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“A verdade simples é esta: eu precisava deste livro exatamente

agora! Existem verdades neste volume — entendimentos pastorais


e conselhos que curam — que falam de maneira muito pessoal e
terna. Ocasionalmente, o ponto de Murray é tão claro — claro
demais — a ponto de parecer que recebi um tapa na cara. Mas
sempre, sempre, o ponto é me conduzir a Cristo e ao abraço do
evangelho. No melhor sentido possível, isto é remédio para a alma,
e sou grato ao autor por escrevê-lo. Realmente parece que ele o
escreveu para mim.”
Derek W. H. Thomas, Pastor titular da First Presbyterian Church,
Columbia, South Carolina; Professor de teologia sistemática e
pastoral, Reformed Theological Seminary – Atlanta “Este livro é
muito atual. Para começar, depois que você o tiver lido, dormirá
melhor. Então, você será levado ao encontro da teologia
essencial e os detalhes de todas as coisas ligadas à nossa vida
estressada, em que David oferece sabedoria em cada página.
Este livro é perfeito para grupos de homens.”
Ed Welch, conselheiro; membro do corpo docente da Christian
Counseling and Educational Foundation “Por tempo demais, quer
consciente quer subconscientemente, nós cristãos temos
comprado a mentira platônica de que o espírito é importante, mas
não o corpo. O resultado é que temos negligenciado, talvez até
mesmo usado mal o nosso corpo. Não é de admirar que lutemos
com problemas de alimento, de sono e de saúde — tanto física
quanto mentalmente. Em Reset, David Murray nos faz retornar a
uma antropologia bíblica, dando-nos bases bíblicas e teológicas
com as quais podemos reorganizar nossa vida como pessoas
inteiras — de corpo e espírito — para a glória de Deus, para o
nosso bem-estar, e para o serviço ao próximo.”
Juan R. Sanchez, Pastor titular da High Pointe Baptist Church,
Austin, Texas; “De um vasto reservatório de experiências
pessoais, pesquisas sociais autenticadoras e sabedoria teológica
para todo o tempo, David Murray faz brilhar uma luz
esclarecedora sobre os obscuros perigos do esgotamento
pastoral. Ele oferece também direção prática, sobre como o jugo
suave de aprendizado com Jesus torna possível a vida marcada
pela graça, a qual conduz à integridade pessoal e vocacional.
Recomendo muito esta abordagem necessária.”
Tom Nelson, autor de Work Matters; Pastor titular da Christ
Community Church, Overland Park, Kansas; Presidente do Made
to Flourish “Homens, este livro cheio de sabedoria é como um
treinador pessoal para a sua vida diária. Aquele que o escreve
entende o que significa ser homem, com os cuidados e sonhos de
um homem. Ele se preocupa profundamente com o corpo e a
alma masculina que Deus deu a você. Você foi criado com grande
propósito. David Murray quer ajudá-lo a aprender como avaliar de
maneira prática a sua vida, a recuperar o seu propósito, e a viver
com propósito!”
Zack Eswine, Pastor titular da Riverside Church, Webster Groves,
Missouri; autor de O Pastor Imperfeito (Editora Fiel) “Reset é um
livro cheio de surpresas. Enquanto as estatísticas e os sociólogos
brigam por espaço ao lado de Charlie e a fantástica fábrica de
chocolate e um haggis de kilt, tudo é colocado dentro de robusta
antropologia bíblica e da psicologia pastoral bem fundamentada.
Tudo isso é permeado com fino toque de humor escocês
autodepreciativo. Dr. Murray é como Jeremias no rigor e amor
com o qual procura ‘arrancar e derrubar… construir e plantar’.
Mas é também como Jesus ao empregar a graça desconstrutora
e reconstrutora do evangelho. Eis um livro repleto de sabedoria
espiritual prática – e uma leitura essencial.”
Sinclair B. Ferguson, Professor de Teologia Sistemática,
Redeemer Seminary, Dallas, Texas “Em Reset, David Murray tira
nossos dedos do aperto mortal que sofremos pela idolatria ao
ativismo. Confesso ser viciado em trabalho, assim este livro
chegou na hora certa para mim. Implementei rapidamente as
estratégias delineadas no livro, e experimentei resultados
imediatos em termos de alívio, descanso e paz. Este livro é
implacavelmente honesto, refrescantemente conciso e
eminentemente prático, e pode literalmente salvar o seu
casamento, o seu ministério e a sua saúde. Eu me vejo visitando
novamente o Reset toda vez que preciso me lembrar da graça de
ambos: trabalho e descanso.”
Jemar Tisby, cofundador e presidente da Reformed African
American Network “Você tem em mãos o que possivelmente será
o livro mais culturalmente relevante para pastores que eu tenha
lido. Contida neste livro está a resposta à epidemia entre pastores
e homens cristãos que se esforçam muito, que estão em colapso
físico, emocional e espiritual, devido ao ritmo veloz exigido pela
cultura moderna. Murray expõe um plano totalmente bíblico,
imensamente prático, para qualquer homem cristão que queira de
volta a sua vida que foi capturada pela escravidão de sua
agenda. O belo testemunho pessoal de Murray da própria
necessidade de descanso vale pelo livro todo. Este livro será
leitura obrigatória para todo pastor que conheço.”
Brian Croft, Pastor titular da Auburndale Baptist Church,
Louisville, Kentucky; fundador do Practical Shepherding; docente
senior no Church Revitalization Center, The Southern Baptist
Theological Seminary
SUMÁRIO
Introdução
Oficina de Reparos 1 | Verificação da Realidade
Oficina de Reparos 2 | Revisão
Oficina de Reparos 3 | Descanso
Oficina de Reparos 4 | Recriação
Oficina de Reparos 5 | Relaxar
Oficina de Reparos 6 | Repensar
Oficina de reparos 7 | Reduzir
Oficina de Reparos 8 | Reabastecer
Oficina de Reparos 9 | Relacionamentos
Oficina de Reparos 10 | Ressurreição
Agradecimentos
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Sobre o Ministério Fiel
Aos pastores, presbíteros e diáconos da Grand Rapids Free
Reformed Church.
Vocês me ensinaram, por palavra e exemplo, o que significa ser um
homem de Deus.
INTRODUÇÃO
Foi um dos momentos mais humilhantes de minha vida. Eu
acabara de passar por uma bem-sucedida temporada de inverno
nas corridas do colégio e estava começando o treino para as
corridas da primavera. O treinador começou com uma série de
corridas de oitocentos metros, com o objetivo de dividir os
corredores de meia e de longa distância em primeiro e segundo
times. Eu não treinara antes porque estava acostumado a corridas
muito mais longas em condições muito piores.
Sabia que teria de correr um pouco mais depressa na distância
mais curta; assim, zarpei ao som do tiro. Quando estava no meio da
primeira volta, me achava uns bons cinquenta metros adiante de
todos os demais. “Isso é muito fácil”, pensei. Não tinha os sinais
usuais de corrida em campo para me ajudar a cronometrar minha
velocidade, mas numa corrida tão curta em uma temperatura tão
agradável da primavera, o que poderia dar errado?
No final da primeira volta, meus pulmões começavam a
arrebentar e minha liderança por cinquenta metros passou a ser de
vinte e cinco. Logo, um corredor me ultrapassou e, em seguida,
outro e mais outro, até que um dos corredores piores da minha
turma passou por mim com um sorriso de deboche. No marco de
seiscentos metros, resolvi ficar “machucado” e caí desmontado ao
lado da pista.
Do modo mais difícil, aprendi que manter o passo certo na corrida
é uma das habilidades mais importantes para os atletas de corrida.
Se formos devagar demais, fracassamos, sem jamais vencer ou
cumprir todo o nosso potencial. Se formos depressa demais,
fracassamos ao nos ferir ou perdendo a força antes de chegar à
linha de chegada. Encontrar o ritmo perfeito, o doce ponto entre
devagar demais e depressa demais, é essencial para o sucesso e a
longevidade como atleta — e como cristão.
ACELERAR E DESACELERAR

Em anos recentes, numerosos líderes cristãos têm conclamado


cristãos letárgicos e de coração dobre a acelerar o seu ritmo, a
dedicar mais de seu tempo, talentos, dinheiro e esforços para servir
o Senhor na igreja local e no trabalho evangelístico, em casa e no
exterior. Dou boas-vindas a essa mensagem “radical” de “não
desperdice a sua vida”, de acelere o passo, e me alegro por seu
impacto positivo sobre milhares de cristãos, especialmente entre as
gerações mais jovens.
Há outros, porém, muitos deles cristãos fiéis e zelosos,
especialmente aqueles com mais de trinta e cinco anos de idade,
que precisam ouvir uma mensagem diferente: “Desacelere o passo
ou você nunca vai terminar a corrida”. Como advertiu Brady Boyd
em seu livro Addicted to Busy: “Afinal, todo problema que vejo em
cada pessoa que conheço é um mexer-se rápido demais por tempo
demais em demasiados aspectos da vida”.1
Não estou propondo que ponhamos os pés para cima e saiamos
da vida e do serviço cristão. Não. Estou falando de ajustar com
cuidado as mudanças na vida ao envelhecermos, quando as
responsabilidades aumentam, as famílias crescem, os problemas se
multiplicam, os níveis de energia diminuem, e surgem complicações
na saúde. É o que os corredores de sucesso fazem ao manter o
ritmo certo. São sensíveis a mudanças significativas em si e às
condições da corrida, configurando novamente o ritmo para evitar se
machucar ou cansar demais, garantindo um final feliz e bem-
sucedido.
Descobri que essa habilidade de manter o ritmo está em falta
entre homens cristãos, sendo que o resultado é que muitos —
especialmente aqueles mais dedicados a servir a Cristo em suas
famílias, no seu lugar de trabalho e na sua igreja local — estão
desmoronando ou murchando antes da corrida terminar. Mas isso
não é um problema apenas de cristãos; é também um problema
cultural. Nos Estados Unidos, perdem-se uns duzentos e vinte e
cinco milhões de dias de trabalho a cada ano devido ao estresse;
são quase um milhão de pessoas que faltam ao trabalho a cada
dia.2 E, os dados a respeito de pastores são especialmente
preocupantes, com altos índices de estresse, depressão e
esgotamento, os quais levam a corpos quebrados, mentes
detonadas, corações despedaçados, casamentos falidos, igrejas
quebradas. (O esgotamento é responsável por vinte por cento de
todas as demissões de pastores.3) Isto não nos surpreende, visto
que as pesquisas revelam que os pastores relegam exercício físico,
nutrição e sono a uma prioridade muito inferior à de outros
trabalhadores.4 Já estive nessa condição e fiz isso — sofrendo as
consequências. Através de experiências pessoais dolorosas, e
também por aconselhar muitas outras pessoas desde então, aprendi
que Deus graciosamente tem provido várias maneiras para reajustar
vidas quebradas e esgotadas, e para nos ajudar a viver orientados
pela graça dentro de uma cultura de esgotamento.
Embora dois esgotamentos não sejam idênticos, ao aconselhar
inúmeros cristãos que passam por isso, tenho notado que a maioria
tem em comum uma coisa — existe “deficit da graça”. Não é que
estes cristãos não creiam na graça. De modo nenhum. Todos eles
estão bem fundamentados nas “doutrinas da graça”, e muitos deles
são pastores que pregam a graça poderosamente cada semana. Os
“cinco solas” e os “cinco pontos” são para eles alimento e bebida
teológica, mas possuem uma desconexão entre a graça teológica e
sua vida diária, resultando em cinco deficit da graça.

CINCO DEFICIT DA GRAÇA

Primeiro, o poder motivador da graça está em falta. Como


ilustração, tomemos cinco pessoas que imprimem Bíblias na mesma
linha de montagem. O Sr. Dólar pergunta: “Como consigo ganhar
mais dinheiro?” O Sr. Ambicioso pergunta: “Como vou conseguir
uma promoção?” O Sr. Agradador pergunta: “Como posso deixar
meu chefe mais feliz?” E, o Sr. Egoísta pergunta: “Como posso obter
satisfação pessoal em meu trabalho?” Todos eles parecem se sentir
chateados. Então, encontramos com o Sr. Graça, que pergunta: “Em
vista da graça maravilhosa de Deus em Cristo para mim, como
poderei servir melhor a Deus e ao próximo aqui, no meu trabalho?”
Do lado de fora, parece que todos os cinco estão fazendo o
mesmo trabalho, mas por dentro, são completamente diferentes. Os
primeiros quatro estão lutando, estressados, ansiosos, temerosos e
exaustos. O Sr. Graça, porém, está tão energizado por gratidão,
pela graça, que o seu trabalho o satisfaz e estimula em vez de
esgotá-lo. Onde a graça não estiver abastecendo uma pessoa de
dentro para fora, essa pessoa se queima de dentro para fora.
Também está ausente o poder moderador da graça. Ao lado do
Sr. Graça, o Sr. Perfeccionista se orgulha de seu desempenho sem
defeitos. Caso ele cometa um erro no trabalho, ele repreende e
castiga a si mesmo. Leva esse perfeccionismo legalista ao
relacionamento com Deus e com o próximo, resultando em
constantemente decepcionar-se consigo mesmo, com os outros, e
até mesmo com Deus.
O trabalho do Sr. Graça tem a mesma alta qualidade que o
trabalho do Sr. Perfeccionista, mas a graça modera suas
expectativas. Aos pés da cruz, ele aprendeu que não é perfeito e
jamais o será. Aceita que tanto seu trabalho quanto os seus
relacionamentos são falhos. Em vez de se atormentar com essas
imperfeições, calmamente as leva ao Deus perfeito, sabendo que,
por sua graça, Deus perdoa suas falhas e, em amor, aceita-o como
perfeito em Cristo. Para obter aprovação humana ou divina, ele não
precisa servir, sacrificar-se, ou sofrer, porque Cristo já serviu,
sacrificou-se, e sofreu em favor dele.
Sem a graça motivadora, apenas descansamos em Cristo, e não
agimos. Sem a graça moderadora, corremos sem parar — até nos
esgotarmos em tudo. Precisamos da primeira graça para nos
aquecer ao fogo quando estivermos perigosamente frios;
precisamos da segunda para nos refrescar quando estivermos
perigosamente quentes. A primeira nos tira da cama; a segunda nos
põe para dormir na hora certa. A primeira reconhece as exigências
justas de Cristo sobre nós; a segunda recebe a plena provisão de
Cristo para nós. A primeira diz: “Apresentem o corpo em sacrifício
vivo”; a segunda diz: “O seu corpo é o templo do Espírito Santo”. A
primeira vence a resistência de nossa “carne”; a segunda respeita
as limitações da nossa humanidade. A primeira nos faz aumentar a
velocidade; a segunda nos força a ir mais devagar. A primeira diz:
“Filho meu, dá-me as tuas mãos”; a segunda diz: “Filho meu, dá-me
o teu coração”.
O poder multiplicador da graça também é raro em vidas
esgotadas. Na linha de montagem, alguns obreiros cristãos são
impulsionados por alvos de produção. Se estiverem aquém de sua
quota diária de Bíblias, vão para casa deprimidos, porque “cada
Bíblia que deixamos de imprimir e empacotar é uma alma não
alcançada”. Como tudo depende do seu suor e músculos, eles
trabalham horas extras e quase não têm tempo para oração
pessoal.
Porém, o Sr. Graça, trabalha no horário normal, e ainda tem
tempo e paz para orar pedindo a bênção de Deus sobre cada Bíblia
que passa por suas mãos. Trabalha muito, mas depende da graça
de Deus para multiplicar o seu trabalho. Reconhece que, enquanto
uma pessoa planta a outra rega, e Deus dá o crescimento. Vai para
casa feliz, sabendo ter feito o que pôde, e ao deixar a fábrica às
cinco da tarde, ele ora, pedindo que Deus multiplique sua obra muito
além do que os músculos ou as horas poderiam fazer.
O poder da graça que alivia tem faltado frequentemente quando
uma pessoa se esgota. O Sr. Controlador, por exemplo, pensa que
tudo depende dele. Ele se envolve em cada passo do processo
produtivo, constantemente irritando os outros trabalhadores com o
seu microgerenciamento. Fica furioso com qualquer quebra na
produção, gritando com as pessoas e até mesmo com as máquinas
quando emperram. Ele diz crer na “graça soberana”, mas ele é o
soberano e a graça fica limitada à salvação pessoal.
Em contraste, o Sr. Graça reconhece que Deus é soberano
mesmo nos pequenos detalhes da vida, e abre mão do controle,
entregando tudo nas mãos de Deus. Trabalha com esmero, mas
humildemente se submete aos empecilhos e problemas, aceitando-
os como testes de sua confiança no controle de Deus. Em meio aos
desafios e atrasos, muitas vezes pode ser ouvido sussurrando a si
mesmo: “Solte. Abra mão, abra mão”.
Algo que também falta em muitos esgotamentos é o poder
receptor da graça. Diferente do Sr. Graça, a maioria de seus chefes
e colegas de trabalho recusa aceitar alguns dos melhores dons de
Deus. Não recebem a graça de um descanso (Sabbath) semanal do
domingo, a graça do sono suficiente, a graça do exercício físico, a
graça de estar com a família e amigos, ou a graça da comunhão
cristã. Todos estes são dons que o nosso amado Pai celestial
proveu para nos dar refrigério e renovar as suas criaturas. Em vez
de recebê-los humildemente, a maioria recusa-os e rejeita-os,
pensando que essas graças são para os fracos. Sim, é mais bem-
aventurado dar do que receber. Mas se nós não estivermos também
recebendo, o nosso doar acaba ressecando.
Enquanto existirem esses cinco deficit de graça na vida dos
cristãos, o quintal de desmanche vai continuar enchendo-se de
crentes quebrados e esgotados. Mas ao conectar a graça de Deus
cada vez mais à nossa vida diária — desenvolvendo essas cinco
graças — aprendemos a viver a vida no ritmo da graça dentro de
uma cultura de esgotamento. É isto que este livro o treinará a
desenvolver.

SÓ NA MEIA IDADE?

Este não é um livro só para homens de meia idade. Toda vítima de


esgotamento lhe dirá que os padrões insalubres de vida e trabalho
aprendidos na juventude causaram a sua derrocada mais tarde na
vida. Se existe algum grupo em perigo hoje em dia, é a geração
millennial (dos 18 a 33 anos de idade), cujos níveis de estresse
estão acima da média nacional, conforme relato da Associação
Americana de Psicologia. Trinta e nove por cento dos millennials
dizem que seu estresse tem aumentado no ano que passou, e
cinquenta e dois por cento disseram que as pressões quanto ao
trabalho, dinheiro e relacionamentos os têm mantido acordados à
noite no mês passado, sendo clinicamente deprimido um em cada
cinco, com necessidade de medicação.5 Como a prevenção é
sempre melhor do que a cura, espero que este livro ajude também a
homens mais jovens a aprenderem a renovar o corpo e a alma a fim
de viverem vidas pautadas pela graça em vez de fazerem parte das
estatísticas.

SOMENTE HOMENS?

Por que escrever só para homens? As mulheres também não


correm demais, se deprimem e se esgotam? É claro que sim; mas
frequentemente, elas o fazem de modo diferente dos homens, e por
razões diferentes; algumas das soluções também são diferentes.
Por este motivo é que minha esposa, Shona, está juntando-se a
mim para escrever comigo uma sequência deste livro, um Reset
para mulheres, se você quiser chamar assim. Como minha esposa
há vinte e cinco anos, mãe de cinco filhos (entre dois e vinte anos
de idade), médica de família há quinze anos, que sofreu de
depressão no passado, e tem aconselhado a muitas mulheres
através de muitos anos, Shona trará uma perspectiva feminina
especial aos problemas que as mulheres enfrentam nesta área e às
soluções que podem ajudar as mulheres cristãs a viverem no ritmo
da graça dentro de uma cultura de estressada.
Então, as mulheres deverão deixar este livro de lado para esperar
sair a versão feminina? Não! Se você quer entender melhor o seu
marido e ajudá-lo a viver uma vida pautada pela graça, continue
lendo e corra junto com ele, enquanto se exercitam juntos na pista,
a qual Deus o chamou para correr e na velocidade que o fará
chegar à linha de chegada.

SOMENTE PASTORES?

Quando Justin Taylor, da Crossway, originalmente me procurou


pedindo que eu escrevesse este livro, tinha em mente um livro
especialmente para pastores e outros líderes no ministério cristão.
Porém, entre os e-mails, telefonemas e as visitas ao escritório que
recebi de pastores estressados e esgotados no decorrer dos anos,
tive também a presença de muitos homens cristãos com chamados
não ministeriais que lutavam com desafios semelhantes e
responderam bem a conselhos semelhantes. Por esta razão,
resolvemos que o livro seria dirigido a homens cristãos em geral,
mas com foco especial nos líderes de ministério cristão.
Acreditamos ser este o melhor modo de ajudar o maior número de
homens, pastores e não pastores, a descobrirem como reajustar
suas vidas e gozar o equilíbrio saudável de motivação e moderação
da graça exemplificado pelo apóstolo:
Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem
de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que
tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que
nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da
fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta,
suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à
destra do trono de Deus. (Hb 12.1-2)
Brady Boyd, Addicted to Busy: Recovery for the Rushed Soul (Colorado Springs: Cook,
2014), 44.
Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to
Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), 43-44.
Lisa Cannon-Green, “Why 734 Pastors Quit (and How Their Churches Could Have Kept
Them)”, Christianity Today, January 12, 2016,
http://www.christianitytoday.com/gleanings/2016/january/why-734-pastors-quit-how-
churches-could-have-kept-them.html.
Gary Harbaugh, Pastor as Person: Maintaining Personal Integrity in the Choices and
Challenges of Ministry (Minneapolis: Augsburg Fortress, 1984), 47.
Sharon Jayson, “The State of Stress in America”, USA Today, February 7, 2013,
http://www.usatoday.com/story/news/nation/2013/02/06/stress-psychology-millennials-
depression/1878295/.
OFICINA DE REPAROS 1 | VERIFICAÇÃO
DA REALIDADE
“Você está com múltiplos coágulos de sangue nos dois
pulmões.”
Poucas horas antes, eu estava lendo e descansando numa
poltrona em casa quando senti um aperto repentino no pescoço,
uma pressão crescente que se espalhava pelo peito e braços. Era
doído, mas não insuportável. Eu estava quente, sem fôlego,
desorientado.
Embora os sintomas durassem apenas uns dez minutos, a minha
esposa, Shona (a experiente médica da família), insistiu que
precisava de mais investigação. Mas quando chegamos ao pronto
socorro, eu me sentia quase normal de novo, e gastei uns dez
minutos tentando persuadi-la que deveríamos simplesmente ir para
casa e não perder algumas horas e centenas de dólares com uma
visita sem sentido ao pronto socorro. Felizmente Shona insistiu e eu
concordei em entrar, sendo meu comentário final: “Estou fazendo
isso por você, não por mim!” (Pobre mulher!)
Ainda que os resultados do exame de coração fossem normais e
o médico tivesse noventa e cinco por cento de certeza de que tudo
estava em ordem, ele disse que era melhor verificar as enzimas do
sangue, no hospital do centro da cidade, só para ter certeza que não
houve ataque cardíaco… Enquanto eu protelava, Shona decidiu:
“Sim, nós vamos lá”.
No hospital, por acaso mencionei ao médico ter sentido dor no
músculo da panturrilha desde domingo pela manhã, e que eu
descartara como “um provavelmente repuxão do músculo ao fazer
tae kwon do”. O médico fez uma pausa, voltou-se para mim,
estreitou os olhos e perguntou: “Você tem viajado recentemente?”
Eu disse ter dirigido o carro ao Canadá, na sexta-feira passada,
voltando para Grand Rapids na segunda-feira pela manhã.
O médico pareceu preocupado e resolveu testar meu sangue, só
para descartar uma trombose venosa profunda (TVP) na minha
perna. Uma hora mais tarde (logo depois da meia-noite), os
resultados voltaram, positivos. Pela primeira vez, os alarmes
começaram a soar na minha mente.
Em seguida, mandaram-me fazer uma tomografia
computadorizada. Trinta minutos depois, ouvi as palavras que
mudariam minha vida (e eventualmente acabariam com ela):
“Parece que você tem múltiplos coágulos sanguíneos nos dois
pulmões [embolia pulmonar], provavelmente resultado de um
coágulo na perna”. Disseram que eu deitasse na cama e ficasse o
mais quieto possível para que outros coágulos não se soltassem da
perna e bloqueassem meu pulmão. Deram-me uma dose alta de
heparina, via oral e intravenosa, para estabilizar os trombos e
começar a afinar meu sangue.
Nas próximas trinta e seis horas fiquei profundamente abalado.
Todas as piadinhas sobre coágulos sanguíneos que eu ouvira no
passado resolveram inundar a minha mente, provavelmente em
parte provocadas pelas palavras com que o médico encerrou a
consulta: “Não se mexa na cama; você tem uma condição que
ameaça sua vida”. Sem que eu pudesse dormir, seguiu-se uma
confusão de exames, exames e mais exames que se seguiram
durante todo o dia seguinte, com resultados flutuantes: aumentando
minhas esperanças, para em seguida me desapontar e causar mais
preocupação.

É BOM SER AFLIGIDO?

Em um dos raros momentos de privacidade, que consegui agarrar


na tempestade que foi a primeira noite no hospital, peguei um livro
devocional diário ao lado da minha cama e abri na data do dia, para
ali encontrar meditações sobre os seguintes versos:
Em meio à tribulação, invoquei o SENHOR, e o SENHOR me ouviu e
me deu folga. (Sl 118.5)

Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus
decretos. (Sl 119.71)

Estes dois temas — gratidão a Deus por graciosamente me


libertar e um desejo de aprender com esse trauma— ficaram comigo
nos próximos dias. A principal lição foi dolorosamente clara: “Deus
tem me caçado”.
Esse foi o meu entendimento imediato e instintivo do motivo pelo
qual o Senhor havia mandado esses coágulos de sangue na minha
perna e meus pulmões. Três semanas e duas complicações mais
tarde, eu estava cada vez mais convencido que Deus estivera atrás
de mim por muitos meses, com flecha amorosa atrás de mais
flechas amorosas, até me colocar no pó.
Até um ano antes disso, eu vivera uma vida mais ou menos
saudável e vigorosa. Com quase dois metros de altura e pesando
oitenta e cinco quilos, eu estava no lado leve da média. Mas o
trabalho e o ministério haviam eliminado qualquer exercício regular
diário, e isso por alguns anos. Nos últimos nove meses, minha ficha
médica aumentou consideravelmente com mais dois problemas de
saúde, um dos quais culminou em grande (e muito dolorosa) cirurgia
três meses antes. Tive também um quase acidente assustador
quando voltava de viagem e meu carro derrapou no gelo negro, saiu
da estrada e acabou em um aterro. Essas providências me fizeram
parar?
Não por muito tempo. Por isso é que foram necessários os
coágulos. E a mensagem de Deus, através do meu sangue, foi:
“Pare!”
Minha vida e meu ministério tinham acelerado cada vez mais por
vários anos. Eram todas coisas boas: ministrava palestras, pregava
sermões, aconselhava, falava em conferências, escrevia livros,
estava criando quatro filhos (agora cinco), e assim por diante. Mas
foi às custas de tranquilidade e descanso — descanso físico,
emocional, mental, social e espiritual. Eu não negligenciara os
meios da graça — devocionais pessoais, culto doméstico,
frequência à igreja eram continuados e rotineiros — mas eram
rotineiros demais, com pouca ou nenhuma alegria. A vida se tornara
uma confusão inquieta e ocupada de obrigações e oportunidades
ministeriais. As graças do sono, exercícios, paz, relaxamento, boa
dieta, amizades, meditação e comunhão com Deus foram todas
sacrificadas em favor de atividades mais “produtivas”. Houvera
pouco ou nenhum tempo para “aquietai-vos e sabei que eu sou
Deus” (Sl 46.10).
Mas agora, na quietude forçada, eu ouvia um Deus amoroso e
cuidadoso, dizer: “Dá-me, filho meu, o teu coração” (Pv 23.26). Não
os seus sermões, não as suas palestras, não seus blogs, não seus
livros, não as suas reuniões, mas o seu coração. Dá-me você! Você
mesmo!
Eu não estive totalmente surdo aos apelos e intervenções
anteriores de Deus. Eu tinha ouvido, e tinha intenção de responder
completamente. Meu plano havia sido passar os meses de março e
abril totalmente abarrotados de compromissos, para então usar
umas quatro semanas no meu calendário para melhorar minhas
condições físicas, voltar a padrões mais saudáveis de dormir,
conseguir mais tempo para descansar, me aproximar mais de Deus,
e renovar algumas amizades que estavam se apagando. Era o meu
plano. Estava prestes a dar certo. Eu acabara uma longa série de
palestras e havia me acomodado à poltrona para dar início ao
planejado avivamento de minha alma. Trinta minutos mais tarde, eu
estava no hospital. O Planejador havia tirado da mesa o meu plano.

ESGOTAMENTOS E COLAPSOS

Por que eu deveria escrever isso tudo? Por que não aprender as
lições em particular? Creio que Deus me deu estas experiências não
somente para me ensinar, mas também para ajudar outras pessoas
que se esgotaram ou estão prestes a se esgotar. Visto que comecei
a falar a este respeito a tantos homens cristãos em diversas
conferências, encontrei incontáveis outros que haviam sofrido
esgotamentos ou colapsos de uma ou outra espécie — alguns eram
físicos como o meu, mas outros eram esgotamentos mentais ou
relacionais, enquanto ainda outros eram distúrbios emocionais ou
lapsos morais. Alguns daqueles homens ainda não estavam em
colapso, mas estavam preocupados com os enormes sinais de
advertência em suas vidas, querendo fazer alguma coisa para
prevenir o desastre prestes a acontecer. Um pastor confidenciou:
“Meu ministério havia se tornado uma casca sem coração, uma
questão de deveres infindos, sem a mínima alegria. Todo domingo
eu falava coisas verdadeiras ao povo de Deus, boas coisas. Mas
não eram mais coisas que eu vivia pessoalmente. Só faziam parte
de meu trabalho”.
Quaisquer que fossem as diferenças, qualquer que fosse a
pessoa, quaisquer que fossem os problemas, qualquer que fosse o
estágio de estresse ou esgotamento, todos notavam que viviam num
ritmo veloz demais e precisavam reconfigurar a própria vida. Eles
queriam que fosse mais bem refletida a graça do evangelho em seu
ritmo de vida. Desejavam maior alegria no serviço do evangelho.
Isso me estimulou a começar a desenvolver um programa
informal que agora chamo de Processo de Resetar. Eu o tenho
usado com inúmeros homens, e agora, através deste livro, desejo
ajudá-lo a redefinir a sua vida para que você possa evitar colisões
ou recuperar-se delas, estabelecendo padrões e ritmos que o
auxiliem a viver uma vida no ritmo da graça e levá-lo até a linha de
chegada com sucesso e alegria.
Isto não é fácil para a maioria de nós. Somos homens
independentes, autossuficientes, que acham difícil admitir
fraquezas, procurar ajuda, e mudar o vício tão fortemente arraigado
em nós de trabalhar demais, de nos ocuparmos demais,
produzirmos em demasia. Para pastores e líderes de ministério é
especialmente difícil; visto que muito de nosso trabalho é invisível e
intangível, podemos ser tentados a nos esforçar acima do que
podemos nas tarefas visíveis, a fim de provar que estamos ativos e
somos fortes. Mas é difícil também porque nosso trabalho é mais
obviamente um trabalho evangelístico. Como nos afastarmos disso?
Como diminuir a velocidade? Como descansar quando há almas
para serem salvas, sendo este um trabalho inerentemente tão bom
e tão (perigosamente) prazeroso?
Já estive lá e, de certa forma, ainda estou lá. Ainda é uma luta
diária continuar em um passo seguro. Mudar padrões de
pensamento, crenças e ações da vida inteira pode ser
extremamente difícil. Mas vale a pena lutar por uma vida cadenciada
pela graça, não só porque viveremos mais tempo (assim,
serviremos por mais tempo), como também com mais alegria, frutos
e “repletos de graça”.
Portanto, quero persuadi-lo a viver uma vida melhor e mais útil;
quero também persuadir você quanto a seriedade da sua situação.
O resto deste capítulo deverá desafiá-lo a avaliar a sua vida, a ter
uma visão sóbria, não somente do que é externo, mas do que
acontece internamente — em seu coração e mente. Isso não será
apenas o egocentrismo de olhar o próprio umbigo. “Cuidar de si
mesmo é o primeiro passo para cuidar dos outros, por amar o
próximo como a si mesmo”,6 diz J. R. Briggs. Não é egoísmo repor a
energia e renovar a vitalidade para melhor servir a Deus e ao
próximo. Como disse um de meus amigos: “Primeiro coloque a
máscara de oxigênio em você para então poder ajudar os outros”.
Então, vamos entrar na Oficina de Reparos 1, completar a lista de
verificação abaixo, e recomendo que a utilize para uma verificação
da realidade antes que a realidade o derrube, tal como fez comigo.

AVERIGUAÇÃO DA REALIDADE

O que devemos verificar? Nossos carros têm luzes de advertência


que podemos averiguar no manual do proprietário. O que são essas
“luzes de advertência” para os homens? Quais são os sinais de
perigo de que nosso ritmo atual pode terminar prematuramente a
corrida? Temos aqui uma lista de verificação, separada por
categorias. A categoria física teve mais marcas para mim; para você
pode ser na parte emocional, mental ou outra categoria. Deus
projetou cada um de nós de maneira diferente, e sabe quais “luzes
de advertência” vão chamar mais a nossa atenção. Alguns de nós
não conseguem (ou não querem) ver os sinais de advertência,
mesmo quando ficam piscando vermelho e azul bem na frente dos
nossos olhos, por isso sugiro que peça a sua esposa ou a um amigo
para fazer a verificação com você para lhe dar uma visão mais
objetiva.

Sinais Físicos de Alerta


• Você sofre com problemas de saúde, um após outro. Setenta e
sete por cento dos norte-americanos experimenta regularmente
sintomas físicos causados por estresse, incluindo dor de cabeça,
dores no estômago, dor nas juntas, dor nas costas, úlceras, falta
de fôlego, problemas de pele, intestino irritável, tremores, dor no
peito, ou palpitações.7
• Você se sente exausto e letárgico o tempo todo. Falta energia
ou força para praticar esportes ou brincar com os filhos.
• Você encontra dificuldade para dormir, acorda frequentemente,
ou acorda cedo e não consegue voltar a dormir. Talvez você se
identifique com o pesadelo de meu amigo Paul: “Veio então a
insônia. Insônia de matar. Acontece cada noite. Então, mais uma
noite. Comecei a ficar em pânico. O que estava acontecendo
comigo? Procurei meu médico. Ele me deu a receita de um
remédio para dormir de alta dosagem. Funcionou como uma
metralhadora dentro de um tanque de guerra”.
• Você segue o exemplo do empresário que admitiu: “Utilizei a
minha falta de sono para justificar dormir até mais tarde, e isso
só aumentava o ciclo de noites mal dormidas”.
• Você é como o pastor que confessou: “Meu sono exagerado era
simplesmente uma fuga”.
• Você está engordando por falta de exercícios ou por comer
alimentos não nutritivos, ou ingere álcool ou café demais.
Sinais Mentais de Alerta
• É difícil a concentração; é fácil a distração.
• Você pensa obsessivamente em certas dificuldades na sua vida.
Jim descreveu deste jeito: “Até as mínimas coisas me pesavam
como um fardo muito grande. Eu tentava tirar os problemas da
mente, mas era como se o cérebro estivesse emperrado. Os
pensamentos ficavam se repetindo constantemente. Nada de
novo foi acrescentado ao processo, nenhuma nova solução,
nada de informações novas. Era o mesmo ciclo se repetindo”.
Outro homem descreve como: “Eu tentava matar moscas
mentais”.
• Você esquece de coisas que antes costumava lembrar com
facilidade: encontros marcados, aniversários, aniversário de
casamento, compromissos, números de telefone, nomes, prazos
de entregas, etc.
• Você vê sua atenção atraída por assuntos negativos, e está
desenvolvendo um espírito hipercrítico e cínico.
• Seu cérebro parece frito.
Sinais Emocionais de Alerta
• Você sente tristeza, quem sabe, está tão triste que tem crises de
choro ou acha que está prestes a cair em prantos.
• Faz muito tempo que não dá uma boa risada nem faz outro rir.
Em vez disso, sente dormência emocional.
• Você se sente pessimista e sem esperanças quanto ao
casamento, filhos, igreja, emprego, país, etc.
• As preocupações invadem as horas em que está acordado e a
ansiedade vai para a cama com você a cada noite.
• Tão logo você acorda e pensa no dia à frente, o coração
começa a palpitar forte, e o estômago fica revirado pelas
decisões que terá de fazer e pelas expectativas de pessoas que
pensa ter de suprir.
• Você acha difícil se alegrar com a alegria de outros, e muitas
vezes força-se a fingir.
• Às vezes, você sente tanta falta de esperança e valor que pensa
que seria melhor não existir.
Sinais Relacionais de Alerta
• Seu casamento não é o que era. Você não tem prazer com sua
esposa como antigamente.
• Seu impulso sexual é irregular, e muitas vezes você se sente
cansado demais para fazer sexo além do tipo superficial e,
principalmente, egoísta.
• Você fica irritado e responde mal à esposa e filhos. Eles o
enxergam como irado, impaciente, frustrado e crítico (pergunte a
eles!).
• Você passa pouco tempo com os filhos, e qualquer tempo que
passa é constantemente interrompido pelo uso do celular ou
envenenado por pensar em todas as outras coisas que você
poderia estar fazendo. Um amigo crente admitiu que certa vez,
começou a chorar incontrolavelmente: “Minha esposa assustada
perguntou o que estava errado. Eu estava olhando meu sogro
brincar com os meus filhos e disse a ela: ‘Queria ter prazer neles
como ele tem’. Os meus próprios filhos tinham se tornado fonte
de irritação. Eu invejava meu sogro. Eu não conseguia ter prazer
nos meus próprios filhos. Eu não tinha prazer em nada”.
• Você evita as ocasiões sociais, negligencia relacionamentos
importantes, e se afasta das amizades, mesmo com pessoas
que estima profundamente.
• Frequentemente você perde a paciência e entra em conflito com
diversas pessoas. Um empresário me disse que embora fosse
raro ele sofrer por trabalhar demais, “ao olhar para trás em
minha vida, as vezes em que lutei com longos períodos de
depressão mais frequentemente tiveram em comum, na verdade,
eu estar lutando com um relacionamento. Uma vez foi com meu
irmão, duas vezes foram relacionamentos românticos, duas
vezes foram brigas com minha esposa”.
Sinais Vocacionais de Alerta
• Você trabalha mais de cinquenta horas por semana, embora não
com muita eficiência, produtividade ou satisfação. Como diz
Greg McKeown: “Temos a experiência nada realizadora de
conseguir um milímetro de progresso em um milhão de
direções”.8
• O seu trabalho recai regularmente para as noites e os finais de
semana, ou qualquer dia que você chama de seu “fim de
semana”.
• Tem pouco prazer no seu trabalho; na verdade você tem pavor
dele e está tão chateado que pensaria em fazer qualquer coisa
em vez de continuar no seu emprego atual. “Eu estava confuso”,
escreveu um pastor, “e logo a minha confusão virou amargura
contra Deus. ‘O que o Senhor quer de mim? Eu trabalho o tempo
todo. Não tenho hobbies ou passatempos, nada de tempo de
descanso, nada de alegria, nada de vida’. Comecei a odiar o
meu ministério”.
• Você está ficando para trás, sentindo-se vencido pelos
problemas, e começa a se esquivar, cortar caminho e rebaixar os
seus padrões.
• A procrastinação e indecisão dominam, enquanto você passa de
uma coisa para outra sem realização em nada. Quando toma
decisões, frequentemente elas estão erradas.
• A motivação e o ímpeto foram substituídos por fuga, passividade
e apatia enquanto você se arrasta pelo dia.
• Você encontra dificuldade de dizer não e se sente como a árvore
predileta de todo o pica-pau, ou seja, você fica irritado quando
todos procuram sua ajuda para cada mínima necessidade. Um
pastor admitiu para mim que chegou a ponto de detestar que
tantas pessoas precisassem dele. Só queria um emprego
comum, cujas responsabilidades pudesse deixar na empresa
depois das oito horas de trabalho.
• Você se sente culpado e ansioso quando não está trabalhando e
se considera preguiçoso ou fraco quando tem uma folga.
Sinais Morais de Alerta
• Você vê conteúdos sedutores pela Internet ou pornografia.
• Você assiste filme de linguagem e imagens que jamais teria
tolerado.
• As suas despesas e seu imposto de renda tem algumas meias
verdades neles.
• Você cultiva relacionamentos próximos com mulheres que não
são a sua esposa (ou pensa nisso).
• Você encobre ou dá tonalidades diferentes à verdade nas
conversas, exagerando ou editando conforme acha conveniente.
• Você se automedica (e a sua consciência) gastando demais,
bebendo demais, ou comendo demais.
Sinais Espirituais de Alerta
• As devocionais pessoais diminuíram de tamanho e aumentaram
em distrações, com pouco tempo ou incapacidade de meditar ou
refletir.
• Você verifica seus e-mails e as mídias sociais antes de seu
encontro com Deus a cada dia.
• Você não tem mais aquela conversa com Deus que costumava
ter.
• Você falta ao culto com sua igreja.
• Escutar sermões lhe dá sono. Um empresário esgotado me
escreveu: “Uma de minhas grandes preocupações é que não
tenho sido ‘comovido’ por um sermão há anos, apesar de
escutar alguns excelentes sermões.”
• Você não tem prazer na comunhão com outros cristãos nem em
servir a igreja de Deus.
• Você acredita em todas as verdades da Bíblia, mas não para si
mesmo.
Sinais Pastorais de Alerta
• Você está entediado pelos pequenos detalhes do ministério, e
se acha superior para servir os idosos, os enfermos, e os que
desperdiçam o seu tempo.
• Depois do culto, não fica por perto para ter comunhão com as
pessoas ou para ministrar a elas.
• Você está mais interessado na popularidade do seu próprio
nome do que em tornar conhecido o nome de Deus.
• Você encontra dificuldades para confessar o pecado ou para
admitir sua fraqueza a Deus e aos outros a quem você deveria
prestar contas.
• Você se baseia somente em conhecimentos e experiências do
passado, mas não do presente. Como disse Aaron Armstrong:
“Podemos depender de informações acumuladas em nossa
mente por anos de leituras, e não notar que algo está errado —
que nossos tanques metafóricos estão ficando baixos — até
pararmos no meio do trânsito”.9
• Você baseia a sua aceitação por Deus em seu trabalho
esforçado, seu sucesso ou sua fidelidade. Esta história dolorida
é a experiência de muitos pastores: “Quando me senti
fracassado como marido, pai, pastor, cristão, até mesmo como
ser humano, tudo que conseguia fazer era trabalhar mais, me
esforçar mais. Afinal de contas, não há tempo para perder
quando existe tanto chão para recuperar. Eu tornava impossível
descansar. Isso me fazia um marido, pai, pastor, cristão e ser
humano pior. E isso me deixava com maior sentimento de culpa”.
O que você deve fazer com estas perguntas é uma averiguação
da realidade, descobrir onde você realmente se encontra, como
você está realmente, e quem você é realmente. O próximo passo
será analisar essa lista para avaliar a seriedade desses sinais de
alerta. Você faz isso usando três medidas:
Quantos?
Provavelmente todo mundo pode marcar “sim” para alguns
desses itens. É a vida para as criaturas caídas em um mundo caído.
Mas se tiver cinco ou mais desses sinais de alerta em seu painel,
isso deve chamar a sua atenção.
Quão fundo?
Quanto essas questões são sérias? Avalie a intensidade de cada
um dos itens marcados com um “sim” com a nota de um a cinco,
sendo que cinco é a nota mais grave.
Quanto tempo?
Por quanto tempo isso tem acontecido? Quanto mais um sintoma
tem continuado — especialmente se este tempo foi por um mês ou
mais — maior perigo representa.
Então, agora você tem a sua lista de verificação e a analisou.
Tem um número preocupante de “sim” em problemas bastante
sérios e que têm acontecido por tempo suficiente para causar
alarme.

