre em Direito pela PUC-SP. Professor do programa de mestrado e doutorado da UENP-PR.
2
Mestrando em Ciência Jurídica pela UENP-PR.
71
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
1. INTRODUÇÃO
72
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
deu-lhe tratamento vantajoso, posto que é chamado a concorrer com os herdeiros de primeira e
de segunda classe, a depender do regime de bens estabelecido.
O objetivo geral do presente trabalho é discutir os aspectos patrimoniais sucessórios
do cônjuge sobrevivente em concorrência com os descendentes do “de cujus” nos diversos
regimes de bens, sendo o objetivo específico demonstrar que o cônjuge casado no regime de
separação convencional de bens não deve concorrer com os descentes do falecido, posto que
esta não foi a intenção da norma, sendo este também a problematização do tema proposto.
Volta-se particular atenção de que o regime da separação convencional de bens é
escolhido por meio de pacto antenupcial voluntaria e livremente entre os nubentes, a qual a lei
não deve contrariar o que em vida optaram deixar separado. Entendimento diverso certamente
viola o princípio da autonomia da vontade.
Para a elaboração e conclusão deste trabalho, optou-se como método de pesquisa o
dedutivo, pois por meio da análise da doutrinária e jurisprudência, bem como da legislação
pertinente, foi possível teorizar o entendimento quanto a concorrência do cônjuge supérstite nos
diversos regimes de bens. A técnica de pesquisa utilizada foi a bibliográfica, legislativa e de
decisões judiciais.
73
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
“Meação não é herança, pois os bens comuns são divididos, visto que a porção ideal
deles já lhe pertencia” (DINIZ, 2008, p. 124)
74
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
Note-se que, pela comunhão universal, os bens que pertencem ao
marido em regra, também pertencem à esposa e vice-versa. Assim,
estará garantida ao sobrevivente sua meação e seu amparo (TARTUCE,
SIMÃO, p. 167).
75
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
terá direito a concorrência sobre os bens particulares do “de cujus”, ainda que gravados com
clausula de incomunicabilidade.
Em relação ao regime de comunhão parcial de bens, verifica-se uma maior gama de
divisão do patrimônio entre os nubentes, posto que há possiblidade da existência de bens
comuns, de bens apenas do marido e bens apenas da mulher. Neste regime, comunicam-se
entre os cônjuges os bens adquiridos onerosamente na constância do casamento, excluindo da
comunhão os bens particulares, considerando estes como os que cada cônjuge possuía ao se
casar e os incomunicáveis constantes no art. 1.659 do Código Civil.
No regime de comunhão parcial de bens, segundo o art. 1.829, I, do Código Civil, o
cônjuge concorre com os descendentes quando houver bens particulares. Sob este prisma, a
doutrina debate se o cônjuge concorre sobre todo o acervo hereditário ou se apenas em relação
aos bens particulares.
Quando não houver bens particulares de cada cônjuge, o sobrevivente não herdará,
possuindo direito apenas a meação, sendo este o entendimento consolidado na doutrina e
jurisprudência.
Isso porque se não há bens particulares de cada cônjuge, o cônjuge sobrevivente será
meeiro da totalidade do que houver, já que a partilha ocorrerá apenas em relação aos bens
comuns. A interpretação do art. 1.829, inciso I, do Código Civil, é no sentido de que se o autor
da herança não deixou bens particulares, o cônjuge sobrevivente terá direito a sua meação,
sendo que a meação do “de cujus” será partilhada exclusivamente entre seus descendentes.
Assim, não há que se falar em concorrência sucessória do cônjuge sobrevivente quando o autor
da herança não houver deixado bens particulares no regime de comunhão parcial de bens.
No entanto, a questão polêmica que suscita debate na doutrina é em relação à
concorrência do cônjuge no regime de comunhão parcial de bens quando o autor da herança
houver deixado bens particulares. Atualmente há três correntes doutrinárias a respeito.
Para a primeira corrente, em havendo meação o cônjuge só concorrerá em relação aos
bens particulares.
76
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
Para este entendimento, o cônjuge só concorrerá quanto aos bens particulares, posto
que os bens comuns o mesmo é meeiro.
