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4º ano
2º semestre
2021/2022
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
I. Introdução à Virologia
VÍRUS: Agentes filtráveis (passam por filtros que retêm bactérias). Parasitas intracelulares obrigató-
rios (dependem da maquinaria bioquímica da célula do hospedeiro para replicação). Replicação
ocorre por montagem dos seus componentes individuais.
VIROLOGIA 1
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→ São entidades “vivas” apenas quando estão a replicar nas células, mas são metabolicamente
inertes e não mais do que moléculas de ácido nucleico e proteína quando estão fora das célula.
→ São ausentes de movimento ativo, evolução independente, sistemas produtores de energia e
de crescimento e divisão.
→ Não têm capacidade para produzir energia ou substratos.
→ Não conseguem fazer as suas próprias proteínas.
→ Não conseguem replicar o seu genoma de forma independente da célula do hospedeiro.
→ Para usar a maquinaria biossintética da célula infetada, precisam de se adaptar às “regras”
bioquímicas da célula.
A sua estrutura física e a sua genética tem vindo a ser “optimizada” por mutações e seleção, para
infetar humanos e outros hospedeiros. Precisam de ser capazes de efetuar transmissão entre hospe-
deiros, atravessar a pele ou outras barreiras protetoras do hospedeiro, se adaptar à maquinaria bi-
oquímica da célula hospedeira para se replicarem e escapar à eliminação pela resposta imune do
hospedeiro.
Classificação
Taxonomia
Universo dos vírus é rico em diversidade. Vírus podem variar na estrutura, organização do genoma e
sua expressão, estratégias de replicação e transmissão. Estabelecido um sistema de agrupamento
em famílias, com base na morfologia do virião, estrutura do genoma e estratégias de replicação.
VIROLOGIA 2
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VIROLOGIA 3
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VIROLOGIA 4
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Estrutura do Virião
Os vírus contêm apenas um tipo de ácido nucleico (DNA ou RNA) no seu genoma.
Partícula viral (VIRIÃO): consiste num genoma de ácido nucleico empacotado numa camada pro-
teica (cápside) que poderá estar ou não rodeada por uma membrana contendo lípidos (invólucro).
Poderá ainda conter algumas enzimas essenciais ou acessórias (ou outras proteínas para facilitar a
replicação inicial na célula). A cápside ou proteínas que se ligam a ácidos nucleicos podem associar-
se ao genoma (nucleocápside).
VIROLOGIA 5
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Estrutura do Vírus
→ Genoma: Consiste em DNA ou RNA. O DNA pode ser de cadeia simples ou dupla, linear ou
circular. O RNA pode ser de cadeia positiva (+, tal como o RNAm), cadeia negativa (-), cadeia
dupla (+/-) ou “ambisense” (contendo regiões + e – de RNA ligadas nas extremidades).
NOTA: O genoma RNA pode também ser segmentado em pedaços, com cada pedaço codificando
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• Vírus nús com cápsides têm um exterior mais forte, sendo geralmente resistentes a
secagem, ácidos e detergentes (incluindo ácidos e sais biliares do trato intestinal). Mui-
tos destes vírus são transmitidos por via fecal-oral e podem sofrer transmissão até em
esgotos.
VIROLOGIA 7
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O invólucro tem também um papel importante na entrada do vírus na célula hospedeira por liigação
ao recetor celular ou por penetração (fusão) do vírus na célula.
