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Reset - David Murray
Reset - David Murray
SÓ NA MEIA IDADE?
SOMENTE HOMENS?
SOMENTE PASTORES?
Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus
decretos. (Sl 119.71)
ESGOTAMENTOS E COLAPSOS
Por que eu deveria escrever isso tudo? Por que não aprender as
lições em particular? Creio que Deus me deu estas experiências não
somente para me ensinar, mas também para ajudar outras pessoas
que se esgotaram ou estão prestes a se esgotar. Visto que comecei
a falar a este respeito a tantos homens cristãos em diversas
conferências, encontrei incontáveis outros que haviam sofrido
esgotamentos ou colapsos de uma ou outra espécie — alguns eram
físicos como o meu, mas outros eram esgotamentos mentais ou
relacionais, enquanto ainda outros eram distúrbios emocionais ou
lapsos morais. Alguns daqueles homens ainda não estavam em
colapso, mas estavam preocupados com os enormes sinais de
advertência em suas vidas, querendo fazer alguma coisa para
prevenir o desastre prestes a acontecer. Um pastor confidenciou:
“Meu ministério havia se tornado uma casca sem coração, uma
questão de deveres infindos, sem a mínima alegria. Todo domingo
eu falava coisas verdadeiras ao povo de Deus, boas coisas. Mas
não eram mais coisas que eu vivia pessoalmente. Só faziam parte
de meu trabalho”.
Quaisquer que fossem as diferenças, qualquer que fosse a
pessoa, quaisquer que fossem os problemas, qualquer que fosse o
estágio de estresse ou esgotamento, todos notavam que viviam num
ritmo veloz demais e precisavam reconfigurar a própria vida. Eles
queriam que fosse mais bem refletida a graça do evangelho em seu
ritmo de vida. Desejavam maior alegria no serviço do evangelho.
Isso me estimulou a começar a desenvolver um programa
informal que agora chamo de Processo de Resetar. Eu o tenho
usado com inúmeros homens, e agora, através deste livro, desejo
ajudá-lo a redefinir a sua vida para que você possa evitar colisões
ou recuperar-se delas, estabelecendo padrões e ritmos que o
auxiliem a viver uma vida no ritmo da graça e levá-lo até a linha de
chegada com sucesso e alegria.
Isto não é fácil para a maioria de nós. Somos homens
independentes, autossuficientes, que acham difícil admitir
fraquezas, procurar ajuda, e mudar o vício tão fortemente arraigado
em nós de trabalhar demais, de nos ocuparmos demais,
produzirmos em demasia. Para pastores e líderes de ministério é
especialmente difícil; visto que muito de nosso trabalho é invisível e
intangível, podemos ser tentados a nos esforçar acima do que
podemos nas tarefas visíveis, a fim de provar que estamos ativos e
somos fortes. Mas é difícil também porque nosso trabalho é mais
obviamente um trabalho evangelístico. Como nos afastarmos disso?
Como diminuir a velocidade? Como descansar quando há almas
para serem salvas, sendo este um trabalho inerentemente tão bom
e tão (perigosamente) prazeroso?
Já estive lá e, de certa forma, ainda estou lá. Ainda é uma luta
diária continuar em um passo seguro. Mudar padrões de
pensamento, crenças e ações da vida inteira pode ser
extremamente difícil. Mas vale a pena lutar por uma vida cadenciada
pela graça, não só porque viveremos mais tempo (assim,
serviremos por mais tempo), como também com mais alegria, frutos
e “repletos de graça”.
Portanto, quero persuadi-lo a viver uma vida melhor e mais útil;
quero também persuadir você quanto a seriedade da sua situação.
O resto deste capítulo deverá desafiá-lo a avaliar a sua vida, a ter
uma visão sóbria, não somente do que é externo, mas do que
acontece internamente — em seu coração e mente. Isso não será
apenas o egocentrismo de olhar o próprio umbigo. “Cuidar de si
mesmo é o primeiro passo para cuidar dos outros, por amar o
próximo como a si mesmo”,6 diz J. R. Briggs. Não é egoísmo repor a
energia e renovar a vitalidade para melhor servir a Deus e ao
próximo. Como disse um de meus amigos: “Primeiro coloque a
máscara de oxigênio em você para então poder ajudar os outros”.
Então, vamos entrar na Oficina de Reparos 1, completar a lista de
verificação abaixo, e recomendo que a utilize para uma verificação
da realidade antes que a realidade o derrube, tal como fez comigo.
AVERIGUAÇÃO DA REALIDADE
SITUAÇÃO DE VIDA
ESTILO DE VIDA
PALHAS E MARTELOS.
Consequências na Sociedade
Pergunta: Qual dos Dez Mandamentos você consegue guardar
quando dorme? Resposta: O sexto: Não matarás (Êx 20.13), porque
dormir o suficiente é um ato de amor ao próximo, conforme
demonstram as estatísticas a seguir.
O prejuízo no trânsito que resulta de estar acordado por vinte e
quatro horas é maior do que dirigir embriagado em todos os estados
dos Estados Unidos. De acordo com a Administração Nacional de
Segurança no Trânsito, dormir enquanto dirige é responsável por
pelo menos cem mil batidas, setenta e um mil feridos, um mil
quinhentos e cinquenta mortes a cada ano nos Estados Unidos.28
Desastres como o derrame de petróleo da Exxon Valdez e a
explosão da nave espacial Challenger, bem como o acidente do
Metro North, da cidade de New York, estavam todos ligados à
privação de sono.
Em nível mais corriqueiro, noto (como também minha família) que
fico muito mais irritado, de mau humor e propenso a entrar em
conflito quando durmo pouco. Não existe produtividade que valha
tais danos aos relacionamentos preciosos.
Consequências Financeiras
Por colocar em jogo a segurança, criatividade, capacidade de
resolver problemas e a produtividade, estima-se que o tempo de
sono insuficiente custa às empresas norte-americanas sessenta e
três bilhões de dólares por ano. Estudos mostram que consumidores
e clientes tendem a considerar como pouco saudável e sem ânimo
um vendedor a quem faltou horas de sono, reduzindo assim as
vendas.
Também, apesar das piadas contrárias, muitos empresários
construíram seu sucesso sobre o sono. Jeff Bezos, da Amazon,
afirmou: “Estou mais alerta e penso com maior clareza. Eu me sinto
muito melhor o dia todo após ter dormido durante oito horas”.