Importante destacar que esta corrente deriva do Enunciado 270, da III Jornada de
Direito Civil, organizada pela Justiça Federal, que assim dispõe:
77
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
apenas a sua meação e parte dos bens particulares, mas sim sua meação e parte de todo o acervo
hereditário.
78
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
regime legal, o direito à concorrência só pode ser deferido se não
houver bens particulares no acervo hereditário. (DIAS, 2010).
79
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
“Como o regime de participação final nos aquestos não esta referido entre as exceções
que afastam o direito de concorrência, ao cônjuge sobrevivente é assegurada parcela da
herança” (DIAS, 2008, 159).
No entanto, como no regime de participação final dos aquestos existem três massas de
bens (bens comuns, bens particular da mulher e bens particular do marido), poderão ocorrer
diversas situações na concorrência do cônjuge.
A primeira situação é aquela em que todos os bens deixados pelo
cônjuge falecido são bens particulares. Nessa hipótese o cônjuge
supérstite não terá direito à participação sobre eles, mas apenas direito
sucessório em concorrência com os descendentes.
A segunda esta presente quando todos os bens deixados pelo falecido
são bens aquestos. Nessa hipótese o cônjuge supérstite terá direito à
participação sobre todos eles em decorrência do regime, mas não terá
direito sucessório em concorrência com os descendentes. Havendo
participação em vida, não haverá concorrência quando da morte.
Por fim, pode-se falar da situação em que o falecido deixa aquestos em
que há participação do cônjuge viúvo e bens particulares em que não há
participação. Nesse caso, quanto aos aquestos, em que há participação
em razão do regime, não terá o viúvo direito sucessório em
concorrência com os descendentes; quanto aos demais bens, como não
tem direito á participação, terá a concorrência sucessória (TARTUCE,
SIMÃO, 2008, p. 185).
80
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
Civil. Assim, impõe-se este regime àqueles que convolarem núpcias pendendo causas
suspensivas, com pessoa maior de setenta anos e de todos que dependerem para casar de
suprimento judicial (BRASIL, Código Civil, 2002).
O regime de separação obrigatória de bens, o cônjuge sobrevivente, em regra, não terá
direito a concorrência com os descendentes do “de cujus”.
81
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
82
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
Ao julgar um caso que envolvia herdeiros, cônjuge sobrevivente e
regime de bens, o referido Tribunal atendeu os anseios de uma sensata
maioria ao determinar não subsistir ao cônjuge casado sob o regime da
separação convencional de bens, direito à concorrência sucessória,
privilegiando assim a autonomia da vontade privada em detrimento da
ordem de vocação hereditária imposta pelo novo diploma civil.
(GEROTI, 2010).
83
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
84
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
interpretação sistemática dos art. 1.829, I, e do art. 1.687 do Código Civil, conforme asseverou
Miguel Reali, bem lembrado por Celina Goes, em artigo publicado pelo IBDFAM.
Para o professor Reali, a interpretação para chegar a conclusão deve ser feita entre os
dispositivos da matéria examinada, quais sejam: o de que trata da concorrência do cônjuge e o
de que dispõe sobre o regime de separação convencional de bens. Assim, conclui:
85
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
Caso o cônjuge casado sob o regime convencional de bens queira assegurar certa parte
de seu patrimônio a seu consorte, que faça doação ou testamento da parte disponível da herança.
Cabe ao cônjuge utilizar-se desses institutos para deixar bens a seu consorte, quando casado no
regime de separação convencional de bens. Não deve o Estado interferir e impor que o cônjuge
seja herdeiro necessário no regime de separação convencional, eis que evidente violação a
autonomia da vontade.
Se em vida os cônjuges resolveram, de forma voluntaria e livre, adotar o regime de
separação total de bens, certamente na morte pretendem que assim seja mantido.
O Código Civil decidiu que os cônjuges casados pelo regime de separação
convencional de bens possuem total liberdade na administração de seus bens e separação do
patrimônio em vida. Portanto, não cabe ao legislador contrariar o disposto no art. 1.687 do
referido diploma legal, afirmando que o cônjuge sobrevivente é herdeiro necessário no regime
de separação convencional de bens, ou seja, não cabe ao mesmo misturar os bens no momento
da morte.