E AGORA, O QUE FAZER?

Primeiro, você tem de reconhecer o perigo em que está e as


potenciais consequências de não desacelerar. Como disse um dos
homens a quem aconselhei: “Uma das lições mais importantes que
aprendi é que, se eu não desacelerar, Deus vai me fazer andar mais
devagar. Geralmente é mais dolorido quando Deus faz isso!”
Segundo, seja grato por Deus ter alertado você quanto ao perigo
antes que fosse tarde demais. O pastor de alma cansada, Josh
Harris, se demitiu da igreja para voltar ao seminário depois de
numerosas crises pessoais e eclesiásticas. Ele escreveu: “Eu
conseguia fazer o ministério forçado, mas sabia que isso não seria o
melhor para minha alma, minha família, ou para a igreja. Eu
precisava mais do que um ano sabático — precisava de ferramentas
novas e de redefinir a minha vida significativamente. Tempo para
parar de falar e começar a escutar. Tempo de reaprender como
permanecer em Jesus. Tempo de desaprender uma ocupação por
profissionalismo”. Ele se demitiu com gratidão, conforme explica:
“Se o jeito que você está vivendo não for saudável — se não estiver
expandindo a sua alma e aprofundando o seu amor a Deus e ao
próximo, seres humanos como você — então uma crise que o
desperte à necessidade de mudança é uma coisa boa. É algo que
vem de Deus. Esta foi a minha experiência”.10
A boa nova é que existe um caminho de volta, um modo de
resetar sua vida, de colocar todas essas dimensões de volta à pista,
e começar a desfrutar a vida no ritmo da graça. É sobre isso que
este livro trata. Deixe que eu dê um breve resumo do que você pode
esperar nos capítulos seguintes, para encorajá-lo a prosseguir.
Você já passou pela Oficina de Reparos 1 — “Verificação da
Realidade”. No próximo capítulo, você será apresentado à Oficina
de Reparos 2, “Revisão”, a fim de ver como você chegou até aqui e
o que causou essas diversas questões. É importante compreender
as causas, para que você evite repetir os mesmos erros no futuro,
em sua corrida pessoal.
Então, passaremos por mais oito oficinas de reparos, para fazer
uma reconfiguração passo a passo de sua vida. Algumas dessas
oficinas serão mais relevantes e aplicáveis a sua vida que outras.
Mas vale a pena ler sobre cada uma, para evitar perder algo
essencial. Isso o ajudará também a ajudar outros. Estes capítulos
são caracterizados por:
Praticidade
A maioria dos homens é focada em soluções; é o que quero dar
neste livro. Vou manter a teoria ao mínimo, oferecendo apenas o
suficiente para ajudá-lo a entender os passos práticos que terá de
dar.
Simpatia
Contei a minha própria história (e vou contar mais) em parte para
mostrar que não escrevo de um salão de exibições de carros novos.
Escrevo como alguém que se acidentou, bateu, se queimou, e
acabou na oficina de desmanche. Eu entendo e me identifico com
você, tal como têm a mesma empatia os outros homens cujas
histórias aparecem nestas páginas.11 Eu entendo como é difícil
restaurar nossa vida depois de anos de práticas e ritmos insalubres.
Não escrevo como uma história de sucesso, mas como um relato de
um colega nas lutas.
Esperança
Qualquer que seja o lugar em que você se encontra, a sua vida
pode ser reestruturada e você encontrará um ritmo de vida mais
sustentável, cheio de alegria, para que aprecie e termine bem sua
corrida.
Alegria
Embora você tenha passado ou esteja passando por diversos
tipos de sofrimento, e apesar de certas partes do processo de
reparos serem inicialmente dolorosas, o alvo final é a restauração
da alegria. Por esta razão, a última oficina de reparos é chamada de
“Ressurreição”. Isso não é somente uma doutrina para o final da
vida; pela graça de Deus, ela pode também se tornar experiência da
vida cotidiana. Podemos conhecer o poder diário da ressurreição de
Cristo que nos faz subir das profundezas do pecado, do estresse, da
ansiedade, do esgotamento, da depressão, de brigas e de deslizes
na fé, renovando nossa vida.
DUAS PERGUNTAS

Depois de meu acidente quase fatal, duas perguntas me


incomodavam: “Onde está Deus em tudo isso?” e “O que Deus está
fazendo?” Eu fazia a obra de Deus, estava me sacrificando pelo
Reino, eu me gastava e deixava que me desgastassem por amor a
Cristo, e isso me levou à emergência do hospital e quase a um
caixão. Onde está Deus e o que ele está fazendo? Inicialmente, as
melhores respostas que eu tinha a estas duas perguntas eram: “Eu
não sei” e “Eu não entendo”.
Então, no meio de minhas indagações, lembrei que houve um
sofredor ainda maior (e muito mais piedoso que eu) que perguntou
as mesmas coisas ao olhar a estrada cheia de pedras da sua vida
(Jó 23.1-9). “Onde está Deus? O que ele está fazendo?” Felizmente,
Jó obteve melhores respostas do que eu pude obter.
Deus Sabe Onde Estou
“Ele sabe o meu caminho” (Jó 23.10a). Embora não saibamos
onde Deus está e talvez nem onde nós estamos, Deus sabe
exatamente onde estamos, a nossa direção e o nosso destino.
Como uma criança em longa viagem de carro, não precisamos
saber onde estamos, desde que o nosso Pai saiba.
Deus Sabe o que Faz
“Prove-me, e sairei como o ouro” (23.10b - ARC). Ele não está
apenas nos provando, mas nos tornando melhores. Com a sua mão
no termostato e os seus olhos na temperatura, ele sabe exatamente
qual o calor necessário para a fornalha e quanto tempo temos de
permanecer nela para tornar nosso ouro mais puro e brilhante.
Deus sabe onde nos encontramos e ele sabe o que faz! O
produto final é ouro, especialmente o ouro de um relacionamento
mais próximo a Deus e de maior utilidade ao próximo. Agarre-se a
essas respostas sem preço, enquanto dirigimos o carro para a
segunda oficina de reparos!
J. R. Briggs, Fail: Finding Hope and Grace in the Midst of Ministry Failure (Downers Grove,
IL: InterVarsity Press, 2014), edition Kindle, locs. 2082–2090.
“Stress Statistics”, Statistic Brain website, October 19, 2015, http:// www.statisticbrain.com
stress -statistics.
Greg McKeown, Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (New York: The Crown
Publishing Group, 2014), 7.
Aaron Armstrong, “I’ve been running on empty — and what I’m doing to change that,”
Blogging Theologically, December 30, 2015,
http//www.bloggingtheologically.com/2015/12/30/running-on-empty/.
Josh Harris, “The 40-Year-Old Seminarian”, Christianity Today, December 4, 2015,
http//www.christianitytoday.com/le/2015/fall/40-year-old-seminarian.html.
Nomes foram mudados para proteger a privacidade.
OFICINA DE REPAROS 2 | REVISÃO
Somos homens. Somos práticos. Gostamos de fazer as coisas.
Acabamos de gastar um capítulo enfrentando os danos que temos
sofrido, e agora queremos corrigi-los. Queremos fazer alguma coisa:
“Vamos começar a consertar!”
Deevaagaaaar! Precisamos gastar mais um capítulo sobre
conhecer e compreender antes de começar a consertar. Fizemos
uma avaliação dos estragos; agora temos de dar a marcha a ré e
olhar para trás para ver o que causou esse estrago todo. Se não
fizermos isso, podemos consertar alguma coisa para mais tarde
voltar a fazer exatamente as mesmas coisas que nos levaram à
oficina anteriormente.
Foi o que fiz. Três anos depois do meu drama de coágulos
sanguíneos, acabei voltando para o pronto socorro para ouvir o
médico dizer: “Voltaram!” Coágulos haviam se espalhado de novo
nos meus pulmões, desta vez sem aviso prévio de dor nas pernas
para me advertir. Imediatamente, meus olhos se encheram de
lágrimas, não tanto pela dor física quanto pela dor mental e
espiritual de saber que tomei bomba no aprendizado das lições que
o Pai Celeste havia colocado com tanta paciência na minha cabeça
dura. Em vez disso, eu havia voltado sem pensar,
presunçosamente, ao ritmo perigoso de vida que tinha me levado
antes para o hospital. Chorei também de alegria e alívio porque
Deus me dera mais uma chance de aprender. Estava um tanto
consolado por um crente que me disse que ele também teve de
passar por múltiplos empecilhos antes de, finalmente, fazer as
mudanças que o levaram a uma transformação duradoura. Agora eu
sabia que tinha de encarar com maior seriedade esse resetar, ir
mais fundo nas causas do meu estilo suicida de vida. Tive de fazer
as mesmas perguntas com as quais Bill Hybels lutou para entender
em seu “momento de emergência”, no estacionamento de um
supermercado: “Como isso aconteceu comigo? Como me tornei tão
derrotado, ocupado demais, uma pessoa exausta, desprovida de
compaixão e zangada com todo mundo? Como foi que isso
aconteceu?”12
Antes de erguer o capô e apertar os parafusos e encaixes soltos,
precisamos olhar o quadro maior da nossa humanidade para
compreender a interação entre nosso corpo, mente e alma.
Pense em como as diferentes partes dos carros interagem. Não
trabalham independentemente, mas cada parte depende de e é
afetada pelas outras partes. Se pusermos um combustível ruim, não
importa quantos cilindros têm nem como são bons os pneus. De
maneira semelhante, temos de entender como uma parte de nosso
ser afeta as outras. Vamos olhar mais fundo para que espécie de
criaturas Deus nos criou para ser.

SOMOS CRIATURAS DE DEUS

Muitos dos nossos problemas acontecem não somente por


fazermos as coisas erradas, mas também por crermos erradamente
nas coisas. Por trás de muitas questões aparentemente práticas
estão os problemas teológicos. Na raiz de muitos problemas que
identificamos no primeiro capítulo está uma visão errada de Deus.
Não é apenas um pouco equivocada; é erro fundamental e
fundacional, porque concerne à verdade fundamental e fundacional
que Deus é o nosso Criador. Essa é a primeira verdade revelada a
nós na Escritura. Vem em primeiro lugar por uma razão: se errarmos
ali, corremos o risco de errar em qualquer outro lugar. Esquecer que
somos cristãos tem sérias consequências, mas também
esquecemos que somos humanos.
Ora, alguns estarão dizendo: “Não me insulte. Creio em Deus
como Criador. Defendo que Deus é o Criador. Luto contra aqueles
que negam a Deus como Criador. Posso até provar que Deus é o
Criador. Como você pode dizer que os meus problemas surgem por
eu negar que Deus é o Criador?”
Talvez não estejamos negando com os lábios que Deus é o
Criador, mas alguns o fazem com sua vida.
Criacionistas que Vivem Como Evolucionistas
Muita gente chama Deus de Criador, mas vive como
evolucionista. Vive como se a vida tratasse da sobrevivência do
mais apto em vez de viver como criatura dependente — o
dependente confia no Criador e não em si mesmo, vive de acordo
com as instruções do Criador.
Como você sentiria se construísse um carro, com controle
remoto, para os seus filhos e chegasse em casa, uns dias mais
tarde, para saber que eles tinham quebrado o carrinho tentando
usá-lo como se fosse um avião? Você lhes diria: “Eu dei um carro
para vocês, e dei instruções sobre como usar esse carro. Por que
vocês ignoraram as minhas instruções e trataram o carro como um
avião?” De modo semelhante, Deus nos deu instruções de como
viver como suas criaturas, como os seres finitos, com corpo e alma,
tal como ele nos criou. Mas alguns de nós estamos tentando viver
como se fôssemos infinitos. Não é surpresa quando desmoronamos.
O pastor aposentado Al Martin disseme que era frequentemente
contatado por pastores jovens a quem treinara, e que estavam ainda
no início do ministério. Eles diziam: “Socorro, pastor Martin! Não
consigo orar, não consigo estudar, não consigo dormir, não consigo
continuar. Acho que vou ter de me demitir, sair do ministério”.
“Eis o seu problema”, o pastor Martin respondia com calma, “você
está tentando viver como um anjo sem corpo em vez de um ser
humano de carne e sangue. Eis a solução: primeiro, faça exercícios
vigorosos três vezes por semana. Segundo, tire um dia inteiro de
folga por semana. Terceiro, gaste pelo menos uma noite por semana
com a sua esposa”.
“Mas, pastor Martin, não posso fazer isso. Tenho de pregar para
que almas sejam salvas, as pessoas precisam dos meus conselhos,
mal tenho tempo para o que já faço...”
O pastor Martin esperava com paciência, até as desculpas e
defesas conhecidas se esgotarem, e, então, terminava a conversa
com firmeza, dizendo: “Você me chamou para pedir o meu conselho,
não foi? Faça essas três coisas e ligue de novo para mim no
próximo mês, se não der certo”. Diz ele que ninguém telefonou de
volta.
Sua Palavra e seu Mundo
Deus publica as suas instruções sobre como viver como criaturas
dependentes e finitas em dois lugares: em sua Palavra e no seu
mundo. Por sua Palavra, eu me refiro à Bíblia, que contém
princípios gerais, instruções específicas e exemplos relevantes —
todos os quais serão de enorme ajuda neste processo de reparos e
de resetar. Por “seu mundo” eu me refiro ao mundo físico em que
vivemos, refiro-me aos estudos de leis, mediante as quais Deus
capacitou os cientistas a descobrirem como o corpo e a mente
funcionam melhor. Por exemplo, recentemente vi uma pesquisa com
a manchete: “Quanto mais você fica sentado, mais depressa vai
morrer!” Isso me fez aprumar e levantar.
Na verdade, isso me fez ficar de pé! É a instrução de meu Criador
amável que vem por meio de pesquisas confiáveis, que eu leio por
meio dos óculos da Escritura, para me certificar que devo assumir
somente aquilo que concorda com a Palavra de Deus.
Faremos bastante disso nesta fase de revisão. Para se viver uma
vida pautada pela graça, precisaremos de toda verdade que a graça
nos provê. Ajuntaremos as graciosas instruções do nosso Criador,
de onde quer que ele as tenha colocado, mas utilizaremos a Palavra
de Deus para ler o mundo de Deus.
Somos Criaturas Complexas
Não somos apenas corpo nem apenas alma; somos corpo e alma
unidos em uma só pessoa. Nosso corpo é composto de milhões de
átomos, sendo que noventa por cento deles são substituídos a cada
ano. Somos uma complexa mistura de materiais e forças físicas —
por analogia: eletricidade, substâncias químicas, encanamento,
bombas, sifões, lubrificação, tomadas, botões, receptores, e assim
por diante.
Nossa alma é ainda mais complexa que o corpo, e totalmente
inacessível a pesquisas empíricas. Embora a Bíblia nos dê alguns
dados básicos sobre a alma, muito permanece em mistério. E
quando unimos em uma só pessoa um corpo complexo a uma alma
complexa, obtemos múltiplas complexidades!
A interconectividade do físico e do espiritual significa que a saúde
do corpo afeta a saúde da alma e vice-versa. Nem sempre é fácil
entender a contribuição de cada uma destas partes para nossos
problemas! Porém, não podemos negligenciar um aspecto e esperar
que o outro não sofra consequências (Pv 17.22; Sl 32.3-4).
Por exemplo, um de meus amigos passou por um período de
trevas de dúvidas sobre a sua salvação, e procurou em vão uma
causa espiritual. Ele se arrependia e se arrependia; arrependia de
ter se arrependido, e se arrependeu daquilo pelo que não tinha se
arrependido. A escuridão ainda invadia sua alma. Devagar, com
relutância, ele aceitou o conselho que estivera trabalhando demais
por tempo demais, levando sobre si o peso esmagador dos muitos
problemas de muitas pessoas. Começou a construir calma e paz em
sua vida, e começou a delegar alguns dos problemas a outros.
Logo, a luz começou a clarear e aos poucos a segurança voltou a
sua alma.
Não é só o físico que afeta o espiritual; o inverso também
acontece. Um pastor que conheço passou por um período
desanimador de pouca saúde. Seu médico não descobria o que
estava errado. Numa de nossas conversas, percebemos que,
durante muitos anos, ele alimentara inveja de outro pastor. Ele ficara
ressentido do sucesso daquele homem, desejando que fosse seu.
Quando confessou este pecado e, pouco a pouco, reconstruiu seu
senso de identidade, independente daquele outro pastor, baseado
somente em Cristo, as suas diversas enfermidades se dissiparam.
Somos criaturas complexas.

SOMOS CRIATURAS LIMITADAS

Criaturas, por definição, são menores que o Criador. Ele é infinito,


nós somos finitos; ele é ilimitado, nós somos limitados. Embora
nenhum de nós dissesse que somos sem limitações, a maioria de
nós pensa que somos menos limitados do que na verdade somos.
O entendimento errado de nossas limitações e a superestimação
de nossa capacidade, inevitavelmente, vai resultar em tensão,
desgaste e, eventualmente, quebra. Tente isso com qualquer coisa
— um motor, uma corda de rebocar, um computador, uma ponte.
Subestimar as limitações ou superestimar as capacidades, acabam
por fundir o motor, arrebentar a corda, detonar o computador, e fazer
a ponte cair. Por que achamos que seria diferente conosco?
Certo, conseguimos funcionar em níveis excepcionais por um
tempo curto, mas, mais cedo ou mais tarde, temos de enfrentar os
nossos limites. Versículos como Filipenses 4.13 — “Tudo posso
naquele que me fortalece” — não sobrepujam nossa necessidade
básica de comer, beber, descansar e dormir.
Como descobrimos os nossos limites pessoais? Eu vou
regularmente à Oficina de Reparos 1 para fazer uma inspeção. Se
duas ou três das luzinhas de advertência se acenderem, não fico
muito preocupado. São apenas coisas da vida. Mas, se cinco ou
mais estiverem acesas, ou mesmo uma delas for da categoria moral
ou espiritual, sei que estou excedendo os limites de segurança e
devo agir com medidas urgentes.

SOMOS CRIATURAS CAÍDAS

Como todo pescador, sou fatalmente atraído ao molinete mais


recente, “garantido” para pegar peixes. Como todo mundo sabe,
quanto mais complicado (e caro) o molinete de pescaria, é mais
provável que pegará mais e melhores peixes. Certo? Ora, os
apetrechos de pescaria complicados são ótimos quando funcionam
bem, mas quando quebram, sofrem estragos maiores do que os
molinetes padronizados.
É por razão semelhante que a humanidade está em pior estado
do que qualquer outra criação; quanto mais complexa a criatura,
mais estragos sofre quando quebra. E que estragos foram causados
pelo pecado e pela morte! Nosso corpo, mente, química, física,
órgãos, nervos, tendões, tudo está numa confusão total — ou seja,
cada parte de nossa humanidade em si mesma defeituosa interage
com cada outra parte defeituosa.
A melhor notícia é que o gracioso e poderoso Criador é perito em
recriar — um processo que requer nossa cooperação, e que
impedimos, quando não vivemos dentro dos limites de nossa
condição de criaturas caídas.

COMO CHEGUEI ATÉ AQUI?

Gastamos algum tempo na interconexão e interação de diversas


partes da nossa humanidade, a fim de evitar abordagens simplistas
que enxergam “somente o que é espiritual” ou “somente aquilo que
é físico”, na análise de nossos problemas. Neste ponto de nosso
estudo, queremos ver as causas específicas dos problemas.
Quando voltamos para trás na estrada da vida, o que vemos que
nos prejudicou ao longo da jornada?
A maioria das causas pode ser colocada em uma de duas
categorias principais – nossa situação de vida e nosso estilo de
vida. Embora o prejuízo geralmente resulte de uma mistura de
fatores nas duas categorias; ou seja, problemas de situação de vida
frequentemente produzem problemas de estilo de vida (e vice-
versa), às vezes, é apenas uma situação na vida ou somente um
fator no estilo de vida. Como saber com certeza?
É aí que minha esposa, Shona, me ajuda tanto. Quando estou
pra baixo, tenho tendência de culpar a todos, exceto eu mesmo, ou
então me ver como culpado de tudo e me responsabilizar por coisas
que estão fora do meu controle. Shona traz uma visão de alguém
que está fora da situação, com maior objetividade e acerto. De vez
em quando, tenho procurado uma avaliação objetiva da minha
situação e estilo de vida, feita por um amigo em quem confio, um
colega de trabalho ou um presbítero sábio. Devemos nos certificar
de que escolhemos alguém totalmente sincero conosco. Devemos
ter o cuidado de não buscar conselho de alguém que vá perder algo,
se precisarmos andar mais devagar.

SITUAÇÃO DE VIDA

Nossa “situação de vida” trata-se de lidar com coisas sobre as quais


temos pouca ou nenhuma escolha ou controle. A vida acontece. As
coisas acontecem. Na minha experiência, e do que tenho visto ao
aconselhar outras pessoas, os fatores situacionais mais comuns
são:
Enfermidade
Conforme vimos na Oficina de Reparos 1, a enfermidade pode
ser resultado de esgotamento. Mas também pode ser uma causa. O
grau em que as doenças nos impactam depende da natureza,
quantidade, severidade e duração dessas enfermidades.
Genes
Pesquisas demonstram que nossos genes explicam cerca de
cinquenta por cento de nossa felicidade ou falta dela.13 Embora
provavelmente isso seja uma afirmativa exagerada, talvez isto ajude
a explicar a minha experiência no aconselhamento de cristãos
deprimidos, em que a maioria deles teve pai ou mãe que sofreu de
depressão.
Cuidar de Outros
Alguém próximo a mim sofria de dor no corpo inteiro por muitos
anos. Múltiplos testes não conseguiram descobrir nada errado.
Remédios para dor tinham sucesso limitado. Ele pensava que teria
de conviver com isso para o resto de seus dias. Alguns anos mais
tarde, faleceu o parente idoso que ele cuidava em sua casa por
vários anos. Dentro de poucas semanas, a sua dor desapareceu!
Com o cuidar existe um preço a ser pago.
Luto
Novamente aqui, existe uma gama variada de sofrimento,
dependendo da natureza do relacionamento, a maneira como a
pessoa morreu, e a proximidade de outras perdas por morte.
Perdas
Pode ser a perda de emprego, de uma amizade, da casa, de
dinheiro, da sua reputação ou do ministério. Quem sabe você tenha
perdido possessões por roubo ou foi vítima de outro tipo de crime.
Outra perda dolorida que um homem cristão ainda jovem pediu que
eu ressaltasse foi a perda de relacionamento sexual. Em diversos
pontos do casamento, a sua esposa perdeu todo interesse por sexo,
falta que, disse ele, teve impacto direto sobre seu nível de estresse
e de sono.
Lucros
Os lucros podem nos estressar tanto quanto as perdas. Uma
promoção muitas vezes resulta em horas mais longas de trabalho,
maiores responsabilidades, aumento de ansiedade quanto a
aprender novas tarefas, trabalhar com nova equipe, e assim por
diante.
Mudanças de Local de Moradia
O estresse de mudar de local de moradia resulta em maiores
dificuldades do que de início percebemos, especialmente quando a
mudança foi involuntária. Ela pode ser acompanhada de perda de
convivência com outros membros da família. Um amigo, Joe, que
tem mudado muito no decorrer dos anos, disseme que ele e sua
esposa chamam essa pressão de “síndrome pós-traumática a
mudanças”.
Conflitos
Poucas coisas me esgotam mais do que os conflitos; não
somente aqueles em que estou envolvido, como também aqueles
nos quais sou solicitado a atuar como mediador. Existem também
conflitos e divisões na igreja. Eu preferiria entrar no ringue com Mike
Tyson; pelo menos neste conflito eu desmaiaria logo.
Deslizes (dos Outros)
Cedo em minha vida cristã, fui baqueado quando o meu herói
espiritual, que foi usado para minha conversão e chamado ao
ministério, foi revelado como sendo um homem imoral. Perdi sete
quilos em dois anos devido ao estresse com isso tudo.
Injustiça
Como Asafe descobriu, a prosperidade dos ímpios e o sofrimento
dos justos pode fazer resvalar nossos pés (Sl 73).
Maldade
A mídia derrama sobre nossos olhos e ouvidos as notícias mais
tenebrosas de todas as partes da nação e do mundo. É desgastante
e fatigante. O empresário Charlie Hoehn, autor de Play It Away,
descobriu que, quando eliminou completamente o noticiário da sua
vida, a sua ansiedade desceu vertiginosamente nas duas semanas
seguintes.14
Sobrecarga de tristezas
Pastores sofrem especialmente com isso ao tratar diariamente de
alguns dos problemas mais excruciantes da vida. Às vezes, estes
nos derrubam, especialmente quando o Facebook traz a nossa vida
as tristezas de inúmeras outras pessoas que mal conhecemos,
exaurindo as nossas reservas de compaixão. “Desenvolvo uma
espécie de hipocondria emocional”, disseme um pastor, “ao assumir
estresse pessoal com os problemas dos outros”.
Responsabilidade
Casamo-nos, temos filhos, somos promovidos, servimos uma
igreja, a congregação cresce, e assim por diante. Cada uma dessas
mudanças acrescenta mais responsabilidades a nossa vida,
aumentando nossa RPM (rotação por minuto), gastando e
detonando nossa máquina, drenando o combustível precioso.
Envelhecimento
Até os vinte ou trinta anos, podemos lidar com as crescentes
responsabilidades da vida, mas frequentemente, aos quarenta e
poucos anos, começamos a ranger e a rachar, sentindo o
enfraquecimento de nosso corpo e mente. Talvez não estejamos
superados, mas estamos andando mais devagar e perdendo um
pouco de força para chegar ao cume da montanha.
Maus Exemplos
Somos profundamente afetados, muitas vezes
inconscientemente, pelos exemplos de nossos pais. Ambientes de
lares excessivamente críticos, negativos, muito competitivos, cheios
de conflitos, lançam sombras escuras sobre toda a nossa vida.
Diferenças
Todos temos capacidades e limitações diferentes, determinadas
em grande parte pelos genes. Não podemos permitir que os limites
dos outros se tornem nossos, pois há limiares diferentes em áreas
diferentes da vida.
Mudanças
Mudanças globais e locais acontecem em índices exponenciais e
sem precedentes, criando um clima de tremendas incertezas. Um
especialista em margens, Richard Swenson adverte: “Ninguém na
história da humanidade teve de viver com o número e a intensidade
de fatores estressantes que temos hoje agindo sobre nós. Não há
precedentes para esses fatores. O espírito humano é conclamado a
suportar rápidas mudanças e pressões nunca antes encontradas”.15
Bênçãos
Derramamentos de bênção na vida de uma igreja frequentemente
resultam em pastores, presbíteros e outros líderes terem aumentada
a carga de trabalho no aconselhamento e discipulado, como
também enorme quantidade de novos problemas de vida entre os
novos convertidos, com quem eles precisam lidar.
Soberania
Deus pode permitir que caiamos em depressão ou ansiedade
sem nenhuma razão aparente. Não há explicação humana, apenas
a soberania divina. Isso produz suas próprias lutas, conforme este
homem cristão descobriu:
Eu não podia ficar esgotado! Fazia tanta coisa certa! Tinha um
casamento muito saudável, ótima vida amorosa. Jamais olhava para a
pornografia. Lia a Bíblia e orava diariamente. Não negligenciava minha
família — brincava com meus filhos por uma hora na maioria das
noites. Fazia um “checkup” espiritual anual com um pastor experiente a
quem eu respeitava. Mas, lá estava eu: sofrendo um esgotamento
autêntico, certificado, de dezoito quilates. Parada total.

Embora todos esses sejam eventos da vida sobre os quais temos


pouco ou nenhum controle, nós somos responsáveis pelas nossas
reações a eles. Nossa resposta pode tornar melhor ou pior algumas
situações, ou seu impacto sobre nós.

ESTILO DE VIDA

Queremos agora prosseguir olhando para fatores quanto a nosso


estilo de vida pelos quais temos alguma escolha, coisas que
podemos, em grande parte, controlar. As causas mais comuns de
problemas nesta área são:
Idolatria
Em homens, isso muitas vezes se manifesta ao adorar o trabalho
— colocar nossa vocação e carreira como nossos deuses, como
fontes de nossa alegria e satisfação máximas. Deus pôs uma
maldição específica sobre o trabalho do homem (Gn 3.17-19), para
garantir que idolatrar o trabalho jamais nos satisfaça
completamente.
Avareza
Relacionada à idolatria do trabalho, muitas vezes está a busca
gananciosa por dinheiro e outras recompensas materiais, fazendo
com que muitos trabalhem demais e durmam pouco.
Dívidas
Por mais que trabalhemos, por mais que ganhemos, continuamos
vivendo além de nossas posses, acumulando aos poucos mais
dívidas e ansiedade muito maior.
Agradar aos Outros
Fazemos o possível para ganhar o louvor dos pais, esposas,
chefes, amigos ou, se somos pastores, da nossa congregação.
Pedindo maior honestidade e transparência entre pastores, Matt
escreveu: “Eu vivia em constante vergonha por estar escravizado ao
que as pessoas pensavam de mim. Detestava isso, mas não
conseguia deixar de agir assim. Para piorar, ninguém ao meu redor
falava sobre isso. Não parecia problema para mais ninguém. Eu me
sentia só e patético”.
Perfeccionismo
Às vezes, impomos padrões altos demais sobre nós mesmos,
que nos paralisam ou nos levam a um frenesi de atividades. Um
colega, no seminário, não gastava menos que trinta horas em um
sermão, burilando e aperfeiçoando até que estivesse “perfeito”. Não
foi surpresa ele ter se esgotado e deixado o ministério dentro de um
ano.
Orgulho
Mesmo no ministério, é fácil demais construir nosso próprio reino,
em lugar de priorizar a busca pelo Reino de Deus, e promover
nosso nome em vez do nome de Deus. Como escreveu um pastor:
“Por que fico nervoso ao admitir que não consigo fazer tudo que tem
de ser feito? Penso que é simples. Tenho medo de confessar que
tenho limites. Tenho medo de admitir que tenho períodos e
limitações dados por Deus quanto ao meu lugar de habitação (At
17.26). Temo que isso me torne sem importância”.16
Comparação
Um amigo pastor descreveu o quanto lutou ao se comparar com
outros pastores e ao comparar sua igreja com outras igrejas: “Eu
ouvia falar de outro pastor amigo com a igreja cheia de gente, tendo
muitos novos convertidos. Posso contar na mão os novos
convertidos que já batizei. Eles tiveram muitas conversões. Eu tive
apenas uma — e nem foi na minha própria congregação. O que eu
estava fazendo errado? Por que outro homem que trabalha menos
no evangelismo tem mais resultados, enquanto eu tenho de fazer
das tripas coração para conseguir quase nada?
Prazer
Alguns de nós — especialmente pastores — gostamos tanto de
nosso trabalho que temos de exercer a autonegação para que o
bom não se torne nocivo para nós.
Indisciplina
A desorganização, procrastinação, vício em tecnologias, a recusa
de fazer tarefas desagradáveis, tendem a nos estressar mais do que
a diligência, organização, decisão ou autonegação.
Identidade
Definir quem somos pelo nosso trabalho, pelo nosso perfil nas
mídias sociais ou pelo número de curtidas ou seguidores que
conseguimos atrair, pode firmar o nosso valor próprio em nosso
sucesso profissional; porém, nenhum deles é um critério estável ou
saudável. No “The ‘Busy’ Trap” (A armadilha de estar ocupado), Tim
Kreider escreveu: “Estar muito ocupado serve como afirmação
existencial, uma proteção contra o vazio; obviamente, a sua vida
não pode ser tola ou trivial ou sem sentido se você estiver tão
ocupado assim, completamente agendado, suprindo as demandas
durante todas as horas do dia”.17
Descrença
Viver como se Deus não existisse ou como se ele não cuidasse
de nós muito mais do que cuida das andorinhas despreocupadas
(Mt 6.26), só produz angústia e tumulto interno.
Dieta
Somos o que comemos. Muitos estudos demonstram o impacto
do alimento sobre nossa disposição. Se você não acredita nisso,
coma apenas comida sem qualquer valor nutritivo pelos próximos
sete dias. Melhor ainda, pergunte a um diabético como o nível de
açúcar no sangue afeta as suas emoções e a sua capacidade
cognitiva.
Dieta da mídia
Assim como vimos acima, somos aquilo que consumimos. Muitos
de nós vivemos como se Filipenses 4.8 dissesse: “Tudo que é falso,
tudo que é sórdido, tudo que for errado, tudo que for sujo, feio,
terrível, se há algum vício e algo digno de críticas — medite nessas
coisas”.
Preguiça
Não exercitamos o corpo que Deus nos deu para cuidar,
permitindo que ele fique endurecido, fraco, molenga, de peso
exagerado, com consequências não planejadas para o pensamento,
sentimento e vontade.
Fracasso
Fazemos más escolhas, falhamos no trabalho, não atingimos
nossas expectativas nem as dos outros; nossas congregações
diminuem em vez de crescer.
Consciência
Viver com a consciência culpada por pecados não confessados e
não abandonados não é uma vida muito boa. O que encobre seus
pecados não pode prosperar (Pv 28.13). Davi ficou fisicamente
doente em razão disso (Sl 32.3-5). Também viver com falso senso
de culpa pode nos enfraquecer.
Retrocessos
De algumas formas, tudo o que falamos até aqui é um retrocesso
na vida, mas aqui estou pensando especialmente na perda
gradativa de contato com Deus, por meio de devocionais diárias
faltosas ou ausentes, ou por causa de uma vida sem a dependência
de Deus, tendo como resultado uma crescente distância entre nós e
Deus, e maior proximidade à tentação e ao pecado.

PALHAS E MARTELOS.

Existem outros acontecimentos na vida e no estilo de vida que


poderíamos acrescentar a essa lista; use estes, porém, como
amostras para rever a sua vida. Não descarte nem minimize
quaisquer deles, porque, embora possa não haver uma grande
causa que seja identificada, para muitas pessoas é um acúmulo de
muitas pequenas coisas que acaba esgotando uma vida. Para
outros, pode ser algo pequeno que chega ao final de muitas grandes
coisas. Ou então, alguns enormes baques seguidos, como no caso
de meu amigo Dan: “Ao passar por um câncer em quarto estágio de
minha esposa, uma divisão da igreja, um grave pecado de um
mentor por quem tinha muita consideração, e um trauma pessoal
sofrido por um de meus filhos, acumulei grandes doses de estresse
sem nenhum alívio”.
Todos nós somos diferentes: temos limites diferentes e
vulnerabilidades diferentes. Como me disse certo homem: “A palha
que quebrou as costas do camelo veio ao final de muitos baques de
martelo sobre as mesmas costas”.
Assim, avaliamos os danos e entendemos as suas causas.
Começamos a admitir o mal que causamos a nós mesmos quando
vivemos uma vida ditada pela era eletrônica ao invés de uma vida
pautada pela graça. Agora, vamos passar para as partes mais
práticas e positivas deste livro, manobrando para entrar na terceira
oficina de reparos — “Descanso”.
Bill Hybels, Simplify: Ten Practices to Unclutter Your Soul (Carol Stream, IL: Tyndale
Momentum, 2014), 10.
S. Lyubomirsky, K. M. Sheldon, and D. Schkade, “Pursuing Happiness: The Architecture of
Sustainable Change”, Review of General Psychology 9 (2005): 111-31.
Charlie Hoehn, Play It Away: A Workaholic’s Cure for Anxiety (Charlie Hoehn.com, 2014),
Kindle edition, loc. 559.
Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to
Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), 46.
Brad Andrews, “Limitless Grace for Limited Leaders”, For the Church, February 29, 2016,
http://ftc.co/resource-library/1/1933.
Tim Kreider, “The ‘Busy’ Trap”, The New York Times, June 30, 2012,
http://opinionator.blogs.nytimes.com/2012/06/30/the-busy-trap/.
OFICINA DE REPAROS 3 | DESCANSO
Se um dia você acordasse em uma poça de sangue,
provavelmente você mudaria o seu estilo de vida.
Foi o que aconteceu com Arianna Huffington, do Huffington Post,
depois de colapsar de exaustão e esmagar o osso de seu rosto em
sua escrivaninha, e, logo após, cair no chão. Ela estava no ápice do
sucesso, com abundante dinheiro e poder, mas algo não estava
certo. Ela disse em seu livro bestseller,
Thrive: “Eu não vivia uma vida bem-sucedida que se encaixasse em
qualquer definição saudável de sucesso. Sabia que algo tinha de
mudar de modo radical. Não podia continuar daquele jeito”.18 Ela
realmente mudou, especialmente na área de dormir mais, tanto que
ela às vezes se descreve como evangelista do sono. Com certeza
ela me converteu e, como novo prosélito do sono, espero conseguir
convertê-lo a um estilo de vida com um sono mais saudável e
humilde.
Em um artigo para a BBC, intitulado “A ‘arrogância’ de se ignorar
a necessidade de dormir”,19 importantes cientistas advertiram sobre
a suprema arrogância de tentar viver sem dormir o suficiente.
Descobriram que estamos dormindo entre uma e duas horas menos
por noite do que o faziam as pessoas sessenta anos atrás, e duas
horas e meia menos do que cem anos atrás. Isso está tendo um
impacto devastador em todas as áreas de nossa vida.
Porém, quando foi a última vez que você ouviu um sermão sobre
dormir? Gastamos cerca de trinta por cento de nossa vida dormindo,
e nada nos impacta mais que isso. Será que os cristãos dominaram
tanto o sono que não precisam mais instruções a esse respeito?
Talvez você esteja pensando: “Instruções sobre sono? Está
falando sério? Isso é tão complicado assim? Fecha os olhos.
Escuridão. Abre os olhos. Luz. Aprender o quê?” Muito mais do que
provavelmente você tenha pensado!
Em oficinas anteriores neste livro, avaliamos os danos e
revisamos as causas. Agora estamos entrando no estágio de
reparos, e isso começa com ir para a cama. Sim, uma vida pautada
pela graça começa com parar e aceitar a graça de dormir bem.
Muitos homens acham que podem omitir esta oficina, mas os que o
fazem acabam gastando muito mais tempo na garagem, e alguns
nunca saem dela.