Embora um dos fundadores da Netscape, Mark Andressen,
costumasse dormir pouco, ele aprendeu a lição: “Sete [horas] e
começo a degradar. Seis é insuficiente. Cinco é um grande
problema. Quatro horas significa que sou um zumbi”.29
Consequências Morais
Estudos mostram que a falta de dormir esgota e enfraquece o
centro de autocontrole do cérebro, levando a níveis mais altos de
comportamentos antiéticos. Em um estudo em grupo sobre as
pessoas trapacearem ou não, dadas tentações idênticas, as
pessoas que não trapacearam dormiram uma média de vinte e dois
minutos mais do que aquelas que cometeram trapaças. A diferença
entre atos morais e imorais foi de apenas vinte e dois minutos de
sono! O ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse certa
vez que todo erro maior que ele cometeu coincidiu com ter perdido o
sono. Se isso não o fizer dormir mais, nada mais vai fazê-lo.
Um homem me procurou para aconselhamento, depois de ter
sido provado que dirigia sob influência de álcool, e admitiu que
dormia somente três a quatro horas por noite, e que bebia cada vez
mais a cada semana. Uma vez que aumentou seu tempo de dormir,
o seu desejo pelo álcool diminuiu.
Consequências Espirituais
Existe mais que moralidade em jogo; nossa espiritualidade
também está em jogo. Pense neste parágrafo de Don Carson:
Se você for um dos que se tornam desagradáveis, cínicos ou mesmo
cheio de dúvidas quando perdem o sono, você está moralmente
obrigado a procurar conseguir o sono que necessita. Somos seres
inteiros e complicados; a existência física está ligada ao bem-estar
espiritual, à percepção mental, aos nossos relacionamentos com os
outros, inclusive o relacionamento com Deus. Às vezes, a coisa mais
piedosa que se pode fazer no universo é conseguir uma noite de sono
reparador — não orar a noite toda, mas apenas dormir. Com certeza,
não nego que haja ocasião para orar a noite inteira; estou apenas
insistindo que no decurso normal das coisas, a disciplina espiritual nos
obriga a obter o sono de que o corpo necessita.30
Consequências no Ministério
Não é surpresa que todos os danos delineados acima
inevitavelmente levam também a problemas no ministério. Um
pastor compartilhou que tinha sido criado e treinado a pensar que
“se punirmos ou negligenciarmos nosso corpo no serviço do reino,
Deus magicamente anulará quaisquer consequências negativas”.
Ele advertiu: “Pode ser que não percebamos que acreditamos nisso
até que as consequências se materializam e ficamos confusos e
amargurados contra Deus”.
Quando dava uma palestra sobre Charles Spurgeon ter sofrido
com depressão, John Piper disse:
Emocionalmente, sou menos resistente quando perco o sono. No
passado, quando eu trabalhava sem me importar em dormir, ainda
assim me sentia animado e motivado. Mas nos últimos sete ou oito
anos, o meu limiar para desânimo está bem mais baixo. Para mim, o
sono adequado não é apenas questão de manter-me saudável. É
questão de permanecer no ministério. É irracional que meu futuro
pareça mais triste quando eu durmo apenas quatro ou cinco horas de
sono por várias noites seguidas. Mas, isso é irrelevante. São estes os
fatos. Tenho de viver dentro dos limites dos fatos. Eu recomendo a
você dormir o suficiente, por amor de sua comunhão com Deus e das
suas promessas.31
A essa altura, espero que você esteja implorando ajuda para dormir
melhor. Quem sabe, está até pensando em manter ao lado da cama
uma marreta para derrubá-lo e fazê-lo dormir. Felizmente, existem
meios mais fáceis para dormir melhor — e pregar um sermão
melhor enquanto dorme. Eis algumas maneiras de melhorar os seus
hábitos de sono.
Conhecimento
Se nossas escolas estudassem sobre o sono em vez de álgebra,
a sociedade seria mais saudável, segura e alerta. Apesar do sono
tomar de um quarto a um terço de nossa vida e ter tanta influência
no restante dela, a maioria de nós sai da escola em total ignorância
do porquê e do como dormir. Visto que o conhecimento não
somente nos guia como também nos motiva, por que não buscar
mais informações em algumas das notas de rodapé deste capítulo
ou ler The Power of Rest (O poder do descanso) pelo médico do
sono Matthew Edlund (deixe de lado a parte que cheira a Nova Era)
ou And So to Bed...: A Biblical View of Sleep por Adrian Reynolds.32
Conheça melhor a você mesmo e descubra o quanto você
realmente precisa dormir para viver bem. A maioria das pessoas
precisa entre sete a nove horas de sono todo dia. Eu consigo passar
bem com sete e melhor ainda com sete e meia, mas oito horas ou
mais não parece fazer diferença apreciável. Se eu durmo menos
que sete por alguns dias, as consequências começam a se
multiplicar. Encontre seu ponto ideal e fique com ele.
Disciplina
Só conhecimento não basta; precisamos de planejamento, força
de vontade e disciplina para fazer os ajustes necessários às nossas
expectativas, agendas e estilos de vida. Precisamos pedir a Deus
que nos ajude a ver isso como uma prioridade na vida, uma questão
de obediência e uma maneira de agradar a nosso Pai e Criador.
Imploremos que ele nos dê a força necessária para fazer o que
sabemos que temos de fazer.
Rotina
Se buscamos ser coerentes em nossa hora de dormir, na hora de
levantar e na rotina antes de ir para a cama, nosso corpo aprenderá
essa rotina, construirá um ritmo e injetará as substâncias químicas
corretas que nos preparam para dormir. Conforme escreve Edlund:
Preparar para dormir pode ser tão importante quanto o tempo em que
você vai dormir. O seu corpo não foi feito para pular de repente da
extrema atividade mental e física para um sono imediato. Descanso e
atividade exigem transições... tudo funciona melhor se o seu período
antes do sono for rotineiro, rítmico e ritualizado. Você realiza um ritual
de dormir noite após noite, e com isso seu cérebro e corpo se
acostumam à ideia que esse pequeno grupo de comportamentos vai
ajudá-lo a dormir e proverá descanso completo.33
Jejum da Mídia
Um amigo não conseguia descobrir por que achava difícil dormir
e acordava frequentemente com pesadelos. Eventualmente, admitiu
que estava assistindo filmes logo antes de tentar dormir! Se
estimularmos nosso cérebro (e a química do corpo) com e-mail,
Facebook, filmes, noticiários na TV, jogos de computador, noticiários
esportivos, cafeína ou outros energizantes, estaremos pedindo sono
em atraso e perturbado — e vamos obter exatamente isso.
Cooperação da Família
Adolescentes barulhentos até tarde da noite ou uma esposa que
prefere ficar acordada até tarde pode tornar difícil estabelecer uma
hora de dormir mais cedo e mais tempo para dormir. Talvez seja
preciso uma conversa entre os membros da família, para examinar
maneiras de um ajudar o outro a fazer as concessões necessárias,
a fim de se obter sono suficiente para todos. Nós estabelecemos um
toque de recolher às dez da noite para as noites de domingo até
quinta-feira. Nas sextas e sábados, até às onze da noite.