NOTA: Todos os vírus RNA de cadeia negativa têm invólucro. Componentes da RNA polymerase
viral dependente de RNA associam-se ao genoma RNA (-) dos ortomixovírus, paramixovírus, e rabdo
vírus para formar nucleocápsides helicoidais. Estas enzimas são necessárias para iniciar a replicação
viral e a sua associação com o genoma garante a sua entrega na célula. Proteínas da matriz revestem
a parte interior do invólucro facilita a montagem da ribonucleocápside no virião,
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VIROLOGIA 9
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(espécie de resumo)
VIROLOGIA 10
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Replicação Viral
1. Reconhecimento
2. Adsorção
3. Penetração
4. Descorticação
5. Transcrição
6. Síntese proteica
7. Replicação
8. Reunião
9. Lise e libertação
• Fase Precoce:
o Reconhecimento da célula alvo.
o Adesão à célula /Adsorção.
o Penetração na membrana plasmática e entrada na célula.
o Descorticação (= Libertação do genoma no citoplasma).
o Se necessário, entrega do genoma no núcleo.
• Fase Tardia:
o Replicação do genoma e síntese de macromoléculas virais.
o Reunião.
o Libertação.
VIROLOGIA 11
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A quantidade de vírus produzida por célula (“burst size”) e o tempo requerido para um ciclo de repro-
dução viral são determinados pelas propriedades do vírus e da célula alvo.
Cada célula infetada pode produzir até 100.000 partículas virais, mas apenas 1% a 10% serão infeci-
osas pois mutações e erros na produção e montagem do virião podem dar origem a partículas não
infeciosas (partículas defeituosas) ou mutantes com vantagens seletivas.
A ligação das VAPs (“virus attachment proteins”) ou estruturas na superfície da cápside a recetores
na célula determina inicialmente que células são infetadas pelo vírus.
A adsorção resulta da colisão ao acaso entre o virião e a membrana celular e a ligação inicial do virião
ao recetor pode ser reversível.
RECETORES
Vírus que se ligam a recetores expressos em tipos celulares específicos podem ser restritos a certas
espécies ou tipos celulares. A especificidade da célula alvo define o tropismo tecidular (ex. neurotró-
pico, linfotrópico).
VIROLOGIA 12
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Penetração
• Endocitose (viropexis)
• Fusão (com a membrana citoplasmática)
• Translocação
Muitos vírus (com ou sem invólucro) entram nas células por endocitose mediada por recetores
→ Viropexis:
→ O vírus reconhece os recetores da superfície celular sendo transportado para regiões revesti-
das com clatrina onde terá lugar a formação de vesículas
→ As partículas virais dentro das vesículas fundem posteriormente com endossomas
→ Acidificação nestas vesículas altera a estrutura da superfície do virião
→ O invólucro viral funde com a membrana do endossoma libertando a nucleocápside no cito-
plasma
Vírus com invólucro fundem as suas membranas com membranas celulares para entregar a nucleo-
cápside ou genoma diretamente no citoplasma → Fusão:
Alguns vírus icosaédricos sem invólucro parecem ser capazes de passar diretamente através da
membrana citoplasmática → Translocação
Descorticação
Após internalização, a nucleocápside tem de ser entregue no local de replicação dentro da célula, a
cápside ou invólucro são removidos (descorticação) e há libertação do genoma viral.
O genoma de vírus DNA (exceto no caso dos poxvirus) tem de ser entregue ao núcleo enquanto que
a maioria dos vírus RNA permanece no citoplasma.
O processo de descorticação pode ser iniciado por adesão a um recetor ou promovido pelo ambiente
acídico ou proteases encontradas em endossomas ou lisossomas. Vírus com invólucro são descorti-
cados ao fundirem com membranas celulares.
VIROLOGIA 13
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A descorticação:
Síntese de Macromoléculas
Uma vez dentro da célula, o genoma tem de dirigir a síntese de RNAm viral e proteínas e gerar cópias
idênticas de si próprio.
A forma como cada vírus executa estes passos depende da estrutura do genoma e do local de repli-
cação → podem interagir diretamente com a maquinaria do hospedeiro para promover síntese de
RNAm ou proteica.
NOTA: Replicação do RNA é um fenómeno exclusivo dos vírus. A transcrição do RNA a partir de um
molde de RNA necessita de uma enzima que não se encontra presente nas células, a RNA polimerase
dependente do RNA (codificada pelo vírus).