86
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
princípio da mutabilidade do regime de bens. Logo, se em vida o morto não quis alterar o regime
de bens, nem fazer doações ou testamento a seu consorte, não cabe ao legislador impor o
cônjuge sobrevivente como herdeiro necessário em concorrência com os descendentes.
Ao Estado não é lícito interferir na vida exclusiva do casal, sob pena de violar o
disposto no art. 1.513 do Código Civil, que determina que é vedada a intervenção publica ou
privada na comunhão de vida instituída pela família. (BRASIL, Código Civil, 2002).
Além disso, contrariar a vontade dos nubentes no momento da morte viola também o
princípio da dignidade da pessoa humana, de onde decorre a autonomia da vontade. “Por tudo
isso, a melhor interpretação é aquela que prima pela valorização da vontade das partes na
escolha do regime de bens, mantendo-a intacta, assim na vida como na morte dos cônjuges”.
(BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, 2009).
Uma vez estipulado o regime de casamento como o de separação convencional de
bens, esta estipulação deve prevalecer na constância do casamento, bem como em sua
dissolução por divórcio ou por morte.
87
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
Portanto, não deve a Lei infringir a vontade livre estipulada por meio de pacto
antenupcial, sob pena de não conferir segurança jurídica aos atos dotados de publicidade
oponível “erga omnis”.
A intenção dos cônjuges que escolhem, livre e reciprocamente, o regime de separação
absoluta é de clareza solar: estabelecer uma relação afetiva sem interseções patrimoniais,
apenas afetiva e amorosa. (FARIAS, ROSENVALD, 2017, p. 316).
A gravidade do problema reside em situações na qual o falecido possui filhos
exclusivos que não é filho do cônjuge sobrevivente. Nesta situação, adotar que o cônjuge
sobrevivente deve concorrer com os filhos exclusivos do falecido, evidentemente altera toda a
lógica do sistema. Imagine-se que a viúva também tenha filhos exclusivos. Deste modo, os bens
que o cônjuge sobrevivente recebeu em concorrência com os descendentes do falecido será
posteriormente transmitido aos seus descendentes exclusivos, que nada tem haver com o
proprietário originário.
Veja que a situação certamente gera discórdia, pois que é incompreensível imaginar
que pessoa estranha ao afeto e a consanguinidade possa receber o patrimônio que deva pertencer
aos herdeiros verdadeiros.
O que causa maior estranheza ao entendimento de que o cônjuge sobrevivente casado
no regime de separação convencional de bens deve concorrer, é o fato de se estar diante de
relações privadas, na qual o Estado não deve intervir, sendo que toda e qualquer intervenção
torna-se absurda e excessiva.
O sentido lógico da existência do regime de separação convencional de bens é
justamente o de separar o patrimônio dos consortes, para que cada cônjuge tenha seus bens
exclusivamente. Assim, entender que neste regime o cônjuge sobrevivente deva concorrer
esvazia e torna inócua a sua adoção, principalmente quando o proprietário do patrimônio já
antevia nada deixar para seu consorte.
Com isso, o entendimento favorável a concorrência ignora o regime escolhido
voluntariamente pelo casal, afrontando a autonomia da vontade. (FARIAS, ROSENVALD,
2007, p. 322).
O Superior Tribunal de Justiça, no acórdão capitaneado pela Ministra Nancy Andrighi,
demonstrou a decisão mais acertada, ao decidir afastar o cônjuge sobrevivente casado sob o
regime de separação convencional de bens da concorrência com os descendentes do falecido,
posto que entendimento em sentido diverso contraria a sistemática da matéria. Assim, tal
88
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
entendimento esta em consonância com os demais dispositivos legais e principiológicos,
merecendo criticas a decisão proferida no Recurso Especial n. 1.552.553/RJ/SP.
A par disto, embora supostamente o Superior Tribunal de Justiça tenha pacificado o
entendimento, espera-se que novos casos concretos cheguem em referida Corte, para que ao
final possa proferir julgamento coadunado com os princípios da autonomia da vontade,
dignidade da pessoa humana e intervenção mínima do Estado nas relação privadas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O regime de comunhão parcial de bens traz discuções doutrinárias, sendo que alguns
defendem que o cônjuge sobrevivente herdará somente os bens particulares, outros dizem que
herdará os bens particulares e a meação do falecido e, ainda, há quem defenda que o cônjuge
sobrevivente não herdará caso haja bens particulares do “de cujus”.