O SERMÃO QUE PREGAMOS QUANDO DORMIMOS

Poucas coisas são tão teológicas quanto o sono. Mostre-me como


você dorme e eu lhe mostrarei a sua teologia, porque todos
pregamos um sermão em e por meio do nosso sono. Por exemplo,
se nós nos orgulhamos por dormir apenas cinco horas por noite,
estamos pregando as seguintes verdades:
Não confio em Deus em relação ao meu trabalho, minha igreja ou
minha família. Claro, creio que Deus é soberano, mas ele precisa de
toda a ajuda que eu possa dar a ele. Se eu não fizer o trabalho,
quem o fará? Embora Cristo tenha prometido edificar a sua igreja,
quem está no turno da noite?
Não respeito o jeito que meu Criador me fez. Sou forte o bastante
para lidar com as coisas, sem desfrutar do dom de Deus de um
tempo suficiente de sono diário (Sl 3.5; 4.8). Eu me recuso a aceitar
as minhas limitações como criatura e as necessidades de meu
corpo (Sl 127.1-2). Eu me vejo mais como máquina do que como ser
humano.
Não acredito que a alma e o corpo estejam ligados. Posso
negligenciar o meu corpo e a minha alma não vai sofrer. Posso
enfraquecer meu corpo e não enfraquecer minha mente,
consciência e vontade.
Não preciso demonstrar descanso em Cristo. Apesar da Bíblia
repetidamente mostrar a salvação como sendo um descanso, vou
deixar outros descansarem. Quero que as pessoas saibam o quanto
eu sou ocupado, importante e zeloso. Isso é muito mais importante
do que a demonstração diária da salvação de Cristo no modo
quando e como eu descanso.
Adoro ídolos. O que faço em vez de dormir lança o holofote sobre
os meus ídolos, sejam eles: assistir futebol até tarde da noite,
navegar na Internet, conquistar sucesso no ministério, ou obter uma
promoção. Por que dormir quando isso não faz nada para polir
minha reputação ou demonstrar a minha glória?
Qual o sermão que você prega enquanto está dormindo?

MUITAS BOAS RAZÕES PARA DORMIR MAIS

Antes de falar sobre como dormir melhor e mais tempo, considere


algumas das consequências devastadoras do sono reduzido. Ou,
em termos mais positivos, aqui temos múltiplas boas razões para
dormir mais.
Consequências Físicas
Numerosos estudos nos advertem sobre resultados a longo prazo
da privação crônica do sono (com média de menos de seis horas
por noite). Apenas uma semana dormindo menos do que seis horas
por noite resulta em mudanças danosas a mais de setecentos
genes, estreitamento coronário, e sinais de perda do tecido
cerebral.20 Este último é em parte porque o sono ativa o sistema de
jogar fora o lixo do cérebro, limpando as toxinas e produtos nocivos.
21 A falta crônica de dormir aumenta o risco de infecções, derrames,

câncer, pressão alta, doenças cardíacas e a infertilidade. A perda do


sono aumenta a fome e o desejo por porções maiores de comida, e
preferência por alimentos de altas calorias e altos carboidratos,
resultando em maior risco de obesidade.22 Em suma, dormir não é
uma perda inútil de tempo, mas uma necessidade biológica
essencial que previne a infecção e nos ajuda a manter o peso de
corpos saudáveis.
Consequências nos Esportes
As consequências físicas de pouco sono podem ser mais bem
entendidas e apreciadas quando examinamos a ciência esportiva e
aprendemos por que cada vez mais atletas de elite aumentam seu
sono e até mesmo contratam treinadores para o sono, a fim de
melhorar seu desempenho. Dois dias de redução do sono levam a
uma redução de mais de vinte por cento no nível de atenção, nas
horas de reação, força, capacidade de suportar esforços, precisão e
velocidade.
Não é de admirar que o tempo médio de sono dos melhores
atletas está bem acima da média.23 O campeão de tênis Roger
Federer dorme onze a doze horas por noite; o corredor Usain Bolt,
oito a dez horas; a estrela do basquete Lebron James, doze horas; e
o campeão de tênis Rafael Nadal, oito a nove horas. O jogador de
golfe Tiger Woods dorme apenas cinco horas, o que pode explicar
muita coisa! A antiga estrela do time nacional de basquete, Grant
Hill, afirmou: “Acho que dormir é tão importante quanto dieta e o
exercício”. Federer explicou: “Se eu não dormir onze a doze horas
por dia, não estarei bem”.
Consequências Intelectuais
“É, mas eu não sou Roger Federer”, você diz, “eu fico sentado ao
computador o dia inteiro, e não preciso de desempenho em nível
físico tão alto”. Verdade, mas o sono é igualmente importante para
os trabalhadores do conhecimento. Em “Sleep Is More Important
than Food” (O sono é mais importante que a comida), Tony
Schwartz diz que é unânime o resultado das pesquisas — quanto
melhor você dorme, mais você aprende:
Mesmo pequenas quantidades de privação de sono minam
significativamente a saúde, a disposição, a capacidade cognitiva e a
nossa produtividade... Muitos dos efeitos que sofremos são invisíveis.
O sono insuficiente, por exemplo, prejudica profundamente nossa
capacidade de consolidar e estabilizar o aprendizado que ocorre
durante as horas do dia em que estamos acordados. Noutras palavras,
falta de dormir faz grandes estragos à memória.24

Um estudo da Universidade Luebeck na Alemanha descobriu que


aqueles que dormiam mais de oito horas resolviam um problema
duas vezes mais rapidamente, em comparação com aqueles cujo
sono era interrompido. 25
Os pesquisadores concluíram que não era só por eles estarem
mais descansados, mas porque o cérebro deles tinha sido
fisicamente renovado durante a noite, fazendo novas conexões
neurais para que pudessem alcançar mais em menos tempo.
Consequências Emocionais
Ao dormir menos e trabalhar mais, a quantidade de nosso
trabalho pode aumentar a curto prazo, mas a qualidade diminui
definitivamente, como também diminui nosso prazer naquilo que
fazemos. Isso é porque a perda de sono interrompe o fluxo de
epinefrina, dopamina e serotonina do cérebro, substâncias químicas
associadas de perto ao humor e ao comportamento. Assim, pessoas
com insônia são dez vezes mais propensas a desenvolver
depressão e dezessete vezes mais propensas a ter ansiedade
significativa. Estudos conduzidos por Torbjörn Åkerstedt da
Universidade de Estocolmo descobriram que menos sono reduz os
níveis de empatia, mas aumenta os níveis de medo.26 Em Play It
Away, Charlie Hoehn escreve:
Toda pessoa ansiosa que conheço ou está em estado de negação
quanto a pouca quantidade de sono, ou despreza o fato de que vai
dormir em horas aleatórias a cada noite. Um de meus leitores escreveu
esta mensagem depois de rever uma versão anterior deste capítulo:
“Quando comecei a me forçar a dormir oito horas por noite, meus
problemas de saúde física acabaram, minhas emoções se equilibraram
e minha ansiedade desapareceu. A minha mente pode funcionar
melhor e desapareceu a sensação de aperto em volta dos olhos.
Dormir oito horas é um comprimido milagroso”.27

Consequências na Sociedade
Pergunta: Qual dos Dez Mandamentos você consegue guardar
quando dorme? Resposta: O sexto: Não matarás (Êx 20.13), porque
dormir o suficiente é um ato de amor ao próximo, conforme
demonstram as estatísticas a seguir.
O prejuízo no trânsito que resulta de estar acordado por vinte e
quatro horas é maior do que dirigir embriagado em todos os estados
dos Estados Unidos. De acordo com a Administração Nacional de
Segurança no Trânsito, dormir enquanto dirige é responsável por
pelo menos cem mil batidas, setenta e um mil feridos, um mil
quinhentos e cinquenta mortes a cada ano nos Estados Unidos.28
Desastres como o derrame de petróleo da Exxon Valdez e a
explosão da nave espacial Challenger, bem como o acidente do
Metro North, da cidade de New York, estavam todos ligados à
privação de sono.
Em nível mais corriqueiro, noto (como também minha família) que
fico muito mais irritado, de mau humor e propenso a entrar em
conflito quando durmo pouco. Não existe produtividade que valha
tais danos aos relacionamentos preciosos.
Consequências Financeiras
Por colocar em jogo a segurança, criatividade, capacidade de
resolver problemas e a produtividade, estima-se que o tempo de
sono insuficiente custa às empresas norte-americanas sessenta e
três bilhões de dólares por ano. Estudos mostram que consumidores
e clientes tendem a considerar como pouco saudável e sem ânimo
um vendedor a quem faltou horas de sono, reduzindo assim as
vendas.
Também, apesar das piadas contrárias, muitos empresários
construíram seu sucesso sobre o sono. Jeff Bezos, da Amazon,
afirmou: “Estou mais alerta e penso com maior clareza. Eu me sinto
muito melhor o dia todo após ter dormido durante oito horas”.
Embora um dos fundadores da Netscape, Mark Andressen,
costumasse dormir pouco, ele aprendeu a lição: “Sete [horas] e
começo a degradar. Seis é insuficiente. Cinco é um grande
problema. Quatro horas significa que sou um zumbi”.29
Consequências Morais
Estudos mostram que a falta de dormir esgota e enfraquece o
centro de autocontrole do cérebro, levando a níveis mais altos de
comportamentos antiéticos. Em um estudo em grupo sobre as
pessoas trapacearem ou não, dadas tentações idênticas, as
pessoas que não trapacearam dormiram uma média de vinte e dois
minutos mais do que aquelas que cometeram trapaças. A diferença
entre atos morais e imorais foi de apenas vinte e dois minutos de
sono! O ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse certa
vez que todo erro maior que ele cometeu coincidiu com ter perdido o
sono. Se isso não o fizer dormir mais, nada mais vai fazê-lo.
Um homem me procurou para aconselhamento, depois de ter
sido provado que dirigia sob influência de álcool, e admitiu que
dormia somente três a quatro horas por noite, e que bebia cada vez
mais a cada semana. Uma vez que aumentou seu tempo de dormir,
o seu desejo pelo álcool diminuiu.
Consequências Espirituais
Existe mais que moralidade em jogo; nossa espiritualidade
também está em jogo. Pense neste parágrafo de Don Carson:
Se você for um dos que se tornam desagradáveis, cínicos ou mesmo
cheio de dúvidas quando perdem o sono, você está moralmente
obrigado a procurar conseguir o sono que necessita. Somos seres
inteiros e complicados; a existência física está ligada ao bem-estar
espiritual, à percepção mental, aos nossos relacionamentos com os
outros, inclusive o relacionamento com Deus. Às vezes, a coisa mais
piedosa que se pode fazer no universo é conseguir uma noite de sono
reparador — não orar a noite toda, mas apenas dormir. Com certeza,
não nego que haja ocasião para orar a noite inteira; estou apenas
insistindo que no decurso normal das coisas, a disciplina espiritual nos
obriga a obter o sono de que o corpo necessita.30

Consequências no Ministério
Não é surpresa que todos os danos delineados acima
inevitavelmente levam também a problemas no ministério. Um
pastor compartilhou que tinha sido criado e treinado a pensar que
“se punirmos ou negligenciarmos nosso corpo no serviço do reino,
Deus magicamente anulará quaisquer consequências negativas”.
Ele advertiu: “Pode ser que não percebamos que acreditamos nisso
até que as consequências se materializam e ficamos confusos e
amargurados contra Deus”.
Quando dava uma palestra sobre Charles Spurgeon ter sofrido
com depressão, John Piper disse:
Emocionalmente, sou menos resistente quando perco o sono. No
passado, quando eu trabalhava sem me importar em dormir, ainda
assim me sentia animado e motivado. Mas nos últimos sete ou oito
anos, o meu limiar para desânimo está bem mais baixo. Para mim, o
sono adequado não é apenas questão de manter-me saudável. É
questão de permanecer no ministério. É irracional que meu futuro
pareça mais triste quando eu durmo apenas quatro ou cinco horas de
sono por várias noites seguidas. Mas, isso é irrelevante. São estes os
fatos. Tenho de viver dentro dos limites dos fatos. Eu recomendo a
você dormir o suficiente, por amor de sua comunhão com Deus e das
suas promessas.31

Você notou como Piper ligou o tempo no travesseiro com


confiança nas promessas de Deus?

ALGUNS “COMPRIMIDOS” PARA DORMIR

A essa altura, espero que você esteja implorando ajuda para dormir
melhor. Quem sabe, está até pensando em manter ao lado da cama
uma marreta para derrubá-lo e fazê-lo dormir. Felizmente, existem
meios mais fáceis para dormir melhor — e pregar um sermão
melhor enquanto dorme. Eis algumas maneiras de melhorar os seus
hábitos de sono.
Conhecimento
Se nossas escolas estudassem sobre o sono em vez de álgebra,
a sociedade seria mais saudável, segura e alerta. Apesar do sono
tomar de um quarto a um terço de nossa vida e ter tanta influência
no restante dela, a maioria de nós sai da escola em total ignorância
do porquê e do como dormir. Visto que o conhecimento não
somente nos guia como também nos motiva, por que não buscar
mais informações em algumas das notas de rodapé deste capítulo
ou ler The Power of Rest (O poder do descanso) pelo médico do
sono Matthew Edlund (deixe de lado a parte que cheira a Nova Era)
ou And So to Bed...: A Biblical View of Sleep por Adrian Reynolds.32
Conheça melhor a você mesmo e descubra o quanto você
realmente precisa dormir para viver bem. A maioria das pessoas
precisa entre sete a nove horas de sono todo dia. Eu consigo passar
bem com sete e melhor ainda com sete e meia, mas oito horas ou
mais não parece fazer diferença apreciável. Se eu durmo menos
que sete por alguns dias, as consequências começam a se
multiplicar. Encontre seu ponto ideal e fique com ele.
Disciplina
Só conhecimento não basta; precisamos de planejamento, força
de vontade e disciplina para fazer os ajustes necessários às nossas
expectativas, agendas e estilos de vida. Precisamos pedir a Deus
que nos ajude a ver isso como uma prioridade na vida, uma questão
de obediência e uma maneira de agradar a nosso Pai e Criador.
Imploremos que ele nos dê a força necessária para fazer o que
sabemos que temos de fazer.
Rotina
Se buscamos ser coerentes em nossa hora de dormir, na hora de
levantar e na rotina antes de ir para a cama, nosso corpo aprenderá
essa rotina, construirá um ritmo e injetará as substâncias químicas
corretas que nos preparam para dormir. Conforme escreve Edlund:
Preparar para dormir pode ser tão importante quanto o tempo em que
você vai dormir. O seu corpo não foi feito para pular de repente da
extrema atividade mental e física para um sono imediato. Descanso e
atividade exigem transições... tudo funciona melhor se o seu período
antes do sono for rotineiro, rítmico e ritualizado. Você realiza um ritual
de dormir noite após noite, e com isso seu cérebro e corpo se
acostumam à ideia que esse pequeno grupo de comportamentos vai
ajudá-lo a dormir e proverá descanso completo.33

Jejum da Mídia
Um amigo não conseguia descobrir por que achava difícil dormir
e acordava frequentemente com pesadelos. Eventualmente, admitiu
que estava assistindo filmes logo antes de tentar dormir! Se
estimularmos nosso cérebro (e a química do corpo) com e-mail,
Facebook, filmes, noticiários na TV, jogos de computador, noticiários
esportivos, cafeína ou outros energizantes, estaremos pedindo sono
em atraso e perturbado — e vamos obter exatamente isso.
Cooperação da Família
Adolescentes barulhentos até tarde da noite ou uma esposa que
prefere ficar acordada até tarde pode tornar difícil estabelecer uma
hora de dormir mais cedo e mais tempo para dormir. Talvez seja
preciso uma conversa entre os membros da família, para examinar
maneiras de um ajudar o outro a fazer as concessões necessárias,
a fim de se obter sono suficiente para todos. Nós estabelecemos um
toque de recolher às dez da noite para as noites de domingo até
quinta-feira. Nas sextas e sábados, até às onze da noite.
Exercício
Se ficamos sentados à escrivaninha ou no carro o dia inteiro e
esperamos estar cansados a ponto de dormir, podemos esperar uns
protestos do corpo: “Ei, você ainda não fez nada comigo!” Em um
experimento na Universidade Loughborough, foi verificado que fazer
exercícios entre três e seis horas antes de dormir melhorava o
sono.34
Contentamento
Talvez o materialismo e a ambição sejam as maiores causas de
privação de sono em nossa cultura. As pessoas olham a ideia de
passar um terço da vida dormindo como “perder” mais de vinte anos
de suas vidas, e pensam: “Eu conseguiria ganhar muito mais
dinheiro e me tornar muito mais bem-sucedido (ou construir uma
igreja maior) se eu cortasse um pouco do tempo de sono”. A maioria
das pessoas que procura isto a curto prazo consegue resultados,
mas perde a longo prazo, quando aos poucos a saúde é impactada
e a vida é abreviada. O contentamento é uma maravilhosa cura para
a insônia.

Embora a curto prazo os medicamentos para dormir, às vezes,
possam ser necessários em situações extremas, no mundo todo a fé
é um dos melhores remédios para dormir (ainda que menos usado)
— e só tem bons efeitos colaterais.
Se eu estiver com dificuldade de dormir, uso minha fé na Palavra
de Deus para dissipar minha ansiedade. Oro: “Pai Celeste, creio em
Mateus 6.25-27, que diz que tu cuidas de mim mais do que das
aves, e confio em ti para prover-me em tudo. Lanço meus cuidados
sobre ti, sabendo que tu cuidas de mim”.
A fé me ajuda a obedecer a ordem de Deus para dormir: “Pai,
mesmo quando acho que dormir menos e trabalhar mais
beneficiarão a mim e até a tua igreja, creio no Salmo 127.2, que diz
ser vão, totalmente sem razão, levantar cedo demais ou ficar
acordado até tarde demais”.
A fé me capacita a receber com alegria o sono como dom de
Deus: “Pai, embora as vezes eu veja o sono como uma intrusão, um
mal necessário, creio no Salmo 3.5, que o sono é o teu presente
amável para mim, e o recebo com gratidão”.
A fé dissipa meus temores: “Pai, tem hora que tenho medo por
meu emprego, minha igreja, ou meu país, mas creio no Salmo 4.8,
que diz: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR,
só tu me fazes repousar seguro”.
Aconselhamento
Certa vez, um homem perguntou: “O que fazer quando os
sofrimentos, temores, tristezas e as pressões são tantas que mesmo
quando procuro dormir, o sono me foge? Se estes se acumulam,
começo a sentir mais estresse pelo fato de não estar conseguindo
dormir o suficiente”.
Quando estou caindo nesse redemoinho, é útil escrever tudo o
que me perturba, junto com o próximo passo que terei de dar para
tratar de cada problema. Assim, quando a ansiedade levanta a
cabeça na hora em que a minha cabeça vai ao travesseiro, aponto
para essa lista e digo: “Sei sobre isso e tenho um plano para tratá-
lo”.
Nos casos mais sérios de insônia, o aconselhamento pode ter
papel importante para a cura. Meu amigo Paul estava aconselhando
a si mesmo ao escrever um diário e através da leitura do livro The
Anxiety Cure (A cura da ansiedade), por Archibald Hart,35 livro esse
que ele descreveu como “um salva-vidas”. Mas admitiu: “Eu não
havia levado a sério a necessidade de trabalhar os meus hábitos de
pensamentos e hábitos não bíblicos, pecaminosos e
contraproducentes, que contribuíram para minhas depressões”. Foi
ali que Paul começou a fazer aconselhamento bíblico
comportamental-cognitivo com um pastor cristão de sua região. Ele
prosseguiu, dizendo:
Eu estava resolvido a colocar rédeas sobre meu mundo mental, a
despeito do que a química do corpo estivesse fazendo ou não fazendo.
Foi a peça que faltava. Levou tempo, mas tenho crescido cada vez
mais no domínio dessas toxinas espirituais, mentais e emocionais:
tentando ler a mente de outros, pensando demais em segundas
opções, sensibilidade exagerada, dando importância demasiada às
opiniões das pessoas a meu respeito, exagerando os problemas dos
outros, e ao presumir o pior das pessoas e situações. Comecei a ter
prazer na vitória sobre minha mente no momento de pegar no sono.
Estava encontrando o interruptor mental — depois de muitos anos de
achar que não tinha como encontrá-lo — para desligar os
pensamentos que surgiam no travesseiro. “Sinto muito, sr.
pensamento. Agora é hora de dormir. Volte amanhã para me visitar.
Boa noite!”

Humildade
Quando dormimos, estamos entregando o controle, e — pelo
menos por algumas horas — nos lembrando que, na verdade, Deus
não precisa de nós. Ao fechar os olhos a cada noite, dizemos: “Não
sou eu quem manda no mundo, ou na igreja, e nem ao menos em
minha pequena vida”. Até mesmo o presidente tem de vestir seu
pijama toda noite, confessando efetivamente (mesmo contra a
vontade) que Deus não precisa dele, que existe um Superpoderoso
muito maior. Mas o sono do cristão deve ser diferente do sono
daquele que não é cristão. Quando e quanto nós dormimos é uma
enorme declaração de quem somos e no que cremos sobre nós
mesmos e sobre Deus.
Os homens em especial encontram dificuldades em admitir a
necessidade de dormir mais, especialmente quando sobreviveram
muitos anos com menos. Ali é que uma voz objetiva, de fora, pode
ajudar a nos humilharmos e a aceitarmos as nossas limitações. Um
homem cristão esgotado admitiu: “O sono tem sido essencial para o
meu ‘resetar’. É quase como se eu precisasse permissão do meu
conselheiro para me convencer que não estava dormindo o bastante
e que necessitava tirar duas semanas para me restaurar”.
Um pastor confessou que estava se privando de dormir durante
muitos anos porque “era isso que os puritanos faziam”. Se eles
podiam, por que não ele? Depois que acabou de entender que sua
frágil humanidade precisava de descanso, ele disse:
O horário de todo mundo é diferente, e as necessidades de sono
variam. Enquanto estivermos trabalhando bem e dormindo o suficiente
para a necessidade de nosso corpo, estaremos honrando ao Senhor.
Na verdade, eu estava desonrando a Deus quando dizia, “eu entendo
que me dizes no Salmo 127 que dormir é um presente. Mas realmente,
por que o Senhor não dá isso a outra pessoa? Dê para alguém mais
necessitado? Para um mero mortal, de quem o mundo não dependa
tanto?” Eu exagerava no consumo de café, tentando compensar. No
papel eu era calvinista, mas no armário, um pelagiano, trabalhando
mais pela lei do que pelo amor. Trabalhar é bom. Mas só é bom se for
ancorado e totalmente condicionado pela graça. Agora estou
recebendo graça e recebendo também a graça de dormir, porque meu
Pai é bom e eu sou necessitado.

Aceitação de Períodos Especiais


Há horas em que as coisas não dão certo, quando o sono demora
ou é encurtado por uma ou outra razão. Por exemplo: podemos ter
de dormir menos, quando temos períodos especiais de trabalho ou
ministério extra. Não devemos nos preocupar demais com períodos
breves de intensidade. Deus pode nos sustentar nesses tempos
excepcionais. Mas se isso se transformar em norma e hábito, não
estaremos trabalhando ou ministrando bem ou por muito tempo.
Muitas vezes as pessoas apontam para cristãos famosos “que só
dormiam uma hora por semana” (estou exagerando um pouco). O
que não foi dito é que muitos deles sofriam terríveis problemas de
saúde, e não poucos morreram bem jovens. Temos em nossos
tanques apenas uma quantia limitada de combustível, que no fim vai
acabar. Se corrermos a cento e vinte quilômetros por hora sem
pausa para descanso, o combustível vai acabar muito mais
depressa do que para aqueles que levam a sério a sua mortalidade,
examinam os seus motores, e dirigem com economia.
Fazer a Sesta
Tomo café demais para fazer isso dar certo comigo, mas muita
gente descobriu que uma soneca de quinze a vinte minutos durante
o dia melhora tanto a sua produtividade, disposição e seus
relacionamentos interpessoais que algumas companhias de alta
tecnologia estabeleceram “cantinhos de soneca” ou “áreas para a
sesta” para membros de suas equipes. Um estudo da NASA
descobriu que sestas de vinte e seis minutos melhoraram o
desempenho de algumas tarefas no trabalho em trinta e oito por
cento.36 Outro estudo a respeito dos melhores violinistas descobriu
o fato que, além de dormir oito horas e meia por noite, uma hora a
mais que a média norte-americana, eles também dormiam quase
três horas por semana tirando a sesta.37
Mesmo que não chegue sempre a dormir, o relaxar de um tempo
de “soneca” pode ser incrivelmente repousante. Conforme explicou
um homem: “Minha ‘soneca poderosa’ depois do lanche da tarde
sobre o sofá me dá um estímulo de energia. Na verdade, eu não
durmo, mas me relaxo conscientemente por quinze a vinte minutos.
Outros podem fazer o barulho que quiserem; não me incomodo.
Lembro de meu pai fazer o mesmo quando éramos crianças”.
Médico do Sono
Se você tiver tentado de tudo e ainda estiver exausto por dormir
pouco, não é porque esteja negligenciando o sono. Não, você
deseja desesperadamente dormir e não consegue. Talvez o
problema tenha um componente físico, algo como apneia do sono.
Neste caso, parte da solução será procurar um especialista em
sono. De acordo com o Centro Americano de Controle e Prevenção
de Doenças (Center for Disease Control and Prevention), “cerca de
cinquenta a setenta milhões de adultos nos Estados Unidos têm
dificuldades para dormir ou mesmo um distúrbio de vigília”.38
Teologia do Sono
Em última análise, o sono, como tudo mais, deve nos levar ao
evangelho e ao Salvador. Primeiro, isso nos leva a pensar sobre a
morte; todos nós devemos fechar nossos olhos como no sono e
acordar em outro mundo (1Ts 4.14).
O sono também nos ensina sobre o nosso Salvador. O fato de
Jesus ter dormido (Mc 4.38) é tão profundo quanto “Jesus chorou”
(Jo 11.35). Estes fatos nos lembram da plena humanidade de Cristo,
que o Filho de Deus se tornou tão frágil, tão fraco, tão humano que
também precisava dormir. Que humildade! Que amor! Que exemplo!
Que conforto! Que comprimido para dormir!
O ato de dormir ilustra a salvação. Quanto estamos fazendo
quando dormimos? Nada! É por isso que Jesus usou o descanso
para ilustrar a salvação. “Vinde a mim, todos os que estais cansados
e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
O sono também nos aponta para o céu. Permanece um repouso
para o povo de Deus (Hb 4.9). Isso não quer dizer que o céu vai ser
um lugar onde estaremos apenas deitados, sem fazer nada –
significa, sim, que o céu será um lugar de renovação e refrigério, de
conforto e paz perfeita.
Espero que esta oficina o ajude a dormir melhor — com uma
teologia mais saudável! Mas agora, quero que você acorde, vá
entrando na quarta oficina de reparos, e arrume seus apetrechos de
ginástica para nos exercitarmos na oficina de reparos de
“Recriação”.
Arianna Huffington, Thrive: The Third Metric to Redefining Success and Creating a Life of
Well-Being, Wisdom, and Wonder (New York: Harmony, 2015), 2.
James Gallagher, “‘Arrogance’ of Ignoring Need for Sleep”, BBC, May 12, 2014,
http://www.bbc.com newshealth-27286872.
Muitas das estatísticas e citações desta seção foram tiradas do livro Sleep Disorders and
Sleep Deprivation: An Unmet Public Health Problem (Washington DC: National Academies
Press, 2006).
L. Xie et al., “Sleep drives metabolite clearance from the adult brain”, National Center for
Biotechnology Information, October 18, 2013,
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24136970.
Christine Gorman, “Why We Sleep”, Scientific American, October 1, 2015,
http://www.scientificamerican.com/article/sleep-why-we-sleep-video/.
As seguintes estatísticas e citações vêm de “You Are What You Sleep”, Athlete Kinetics,
February 9, 2016, https://blog.athletekinetics.com/2016/02/09/you-are-what-you-sleep/and
Jordan Schultz, “These Famous Athletes Rely on Sleep for Peak Performance”, The
Huffington Post, August 13, 2014, http://www.huffingtonpost.com/2014/08/13/these-famous-
athletes-rely-on-sleep_n_5659345.html.
Tony Schwartz, “Sleep Is More Important than Food”, Harvard Business Review, March 3,
2011, https:// hbr.org/2011/03/sleep-is-more-important-than-f.html.
Ullrich Wagner et al., “Sleep Inspires Insight,” Nature 427 (Jan. 22, 2004): 352-55,
www.nature.com/nature/journal/v427/n6972/full/nature 02223.html. An additional study
supports the idea: Michael Hopkin, “Sleep Boosts Lateral Thinking”, Nature, January 22,
2004, www.nature.com news 2004 040122full/news 040119-10.html
Veja um resumo de Åkerstedt’s research at Karolinska Institutet, Department of Clinical
Neuroscience, http://ki.se/en/cns/torbjorn-akerstedts-research-group.
Charlie Hoehn, Play It Away: A Workaholic’s Cure for Anxiety (CharlieHoehn.com, 2014),
Kindle edition, locs. 1081–89.
“Drowsy Driving and Automobile Crashes”, NCSDR/NHTSA Expert Panel on Driver Fatigue
and Sleepiness, http://www.nhtsa.gov/people/injury/drowsy_driving1/Drowsy.html.
Nancy Jeffrey, “Sleep Is the New Status Symbol for Successful Entrepreneurs”, The Wall
Street Journal, April 2, 1999, http://online.wsj.com/article/SB923008887262090895.html.
Don Carson, Scandalous: The Cross and Resurrection of Jesus (Wheaton, IL: Crossway,
2010), 147.
John Piper, “Charles Spurgeon: Preaching through Adversity,” Desiring God, January 31,
1995, http://www.desiringgod.org/biographies/charles-spurgeon-preaching-through-
adversity.
Adrian Reynolds, And So to Bed...: A Biblical View of Sleep (Fearn, Tain, Rossshire:
Christian Focus, 2014); Matthew Edlund, The Power of Rest: Why Sleep Alone Is Not
Enough (New York: Harper Collins, 2010).
Edlund, The Power of Rest, Kindle edition, locs. 959, 972.
Ibid., loc. 1174.
Archibald Hart, The Anxiety Cure (Nashville: Thomas Nelson, 2001).
Citado em Edlund, The Power of Rest, loc. 1666.
20 K. Anders Ericcson et al., “The Role of Deliberate Practice in the Acquisition of Expert
Performance”, Psychological Review 1993, Vol. 100. No. 3, 363–406.
“Insufficient Sleep Is a Public Health Problem”, Centers for Disease Control and Prevention,
September 3, 2015, http://www.cdc.gov/features/dssleep/.
OFICINA DE REPAROS 4 | RECRIAÇÃO
Era outono de 2006, e a “Missão Cumprida” do Presidente Bush
estava virando uma “Missão Impossível”, enquanto aos poucos, mas
com certeza, os Estados Unidos estavam perdendo a guerra no
Iraque. O general George Casey persistia na estratégia sanguinária
“drawdown to handover”,39 a despeito do desastre que pairava
sobre tudo. O general dos fuzileiros navais, Peter Pace, diretor dos
Chefes de Apoio Adjuntos, estava desesperado. Em busca de nova
estratégia, ele convidou o general do Exército, já aposentado, Jack
Keane, para um encontro durante a crise e pediu que este desse um
parecer honesto.40
Keane foi extremamente franco e direto: “Eu lhe daria uma nota
baixa”.
Visivelmente aflito, Pace perguntou: “O que o senhor acha que eu
deveria fazer?”
O conselho de Keane foi surpreendente: Pace deveria dizer ao
general Casey para reduzir sua carga de trabalho e tirar um tempo
livre todos os dias. Keane continuou: “George Casey está nisso
vinte e quatro horas por dia, os sete dias da semana. Não tem nada
para alimentar a sua vida. Está completamente imerso e isolado por
uma só e única coisa. É esta guerra. Ela capturou completamente
tudo o que ele faz. Sua capacidade de ver claramente estará
sempre limitada e definida pela sua experiência do dia após dia, e
pela fadiga que sofre com isso”.
Keane, então, passou a falar sobre o que ele via como a ética de
trabalho obsessivo dos mais altos oficiais comandantes militares dos
Estados Unidos. “Os nossos generais lutam guerras hoje em dia em
compasso quase frenético e totalmente contraproducente”, disse
ele. O jornalista Bob Woodward escreve:
[Keane sugeriu que Pace comparasse os generais americanos atuais]
ao general Douglas MacArthur, da Segunda Guerra Mundial, que
assistia um filme todas as noites, ou ao chefe do exército George
Marshall, que ia para casa todas as noites em hora razoável e “andava
a cavalo, se fosse o caso, às vezes tirando uma soneca por uma hora
e meia durante o dia. Esses homens estavam fazendo coisas grandes
e importantes. Sabe como são os nossos oficiais hoje? Eles estão em
suas mesas às seis e meia da manhã, e ficam acordados até a meia
noite”.

Era uma questão de hombridade, Keane pensou. Porque os


soldados estavam ali vinte e quatro horas por dia, sete dias por
semana, os generais achavam que tinham de fazer o mesmo. Mas a
questão central era o pensamento renovado e claro sobre as
responsabilidades da guerra.
O ponto de Keane foi que “o pensamento renovado e claro” seria
possível somente se os generais tivessem tempo longe de suas
escrivaninhas, tempo para alimentar suas vidas, tempo para
recreação.
Muitos de nós homens precisamos de um general Keane na vida.
É muito fácil para nós simplesmente fazer, fazer, fazer, produzir,
produzir, produzir; mais, mais, mais, cada vez por mais tempo,
tempo mais longo, mais longo, mais longo. Contudo, estamos
perdendo batalhas após batalhas – quem sabe até mesmo a
guerra? Será que nossa ética de trabalho obsessivo acaba por nos
fazer perder tudo? Na tentativa de impressionar outros homens com
nossa capacidade máscula de trabalhar (e os pastores são
especialmente suscetíveis a isso), estaremos destruindo nossa
capacidade de pensar sobre nosso chamado, nossos problemas e
os desafios de modo claro e renovado?
Ainda que seja possível encontrar recreação melhor do que
assistir filmes todas as noites, e ter atividades mais seguras do que
andar a cavalo pela cidade, o princípio é o mesmo: temos de nutrir
nossa vida com recreação regular, especialmente exercício físico.
Talvez, apenas talvez, um pouco menos de trabalho e um pouco
mais de diversão possa transformar nossa “Missão Impossível” atual
em uma “Missão Cumprida!”
Na Oficina de Reparos 2, passamos algum tempo explorando o
significado de ser criatura e como podemos nos “descriar”, se
ignorarmos nossa condição de sermos criaturas, e isto leva a
estragos e desintegração em diversas áreas da vida. Na Oficina de
Reparos 3, examinamos o que é descansar como uma das formas
que Deus provê para renovar e resetar nossa vida. A Oficina de
Reparos 4 introduz um segundo caminho, recriar por recreação,
especialmente pela graça do exercício físico.
Mas antes de chegarmos à seção mais prática, vamos
estabelecer as bases de uma teologia do corpo centrada no
evangelho. Precisamos deste pano de fundo porque a maneira de
começar e manter o exercício físico regular não é tanto por
autodisciplina monástica ou pelo entusiasmo insano de alguns
instrutores de educação física, mas por apreender as verdades
inspiradoras e motivacionais do evangelho. Vejamos algumas
dessas poderosas verdades.

TEOLOGIA DO CORPO

Conforme evidenciado pela enorme quantia de dinheiro gasto em


cuidados com saúde, cosméticos e cirurgias plásticas, a maioria das
pessoas está obcecada pelo corpo. Em contraste, a igreja de Cristo
tem corretamente enfatizado a alma. O que adianta ter um corpo
mais belo e saudável se a alma estiver doente e feia (Mc 8.36)? O
corpo eventualmente vai deteriorar, enfraquecer e morrer. Mas a
alma pode se fortalecer e ficar mais saudável com o passar dos
anos (Sl 92.12-15; 2 Co 4.16).
Contudo, a igreja frequentemente tem enfatizado a alma até
excluir, ou pelo menos diminuir muito, o valor do corpo. O resultado
é que às vezes enxergam a negligência do corpo quase como uma
virtude ou marca de superespiritualidade. Um pastor explicou assim
a sua luta com isso:
Em algum lugar na caminhada, passei a considerar a recreação como
mundanismo. Se não fosse diretamente para avançar o Reino, eu não
precisava executar determinada atividade. Secretamente, eu achava
que Deus me olharia e veria que eu levava muito a sério o ministério, a
ponto de me abençoar por isso. Mas não estava vivendo como um ser
humano. Eu não percebia o quanto eu precisava das atividades
humanas. Precisava experimentar a beleza e a criatividade.
Necessitava ter prazer nos presentes de Deus sem me sentir culpado
por isso. Era uma questão de sobrevivência.

Ele estava certo. Erros desse tipo só poderão ser vencidos com a
verdade, com a teologia bíblica sobre o corpo. Sim, a Bíblia tem
uma teologia do corpo, muito dela está contida em 1 Coríntios 6.9-
20:
Nosso corpo foi danificado pelo pecado (vv. 9-10). Ainda que o
pecado tenha início em nossa alma, acabamos pecando em e com o
nosso corpo. Por esta razão Paulo inicia a sua Teologia do Corpo
confessando o pecado que fere e até destrói nosso corpo.
O seu corpo foi salvo por Deus (v. 11). “Tais fostes alguns de vós”
(tempo passado). Você era assim — mas agora isso é passado.
Você era corrompido, danificado, destruído, mas agora foi lavado,
santificado, justificado. O nosso corpo e alma sujos, prejudicados,
moribundos, podemos levar a Deus, e ele coloca seu Filho e seu
Espírito para trabalhar neles. Ele opera a salvação de todo o corpo e
de toda a alma.
O seu corpo continua vulnerável (v. 12). Embora ele saiba que
experimentou uma salvação de corpo e alma, o apóstolo é cônscio
da continuidade de sua fraqueza e vulnerabilidade espiritual e física.
Muitas coisas são permissíveis, mas ele não quer impedir a sua
nova criação fazendo o que não for benéfico ou de ajuda. Ele não
está livre da necessidade de disciplina diária sobre os apetites de
seu corpo.
O seu corpo é para o Senhor (vv. 13–14). O apóstolo substitui um
ditame falso que os coríntios estavam usando para abusar do corpo
— “os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os
alimentos” — por um dizer verdadeiro que abençoa o corpo: O corpo
é... “para o Senhor, e o Senhor para o corpo”.
“O corpo é para o Senhor.” Deus deu a cada um de nós um corpo
para o darmos de volta a ele. Ele não nos deu um corpo para que o
entregássemos a qualquer um e a todos em relações sexuais
imorais. Ele não nos deu um corpo para que o entreguemos ao
excesso de trabalho ou à preguiça. Deus nos deu o corpo para que
o entreguemos de volta a ele. O corpo é para o Senhor.
“O Senhor é para o corpo.” Ele o fez, cuida dele e mantém
interesse eterno nele. Até mesmo assumiu um corpo, sofreu no
corpo, e ressuscitou em corpo. Ele possui um corpo até hoje. O
Senhor é para o corpo. Isto não é sem importância. A nossa
ressurreição futura mostra quanta honra Deus coloca sobre o corpo
e o quanto devemos honrar o corpo no tempo em que estamos nele,
e o Senhor o honrará por todos os tempos.
O seu corpo é membro de Cristo (vv. 15-17). Sim, a nossa alma é
membro do corpo de Cristo. Também o é o nosso corpo! Isso tem
imensas implicações no modo como vemos e tratamos o nosso
corpo. Quando meu pai era dentista, ele me disse que, ao olhar os
dentes da pessoa, ele sabia quanto dinheiro essa pessoa tinha, e se
gozava de uma saúde geral boa ou não! Uma pequena parte do
corpo revela tanto sobre a pessoa inteira.
Paulo usa esta realidade para motivar todos os membros do
corpo de Cristo a ver e tratar seu próprio corpo como o que revela
algo positivo ou negativo sobre Cristo.
O seu corpo é templo do Espírito Santo (vv. 18-19). As lojas de
materiais de construção estão sempre cheias de gente querendo
consertar, melhorar, reformar e embelezar suas casas. Ninguém
compra ferramentas e equipamentos para estragar ou destruir a
casa. No entanto, estamos estragando ou mesmo destruindo a casa
do Espírito Santo com nossa atividade exagerada ou nossa
inatividade!
O seu corpo foi comprado por um preço (v. 20). Como você
responderia se eu lhe dissesse: “Pode cuidar um pouco mais das
minhas costas, por favor. Você não está sentado direito na cadeira e
não quero que minhas costas sofram uma hérnia ou um disco em
prolapso!” Ou, se eu interrompesse o sorvete que você está
comendo com o comentário: “Você não acha que deveria comer
menos açúcar e um pouco mais de trigo integral? Isso realmente
seria melhor para o meu estômago”.
Talvez você respondesse: “Quem você pensa que é?” “Que
direito você tem de me dizer o que fazer com o meu corpo?” ou “O
que você quer dizer com suas costas ou o seu estômago? São
meus, não seus”.
Eu respondo, então: “Na verdade, você não pertence a você
mesmo. Não é dono do seu corpo. Eu sou o dono do seu corpo.
Comprei o seu corpo algumas semanas atrás, e estou apenas
cuidando do que é meu”.
É o que Deus está dizendo aqui por meio de Paulo: “...não sois
de vós mesmos... Porque fostes comprados por preço; Agora, pois,
glorificai a Deus no vosso corpo”, e no vosso espírito, os quais
pertencem a Deus. Quanto mais pensamos no preço pago por
nosso corpo, mediante o precioso sangue de Cristo, mais sentimos
uma obrigação para com o novo proprietário. Fomos comprados por
alto preço. Não pertencemos a nós mesmos.
Portanto, glorifique a Deus no corpo e no espírito, que são de
Deus (v. 20). O argumento de Paulo é: Deus nos criou com corpo e
alma, e redimiu nosso corpo e nossa alma, de modo que o servimos
de corpo e alma. Nossa alma e nosso corpo pertencem a Deus para
a sua glória. Isso deve fazer diferença em como os vemos e
tratamos.
Se esta é uma teologia do corpo, o que significa em termos
práticos? Como glorificamos a Deus com o corpo? Para aqueles de
nós que necessitam um resetar de vida, colocamos em prática essa
teologia do corpo com três ações físicas que nos ajudam a recriar
nosso corpo, enquanto vivemos no compasso da graça: Ficar em
pé, exercício e trabalho com as mãos.