Vírus DNA: A maioria dos vírus DNA usa a maquinaria celular no núcleo para transcrição e proces-
Vírus RNA: A maioria dos vírus RNA replica e produz RNAm no citoplasma (exceto osortomixovírus
e retrovirus). Os vírus RNA precisam de codificar as enzimas necessárias para a trancrição e replica-
ção, pois a célula não tem capacidade para replicar RNA.
Classificação de Baltimore
Grupos 1, 2, 6 e 7: O genoma é, ou é
convertido em DNA de cadeia dupla
que depois é convertido em RNAm.
Grupos 3, 4 e 5: Genoma é, ou é convertido em, RNA de cadeia simples positiva (que corresponde
ao RNAm).
VIROLOGIA 14
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Replicação
Genes Virais
Para produzir as proteínas virais, todos os vírus dependem dos ribossomas, tRNA e mecanismos de
modificação pós-tradução da célula hospedeira.
Os vírus usam táticas diferentes para promover a tradução preferencial do seu RNAm (em vez do
RNAm celular).
→ Exemplos
o Em muitos casos, a concentração do RNAm viral na célula é muito grande.
• ocupa a maioria dos ribossomas, evitando a tradução de RNAm celular.
o HSV (e outros vírus) inibem a síntese celular de macromoléculas.
• induzem degradação do DNA e RNAm celular.
VIROLOGIA 15
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o Poliovírus usam uma protease codificada pelo vírus para inativar uma proteína
do ribossoma.
• previne a ligação e tradução de alguns RNAm celulares.
o Os togavírus (e outros vírus) aumentam a permeabilidade da membrana celular.
• diminui a afinidade do ribosoma para a maioria dos RNAm celulares.
Reunião
Virião é construído a partir de partes pequenas que rodeiam o genoma. Cada parte do virião tem
estruturas de reconhecimento que permitem que o vírus forme as interações apropriadas, necessárias
para montar a estrutura final:
→ entre proteínas
→ entre proteínas e ácidos nucleicos
→ entre proteínas e membranas (no caso de vírus com invólucro)
→ Vírus DNA com nucleocápside (excepto os poxvírus): montagem ocorre no núcleo (requer
transporte das proteínas do virião para o núcleo).
→ Vírus RNA (e os poxvirus): montagem ocorre no citoplasma.
Cápsides: podem ser montados como estruturas vazias (procápsides) a serem preenchidas com o
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NOTA: podem ocorrer erros e podem ser formados viriões vazios ou viriões contendo genomas com
defeitos.
Libertação
→ Lise da célula
→ Exocitose
→ Evaginação (“budding”) da membrana plasmática
Vírus com cápsides nuas (i.e. sem invólucro) são geralmente libertados após lise da célula →
EVENTO ALTAMENTE IMUNOGÉNICO
Vírus com invólucro são libertados geralmente por evaginação da membrana plasmática, sem morte
da célula.
Disseminação da Infeção
Alguns vírus podem induzir fusão entre células, formando células gigantes multinucleadas (sincícios),
que podem produzir enormes quantidades de vírus.
Os retrovírus e alguns vírus DNA podem transmitir as suas cópias integradas do genoma vertical-
mente, para células filhas durante a divisão celular.
VIROLOGIA 17
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Resumo
O resultado de uma infeção é determinado pela natureza da interação vírus-hospedeiro e pela res-
posta do hospedeiro à infeção. A natureza da doença e sintomas são definidos pelo tecido alvo do
vírus. O tropismo é a preferência por determinado tecido alvo e pode ser explicado pela especificidade
dos recetores celulares e pelas diferenças na quantidade de recetores nos vários órgãos.
• Estirpe do vírus.
• Tamanho do inóculo.
• Saúde geral da pessoa infetada.
• Capacidade da resposta imune da pessoa infetada para controlar a infeção.
Um determinado vírus pode causar várias doenças diferentes ou não causar sintomas observáveis.