No regime de participação final nos aquestos os bens se comunicarão somente no
momento da dissolução da sociedade conjugal, sendo que na constância desta vigora verdadeira
separação de bens. No entanto, como no regime de participação final dos aquestos existem três
massas de bens (bens comuns, bens particular da mulher e bens particular do marido), poderão
ocorrer diversas situações na concorrência do cônjuge.
O regime de separação de bens se subdivide em convencnional e obrigatório. O regime
de separação obrigatória de bens decorre da Lei quando os nubentes se enquadrarem nas
hipoteses do art. 1.641 e incisos, do Código Civil, sendo certo que, neste regime, o cônjuge
sobrevivente não receberá nada como herança, possuindo, pela súmula 377 do Supremo
Tribunal Federal, direito apenas a parte dos bens adquiridos na constância do casamento. Já o
regime de separação convencional de bens deve ser escolhido por meio de pacto antenupcial.
Neste regime, parte da doutrina, interpretando o art. 1.829, inciso I, do Código Civil, defende a
concorrência do cônjuge sobrevivente com os descendentes do falecido.
O Superior Trbunal de Justiça, no ano de 2009, proferiu entendimento de que cônjuge
sobrevivente não deve herdar no regime de separação convencional de bens. Porém, poucos
anos depois, o mesmo Tribunal decidiu de forma totalmente oposta ao entendimento anterior,
concedendo ao cônjuge sobrevivente o direito a herdar juntamente com os descendentes do “de
cujus” no regime de separação convencional de bens.
89
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
90
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
5. REFERÊNCIAS
AMORIM, Sebastião Luiz. OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Inventários e Partilhas: Direito
das Sucessões. São Paulo: Universitária de Direito, 2006.
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 992.749. Relatora Ministra Nancy
Andrighi. 21 de dezembro de 2009. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=992749&b=ACOR&p=true&t=JUR
IDICO&l=10&i=7> acesso em 06 de abril de 2018.
91
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Ilton Garcia Da Costa & Marcos Paulo dos Santos Bahig Merheb
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das sucessões. 22ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2008.
Enunciado 270. III Jornada de Direito Civil. Coordenador Geral Ministro Ruy Rosado de
Aguiar. Disponível em:< http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/531>. Acesso em 05 de
abril de 2018.
FARIAS, Cristiano Chaves, ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: direito das
sucessões. 3ª ed. Salvador: Juspodivm, 2017.
GOES, Celina de Sampaio. Sucessão: Cônjuge Casado no Regime da Separação de Bens não
concorre com os descendentes. Disponível em:
<http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=313> acesso em 05 de março de 2018.
JUNIOR, N. Nelson. NERY, M. A. Rosa. Código Civil comentado. 4ª ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006.
92
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
O REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS E A NÃO CONCORRÊNCIA DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM OS DESCENDENTES DO “DE CUJUS”
MIRANDA, Pontes de.Tratado de Direito de Família. Campinas: Bookseller, 2001. p. 148
TARTUCE, Flavio, SIMÂO, José Fernando. Direito civil: direitos das sucessões. 2ª ed. São
Paulo: Método, 2008.
93
Verônika Karine Lira Riedel - 03388116130
Organização Comitê Científico
Double Blind Review pelo SEER/OJS
Recebido em: 02.07.2018
Aprovado em: 11.07.2018
Revista de Direitos Sociais, Seguridade e Previdência Social
RESUMO
Este artigo trata das questões atinentes ao BPC (Benefício de Prestação Continuada) previsto
na Lei Orgânica da Assistência Social. No cerne desta análise, está a renda per capita familiar
do requerente limitada a ¼ do salário mínimo que, por vezes, impede a concessão deste
benefício, pois a autarquia (INSS) não analisa outros critérios sociais para auferir condição de
hipossuficiência do necessitado, desprezando, as decisões dos Tribunais Superiores que vem
adotando outros critérios sociais para a concessão do amparo estatal.