Exercício
Se ficamos sentados à escrivaninha ou no carro o dia inteiro e
esperamos estar cansados a ponto de dormir, podemos esperar uns
protestos do corpo: “Ei, você ainda não fez nada comigo!” Em um
experimento na Universidade Loughborough, foi verificado que fazer
exercícios entre três e seis horas antes de dormir melhorava o
sono.34
Contentamento
Talvez o materialismo e a ambição sejam as maiores causas de
privação de sono em nossa cultura. As pessoas olham a ideia de
passar um terço da vida dormindo como “perder” mais de vinte anos
de suas vidas, e pensam: “Eu conseguiria ganhar muito mais
dinheiro e me tornar muito mais bem-sucedido (ou construir uma
igreja maior) se eu cortasse um pouco do tempo de sono”. A maioria
das pessoas que procura isto a curto prazo consegue resultados,
mas perde a longo prazo, quando aos poucos a saúde é impactada
e a vida é abreviada. O contentamento é uma maravilhosa cura para
a insônia.
Fé
Embora a curto prazo os medicamentos para dormir, às vezes,
possam ser necessários em situações extremas, no mundo todo a fé
é um dos melhores remédios para dormir (ainda que menos usado)
— e só tem bons efeitos colaterais.
Se eu estiver com dificuldade de dormir, uso minha fé na Palavra
de Deus para dissipar minha ansiedade. Oro: “Pai Celeste, creio em
Mateus 6.25-27, que diz que tu cuidas de mim mais do que das
aves, e confio em ti para prover-me em tudo. Lanço meus cuidados
sobre ti, sabendo que tu cuidas de mim”.
A fé me ajuda a obedecer a ordem de Deus para dormir: “Pai,
mesmo quando acho que dormir menos e trabalhar mais
beneficiarão a mim e até a tua igreja, creio no Salmo 127.2, que diz
ser vão, totalmente sem razão, levantar cedo demais ou ficar
acordado até tarde demais”.
A fé me capacita a receber com alegria o sono como dom de
Deus: “Pai, embora as vezes eu veja o sono como uma intrusão, um
mal necessário, creio no Salmo 3.5, que o sono é o teu presente
amável para mim, e o recebo com gratidão”.
A fé dissipa meus temores: “Pai, tem hora que tenho medo por
meu emprego, minha igreja, ou meu país, mas creio no Salmo 4.8,
que diz: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR,
só tu me fazes repousar seguro”.
Aconselhamento
Certa vez, um homem perguntou: “O que fazer quando os
sofrimentos, temores, tristezas e as pressões são tantas que mesmo
quando procuro dormir, o sono me foge? Se estes se acumulam,
começo a sentir mais estresse pelo fato de não estar conseguindo
dormir o suficiente”.
Quando estou caindo nesse redemoinho, é útil escrever tudo o
que me perturba, junto com o próximo passo que terei de dar para
tratar de cada problema. Assim, quando a ansiedade levanta a
cabeça na hora em que a minha cabeça vai ao travesseiro, aponto
para essa lista e digo: “Sei sobre isso e tenho um plano para tratá-
lo”.
Nos casos mais sérios de insônia, o aconselhamento pode ter
papel importante para a cura. Meu amigo Paul estava aconselhando
a si mesmo ao escrever um diário e através da leitura do livro The
Anxiety Cure (A cura da ansiedade), por Archibald Hart,35 livro esse
que ele descreveu como “um salva-vidas”. Mas admitiu: “Eu não
havia levado a sério a necessidade de trabalhar os meus hábitos de
pensamentos e hábitos não bíblicos, pecaminosos e
contraproducentes, que contribuíram para minhas depressões”. Foi
ali que Paul começou a fazer aconselhamento bíblico
comportamental-cognitivo com um pastor cristão de sua região. Ele
prosseguiu, dizendo:
Eu estava resolvido a colocar rédeas sobre meu mundo mental, a
despeito do que a química do corpo estivesse fazendo ou não fazendo.
Foi a peça que faltava. Levou tempo, mas tenho crescido cada vez
mais no domínio dessas toxinas espirituais, mentais e emocionais:
tentando ler a mente de outros, pensando demais em segundas
opções, sensibilidade exagerada, dando importância demasiada às
opiniões das pessoas a meu respeito, exagerando os problemas dos
outros, e ao presumir o pior das pessoas e situações. Comecei a ter
prazer na vitória sobre minha mente no momento de pegar no sono.
Estava encontrando o interruptor mental — depois de muitos anos de
achar que não tinha como encontrá-lo — para desligar os
pensamentos que surgiam no travesseiro. “Sinto muito, sr.
pensamento. Agora é hora de dormir. Volte amanhã para me visitar.
Boa noite!”
Humildade
Quando dormimos, estamos entregando o controle, e — pelo
menos por algumas horas — nos lembrando que, na verdade, Deus
não precisa de nós. Ao fechar os olhos a cada noite, dizemos: “Não
sou eu quem manda no mundo, ou na igreja, e nem ao menos em
minha pequena vida”. Até mesmo o presidente tem de vestir seu
pijama toda noite, confessando efetivamente (mesmo contra a
vontade) que Deus não precisa dele, que existe um Superpoderoso
muito maior. Mas o sono do cristão deve ser diferente do sono
daquele que não é cristão. Quando e quanto nós dormimos é uma
enorme declaração de quem somos e no que cremos sobre nós
mesmos e sobre Deus.
Os homens em especial encontram dificuldades em admitir a
necessidade de dormir mais, especialmente quando sobreviveram
muitos anos com menos. Ali é que uma voz objetiva, de fora, pode
ajudar a nos humilharmos e a aceitarmos as nossas limitações. Um
homem cristão esgotado admitiu: “O sono tem sido essencial para o
meu ‘resetar’. É quase como se eu precisasse permissão do meu
conselheiro para me convencer que não estava dormindo o bastante
e que necessitava tirar duas semanas para me restaurar”.
Um pastor confessou que estava se privando de dormir durante
muitos anos porque “era isso que os puritanos faziam”. Se eles
podiam, por que não ele? Depois que acabou de entender que sua
frágil humanidade precisava de descanso, ele disse:
O horário de todo mundo é diferente, e as necessidades de sono
variam. Enquanto estivermos trabalhando bem e dormindo o suficiente
para a necessidade de nosso corpo, estaremos honrando ao Senhor.