FICAR EM PÉ

“Homens que gastam mais que vinte e três horas por semana
sentados têm chance sessenta e quatro por cento maior de morrer
de doenças cardíacas do que os que ficam sentados apenas onze
horas ou menos por semana”.41 Essa não é uma boa notícia para a
maioria de nós que cada vez mais passa o tempo atrás de mesas ou
volantes de carros. Numerosos estudos mostram que estamos
assentados muito mais do que em qualquer outra época da história
(em média, mais de nove horas por dia), e tanto tempo contínuo
permanecendo sentado faz coisas realmente más para o corpo,
inclusive aumentar o risco de doenças cardíacas, obesidade,
diabetes e certos cânceres.42 Ficar sentado mais de seis horas por
dia nos torna até quarenta por cento mais propensos a morrer
dentro de quinze anos do que alguém que fica sentado menos de
três horas. Graças a Bill Gates e Steve Jobs, enquanto isso
aumenta nossa produtividade também aumenta a nossa
mortalidade. Que contraste com o passado, quando a maioria da
população trabalhava com as mãos. Agora, a parte mais exercitada
do nosso corpo são as pontas dos dedos.
Se você habita sua escrivaninha, uma parte da solução poderia
ser uma escrivaninha onde você possa ficar em pé, que o deixe
permanecer pelo menos parte do tempo de pé durante seu dia.
Ainda que a maioria delas seja cara, existe um número de
possibilidades abaixo de duzentos dólares. Comecei com uma
versão faça você mesmo por cinquenta dólares, feito com materiais
da loja Lowe, e, recentemente, passei para uma que posso fazer
subir ou descer apenas apertando um botão. Agora, em vez de ficar
sentado oito horas por dia, eu alterno entre ficar uma hora sentado e
uma hora de pé. Isso fez enorme diferença em meus níveis de
energia e concentração, e, assim espero, na minha longevidade.

EXERCÍCIO

O exercício físico moderado pode ajudar a expelir as substâncias


químicas nocivas de nosso sistema e estimular a produção de
substâncias que nos ajudam. O exercício fortalece não apenas o
corpo, como também o cérebro. Pesquisas mostram que caminhar
três quilômetros por dia reduz o risco de declínio cognitivo e
demência em sessenta por cento. Além dos benefícios a longo
prazo, o exercício estimula o crescimento de novas células cerebrais
no hipocampo e aumenta os fatores neurotróficos de crescimento —
uma espécie de fertilizante mental que ajuda o cérebro a crescer e a
manter novas conexões, conservando-se saudável.43
Exercícios e padrões corretos de descanso geram um aumento
de cerca de vinte por cento de energia em um dia médio,44
enquanto que praticar exercícios três a cinco vezes por semana é
quase tão efetivo quanto tomar antidepressivos para depressão leve
até a moderada.45
Ken sublinhou isso em uma carta que escreveu para mim: “Não
posso exagerar a ênfase do efeito do exercício sobre meu bem-
estar. É claramente uma das atividades que demonstram a conexão
entre mente e corpo. Quando estive mais deprimido, o exercício me
guardou de passar a linha do desespero. Quando me recuperei, me
impediu de entrar novamente nela”.
Em setembro de 2014, com a idade de quarenta e oito anos,
finalmente admiti que eu necessitava acrescentar o exercício a
minha vida. Conversei com um de meus alunos que era treinador
em tempo parcial na ACM. Queria começar a me exercitar (e
aumentar meus bíceps), mas ele me convenceu a começar com seu
grupo de fitness, o que condicionaria o meu corpo inteiro. Alguns
dias mais tarde, quando abri a porta da academia para a classe de
“bombar o corpo”, fui confrontado com vinte a trinta mulheres em
diversos formatos e cores de Lycra. Estava prestes a dizer:
“Desculpe, sala errada”, e correr para me salvar, quando meu aluno
me viu e me chamou para entrar. Dei um sorriso fraco, enquanto ele
me espremeu em um espaço pequeno na frente da turma com uma
esteira, um banquinho e alguns pesos. Dentro de cinco minutos, eu
era um pedaço de geleia, com meus braços doendo e minhas
pernas colapsando. Enquanto isso, todas as mulheres conseguiam
levantar mais e dar mais passos que eu em todos os exercícios. Foi
totalmente humilhante, e anotei mentalmente dar nota baixa ao meu
aluno na próxima prova. Mais tarde, ele me assegurou que
geralmente havia uns dois homens na classe e que eu deveria
voltar. Voltei, mas levei Shona comigo para deixar claro que eu não
era um triste homem de meia idade desesperado a procura de uma
mulher mais jovem. A vantagem foi que minha esposa também
começou a fazer academia.
Antes de ter passado muito tempo, eu já deixara as senhoras de
Lycra para trás. Agora, faço exercícios quatro dias por semana,
seguindo um programa personalizado de treinamento. Às vezes, eu
gostaria de voltar àquelas aulas somente para mostrar às mulheres
o homem de aço em que eu me transformei. Mas resisto. Aprendi
bastante sobre iniciar um regime de saúde física, sendo estas as
principais lições:
Procure Conselhos
Se você realmente estiver fora de forma, deve consultar seu
médico antes de iniciar qualquer programa de exercício. Se ele lhe
der aprovação, por que não se filiar a uma academia local onde
pode ter algumas sessões com um personal trainer ou participar de
aulas em grupo? De qualquer modo, você terá confiança de estar
fazendo o que é certo, da maneira correta.
Tenha um Alvo Claro
A motivação é a chave para o exercício. Qual é o seu “motivo?”
Perder peso? Aumentar a força ou resistência? Qual o seu objetivo
e como saberá se o está conseguindo? Se tiver clareza nessas
questões, já terá vencido metade da luta. Meu alvo inicial era perder
uns sete quilos de peso e começar a ganhar músculos delgados. A
primeira parte foi fácil de ver na balança e no espelho; tristemente, a
segunda não é tão fácil de ver no espelho (ainda), mas com certeza
sinto-me mais forte e não estou sofrendo tanta dor nas costas como
antes. Também marco meus alvos diários num aplicativo em meu
telefone para me encorajar com o progresso alcançado.
Construa Devagar
É tentador, especialmente para os grandes empreendedores
como eu, começar um esforço de condicionamento físico com uma
maratona ou levantando cento e cinquenta quilos de peso. Se você
mirar alto demais, vai se arrebentar. Você pode se machucar,
desanimar ou passar vergonha.
Se realmente estiver fora de forma, comece com uma caminhada
de vinte minutos por dia, depois aumente, depois vá aumentando a
velocidade em direção a correr em vez de fazer uma caminhada.
Isso aumenta o fluxo do sangue, melhora seu desempenho de
eliminação de toxinas, renova as células e diminui a pressão
sanguínea, bem como o estresse.
Ou comece com pesos leves, veja como o corpo reage, e
aumente aos poucos. Mesmo agora, que já estou fazendo isso há
meses, estou aprendendo a importância de estressar os músculos o
suficiente para aumentar a força e a resistência, mas não a ponto de
rasgá-los ou feri-los. Isso me deixaria fora dos exercícios por dias ou
até mesmo semanas, esperando sarar.
Tenha uma Rotina Semanal
Devido ao poder do hábito, é mais fácil fazer algo regular e
rotineiramente do que somente quando der vontade de fazer ou
quando conseguimos encaixar na agenda. Minha rotina de ginástica
semanal é das quatro e meia às cinco e meia da tarde, na segunda,
terça, quinta e sexta-feira. Agora isso é parte tão comum da minha
vida que quase não tenho necessidade de pensar nisso. Não tenho
mais uma discussão interna diária: “Vou fazer ou não?” É como
respirar: não preciso tomar uma decisão quanto a isso;
simplesmente acontece. O meu corpo agora espera esta atividade e
até sente falta quando não me exercito um dia.
Misture Tudo
Exercitar-se à mesma hora cada dia não quer dizer fazer o
mesmo exercício todos os dias. Precisamos exercitar todas as
diferentes partes do corpo, variando o exercício para que não
ficarmos entediados e para que nosso corpo não se acostume
sempre aos mesmos exercícios e acabe estacionando. Eu alterno
pesos com cardiorrespiratórios, trabalho partes diferentes a cada
dia, e misturo neles um pouco de alongamento.
Brinque
É importante ter prazer no exercício físico. Se estivermos apenas
nos esforçando para acabar o percurso, repetições e séries de
exercícios, ele será apenas mais uma rodada de alvos de
desempenho e passará de uma graça a ser recebida para uma lei a
ser obedecida. Todo o prazer e benefício se esvaem. E acabaremos
desistindo. Se isso for uma tentação para você, procure uma
atividade, exercício, jogo ou esporte em que tenha prazer, para que
não seja uma fonte adicional de estresse. Como disse certa vez
Roald Dahl: “Um pouco de tolice de vez em quando é valorizado
pelos homens mais sábios”.46 Se pudermos nos exercitar ao ar livre,
melhor ainda, devido ao impacto terapêutico do sol e do ar puro.
Seja responsável por prestar contas. Marcar os seus exercícios
diários pode também formar a base para a responsabilidade com o
seu treinador ou com um amigo ou com sua esposa. Sei que se eu
chegar do trabalho e ainda estiver de camisa social e gravata, minha
mulher comenta: “Ah, você não conseguiu ir à academia hoje?” No
dia seguinte ela vai dizer: “Você não conseguiu ir à academia de
novo!” O dia número três nunca acontece.
Trabalho Manual
Às vezes invejo pintores, bombeiros, paisagistas, carpinteiros, e
outros que conseguem trabalhar com as mãos e têm algo a mostrar
no final de cada dia, ou pelo menos toda semana. O que é que eu e
outros “trabalhadores do conhecimento” temos a mostrar por nosso
trabalho a cada sete dias?
Virtualmente nada.
Isso porque em sua maior parte é realmente “virtual”— palavras
escondidas dentro do computador e servidores em arquivos,
documentos, relatórios, planilhas e assim por diante. No meu caso,
algumas palavras se tornam sermões ou palestras, que parecem
logo evaporar no ar quando são ditas. Para trabalhadores de
conhecimento em geral, e especialmente para pastores,
frequentemente não há muito a exibir por semanas e mais semanas,
meses e mais meses, ano após ano de suor, sangue e lágrimas
mentais. O pastor Jim explica a dor desse desânimo:
Em dez anos de ministério, tenho trabalhado muito, com pouco para
mostrar isso. Gastava várias horas toda semana fazendo divulgação.
Achava que conseguia me convencer que Deus é soberano, e os
resultados estão nas suas mãos. Ele dará chuva conforme quiser.
William Carey trabalhou todos aqueles anos com pouquíssimos
preciosos frutos. Mas lá no fundo, estava começando a me abalar.

Conforme disse Jim, uma resposta a esse frustrante sentimento


de futilidade é mais fé; fé para crer que Deus abençoará a sua
Palavra escrita e falada. Semeamos, outro põe água, mas Deus é
quem dá os resultados. Sim, acreditamos em tudo isso — a maior
parte do tempo. Mas somos humanos; ainda temos a necessidade
humana básica de ver alguns frutos, algum resultado, algo para
mostrar pelas muitas horas no escritório pastoral e de joelhos.
Outra resposta seria desenvolver um hobby ou passatempo que
supra a necessidade básica humana de ter algo físico ou visível no
final, algo a que apontar, algo belo para ver e admirar. Para mim,
pode ser uma coisa simples como ver o gramado do quintal bem
podado, um cômodo pintado, ou até mesmo ter pescado um salmão
rei. Para você, pode ser uma pintura, um trabalho em madeira, uma
horta no quintal, ou melhores resultados em um jogo de golfe. Pode
ser qualquer coisa física, produzida por uma atividade física
agradável, feita, se possível, toda semana.47
Um de meus amigos dá risada de homens que vão à academia e
depois sobem num cortador de grama elétrico ou pagam alguém
para capinar o terreno do quintal. Como ele diz: “Suar é bom para
um homem, mas suar enquanto corta a grama ou capina o terreno é
muito melhor do que malhar na academia. Você faz algo produtivo,
enquanto está colocando o corpo em melhor forma”. Um pastor me
disse: “Sou tão grato que Deus tenha me dado o trabalho com
madeira como atividade criativa. Chamo isso de minha terapia.
Gosto especialmente de fazer presentes para membros da família,
porque em geral eu os verei mais tarde. Quando vejo o que criei,
tenho grande satisfação. Pode parecer bobagem, mas os pastores
necessitam algo que possam ver”.
Em cima dessa infusão semanal de satisfação, procuro também
realizar um grande projeto físico a cada ano. Um ano, consertei
coisas no pátio. Ano passado, fiz um deck no nosso quintal. Neste
ano, comprei uma serra elétrica para podar a floresta de trás da
minha casa e cortar algumas árvores que estão caídas. Isto é algo
tangível que eu posso apontar e dizer: “Fui eu que fiz isso!” (claro,
com a ajuda de Deus). Quem sabe, pelo menos de vez em quando,
o apóstolo Paulo teve maior senso de realização ao colar e costurar
tendas do que ao colar e cerzir igrejas rasgadas.
Sim, eu também oro pedindo mais fé e para que Deus abençoe o
meu ministério. Mas, como acontece com muitos trabalhadores do
conhecimento, existe ainda uma parte de mim — quem sabe uma
parte ainda fraca e carnal — que precisa do encorajamento de algo
que eu possa ver e tocar. Gramado, pedras de calçamento e
madeira deram certo para mim. Quanto mais sujo e difícil o trabalho,
melhor.
Não são apenas pastores que possuem este desejo. Um amigo,
consultor empresarial, reclamou: “Toda a criatividade que emprego
no meu trabalho diário é intangível... O que não gosto sobre o meu
trabalho é que ele é realizado todo em reuniões, por telefone e
computador. Meus filhos não me enxergam ‘trabalhando’ em
qualquer coisa que na mente deles pareça trabalho”. Eu voltei ao
trabalho manual porque “isso me dá grande senso de realização.
Consigo ENXERGAR o que fiz nessas horas. Posso tocar e sentir e
até mostrar aos outros o que fiz com minhas mãos. É tangível”. Ele
procura envolver os filhos e até mesmo os amigos nos projetos, pois
diz: “O trabalho com as mãos é onde consigo trabalhar, exercitar,
respirar ar puro, criar algo tangível e fazê-lo na companhia da
família e amigos. A medida que os meus filhos crescem, o meu
compromisso com o trabalho manual e com os projetos faça você
mesmo têm aumentado”.
Estranhamente, em vez de tornar-se substituto para meu trabalho
de conhecimento no escritório, o trabalho físico no quintal tem
motivado, inspirado e me dado energia para fazer mais o trabalho
espiritual. Da mesma forma, um pastor que teve de usar um
antidepressivo por curto tempo, disse-me: “Fazer exercícios tem,
com certeza, sido mais poderoso e efetivo do que o antidepressivo;
ele me realiza, esclarece os meus pensamentos, e me ajuda a
manter a saúde física e a sustentar a felicidade”. Ele chama o
exercício “de desligamento estratégico a fim de nutrir a alma e o
corpo”. Ainda que isso pareça contra-intuitivo, a ciência dos
exercícios confirma que o exercício diário, com padrões adequados
de descanso, pode aumentar a energia em cerca de vinte por cento
ao dia. É assim que a sua “Missão Impossível” pode se tornar
“Missão Cumprida”.
Agora, depois de todo esse exercício e trabalho manual, você
ficará contente por saber que vamos descansar. Sim, necessitamos
mexer de novo nosso corpo, mas precisamos também aprender
como e quando desacelerar, tanto física quanto mentalmente. Viver
uma vida ao compasso da graça recebe a graça de transpirar, como
também a graça de se refrescar.
Nota da revisão: “drawdown to handover”, (“rebaixamento para entregar”), estratégia militar
para a retirada das tropas americanas do Iraque).
Bob Woodward reports the encounter in The War Within: A Secret White House History
2006–2008 (New York: Simon & Schuster, 2008), 144ss.
Gretchen Reynolds, “Phys Ed: The Men Who Stare at Screens”, The New York Times, July
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Roald Dahl, Charlie and the Chocolate Factory (New York: Puffin, 1998), 88.
Veja Tim Challies, “Hobbies to the Glory of Deus”, Challies.com, March 9, 2016,
http://www.challies.com/articles/hobbies-to-the-glory-of-god.
OFICINA DE REPAROS 5 | RELAXAR
Que tal este título para um livro: 10% Mais Feliz: Como Domei a
voz em Minha Cabeça e Reduzi o Estresse sem Perder meu Limite,
e Encontrei Autoajuda que Realmente Funciona — uma História
Verídica. Nele, o apresentador de Good Morning America. Dan
Harris, descreve a sua busca sincera, mas muitas vezes bizarra,
pela felicidade, busca essa que o levou a muitos lugares, pessoas e
práticas maravilhosas e estranhas, até se acomodar a uma forma
um tanto extrema de meditação relacionada à ioga que o fez, oh,
uns dez por cento mais feliz.
No fim de tudo, você pensa: “Poxa, todo aquele esforço para
conseguir apenas mais dez por cento de felicidade!” No entanto,
Harris ainda pensa que valeu a pena, especialmente por ele ter
aprendido como viver somente no presente, uma prática muitas
vezes denominada de “mindfulness” – a capacidade de atenção
plena. A ideia é entrar em um estado mental que não pensa para
trás nem para frente, que não relembra o passado nem antecipa o
futuro. Com a ajuda de uma técnica de respiração, a mente se
esvazia de tudo, exceto do momento presente. Perfeitamente
focado somente no aqui e agora, o praticante dessa técnica goza de
um estado de bem-estar mental. Se você acha que isso é fácil de
conseguir, leia o livro, ou melhor, tente você mesmo. Conforme
Harris o define, é como uma gaiola que luta com um peixe:
Era um rigoroso exercício do cérebro: repetição após repetição,
procurando domar o trem fugidio da mente. A tentativa repetida de
levar o aparelho do pensamento compulsivo ao domínio perfeito era
como segurar nas mãos um peixe vivo. Lutando para subjugar a mente
até o chão, repetidamente, procurando levar a atenção de volta à
respiração, em face ao ataque interior que exigia extrema
determinação.48
Embora seja triste e engraçado ler sobre a angustiante e muitas
vezes divertida viagem de Harris, existe algo no título deste livro que
contém uma centelha de verdade: uma das chaves para uma vida
mais feliz e com menos estresse é abaixar o volume da mente e
desfrutar da calma e quietude interna. A graça da paz é parte
essencial de uma vida no ritmo da graça. Precisamos de descanso
para corpo e mente. Conforme disse o salmista: “Aquietai-vos, e
sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10).

NOSSA ORQUESTRA INTERIOR

Todo cristão deseja conhecer mais a Deus; poucos cristãos separam


o tempo de silêncio que isso requer. Em vez disso, passamos o dia
produzindo sons que destroem a quietude e o conhecimento que
deveriam ocupar nossos ouvidos e nossa alma.
Com tantos gongos e confrontos fortes em nossa vida, às vezes
fica difícil isolá-los e identificá-los. Portanto, permita que eu o ajude
a fazê-lo, para depois prover alguns abafadores.49
Primeiro, existe a barulheira da culpa, a vergonha e o embaraço
de nossos segredos morais, mas obscuros: pensamentos de “eu
deveria ter... eu não deveria ter.... eu deveria fazer... eu não poderia
fazer...” tinindo ruidosamente nos recessos profundos de nosso ser,
destroçando nossa paz e perturbando nossa tranquilidade.
Então, vem a ganância batendo forte em nosso coração com
baquetas implacáveis: “Mas eu quero, eu preciso, tenho de ter
isso... preciso muito... vou conseguir... consegui... eu precisava…”, e
assim por diante.
E o que é esta batida metálica e raivosa? É o ódio incitando
malícia, má vontade, ressentimento e vingança. “Como é que ela
pode...? Eu vou pegá-lo... Ela vai me pagar por essa”. Claro que a
ira muitas vezes se insere no címbalo da controvérsia, provocando
discórdia, debates, brigas e divisões.
A vaidade também acrescenta sua batida orgulhosa e altiva,
abafando todos os que competem com a nossa beleza, os nossos
talentos e o nosso status: “Eu para cima, ele para baixo. Eu para
cima, ela para baixo. Eu para cima, todo mundo para baixo”.
A ansiedade também tilinta ao fundo para nos distrair, olhando
rapidamente para o passado, o presente e o futuro, procurando
coisas sobre as quais preocupar-se: “E se... ? O que seria se... ? O
que será se ...?” Será que estou escutando aquele pequeno
triângulo prateado da pena de si mesmo: “Por que eu? Por que eu?”
A repetitiva e incessável barulheira da expectativa vem de todas
as direções — membros da família, amigos, empregadores, igreja,
e, especialmente, de nós mesmos. Ah, se eu tivesse alguns
segundos de alívio da tirania das exigências de outras pessoas, e,
especialmente, de minhas próprias exigências e de minha
consciência supersensível.
E esmagando nossa vida, para onde quer que nos voltemos,
estão os címbalos gigantes da mídia e da tecnologia: local e
internacional, no papel e em pixels, som e imagem, áudio e vídeo,
bip e tweet, notificações e lembretes, e assim por diante.
É de surpreender se algumas vezes sintamos como se
estivéssemos ficando loucos? Vivemos em meio a constantes
rangidos e barulhos, balanços e quebras, batidas ensurdecedoras e
abafadoras — uma grande orquestra de instrumentos barulhentos
que perturbam a paz e desmontam a alma.
Então lemos: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”. Mas como?

SILENCIANDO OS CÍMBALOS

Podemos silenciar o címbalo da culpa assumindo fé no sangue de


Cristo, e dizendo: “Creia!” Você tem de crer que seus pecados foram
todos pagos e perdoados. Não há razão alguma para um sussurro
sequer de culpa. Olhe para o sangue até que entenda o quanto ele
é precioso e efetivo, e torna você mais alvo do que a neve, e a sua
consciência mais silenciosa do que o orvalho da manhã.
A avareza não é fácil de silenciar. Talvez abafada seja o melhor
que conseguimos esperar. Pratique viver com menos do que está
acostumado, não compre mesmo que tenha dinheiro para isso; por
um tempo, limite-se a comprar somente o que for necessário, e
gaste tempo à sombra do Calvário. Você verá a sua necessidade
muito menor, à medida que vir o quanto Cristo deu! Faça o seu
orçamento diante da cruz (2 Co 8.9).
Nossa ira nada santa pode ser reduzida pela ira santa de Deus.
Quando sentimos a ardente ira de Deus contra todo o pecado e toda
injustiça, começamos a nos acalmar e relaxar. A vingança pertence
a Deus; ele retribuirá (Rm 12.19).
A doutrina da depravação total do homem é o abafador essencial
da vaidade pessoal. Quando eu me vejo como Deus me vê, o meu
coração, a minha mente, e até mesmo a minha postura, mudam.
Paro de competir pelo lugar mais alto e começo a aceitar a posição
inferior. “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30).
Ei! Agora começo a escutar um pouco de silêncio. Mas ainda tem
uma ansiedade inquietante tinindo por aí. Ah, como quero ser livre
disso!
Paternidade.
O quê? Sim, a paternidade de Deus pode mudar o volume da
ansiedade para zero. Deus conhece, Deus se importa, e Deus
proverá para as suas necessidades. Silencie os seus “e... se…”,
diante daquele que alimenta até os passarinhos” (Mt 6.25-34).
Ah, chame de novo o fato da depravação total quando você
estiver ficando com pena de si mesmo. O “por que eu?” não
consegue subsistir diante do “por que não eu?”
“Ela fez o que pôde” (Mc 14.8). Você ama essas palavras de
Cristo sobre Maria, quando ela ungiu a cabeça dele? Que matador
de expectativas! Toda vez que o diabo despótico, as outras pessoas,
ou sua tirânica consciência exigirem mais do que você pode dar,
lembre a eles as palavras calmas de Jesus: “Ela fez o que pôde”.
Esse silêncio crescente não é de prata? Pode até mesmo tornar-
se de ouro, se você andar a segunda milha e tratar dos intrusos
barulhentos da mídia e da tecnologia. É aí que desejo enfocar nas
próximas páginas. Quero ajudá-lo a colocar algumas lombadas em
sua vida, para andar mais devagar e aquietar seu coração e sua
mente.

LOMBADAS DIÁRIAS

Primeiro, vamos construir algumas pequenas lombadas diárias, para


então erguer uma lombada semanal um pouco maior, e, finalmente,
concluir colocando lombadas trimestrais, anuais e sazonais.
A Inundação Digital
As pesquisas indicam que os americanos consomem em média
quinze horas e meia de mídia tradicional e digital a cada dia. Isso
significa setenta e quatro gigabytes por dia de dados transferidos a
nossa mente!50 O artigo continua: “Enquanto no passado o consumo
pela mídia era mais passivo — sentávamos e assistíamos a TV ou
escutávamos rádio — o novo consumo de mídia é cada vez mais
interativo, com visualizações posteriores ou interrompidas, conforme
nossa conveniência, tornando-se rapidamente o comportamento
típico de consumo”.51
Assim, o problema não é apenas uma sobrecarga de
informações; é também um bombardeio de informações. Os homens
falam comigo sobre sua exaustão mental e emocional, e, durante as
conversas, seus celulares estão acendendo com uma inundação
distrativa de sons e imagens. Eles se surpreendem por que sentem
o cérebro detonado! Mas, dão em si mesmos açoites mentais
contínuos, enquanto derramam estímulos e dados no cérebro,
vindos de todas as direções.
Imagine que você fosse para a academia e visse alguém
trabalhando furiosamente o bíceps direito, gastando uns três
segundos em uma máquina, para então correr para outro aparelho,
e então fazer mais três segundos, pulando de um exercício para
outro, puxando e empurrando o músculo, usando pequenos pesos
com muitas repetições, e, então, usando pesos grandes com poucas
repetições — o dia inteiro. Esse pobre bíceps não sabe o que vem
em seguida e pode dizer: “Chega. Não aguento mais”.
É assim, porém, que muitos de nós estamos tratando o nosso
cérebro. Acordamos, verificamos os e-mails, ligamos a TV,
escutamos o rádio, sentamo-nos diante do computador, atendemos
o telefone, respondemos um texto, abrimos o Facebook,
comentamos um blog, enviamos uma mensagem, nos envolvemos
em uma conversa, escrevemos uma matéria, aconselhamos
alguém, planejamos uma reunião — tudo isso antes do café da
manhã. Cada uma dessas atividades requer de nós algum esforço e
esgota os músculos da mente; e a situação é especialmente
prejudicial por estarmos saltando rapidamente de um exercício
mental a outro, não dando ao músculo chance de se recuperar ou
construir algum ritmo. ((E você pensou que o rato de academia
fosse louco!)
Quer restaurar alguma sanidade? Tenho aqui cinco lombadas que
fiz (e continuo tendo de refazer) para proteger e fortalecer meu
cérebro.
Emudeço minhas notificações de celular e computador. Durante
minhas principais horas de trabalho mental, quando penso, pesquiso
e escrevo (em geral das sete e meia da manhã até uma hora da
tarde), deixo meu telefone no modo silencioso e desligo as
notificações de e-mails, mensagens e mídias sociais. Quanto mais
tempo passo sem ser interrompido, mais calma fica a minha mente,
melhor fica o meu foco, mais profundos os meus pensamentos e
mais eficiente será meu gerenciamento do tempo. Não é somente
que não serei interrompido; é o fato de saber que não serei
interrompido. Isto produz uma disposição e profundidade mental
totalmente diferente daquela que espera soar o próximo bip ou som
de notificação. Dizem ser de Pablo Picasso estas palavras: “Sem
grande solitude nenhum trabalho sério é possível”.
Trabalhar sem distrações ou interrupções, me capacita a realizar
o dobro de trabalho na metade do tempo, permitindo que eu tenha
mais tempo para relaxar com a família. Quebra também o elemento
de vício em tecnologia. Os cientistas descobriram que toda vez que
chega um e-mail ou uma notificação de mensagem ou uma “curtida”
no Facebook, nosso cérebro ejeta minúsculos esguichos de uma
substância química que produz prazer (como se fosse uma pequena
dose de cocaína). Assim, cada som de notificação cria no corpo um
desejo por aquela substância química, tornando-nos viciados em
bips e notificações.
Eu verifico meu e-mail, celular, mensagens de textos e mídias
sociais de quatro a seis vezes ao dia. A média para “trabalhadores
do conhecimento” é de seis vezes por hora! Quando me conecto,
procuro primeiro por “emergências” ou “urgentes” que necessitam
ação imediata, mas estes são raros. A maior parte do tempo,
demoro para responder até o final da tarde, quando procuro
processar todas as comunicações numa janela de trinta a quarenta
e cinco minutos. Limitar a janela me força a limitar o tempo gasto em
cada comunicação. Dou prioridade às respostas mais importantes,
e, então me certifico de que qualquer e-mail não respondido pode
esperar por uma resposta até o dia seguinte.
Coloco meu telefone na escrivaninha da minha esposa quando
chego em casa. Não carrego o celular pela casa nem para o quintal
quando vou brincar com meus filhos. Colocar o celular em lugar
onde tenho de fazer um esforço para atender, reduz a probabilidade
de eu entrar na rede, e também melhora a qualidade das minhas
conversas. A professora do MIT (Massachusetts Institute of
Technology), Sherry Turkle, diz que “estudos sobre conversas, tanto
no laboratório quanto em ambientes naturais mostram que quando
duas pessoas estão falando, a mera presença de um telefone sobre
a mesa, entre elas ou na sua periferia visual, muda aquilo sobre o
que falam e também o grau de conexão sentida... mesmo um
telefone silencioso nos desconecta”.52
Carrego a bateria do celular na cozinha durante a noite. Parei de
usar o celular como despertador, porque tê-lo ao lado da cama fazia
com que eu verificasse os e-mails e mensagens antes de dormir,
todas as noites — às vezes tornando difícil dormir — e, às vezes,
era a primeira coisa que eu fazia também pela manhã; isto levava
minha mente a muitas direções antes que eu tivesse a oportunidade
de ler a Bíblia e orar.
Eu jejuo da mídia. Faço isso de dois modos. Nas férias, não vejo
e-mail, blog ou mídia social, e, geralmente, evito ver noticiários,
blogs e a mídia social aos domingos.
O professor Douglas Groothuis, do Seminário de Denver, exige
que seus alunos se abstenham de um meio eletrônico por uma
semana. Diz ele:
Os resultados são nada menos que profundos para a maioria dos
alunos. Tendo se afastado do mundo da TV, rádio e computadores,
eles encontram mais silêncio, tempo de reflexão e oração, e mais
oportunidades de serem atenciosos e envolvidos com a família e os
amigos. Tornam-se mais pacíficos e contemplativos — e começam a
notar como a maior parte da nossa cultura se tornou saturada pela
mídia.53

Tenho certeza que você encontrará outras maneiras de acalmar o


trânsito da sua mente — não checar o celular toda vez que está
numa fila ou num semáforo fechado, fazer caminhadas sem levar o
celular, e assim por diante — estas são as áreas em que estou
trabalhando, e quando tenho sucesso nisso, não somente me sinto
melhor, mas também sou mais criativo e produtivo. Passei a
perceber que a tecnologia digital é um dos maiores impedimentos a
uma vida dedicada à comunhão com Deus. Parafraseando Blaise
Pascal: “Toda a nossa miséria deriva de não conseguirmos ficar em
um quarto silencioso, sozinhos [com Deus]”.54 Gostaríamos que
fosse diferente. Mas, como o Salmo 46 confirma, Deus tem
ajuntado, de maneira inseparável e irrevogável, a quietude com o
conhecimento dele. O que Deus ajuntou, não o separe o homem.
Mas a busca de mais silêncio não trata apenas de evitar males; é
bom para o cérebro. Dois minutos de silêncio são mais relaxantes
que ouvir música relaxante,55 porque alivia a tensão do cérebro e do
corpo. Experimentos em ratos verificaram que duas horas diárias de
silêncio produziram novas células no hipocampo, a área do cérebro
associada ao aprendizado, à memória e à emoção.56 Se isso
aconteceu com os ratos, o que poderia fazer por você!

INSPIRE, EXPIRE

Para muitos de nós, estas lombadas digitais para desacelerar


poderão ser tudo o que se requer para inserir mais descanso em
nossa mente e em nossa vida. Permita que eu ainda acrescente
umas lombadas diárias que talvez você queira examinar. Quando
fico realmente estressado, às vezes uso técnicas de relaxamento.
Você pode encontrar vídeos no YouTube e artigos em websites com
dicas básicas sobre como relaxar o corpo conscientemente, do topo
da cabeça até a ponta dos dedos dos pés. Quando fiz isso pela
primeira vez, fiquei surpreso ao descobrir quanto o meu corpo tinha
estado tenso, e — mais surpreso ainda — o quanto essa tensão me
deixava exausto. Imagine passar o dia todo com um bíceps
totalmente flexionado, e, então, traduza isso para o impacto de um
corpo totalmente tenso durante o dia todo. Não é de admirar que
geralmente nos sentimos fadigados e doloridos pelo corpo todo.
E também, sem entrar no território de Dan Harris, podemos
encontrar muitos artigos e websites úteis sobre como respirar
corretamente. “Aprender a respirar?” Você protesta: “Estou vivo, não
estou?” De novo, você se surpreenderia se soubesse como a
maioria de nós respira errado, deixando nosso corpo e nosso
cérebro morrer por falta de oxigênio, levando-os à inevitável
fraqueza. Respirar profundamente de tempos em tempos ajuda a
diminuir o estresse, reduz a pressão do coração e do sangue, e nos
acalma. Procure “exercícios respiratórios” no Google e experimente-
os — e evite ficar de pernas cruzadas e murmurando.
Leitura
A última lombada diária que quero recomendar é a leitura, que
pode soar estranho visto que estamos tentando descansar e relaxar
a mente. Mas existe algo singular em ler, principalmente ao ler livros
de verdade, em papel, que pode ser especialmente saudável. Em
“How Changing Your Reading Habits Can Transform Your Health”
(Como a mudança nos hábitos de leitura pode transformar a sua
saúde), Michael Grothaus diz: “A leitura não melhora apenas o seu
conhecimento; ela ajuda a combater a depressão, torna você mais
confiante, empático e ajuda-o a tomar melhores decisões”.57
A vida de Grothaus estava numa vala — até que leu Guerra e
Paz. Este livro tem mais de mil páginas; ele levou dois meses para
terminar de ler, mas imediatamente ele se tornou o seu livro favorito
por causa de como o mudou. “É quase impossível explicar por que”,
diz ele, “mas depois de ler eu me senti mais confiante, menos
incerto sobre meu futuro... Por mais estranho que pareça, ler Guerra
e Paz me colocou de novo no controle da minha vida — e por isso é
o meu livro predileto”.58
Pesquisas posteriores de Grothaus revelaram que essa
transformação por meio da leitura não era estranha, e sim “a norma
para as pessoas que leem muito — e um dos principais benefícios
da leitura que a maioria das pessoas desconhece”.59
As lições de Grothaus foram confirmadas por outros estudos. Os
pesquisadores afirmam:
• Ler por prazer pode ajudar a prevenir condições de estresse,
depressão e demência.
• As pessoas que regularmente leem livros são mais satisfeitas
com a vida, mais felizes, mais propensas a sentir que o que
fazem em sua vida tem valor.
• Em enquetes com um mil e quinhentos leitores adultos, setenta
e seis por cento disse que a leitura melhora a vida deles e os
ajuda a sentirem-se bem.60
Eu procuro separar trinta minutos toda noite para ler livros não
relacionados ao meu trabalho — geralmente biografias, trabalhos
sobre história ou saúde, bestsellers da lista de não ficção do New
York Times, e assim por diante. É maravilhoso ver quantos livros
fantásticos conseguimos ler — quem sabe dois ou três por mês —
apenas com este curto tempo todos os dias. Para meus colegas de
Tipo Alfa, lembrem-se que o ponto não é marcar os “livros lidos” ou
usar o tempo para preparar um sermão, se você for um pastor, mas
relaxar e desfrutar da leitura.

LOMBADA SEMANAL

Os pastores costumavam estar entre as pessoas mais felizes e


saudáveis na vida, e com maior expectativa de vida do que a
população em geral. Mas em “Taking a Break from the Lord’s Work”,
o jornalista Paul Vitello, diz: “Membros do clero hoje sofrem de
obesidade, hipertensão e depressão em índices mais altos do que a
maioria dos americanos. Na última década, seu uso de remédios
antidepressivos aumentou, enquanto seu índice de expectativa de
vida caiu. Muitos dentre eles mudariam de emprego, se
pudessem”.61 Um estudo do clero, em 2005, feito pelo Board of
Pensions of the Presbyterian Church notou em especial que o
número de pessoas que deixa a profissão quadriplicou, durante os
primeiros cinco anos de ministério, comparado com a década de
setenta.62
Vitello identificou algumas possíveis causas para essa mudança,
incluindo as dimensões adicionais de estresse causadas por
telefones celulares e as mídias sociais, a redução na disponibilidade
de voluntários numa época em que as famílias necessitam de duas
fontes de renda, e as percepções errôneas de que cuidar de si
mesmo seja egoísmo, e que servir a Deus significa jamais dizer não.
Porém, grande parte dessa pesquisa demonstra que a maior razão
é simplesmente que os pastores não estão tirando um dia de folga
por semana.
A reportagem de Vitello confirma o que eu tenho observado tanto
no Reino Unido quanto nos Estados Unidos. Parece que os pastores
pensam que “seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o
sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhum
trabalho” (Êx 20.9-10) tem um asterisco (*a não ser que sejas
pastor, caso em que terás de trabalhar sete dias por semana). Não.
Este é um mandamento divino para todos, não uma sugestão
opcional para alguns. Deus projetou este padrão de seis dias de
trabalho e um dia de descanso para pessoas perfeitas em um
mundo perfeito. Quanto mais hoje necessitamos deste descanso,
com nosso corpo caído vivendo em um mundo caído? O descanso é
um presente divino, dado para o nosso bem, conforme Jesus disse:
“O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem
por causa do sábado” (Mc 2.27). Esse dia de folga é mais
necessário agora do que antes, considerando que, nos últimos vinte
anos, as horas de trabalho nos Estados Unidos aumentaram quinze
por cento e o lazer diminuiu trinta por cento.63
Confesso que não acho fácil fazer isso. Gosto tanto do meu
trabalho que, às vezes, tirar um dia de folga cada semana envolve
negar a mim mesmo e me disciplinar conscientemente. Vejo tantas
necessidades espirituais em toda volta que, às vezes, tirar um dia
de folga me faz sentir culpado. Mas, tenho de obedecer a Palavra
de Deus, confiar na soberania de Deus, e rejeitar meu sentimento
de indispensabilidade. Atendo ao que diz o Pastor J. R. Briggs:
“Jamais encontrei um pastor esgotado que praticasse a guarda do
Sabbath (um dia de descanso) religiosamente”.64 Um homem pediu
que eu enfatizasse que o dia de descanso significa cessar todo o
labor. Escreveu-me: “Eu achava que estivesse tirando um dia de
descanso a cada semana, mas o que realmente eu fazia era cessar
um tipo de trabalho para me apressar em fazer outro. Eu enchia o
meu ‘dia de folga’ com tantos projetos pela casa que isso acabou
me causando mais estresse do que o meu emprego”.
Minha esposa tem sido de imensa ajuda, porque ainda no início
de nosso casamento, ela insistiu que eu tirasse um dia inteiro de
folga a cada semana. Uma ou duas vezes, eu a persuadi que
realmente precisava trabalhar no meu dia de folga, mas chegando
ao final da semana, eu estava tão cansado mentalmente que acabei
realizando menos do que costumava. As consequências podem ser
ainda mais sérias, a longo prazo, conforme nota Wayne Muller: “Se
não dermos espaço para um ritmo de descanso em nossa vida
excessivamente ocupada, a doença se torna nosso tempo de
descanso — nossa pneumonia, nosso câncer, nosso ataque
cardíaco, nossos acidentes criam um tempo de descanso para
nós”.65 Um pastor que aprendeu isso a duras penas, olhava
envergonhado para seu “estilo de morte”, ao trabalhar vinte e quatro
horas por dia, sete dias por semana, e disse:
“Agora eu tiro um dia de folga por semana. Que ideia maravilhosa! Lá
estava eu, um sabatariano em escala total, vivendo pela letra e
assassinando o espírito o tempo inteiro. Eu podia dizer a mim mesmo
que, na verdade, o Dia do Senhor era um dia de trabalho para mim, e
estava totalmente justificado por tirar às segundas-feiras de folga”.