ABSTRACT
This article deals with the issues related to the BPC (Continuous Benefit Benefit) provided for
in the Organic Law of Social Assistance. At the heart of this analysis is the per capita family
income the applicant limited to ¼ the minimum wage, which sometimes prevents the grant
this benefit, since the (INSS) does not analyze other social criteria to obtain a condition
hyposufficiency the needy, despising, are the decisions of the High Courts that have adopted
other social criteria allowing the granting state protection.
Keywords: Human Rights; Family Income; BPC; Organizational Law Of Social Assistence
INTRODUÇÃO
Em um Estado Democrático de Direito, o princípio da igualdade e da dignidade da
pessoa humana são e devem ser indissociáveis, pois por meio deles é que se pode promover o
bem estar de todos os necessitados, o equilíbrio econômico e social para suplantar as
desigualdades.
1
Especialista em Direito Previdenciário pela Faculdade Legale. (2016). Especialista em Direito Penal pela
Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus. (2017) . Graduado em Direito pelo Centro Universitário da
Fundação de Ensino para Osasco – UNIFIEO. (2010). Advogado. – drteixeira@hotmail.com
2
Mestre em Direitos Humanos Fundamentais pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino para Osasco-
UNIFIEO. (2016). Especialista em Comércio Exterior Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas
Unidas (UNIFMU). Graduado em Direito pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino para Osasco -
UNIFIEO. (2010). Advogado. – cariolaviana@gmail.com
Estes princípios ganharam força e atuaram como verdadeiras molas propulsoras para
a afirmação da Revolução Americana, liderada por Thomas Jefferson em quatro de julho de
1779, que juntamente com os representantes dos trezes estados deram o esteio à igualdade
entre homens.
No âmbito dos Direitos Humanos, a Carta das Nações Unidas, promulgada no ano de
1945, reafirmou a fé nos direitos fundamentais, na dignidade e na igualdade de direitos dos
homens e das mulheres. O legislador brasileiro instituiu na Constituição da República
Federativa do Brasil, de 1988, o princípio da dignidade da pessoa humana previsto no artigo
1, inciso III e a igualdade de todos os cidadãos perante a lei sem distinção de qualquer
natureza no “caput” do artigo 5º.
Nesse diapasão, temos que a Constituição Federal Brasileira, de 1988, consagrou os
direitos sociais como uma prestação legal imposta ao Estado. O ônus estatal, por meio de
políticas sociais e participação privada, possibilita melhoria das condições de vida daqueles
que são considerados hipossuficientes, vez que, a estes atribui o direito à alimentação,
trabalho, saúde e a própria manutenção da vida, alicerces intrínsecos no princípio da
igualdade e da dignidade da pessoa humana.
Alicerçado nessas ideias, o presente trabalho foi dividido em três capítulos. No
primeiro capítulo abordamos a gênese da ideia de seguridade social, desde a história do
homem primitivo, que após dominar as técnicas de conservação de alimento, passou a estocá-
los na tentativa de prevenir eventos futuros e, por fim, as transformações após a Segunda
Guerra Mundial consolidadas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho).
No segundo capítulo, analisamos os aspectos históricos da Seguridade Social no
Brasil. Ao longo de décadas, as caixas de assistência foram crescendo e abrangendo diversas
classes de trabalhadores até formarem um grande sistema de caixas assistenciais sem
conexões entre si e, por fim, a criação do Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS no
ano de 1990.
No terceiro capítulo, destacamos o critério da renda per capita de ¼ do salário
mínimo utilizada pelo INSS e a posição dos Tribunais Superiores acerca deste parâmetro
como requisito para concessão do benefício de prestação continuada.
O conceito de proteção social teve sua gênese no seio das famílias primitivas, pois no
passado era comum o aglomerado de pessoas de laços consanguíneos. Nestas comunidades
familiares, cada indivíduo possuía uma responsabilidade, ficando a cargo dos mais jovens em
pleno vigor físico, a missão de cuidar dos mais idosos e incapacitados. Nesse sentido, o
homem médio sempre procurou meios de garantir sua alimentação e de sua família quando
exposto a carência econômica, enfermidade, incapacidade laboral, diminuição ou perda de
renda. Tais fatores levaram a necessidade de criação de instrumentos de proteção para
confrontar as mazelas sociais, refletindo no mundo jurídico (IBRAHIM, 2015, p.2).