Na verdade, eu estava desonrando a Deus quando dizia, “eu entendo
que me dizes no Salmo 127 que dormir é um presente. Mas realmente,
por que o Senhor não dá isso a outra pessoa? Dê para alguém mais
necessitado? Para um mero mortal, de quem o mundo não dependa
tanto?” Eu exagerava no consumo de café, tentando compensar. No
papel eu era calvinista, mas no armário, um pelagiano, trabalhando
mais pela lei do que pelo amor. Trabalhar é bom. Mas só é bom se for
ancorado e totalmente condicionado pela graça. Agora estou
recebendo graça e recebendo também a graça de dormir, porque meu
Pai é bom e eu sou necessitado.
TEOLOGIA DO CORPO
Ele estava certo. Erros desse tipo só poderão ser vencidos com a
verdade, com a teologia bíblica sobre o corpo. Sim, a Bíblia tem
uma teologia do corpo, muito dela está contida em 1 Coríntios 6.9-
20:
Nosso corpo foi danificado pelo pecado (vv. 9-10). Ainda que o
pecado tenha início em nossa alma, acabamos pecando em e com o
nosso corpo. Por esta razão Paulo inicia a sua Teologia do Corpo
confessando o pecado que fere e até destrói nosso corpo.
O seu corpo foi salvo por Deus (v. 11). “Tais fostes alguns de vós”
(tempo passado). Você era assim — mas agora isso é passado.
Você era corrompido, danificado, destruído, mas agora foi lavado,
santificado, justificado. O nosso corpo e alma sujos, prejudicados,
moribundos, podemos levar a Deus, e ele coloca seu Filho e seu
Espírito para trabalhar neles. Ele opera a salvação de todo o corpo e
de toda a alma.
O seu corpo continua vulnerável (v. 12). Embora ele saiba que
experimentou uma salvação de corpo e alma, o apóstolo é cônscio
da continuidade de sua fraqueza e vulnerabilidade espiritual e física.
Muitas coisas são permissíveis, mas ele não quer impedir a sua
nova criação fazendo o que não for benéfico ou de ajuda. Ele não
está livre da necessidade de disciplina diária sobre os apetites de
seu corpo.
O seu corpo é para o Senhor (vv. 13–14). O apóstolo substitui um
ditame falso que os coríntios estavam usando para abusar do corpo
— “os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os
alimentos” — por um dizer verdadeiro que abençoa o corpo: O corpo
é... “para o Senhor, e o Senhor para o corpo”.
“O corpo é para o Senhor.” Deus deu a cada um de nós um corpo
para o darmos de volta a ele. Ele não nos deu um corpo para que o
entregássemos a qualquer um e a todos em relações sexuais
imorais. Ele não nos deu um corpo para que o entreguemos ao
excesso de trabalho ou à preguiça. Deus nos deu o corpo para que
o entreguemos de volta a ele. O corpo é para o Senhor.
“O Senhor é para o corpo.” Ele o fez, cuida dele e mantém
interesse eterno nele. Até mesmo assumiu um corpo, sofreu no
corpo, e ressuscitou em corpo. Ele possui um corpo até hoje. O
Senhor é para o corpo. Isto não é sem importância. A nossa
ressurreição futura mostra quanta honra Deus coloca sobre o corpo
e o quanto devemos honrar o corpo no tempo em que estamos nele,
e o Senhor o honrará por todos os tempos.
O seu corpo é membro de Cristo (vv. 15-17). Sim, a nossa alma é
membro do corpo de Cristo. Também o é o nosso corpo! Isso tem
imensas implicações no modo como vemos e tratamos o nosso
corpo. Quando meu pai era dentista, ele me disse que, ao olhar os
dentes da pessoa, ele sabia quanto dinheiro essa pessoa tinha, e se
gozava de uma saúde geral boa ou não! Uma pequena parte do
corpo revela tanto sobre a pessoa inteira.
Paulo usa esta realidade para motivar todos os membros do
corpo de Cristo a ver e tratar seu próprio corpo como o que revela
algo positivo ou negativo sobre Cristo.
O seu corpo é templo do Espírito Santo (vv. 18-19). As lojas de
materiais de construção estão sempre cheias de gente querendo
consertar, melhorar, reformar e embelezar suas casas. Ninguém
compra ferramentas e equipamentos para estragar ou destruir a
casa. No entanto, estamos estragando ou mesmo destruindo a casa
do Espírito Santo com nossa atividade exagerada ou nossa
inatividade!
O seu corpo foi comprado por um preço (v. 20). Como você
responderia se eu lhe dissesse: “Pode cuidar um pouco mais das
minhas costas, por favor. Você não está sentado direito na cadeira e
não quero que minhas costas sofram uma hérnia ou um disco em
prolapso!” Ou, se eu interrompesse o sorvete que você está
comendo com o comentário: “Você não acha que deveria comer
menos açúcar e um pouco mais de trigo integral? Isso realmente
seria melhor para o meu estômago”.
Talvez você respondesse: “Quem você pensa que é?” “Que
direito você tem de me dizer o que fazer com o meu corpo?” ou “O
que você quer dizer com suas costas ou o seu estômago? São
meus, não seus”.
Eu respondo, então: “Na verdade, você não pertence a você
mesmo. Não é dono do seu corpo. Eu sou o dono do seu corpo.
Comprei o seu corpo algumas semanas atrás, e estou apenas
cuidando do que é meu”.
É o que Deus está dizendo aqui por meio de Paulo: “...não sois
de vós mesmos... Porque fostes comprados por preço; Agora, pois,
glorificai a Deus no vosso corpo”, e no vosso espírito, os quais
pertencem a Deus. Quanto mais pensamos no preço pago por
nosso corpo, mediante o precioso sangue de Cristo, mais sentimos
uma obrigação para com o novo proprietário. Fomos comprados por
alto preço. Não pertencemos a nós mesmos.
Portanto, glorifique a Deus no corpo e no espírito, que são de
Deus (v. 20). O argumento de Paulo é: Deus nos criou com corpo e
alma, e redimiu nosso corpo e nossa alma, de modo que o servimos
de corpo e alma. Nossa alma e nosso corpo pertencem a Deus para
a sua glória. Isso deve fazer diferença em como os vemos e
tratamos.
Se esta é uma teologia do corpo, o que significa em termos
práticos? Como glorificamos a Deus com o corpo? Para aqueles de
nós que necessitam um resetar de vida, colocamos em prática essa
teologia do corpo com três ações físicas que nos ajudam a recriar
nosso corpo, enquanto vivemos no compasso da graça: Ficar em
pé, exercício e trabalho com as mãos.