Conforme disse alguém: “Não é ‘descanse quando não tiver nada


para fazer’, mas, sim: ‘Descanse porque nunca vamos acabar de
fazer tudo’”.
Necessitamos ver o descanso semanal não como algo que
somos obrigados a fazer, mas como algo que temos o privilégio de
fazer. Peter Scazzero diz que devemos ver como se Deus desse ao
seu povo um dia de neve66, uma vez por semana.67 É um presente,
não uma ameaça. É um tempo para curar o corpo e a mente.
LOMBADA TRIMESTRAL

Se esticarmos uma tira de borracha entre dois pontos, por um tempo


prolongado, ela começa a desgastar até que, eventualmente,
arrebenta. Uma vida vivida sem um tempo para relaxar é como
aquela pobre borrachinha que nunca tem alívio da tensão até que se
rompe.
Uma forma de aliviar a tensão que vai crescendo devagar em
nosso corpo, nervos, mente e alma é agendar um “tempo sozinho” a
cada três meses ou mais, um retiro de dia inteiro, ou de metade de
um dia. Verificando estudos sobre solitude, Leon Neyfakh do The
Boston Globe, explicou que, embora muitos de nós não nos
sintamos felizes quando sozinhos, a solidão resulta em
pensamentos melhores, lembranças mais fortes, humores mais
felizes, criatividade estimulada, personalidades mais equilibradas e
melhores amizades.68
Um dia de retiro deve ser livre de toda distração como telefone ou
computador. Deve ser focado em oração, leitura da Escritura e
meditação, tendo como alvo renovar a alma e a conexão com Deus.
Se Jesus tinha necessidade disso (Lc 5.16), quanto mais nós
precisamos!

LOMBADA ANUAL

A maioria dos homens a quem tenho aconselhado no processo de


reconfiguração da vida tem negligenciado o tirar férias anuais, ou
sucumbiram ao hábito de misturar o trabalho com as férias.
Realmente, não relaxamos se ainda estivermos enviando e-mails
todos os dias, telefonando para o escritório ou pregando nos finais
de semana.
Um tempo depois de ter persuadido um pastor deprimido sobre o
fato que ele precisava desesperadamente tirar umas longas férias,
ele me escreveu:
Eu me lembro de ler, certa vez, o Dr. Lloyd-Jones dizendo que todo
pastor precisava de quatro semanas de férias por ano. Eu dei risada.
Não faria isso de jeito nenhum! Eu respeitava o bom doutor, mas no
fundo, devo ter achado que ele era um fracote. Que arrogância! Agora
ali estava eu, sorvendo as últimas gotas daquelas quatro semanas de
calma e renovação. Eu lia um livro pelo simples prazer de ler. A
dissertação podia esperar. Eu desfrutava da natureza e de
simplesmente desacelerar, junto com minha família.

As férias produzem uma melhor perspectiva quanto à vida e ao


trabalho, refrescam nossos padrões de pensamentos, e renovam os
relacionamentos com a esposa e os filhos. Acima de tudo, elas
permitem que não façamos nada. Em “The ‘Busy’ Trap”, Tim Kreider
diz: “A ociosidade não é apenas tirar umas férias, uma indulgência,
ou um vício; é tão indispensável ao cérebro quanto a vitamina D é
necessária ao corpo. Quando não temos tempo de ociosidade,
sofremos uma aflição mental desfiguradora como se fosse
raquitismo”.69 “Para se fazer um grande trabalho, um homem tem de
ter muito tempo de ociosidade, além de grande diligência”,70
observou Samuel Butler. Conforme muitas pessoas descobriram, se
não tirarmos tempo de folga, seremos forçados a fazê-lo pelos
problemas de saúde, perdendo com isso mais tempo do que
podíamos imaginar.

LOMBADA SAZONAL

Além desses ritmos diários, semanais, trimestrais e anuais,


devemos reconhecer também épocas mais longas na vida que nos
conclamam a ajustar o nosso ritmo. Como disse Salomão: “Tudo
tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito
debaixo do céu” (Ec 3.1). Salomão identificou vinte e oito épocas
(vv. 2–8)! A maioria de nós terá menos, mas identificar a fase atual
de nossa vida — casar, ter filhos, envelhecer, luto por morte, perdas,
mudar de local, e assim por diante — e ajustar-se a cada época da
vida, ajuda a nos movermos com sabedoria e confiança em cada
fase, em um ritmo pautado pela graça, com disposição calma e
pacífica.
Acabamos de passar por uma estrada cheia de lombadas, não é
mesmo? Mas, diferente da maioria das estradas cheias de
lombadas, esta vai aumentar o nosso conforto, enquanto gozamos
os benefícios de uma vida mais calma por dentro e por fora,
construindo ritmos de graça, dados por Deus a nossa vida. As
lombadas nos fazem andar mais devagar, mas também nos
edificam, dando-nos tempo de pausa para nos acalmar, a fim de que
pensemos em quem somos e por que estamos aqui — questões
que serão respondidas nas próximas duas oficinas de reparos.
Dan Harris, 10% Happier: How I Tamed the Voice in My Head, Reduced Stress without
Losing My Edge, and Found Self-Help That Actually Works— A True Story (New York:
HarperCollins, 2014), Kindle edition, loc. 101.
Parte dessa seção foi publicada anteriormente em “Silencing the Cymbals”, Tabletalk
Magazine, June 2012. Usado com permissão.
James E. Short, “How Much Media? 2015: Report on American Consumers,” USC Marshall
Escola of Business, https://www.marshall.usc.edu/faculty/centers/ctm/research/how-much-
media.
Ibid.
Sherry Turkle, “Stop Googling. Let’s Talk,” The New York Times, September 26, 2015,
http://www.nytimes.com/2015/09/27/opinion/sunday/stop-googling-lets-talk.html.
Douglas Groothuis, “Habits of the High Tech Heart: Living Virtuously in the Information
Age”, Denver Seminary, January 1, 2003, http://www.denverseminary.edu/resources/news-
and-articles/habits-of-the-high-tech-heart-living-virtuously-in-the-information-age/.
Para a citação original, veja Blaise Pascal, Thoughts, Letters, and Minor Works, ed. Charles
W. Eliot, trans. W. F. Trotter, M. L. Booth, and O. W. Wight (New York: P. F. Collier & Son,
1910), 52.
L. Bernardi et al., “Cardiovascular, Cerebrovascular, and Respiratory Changes Induced by
Different Types of Music in Musicians and Non-musicians: The Importance of Silence”,
Heart 92, no. 4 (April 2006): 445-52; published online at National Institutes of Health,
September 30, 2015, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1860846/.
Imke Kirste et al., “Is Silence Golden? Effects of Auditory Stimuli and Their Absence on
Adult Hippocampal Neurogenesis”, Research Gate, December 1, 2013,
https://www.researchgate.net/publication/259110014_Is_silence_golden?
_Effects_of_auditory_stimuli_and_their_absence_on_adult_hippocampal_neurogenesis.
Michael Grothaus, “How Changing Your Reading Habits Can Transform Your Health,”
Fastcompany, July 27, 2015, http://www.fastcompany com/3048913/how-to-be-a-success-
at-everything/how-changing-your-reading-habits-can-transform-your-health.
Ibid.
Ibid.
Alasdair Gleed, Booktrust Reading Habits Survey 2013, Booktrust,
http://www.booktrust.org.uk/usr/library/documents/main/1576-booktrust-reading-habits-
report-final.pdf.
Paul Vitello, “Taking a Break from the Lord’s Work”, The New York Times, August 1, 2010,
http://www.nytimes.com/2010/08/02/nyregion/02burnout.html.
Cited in Ibid.
Matthew Sleeth, 24/6: A Prescription for a Healthier, Happier Life (Carol Stream, IL: Tyndale
House, 2012), Kindle edition, locs. 6-7.
J. R. Briggs, Fail: Finding Hope and Grace in the Midst of Ministry Failure (Downers Grove,
IL: InterVarsity Press, 2014), Kindle edition, locs. 2177–2179.
Wayne Muller, Sabbath: Finding Rest, Renewal, and Delight in Our Busy Lives (New York:
Bantam, 1999), 20.
Nota da tradutora: Em países em que neva muito, quando o município declara um “dia de
neve”, num dia com neve em demasia que impede o trânsito nas estradas e a ida às
escolas, as atividades fora de casa são canceladas. Em geral, as crianças aproveitam
muito dessas folgas com a temperatura fria para brincar na neve.
Peter Scazzero, Emotionally Healthy Spirituality (Nashville: Thomas Nelson, 2011), 171.
Leon Neyfakh, “The Power of Lonely,” The Boston Globe, March 6, 2011,
http://www.boston.com/bostonglobe/ideas/articles/2011/03/06/the_power_of_lonely/.
Tim Kreider, “The ‘Busy’ Trap”, The New York Times, June 30, 2012,
http://opinionator.blogs.nytimes.com/2012/06/30/the-busy-trap/.
Samuel Butler, Further Extracts from the Notebooks of Samuel Butler, ed. A. T.
Bartholomew (London: Jonathan Cape, 1950), 262.
OFICINA DE REPAROS 6 | REPENSAR
LifeLock, Identity Guard, ProtectMyID, ID Watchdog, Trust ID —
todos estes são nomes que nos Estados Unidos conhecemos bem,
por meio de infindas propagandas comerciais no rádio e na
televisão. Seus anúncios nos seguem pela Internet, aparecendo de
repente aqui e ali, lembrando-nos constantemente que corremos o
risco de ter roubada a nossa identidade, de alguém furtar
informações pessoais suficientes para prejudicar nossas finanças e
arruinar nossa reputação.
A verdade é até pior do que a indústria de proteção ao furto de
identidade quer mostrar. Fraudes russas pela internet, impostores
que se apresentam como ricas viúvas nigerianas e hackers chineses
são o menor de nossos problemas. Estou falando dos ladrões de
identidade muito mais difíceis de detectar: orgulho, propagandas,
Hollywood, mídias sociais, pressões de familiares, sucesso,
decepções, o diabo, envelhecimento, luto, a igreja, e assim por
diante – tudo isso tem tido maior sucesso em furtar nossa identidade
do que qualquer rede de ladrões da internet.
Por que esses roubadores de identidade são tão perigosos?
Porque roubam a resposta à segunda pergunta mais importante do
mundo.

A SEGUNDA PERGUNTA MAIS IMPORTANTE


DO MUNDO

Se a pergunta mais importante do mundo é “quem é Deus?”, a


segunda pergunta mais importante é “quem sou eu?” Nossa
resposta a essa questão de nossa identidade básica, o jeito que
pensamos a nosso próprio respeito, impacta tudo em nossa vida:
nossa autoimagem, nossa saúde, nossa espiritualidade, nossa ética,
nossos papéis e relacionamentos, nossa carreira e nossa visão do
passado, presente e futuro. Respondendo certo, vicejamos.
Respondendo errado, nós murchamos.
Que tal pegar papel e caneta e responder: “Quem sou eu?” Não é
tão difícil quanto você pode pensar, porque na verdade estamos
respondendo a isso constantemente. Cada dia, cada um de nós
projeta e constrói uma identidade — um jeito que intencional ou
acidentalmente pensamos a nosso respeito (e como queremos que
os outros pensem de nós). Para começar, vamos manter bem
simples: escreva uma frase que o defina. Deixe que eu dê alguns
exemplos de pessoas que encontrei no passar dos anos, cuja
identidade roubada tem afetado a vida inteira delas.
André, o adúltero
Depois de muitos anos de fidelidade no casamento, André
cometeu adultério quando participava de uma conferência longe de
casa. Agora, vários anos mais tarde, o aumento constante de seu
senso de culpa e sua minimização da graça significam que a
primeira coisa que surge em sua mente quando ele pensa em si é:
“Sou um adúltero”. Essa é a autoimagem que o domina, afetando o
seu relacionamento com Deus e com sua esposa, esvaziando sua
motivação e energia para assumir as oportunidades mais básicas de
serviço na sua igreja local.
Fred, o fracassado
Fred passou cinco anos estressantes tentando plantar uma igreja
em uma grande cidade. Seguiu todas as estratégias que os
plantadores de igreja bem-sucedidos usaram. Comprou todos os
livros e participou de todas as conferências, mas só obteve uma
úlcera, trinta ou quarenta frequentadores constantes na igreja —
não exatamente a Igreja Central nem a Igreja Redentor de New York
— e um emprego de tempo parcial no Walmart para sustentar a sua
família. Finalmente, ele aceitou um chamado para pastorear uma
igreja rural, de tamanho médio, que ninguém tinha ouvido falar. Ali
ele é apreciado, tem bastante apoio, a vida da família se estabilizou,
e ele tem visto algumas pessoas se converterem à fé. No entanto,
ele só consegue pensar: “Como plantador de igreja eu sou um
fracassado”. Afastou-se da rede de contatos anteriores, evita
conferências de pastores, e não consegue se alegrar na obra de
Deus em seu novo campo de trabalho. Outro pastor com história
semelhante me disse: “Quando me demiti do ministério, eu não
queria estar perto de outros pastores (ou de ninguém, na verdade).
Eu não sabia o que dizer a eles. Foi como se toda a minha
identidade tivesse sido apagada. Eu me sentia nu”.
Simão, o fortão
O pai de Simão era um homem determinado e de sucesso, com
altos padrões para seus filhos. Doença era para gente fraca. Mesmo
quando Simão ficava doente quando criança, o pai não dava valor a
remédios e o empurrava para fora da porta de casa para ir à escola.
Ele tinha de “ser durão… deixar pra lá… aprender a ser forte”.
Inconscientemente, mas compreensivelmente, Simão adotou essa
identidade de machão — forte, impetuoso, de trabalhador braçal – e
isso o acompanhou por toda sua vida de adulto. Agora, entretanto,
por volta dos quarenta anos, ele luta para manter o mesmo nível de
energia e produtividade. Sua mente não está tão aguçada ou
eficiente como antes, e de vez em quando sofre palpitações e dores
no peito. Mas, como ele é “Simão, o Fortão”, ele força a si mesmo,
obtendo como resultado o estar constantemente fatigado e frustrado
com suas limitações.
Pedro, o perfeccionista
Para o Pedro, tudo tem de ser perfeito. Seus pais também eram
assim. Se ele tirasse nota nove vírgula cinco numa prova, a primeira
pergunta era: “Por que não conseguiu dez?” Agora, trinta anos mais
tarde, o seu perfeccionismo inerente o transformou em um marido e
pai supercrítico. Isso também o tem paralisado no trabalho, pois não
consegue entregar um relatório, fazer uma apresentação ou dar
uma palestra, se ela não estiver quase perfeita. Mesmo quando o
seu chefe ou colegas o elogiam, ele se diminui e descobre um ou
dois defeitos sobre os quais não consegue parar de pensar. Um
homem me disse, sofrendo: “Por mais que eu fizesse, eu não
conseguia focar em nada, senão em minhas deficiências. Eu me via
como um fracassado. Consegui de alguma forma transformar isso
em um dom espiritual. Eu imaginava que Deus estaria mais feliz
comigo por eu sofrer com as minhas falhas. Isso era um tipo doentio
de penitência”.
Sete, o pecador
Sete frequenta uma igreja que enfoca principalmente o pecado.
Justificação, adoção, perdão e outras doutrinas importantes
raramente são mencionados. Quando estas doutrinas são expostas,
tratam-se apenas de um acréscimo às longas listas sobre o que está
errado com as pessoas, a igreja e o mundo. Ele tem pouco ou
nenhum senso do amor de Deus ou de ser filho de Deus. Só pensa
em si como sendo “um pecador”. Sente-se deprimido quanto a si
mesmo e quanto ao futuro. Os seus filhos têm pavor dos cultos
domésticos e os chamam de “depressão em família”.
Justino, apenas um...
Conheci muitos Justinos na igreja. Eles geralmente respondem a
minha pergunta “o que você faz?” com um “eu sou apenas um
encanador”, “sou apenas um vendedor”, ou “sou apenas um
professor”. Na raiz de tais respostas há uma visão nada bíblica da
vocação; neste tipo de resposta está a ideia errada de que somente
os chamados ao ministério pastoral seriam chamados divinos; que o
trabalho declaradamente cristão seja o único trabalho de valor.
Justino nunca foi ensinado que “o ato de cuidar de ovelhas,
realizado por um pastor de ovelhas… é um trabalho digno diante de
Deus, tanto quanto a ação de um juiz ao proferir uma sentença, ou
do magistrado ao governar, ou do ministro do evangelho ao
pregar”.71 Se tivesse a ideia correta, Justino seria um empregado ou
um patrão muito mais produtivo e feliz.
IMAGEM NO ESPELHO?

Estes são apenas exemplos de pessoas que tiveram suas


verdadeiras identidades roubadas por diversos eventos,
circunstâncias, reações e decisões em suas vidas. Por causa disso,
desenvolveram identidades desequilibradas e incompletas. Em
alguns casos, o modo de pensar a respeito de si mesmo é
completamente falso. Quem sabe ao ler sobre isso, lhe pareceu
estar se olhando no espelho. Se não foi esse o caso, espero que
você tenha lido o bastante para começar a reconhecer e articular a
sua própria identidade. Talvez você se sinta o Harry Hollywood,
modelando-se na mais recente estrela de Hollywood. Talvez você
seja Franco, o Facebooker, igualando a sua identidade com o
número de amigos, seguidores e “curtidas” nas mídias sociais,
enquanto forma e molda ali a sua pessoa. Ou, possivelmente, você
tem múltiplas identidades, dependendo de onde e com quem está!
Qualquer que seja o seu caso, tire tempo para se perguntar: “Quem
sou eu?”, e note a primeira ou segunda palavra que vem a sua
mente.
Como você pode ver a partir desses exemplos e em sua própria
vida, se você tiver a resposta errada à pergunta “quem sou eu?”,
terá consequências profundas, prolongadas e abrangentes. É por
isso que recuperar a nossa identidade verdadeira, pensar
corretamente a nosso próprio respeito, é um dos principais
componentes de reconfigurar nossa vida, voltar à pista certa e viver
uma vida pautada pela graça. Isso começa quando reconhecemos
as falsas identidades e reconstruímos nossa verdadeira identidade.

RECUPERAR NOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE

Até aqui, assumimos uma abordagem relativamente básica à


identidade, pensando apenas nas primeiras palavras que surgem
em nossa mente, quando perguntamos: “Quem sou eu?” Neste
enfoque, quero simplesmente que reconheçamos que temos um
senso de identidade e que esse conceito de nós mesmos influi
grandemente em como pensamos, falamos e agimos.
Temos de cavar mais fundo, porque ninguém pode ser definido
apenas por uma ou duas palavras; somos muito mais complexos e
com dimensões múltiplas para nos definirmos de maneira tão
simples. Por que, então, não escrever todas as palavras que vêm à
mente quando se pensa na resposta à pergunta “quem sou eu?”
Para começar, eis as palavras que surgem quando eu respondo
essa pergunta. Coloquei-as na ordem em que me ocorreram:
pregador, pastor, professor, pecador, produtivo, pai, marido, filho,
irmão, cristão, magrelo, bom jogador de futebol, íntegro, impaciente,
escocês, introvertido, confiável, Reformado, doentio, tecnófilo,
viciado em política, amoroso, preocupado, cansado, independente,
centrado na família, um fracasso.
Faça sua própria lista — as primeiras dez palavras virão
relativamente rápidas, enquanto as outras demorarão mais. Agora
que você tem a sua lista, fique comigo e aprenda enquanto eu
recupero e reconstruo a minha verdadeira identidade seguindo estes
oito passos: reordenar as prioridades, expandir o que está
incompleto, preencher as lacunas, processar as falsidades,
acrescentar equilíbrio, reformular as falhas, aceitar as mudanças, e
antecipar o futuro. Este processo nos treina a pensar em nós
mesmos de maneira mais precisa e benéfica.
Reordenar as Prioridades
O primeiro problema que noto é a ordem das minhas respostas.
Como muitos homens, tenho a tendência de me definir por meu
trabalho— os papéis e responsabilidades do meu trabalho vêm à
mente primeiro. Este é um problema por numerosas razões, e não
apenas porque Deus define as pessoas primeiramente por seu
estado espiritual e, em seguida, por seu caráter espiritual. “O pior
que me aconteceu no ministério”, disse Scott, “foi que esqueci de
quem eu era em Cristo. A segunda pior coisa foi tentar fazer com
que as minhas atividades como pastor preenchessem aquele vazio”.
Se os meus papéis e responsabilidades com o trabalho vêm
primeiro, isto é um problema porque o que acontece se eu perder o
emprego, me aposentar ou se meu trabalho não for bem? Eu perco
a minha identidade. Sendo assim, tenho de relegar o componente
de trabalho da minha identidade a uma posição mais baixa e
promover o componente espiritual ao topo da lista, para que a parte
mais importante e permanente da minha identidade venha primeiro.
Se seguirmos a ordem bíblica, devemos pensar primeiro em nosso
estado espiritual (salvo/não salvo?), em seguida, devemos avaliar
nosso caráter espiritual (quais as marcas da graça estão em minha
vida?), nossos relacionamentos, e só depois, nosso trabalho.
Qualquer que tenha sido a verdade sobre a vida do apóstolo Paulo,
o mais importante é que ele sabia que primeiro e principalmente que
“pela graça de Deus eu sou o que sou” (1Co 15.10).
Existe mais reorganização a ser feita dentro dessas categorias
(por exemplo, o fato de ser esposo deve vir antes do fato de ser
pai), mas espero que seja óbvio que as prioridades da nossa
identidade têm impacto sobre nossos pensamentos, palavras e
ações (ou sobre a ausência deles).
Expandir o que Está Incompleto
O segundo passo é identificar onde algumas dessas descrições
estão incompletas e preenchê-las para que elas sejam mais
influentes na vida. Por exemplo, eu me identifico como “cristão”,
mas existe muito mais para dizer sobre isso. Seguindo o exemplo do
apóstolo Paulo, que encontrou tantos modos diferentes de
descrever a identidade do crente em Cristo nos primeiros versículos
de Efésios 1, posso expandir “sou cristão” para “sou abençoado em
Cristo, escolhido em Cristo, santo em Cristo, adotado em Cristo,
aceito em Cristo, redimido em Cristo, herdeiro de Deus em Cristo,
selado em Cristo” (Ef 1.1-14). Você vê a diferença que essas
verdades adicionais fazem a nossa autoimagem? Quanto mais
palavras usarmos para descrever nossa salvação pela graça de
Deus, mais influente essa graciosa salvação será para o nosso
senso de identidade, e mais nossa vida será marcada pelas
bênçãos da graça. Um amigo cristão, cuja identidade funcional tinha
se tornado “sou pecador” e “sou um fracasso”, encontrou grande
auxílio a cada manhã ao agradecer ao Senhor usando palavras
adaptadas de Renewal as a Way of Life (Renovação como um modo
de vida), de Richard Lovelace:72
Sou aceito, porque a culpa do meu pecado foi coberta pela justiça de
Cristo.

Sou liberto da escravidão ao pecado pelo poder de Jesus em minha


vida.

Não estou só, mas acompanhado pelo Conselheiro, o Espírito do


Messias.

Estou no comando por meio de Cristo, com a liberdade e a autoridade


para resistir ao poder das trevas.

Ele também recita o seguinte credo do Bispo Handley Moule:


Creio no nome do Filho de Deus.

Portanto, estou nele, tendo redenção por seu sangue e vida, pelo seu
Espírito.

Ele está em mim, e toda plenitude nele está.

Pertenço a ele por compra, conquista e autoentrega;

A mim ele pertence para todas as minhas necessidades a cada hora.

Não existe nuvem entre meu Senhor e eu.

Não há dificuldade externa ou interna que ele não esteja pronto a


suprir em mim hoje.
O Senhor é quem me guarda. Amém!73

Preencher as Lacunas
Quando voltei para escrever este capítulo depois de um intervalo,
percebi que havia algumas lacunas significativas, partes da minha
identidade que eu não incluíra na lista, talvez porque não quisesse
admiti-las, pois envolviam alguns dos meus pecados mais
contumazes. Mas para ser correto, tenho de incluir essas fraquezas
significativas. Por exemplo, com frequência eu sou pessimista,
negativo e exageradamente crítico (isso provavelmente tem algo a
ver com meus genes escoceses).
Por outro lado, também deixei de fora alguns de meus pontos
fortes. Isso é porque recebi uma criação tradicional das Scottish
Highland (Terras Altas Escocesas) — simplesmente não se fala
sobre você mesmo nem sobre sua família, especialmente se for algo
louvável. Até o dia de hoje, ainda encontro um kilted haggis,74
mandando-me “calar a boca”, quando tento colocar alguma coisa a
meu respeito ou a respeito da minha família no Facebook ou no meu
blog. Mas, embora haja mérito em não se gabar perante as outras
pessoas, não existe mérito em ignorar a verdade diante de Deus.
Mesmo que o apóstolo Paulo reconhecia a graça como fonte de
todo bem em sua vida, ele ainda insistia que era o que mais
trabalhava entre todos os apóstolos (1Co 15.10). Se Deus nos deu
uma força ou capacidade, essa dádiva faz parte de nossa identidade
dada por Deus; devemos reconhecê-la e agradecer a Deus por isso
— embora provavelmente não no Facebook.
Processar as Falsidades
Não surpreendentemente, existem também coisas falsas em
minha identidade. Estas não são fáceis de se descobrir, porque se
tornaram parte tão integrante de meu ser por tanto tempo. Pode ser
que eu precise ajuda de alguém que veja com objetividade, e que
esteja fora do meu círculo familiar, que me ajude a identificar essas
mentiras, a fim de que eu possa processá-las, provar sua culpa,
sentenciá-las ao exílio, para, então, utilizando evidências confiáveis
e persuasivas, substituí-las com a verdade.
Sou magricelo. Isto pode parecer uma grande tolice, mas faz
enorme parte da minha identidade. Quando eu era adolescente, era
horrivelmente magro, fato que não me ajudou quando espichei como
um bambu para quase dois metros de altura, estendendo minha
estrutura já magra para uma magreza ainda maior. Os meninos (e
as meninas) na escola me chamavam de “cambojano” (naquele
tempo, havia no Camboja uma grande fome e as imagens de
crianças esqueléticas estavam constantemente na TV). A despeito
de ganhar as notas máximas, foi-me negado lugar nos times
regionais de futebol, porque achavam que eu era leve demais e
seria empurrado para longe da bola. Tinha pavor da aula de natação
por causa das piadas sobre meu peito ossudo e meus bíceps do
tamanho de ervilhas. Minha magreza me impedia até de convidar as
meninas para sair (provavelmente isso foi bom, quando olho para
trás). Recentemente, ao olhar fotos de nossa lua de mel, os meus
filhos morreram de tanto rir, ao constatar como eu era magricela ao
lado da piscina, e ameaçaram colocar as minhas fotos antigas no
Facebook. Isso trouxe de volta algumas lembranças dolorosas,
lembranças que ainda hoje me fazem hesitar antes de usar
camisetas e calções.
Porém, por mais verdadeiro que isso fosse no passado, não é
mais verdade que eu seja exageradamente magro, pelo menos não
a ponto de darem risadas de mim. Posso processar essa mentira ao
notar que agora sou de peso médio para a minha altura. Segundo,
minha esposa me diz que estou com os músculos maiores do que já
tive (o que não seria tão difícil). Terceiro, posso me comparar
favoravelmente com outros homens de cinquenta anos (e até
mesmo com os de trinta anos). E posso ir à piscina sem ouvir
gargalhadas.
Sou enfermo. Alguns anos atrás, tive uma horrível série de
enfermidades que fundamentalmente mudaram meu modo de olhar
para mim: disco arrebentado nas costas, quatro cirurgias, uma
hérnia dupla, trombose venosa profunda e embolia pulmonar (duas
vezes no espaço de três anos), diverticulite, pedra no rim, e uma
artrite que entortou meu dedo do pé e fraturou irreversivelmente
meu quarto metatarso em diversos lugares. Não é de admirar que
comecei a pensar em mim e falar sobre mim como um velho.
Percebi que não era mais jovem, vigoroso e saudável. Eu estava
desmoronando, descendo depressa morro abaixo, e provavelmente
precisava preparar o meu caixão. Quando essas percepções a meu
respeito encheram a minha mente, tornei-me mais letárgico em
casa, parei de fazer exercícios, parei de brincar com os filhos, e
simplesmente me tornei mais rabugento e pessimista.
De novo, Shona teve de me ajudar a conseguir melhor equilíbrio
neste conceito. Sem negar a realidade de meu relatório médico, ela
me ajudou a ver que, na verdade, sou bem saudável e sou capaz de
fazer muito mais do que a maioria dos homens de cinquenta anos
de idade. Estou usando bons medicamentos para o problema dos
coágulos sanguíneos, a artrite está confinada a uma pequena área
no meu pé esquerdo, e vou a academia quatro a cinco vezes por
semana. Estou mais forte do que tenho estado por provavelmente
vinte anos. Posso estar até um pouquinho doente, mas não estou
totalmente enfermo, e tenho muito mais partes do meu corpo que
estão mais fortes do que fracas. Portanto, “sou enfermo” não
deveria ser parte definida da minha identidade.
Em toda a Segunda Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo
processa a falsidade que tinha sido espalhada a respeito dele.
Estava claro que tinha gente tentando atribuir uma identidade falsa e
negativa a ele, e ele não aceitava isso. Ele identifica as mentiras,
prova a falsidade, e vigorosamente expulsa esses maledicentes da
igreja de Corinto. É o que temos de fazer com respeito a nossa
própria identidade.
Acrescentar Equilíbrio
Sou pecador. Isto é uma verdade, mas não é toda a verdade.
Para ser fiel à Escritura, tenho de acrescentar a afirmação que
equilibra tudo: “Estou morto para o pecado” (veja Rm 6.11). Paulo
me ordena a pensar assim porque quanto mais eu me considero
morto para o pecado, mais eu estou morto para o pecado. Da
próxima vez que for tentado a pecar, não vou ceder simplesmente
porque, afinal de contas, “eu sou pecador”. Em vez disso, direi:
“Não! Não posso, porque morri para o pecado e estou vivo para
Cristo!” Sendo assim, morrerei para o pecado e viverei para Cristo.
Um homem cristão confessou certa vez que estava bebendo
tanto que se tornara alcoólatra e estava frequentando as reuniões
de um grupo de Alcóolicos Anônimos. Tinha uma aparência de
derrotado, porque estava constantemente dizendo para si mesmo:
“Sou alcoólatra”. Não é de admirar que, quando enfrentava a
tentação do álcool, geralmente sucumbia. Afinal de contas, ele se
identificava como sendo alcoólatra. Porém, por mais verdadeiro que
isso tivesse sido, era apenas metade da verdade. Imagine quanto
mais resistente ele seria ao álcool se estivesse dizendo a si mesmo:
“Não, estou morto para o pecado. Estou morto para o álcool”.
Reformular as Falhas
Sou um fracasso. Embora nos últimos cinquenta anos tenhamos
visto “normalizadas”, a maioria das palavras que antes eram tabus,
uma palavra horrível permanece como tabu na América: fracasso.
Eu já disse essa palavra. Já fui isso. Talvez você tenha notado que
coloquei “fracasso” na minha lista de identidade. É porque tenho
experimentado o fracasso nos negócios e no ministério, e ambos os
fracassos marcaram erradamente meu senso de identidade.
Contudo, eu o coloquei por último em minha lista porque aprendi a
enxergá-lo por uma lente diferente, como parte de “todas as coisas”
que cooperam para meu bem (Rm 8.28). Portanto, não sofro mais
de cacorrafiofobia (medo do fracasso). Não enfoco o fracasso e não
o nego. Como muitas pessoas que já o tenham experimentado, eu o
vejo de maneira diferente, e, também como outras, aprendi muito
com isso.
Por exemplo, o fundador da Apple, Steve Jobs, atribui o seu
sucesso a ter reavaliado a sua vida depois de três reveses:
abandonou a faculdade, foi mandado embora da companhia que ele
fundou, e foi diagnosticado com câncer. J. K. Rowling perdeu o seu
casamento, a aprovação dos pais, e a maior parte do seu dinheiro.
Mas então, nada tendo a perder, ela voltou a seu primeiro amor —
escrever. “O fracasso tirou tudo que não era essencial”, disse ela.
“Me ensinou coisas a meu respeito que não eu poderia ter
aprendido de nenhuma outra maneira”.75 Conforme diz J. R. Briggs:
“O fracasso pode ser um composto enriquecedor”.76 Na verdade, “o
ministério é chão muito fértil para o fracasso, e o fracasso é terra
fértil para o ministério”.77 Aprender a fracassar bem é parte
essencial da vida cristã. Um pastor me disse recentemente:
“Os primeiros dez anos de ministério tratam de ser quebrantado e
despojado!” Devo ter feito curso intensivo, porque levou apenas cinco
anos para eu estar quebrado, despojado e marcado com ferro como
um fracassado no ministério! Foram dias negros e tenebrosos. No
entanto, sei que meus dez meses na escola do fracasso no ministério
me deram uma pós-graduação muito valiosa — um mestrado em como
fracassar bem”.

Como um homem admitiu: “Tremo ao pensar onde eu estaria


hoje, se Deus não tivesse permitido que eu falhasse. Os meus
fracassos podem ter sido dolorosos, mas o sucesso ininterrupto teria
sido fatal. O fracasso é um dos melhores presentes que Deus me
deu”.
Se aprendermos a fracassar bem, teremos expectativas realistas
quanto a nós mesmos e nosso chamado. Não voamos alto demais
com o sucesso, e não caímos fundo demais no pecado quando
temos reveses. Levamos todos os nossos fracassos a nosso Senhor
que jamais falhará, para receber dele o perdão pleno e gratuito, e
experimentamos o seu amor imutável e incondicional. Então,
emergiremos — mais humildes e fracos, mas mais sábios e felizes.
Eventualmente, veremos como Deus transforma nossos feios
fracassos em coisas proveitosas e até belas. Os colapsos se tornam
avanços.
Quando um pastor que conheço abriu-se para a sua congregação
para admitir sua depressão, descobriu que o número de pessoas
que o procuraram para aconselhamento foi multiplicado
grandemente.
Eis algumas maneiras com as quais as minhas falhas provaram
ser uma ajuda para mim:
Minhas falhas esgotaram minha autoconfiança pecaminosa e me
encheram de empatia pelo próximo. Se eu não tivesse fracassado
como pai, na pregação, no ensino, em decisões financeiras, e em
outras coisas, eu não teria paciência, compaixão, e não saberia
como ajudar os outros que falharam. Conforme disse um amigo
pastor:
Percebi que tenho de prender a minha identidade a Cristo, com toda
força, como Ulisses se prendeu ao mastro. O meu valor não está nos
números ou no sucesso externo. Meu sucesso está naquele que
morreu e ressuscitou, vencendo o pecado e a morte. Se Jesus quer
abençoar alguém de um jeito e a mim de outro, quem sou eu para
reclamar? “O que é isso para você? Vem e segue-me.” Existem muitos
outros encorajamentos dados por Deus a mim? Sim. Alguns têm
igrejas maiores — e mais dores de cabeça. Tenho um rebanho
pequeno, mas dedicado. Alguns têm filhos rebeldes. Embora os meus
filhos ainda não estejam fora de casa, tenho sinais esperançosos de
que Deus esteja trabalhando neles. Provavelmente, na verdade muito
provavelmente, Deus está me mantendo humilde. Se eu visse
toneladas de sucesso, isso poderia subir direto para uma mente
orgulhosa e que se achasse dona da verdade.

Minhas falhas ajudam a redirecionar a minha vida. Tenho


percebido que não sou dotado para certas coisas que amaria fazer,
e devo enfocar as áreas para as quais Deus tem me equipado.
Embora isso tenha sido doloroso na época, agora posso olhar com
gratidão para as falhas que mudaram o meu rumo.
Minhas falhas me deram tempo para pensar. A ocupação do
sucesso é uma grande ameaça à paz e ao sossego da alma, mas o
fracasso nos impede de agir e nos força a fazer uma avaliação dos
fatos.
Minhas falhas trouxeram mais glória a Deus. Quando as coisas
vão bem, reconheço agora que foi somente Deus que me capacitou,
ajudou e abençoou.
Acima de tudo, as minhas falhas me levaram a adorar mais o
Senhor Jesus Cristo. Quando considero quantos pequenos
fracassos tenho em uma semana e quantos grandes fracassos
tenho em uma década, fico assombrado ao pensar que Jesus
passou trinta e três anos na terra e jamais fracassou! Ele teve
sucesso onde eu falhei, e imputou o seu sucesso a mim, de modo
que eu não vejo mais toda a minha identidade através das lentes de
minhas falhas. Eu falhei, mas a falha não me define. Ainda cometo
falhas, mas ele me ama e me aceita.
Aceitar as Mudanças
Podemos nos causar enormes problemas se não aceitarmos as
mudanças que nos acontecem por causa da idade, habilidades,
capacidades, status e relacionamentos. Por exemplo, na minha
adolescência e começo da juventude, eu teria colocado “jogador de
futebol” como número um em minha longa lista, pois a minha
ambição era ser jogador profissional. Mas, se hoje em dia eu
colocasse isso na lista de principais aspectos da minha identidade,
estaria mentindo ou morrendo. Alguns homens lutam para aceitar as
mudanças em suas identidades quando envelhecem, mudam de
emprego, experimentam problemas de saúde ou se aposentam.
Talvez tentem trabalhar o mesmo número de horas com a mesma
capacidade e intensidade aos cinquenta anos quanto trabalhavam
quando tinham vinte e cinco anos; neste caso, geralmente acabam
detonando e se esgotando. Mas quando Deus nos dá a graça de
aceitarmos e nos adaptarmos às mudanças na vida, isso se reflete
em nosso senso de identidade pessoal. Podemos parar de olhar
para trás com pesar, parar de invejar os outros, e parar de tentar
viver como se nada tivesse mudado.
Antecipar o Futuro
É triste observar as celebridades (e aqueles que não são tão
célebres assim) tentando em vão se prender a sua aparência e vida
antigas. Veem que seus melhores dias já passaram, e tentam,
desesperadamente, manter a aparência e recuperar a vida jovem
que um dia tiveram. Modelos, cantores e atletas percebem que
perdem devagar a sua identidade, aquilo que os definia, e fazem
quase qualquer coisa para voltar ao passado. Mas para os cristãos,
nossos melhores dias estão adiante de nós. Por mais que
consigamos recuperar e reconstruir nossa identidade no mundo,
existe uma identidade melhor que nos aguarda no mundo por vir.
Considere as palavras do apóstolo João: “Vede que grande amor
nos tem concedido o Pai, a ponto de ser chamados filhos de Deus!”
(1 Jo 3.1). Ali está nossa gloriosa identidade atual: “Amados, agora
somos filhos de Deus” (v. 2a). Mas por melhor que isso seja, existe
adiante de nós algo ainda melhor: “Ainda não se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele; porque haveremos de vê-lo como ele é”
(v. 2b). Imagine isso! Nossa identidade essencial não é apenas estar
em Cristo, mas ser como Cristo! Não existe melhor identidade em
todo o mundo.
Assim, vamos tentar recuperar a identidade que nos foi roubada,
construindo-a sobre fundamentos bíblicos: reordenando as
prioridades, expandindo aquilo que está incompleto, preenchendo
as lacunas, processando as falsidades, acrescentando equilíbrio,
reformulando as falhas e aceitando as mudanças. Ao fazer desse
modo, mudamos para melhor não somente os nossos pensamentos
como também os nossos sentimentos, nossas palavras e nossos
atos. Pensemos na perspectiva indescritível de ser como Jesus. Se
acrescentarmos a nossa identidade: “Quero ser como Jesus!”, isto
terá um tremendo impacto sobre nós no presente, porque “a si
mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como
ele é puro” (v. 3).
Um dos grandes benefícios de um claro senso de identidade é
que podemos identificar e esclarecer mais facilmente nossos
propósitos de vida e fazer planos para realizá-los; este é o exercício
que nos aguarda na próxima oficina de reparos.
William Perkins, citado em Os Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central
Purpose of Your Life (Nashville: Word Publishing, 1998), 35 - (O Chamado, São Paulo:
Cultura Cristã).
Richard Lovelace, Renewal as a Way of Life (Eugene, OR: Wipf & Stock, 2002), 137.
Handley C. G. Moule, The Second Epistle to the Corinthians (Eugene, OR: Wipf & Stock,
2015), 93.
Nota da tradutora: Haggis é um cozido escocês preparado com miúdos de carneiro ou
bezerro; kilt é a roupa xadrez usada pelos homens, conforme o clã escocês ao qual o
homem pertence.
Cited in Bruce Grierson, “Weathering the Storm”, Psychology Today, May 1, 2009,
https://www.psychologytoday.com/articles/200905/weathering-the-storm.
J. R. Briggs, Fail: Finding Hope and Grace in the Midst of Ministry Failure (Down-ers Grove,
IL: InterVarsity Press, 2014), Kindle edition, locs. 76-77.
Ibid., 230-31.
OFICINA DE REPAROS 7 | REDUZIR
Eu nunca tinha me sentido tão invejoso — e olhava para meu
filho de dois anos de idade. Ele brincava na sala da família, pulando
de um sofá para o outro, subindo na mesa, rindo e dando
gargalhadas com seus irmãos e irmãs. Eu queria tanto aquilo que
ele tinha — ou melhor, o que ele não tinha. Não tinha um cuidado
sequer no mundo. Não tinha compromissos, prazos de entrega,
preocupações, nada de estresse. Queria tanto ter isso novamente.
A vida vai nos pegando e dominando, não é mesmo? Enquanto
estamos na escola, só temos de pensar na escola. Claro, existe
algum estresse quanto a meninas e exames aqui e acolá, mas nada
em comparação ao que vem depois. Adiante o filme vinte anos e o
que você encontra? Dívidas da faculdade, uma esposa, filhos
adolescentes, amigos dos filhos adolescentes, esportes estudantis,
sogros, dois carros, uma hipoteca, pagamentos de seguros,
consertos na casa, consertos do carro, pais que envelhecem,
sobrinhos e sobrinhas, alguns amigos, muitos inimigos, um chefe
(ou cinco), colegas de trabalho, conflitos de trabalho, reuniões de
trabalho, prazos máximos de trabalho, trabalhos bíblicos,
desapontamentos no trabalho, conflitos na igreja, reuniões de igreja,
prazos de trabalhos na igreja, desapontamentos na igreja, estudos
bíblicos, preocupações com dinheiro, e assim por diante. O peso
aumenta e suas questões de saúde também aumentam. Você não
está mais tomando decisões que afetam somente a si mesmo, mas
que potencialmente afetarão centenas de pessoas. Agora sim,
estamos falando de pressões!
Tudo isso não aconteceu um dia depois da nossa formatura. Foi
acumulando-se imperceptivelmente, multiplicando-se um pouco a
cada ano, até que a vida nos esmaga, devagar, mas
inexoravelmente. Assumimos mais um compromisso aqui, uma nova
responsabilidade ali, um novo rumo à promoção aqui, uma nova
oportunidade educativa, uma nova necessidade de aconselhamento,
uma nova oportunidade de serviço. Agora nossa mente está em
frangalhos, o coração pulsa, o corpo está desmoronando, os
relacionamentos estão forçados, o sono diminuindo, a qualidade do
trabalho sofre, e a felicidade é uma lembrança distante. O que
aconteceu ao garoto de dois anos? Existe algum jeito de voltar à
vida sem estresse (menos às fraldas)?
Aqui, na Oficina de Reparos 7, quero começar a responder essas
perguntas olhando duas maneiras muito diferentes de viver. Isto nos
dará uma base para esclarecer nosso propósito de vida, planejar
nossos dias, e podar aquilo que não é essencial, reduzindo assim
algumas coisas que nos têm atrapalhado a vida.