VIROLOGIA 18
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1. Entrada no organismo.
2. Início da infeção no local primário.
3. Ativação da imunidade inata.
4. Período de incubação (amplificação do vírus e disseminação para local secundário).
5. Replicação no tecido-alvo (causando sinais característicos da doença).
6. Respostas imunes: limitam e contribuem para a doença (imunopatogénese).
7. Disseminação para outro hospedeiro (contágio).
8. Resolução ou infeção persistente /doença crónica.
VIROLOGIA 19
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O período de incubação pode continuar sem sintomas (período assintomático) ou produzir sintomas
iniciais não específicos, induzidos por citoquinas (ex. febre, dores de cabeça ou do corpo, arrepios)
(período prodrómico).
Muitas infeções virais são resolvidas pelas proteções inatas do hospedeiro, sem sintomas.
Os sintomas são causados por dano tecidular ou efeitos sistémicos (causados pelo vírus e sistema
imunológico). Estes sintomas podem continuar ao longo da convalescença.
Normalmente desenvolve-se resposta imune de memória (futura proteção contra este vírus).
Portas de entrada: pele, trato respiratório, trato intestinal, trato urogenital e conjuntiva.
VIROLOGIA 20
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Pele
Por vezes a lesão cutânea pode não ser detetável (ex. nalguns casos em que os vírus das verrugas
humanas e outros papilomavírus iniciam a sua infeção).
Trato Respiratório
• Vírus da gripe (liga-se à superfície das células epiteliais e consegue resistir ao muco rico em
ácido siálico (seu recetor)).
• Vírus parainfluenza.
• Adenovírus.
• Coronavírus.
• Rinovíus.
Trato Intestinal
• Norovírus.
• Enterovírus.
• Vírus da hepatite A.
Vírus com invólucro raramente são encontrados no trato alimentar (os sais biliares solubilizam os
lípidos do invólucro levando à perda de infecciosidade).
Trato Urogenital
A entrada pelo trato urinário é muito rara mas a entrada pelo trato genital é mais frequente.
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Conjuntiva
• Alguns adenovírus.
• Enterovírus 70.
Barreiras à infeção: Pele, lágrimas, muco, epitélio ciliado, ácido do estômago, bile, IgA protege os
orifícios.
Após entrada no corpo dá-se a replicação viral no local primário (nas células que expressam recetores
virais e têm a maquinaria biossintética apropriada) e pode ser sintomática.
O vírus pode replicar e permanecer no local primário ou disseminar para outros tecidos através da
corrente sanguínea (ou dentro de fagócitos ou linfócitos mononucleares) ou através de neurónios.
• Local (epitélio).
• Linfática.
Vias principais
• Sangue.
• Através de nervos periféricos.
• Disseminação placentária – infeção congénita.
O transporte do vírus no sangue é denominado virémia. O vírus pode estar “livre” no plasma ou
estar associado a linfócitos ou macrófagos. Os vírus presentes em macrófagos fagocíticos podem ser
inativados, replicar, ou ser entregues a outros tecidos. A replicação de um vírus em macrófagos, na
cobertura endotelial de vasos sanguíneos, no pulmão ou no fígado pode causar amplificação da infe-
ção e iniciar o desenvolvimento de uma virémia secundária. Em muitos casos a virémia secundária
precede a entrega do vírus ao tecido alvo (ex. fígado, cérebro ou pele) e a manifestação de sintomas
característicos.
VIROLOGIA 22
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Vírus podem ter acesso ao sistema nervoso central ou cérebro a partir de:
1. Corrente sanguínea.
2. Meninges infetadas ou fluido cérebroespinal.
3. Migração de macrófagos infetados.
4. Infeção dos neurónios periféricos ou sensoriais (olfato).
Patogénese Viral
Doença Viral:
Citopatogénese
Célula não permissiva: Pode não ter um recetor, uma via enzimática importante ou um ativador trans-
cricional, ou expressar um mecanismo antiviral que não permita a replicação de um tipo ou estirpe
particular de um vírus.