FICAR EM PÉ
“Homens que gastam mais que vinte e três horas por semana
sentados têm chance sessenta e quatro por cento maior de morrer
de doenças cardíacas do que os que ficam sentados apenas onze
horas ou menos por semana”.41 Essa não é uma boa notícia para a
maioria de nós que cada vez mais passa o tempo atrás de mesas ou
volantes de carros. Numerosos estudos mostram que estamos
assentados muito mais do que em qualquer outra época da história
(em média, mais de nove horas por dia), e tanto tempo contínuo
permanecendo sentado faz coisas realmente más para o corpo,
inclusive aumentar o risco de doenças cardíacas, obesidade,
diabetes e certos cânceres.42 Ficar sentado mais de seis horas por
dia nos torna até quarenta por cento mais propensos a morrer
dentro de quinze anos do que alguém que fica sentado menos de
três horas. Graças a Bill Gates e Steve Jobs, enquanto isso
aumenta nossa produtividade também aumenta a nossa
mortalidade. Que contraste com o passado, quando a maioria da
população trabalhava com as mãos. Agora, a parte mais exercitada
do nosso corpo são as pontas dos dedos.
Se você habita sua escrivaninha, uma parte da solução poderia
ser uma escrivaninha onde você possa ficar em pé, que o deixe
permanecer pelo menos parte do tempo de pé durante seu dia.
Ainda que a maioria delas seja cara, existe um número de
possibilidades abaixo de duzentos dólares. Comecei com uma
versão faça você mesmo por cinquenta dólares, feito com materiais
da loja Lowe, e, recentemente, passei para uma que posso fazer
subir ou descer apenas apertando um botão. Agora, em vez de ficar
sentado oito horas por dia, eu alterno entre ficar uma hora sentado e
uma hora de pé. Isso fez enorme diferença em meus níveis de
energia e concentração, e, assim espero, na minha longevidade.
EXERCÍCIO
SILENCIANDO OS CÍMBALOS
LOMBADAS DIÁRIAS
INSPIRE, EXPIRE
LOMBADA SEMANAL
LOMBADA ANUAL
LOMBADA SAZONAL
Portanto, estou nele, tendo redenção por seu sangue e vida, pelo seu
Espírito.
Preencher as Lacunas
Quando voltei para escrever este capítulo depois de um intervalo,
percebi que havia algumas lacunas significativas, partes da minha
identidade que eu não incluíra na lista, talvez porque não quisesse
admiti-las, pois envolviam alguns dos meus pecados mais
contumazes. Mas para ser correto, tenho de incluir essas fraquezas
significativas. Por exemplo, com frequência eu sou pessimista,
negativo e exageradamente crítico (isso provavelmente tem algo a
ver com meus genes escoceses).
Por outro lado, também deixei de fora alguns de meus pontos
fortes. Isso é porque recebi uma criação tradicional das Scottish
Highland (Terras Altas Escocesas) — simplesmente não se fala
sobre você mesmo nem sobre sua família, especialmente se for algo
louvável. Até o dia de hoje, ainda encontro um kilted haggis,74
mandando-me “calar a boca”, quando tento colocar alguma coisa a
meu respeito ou a respeito da minha família no Facebook ou no meu
blog. Mas, embora haja mérito em não se gabar perante as outras
pessoas, não existe mérito em ignorar a verdade diante de Deus.
Mesmo que o apóstolo Paulo reconhecia a graça como fonte de
todo bem em sua vida, ele ainda insistia que era o que mais
trabalhava entre todos os apóstolos (1Co 15.10). Se Deus nos deu
uma força ou capacidade, essa dádiva faz parte de nossa identidade
dada por Deus; devemos reconhecê-la e agradecer a Deus por isso
— embora provavelmente não no Facebook.
Processar as Falsidades
Não surpreendentemente, existem também coisas falsas em
minha identidade. Estas não são fáceis de se descobrir, porque se
tornaram parte tão integrante de meu ser por tanto tempo. Pode ser
que eu precise ajuda de alguém que veja com objetividade, e que
esteja fora do meu círculo familiar, que me ajude a identificar essas
mentiras, a fim de que eu possa processá-las, provar sua culpa,
sentenciá-las ao exílio, para, então, utilizando evidências confiáveis
e persuasivas, substituí-las com a verdade.
Sou magricelo. Isto pode parecer uma grande tolice, mas faz
enorme parte da minha identidade. Quando eu era adolescente, era
horrivelmente magro, fato que não me ajudou quando espichei como
um bambu para quase dois metros de altura, estendendo minha
estrutura já magra para uma magreza ainda maior. Os meninos (e
as meninas) na escola me chamavam de “cambojano” (naquele
tempo, havia no Camboja uma grande fome e as imagens de
crianças esqueléticas estavam constantemente na TV). A despeito
de ganhar as notas máximas, foi-me negado lugar nos times
regionais de futebol, porque achavam que eu era leve demais e
seria empurrado para longe da bola. Tinha pavor da aula de natação
por causa das piadas sobre meu peito ossudo e meus bíceps do
tamanho de ervilhas. Minha magreza me impedia até de convidar as
meninas para sair (provavelmente isso foi bom, quando olho para
trás). Recentemente, ao olhar fotos de nossa lua de mel, os meus
filhos morreram de tanto rir, ao constatar como eu era magricela ao
lado da piscina, e ameaçaram colocar as minhas fotos antigas no
Facebook. Isso trouxe de volta algumas lembranças dolorosas,
lembranças que ainda hoje me fazem hesitar antes de usar
camisetas e calções.
Porém, por mais verdadeiro que isso fosse no passado, não é
mais verdade que eu seja exageradamente magro, pelo menos não
a ponto de darem risadas de mim. Posso processar essa mentira ao
notar que agora sou de peso médio para a minha altura. Segundo,
minha esposa me diz que estou com os músculos maiores do que já
tive (o que não seria tão difícil). Terceiro, posso me comparar
favoravelmente com outros homens de cinquenta anos (e até
mesmo com os de trinta anos). E posso ir à piscina sem ouvir
gargalhadas.
Sou enfermo. Alguns anos atrás, tive uma horrível série de
enfermidades que fundamentalmente mudaram meu modo de olhar
para mim: disco arrebentado nas costas, quatro cirurgias, uma
hérnia dupla, trombose venosa profunda e embolia pulmonar (duas
vezes no espaço de três anos), diverticulite, pedra no rim, e uma
artrite que entortou meu dedo do pé e fraturou irreversivelmente
meu quarto metatarso em diversos lugares. Não é de admirar que
comecei a pensar em mim e falar sobre mim como um velho.
Percebi que não era mais jovem, vigoroso e saudável. Eu estava
desmoronando, descendo depressa morro abaixo, e provavelmente
precisava preparar o meu caixão. Quando essas percepções a meu
respeito encheram a minha mente, tornei-me mais letárgico em
casa, parei de fazer exercícios, parei de brincar com os filhos, e
simplesmente me tornei mais rabugento e pessimista.