Nessa fase, não havia direito subjetivo do necessitado à proteção social, mas
mera expectativa de direito, uma vez que o auxílio da comunidade ficava
condicionado à existência de recursos destinados à caridade.
protegessem dos “perigos sociais”, ou seja, dos riscos incertos e futuros, tais como: doença,
velhice, invalidez e morte. (KERTZAMAN, 2015, p.45)
Durante o século XX, a sistemática Bismarckiana estendeu-se pela Europa, contudo,
sucumbiu diante das consequências causadas pela Primeira Guerra Mundial. Naturalmente, o
número de órfãos, viúvas e combatentes feridos consumiram toda e qualquer reserva
financeira principalmente na Alemanha e Áustria. (DOS SANTOS, 2013, p.38).
Em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes, surgiu o a primeira tentativa de
se implantar um regime universal de justiça social.Com a Fundação do Bureau International
Du Travia (BIT) – Repartição Internacional do Trabalho – realizou-se a 1ª Conferência
Internacional do Trabalho, que atribuiu o desenvolvimento da previdência social e a
implantação em todas as nações do mundo civilizado. Como resultado dessa conferência,
surgiu a primeira Recomendação para o seguro desemprego. A 3ª Conferência, realizada no
ano de 1921, recomendou a extensão do seguro social aos trabalhadores da agricultura. A 10ª
Conferência, realizada em 1927, estendeu as demais Convenções e Recomendações sobre o
seguro desemprego aos trabalhadores das indústrias do comércio e da agricultura. Em 1933 e
1934 foram realizadas a 17ª e 18ª Conferências respectivamente. Suas recomendações
consolidaram e regularam o seguro contra o desemprego. (DOS SANTOS, 2013, p.39)
A Segunda Guerra Mundial foi responsável por grandes transformações no conceito
de proteção social. Em 1941, o governo Inglês, empenhando na reconstrução do país, formou
uma Comissão liderada por Sir Willian Beveridge. ( BBC, 2018, p.1)
O plano analisou o seguro social e seus serviços abrangendo as necessidades dos
fundos e as previsões. Beveridge teve papel importante no desenvolvimento da legislação
social na Europa e na América. (DOS SANTOS, 2013, p.40)
Foi em 1944, que a OIT3 (Organização Internacional do Trabalho) adotou a
orientação para unificação dos sistemas de seguro social estendendo a todos os trabalhadores
rurais e urbanos, inclusive seus familiares. Somente em 1952, na 35ª Conferência
Internacional foi que a OIT aprovou a Convenção nº 102, denominada “Norma Mínima em
Matéria de Seguridade Social”, cuja aprovação ocorreu na 35ª reunião da Conferência
3
SITE OIT, disponível em: http://www.oitbrasil.org.br - OIT: foi criada em 1919, como parte do Tratado de
Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Fundou-se sobre a convicção primordial de que a paz
universal e permanente somente pode estar baseada na justiça social. É a única das agências do Sistema das
Nações Unidas com uma estrutura tripartite, composta de representantes de governos e de organizações de
empregadores e de trabalhadores. A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do
trabalho (convenções e recomendações) As convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país,
passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. Acesso em: 14 de fevereiro de 2018.
Diferentemente das outras áreas do sistema, a assistência social não possui fonte de
custeio própria. O segurado não está submetido a regra da contrapartida, ou seja, não realiza
contribuições, contudo, possui o direito de ser amparado pelo sistema no caso de evento
futuro que o impeça de promover sua própria subsistência ou de tê-la por meio da família.
(CASTRO, LAZZARI, 2017, p.574)
Prevê o artigo 203 da Constituição Federal Brasileira de 1988, que a assistência
social será custeada pela seguridade social. A seguridade Social, por sua vez, é financiada por
toda a sociedade direta e indiretamente mediante recursos oriundos dos orçamentos da União,
dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, nos moldes do artigo 195 da Carta Magna.