Célula permissiva: Tem a maquinaria biossintética para suportar o ciclo replicativo completo do vírus.
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Célula semi-permissiva: A replicação do vírus pode ser muito ineficiente ou a célula pode suportar
alguns, mas não todos os passos da replicação viral.
Infeções Líticas
• Alguns vírus danificam a célula e impedem a sua reparação (inibição de síntese de macromo-
léculas celulares ou produção de enzimas degradativas ou proteínas tóxicas).
• Infeção viral ou resposta imune citolítica pode induzir apoptose na célula. A expressão na
superfície celular de glicoproteínas de alguns vírus desencadeia a fusão de células vizinhas
em células gigantes multinucleadas → Sincícios
Algumas infeções virais causam lise da célula alvo ou alterações características na sua aparência e
propriedades → Efeito citopático (ECP) (ex. “corpos de inclusão”, vacuolização). O ECP pode ajudar
no diagnóstico.
Infeções persistentes (ocorrem numa célula infetada que não é morta pelo vírus):
Infeções crónicas: associadas à interação prolongada entre o vírus e o hospedeiro. O vírus pode ser
continuamente detetado. Sintomas clínicos podem ser leves ou o indivíduo ser assintomático.
Infeções latentes: podem resultar de infeção, com vírus DNA, de uma célula que restringe ou não tem
a maquinaria para transcrição de todos os genes virais, ou o vírus pode codificar funções que supri-
mem a replicação viral (ex. citomegalovírus) para prolongar o seu parasitismo. Os fatores de
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transcrição específicos necessários para estes vírus podem ser expressos apenas em tecidos espe-
cíficos, em células em divisão ou após indução hormonal ou por citoquinas.
Infeções transformadoras (vírus oncogénicos): infeções persistentes que podem também estimular
crescimento celular descontrolado, causando transformação e imortalização celular. A transformação
celular é o primeiro passo, mas geralmente não é suficiente para causar oncogénese e formação de
tumor. No entanto, ao longo do tempo, as células imortalizadas têm maior probabilidade do que as
células normais para acumular outras mutações ou rearranjos cromossómicos que promovem o de-
senvolvimento de células tumorais. As células imortalizadas também podem ser mais suscetíveis a
cofatores e promotores tumorais. Aproximadamente 15% dos cancros humanos podem ser relacio-
nados com vírus oncogénicos. Os vírus oncogénicos são crónicos (uma vez no corpo nunca são to-
talmente eliminados).
Resposta antiviral inata ativada por células infetadas (ou contra células infetadas).
Resposta inicial provavelmente mediada por interferão e citoquinas: induzem sintomas semelhantes
a gripe. Os interferões do tipo I e as citoquinas iniciam a resposta e causam sintomas prodrómi-
cos seguidos de resposta imunológica específica de antigénios, doença específica de tecido e reso-
lução.
Após penetração das barreiras naturais à infeção, ocorre ativação das defesas do hospedeiro
não específicas de antigénio (resposta inata) numa tentativa de limitar e controlar a replicação viral
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local e disseminação do vírus (ex. febre, interferão, macrófagos, células dendríticas, células NK). Al-
gumas moléculas virais ativam a produção de interferão do tipo I e respostas celulares inatas
→ Resposta inata evita que a maioria das infeções virais resulte em doença.
→ Respostas imunes específicas de antigénios levam vários dias para serem ativadas e se tor-
narem efetivas.
→ Respostas protetoras pretendem resolver a infeção eliminando todos os vírus infecio-
sos e células infetadas com vírus.
Possíveis mecanismos:
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IMUNOPATOLOGIA
A hipersensibilidade e reações
inflamatórias iniciadas pela
imunidade antiviral podem ser a
maior causa de manifestações
patológicas e sintomas de do-
ença viral.