De novo, Shona teve de me ajudar a conseguir melhor equilíbrio
neste conceito. Sem negar a realidade de meu relatório médico, ela
me ajudou a ver que, na verdade, sou bem saudável e sou capaz de
fazer muito mais do que a maioria dos homens de cinquenta anos
de idade. Estou usando bons medicamentos para o problema dos
coágulos sanguíneos, a artrite está confinada a uma pequena área
no meu pé esquerdo, e vou a academia quatro a cinco vezes por
semana. Estou mais forte do que tenho estado por provavelmente
vinte anos. Posso estar até um pouquinho doente, mas não estou
totalmente enfermo, e tenho muito mais partes do meu corpo que
estão mais fortes do que fracas. Portanto, “sou enfermo” não
deveria ser parte definida da minha identidade.
Em toda a Segunda Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo
processa a falsidade que tinha sido espalhada a respeito dele.
Estava claro que tinha gente tentando atribuir uma identidade falsa e
negativa a ele, e ele não aceitava isso. Ele identifica as mentiras,
prova a falsidade, e vigorosamente expulsa esses maledicentes da
igreja de Corinto. É o que temos de fazer com respeito a nossa
própria identidade.
Acrescentar Equilíbrio
Sou pecador. Isto é uma verdade, mas não é toda a verdade.
Para ser fiel à Escritura, tenho de acrescentar a afirmação que
equilibra tudo: “Estou morto para o pecado” (veja Rm 6.11). Paulo
me ordena a pensar assim porque quanto mais eu me considero
morto para o pecado, mais eu estou morto para o pecado. Da
próxima vez que for tentado a pecar, não vou ceder simplesmente
porque, afinal de contas, “eu sou pecador”. Em vez disso, direi:
“Não! Não posso, porque morri para o pecado e estou vivo para
Cristo!” Sendo assim, morrerei para o pecado e viverei para Cristo.
Um homem cristão confessou certa vez que estava bebendo
tanto que se tornara alcoólatra e estava frequentando as reuniões
de um grupo de Alcóolicos Anônimos. Tinha uma aparência de
derrotado, porque estava constantemente dizendo para si mesmo:
“Sou alcoólatra”. Não é de admirar que, quando enfrentava a
tentação do álcool, geralmente sucumbia. Afinal de contas, ele se
identificava como sendo alcoólatra. Porém, por mais verdadeiro que
isso tivesse sido, era apenas metade da verdade. Imagine quanto
mais resistente ele seria ao álcool se estivesse dizendo a si mesmo:
“Não, estou morto para o pecado. Estou morto para o álcool”.
Reformular as Falhas
Sou um fracasso. Embora nos últimos cinquenta anos tenhamos
visto “normalizadas”, a maioria das palavras que antes eram tabus,
uma palavra horrível permanece como tabu na América: fracasso.
Eu já disse essa palavra. Já fui isso. Talvez você tenha notado que
coloquei “fracasso” na minha lista de identidade. É porque tenho
experimentado o fracasso nos negócios e no ministério, e ambos os
fracassos marcaram erradamente meu senso de identidade.
Contudo, eu o coloquei por último em minha lista porque aprendi a
enxergá-lo por uma lente diferente, como parte de “todas as coisas”
que cooperam para meu bem (Rm 8.28). Portanto, não sofro mais
de cacorrafiofobia (medo do fracasso). Não enfoco o fracasso e não
o nego. Como muitas pessoas que já o tenham experimentado, eu o
vejo de maneira diferente, e, também como outras, aprendi muito
com isso.
Por exemplo, o fundador da Apple, Steve Jobs, atribui o seu
sucesso a ter reavaliado a sua vida depois de três reveses:
abandonou a faculdade, foi mandado embora da companhia que ele
fundou, e foi diagnosticado com câncer. J. K. Rowling perdeu o seu
casamento, a aprovação dos pais, e a maior parte do seu dinheiro.
Mas então, nada tendo a perder, ela voltou a seu primeiro amor —
escrever. “O fracasso tirou tudo que não era essencial”, disse ela.
“Me ensinou coisas a meu respeito que não eu poderia ter
aprendido de nenhuma outra maneira”.75 Conforme diz J. R. Briggs:
“O fracasso pode ser um composto enriquecedor”.76 Na verdade, “o
ministério é chão muito fértil para o fracasso, e o fracasso é terra
fértil para o ministério”.77 Aprender a fracassar bem é parte
essencial da vida cristã. Um pastor me disse recentemente:
“Os primeiros dez anos de ministério tratam de ser quebrantado e
despojado!” Devo ter feito curso intensivo, porque levou apenas cinco
anos para eu estar quebrado, despojado e marcado com ferro como
um fracassado no ministério! Foram dias negros e tenebrosos. No
entanto, sei que meus dez meses na escola do fracasso no ministério
me deram uma pós-graduação muito valiosa — um mestrado em como
fracassar bem”.
Ele não acordava cada dia indagando: “O que é que estou fazendo
aqui?” ou “Onde eu vou parar?” Não, ele tinha um plano de vida
muito definido (ou podemos dizer: plano de morte), que recebeu do
Pai. Tinha também o equilíbrio certo entre a VBP e a VC. Embora
tivesse horas em que ele não era desviado pelas exigências das
pessoas e a pressão de acontecimentos não planejados, havia
outras ocasiões em que ele parava para responder às necessidades
prementes e circunstâncias urgentes.
Mas esse foi Jesus, perfeito, equilibrado, sábio e sem pecado. O
que dizer de mim, falho, extremista, tolo e pecador? Como equilibrar
a Vida Bem Planejada à Vida Convocada? Tenho três palavras que,
tomadas juntas, podem nos ajudar a desenvolver esse progresso:
Propósito, Plano e Poda.
PROPÓSITO
PLANO
Rotina
“Conte-me sobre sua rotina diária.”
“Oh, não tenho uma rotina. Todos os dias são diferentes.” Não
posso dizer quantas vezes tive essa conversa com pastores
esgotados e cristãos deprimidos. O que veio primeiro — a
depressão ou o caos — pode ser difícil de definir, mas parece que
andam juntos e um alimenta o outro.
Por isso é que uma das primeiras coisas que faço é insistir que
tracem uma rotina básica e se comprometam a isso: dormir, cultuar
a Deus, comer, trabalhar, estudar, e fazer algumas outras coisas.