DUAS MANEIRAS DE VIVER

Conforme David Brooks, colunista do The New York Times, existem


dois modos de pensar sobre a vida: “A vida bem planejada” e a
“Vida convocada”.78 Em sua coluna sobre este assunto, ele voltou a
um ensaio derivado de uma palestra de formatura do professor de
Administração, em Harvard, Clayton Christensen, para um modelo
de Vida Bem Planejada (VBP). Brooks descreve Christensen como
um “cristão sério” que “junta um espírito cristão à metodologia de
empreendedor”. O conselho mais importante de Christensen aos
estudantes foi de investir bastante tempo, quando jovens, em
descobrir um propósito claro para a vida. Em retrospectiva, olhando
seus dias como jovem acadêmico, com uma bolsa de estudos
Rhodes, na Universidade de Oxford, ele lembrou:
Eu estava em um programa acadêmico muito exigente, tentando inserir
o trabalho de um ano a mais no meu tempo em Oxford. Resolvi gastar
uma hora cada noite lendo, pensando e orando sobre por que Deus
me colocou sobre a terra. Isso foi um compromisso muito desafiador,
pois cada hora que eu gastava com isso eu não estava estudando
economia aplicada. Tinha um conflito sobre se realmente eu podia tirar
esse tempo dos meus estudos, mas fiquei firme nisso — e, no final,
consegui compreender o propósito da minha vida.

Tendo encontrado esse propósito, disse Christensen, podemos


tomar as decisões certas quanto ao gerenciamento do tempo e a
multiplicação dos talentos.
Brooks contrasta então a Vida Bem Planejada (VBP) com a Vida
Convocada (VC), que é vivida a partir de uma perspectiva
completamente diferente. Em vez de traçar um curso de vida, como
faria um planejador estratégico, esperamos que as circunstâncias da
vida se desenrolem e respondemos de acordo com o que acontece:
A pessoa que vive uma Vida Convocada começa com uma situação
muito concreta: Estou vivendo em um ano específico em um lugar
específico, enfrentando problemas e necessidades específicos. Neste
momento da minha vida, sou confrontado com oportunidades e opções
específicas de trabalho. As perguntas importantes são: O que essas
circunstâncias estão me convocando a fazer? O que é necessário
neste lugar? Qual o papel social mais útil que está diante de mim? São
questões respondidas principalmente por observação sensível e
consciência situacional, não cálculos e planejamento em longo prazo.

Então, qual o melhor jeito de viver?


Uma Vida Bem Planejada, em que tiramos tempo para descobrir
um propósito claro de vida, e então tomamos decisões apropriadas
quanto a como usar nosso tempo e talentos? Ou a Vida Convocada,
em que rejeitamos a possibilidade de planejamento de longo prazo,
mas quando surgem situações e circunstâncias, perguntamos: “O
que essas circunstâncias estão me convocando a fazer? Como devo
reagir?”
Como é seu costume, Brooks se decide firmemente, concluindo:
“Os dois provavelmente sejam úteis para uma pessoa que procura
ver uma vida bem considerada”. Ele está certo, mas não oferece
ajuda sobre como descobrir quando se aplica um tipo de vida ou
outro, proposto por ele, ou quanto peso devemos dar a cada
princípio ao tomar decisões sobre o que priorizar ou o que podar. É
aqui que quero me inserir e propor uma ajuda.
Baseado na verdade que somos criados à imagem de Deus e,
portanto, chamados a refletir, em certo grau, a sua soberania
proposital, creio que todo crente deve construir sobre a base firme
de uma vida bem planejada.
Nenhum crente deve ser apenas vítima de eventos, uma rolha de
cortiça flutuante, jogada para lá e para cá num oceano de
circunstâncias em constante mudanças, ou nas expectativas de
outras pessoas. Deus coloca cada um de nós aqui com uma razão
específica, e não devemos vagar dia a dia, semana a semana, ano
a ano, desperdiçando a vida sem um senso de direção, ou pulando
cada vez que alguém mostra um arco de circo diante de nós. Temos
de levar nosso tempo e talentos a Deus, e perguntar: “O que o
Senhor deseja que eu faça?” Essa oração simples poderia ter salvo
muitos de nós de viver muitos anos como pingue-pongue, sem
rumo, de emprego em emprego, de paixão em paixão, de pessoa a
pessoa, de igreja em igreja, de ministério a ministério, de lugar em
lugar. Isso nos salvaria de gastar nossos dias futuros respondendo
chamados infindos de acontecimentos, telefonemas, e-mails e
agendas e problemas dos outros, criando enormes pressões e
frustrações para nós quando relegamos e negligenciamos nosso
chamado e dever principal.
Há, contudo, perigos. Se estivermos vivendo a VBP, podemos
nos tornar insensíveis às circunstâncias, eventos e pessoas ao
redor de nós: “Não me importo se meu vizinho está doente. Tenho
um plano e vou me ater a ele”. Podemos nos frustrar com qualquer
pessoa ou coisa que interrompa nosso plano ou torne “ineficiente” o
nosso dia. Podemos nos tornar surdos à voz de Deus que fala por
sua Palavra e providência, no desenrolar de nossa vida. Todo
mundo tem de permitir um elemento de VC em sua vida. Como
disse um pastor amigo: “Quando a minha esposa me vê frustrado
com numerosas interrupções, ela me lembra que eu tenho de
ajustar a minha agenda à agenda de Deus”.

CONSIDERE A VIDA DE CRISTO.

Ele não acordava cada dia indagando: “O que é que estou fazendo
aqui?” ou “Onde eu vou parar?” Não, ele tinha um plano de vida
muito definido (ou podemos dizer: plano de morte), que recebeu do
Pai. Tinha também o equilíbrio certo entre a VBP e a VC. Embora
tivesse horas em que ele não era desviado pelas exigências das
pessoas e a pressão de acontecimentos não planejados, havia
outras ocasiões em que ele parava para responder às necessidades
prementes e circunstâncias urgentes.
Mas esse foi Jesus, perfeito, equilibrado, sábio e sem pecado. O
que dizer de mim, falho, extremista, tolo e pecador? Como equilibrar
a Vida Bem Planejada à Vida Convocada? Tenho três palavras que,
tomadas juntas, podem nos ajudar a desenvolver esse progresso:
Propósito, Plano e Poda.

PROPÓSITO

Quando estamos crescendo, a vida simplesmente acontece.


Alimento, escola, esportes, férias — tudo acontece
automaticamente. Mas quando amadurecemos e obtemos mais
independência, temos de assumir responsabilidades por certas
coisas e ser mais intencionais quanto a elas, ou não vão acontecer.
Temos de ter propósito na vida.
Alguns coaches estimulam seus clientes a se moverem em
direção a VBP, criando uma única “declaração de propósito de vida”
permanente e que englobe todos os aspectos da vida. Isto, então, é
usado como princípio governante ao tomar decisões, estabelecer
prioridades, e assim por diante. A ideia básica é boa. O problema é
que tal declaração de propósito geralmente é genérica e vaga
demais porque tem intenção de cobrir todas as áreas da vida. Ou,
quando tornada mais específica, acaba sendo longa demais ou
deixa de cobrir áreas importantes da vida. Pode também ser
inflexível e não-responsiva, incapaz de levar em conta as mudanças
que possam ocorrer na vida. Frequentemente, o resultado será um
propósito de vida irrelevante e esquecido.
Por esta razão, sugiro desenvolver quatro propósitos de “vida”
nas seguintes áreas: vida espiritual, vida em família, vida vocacional
e serviço cristão. Pode ser que você pense em outras áreas, mas
tem de manter isto fácil de gerenciar e possível de ser feito. Creio
também que estas são as áreas mais importantes para Deus, e que
esta ordem específica reflete as prioridades bíblicas.
Vida Espiritual
Quem você quer ser? O que deseja ser? Que área da sua
personalidade ou seu caráter você deseja desenvolver? Ou vencer?
O que você quer parar de ser ou fazer? Que graça você deseja
cultivar? Qual o pecado você deseja derrotar? Tais perguntas estão
focadas em nosso desenvolvimento espiritual, nosso relacionamento
com Deus e o ser semelhante a Cristo.
A maioria de nós, mesmo pastores, não possui alvos específicos
ou propósitos para nosso crescimento espiritual. Simplesmente
vagueamos, de coração dobre, tentando nos esforçar mais,
vagamente esperando fazer algumas mudanças positivas, mas sem
foco ou plano específico. Isso significa que raramente progredimos,
e mesmo quando por acaso avançamos em algumas áreas, não o
notamos nem nos encorajamos com isso.
Uma amostra de declaração de propósito de vida espiritual pode
ser algo como: “Pela graça de Deus, vou vencer a ira e desenvolver
a paciência para que eu me torne mais como Cristo”. Outros
exemplos poderão ser: “Pela graça de Deus, vencerei a lascívia e
cultivarei a pureza”, “pela graça de Deus, aprenderei a orar melhor”,
e assim por diante. Uma vida no ritmo da graça é uma vida que
produz graça.
Por que não perguntar a outras pessoas que o conhecem bem o
que elas acham que é a sua maior necessidade espiritual? O ponto
é ter um alvo, um claro propósito e objetivo espiritual.
Vida Familiar
Podemos seguir o mesmo tipo de processo para fazer uma
declaração de propósito quanto aos nossos relacionamentos em
família — nosso casamento e relacionamento com os filhos, pais,
irmãos etc. Isso pode resultar em uma declaração do tipo: “Pela
graça de Deus, quero conduzir a minha família para a estabilidade
financeira” ou “pela graça de Deus, vou aumentar o tempo que
gasto com minha esposa e filhos”, etc.
Vida Vocacional
Para a maioria dos homens, o principal modo de servir a Deus
fora de casa é no emprego. Uma declaração de propósito para
nossa vida profissional pode ser algo assim: “Pela graça de Deus,
aprenderei a gerenciar e a resolver os conflitos no trabalho”, “pela
graça de Deus, eu desenvolverei minhas habilidades de liderança”,
“pela graça de Deus, vou ser mentor de novos funcionários”, etc.
Serviço Cristão
Lembre-se, você já serve a Deus em sua vida espiritual, na vida
familiar e na vida profissional. Isto é uma grande coisa. Se assim
permitir a sua fase de vida, contudo, você poderá também
acrescentar uma declaração de propósitos de serviço cristão, tais
como estes: “Pela graça de Deus, vou servir aos idosos de minha
igreja”, “pela graça de Deus, vou aprender a ensinar na escola
dominical”, “pela graça de Deus, evangelizarei uma pessoa a cada
semana”, e outros propósitos.
Sim, temos de nos preparar para fazer uma pausa, editar, ou até
mesmo apagar as declarações de propósito de vida e recomeçar
quando “as coisas acontecem” em nossas vidas. Mas viver a vida
conforme somos chamados por tudo e todos não será viver a vida
conforme a imagem de Deus. Um pastor que acabou saindo do
ministério por algum tempo explicou como ele chegou a tanta
confusão: “Eu achava que era responsável por fazer tudo o que me
vinha à frente. Não planejava; apenas reagia. Não sabia dizer não
ou decidir ao que eu deveria dizer não. A descrição funcional do
meu trabalho era ‘tudo’”. Mas se tivermos propósitos declarados,
podemos utilizá-los para avaliar toda oportunidade e todo pedido
que surgirem.
Ter alvos nos livra de centenas de dilemas e decisões quanto ao
uso de nosso tempo. Os alvos evitam que gastemos a maior parte
do tempo consertando os problemas, e auxiliam as outras pessoas
ao nosso redor a florescerem.
Em uma pesquisa com mais de mil equipes, Greg McKeown
descobriu que “quando existe uma séria falta de clareza quanto ao
que o time representa e quais os seus alvos e papéis, as pessoas
experimentam confusão, estresse e frustração. Por outro lado,
quando existe alto nível de clareza, as pessoas vicejam”.79
Trabalhar para alcançar nossos alvos também nos energiza, dando-
nos um senso de progresso e impulso. Acima de tudo, isso nos
ajuda a morrer. De acordo com a enfermeira de cuidados paliativos,
Bronnie Ware, o pesar mais comum dos pacientes moribundos era:
“Eu queria ter tido a coragem de viver a vida fiel para comigo
mesmo, não a vida que outros esperavam de mim”.80 Não quero
morrer desse jeito.

PLANO

Não basta ter um propósito. Precisamos também de planos; temos


de entender os passos que precisamos dar para alcançar nossos
objetivos. Se quisermos fortalecer nosso casamento, quais os
passos que levam a isso? Se quisermos visitar todos os idosos da
nossa congregação, quantos visitaremos a cada semana, em que
hora da semana vamos fazê-lo, e como registraremos nosso
progresso? Se quisermos ter mais tempo com os filhos
adolescentes, quando e como o faremos? Não acontece sem
planejamento. Por esta razão eu me certifico que minha agenda
tenha tempo separado, a cada semana, para avançar nos meus
propósitos de vida. Se não estiver na minha agenda, não vai
acontecer. Se não estiver nela, está claro que não sou sério quanto
a fazê-lo.
O agendamento também nos ajuda a não comprometermos a nós
mesmos ou aos outros acima do possível. Ter compromissos acima
do possível será resultado fatal de uma visão exageradamente
otimista de nossa capacidade, bem como uma estimativa irreal do
tempo que dispomos, além do desejo bem-intencionado de agradar
a outras pessoas, porém sem tempo para isso. O resultado será um
megaestresse na pessoa que fez as promessas e uma enorme
decepção para aqueles que receberam essas promessas não
cumpridas.
Eis alguns passos que tomo para aliviar o estresse e transformar
os meus propósitos em planos.
Agenda
Shona e eu gastamos algum tempo cada semana para coordenar
nossas agendas, enfocando principalmente a semana seguinte, mas
olhando também essa semana no contexto do que aconteceu antes
e virá depois. Isso evita conflitos, possibilita compartilhar
responsabilidades na família, e aumenta a prestação de contas
mútua. Somos especialmente cuidadosos para nos certificar de que
não estaremos fora de casa muitas noites na semana e que eu não
aceite convites demais para falar em finais de semana.
Nunca assumo uma tarefa sem fazer uma estimativa de quanto
tempo vai exigir e colocar esse tempo na agenda. Por exemplo, se
pedem para eu escrever um artigo, eu calculo quanto tempo vai me
levar e procuro um espaço na agenda em que possa fazer isso. Se
não tiver esse espaço, terei de dizer não. Isso só dá certo se
colocarmos consistentemente as exigências do nosso tempo em
nossas agendas — incluindo tempo com a família, exercícios físicos,
oração, e outras coisas. Em vez de dizer sim a todo pedido por
nosso tempo, consultamos a agenda e perguntamos: “Onde?
Quando? Quem? Como?” De início, isso pode não ser fácil, mas é
mais fácil do que a alternativa, conforme Bill ilustrou ao explicar a
sua “conversão”:
O conceito de gerenciar nosso tempo me deprimia. Eu achava que
fosse um modo dos extrovertidos fortemente energizados encherem as
suas vidas de mais trabalho. Agora percebo que é uma ferramenta que
me ajuda a focar naquilo em que tenho talentos e gosto de fazer. Isso
me protege de mim mesmo e de outros que exigem meu tempo.

Rotina
“Conte-me sobre sua rotina diária.”
“Oh, não tenho uma rotina. Todos os dias são diferentes.” Não
posso dizer quantas vezes tive essa conversa com pastores
esgotados e cristãos deprimidos. O que veio primeiro — a
depressão ou o caos — pode ser difícil de definir, mas parece que
andam juntos e um alimenta o outro.
Por isso é que uma das primeiras coisas que faço é insistir que
tracem uma rotina básica e se comprometam a isso: dormir, cultuar
a Deus, comer, trabalhar, estudar, e fazer algumas outras coisas.
Deus é Deus de ordem, não de confusão (1Co 14.33), e como
portadores de sua imagem, criados por ele, nós o glorificamos — e
nos sentimos muito mais felizes — quando vivemos vidas regulares
e ordeiras. Ele criou o nosso mundo e a nós de maneira a
florescermos quando a nossa vida é basicamente caracterizada por
ritmo e regularidade. É por esta razão que os que progridem mais
em seus alvos de vida são aqueles que trabalham neles a cada dia
ou semana, em geral à mesma hora. Por isso também é que os que
têm mais rotinas em suas vidas têm mais saúde e são mais felizes.
A professora Gail Kinman, psicóloga ocupacional de saúde na
Universidade de Bedfordshire, disse ao jornal The Guardian que, ao
contrário das expectativas, os empregados com horas mais flexíveis
são também os mais estressados, porque o seu hábito de estar
“sempre ligado” dificulta que eles se “desliguem”, e isso mantém os
hormônios de estresse persistentemente altos.81
Priorizar
“Se você não priorizar a sua vida, outra pessoa vai fazê-lo”.82 Se
quisermos fazer nossa própria priorização, começamos ao fazer
uma lista de todos os nossos deveres, atividades e objetivos.
Usando então nossos propósitos de vida, os colocamos em quatro
categorias:
1. Fazer definitivamente. São estas as mais importantes
responsabilidades e compromissos dados por Deus.
2. Desejo fazer. São atividades que esperamos fazer, e faremos
algumas delas depois de ter feito os “Fazer definitivamente”.
3. Demore para fazer. São atividades dignas que amaríamos
fazer algum dia, mas teremos de adiar até termos espaço e
tempo em nossas agendas.
4. Não fazer. Estas são coisas que nos comprometemos a parar
de fazer ou a dizer “não” a elas no futuro.
Nossos propósitos e prioridades de vida devem ser refletidos em
nossa agenda, um exercício que usualmente revela se estamos
sendo realistas ou idealistas. As atividades “fazer definitivamente” e
“desejo fazer” deverão ocupar as horas mais produtivas de cada dia.
Para mim, isto significa das sete e meia da manhã até uma hora da
tarde, e, se eu olhar minha agenda, vejo bloqueado, quatro dias por
semana: “Escrever” (o que inclui sermões, palestras e livros). Tudo
mais ligado ao meu trabalho — administração, aconselhamento, e-
mail, blogs, e outras tarefas – se encaixam ao redor disso.
Usando a útil distinção de Steve McClatchy no seu livro Decide,83
resolvi que escrever é minha principal “tarefa de ganhos”, aquela
que produz resultados permanentes, bem como um senso de
realização e progresso; a tarefa que definirá a minha vida. Em
contraste, as “tarefas para evitar a dor” são aquelas não tão
agradáveis, mas que evitam que a dor ocorra em minha vida (pagar
as contas, responder os e-mails, ir a reuniões, ...). Temos de
priorizar as tarefas de lucro para nos realizarmos porque as tarefas
de evitar a dor simplesmente continuam acontecendo. Resumindo
McClatchy, temos de anular o modo de sobrevivência do cérebro,
que nos padroniza para evitar as tarefas que causam dor e que
esgotam nossa energia, em favor de tarefas de ganho que nos
energizam.
Fazer Auditoria
De vez em quando, eu anoto cada tarefa que faço, marcando
quanto tempo leva para completá-la. Quase sempre me surpreendo
ao ver como certas tarefas rotineiras, como telefonemas, e-mails, e
coisas semelhantes, demoram a ser feitas. Quando faço essa
auditoria pessoal, consigo alocar um tempo mais realista para essas
atividades no futuro, aliviando assim a pressão.
Margem
Se penso que uma tarefa vai levar trinta minutos, marco quarenta
e cinco minutos para ela; se acho que vai levar três dias para
realizá-la, eu agendo quatro dias, e assim por diante. Se levar
menos tempo, preencho o tempo de sobra com outra coisa útil – ou
vou pescar! Se levar todo o tempo agendado, termino a tarefa com
menos estresse e não terei de cancelar ou adiar outra coisa. Isso
quer dizer que opero em capacidade de oitenta por cento, para que
tenha espaço para atender a pessoas, problemas, e oportunidades
não esperadas. Outra área em que procuro deixar uma margem de
segurança é nas finanças. Trabalhar para viver com oitenta por
cento do total da receita é um enorme alívio para o estresse e
melhora muito a minha saúde geral.
Revisão
Tomo dez a quinze minutos no final de cada dia para revisar o
que foi planejado e verificar se consegui realizá-lo. Gasto também
uma hora ou mais no final de cada semana para obter uma visão
maior do quadro e fazer quaisquer ajustes necessários. Inicialmente,
a comparação entre o plano e a realidade é um tanto chocante, mas
aos poucos alinhamos nossas expectativas à realidade, para reduzir
a frustração, o desapontamento e o estresse.
Prestação de Contas
É tão bom ter alguém que conheça a nossa vida e pergunte: “Por
que você se comprometeu a fazer isso? Como isso está de acordo
com seus propósitos?” Embora eu leve também aos presbíteros os
convites de pregação e palestras, a minha esposa é a principal
parceira na minha prestação de contas. Ela me ajuda a examinar os
meus motivos de dizer “sim” com demasiada frequência. Eu me
identifico com este pastor, que aprendeu a duras penas: “Tive de
enfrentar a dolorosa realidade de que eu não conseguia dizer não
porque queria agradar as pessoas. Precisava que elas precisassem
de mim. Queria aumentar o número de pessoas que me admiravam
por ser alguém tão amável. Eu era o meu pior inimigo. Sou grato a
Deus por ter me quebrantado para que eu pudesse quebrar esse
hábito”.

PODA

Alguns propósitos de vida não somente nos ajudam a examinar com


cuidado nossas prioridades e a fazer planos para realizá-las; mas,
ajudam também a ver que temos de remover totalmente algumas
atividades, a fim de fazer bem as que são mais importantes. Jim
Collins descobriu que “a busca indisciplinada de mais” era a
principal razão para a maioria das falhas corporativas.84 Em minha
experiência, ela está também por trás de muitas falhas pessoais,
especialmente falhas no ministério.
No nosso mundo interligado, existem muito mais atividades e
oportunidades do que temos tempo e recursos para investirmos
nelas. Muitas delas são boas, até mesmo muito boas, mas poucas
são essenciais à vida. Em vez de conseguir um milímetro de
progresso em um milhão de direções, quando investimos em menos
coisas, poderemos ter progresso mais significativo naquilo que é
mais importante. Isso significa usar a negligenciada faca do “não”
em alguns galhos da nossa vida. Se você precisa afiar esse faca,
talvez possa tornar o lema “aprenderei como dizer não!” como um
propósito de vida espiritual para o próximo ano. O não é uma
palavra bíblica, e, muitas vezes, um dever bíblico (Mt 5.37; Tg 5.12).
Vamos enfrentar isto: quantas vezes nós dissemos sim a um
pedido quando cada fibra de nosso ser gritava: “Não, diga não!” De
algum jeito, o sim entrou de soslaio. McKeown, especialista em
minimalismo, insiste: “É necessário dizer não ao que não é
essencial para que possamos dizer sim às coisas que realmente são
importantes. É dizer não — frequentemente, graciosamente — a
tudo exceto ao que é realmente vital”.85 Paradoxalmente, “um
essencialista produz mais — trazendo mais à tona — ao remover
mais em vez de fazer mais”.86 Lembre-se que raramente é uma
única coisa extra, mas a soma de muitas coisinhas, que acabam nos
assoberbando, porque é muito mais difícil dizer não para coisas
pequenas.
McKeown nos dá uma lista de formas com as quais podemos
dizer não; elas se resumem nisto: Peça tempo e tome seu tempo.
Conforme ele diz: “Precisamos aprender o ‘sim’ devagar e o ‘não’
rápido’”.87 Eu faço isso pedindo que minha assistente envie uma
resposta inicial à maioria dos pedidos de palestras, pregações e
artigos escritos. Ela diz às pessoas que os pedidos serão revistos
por meus presbíteros, que se reúnem uma vez por mês. Tal
processo não dá somente o tempo para considerar em oração,
como também ajuda a pessoa ou organização que fez o pedido a
entender que, caso a resposta final seja não, ela não será apenas
minha decisão pessoal.
Outra área em que são necessários alguns limites é em
responder e-mails que procuram aconselhamento, direção,
recomendações de livros, etc. O e-mail tem nos tornado muito mais
acessíveis, com resultado de completos estranhos iniciarem
correspondência conosco, frequentemente consumindo muito
tempo. Embora eu procure responder alguns deles, muitas vezes
enviando em meu blog listas de recursos para pessoas que
perguntam, na maioria das vezes, peço a minha assistente que
mande uma resposta padrão, como algo assim:
Devido ao volume de e-mails que o Dr. Murray recebe a cada semana,
muitos deles semelhantes ao seu, fui contratada para verificar os e-
mails dele e respondê-los, a fim de deixá-lo livre para o trabalho a que
foi chamado e está empregado para fazer, no Seminário Teológico
Puritano Reformado, bem como na igreja local que ele pastoreia.

Dr. Murray desejaria que fosse possível responder a sua pergunta e


dar-lhe conselho, mas aqueles que possuem responsabilidade pastoral
sobre a vida dele resolveram que ele não poderá continuar a
responder todos os e-mails que recebe, a fim de preservar uma boa
saúde e uma boa consciência.

Não é apenas um item único a que temos de dizer não. Às vezes,


temos de olhar aquilo que se tornou constante e habitual em nossa
vida, e perguntar: “Devo continuar fazendo isso?” Algumas pessoas
acham útil ter uma “lista de atividades que precisam parar de fazer”,
frequentemente escrita no início do ano. Talvez tenhamos até de
cortar alguns relacionamentos, despesas, reuniões, hobbies, ou
meios de comunicação da mídia. Menos, mas melhor; este é o
objetivo — uns poucos essenciais em vez de muitos triviais. O único
jeito de conseguir isso é aprendendo a dizer não. Richard Swenson
põe seu desafio sobre a mesa:
Dizer “não” não é apenas uma boa ideia — agora isso se tornou uma
necessidade matemática. Sem essa pequena palavra, duvido que se
consiga recuperar certa margem. Se existirem quinze boas coisas para
se fazer hoje e você só consegue fazer dez delas, terá de dizer “não”
cinco vezes. Isto não é ciência avançada, mas é lógica do jardim de
infância.88

Assim como decidimos quem vamos deixar entrar em nossa


casa, temos de decidir o que vamos deixar entrar em nossa vida de
trabalho. Fechar a porta para algumas coisas não é egoísmo, mas é
questão de cuidar de si mesmo para, no fim, servir melhor a Deus e
ao próximo. Conforme disse Peter Drucker: “As pessoas são mais
eficientes porque dizem ‘não’, ao reconhecerem que ‘isto não é para
mim’”.89 Na verdade, menos é mais.
Fórmula Mágica?
Eu disse antes que, por sermos todos diferentes e vivermos
circunstâncias tão diferentes, não existe uma fórmula mágica que
sirva para todos. O que posso fazer é compartilhar com vocês o
equilíbrio de VBP/VC que funcionou para meu caráter e minhas
responsabilidades, uma equação que me ajudou a realizar o que
creio ser o plano de Deus para mim, enquanto me ajuda a
permanecer aberto às interrupções e acontecimentos não
esperados:

70% VBP + 30% VC + 100% VO (Vida de Oração).


Isso não faz sentido na matemática, mas faz muito sentido
espiritual!
Temos agora um senso renovado de propósito e um plano sobre
como chegar lá. Eliminamos alguma bagagem desnecessária que
levávamos. Agora vamos entrar na próxima oficina de reparos e
reabastecer para o próximo estágio da jornada da vida.
David Brooks, “The Summoned Self,” The New York Times, August 2, 2010,
http://www.nytimes.com/2010/08/03/opinion/03brooks.html.
Greg McKeown, Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (New York: The Crown
Publishing Group, 2014), Kindle edition, loc. 121.
Bronnie Ware, “Regrets of the Dying”, bronnieware.com, November 19, 2009,
http://bronnieware.com/regrets-of-the-dying/.
Juliette Jowit, “Work-Life Balance: Flexible Working Can Make You Ill, Experts Say,” The
Guardian, January 2, 2016, http://www.theguardian.com/money/2016/jan/02/work-life-
balance-flexible-working-can-make-you-ill-experts-say.
McKeown, Essentialism, 10.
Steve McClatchy, Decide: Work Smarter, Reduce Your Stress, and Lead by Example
(Hoboken, NJ: Wiley, 2014).
Jim Collins, “How the Mighty Fall,” JimCollins.com, March 2009,
http://www.jimcollins.com/books/how-the-mighty-fall.html.
McKeown, Essentialism, Kindle edition, loc. 1499.
Ibid., loc. 189.
Ibid., loc. 1603.
Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to
Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), Kindle edition, loc. 122.
Citado em McKeown, Essentialism, Kindle edition, loc. 24.
OFICINA DE REPAROS 8 | REABASTECER
Certa vez, perguntei a um psicólogo cristão como ele tratava as
pessoas com depressão ou ansiedade. “Ah, isso é fácil”, respondeu:
“Eu lhes dou três pílulas”.
Dei um gemido interno ao pensar que as múltiplas caricaturas de
doutores carregando enormes quantidades de pílulas parecia estar
tristemente confirmada. Depois de fazer uma pausa para maior
efeito, no entanto, ele acrescentou: “Bons exercícios, bom sono e
boa dieta”.
Nossa conversa subsequente deixou claro que ele não estava
sugerindo que esses três “comprimidos” fossem resposta completa
a todo caso de depressão ou ansiedade, mas estava destacando
que eles são blocos fundamentais para a construção de qualquer
cura da má saúde mental e emocional em longo prazo. Como já
temos coberto dois desses “comprimidos”, dormir bem e fazer bons
exercícios, em oficinas de reparos anteriores, vamos iniciar este
capítulo considerando como o terceiro item, uma boa dieta, ajuda a
reabastecer a mente e os ânimos enfraquecidos. Em seguida,
olharemos as pílulas de verdade, as medicações, e o seu papel
potencial para reabastecer a saúde mental e emocional. Por último,
colocaremos alguns suplementos adicionais para a restauração da
saúde, ao identificar as atividades que nos esgotam e aquelas que
aumentam nossa energia.
Alguns homens podem ser tentados a não ler este capítulo por
achar que “a dieta é para mulheres” (“quer dizer, eu sei como comer
bem”), ou porque “remédios são para os fracos”. Como, porém, uma
Ferrari não anda sem gasolina, e detona se colocarmos óleo diesel,
todos nós precisamos nos reabastecer regularmente e com o
combustível certo para correr bem. Já andamos muito desde que
entramos na garagem de Resetar, e fizemos muitos consertos
reparadores. Mas grande parte disso seria em vão se não
enchêssemos o tanque com gasolina de primeira qualidade. Nossos
corpos e mentes sofrem desgaste, e precisam de energia extra para
que não sucumbam à desintegração.

ALIMENTOS

Sou teólogo, não nutricionista. Por esta razão, a “Dieta Murray”


começa com teologia: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais
outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31).
Este profundo versículo da Escritura nos diz que existe uma maneira
de glorificar a Deus, não somente pelo que sai de nossa boca em
louvor e oração, mas também pelo que entra em nossa boca ao
comer e beber. Noutras palavras, toda escolha que fazemos sobre o
que comer ou beber magnifica ou diminui a Deus em nossa vida.
Nossa era moderna tem tornado este versículo mais fácil e mais
difícil de obedecer. Mais fácil, porque hoje em dia conhecemos tanto
mais sobre a ciência dos alimentos e seu impacto sobre o corpo, a
mente e os sentimentos. Mais difícil, porque existem mais alimentos
não saudáveis a nos tentar. Por esta razão, começamos a
implementar este versículo juntando conhecimento científico para
educar nossa consciência e fortalecer nossa vontade. Considere os
seguintes fatos sobre alimentos em relação a nossa mente e nossa
disposição.
Alimento e Mente
As pesquisas demonstram de modo conclusivo o impacto da dieta
sobre nossa capacidade e habilidade intelectual. Por exemplo, você
sabia que o cérebro tem mais exigências de dieta que qualquer
outro órgão de nosso corpo? Ele utiliza vinte por cento de nosso
oxigênio, vinte por cento dos carboidratos, e cinquenta por cento da
glicose disponível para fazer o seu trabalho, e grande parte desse
trabalho envolve reconstruir, refazer as conexões e renovar. Eis uma
amostra de outras descobertas recentes para estimular mais
estudos sobre esta enorme matéria, que também nos ajudarão a
colocar combustível melhor em nosso tanque:90
• Deixar de tomar o café da manhã reduz o desempenho
cognitivo, porque priva o cérebro de nutrientes, vitaminas e
glicose supridos por um café da manhã normal.
• As crianças que consomem muito açúcar e bebidas gasosas na
dieta do café da manhã tinham desempenho no mesmo nível
cognitivo da pessoa de setenta anos de idade em provas de
atenção e memória. Por outro lado, as torradas estimulavam os
resultados cognitivos das crianças.
• As saladas estão repletas de antioxidantes que eliminam os
materiais nocivos do cérebro.
• Óleo de peixe contém a boa gordura que ajuda a desenvolver o
cérebro e debelar a demência por até três ou quatro anos.
• Mirtilos e morangos estimulam em curto prazo a memória, o foco
e a coordenação.
• Abacates aumentam o suprimento de oxigênio e sangue ao
cérebro (e diminuem a pressão sanguínea).
• Ovos são ricos em colina, que produz substâncias químicas
para estimular a memória no cérebro.
Quando oramos “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”, Deus
responde graciosamente, não somente nos dando alimentos
suficientes e adequados para nossa vida física e intelectual, como
também nos chamando a nos responsabilizarmos pela quantidade e
qualidade do alimento e bebida que consumimos. Não podemos
esperar que nossa mente funcione bem, se estivermos nos
empanturrando de comidas nocivas. Lembre-se, Deus trabalha
através de nossa mente. Ele nos faz um bem espiritual ao implantar
em nós a verdade por meio de nosso cérebro. Assim, se não
estamos cuidando do cérebro, dando-lhe combustível suficiente e
estável, isso acabará prejudicando também a nossa vida espiritual.
Comida e Disposição
Não somente existem muitas ligações entre os alimentos e a
nossa mente, existem também múltiplas conexões entre os
alimentos e a nossa disposição. O que comemos afeta como nos
sentimos. De certa forma isso deveria ser óbvio. Se nossa comida
afeta nosso pensamento, ela também afeta os nossos sentimentos,
porque o que pensamos tem enorme impacto sobre o que sentimos.
Indiretamente, os alimentos afetam nossa disposição por meio dos
processos do pensamento.
O alimento tem também impacto direto sobre nossa disposição.
Por exemplo, os níveis de açúcar no sangue em nosso corpo têm
grande impacto sobre nossas emoções. Vejo todo dia isso
demonstrado claramente na vida de minha filha, que é diabética.
Ainda que os níveis comuns de açúcar no sangue não variem tanto
em extremos de altos e baixos como acontece com os diabéticos,
todos nós ficamos irritados, temerosos e nervosos quando
passamos tempo demais sem comer. Ou, se nos empanturramos
demais de açúcar, cafeína ou carboidratos, não seremos o Sr.
Felizardo (pergunte a sua esposa).
Não precisamos depender das evidências dos sentimentos ou de
ilustrações. Deus capacita os pesquisadores a observar, por meio
da ressonância magnética, o impacto de determinados alimentos
sobre certas partes do cérebro e as emoções subsequentes geradas
por eles. Aqui estão algumas das descobertas:
• Alimentos de fibra solúvel, como aveia, morangos, ervilhas,
tornam mais lenta a absorção do açúcar no sangue, amenizando
as mudanças em nossa disposição.
• Comidas como nozes, salmão, e alimentos ricos em vitamina D
aumentam o número e a eficiência dos neurotransmissores.
• O consumo mais alto de peixes, especialmente de atum, está
ligado a níveis mais baixos de depressão e uma disposição
estabilizada (a depressão é quase totalmente desconhecida
entre os esquimós!).
• Lentilhas e brócolis são excelentes fontes de folatos, uma
vitamina B que parece ser essencial para disposições
equilibradas e funcionamento correto dos nervos no cérebro. Um
estudo da universidade de Harvard demonstrou que trinta e oito
por cento das mulheres deprimidas tem deficiência de folatos.
• Alimentos de baixo valor nutritivo contém uma gordura que não
ajuda na disposição e aumenta os níveis de estresse.
Ora, claro que essa ciência pode ser exagerada. Não vamos
começar a colocar a culpa de toda a indisposição no Dunkin’
Donuts. A comida é apenas um dos muitos fatores em nossos
sentimentos. Não podemos esperar saúde emocional forte e estável
se quebrarmos regras nutritivas básicas que Deus incluiu em nosso
mundo. Assim, quando estivermos para baixo ou ansiosos vamos
não somente abrir nossas Bíblias como também a nossa boca. Ao
fazê-lo, vamos para a mesa de saladas em vez do McDonald’s, e
tomemos um suco de laranja em vez de uma bebida
superenergética.

MEDICAMENTOS

Às vezes os medicamentos podem ajudar a repor substâncias


químicas que estejam faltando no cérebro, ou estimular a produção
dessas substâncias e as conexões que precisamos para pensar ou
sentir de maneira normal. Quando aconselho qualquer pessoa que
esteja com sintomas de depressão ou ansiedade, e surge o assunto
de remédios, sempre destaco os seguintes pontos:
Não corra para começar. A não ser que a situação já esteja
desesperadora, geralmente as medicações não devem ser a
primeira opção a se considerar. Existem muitas outras coisas que
devemos fazer antes de procurar os remédios (veja a oficina de
reparos anterior).
Não descarte a ideia. Sim, todos nós preferimos não estar usando
medicamentos. E sim, primeiro devemos tentar outros meios para
ajudar na cura e recuperação. Mas os remédios não podem ser
totalmente descartados, especialmente quando as nossas razões
para excluí-los possam ser o orgulho pecaminoso, as falsas
pressuposições ou a antropologia simplista demais e não bíblica.
Neste ponto é importante enfatizar que negar a existência de
enfermidades mentais é essencialmente negar uma antropologia
bíblica, na medida em que nega os efeitos danosos e extensos da
queda sobre toda a humanidade. Nossa crença nesses efeitos
nocivos está arraigada na Escritura e vai conforme o seguinte:
Primeiro passo: Como resultado da queda, a parte física, química e
elétrica de meu corpo foi danificada.

Segundo passo: Meu cérebro usa estrutura, química e eletricidade


físicas para processar meus pensamentos e emoções.

Terceiro passo: A capacidade de meu cérebro de processar meus


pensamentos e emoções foi prejudicada na medida em que meu
cérebro foi afetado pela queda.