(BRASIL, CF, 2018, p.78)
Em seu bojo, a lei 12.435 trouxe uma significativa alteração no tocante ao cálculo da
renda familiar apresentando um amplo rol de parentes que passou a considerar cônjuge ou
companheiro, pais e, na ausência destes, madrastas ou padrastos, irmãos solteiros, filhos e
enteados solteiros desde que estejam sob o mesmo teto. Embora a lei 8.213/1991, em seu
artigo 16 trouxesse a previsão similar, na prática, gerava divergências de entendimentos, por
exemplo quando o filho maior de 21 anos, mesmo ajudando no sustento da família não era
considerado no computo da renda familiar por não constar no rol de dependentes do regime
geral da previdência social RGPS. (IBRAHIM, 2015.p.15)
Em 31 de Agosto de 2011, foi sancionada a Lei 12.470, que alterou a recente regra
prevista na Lei 12.435 do mesmo ano. Pela nova legislação (Lei 12.470/2011) a restrição
temporal limitada a dois anos permaneceu, contudo, ocorreu a inserção do termo impedimento
o que permitiu uma ampliação na concessão do benefício a outros segurados, até pelo fato de
que o termo incapacidade é mais adequado à aptidão para o trabalho, o que não faria sentido
para as crianças. (IBRAHIM, 2015.p.15)
O Decreto 8.805, de 7 de Julho de 2016, em seus artigos 12 e seguintes, trouxeram
dois novos requisitos para a concessão do benefício de prestação continuada quais sejam: a
manutenção e a inscrição no Cadastro de Pessoa Física – CPF e no CadÚnico – cadastro único
para Programas Sociais do Governo Federal. (BRASIL, DECRETO 8.805/2016, 2018, p.05)
O CadÚnico é procedimento realizado pelo CRAS – Centro de Referência de
Assistência Social ligado as Secretarias de Assistências Sociais Municipais, destinadas
especificamente à articulação dos serviços socioassistencias, programas sociais e proteção
básicas as famílias com maior potencial de vulnerabilidade. (IBRAHIM, 2015.p.16)
Embora, todo o ordenamento jurídico pátrio ao longo dos anos tenha ampliado e
definido novos conceitos que possibilitaram contemplar o maior número de incapazes e
impedidos possíveis, o critério da renda per capita de ¼ de salário mínimo ainda é o principal
óbice na concessão do benefício assistencial no rito administrativo do INSS. (AMADO, 2015,
p.53)
Por ser um tema pra lá de polêmico, o Supremo Tribunal Federal já havia enfrentado
a questão de forma parcial. Em 27 de agosto de 1998, o STF julgou a ADI 1.232, trazia a baila
a questão do critério de ¼ de salário mínimo como requisito limitador de concessão do
benefício assistencial. Naquela época, o STF validou abstratamente o critério sob o
fundamento de que cabia ao legislador infraconstitucional a competência para fixar critérios
de concessão do referido benefício. Embora, a Suprema Corte tenha se pronunciado acerca do
critério objetivo, não houve a manifestação expressa sobre a possibilidade de se utilizar de
outros critérios para apuração do estado do segurado. (AMADO, 2015, p.58)
Importante registrar que a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal não é
vinculante, ou seja, não proíbe a Autarquia (INSS) de utilizar o critério da renda per capita de
¼ do salário mínimo como requisito, motivo pelo qual, até hoje este critério vigora na
concessão realizada no âmbito administrativo. (IBRAHIM, 2015, p.25)
Nesse sentido, o Decreto 8.805, de 07 de Julho de 2016 em seu artigo 14 parágrafo 5º
estabelece que:
Na hipótese de ser verificado que a renda familiar mensal per capita não
atende aos requisitos de concessão de benefício, o pedido deverá ser
indeferido pelo INSS, sendo desnecessária a avaliação da deficiência.