Deus é Deus de ordem, não de confusão (1Co 14.33), e como
portadores de sua imagem, criados por ele, nós o glorificamos — e
nos sentimos muito mais felizes — quando vivemos vidas regulares
e ordeiras. Ele criou o nosso mundo e a nós de maneira a
florescermos quando a nossa vida é basicamente caracterizada por
ritmo e regularidade. É por esta razão que os que progridem mais
em seus alvos de vida são aqueles que trabalham neles a cada dia
ou semana, em geral à mesma hora. Por isso também é que os que
têm mais rotinas em suas vidas têm mais saúde e são mais felizes.
A professora Gail Kinman, psicóloga ocupacional de saúde na
Universidade de Bedfordshire, disse ao jornal The Guardian que, ao
contrário das expectativas, os empregados com horas mais flexíveis
são também os mais estressados, porque o seu hábito de estar
“sempre ligado” dificulta que eles se “desliguem”, e isso mantém os
hormônios de estresse persistentemente altos.81
Priorizar
“Se você não priorizar a sua vida, outra pessoa vai fazê-lo”.82 Se
quisermos fazer nossa própria priorização, começamos ao fazer
uma lista de todos os nossos deveres, atividades e objetivos.
Usando então nossos propósitos de vida, os colocamos em quatro
categorias:
1. Fazer definitivamente. São estas as mais importantes
responsabilidades e compromissos dados por Deus.
2. Desejo fazer. São atividades que esperamos fazer, e faremos
algumas delas depois de ter feito os “Fazer definitivamente”.
3. Demore para fazer. São atividades dignas que amaríamos
fazer algum dia, mas teremos de adiar até termos espaço e
tempo em nossas agendas.
4. Não fazer. Estas são coisas que nos comprometemos a parar
de fazer ou a dizer “não” a elas no futuro.
Nossos propósitos e prioridades de vida devem ser refletidos em
nossa agenda, um exercício que usualmente revela se estamos
sendo realistas ou idealistas. As atividades “fazer definitivamente” e
“desejo fazer” deverão ocupar as horas mais produtivas de cada dia.
Para mim, isto significa das sete e meia da manhã até uma hora da
tarde, e, se eu olhar minha agenda, vejo bloqueado, quatro dias por
semana: “Escrever” (o que inclui sermões, palestras e livros). Tudo
mais ligado ao meu trabalho — administração, aconselhamento, e-
mail, blogs, e outras tarefas – se encaixam ao redor disso.
Usando a útil distinção de Steve McClatchy no seu livro Decide,83
resolvi que escrever é minha principal “tarefa de ganhos”, aquela
que produz resultados permanentes, bem como um senso de
realização e progresso; a tarefa que definirá a minha vida. Em
contraste, as “tarefas para evitar a dor” são aquelas não tão
agradáveis, mas que evitam que a dor ocorra em minha vida (pagar
as contas, responder os e-mails, ir a reuniões, ...). Temos de
priorizar as tarefas de lucro para nos realizarmos porque as tarefas
de evitar a dor simplesmente continuam acontecendo. Resumindo
McClatchy, temos de anular o modo de sobrevivência do cérebro,
que nos padroniza para evitar as tarefas que causam dor e que
esgotam nossa energia, em favor de tarefas de ganho que nos
energizam.
Fazer Auditoria
De vez em quando, eu anoto cada tarefa que faço, marcando
quanto tempo leva para completá-la. Quase sempre me surpreendo
ao ver como certas tarefas rotineiras, como telefonemas, e-mails, e
coisas semelhantes, demoram a ser feitas. Quando faço essa
auditoria pessoal, consigo alocar um tempo mais realista para essas
atividades no futuro, aliviando assim a pressão.
Margem
Se penso que uma tarefa vai levar trinta minutos, marco quarenta
e cinco minutos para ela; se acho que vai levar três dias para
realizá-la, eu agendo quatro dias, e assim por diante. Se levar
menos tempo, preencho o tempo de sobra com outra coisa útil – ou
vou pescar! Se levar todo o tempo agendado, termino a tarefa com
menos estresse e não terei de cancelar ou adiar outra coisa. Isso
quer dizer que opero em capacidade de oitenta por cento, para que
tenha espaço para atender a pessoas, problemas, e oportunidades
não esperadas. Outra área em que procuro deixar uma margem de
segurança é nas finanças. Trabalhar para viver com oitenta por
cento do total da receita é um enorme alívio para o estresse e
melhora muito a minha saúde geral.
Revisão
Tomo dez a quinze minutos no final de cada dia para revisar o
que foi planejado e verificar se consegui realizá-lo. Gasto também
uma hora ou mais no final de cada semana para obter uma visão
maior do quadro e fazer quaisquer ajustes necessários. Inicialmente,
a comparação entre o plano e a realidade é um tanto chocante, mas
aos poucos alinhamos nossas expectativas à realidade, para reduzir
a frustração, o desapontamento e o estresse.
Prestação de Contas
É tão bom ter alguém que conheça a nossa vida e pergunte: “Por
que você se comprometeu a fazer isso? Como isso está de acordo
com seus propósitos?” Embora eu leve também aos presbíteros os
convites de pregação e palestras, a minha esposa é a principal
parceira na minha prestação de contas. Ela me ajuda a examinar os
meus motivos de dizer “sim” com demasiada frequência. Eu me
identifico com este pastor, que aprendeu a duras penas: “Tive de
enfrentar a dolorosa realidade de que eu não conseguia dizer não
porque queria agradar as pessoas. Precisava que elas precisassem
de mim. Queria aumentar o número de pessoas que me admiravam
por ser alguém tão amável. Eu era o meu pior inimigo. Sou grato a
Deus por ter me quebrantado para que eu pudesse quebrar esse
hábito”.
PODA
ALIMENTOS
MEDICAMENTOS
Não deixe nada sem tratar. Quando conversar com o seu médico,
diga-lhe tudo. Deixe que o médico decida qual informação é
relevante ou não. Não minimize nem descarte aquilo que você está
experimentando; apenas diga exatamente o que está acontecendo
em sua vida e como você se sente. Você deve pedir um exame
físico completo, em parte porque viver em crise por tempo demais
pode também prejudicar diversas partes do corpo.
Não fique obcecado por deixar os medicamentos. Uma das
perguntas mais comuns das pessoas que começam a tomar
medicamentos antidepressivos é “quando posso parar de usá-los?”
ou “quando deixo de tomar?” Mas essa angústia por querer deixar
as medicações tão logo seja possível pode criar mais agravantes
mentais. Geralmente o meu conselho é: “Não pense nessa pergunta
por pelo menos seis meses. Se as coisas melhorarem rapidamente,
ótimo, podemos falar sobre isso, mas para o momento, vamos
remover o estresse desnecessário”.