O primeiro passo é um fato bíblico. O segundo passo é fato


científico. O terceiro passo é resultado lógico dos passos 1 e 2.
Outros fatores, como abuso infantil, danos cerebrais,
envelhecimento e pecado, podem aumentar os danos herdados
originalmente.
Não espere tempo demais. Assim como devemos evitar correr
para nos medicar, também não devemos esperar tempo demais
para procurar medicação. Você pode ficar tão para baixo que vai se
tornar mais difícil sair do fundo do poço. Quanto mais fundo for o
poço da depressão, mais dura e longa será a recuperação.
Não espere resultados rápidos demais. A maioria dos
antidepressivos leva de dez a quatorze dias para começar a fazer
diferença observável, e cerca de um mês antes de haver melhora
significativa. Pode haver tentativas e erros envolvidos quando o
médico procura lhe receitar as medicações que dão mais certo e na
dosagem correta para você.
Não dependa apenas das medicações. Nunca vi ninguém se
recuperar de uma crise nervosa ou esgotamento emocional apenas
usando medicamentos. Vi a recuperação de pessoas que usaram
remédios como parte deste pacote holístico de cuidados para o
corpo, a mente e a alma, conforme os princípios mostrados neste
livro.
Não fique focado nos efeitos colaterais. Algumas pessoas (uma
minoria) experimentam efeitos colaterais dos antidepressivos. Esses
efeitos devem ser avaliados, mas também deve ser considerada a
atitude de não se tomar os remédios, especialmente se isto afeta
outras pessoas da família. Às vezes, tomar remédios pode ser um
ato de autonegação em benefício de outros ao seu redor. Tome em
seu coração a advertência deste irmão:
No meu círculo de amizades havia muitas histórias de horror sobre
antidepressivos. Ouvi dizer que os efeitos colaterais eram piores do
que a depressão. Ouvi dizer que não davam certo ou que pioravam a
depressão ou que as pessoas se tornavam tão dependentes que
nunca conseguiam sair delas. O que eu não estava escutando (em
grande parte porque acho que as pessoas ao meu redor não sabiam) é
que pode haver sérias consequências por não tratar de alguns tipos de
depressão com medicamentos. Eu me prejudiquei ao passar tanto
tempo sem ter ajuda médica. Esses danos continuam comigo hoje.

Não deixe nada sem tratar. Quando conversar com o seu médico,
diga-lhe tudo. Deixe que o médico decida qual informação é
relevante ou não. Não minimize nem descarte aquilo que você está
experimentando; apenas diga exatamente o que está acontecendo
em sua vida e como você se sente. Você deve pedir um exame
físico completo, em parte porque viver em crise por tempo demais
pode também prejudicar diversas partes do corpo.
Não fique obcecado por deixar os medicamentos. Uma das
perguntas mais comuns das pessoas que começam a tomar
medicamentos antidepressivos é “quando posso parar de usá-los?”
ou “quando deixo de tomar?” Mas essa angústia por querer deixar
as medicações tão logo seja possível pode criar mais agravantes
mentais. Geralmente o meu conselho é: “Não pense nessa pergunta
por pelo menos seis meses. Se as coisas melhorarem rapidamente,
ótimo, podemos falar sobre isso, mas para o momento, vamos
remover o estresse desnecessário”.
Não os deixe depressa demais. Embora os antidepressivos
modernos não viciem, não é sábio nem benéfico tirá-los de repente
ou de uma só vez. Confie na sabedoria e no cronograma de seu
médico, enquanto ele o guia por uma redução gradativa dos
remédios durante certo período de tempo. Porém, se chegar a um
ponto em que maiores reduções resultem em recorrência de
sintomas, você deverá voltar à dosagem mínima exigida para
minorar os sintomas. Algumas pessoas estão tão debilitadas e
esgotadas que a produção natural de substâncias químicas vitais ao
cérebro nunca volta a funcionar completamente. (Isso é semelhante
a fazer um carro velho andar de tanque quase vazio por tempo
demais – um pouco da sujeira do fundo do tanque entra no motor,
causando danos permanentes.) Nestes casos, uma pequena
dosagem de antidepressivos talvez seja necessária para melhorar
essas substâncias pelo resto da vida.
Não se envergonhe dos medicamentos. Só porque existe quem
usa mal ou em exagero as medicações, não significa que você não
deva usá-las. Se os remédios são um bom presente de Deus, não
os devemos desprezar. A vida no ritmo da graça não rejeita
nenhuma das graças de Deus quando elas são necessárias. Um
pastor confessou sentir-se envergonhado por deixar de tomar
remédios antidepressivos, passando a falar também aos outros. Ele
escreveu:
Foi-me prescrita a medicação para depressão em duas ocasiões
diferentes, mas nunca conseguia tomá-la. Em minha mente havia um
enorme descrédito quanto a antidepressivos. Eu havia aconselhado
pessoas a não fazerem uso deles, mandando até livros argumentando
contra tal medicação. Foi depois de muito sofrimento que consegui me
abrir para esses remédios como um meio que Deus podia usar para
me ajudar. Eles não consertavam tudo, mas evitavam que eu descesse
em espiral, enquanto trabalhava com as outras peças do quebra-
cabeça.

Tente ver os medicamentos como um presente de Deus e peça a


sua bênção sobre eles. Ore por seu médico, para que ele (ou ela)
escute bem a sua história, faça um diagnóstico correto e, caso
necessário, prescreva o medicamento certo para você, como parte
do pacote de medidas espirituais, físicas, mentais e sociais
equilibradas.
Não conte para todo mundo. Com quase todas as outras
medicações, você receberá apoio, simpatia e oração em seu favor.
Mas na igreja, existe muita ignorância, preconceito e mal-entendidos
sobre os antidepressivos, e talvez você não receba tanta simpatia
ou oração em seu favor. Provavelmente você saberá quais pessoas
serão simpáticas e apoiadoras — geralmente pessoas que já
passaram por muitas provas em sua própria vida — assim, deve
avaliar e escolher com cuidado uma ou duas pessoas em quem
você possa confiar. Um homem, que admitiu ter sido simplista e
insensível quanto à depressão, aprendeu sobre isso do jeito mais
difícil: “Eu não tinha ideia do que as pessoas deprimidas passavam
até que eu mesmo passasse pela depressão”.
Não acredite nas caricaturas. A maioria dos cristãos deprimidos a
quem aconselhei não eram perdedores nem gente de mau caráter
que estivessem procurando apenas uma desculpa para se omitir na
vida. Pelo contrário, era gente de alta funcionalidade, de primeira
qualidade, que se esgotara por ter feito demais e estava
desesperada por retornar para uma vida ativa e útil.

ENERGIZANTES

O bom alimento reabastece nosso corpo e nossa mente. Em


situações mais sérias, os medicamentos suprem ou estimulam
combustível adicional para o cérebro. Agora, vamos identificar quais
as atividades que esgotam nossa energia e quais as que
reabastecem nosso tanque.
Quando éramos jovens, sentíamos como se tivéssemos energia
ilimitada; continuávamos avançando sem parar, e nada nos parava
nem nos fazia andar mais devagar. Mas, ao envelhecermos, quando
a corrida se torna mais longa, começamos a notar que as reservas
de energia são limitadas. Há tempos em que voamos; outras vezes
estamos entregando os pontos. Às vezes achamos que poderíamos
correr sem cansar; outras vezes, não conseguimos dar mais um
passo sequer. Frequentemente pensamos: “Estranho! Ontem eu
estava navegando por cima; hoje estou arrasado”. Mas não há nada
estranho ou misterioso nisso. Estudos cuidadosos sobre nossa vida
revelam que há uma causa por trás de cada efeito, uma razão por
trás de cada reverso.
Ao envelhecer, é mais fácil fazer as conexões, ligar certas
atividades aos sentimentos como se fôssemos novamente um
adolescente, e em outras atividades nos sentimos como quem tem
noventa anos de idade. Descobri que começo o dia com quantia
limitada de energia e que tudo que faço me preenche ou me esgota;
portanto, tenho de manter equilíbrio entre as coisas que enchem e
as coisas que esgotam minha vida, se eu quiser vivê-la pautado na
graça. Se eu fizer somente o que me esgota, logo estarei de tanque
vazio e vou parando, muitas vezes longe do posto de gasolina,
precisando ser rebocado, e pagando demais para reabastecer. Por
meio de dolorosas experiências, aprendi que gerir a energia é tão
importante quanto gerenciar o tempo; portanto, preciso cuidar do
meu consumo de combustível com muito mais eficiência do que nos
meus anos mais jovens. Ao aprender o que me esgota mais
rapidamente e o que me preenche com maior velocidade, estarei
aprendendo a planejar para que possa parar para reabastecer o
tanque nas melhores horas, lugares e preços. Eis uma amostra das
coisas que enchem e esgotam minha própria vida, para ajudá-lo a
identificar o que ocorre em sua própria vida:
Preenchedores: Leitura da Bíblia e oração, pescar, ler (principalmente
biografias e não ficção das listas dos mais vendidos), tempo com
minha esposa e família, boa comida, escrever, academia, rios, lagoas
e oceanos, pregar, jornalismo político, palestras em que me saio bem,
amigos íntimos, ver alguém ser convertido, crescimento entre o povo
de Deus, gratidão, risadas, etc.

Esgotadores: reuniões, visitas pastorais, conflitos, críticas,


medo/ansiedade, aconselhar, ocupação demasiada em negócios,
compromissos demais, ficar em hotéis, conferências, compromissos
sociais, atividades que acontecem tarde da noite, conversas em
mídias, palestras que desanimam, e-mail, ficar pensando nas falhas de
outros crentes, negatividade, administração, etc.

Permita que eu lhe dê um número de qualificações e explicações


destas listas. Primeiro, diferente dos carros, nenhum de nós é igual
ao outro; o que me dá energia pode não fazer o mesmo para você, e
vice-versa. Isso é especialmente verdade quando comparamos
pessoas introvertidas (como eu) às extrovertidas (como a minha
esposa) — o que abastece um esvazia o outro. Embora a vista de
um piano me coloque em modo de “lutar ou fugir” (devido a duas
professoras de piano torturadoras, na minha infância), para um de
meus amigos, o ato de tocar piano o enternece e o dispõe a um
imenso bem-estar. Ele escreveu:
Um bom hobby é também importante — algo que o satisfaça e que
você o faça por simples prazer. Eu tive aulas de piano desde a
segunda série do ensino fundamental até a faculdade, e sempre gostei
de tocar este instrumento. Um resultado de meu “resetar” é que voltei a
ter aulas de piano com um professor de uma faculdade próxima — isso
me revigora e me relaxa muito!

Isso me lembra da necessidade de saber como funcionamos e


responder de acordo com isso. Um amigo compartilhou: “Sou um
extrovertido que é energizado por relacionamentos e por estar com
as pessoas”; enquanto outro disse: “Gosto de pessoas, mas elas me
esgotam. Por muitos anos eu achava que eu tinha de me
transformar em um extrovertido, mas isso foi um desastre! Precisei
aprender a trabalhar do jeito que Deus me fez”.
Segundo, ainda não apresentei os grandes eventos esgotantes
da vida, apenas os comuns do dia a dia. Por exemplo, as grandes
mudanças da vida tais como o luto por perda de entes queridos,
doenças sérias, casamento, divórcio, perda de emprego, infelicidade
no trabalho, e outros, tiram nosso combustível como se fosse um
turbo esgotador. Deve haver um cuidado muito especial durante tais
fases da vida, especialmente se muitos acontecimentos surgem um
em seguida ao outro.
Terceiro, algumas atividades poderiam estar nas duas listas! Isso
é porque as coisas que nos preenchem em certo sentido, podem
também nos esgotar em outro sentido. Por exemplo, embora a
pregação me preencha, ela também me esgota. Depois de alguns
dias preparando os sermões e pregando duas vezes no domingo,
após o culto de domingo à noite estou mental e emocionalmente um
trapo. Embora eu esteja energizado pela bondade de Deus comigo
quando preparo e prego os sermões, e frequentemente estou
animadíssimo pelas interações encorajadoras com as pessoas
depois deles, na segunda-feira preciso de muitos galões de
combustível e tenho de compensar fazendo coisas que me
reabastecem. Se não for assim, passo a semana andando a passo
lento em fraqueza mental e fragilidade emocional.
Outro exemplo desta listagem dupla é o exercício físico —
obviamente isso me esgota na hora e por uma hora ou mais após o
exercício, mas o efeito total sobre minha vida é um imenso bem-
estar físico e mental.
Quarto, embora eu tenha enfocado nossos maiores
preenchedores e esgotadores diários, reconheço que toda atividade,
por menor ou mais curta que seja, tem algum impacto sobre mim.
Conforme advertiu Brady Boyd:
Não são as grandes coisas, mas mil pequenas coisas: Esta pequena
conversa, este único telefonema extra, essa rápida reunião
inesperada, o que isso pode custar? Mas isso custa muito; esgota mais
uma gota de nossa vida. Então, no fim dos dias, meses, anos,
entramos em colapso e não enxergamos onde isso aconteceu.
Aconteceu em mil eventos, tarefas e responsabilidades inconscientes,
que na superfície pareciam inofensivos e fáceis, mas cada um, um
depois do outro, gastou um pedaço da nossa vida preciosa.91

Nossa energia é finita. Se gastarmos demais em uma coisa, não


a poderemos gastar em outra. A reposição tem de ser, portanto,
uma atividade diária, não algo que façamos uma ou duas vezes por
ano nas férias e tentamos viver com isso o resto do ano.
Quinto, se possível, tenho de lutar para manter alguns
esgotadores ao mínimo possível. Como disse outro administrafóbico
como eu: “A administração esgota a minha vida, mas tenho de fazê-
la. É simplesmente inevitável. Contudo, tenho também a
responsabilidade, como mordomo de Deus, de lutar o máximo
possível contra isso, para que eu faça o que Deus me dotou a
fazer”.
Sexto, embora existam algumas coisas na minha lista de
esgotadores que eu consigo evitar ou minimizar, existem outras que
não posso nem quero evitar ou diminuir — são partes importantes
do meu trabalho e do meu chamado. Eu os coloco na lista, não
dizendo: “Eu não queria ter de fazer isto”, mas para me lembrar que
preciso compensar esse esgotamento.
Sete, ninguém precisa sentir-se culpado por estar envolvido em
atividades que “enchem seu tanque”. Se os tanques estiverem
vazios, não seremos úteis a ninguém. Não devemos ter vergonha
nem pedir desculpas quando fazemos aquilo que nos preenche. O
estudioso de lazer e espiritualidade, Paul Heintzman, admite que
a palavra lazer quase nunca aparece na Bíblia em inglês. Porém,
existem muitos temas na Escritura que informam a prática cristã do
lazer, que inclui descansar no domingo (Sabbath), festivais, festas,
danças, hospitalidade e companheirismo. Tais temas sugerem a
maneira como vivemos no tempo em que não estamos trabalhando, as
atividades de lazer em que nos envolvemos, e ainda uma atitude de
receptividade, celebração, senso de maravilha e empolgação como
sendo importantes para o florescimento da vida cristã.92

Quem são os bons exemplos para este componente de vida no


ritmo da graça? Nada menos que os simples mortais, conhecidos
como os puritanos. Heintzman explica:
Os puritanos valorizavam o lazer por ele mesmo, como também por
sua utilidade na renovação das forças; [eles] pensavam criticamente
sobre o lazer como evidenciado em sua oposição a esportes
sangrentos, que eram formas de crueldade com os animais; o lazer era
praticado em dias designados para o recreio: eles viam a vida como
um todo unificado debaixo da soberania de Deus.93

Oitavo, Richard Swenson adverte quanto a outros três fatores que


impedem qualquer ganho: “O mau condicionamento, a privação do
sono e a obesidade constituem um deserto de energia física, onde
não pode haver qualquer possibilidade de crescimento”.94
Finalmente, a não ser que você esteja feliz em seu trabalho,
nenhuma quantidade de preenchedores vai compensar o
esgotamento. O oposto também é verdade, conforme descobriu
Steven Kramer; depois de examinar horários de entrada e saída de
trabalho de centenas de pessoas e de verificar milhares de jornadas
de trabalho, ele disse: “Entre todas as coisas que podem estimular
as emoções, motivações e percepções das pessoas durante a
jornada de trabalho, a mais importante de todas é progredir em um
trabalho que tenha valor”.95
Deixamos agora a Oficina de Reparos 8, após encher os tanques
de boa nutrição e atividades energizantes. Tapamos alguns buracos
que estavam nos drenando e, se as quebras foram sérias, alguns de
nós já tomamos os suprimentos emergenciais de medicamentos.
Mas como a viagem não é divertida quando estamos sozinhos,
vamos entrar na Oficina de Reparos 9, abrir o portão, e acolher para
junto de nós alguns companheiros de viagem.
A maioria das estatísticas deste capítulo foi extraída de Alan Logan, The Brain Diet: The
Connection between Nutrition, Mental Health, and Intelligence (Nashville: Cumberland
House, 2006). Veja também “Food and Mood,” Mind.org,
http://www.mind.org.uk/information-support/tips-for-everyday-living/food-and-mood/#
.VvQQIZMrJTY; Sarah-Marie Hopf, “You Are What You Eat: How Food Affects Your Mood”,
Dartmouth Undergraduate Journal of Science, February 3, 2011,
http://dujs.dartmouth.edu/2011/02/you-are-what-you-eat-how-food-affects-your-mood/#
.VvQQ0JMrJTY; Joy Bauer, “Improve Your Mood with These Foods”, Today, October 31,
2006, http://www.today.com/id/15490485/ns/today-today_health/t/improve-your-mood-
these-foods/# .VvQPeJMrJTY.
Brady Boyd, Addicted to Busy: Recovery for the Rushed Soul (Colorado Springs: David C.
Cook, 2014), Kindle edition, loc. 57.
Citado por Tony Reinke, “Rethinking Our Relaxing”, Desiring God, January 24, 2016,
http://www.desiringgod.org/articles/rethinking-our-relaxing.
Ibid.
Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to
Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), Kindle edition, loc. 95.
Citado em Greg McKeown, Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (New York: The
Crown Publishing Group, 2014), Kindle edition, loc. 196-97.
OFICINA DE REPAROS 9 |
RELACIONAMENTOS
Meu ministério tem me levado a muitos lugares por todo o
mundo, mas por mais exótico ou belo que seja o lugar, sempre me
parece vazio quando minha mulher e filhos não estão junto comigo
para desfrutar deles. Em contraste, minha família e eu recentemente
viajamos ao Reino Unido para surpreender meus pais em suas
bodas de ouro. Foi uma das viagens mais memoráveis de minha
vida, não somente por dar alegria a meus pais, como também pela
alegria de juntos fazermos uma viagem dessas, compartilhando a
vida uns dos outros. O prazer de uma jornada depende muito de
quem viaja conosco.
Como disse Deus: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn
2.18). Se um homem perfeito em um mundo perfeito, tendo
relacionamento perfeito com Deus, precisava ouvir isso, quanto
mais os homens pecadores, em um mundo pecaminoso, longe de
estarem isentos de pecado no seu relacionamento com Deus? Não
é bom que o homem esteja só. O homem. Isso sou eu. É você. Mas
muitos de nós continuamos tentando viver de maneira
independente, solitária, desconectada e autossuficiente. Conforme
previsto, o resultado “não é bom”.
O foco da resposta de Deus a isso, que “não é bom”, está na sua
provisão de uma esposa, que move o estado dos homens de “não é
bom” para “muito bom”. Existem outros relacionamentos-chaves em
nossa vida que precisamos cultivar conscientemente, especialmente
em um mundo caído, se quisermos evitar o “não é bom” e ir em
direção ao “muito bom”. Junte-se a mim para um trabalho de
consertos relacionais em cinco áreas essenciais: nosso
relacionamento com Deus, com a esposa, com os filhos, com
nossos pastores/presbíteros, e com os amigos. Mesmo quando
conseguimos apenas manter correta a ordem dessas prioridades,
isto fará gigantesca diferença.

RELACIONAMENTO COM DEUS

Como todos os relacionamentos saudáveis e que satisfazem, nosso


relacionamento com Deus necessita tempo e energia. A boa nova é
que, se até aqui você estiver implementando as sugestões deste
livro, tem mais tempo e aumentou os seus níveis de energia. Dar
tempo e esforço ao nosso relacionamento com Deus na verdade
aumenta nosso tempo livre e nossa energia, porque nos ajuda a
obter melhor perspectiva de vida e ordenar melhor as nossas
prioridades, reduzindo o tempo que gastamos no gerenciamento de
nossa imagem, e, remove o medo e a ansiedade.
Eis algumas coisas que me ajudam a manter um relacionamento
pessoal com o Deus pessoal e evitar cair na armadilha de me
relacionar com ele apenas através de meu ministério para com os
outros: Tempo mantido. Procuro manter o tempo pessoal de leitura
da Bíblia e oração com tanto ciúme quanto guardo e vigio meus
filhos. Mantenho meu encontro com Deus, às seis e vinte, a cada
manhã, com tanto zelo quanto se eu tivesse compromisso de fazer
hemodiálise.
Mente não distraída. Em uma pesquisa com oito mil leitores, o
ministério DesiringGod.org descobriu que cinquenta e quatro por
cento dos pesquisados verificava seus telefones celulares minutos
depois de acordar. Mais de setenta por cento admitia verificar os e-
mails e os meios de comunicação social antes de fazer suas
disciplinas espirituais.96 Concordo com Tony Reinke, que comentou:
“Aquilo em que focamos os corações primeiro de manhã dará forma
ao nosso dia inteiro”. Sendo assim, resolvi não verificar os e-mails,
as mídias sociais ou o noticiário antes do meu tempo devocional,
pois quero trazer à mente com maior clareza e foco possível a
Palavra de Deus.
Orações em voz audível. Sempre oro melhor quando o faço em
voz audível, e assim, procuro um lugar onde possa fazê-lo sem
passar vergonha. Ouvir as minhas próprias orações me ajuda a
obter mais clareza e intensidade na minha oração. Também, quando
oro em voz alta, não consigo encobrir tão facilmente um coração ou
uma mente que vagueiam.
Devocionais variadas. Às vezes eu leio um salmo, um capítulo do
Antigo Testamento, e um capítulo do Novo Testamento. Outras
vezes simplesmente leio um capítulo ou parte de um capítulo e
gasto mais tempo meditando nele. Ou posso ler um livro da Bíblia
acompanhado de um bom comentário. Embora varie a velocidade,
tento me certificar de ler sistematicamente através dos dois
testamentos e não apenas saltar de um lado para outro.
Dormir bem. Se eu conseguir boas sete ou oito horas de sono por
noite, vou à Palavra de Deus com mais energia e concentração.
Sermões centrados em Cristo. Usando sites como
sermonaudio.com, ouço muitos pregadores fora da minha própria
tradição, porque frequentemente vejo sua abordagem dos textos
como renovadora e estimulante.
Os livros centrados em Cristo, que me induzem a maior
comunhão com Cristo, incluem The Glory of Christ e Spiritual
Mindedness de John Owen; Christ the Fountain of Life, de John
Flavel, e mais recentemente, Knowing Christ (O Conhecimento de
Cristo),97 de Mark Jones.
Leitura egoísta. Às vezes leio um livro exclusivamente para minha
própria alma. Resolvo que não vou usá-lo para um sermão, artigo ou
palestra, e não vou compartilhar na mídia social. Isso faz uma
diferença significativa na maneira como leio e o aproveitamento que
obtenho disso.
Lembretes diários. A fim de manter ou recuperar a comunhão
com Deus através do dia, ligo os hábitos regulares diários à oração
ou meditação. Por exemplo, posso usar um intervalo para tomar
café para me lembrar de orar, ou posso usar o tempo que espero
em uma fila para memorizar um versículo bíblico escrito em um
cartão.
Este relacionamento pessoal com Deus é de suma importância
porque edifica o caráter, e isto é importante. Dave Kraft, autor de
Leaders Who Last (Líderes que permanecem), cita estatísticas que
mostram que apenas trinta por cento dos líderes acabam bem; e,
em sua experiência, as falhas geralmente têm acontecido porque a
popularidade e o profissionalismo tomaram o lugar do caráter na
vida de líderes cristãos. Ele escreve que “em muitos lugares tem
havido uma tendência de descartar um bom caráter na vida pessoal
e privada em troca de maior grau de sucesso na vida profissional...
A maioria dos líderes enfoca mais na competência e menos no
caráter”.98 O general Norman Schwarzkopf concorda: “Noventa e
nove por cento dos fracassos na liderança é devido a falhas de
caráter”.99 O caráter é formado principalmente em comunhão com
Deus. Colocamos em primeiro lugar o relacionamento com Deus
porque é o mais influente dentre todos os outros relacionamentos;
incluindo o nosso relacionamento no casamento.

RELACIONAMENTO COM A ESPOSA

No mesmo mês que Sandra Bullock ganhou um prêmio da


Academia de Cinema como melhor atriz, veio a notícia que seu
marido era adúltero em série. Ao refletir sobre isso, David Brooks,
colunista do New York Times, pergunta: “Você aceitaria isso como
uma boa troca. Trocaria um tremendo triunfo profissional por um
severo baque pessoal?”100 Não gostamos de perguntas assim
porque, embora jamais verbalizemos um sim, nossas agendas e
estilos de vida às vezes dirão isso por nós. Com base em extensos
estudos e rigorosas pesquisas, Brooks argumenta: A felicidade no
casamento é muito mais importante do que qualquer outra coisa
para determinar o bem-estar pessoal. Se você tiver um casamento
bem-sucedido, sem importar quantos dissabores profissionais tenha
de suportar, você será razoavelmente feliz. Se tiver um casamento
de malsucedido, não importa quantos triunfos tiver em sua carreira,
você permanecerá significativamente insatisfeito.101
Brooks tem também uns parágrafos fascinantes sobre a relação
entre dinheiro e felicidade. Por exemplo, você sabia que “as
pessoas não são mais felizes durante os anos em que ganham
maiores promoções; em vez disso, são mais felizes por volta dos
vinte aos trinta anos, passam pela meia idade, e, depois, em média,
atingem a felicidade máxima logo após a aposentadoria, aos
sessenta e cinco anos de idade”. Então, Brooks volta à conexão
entre os relacionamentos pessoais e a felicidade, e conclui: Se o
relacionamento entre dinheiro e bem-estar é complicado, a conexão
entre os relacionamentos pessoais e a felicidade não é... De acordo
com um estudo, encontrar-se com um grupo que se reúne mesmo
apenas uma vez por mês produz o mesmo ganho de felicidade que
dobrar a sua renda. Conforme outro, ser casado produz ganho
psicológico equivalente a renda de mais de cem mil dólares por ano.
A impressão geral dessa pesquisa é que o sucesso econômico e
profissional existe na superfície da vida, e estes surgem dos
relacionamentos interpessoais, que são muito mais profundos e
mais importantes.102
De volta ao que falamos: Você aceitaria um trabalho (ou
ministério) “bem-sucedido” se lhe custasse o preço de um
casamento feliz? Se alguém olhasse a sua agenda, será que
saberiam a sua resposta a essa pergunta?
Como existem muitos excelentes livros cristãos sobre o
casamento, e a brevidade deste livro limita o espaço que posso
dedicar ao assunto, em vez de duplicar o que você pode ler em
outro lugar, quero simplesmente compartilhar o que tem ajudado em
meu próprio casamento com Shona, esperando que algumas
dessas ideias o apontem à direção certa: Melhores amigos. Diante
de possibilidade de escolher qualquer pessoa com quem estar, eu
escolho a Shona. Não existe ninguém, homem ou mulher, que
chegue perto de ser o “melhor amigo para sempre” do que ela. De
tempos em tempos, saímos juntos para “namorar”, mas estamos
felizes na companhia um do outro, quer seja na sala de estar, no
quintal ou no carro.
Comunhão espiritual. Sempre conversamos sobre o que Deus
está fazendo em nossa vida e o que ele nos ensina por sua Palavra
e obras. Essa intimidade espiritual foi base do nosso relacionamento
desde o começo, e continua sendo a mesma base.
Estudos regulares. Embora estejamos casados há mais de vinte e
cinco anos, regularmente continuamos lendo livros sobre o
casamento. Às vezes, aprendemos alguma coisa nova, mas sempre
precisamos voltar a reaprender as coisas antigas.
Concordância nos papéis. Seguimos o ensino da Bíblia sobre os
tipos de papéis e responsabilidades que o marido e a esposa devem
ter. Porém, como ainda pode haver confusão ou desentendimento
sobre como isso se aplica à vida diária, conversamos regularmente
sobre quem tem responsabilidade por isto ou aquilo, a fim de evitar
conflitos ou frustrações ao longo do caminho.
Quantidade e qualidade de tempo. Procuro estar em casa toda
noite para as horas de refeições em família, em que estão banidas
todas as mídias e tecnologias. Procuro não estar fora de casa mais
que duas ou três noites por semana em trabalhos da igreja. Tiro um
dia inteiro por semana para estar com Shona e nossa família
(geralmente no sábado), e limito minhas viagens ministeriais a não
mais do que seis breves (máximo de dois ou três dias) viagens por
ano. Fazemos uma viagem de férias, garantindo que arranjos estão
acertados na congregação para quaisquer emergências, para que
eu não precise ser contatado durante as férias.
Comunicação frequente. Na maioria das noites, passamos cerca
de uma hora falando sobre nosso dia, nossos filhos, nossos
desafios, nossas falhas e nossos sucessos.
Responsabilidade de plena comunicação. Compartilhamos um
com o outro as histórias de nossas buscas pela Internet, usamos um
programa que filtra o conteúdo acessado (Covenant Eyes) e
compartilhamos todas as nossas senhas para que qualquer de nós
possa acessar qualquer conta que tivermos na rede. Verificamos
também nossas contas bancárias para nos certificarmos que
estamos nos mantendo dentro do orçamento traçado. Se eu tiver
alguma preocupação com Shona, não tenho medo de mencionar a
ela, e ela sabe que eu quero que faça o mesmo comigo. Nada está
fora dos limites.
Mesma hora de dormir. Vamos para a cama na mesma hora
juntos, e a última coisa que fazemos cada noite é orar juntos.
Muitas risadas. Tentamos fazer o outro rir e se passamos tempo
demais sem rir, um de nós observa e diz: “Ei, precisamos ficar um
pouco mais leves”.
Vocabulário essencial. As palavras mais importantes em qualquer
casamento são: por favor, muito obrigado, sinto muito, eu o/a
perdoo, e eu o/a amo. Procuramos dizê-las tanto quanto pudermos.
Lembro-me de um velho pastor que comentou que quando um
homem diz que está com dificuldades em sua vida de oração, a
primeira pergunta que ele faz é: “Como vai o seu casamento?”
Quase sempre o homem retruca: “O que tem uma coisa a ver com a
outra?” O pastor cita então 1 Pedro 3.7, demonstrando a conexão
entre a vida de casado de um homem e sua vida de oração:
Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com
discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher
como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois,
juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se
interrompam as vossas orações.
Com frequência, o homem admite que as coisas não estão bem
com sua esposa. Não podemos esperar vicejar ou florescer se o
nosso casamento estiver murchando. “A melhor decisão que fiz foi
me afastar um pouco do ministério para me reconectar a minha
família”, disse um pastor. “Talvez seja uma das poucas coisas que
fiz pelas quais não tenho nenhum pesar”.
RELACIONAMENTO COM NOSSOS FILHOS COLOQUEI
ESTE CAPÍTULO SOBRE RELACIONAMENTOS PERTO
DO FINAL DO LIVRO PORQUE, ATÉ QUE COLOQUEMOS
OS PASSOS ANTERIORES EM AÇÃO, NÃO TEREMOS O
TEMPO, A ENERGIA OU O DESEJO PARA O ESFORÇO
QUE PODE TRANSFORMAR NOSSOS
RELACIONAMENTOS DE UM PESO PARA UMA BÊNÇÃO,
DE UMA FONTE DE CULPA PARA UMA FONTE DE
ALEGRIA, DE UM ESGOTADOR PARA UM
PREENCHEDOR. ISSO É ESPECIALMENTE VERDADE
NOS RELACIONAMENTOS COM OS FILHOS QUE DEUS
NOS DEU, PARA SERMOS SEUS PAIS E PASTORES. SE
VIVERMOS DEPRESSA DEMAIS E OCUPADOS DEMAIS,
REBAIXANDO A ESPOSA EM NOSSA LISTA DE
PRIORIDADES, EM GERAL ISSO DEIXA OS FILHOS
CAÍREM COMPLETAMENTE PARA O FINAL DE NOSSA
LISTA DE PRIORIDADES.
Como existem livros sobre o casamento, existem também
numerosos e excelentes livros sobre pais e filhos, de modo geral; e
sobre a paternidade, de modo particular, os quais eu o encorajo a
ler. (Eu procuro ler um livro sobre pais e filhos todos os anos,
apenas para me lembrar daquilo que aprendi antes.) Em vez de
duplicar o que está disponível em outros lugares, eis uma rápida
lista de lições que geram alegria, que tenho aprendido (depois de
muitas tentativas e erros) em meus relacionamentos com os meus
filhos: Paternidade de Deus. Lembro-me continuamente que fui
chamado a representar a paternidade de Deus para meus filhos; eu
sou a representação visível de Deus Pai para eles.
Equilíbrio entre trabalho e vida. Estou cada vez mais cônscio de
que o equilíbrio entre meu trabalho e minha vida é um exemplo para
eles. Se eles me enxergam vivendo uma vida pautada pela graça,
mesmo em meio à cultura de esgotamento, tenho esperança muito
maior que eles façam o mesmo.
Evangelho. Eu não somente ensino o evangelho para eles,
certificando-me que eles o ouçam toda semana em uma igreja local
que seja fiel, mas também procuro viver isso mediante a prática da
graça nos meus relacionamentos com eles, continuamente
apontando-lhes a Cristo para o perdão quando eles falham, e o
Espírito Santo para obter força quando estão fracos.
Humildade. Quando peco contra eles em minhas atitudes,
palavras e atos como pai, peço-lhes perdão tão logo seja possível.
Nunca lastimei ter dito “sinto muito” ou “perdoe-me” a meus filhos; e
eu o tenho dito vezes sem conta.
Paciência. Se tenho aprendido alguma coisa como pai há mais de
vinte anos, tendo cinco filhos, é ter paciência, perseverança, ser
tardio em me irar, perseverar em meio aos desapontamentos, e
esperar com fé pelas lições aprendidas e vidas transformadas.
Tempo. Tal como acontece no casamento, simplesmente não
existe substituto para o tempo gasto com nossos filhos. Além de
comer com eles e dirigir o culto em família quantas noites da
semana eu puder, dedico meus dias de folga a minha esposa e
filhos. É raro eu sair para fazer algo sozinho ou com amigos.
Dedicamos muito esforço em tirar férias juntos. Comprei um
pequeno barco para que possamos pescar e explorar juntos os
lagos e rios de Michigan. Esquiamos e brincamos de prancha na
neve a cada inverno. Limitamos as saídas dos filhos adolescentes a
três noites por semana, e mais uma no domingo, quando eles vão à
reunião da mocidade.
Encorajamento. Procuro e aproveito toda oportunidade para
encorajá-los na fé, em seu trabalho na escola, nos esportes, em sua
aparência e nas suas amizades. Procuro certificar-me que o índice
de encorajamento-versus-críticas seja algo como cinco a um.
Clareza. Tenho visto que os filhos vicejam quando Shona e eu
estabelecemos para eles regras e limites consistentes. Pode ser que
no começo não gostem, e às vezes requer muita fé seguir o que
estabelecemos, mas sempre funcionou para melhor.
Adoração. Damos prioridade ao culto em família e continuamente
estamos ajustando nossos horários no começo da noite para
garantir que o número máximo de nossos filhos esteja presente para
o culto doméstico a cada dia.
Quando estamos cansados e estressados, gastar tempo para
fazer atividades com nossos filhos pode parecer mais uma
obrigação a ser feita, um esgotador que nos deixa exaustos. Porém,
descobri que quando eu estou descansado e tenho mais tempo em
minha vida, as mesmas atividades que antes eram esgotadoras
podem se tornar preenchedoras e energizantes.

RELACIONAMENTOS COM NOSSOS


PASTORES E PRESBÍTEROS PRECISAMOS DE
SUPERVISÃO ESPIRITUAL EM NOSSA VIDA. ISTO É
ESPECIALMENTE VERDADEIRO PARA PASTORES, NÃO
SÓ PORQUE ELES SÃO ALVOS ESPECIAIS DE SATANÁS,
MAS TAMBÉM PORQUE EXISTE UMA TRÁGICA
EPIDEMIA DE QUEDAS NA LIDERANÇA CRISTÃ. EM
CADA CASO QUE CONHEÇO — E EXISTEM MAIS DO
QUE QUERO CONTAR — A CARACTERÍSTICA COMUM É
A RELUTÂNCIA EM PRESTAR CONTAS, AFASTANDO-SE
DA SUPERVISÃO DE OUTROS PASTORES E
PRESBÍTEROS. ENQUANTO ESTOU ESCREVENDO
ISTO, TIVE NOTÍCIAS DE QUE NOS ÚLTIMOS DOIS DIAS,
UM JOVEM PASTOR/MISSIONÁRIO, UM PASTOR DE
CELEBRIDADES DE MEIA IDADE, E OUTRO PASTOR
MAIS VELHO, QUE SE APROXIMA DO FINAL DE SEU
MINISTÉRIO, TODOS CAÍRAM EM PECADO DE
ADULTÉRIO. TODOS ESTES DEIXARAM AS
INSTITUIÇÕES E DENOMINAÇÕES NOS ÚLTIMOS DOIS
OU TRÊS ANOS PARA “REALIZAR O PRÓPRIO
MINISTÉRIO”, OPERANDO MAIS OU MENOS
INDEPENDENTES DE QUALQUER SUPERVISÃO OU
RESPONSABILIZAÇÃO PARA COM OUTROS LÍDERES.
TODOS ACABARAM EM RELACIONAMENTOS ILÍCITOS
COM MULHERES, EM PARTE PORQUE REJEITARAM UM
RELACIONAMENTO BÍBLICO COM A IGREJA LOCAL E
POR CONTA PRÓPRIA SE TORNARAM “CAVALEIROS
SOLITÁRIOS” ESPIRITUAIS.
Embora pesquisas recentes da LifeWay tenham descartado o
mito dos mil e duzentos pastores que abandonam o ministério a
cada mês,103 outra pesquisa diz que devido ao fardo do ministério
muitos pastores enfrentam lutas com desordens mentais. Vinte e
três por cento dizem ter experimentado alguma forma de crise
emocional, enquanto doze por cento recebeu diagnóstico de algum
problema de saúde mental.104 Contudo, o estudo também viu que
eles frequentemente relutam em falar de suas dificuldades. Ed
Stetzer afirma: “É importante que pastores sejam abertos com seus
colegas sobre suas lutas, sempre que possível e de modo
apropriado. Sem a permissão ou capacidade de permanecer
acessíveis com respeito às lutas que surgem na vida ministerial, os
pastores estão mais propensos ao esgotamento ou à desistência
total. A igreja tem de compreender essa luta e apoiar os seus
pastores no que puderem”.105
Todos nós precisamos de homens em nossa vida que tratem
conosco com amor e fidelidade, que cuidem de nossa alma e falem
a nossa vida quando necessitamos disso. Embora isso requeira que
sejamos vulneráveis, exigindo para isso tremenda coragem, fazer
isso é algo sábio e seguro, especialmente à medida que
amadurecemos e talvez nos tornemos mais autoconfiantes e
autossuficientes.