(BRASIL, DECRETO 8.805/2016, 2018, p.07)
Que se o INSS afastasse o critério legal invalidado pelo STF, não haveria
outro critério legal a adotar, haja vista a sua não aprovação pelo Congresso
Assim, por falta de uma legislação capaz de alterar os pressupostos legais exigidos
na atual legislação, notadamente, na contramão do entendimento doutrinário e jurisprudencial
segue o INSS aplicando o critério da renda familiar estabelecidas nas Instruções Normativas e
Portaria conjuntas, motivo pelo qual, há considerável aumento das demandas no Poder
Judiciário que transformam esta Justiça Especializada quase que em uma extensão do balcão
de atendimento da Autarquia. (DOS SANTOS, 2013, p.155)
A proteção da dignidade da pessoa humana, insculpido como princípio fundamental
no artigo 1º da Constituição Federal Brasileira de 1988, é considero alicerce e fonte de todos
os direitos fundamentais, portanto, deve ser a luz norteadora da ordem social e política de um
Estado Democrático de Direito.
Nesse sentido, Anna Cândida da Cunha Ferraz e Valdir dos Santos Pio dissertaram,
em artigo publicado pela Revista Mestrado em Direito da Edifieo, sobre os aspectos históricos
e atuais quanto a positivação dos direitos fundamentais, destacam que:
garantia da sua sobrevivência e do seu bem estar social como o mínimo de dignidade, ou seja,
Segurança Humana. (OLIVEIRA, 2018, p.134)
Nesse sentido, a ONU – Organização das Nações Unidas definiu Segurança Humana
como a proteção contra ameaças sistêmicas que podem atingir o cerne de todas as vidas
humanas, cabendo ao Estado o ônus de fomentar tais condições por meio de políticas públicas
(OLIVEIRA, 2018, pp.135).
CONCLUSÃO.
Concluímos que os procedimentos adotados pela Previdência Social na análise
dos requisitos previsto na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, para concessão do
Benefício de Prestação Continuada, embora fundamentada na lei ordinária, não se coadunam
aos Princípios Constitucionais da Dignidade da Pessoa Humana.
Os Direitos Fundamentais e a Segurança Humana devem pautar o ônus estatal de
prestar a assistência social à aqueles que estão mais vulneráveis e suscetíveis aos malgrados
que a vida lhes reserva.
A Carta Magna positivou a proteção ao idoso e ao deficiente (físico e mental),
portanto, ao legislador infraconstitucional coube a missão de regulamentar os procedimentos
que viabilizem a concessão de tais amparos assistências.
Em um Estado Democrático de Direito, cujo ordenamento jurídico tem seu
aprimoramento no reconhecimento da igualdade, fraternidade, no exercício dos direitos
sociais individuais, no desenvolvimento da harmonia social e na busca de uma sociedade mais
justa, é essencial que critérios rígidos e ampliados como o da renda per capita sejam cada vez
mais flexibilizados sob a Luz dos Direitos Humanos Fundamentais.
O tratamento igualitário, digno da pessoa humana concernentes a verificação da
miserabilidade ou estado de vulnerabilidade não está atrelado a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da norma legal. Cabe ao operador do direito aplicar a hermenêutica
Constitucional ao caso concreto, ou seja, o operador do direito deve se pautar pelos princípios
fundamentais humanos e, levar em conta o objetivo que o legislador buscou atender quando
positivou a norma.
Dessa forma, não há outro meio de se analisar o critério da renda per capita senão
pela ótica da situação fática do jurisdicionado aferindo o grau de sua vulnerabilidade social,
ou seja, para concessão do benefício de prestação continuada é fundamental a análise mais
extensiva dos fatores subjetivos do hipossuficiente tais como: idade, nível de escolaridade,
REFERÊNCIAS
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. 7 ed. Salvador. JusPODIVM.2015.
BIBLIA SAGRADA, Nova Versão Internacional. 14 ed. São Paulo: Vida Nova, 2010.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista Manual de Direito Previdenciário.
20 ed. Rio De Janeiro: Forense, 2017.
DOS SANTOS, Marisa Ferreira, Direito Previdenciário Esquematizado. 3ed. São Paulo:
Saraiva. 2013.
FERRAZ, ANNA Candida da Cunha; PIO, Valdir dos Santos. O direito à saúde como direito
fundamental social e sua concretização. Revista Mestrado em Direito. Edifieo; Osasco: 2012.
KELLY, Paul. O Livro da Política, São Paulo. Globo Livros, 1 ed., São Paulo: 2013.
LAZZARI, João Batista, Manual de Direito Previdenciário.20 ed. FORENSE: Rio de Janeiro:
2017.