Não os deixe depressa demais. Embora os antidepressivos
modernos não viciem, não é sábio nem benéfico tirá-los de repente
ou de uma só vez. Confie na sabedoria e no cronograma de seu
médico, enquanto ele o guia por uma redução gradativa dos
remédios durante certo período de tempo. Porém, se chegar a um
ponto em que maiores reduções resultem em recorrência de
sintomas, você deverá voltar à dosagem mínima exigida para
minorar os sintomas. Algumas pessoas estão tão debilitadas e
esgotadas que a produção natural de substâncias químicas vitais ao
cérebro nunca volta a funcionar completamente. (Isso é semelhante
a fazer um carro velho andar de tanque quase vazio por tempo
demais – um pouco da sujeira do fundo do tanque entra no motor,
causando danos permanentes.) Nestes casos, uma pequena
dosagem de antidepressivos talvez seja necessária para melhorar
essas substâncias pelo resto da vida.
Não se envergonhe dos medicamentos. Só porque existe quem
usa mal ou em exagero as medicações, não significa que você não
deva usá-las. Se os remédios são um bom presente de Deus, não
os devemos desprezar. A vida no ritmo da graça não rejeita
nenhuma das graças de Deus quando elas são necessárias. Um
pastor confessou sentir-se envergonhado por deixar de tomar
remédios antidepressivos, passando a falar também aos outros. Ele
escreveu:
Foi-me prescrita a medicação para depressão em duas ocasiões
diferentes, mas nunca conseguia tomá-la. Em minha mente havia um
enorme descrédito quanto a antidepressivos. Eu havia aconselhado
pessoas a não fazerem uso deles, mandando até livros argumentando
contra tal medicação. Foi depois de muito sofrimento que consegui me
abrir para esses remédios como um meio que Deus podia usar para
me ajudar. Eles não consertavam tudo, mas evitavam que eu descesse
em espiral, enquanto trabalhava com as outras peças do quebra-
cabeça.
ENERGIZANTES
NOVO RITMO
NOVA CONSCIÊNCIA
NOVA HONESTIDADE
Nosso novo ritmo de vida pode parecer difícil para as pessoas que
nos cercam, acostumadas com nossa corrida mais veloz e com
maior capacidade. Precisamos de conversas honestas com nossa
esposa, nossos filhos, nossos pastores e presbíteros, nossos
amigos, e outros, a fim de explicar os ajustes que tivemos de fazer
em nossa vida devido ao envelhecimento e outros fatores. Não
podemos esperar que todos compreendam imediatamente ou
concordem completamente, mas temos de agir em fé, sabendo que
é a coisa certa para fazer para nós e para eles. Eu me surpreendo
quando vejo tantos homens assustados com minha própria
admissão de fraqueza e vulnerabilidade, e, então, uso isto para que
eles se deem a permissão de serem fracos e cansados e fazerem
os próprios ajustes para enriquecer a vida e expandir seu ministério.
NOVO CONTENTAMENTO
NOVA SELETIVIDADE
NOVA ENERGIA
NOVA ALEGRIA
NOVA TEOLOGIA
NOVA EQUIPE
NOVA SENSIBILIDADE
NOVAS FERRAMENTAS
Quando faço exercícios físicos, posso não sentir sede, mas tomo
água com regularidade porque sei que, se não o fizer, terei dor de
cabeça severa devido à desidratação mais tarde à noite. É por isso
que, mesmo sem esperar por uma crise, eu retorno regular e
voluntariamente ao Processo de Resetar para uma revisão,
pequenos consertos e reabastecimento. Eu encorajo você a fazer o
mesmo. No início de cada mês, depois de cada trimestre, gaste
algum tempo em cada oficina de reparos, verificando que tudo
esteja correndo bem, fazendo quaisquer ajustes necessários,
refinando seu ritmo para que possa correr melhor, com mais
sabedoria e segurança. Como diz Roland Barnes: “É difícil fazer um
trem que anda devagar sair dos trilhos”.116
NOVOS ÓCULOS
NOVA PACIÊNCIA
O segredo para o sucesso da noite para o dia é que não existe tal
segredo. Conforme ressaltou a Fastcompany,118 sucesso da noite
para o dia é algo extremamente raro. Por exemplo, Angry Birds
(Aves Iradas), o aplicativo de jogos de maiores vendas, foi a
quinquagésima segunda tentativa do criador de software Rovio em
fazer um programa bem-sucedido em oito anos de quase falência.
James Dyson fracassou com cinco mil cento e vinte e seis protótipos
antes de aperfeiçoar seu aspirador de pó revolucionário. O
lubrificante de Norman Larsen conseguiu seu nome, WD-40, porque
as suas primeiras trinta e nove experiências falharam. WD-40
significa literalmente ““Water Displacement–40th Attempt”
(Deslocamento de Água – quadragésima tentativa). Esses
inovadores tiveram sucesso porque humildemente assumiram os
seus erros, utilizaram-nos como oportunidades de aprendizado, e
continuaram perseverando a medida que cada tiro os levava para
mais perto do centro do alvo.
Muitos entre nós se esgotaram, detonaram ou acabaram
deprimidos porque estávamos dirigindo depressa demais; ou
desistimos, desanimados por nossas falhas e desapontamentos.
Mas o Processo de Resetar nos ensinou a correr com mais
paciência e perseverança, mesmo através de muitas dificuldades.
NOVO EQUILÍBRIO119
NOVOS HÁBITOS
NOVOS OBSERVADORES
NOVA HUMILDADE
NOVA GRAÇA
NOVOS FRUTOS
NOVO CRISTO
NOVA ESPERANÇA
NOVO HORIZONTE
Antes do Processo de Resetar, muitos de nós mal olhávamos para
cima. Só víamos o próximo item a ser feito, abaixávamos a cabeça e
íamos em frente. Víamos a próxima reunião, o próximo relatório, a
próxima viagem a negócios, o próximo sermão, o próximo livro, a
próxima sessão de aconselhamento, etc. Mas nunca vimos a vida
futura.
O Processo de Resetar fez ressurgir a esperança da
ressurreição. A ressurreição que experimentamos aqui nos deu um
sabor da ressurreição final que está adiante de nós, onde toda dor e
sofrimento, todo pranto e depressão, toda perda e fraqueza não
mais existirão. Também diminuiu nossos ritmos o suficiente para nos
permitir tempo e espaço para olhar à frente e ter prazer no que
vemos, antecipando o destino final, em que experimentaremos que
“os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com
a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18). Uma vida pautada pela
graça nos transporta a uma eternidade cheia de graça e glória.
Corramos de modo que possamos dizer:
Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a
coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará
naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos
amam a sua vinda (2 Tm 4.7–8).