RELACIONAMENTOS COM NOSSOS AMIGOS OS


ÚLTIMOS PASSAGEIROS QUE PRECISAMOS PARA A
NOSSA VIAGEM SÃO OS AMIGOS, RELACIONAMENTO
EM QUE POUCOS HOMENS SE DESTACAM. POR QUE
FALHAMOS TANTO NESTE ASPECTO?
Somos ocupados demais. As amizades profundas levam tempo
para se formar, muito tempo em que não se faz nada produtivo, mas
se está simplesmente junto, conversando e escutando o outro.
Quem tem tempo para isso neste mundo cheio de ocupações?
Somos egoístas demais. As amizades masculinas muitas vezes
são baseadas naquilo que conseguem vender ou o que podem obter
de alguém. “O que eu vou lucrar com isso?” Este é frequentemente
o único critério para se construir um relacionamento com alguém.
Somos funcionais demais. As amizades masculinas geralmente
crescem provenientes de organizações — trabalho, esportes,
clubes, e assim por diante. O problema está em que se nossa
participação acabar, a amizade também acaba. As amizades são
mais funcionais do que emocionais. Mas a verdadeira amizade
envolve estar junto às pessoas por amor a elas mesmas.
Somos orgulhosos demais. “Amigos são para os fracos!” OK,
talvez não digamos isso, mas muitas vezes pensamos: “Sou forte,
independente, autossuficiente. Consigo gerenciar a vida por conta
própria. Não preciso de amigos”.
Somos seguros demais. Não estamos preparados para arriscar a
rejeição. Parece melhor permanecer na zona de conforto de
conhecidos a um braço de distância do que nos aproximarmos e
arriscar ver alguém se esquivar ou se afastar. Por esta razão,
noventa por cento dos homens norte-americanos nunca
conheceram um relacionamento em que realmente pudessem ser
vulneráveis e acessíveis.
Somos superficiais demais. Amizades só podem se desenvolver
quando houver verdadeira autenticidade, em que ambas as partes
estão preparadas para abaixar as defesas e mostrar suas
verdadeiras emoções e sentimentos. Isso requer ir muito além das
autoimagens superficiais que construímos.
Fizeram em nós lavagem cerebral em demasia. A maioria de nós
obtém sua visão de masculinidade da TV e de Hollywood. Mark
Greene escreveu: Um homem de verdade é forte e estoico. Não
demonstra emoções, exceto ira e exaltação. É um ganhador de pão.
É um heterossexual. Tem um corpo forte. Joga ou assiste esportes.
É participante dominador em toda troca. Luta contra incêndios, é
advogado, é um chefe ou executivo de uma empresa. É um homem
para os homens… Esse “homem de verdade”… representa o que
supostamente é normativo e aceitável dentro do desempenho
altamente equilibrado da masculinidade do homem americano.106
Qual é, portanto, a solução a essa falha nas amizades? Como
geralmente acontece, a solução começa com a teologia,
especialmente quanto à natureza de Deus. Deus existe como
comunidade em uma unidade de três pessoas em íntimo
relacionamento, e nos conclama, como portadores da sua imagem,
a procurar relacionar-nos e a praticar a vida em comunidade com
outros. Podemos transformar essa teologia bíblica em teologia
prática ao estudarmos Jesus Cristo, amigo de pecadores em geral,
como também homem que construiu fortes amizades masculinas em
poucos anos de vida na terra, amizades motivadas pelo desejo de
fazer o bem eterno e espiritual para uma variedade de homens
falhos. Ele resolveu os problemas, não por jogar dinheiro fora ou
estabelecer classes, mas por amar as pessoas.
Fazendo Amizades Bíblicas
Baseado na obra de Jonathan Holmes em The Company We
Keep: In Search of Biblical Friendship (A companhia que mantemos:
a busca por amizades bíblicas),107 temos algumas dicas para
cultivar as amizades bíblicas: Dê prioridade às amizades. Se não
fizermos um alvo de ter amizades saudáveis, elas não vão
acontecer. Motive-se com as vantagens, incluindo menos depressão
e melhores sistemas imunológicos.108 Alan McGinnis escreve: Em
meu trabalho como terapeuta, estou cada vez mais convicto de que
há um poder restaurador e renovador na amizade. Se as pessoas se
beneficiassem do amor que está disponível a elas, muitos
terapeutas como eu poderiam fechar as portas dos seus
consultórios.109
Motive-se também com as desvantagens do isolamento. Por
exemplo, pessoas solitárias vivem vidas mais curtas e sofrem mais
problemas de saúde.110 Cientistas da Universidade da Carolina do
Norte examinaram a relação entre amizade e saúde em diferentes
estágios da vida, e descobriram que a solidão pode “elevar
grandemente” o risco de a pessoa ter doenças cardíacas, derrames
e câncer.111 Um estudo de Harvard sobre estudantes que nunca
alcançaram sucesso financeiro nem mesmo atingiram nível de
gerência mediana descobriu que o fator comum era que nenhum
deles havia alcançado intimidade, como a que se reflete em
casamentos estáveis e amizades duradouras. Em geral, havia
correlação direta entre a quantidade de amor em suas vidas
pessoais e a quantidade de sucesso que obtinham no mundo
exterior.112
Cultive a maior amizade. Sem compreendermos a amizade de
Cristo por nós, nunca faremos verdadeiros amigos. Faremos
amizades por razões erradas, ou acabaremos muito depressa com
essas amizades. A amizade de Cristo conosco é tão paciente, cheia
de graça, cheia de perdão, e deve ser o modelo para as nossas
amizades com as outras pessoas.
Construa amizades altruístas. Certifique-se que possui uma ou
duas amizades que não sejam apenas para ajudar a progredir em
sua carreira ou aumentar a sua rede de contatos.
Cuidado com substitutos. A mídia social pode até iniciar uma
amizade, mas raramente constitui uma amizade. O professor do
Instituto Britânico, Aric Sigman, constatou que “comunicações face a
face envolvem circuitos cerebrais muito diferentes das
comunicações virtuais”. Ele citou a pesquisa da Universidade Duke,
de 2005, que disse que nos vinte anos anteriores, com o surgimento
das comunicações virtuais, o número de pessoas que disse não ter
ninguém com quem conversar sobre sérias questões pessoais
aumentou de sete para vinte e cinco por cento.113
Prepare-se para ficar desapontado. Se você estiver procurando
amizades bíblicas vai ter rejeições não bíblicas! Obterá mal-
entendidos, rejeições e traições. Mas também, obterá um ou dois
amigos realmente verdadeiros, e isso fará valer a pena todo o
sofrimento do percurso. Vale a pena perseverar.
Cultive a transparência. Uma das melhores definições de
amizade que ouvi é “conhecer e ser conhecido”. O fingimento, o
show e todas as outras máscaras são removidas por ambas as
partes; é como dizer uns aos outros: “Este é o meu verdadeiro eu”.
Veja os benefícios de tal abertura neste testemunho: “Deus me
abençoou com alguns amigos maravilhosos. Eles foram
fundamentais para minha renovação de força e alegria ao longo do
último meio ano. Eu realmente encorajaria todos os pastores que
estão lutando contra a depressão a se abrirem para alguns amigos
de confiança o mais rápido possível”. Isso significa honestidade
sobre nossas lutas, como ilustra a história deste amigo: “Fiquei
impressionado com quantos homens se expuseram verbalmente,
quando eles constataram que é seguro. A maneira como eles
sabem que é seguro é quando me ouvem falar sobre minhas
próprias lutas. Muitos de nós estamos famintos por transparência.
Estamos cansados de sustentar uma fachada. Não é saudável.”
Torne central o crescimento espiritual. A amizade de homens
pode envolver esportes, jogos, hobbies, ajudar um ao outro com
problemas práticos, dar risadas, contar histórias, e muitos outros
belos dons de Deus. Mas no cerne de uma amizade, tem de haver
um desejo de fazer bem espiritual ao próximo. Perguntem um ao
outro com certa regularidade coisas como: “Como posso orar por
você? Onde você está tendo lutas? Onde você tem experimentado a
graça de Deus em meio a sua luta? O que traz alegria ao seu
coração? Onde você me vê crescendo espiritualmente? Como
posso ser melhor amigo para você?”114
Reconheça suas limitações. Não se pode ser amigo de todo
mundo. Jesus teve doze amigos, três amigos especiais, e um amigo
singular. Se nós conseguirmos isso, estaremos indo muito bem. Às
vezes, teremos de podar as amizades, e, em outras, teremos de
estabelecer limites mais claros.

ACELERANDO E PREPARANDO PARA A PARTIDA


FIZEMOS MUITO TRABALHO DE CONSERTOS. NOSSO
TANQUE DE GASOLINA ESTÁ CHEIO E NOSSO VEÍCULO
REPLETO DE PASSAGEIROS. O RELACIONAMENTO
COM NOSSOS PASSAGEIROS — DEUS, NOSSA
ESPOSA, NOSSOS FILHOS, NOSSOS PASTORES E
PRESBÍTEROS, E NOSSOS AMIGOS — ESTÃO MUITO
MAIS SAUDÁVEIS. AGORA, VAMOS EM FRENTE PARA A
ÚLTIMA OFICINA DE REPAROS PARA DAR PARTIDA NO
MOTOR E ENTRAR NOVAMENTE NA CORRIDA. MAS
DESTA VEZ, SERÁ NO RITMO DA GRAÇA, NÃO
IMPELIDO POR UM FOGUETE.
Tony Reinke, “Six Wrong Reasons to Check Your Phone in the Morning: And a Better Way
Forward”, Desiring God, June 6, 2015, http://www.desiringgod.org/articles/six-wrong-
reasons-to-check-your-phone-in-the-morning.
Nota da tradutora: Este último foi publicado pela Editora Monergismo, Brasília, 2018.
Dave Kraft, Leaders Who Last (Wheaton: Crossway, 2010), 95-96.
Citado por James C. Hunter, The World’s Most Powerful Leadership Principle (New York:
Crown Business, 2004), 141.
David Brooks, “The Sandra Bullock Trade”, The New York Times, March 29, 2010,
http://www.nytimes.com/2010/03/30/opinion/30brooks.html.
Ibid.
Ibid.
Ed Stetzer, “Despite Wrong Doomsday Stats, Pastors Holding Up Just Fine,” Christianity
Today, November 6, 2015,
http://www.christianitytoday.com/edstetzer/2015/november/despite-wrong-doomsday-stats-
pastors-holding-up-just-fine.html.
Ibid., citing Bob Smietana, “Mental Illness Remains Taboo Topic for Many Pastors”, LifeWay
Research, September 22, 2014, http://lifewayresearch.com/2014/09/22/mental-illness-
remains-taboo-topic-for-many-pastors/.
Ibid.
Mark Greene, “Why Men Have So Much Trouble Making Friends”, Salon, April 12, 2014,
http://www.salon.com/2014/04/12/why_do_mens_friendships_feel_so_hollow_partner/.
Jonathan Holmes, The Company We Keep: In Search of Biblical Friendship (Minneapolis:
Cruciform Press, 2014).
Matthew Edlund, The Power of Rest: Why Sleep Alone Is Not Enough (New York:
HarperCollins, 2010), Kindle edition, loc. 2275.
Alan Loy McGinnis, The Friendship Factor (Minneapolis: Fortress Press, 2003), Kindle
edition, loc. 95.
Ibid., loc. 8–9.
Yang Claire Yang et al., “Social Relationships and Physiological Determinants of Longevity
across the Human Life Span”, Proceedings of the National Academy of Sciences of the
United States of America, July 20, 2015, http://www.pnas.org/content/113/3/578.abstract.
McGinnis, The Friendship Factor, Kindle edition, loc. 18-19.
Citado em Edlund, The Power of Rest, Kindle edition, loc. 2305.
Holmes, The Company We Keep, Kindle edition, loc. 69.
OFICINA DE REPAROS 10 |
RESSURREIÇÃO
Cada um dos homens que eu tenho treinado por meio do
Processo de Resetar tem saído dele com profunda gratidão a Deus
por tê-lo levado a tanto. Sem importar o quanto estavam relutantes
em entrar nesse processo – todos agradecem a Deus pela
experiência, não apenas pelos diversos consertos realizados, como
também pela perspectiva de uma vida nova e melhor do que aquela
vivida anteriormente. Alguns o compararam a uma
minirressurreição, um sabor ou amostra de como será a
ressurreição final, quando deixaremos para trás tudo o que se refere
à morte e experimentaremos a renovação de todas as coisas.
Sim, temos más lembranças dos velhos caminhos que nos
prejudicaram — o estresse debilitante, as expectativas nada
realistas, a negra depressão, a moral detonada, e almas esgotadas
— todas causando hesitação e medo de retornar à corrida. Mas a
abundância de novidade e graça nos encoraja a prosseguir.
Os novos caminhos que foram construídos em sua vida no
processo de Resetar podem incluir alguns ou todos os itens
seguintes:

NOVO RITMO

O versículo fixado à saída da garagem do Processo de Resetar, diz:


“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade,
correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o
alcanceis” (1Co 9.24). Quando lemos esse versículo antes de entrar
na garagem, só podíamos pensar em uma corrida de cem metros e
correr o tempo todo com a maior velocidade que conseguíssemos.
Mas aprendemos que a vida é vista melhor como corrida de longa
distância, em ritmo diferente, com habilidades e táticas diferentes,
para correr, desfrutar, terminar a corrida e ganhar a competição.
Sim, haverá tempos de crise em que teremos de acelerar e gastar
mais energia, quando teremos de trabalhar mais tempo e com maior
esforço do que neste novo conceito de vida, mas essa velocidade
aumentada ocasionalmente não será mais o nosso estilo de vida.
Essas emergências também não nos prejudicarão tanto quanto
antes porque construímos margens em nosso tempo e energia de
vida para ocasiões de ocupação, estresse e problemas inesperados.

NOVA CONSCIÊNCIA

Inicialmente, podemos esperar dificuldades quando tornamos nosso


passo mais lento. Pode ser difícil para nós porque, em comparação
com a vida anterior à reconfiguração, o Reset, podemos achar que
somos preguiçosos quando vamos mais devagar, ou culpados
quanto a reduzir nossos compromissos e tirar folgas para renovar
nossa energia. Quando esse falso senso de culpa entrar atrás de
nós, bater nos nossos ombros ou cochichar em nossos ouvidos “vá
mais depressa”, temos de educar nossa consciência com o
conhecimento bíblico e entendimento obtido na garagem onde se
realiza o Processo de Resetar. Este processo de reeducação da
consciência foi bem ilustrado no bilhete que Stephen me mandou:
Cheguei ao ponto de perceber que eu tinha de enfrentar a luta da falsa
culpa com a verdadeira culpa. Eu me achava culpado por não
conseguir ser tudo para todo mundo, o tempo todo. Em vez disso, eu
precisava sentir a culpa de tentar ser Deus. Precisava sentir culpa por
não me submeter aos limites sob os quais ele me colocou. O meu
problema basicamente era o mesmo de alguém que tenta viver além
de seus recursos financeiros. Eu estava gastando em exagero. Eu
havia me convencido que Deus requeria isso de mim. Tornei agressivo
o seu jugo; e pesado, o seu fardo.

NOVA HONESTIDADE
Nosso novo ritmo de vida pode parecer difícil para as pessoas que
nos cercam, acostumadas com nossa corrida mais veloz e com
maior capacidade. Precisamos de conversas honestas com nossa
esposa, nossos filhos, nossos pastores e presbíteros, nossos
amigos, e outros, a fim de explicar os ajustes que tivemos de fazer
em nossa vida devido ao envelhecimento e outros fatores. Não
podemos esperar que todos compreendam imediatamente ou
concordem completamente, mas temos de agir em fé, sabendo que
é a coisa certa para fazer para nós e para eles. Eu me surpreendo
quando vejo tantos homens assustados com minha própria
admissão de fraqueza e vulnerabilidade, e, então, uso isto para que
eles se deem a permissão de serem fracos e cansados e fazerem
os próprios ajustes para enriquecer a vida e expandir seu ministério.

NOVO CONTENTAMENTO

Em uma postagem de blog intitulada “Uma mentalidade de


maratona para o ministério”, o pastor Nick Batzig aponta para o
apóstolo Paulo sofrendo em uma prisão romana, no entanto,
escrevendo Filipenses 4.11-13, e nota: “O contentamento no
ministério é um segredo de perseverança no ministério. Os pastores
precisam aprender a viver contentes com o que a mão de Deus lhes
deu”.115 Parte desse contentamento é derivado das medidas
bíblicas de fidelidade e frutificação, em vez de padrões culturais. O
mesmo acontece também com os chamados não ministeriais.

NOVA SELETIVIDADE

Não estamos apenas correndo em ritmo mais lento, como também


participando de menos corridas – mas, corridas bem melhores.
Analisamos a nossa vida e decidimos quais as corridas que Deus
quer que participemos, quais os propósitos de vida que Deus deseja
que cumpramos. Em vez de sermos empurrados e puxados em cem
direções diferentes, correndo impensadamente por competições
desnecessárias, temos feito o propósito, o planejamento e a poda
para dizer não a muitas outras corridas possíveis — algumas delas
boas e nobres, mas não as corridas em que nós devemos participar.

NOVA ENERGIA

Nossa velocidade mais lenta usa menos combustível, combustível


melhor, e também esvazia o tanque mais devagar. Não estamos
mais nos balançando entre a hiperatividade e a hiperexaustão; não
tentamos mais correr apenas com a força de vontade e de tanque
vazio. Aprendemos o que nos esvazia e o que nos abastece.
Comemos e bebemos melhor, sabemos quando relaxar o ritmo,
quando descansar, e quando procurar ajuda dos outros membros do
time. Assim, estamos correndo com mais força e prazer, com
combustível mais limpo e saudável.

NOVA ALEGRIA

O que mais me empolga quanto a resetar a vida dos homens é ver a


nova alegria com a qual agora correm as suas corridas. No meu
primeiro contato com eles, noto que estão deprimidos,
desanimados, vazios e, muitas vezes, desesperados. Olham a pista
adiante deles e dizem: “Não consigo correr mais nenhum metro”, ou,
em alguns casos, “Não consigo dar mais um só passo”. Não têm
esperança de um futuro melhor nem expectativa de mudança
benéfica. Alguns deles querem dar um fim total em suas corridas;
alguns poucos pensam até em terminar com a vida.
Mas, ao se moverem pela garagem, vejo vislumbres de
esperança, ouço risos e sinto renovada alegria em seu trabalho e
em seu casamento. Eles acabam olhando para cima e vendo coisas
boas adiante deles, podendo até mesmo enfrentar coisas ruins com
fé em vez de temor. A vontade é fortalecida de modo que os
deveres que odiavam e evitavam tornam-se prazerosos e possíveis.
Os seus novos hábitos alimentares e de exercícios fortalecem sua
saúde física e emocional. Dias de folga, tempo livre e férias, não
induzem ao sentimento de culpa, vergonha ou atitudes defensivas,
mas são recebidos como dons de um Deus gracioso, o novo centro
da sua alegria. Possuem nova intimidade com ele, nova
dependência dele, nova visão dele, e novo prazer nele.

NOVA TEOLOGIA

Muito de nossa impulsividade vem de uma crença falsa em um Deus


que age por impulsos, uma visão de um Deus escravizador, um
severo capataz que jamais se satisfaz com nada, a menos que o
povo permaneça em um estado perpétuo de exaustão miserável.
Mas agora, tendo o foco em Deus como o amoroso Pai Celestial,
libertador de escravos, gracioso, que se deleita com seu povo, feliz
doador de toda boa dádiva a seus filhos, restaurador e reanimador
de seu povo, alimentador e provedor de água para suas ovelhas,
Deus parece diferente, e o mundo inteiro também parece diferente
— incluindo a pessoa no espelho. Sim, ainda desejamos servir
plenamente a Deus, mas estamos nos deleitando e descansando
mais em Deus. Há um profundo abraço e prazer no evangelho do
descanso, compreendido não somente pela mente e falado pelos
lábios, mas demonstrado também por uma vida pacífica, calma, de
confiança total no Deus da paz.

NOVA EQUIPE

Tenho aprendido por dolorosas experiências que preciso correr


como parte de uma equipe. Preciso que outros corram junto a mim,
para me encorajar, manter-me responsável por prestar contas a
alguém, me direcionar, e, às vezes, me carregar no colo.
Novamente eu falo, tem sido um prazer ver o processo de
Resetar ressuscitando relacionamentos essenciais em minha vida e
na vida de outros homens a quem tenho treinado. Casamentos
foram vivificados, a paternidade foi rejuvenescida, a
responsabilidade espiritual para com pastores e presbíteros foi
ressuscitada, e foram iniciadas e revitalizadas profundas amizades
entre homens, sendo compartilhada e vivida a vida em comunidade
vibrante, especialmente na igreja local. O pastor Doug me disse
animadamente: “Tenho me esforçado muito para criar uma equipe
multifuncional no meu ministério. Tenho sido sincero ao admitir que
não sou capaz de fazer tudo — e descobri que, ao delegar poder
para outras pessoas, a alegria delas aumenta enquanto aumentam
também a minha felicidade e paz”.

NOVA SENSIBILIDADE

O Processo de Resetar produz entendimento muito melhor e mais


humildade ao reconhecer nossa humanidade. Agora estamos de
olhos no painel e sabemos em quais luzes de advertência
precisamos prestar atenção, e o que elas significam — sinais de
alerta que anteriormente nós teríamos ignorado, minimizado ou
menosprezado. Somos sensíveis às mudanças físicas, mentais,
emocionais, espirituais e relacionais, e colaboramos com maior
conhecimento dos ritmos biológicos de nosso corpo. Sentimos a
mudança dos meses, o ritmo semanal de seis dias de trabalho e um
dia para descanso, a cadência diária de trabalho e repouso, o tempo
regular de fome e sede, e mesmo o pulso da energia dinâmica que
está em alta algumas vezes por dia, nos capacitando a descobrir o
estado de nosso fluxo e a realizar nosso melhor trabalho. Indo
adiante, estamos mais sintonizados a este ritmo dado por Deus, e
em vez de lutar contra este ritmo, entramos na onda e no pulsar da
ordem de Deus em nossa vida.
Nossas experiências também nos têm dado sensibilidade ao
perigo que outras pessoas correm, conforme evidenciado por este
apelo de um homem que passou pelo Processo de Resetar:
Escrevo isto depois de quase dois dos anos mais inesperados da
minha vida. Grande parte desses dois anos foi bom, e algumas partes
foram uma prova do inferno. Mas Cristo me fez sair dessa. Ainda estou
aprendendo. Sou um aprendiz muito lento, mas estou de volta à
corrida, indo mais devagar, mas com maior confiança de
eventualmente cruzar a linha de chegada. Aguardo uma coroa, ganha
não por meus merecimentos, mas por meu bendito Salvador. Corro,
porém, com maior cautela. Espero que minha história sirva como
chamada para acordar outros corredores que no momento podem
estar me ultrapassando, mas que correm sem combustível. Não me
deixe ver você esparramado na lateral, com socorristas correndo para
seu lado. Acredite, esse é um lugar assustador para se encontrar.

NOVAS FERRAMENTAS

De vez em quando ainda estragamos nossa corrida. Tropeçamos,


saímos da pista, corremos à frente de nosso time, e ainda
acabamos de novo em um monte exausto de desânimo. A diferença
agora é que temos as ferramentas para diagnosticar o que deu
errado, consertá-lo, e ir em frente no caminho que nos foi traçado.
Em vez de entrar em pânico, voltamos ao Processo de Resetar para
reparos e ajustes. Já tendo passado por isso antes, desta vez
podemos passar com maior rapidez, e voltar novamente à pista na
velocidade certa.

NOVO PLANO DE SERVIÇO

Quando faço exercícios físicos, posso não sentir sede, mas tomo
água com regularidade porque sei que, se não o fizer, terei dor de
cabeça severa devido à desidratação mais tarde à noite. É por isso
que, mesmo sem esperar por uma crise, eu retorno regular e
voluntariamente ao Processo de Resetar para uma revisão,
pequenos consertos e reabastecimento. Eu encorajo você a fazer o
mesmo. No início de cada mês, depois de cada trimestre, gaste
algum tempo em cada oficina de reparos, verificando que tudo
esteja correndo bem, fazendo quaisquer ajustes necessários,
refinando seu ritmo para que possa correr melhor, com mais
sabedoria e segurança. Como diz Roland Barnes: “É difícil fazer um
trem que anda devagar sair dos trilhos”.116

NOVOS ÓCULOS

O futuro parece mais claro e brilhante porque temos novos óculos,


com novo foco e novo filtro. Em vez de simplesmente correr com
fúria em todas as direções, ao focar agora em nossos propósitos
específicos de vida, temos claro senso do por que, e para onde,
estamos correndo. Voltamos frequentemente a esses propósitos, a
fim de assegurar que ainda estamos na pista certa, e para nos
encorajar com nosso progresso.
Mas nossos novos óculos vêm com um filtro singular que nos
capacita a ler, compreender e utilizar a pesquisa que Deus permite a
cientistas e outros descobrirem. Através deste livro, temos tirado
muita verdade diretamente da Palavra de Deus, mas também temos
usado sabedoria extraída de livros não cristãos.
Isso diminui ou deixa de lado a Palavra de Deus?
Não, porque a suficiência da Escritura significa que não
precisamos mais da revelação especial, não que devamos
desprezar toda fonte não bíblica de conhecimento. Utilizamos,
porém, nosso conhecimento bíblico para filtrar o conhecimento não
bíblico. João Calvino usou a ilustração dos óculos para explicar
isso.117 Disse ele que a Bíblia não é apenas aquilo que lemos nela,
mas também aquilo que usamos para ler. Lemos todo o
conhecimento através da lente da Bíblia, porque ela é suficiente
para nos guardar de cair em erro quando lemos a verdade que Deus
colocou neste mundo.
NOVA VIGILÂNCIA

Por meio de um encontro com nossa fragilidade, somos lembrados


de nossa própria mortalidade, de como é curta a vida. Somos muito
mais conscientes da passagem do tempo e da necessidade de
redimi-lo da maneira mais sábia possível. Relegamos tudo que não
é essencial, e enfocamos apenas no que é imprescindível, sabendo
que no final do nosso tempo ou no fim de todos os tempos, teremos
de prestar contas a Deus por nosso tempo gasto nesta terra.

NOVA PACIÊNCIA

O segredo para o sucesso da noite para o dia é que não existe tal
segredo. Conforme ressaltou a Fastcompany,118 sucesso da noite
para o dia é algo extremamente raro. Por exemplo, Angry Birds
(Aves Iradas), o aplicativo de jogos de maiores vendas, foi a
quinquagésima segunda tentativa do criador de software Rovio em
fazer um programa bem-sucedido em oito anos de quase falência.
James Dyson fracassou com cinco mil cento e vinte e seis protótipos
antes de aperfeiçoar seu aspirador de pó revolucionário. O
lubrificante de Norman Larsen conseguiu seu nome, WD-40, porque
as suas primeiras trinta e nove experiências falharam. WD-40
significa literalmente ““Water Displacement–40th Attempt”
(Deslocamento de Água – quadragésima tentativa). Esses
inovadores tiveram sucesso porque humildemente assumiram os
seus erros, utilizaram-nos como oportunidades de aprendizado, e
continuaram perseverando a medida que cada tiro os levava para
mais perto do centro do alvo.
Muitos entre nós se esgotaram, detonaram ou acabaram
deprimidos porque estávamos dirigindo depressa demais; ou
desistimos, desanimados por nossas falhas e desapontamentos.
Mas o Processo de Resetar nos ensinou a correr com mais
paciência e perseverança, mesmo através de muitas dificuldades.
NOVO EQUILÍBRIO119

Tente imaginar a sua vida em um gráfico com certo número de


colunas: família, trabalho, igreja, decisões, finanças, mídia, pessoas,
tecnologia, trânsito, informações, escolhas, e assim por diante. A
sua capacidade de energia fica dividida entre cada coluna no
começo de cada dia, e cada momento do dia drena a energia de
uma coluna, dependendo do que você estiver fazendo.
Antes do Processo de Resetar, algumas dessas colunas, quem
sabe a maioria delas, estavam negativas e abaixo da linha base.
Quase todos os dias, você gastava a energia que lhe fora designada
e mais que isso, especialmente em determinadas colunas. Depois
do Processo de Resetar, existe equilíbrio muito maior, a energia é
alocada mais apropriadamente, e, no final da maioria dos dias, cada
coluna continua ainda positiva, acima da linha.

NOVOS HÁBITOS

Apesar de muitas dessas novas atitudes parecerem difíceis e


desajeitadas de início, por repetição elas se tornam hábitos quase
automáticos. A ciência descobriu que a repetição de atos e palavras,
eventualmente, cria novos caminhos e novas conexões neurais que
se tornam cada vez mais fáceis de serem seguidos pelo cérebro.
Embora algumas dessas novas conexões possam ser feitas dentro
de umas duas semanas, até mesmo as mudanças mais difíceis
poder ser feitas dentro de dois meses. Se isso é possível sem a
ajuda do Espírito Santo, quanto mais pode ser feito com ele?

NOVOS OBSERVADORES

Antes de Resetar, estávamos envolvidos demais no agrado a


homens, sintoma comum de uma vida esgotada. Corríamos para
sermos notados e elogiados pelos outros. Éramos motivados
demais por números: amigos e curtidas do Facebook, sons e
notificações do Twitter, comentários dos blogs, etc. Para pastores,
os números envolviam quantidade de membros da igreja, de
batismos, de pontos de pregação, livros, convites para falar em
conferências, pessoas evangelizadas, etc. Perdemos de vista o
único espectador que é realmente importante — o Senhor. Agora,
corremos para agradá-lo, olhando para Jesus, autor e consumador
da nossa fé (Hb 12.2).

NOVA HUMILDADE

Um diretor de escola me disse que, quando voltou à escola pela


primeira vez depois de estar ausente por duas semanas, devido ao
esgotamento, “ao passar pelo corredor, uma criança que chorava,
acompanhada de outras pessoas, entrou e passou diretamente na
minha frente para encontrar o diretor substituto. Isso foi um duro
baque. Na verdade, ninguém é indispensável. Talvez o zelador, mas
não o diretor. Eu sabia disso, mas ainda não tinha plena consciência
do fato”.
Elizabeth Moyer descreve o alívio humilhante de aprender a
substituir a dependência pela independência:
As fases mais estressantes da minha vida culminam em um momento
quando percebo que não posso fazer tudo. Lembro minha finitude e
falibilidade humana. Em vez de perder o fôlego de ansiedade, devo
respirar fundo em alívio. Eu não consigo fazer tudo, mas também não
preciso fazer tudo. Eu não sou suficiente, mas Cristo é. Se o Criador
do universo me amou bastante a ponto de morrer por mim e tirar todo
meu feio pecado, então ele se importa com as pressões da vida que
pesam diariamente sobre mim.120

Quando olhamos para o chão da garagem de Resetar, vemos um


monte de pecinhas e pedaços enferrujados e quebrados que
felizmente deixamos para trás: independência, autossuficiência,
autoconfiança, indispensabilidade e invencibilidade.

NOVA GRAÇA

O Processo de Resetar detona nossa performance suada de


desempenho e abre o coração para recebermos mais da refrescante
graça de Deus. Em postagem de seu blog intitulada “Liberdade
decorrente da esteira de desempenho”, o pastor Paul Tautges
testemunhou como o livro de Jerry Bridges, Graça Transformadora,
o libertou da frustração e depressão de pensar em si mesmo
“apenas como fracasso constante que jamais chegava à altura das
minhas expectativas perfeccionistas, e, assim, não me sentia
completamente aceito por Deus... eu havia mudado a base de
minha aceitação por parte de Deus somente por sua graça para a
sua graça mais o meu desempenho diário por ele”.
A parte específica do livro de Bridges que encerrou essa esteira
rolante foi o seguinte parágrafo:
Viver pela graça em vez de viver pelas obras significa que você está
livre da esteira do desempenho. Quer dizer que Deus já lhe deu dez
quando você merecia um zero. Já lhe deu o pagamento de um dia
inteiro mesmo que você tenha trabalhado apenas por uma hora.
Significa que você não tem de desempenhar certas disciplinas
espirituais para ganhar a aprovação divina. Jesus Cristo já fez isso por
você. Você é amado e aceito por Deus pelos merecimentos de Jesus,
é abençoado por Deus pelos méritos de Jesus. Nada do que você
possa fazer poderá fazer com que ele o ame mais ou ame menos. Ele
o ama unicamente por sua graça dada a você por meio de Jesus.121

Quando vivemos uma vida baseada na graça, não apenas


recebemos mais graça, como também doamos mais graça.
Cônscios de nossas fraquezas e fragilidades, estendemos mais
graça aos outros que fraquejam e caem. Um pai me explicou como
“o passar por um esgotamento, mudou meu modo de agir como pai.
De repente, percebi que eu pedia que meus filhos fizessem coisas
que eu mesmo não estava fazendo. Passei a me simpatizar mais
com as lutas que eles enfrentavam. Em casa havia muito mais
conversas sobre graça. Sou muito grato por isso”.

NOVOS FRUTOS

Em maio de 1985, a montanha de inventário não vendido da Apple


crescia junto com as suas dívidas. As vendas diminuíam e as
perdas cresciam vertiginosamente. O cofundador da Apple, Steve
Jobs, foi “aliviado das responsabilidades operacionais”, e poucos
meses depois, pediu demissão do cargo de diretor para começar
uma nova companhia de computação denominada NeXT.
O que veio a seguir para Jobs foi inesperado — doze anos de
deserto corporativo. Doze anos de fracasso doloroso, desanimador,
humilhante, cheio de estresse. A sua visão era construir um
computador com estrutura de alta potência para estudantes. Foi
recomendado que mantivesse o preço abaixo de dois mil dólares,
mas acabou indo ao mercado com um computador mais fraco com o
preço de seis mil e quinhentos dólares — para estudantes! Só a
impressora custava mais dois mil dólares. Quando os estudantes
não aderiram, Jobs tentou vender para as empresas, mas não
conseguiu um desempenho muito melhor.
Jobs foi convidado a voltar para a Apple em 1997, e que volta foi
essa! O modelo empresarial da Apple estava podre e fermentando.
Não era frutífero. Mas o retorno de Jobs deu a volta na Apple, e o
resto, como dizem, é a história (e bilhões de dólares).
O que mudou? Todos que conhecem Steve Jobs concordam que
seus anos de deserto o transformaram. Randall Stross, professor de
administração na Universidade Estadual de San Jose, comentou: “O
Steve Jobs que retornou à Apple era um líder muito mais capaz —
precisamente por ter sido fortemente detonado. Ele passou doze
anos tumultuosos, dolorosos, falhando em encontrar um modo de
tornar lucrativa a nova companhia”.122 Tim Bajarin, presidente de
Creative Strategies (Estratégias Criativas), disse: “Estou convicto
que ele não teria se tornado bem-sucedido depois da sua volta para
a Apple se não tivesse passado por sua experiência de deserto em
NeXT”.123
Claro que a ideia de uma experiência no deserto em que a vida é
transformada não é novidade para o cristão. Moisés, Davi, e mesmo
o nosso Senhor, frequentaram a Universidade do Deserto. Ninguém
deseja estudar ali, mas, às vezes, Deus vê como propício nos enviar
para lá. Eu estive matriculado um bom par de vezes, aprendendo
repetidamente que Deus frequentemente nos fere e quebra para nos
preparar para sermos úteis e frutíferos no futuro.
Se você pegou este livro para ler, há boa chance que Deus o
tenha matriculado na Universidade do Deserto, embora talvez você
relute em assistir as aulas. Às vezes, encontro homens que têm
medo de admitir que necessitam resetar a vida. Temem o que
possam descobrir a respeito de si mesmos e ficam apreensivos
quanto às mudanças que serão requeridas em sua própria vida.
Quando lhes falo dos ajustes que precisam ser feitos, muitas vezes
eles resistem. Quando lhes digo que têm de diminuir a velocidade
em vinte por cento, dormir mais vinte por cento, ou reduzir o serviço
no ministério em vinte por cento, o que eles interpretam destas
palavras é: “A vida acabou, eu já era, sou apenas um servo
preguiçoso e infrutífero”. Para a maioria deles, fazer vinte por cento
menos os leva simplesmente para uns cento e vinte por cento
daquilo que a maioria das pessoas normais faz com sua vida!
Menos não significa nada. Algumas mudanças não querem dizer
mudanças totais.
Estranhamente, a maioria deles me conta que a vida deste lado
do Processo de Resetar eventualmente acabou sendo mais
abundante e proveitosa. Eles estão fazendo menos, mas realizando
mais. Reduziram um pouco o seu trabalho, mas tem visto Deus
trabalhando muito mais. Frequentaram a Universidade do Deserto,
mas formaram-se com cestas cheias de frutos.

NOVO CRISTO

Muitos homens que experimentaram um esgotamento ou


quebrantamento têm me falado sobre o quanto aprenderam sobre
Cristo, especialmente sobre a humanidade dele. Este ganho foi
perfeitamente ilustrado no artigo de Brad Andrews: “Graça Ilimitada
para Líderes Limitados”, onde escreveu:
Somente podemos descansar em nossas limitações quando vemos
que o próprio Jesus se limitou, deixando a cultura da Trindade e
entrando na cultura humana por amor de nós. O seu ato de
encarnação e redenção resolve a nossa necessidade de significado
deste lado da eternidade. Líderes saudáveis aceitam as suas
limitações porque, quando olhamos para Jesus, vemos a limitação
máxima — Deus se tornou carne e sangue para nos outorgar resgate
espiritual. Ao repousarmos nesta verdade, deixamos que Aquele que
não é limitado, que tem graça ilimitada, nos dê coragem para sermos
os líderes limitados que somos, e, no final, florescer pelo bem de
nossas igrejas e do evangelho.124

NOVA ESPERANÇA

Temos experimentado o poder de ressurreição de Deus em nossa


vida, que nos dá tremenda confiança para enfrentar o futuro e até
mesmo os velhos problemas e desafios que antes nos esmagavam.
Não dependemos mais de nossos recursos limitados da razão e da
persuasão, mas confiamos no poder de ressurreição de Deus em
mudar as pessoas e os lugares.
Isso nos leva à esperança máxima da ressurreição final.

NOVO HORIZONTE
Antes do Processo de Resetar, muitos de nós mal olhávamos para
cima. Só víamos o próximo item a ser feito, abaixávamos a cabeça e
íamos em frente. Víamos a próxima reunião, o próximo relatório, a
próxima viagem a negócios, o próximo sermão, o próximo livro, a
próxima sessão de aconselhamento, etc. Mas nunca vimos a vida
futura.
O Processo de Resetar fez ressurgir a esperança da
ressurreição. A ressurreição que experimentamos aqui nos deu um
sabor da ressurreição final que está adiante de nós, onde toda dor e
sofrimento, todo pranto e depressão, toda perda e fraqueza não
mais existirão. Também diminuiu nossos ritmos o suficiente para nos
permitir tempo e espaço para olhar à frente e ter prazer no que
vemos, antecipando o destino final, em que experimentaremos que
“os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com
a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18). Uma vida pautada pela
graça nos transporta a uma eternidade cheia de graça e glória.
Corramos de modo que possamos dizer:
Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a
coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará
naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos
amam a sua vinda (2 Tm 4.7–8).

Vamos correr para obter o prêmio, o prêmio de todas as coisas


novas.
Nick Batzig, “A Marathon Mentality for Ministry”, Christward Collective, March 17, 2016,
http://www.alliancenet.org/christward/a-marathon-mentality-for-ministry#.VvAUn5MrJcA.
Citado em ibid.
João Calvino, Institutes of the Christian Religion, ed. John T. McNeill, trans. Ford Lewis
Battles, Library of Christian Classics, vols. 20-21 (Philadelphia: Westminster, 1960), 1.6.1.
Josh Linkner, “The Dirty Little Secret of Overnight Successes”, Fastcompany, April 3, 2012,
http://www.fastcompany.com/1826976/dirty-little-secret-overnight-successes.
Veja Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time
Reserves to Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), Kindle edition, loc. 186
Elizabeth Moyer, “What Is a Biblical Response to Stress?” Institute for Faith, Work &
Economics, March 16, 2016, https://tifwe.org/a-biblical-response-to-stress/.
Jerry Bridges, Transforming Grace: Living Confidently in God’s Unfailing Love (Colorado
Springs: NavPress, 1991), 73. Cited in Paul Tautges, “Freedom from the Performance
Treadmill,” Counseling One Another, March 19, 2016,
http://counselingoneanother.com/2016/03/19/freedom-from-the-performance-treadmill-2/.
Randall Stross, “What Steve Jobs Learned in the Wilderness”, The New York Times,
October 2, 2010, http://www.nytimes.com/2010/10/03/business/03digi.html.
Citado em ibid.
Brad Andrews, “Limitless Grace for Limited Leaders”, For the Church, February 29, 2016,
http://ftc.co/resource-library/1/1933.
AGRADECIMENTOS
Este livro não seria possível sem que homens cristãos
confiassem a si mesmos e as suas histórias a mim no decorrer dos
anos, especialmente aqueles que o fizeram para os propósitos deste
livro. Muitos homens piedosos têm derramado seu coração a mim,
vindo de quebrantamentos, fraquezas e vulnerabilidade, trabalhando
junto comigo para aprender aos poucos a viverem pautados pela
graça em meio a uma cultura de esgotamento. Aprendi muito deles
e com eles, e aproveito esta oportunidade para saudar sua fé,
coragem e transparência. Irmãos, neste livro eu mudei os seus
nomes para proteger a sua privacidade, mas espero que vocês
sejam encorajados, porque Deus está usando as suas experiências
doloridas para curar e ajudar outros que tenham colidido e
queimado.
Sou profundamente grato a Justin Taylor, vice-presidente
executivo de publicações de livros, na Crossway, por ter dado início
a este livro e me convidado a escrevê-lo, e pelas ideias que sugeriu
para serem a base desta obra. Eu tinha o compromisso de um
grande projeto de pesquisa a longo prazo, e não procurava outra
tarefa de escrita na época. Mas o entusiasmo de Justin me animou
e energizou com a perspectiva de que este livro poderia abençoar a
muitos homens cristãos, talvez, em especial, os líderes no
ministério. Como alguém que aprendeu muito do blog e dos livros de
Justin, e de observá-lo empregando humildemente a sua influência
e liderança pela causa de Cristo, considero um privilégio trabalhar
com ele no evangelho desta forma. Agradecimentos especiais
também à equipe de apoio de Justin, da Crossway; e não menos às
habilidades de primeira grandeza de Greg Bailey, na editoração.
Sou grato ao conselho e aos membros do corpo docente do
Seminário Teológico Puritano Reformado, que constantemente me
incentivam a escrever mais amplamente para a igreja e me
oferecem toda a oportunidade para isso.
A minha amada Shona, agradeço por correr junto comigo a
corrida da vida por vinte e cinco anos. Obrigado por me ajudar a
passar pelo Processo de Resetar mais de uma vez, e por
pacientemente me ensinar a viver uma vida no ritmo da graça em
meio a uma cultura de esgotamento.
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