Respostas iniciais ao vírus (ex. interferão, citoquinas) podem iniciar inflamação local e respostas sis-
témicas. Algumas infeções virais induzem uma enorme resposta de citoquinas (tempestade de cito-
quinas): pode desencadear doenças autoimunes em indivíduos geneticamente predispostos.
Resposta inflamatória iniciada por imunidade mediada por células é difícil de controlar e danifica teci-
dos. Infeções causadas por vírus com invólucro causam respostas imunes mediadas por células (nor-
malmente produzem condições imunopatológicas mais extensas).
As crianças normalmente têm uma resposta imune mediada por células (ex. células NK ou NKT) me-
nos ativa do que os adultos → normalmente têm sintomas mais suaves durante infeções por alguns
vírus.
Invasão local nas superfícies epiteliais têm período de incubação curto; ex. HPV
pode causar disseminação pelo sangue = vi-
Invasão subepitelial e disseminação linfática
rémia
Invasão da placenta e feto através do sangue ex. vírus da rubéola, CMV
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INFEÇÕES LOCALIZADAS:
INFEÇÕES SISTÉMICAS:
corpo humano
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Sintomas clínicos
Período prodrómico: Período de tempo entre os primeiros sintomas de doença e o início dos sinais
ou sintomas com base no qual o diagnóstico pode ser efetuado. Sintomas clínicos generalizados e
inespecíficos (febre, mal estar, dor de cabeça, anorexia)
A natureza e severidade dos sintomas de uma doença viral estão relacionados com a função do
tecido alvo infetado e a extensão das respostas imunopatológicas desencadeadas pela infeção.
→ Infeção persistente: infeções virais podem causar: doença aguda ou doença crónica (infeção
persistente).
VIROLOGIA 29
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VIROLOGIA 30
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Exemplos:
- Vírus que replicam no trato respiratório (ex. vírus influenza A) são libertados em gotículas de aeros-
sóis (“aerosol droplets”)
- Vírus entéricos (ex. picornavírus e reovírus) são transmitidos por via fecal-oral
- CMV são transmitidos na maioria das secreções corporais pois infeta várias células de muitos órgãos
(pele, glândulas secretoras, pulmões, fígado, etc).
VIROLOGIA 31
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A maioria dos vírus com invólucro são frágeis quando comparados com os vírus sem invólucro.
Necessitam do invólucro intacto para serem infecciosos. Necessitam de permanecer húmidos e são
geralmente transmitidos por: gotículas respiratórias, sangue, muco, saliva e sémen; injeção; trans-
plantes de órgãos. Maioria dos vírus com invólucro são lábeis a tratamento com ácidos e detergentes
(o que impede a sua transmissão por via fecal-oral).
Animais e insetos podem atuar como vetores transmitem a doença viral a outros animais e humanos.
Também podem ser reservatórios de vírus mantendo e amplificando vírus no ambiente.
Exemplo: Arbovírus
Têm origem em artrópodes (ex. mosquitos). Maioria tem muitos hospedeiros. Capazes de re-
plicar em insetos específicos, aves, anfíbios e mamíferos, assim como em humanos. Têm de estabe-
lecer uma virémia suficiente no animal reservatório de forma a que o inseto possa adquirir o vírus ao
morder.
A pessoa infetada é uma fonte continua do vírus que pode ser transmitido a pessoas não imunes.
→ Vírus com muitos serótipos diferentes (rinovírus) ou vírus capazes de alterar a sua antigenici-
dade (gripe e HIV) facilmente encontram populações não imunes (suscetíveis).
VIROLOGIA 32
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A persistência de um vírus numa comunidade depende de existir um número crítico de pessoas sus-
cetíveis (seronegativas). A eficiência da transmissão do vírus determina o tamanho da população
suscetível necessária para a manutenção do vírus na população. Imunização conseguida por via na-
tural ou por vacinação permite obter imunidade de grupo.
- Vírus - Idade
-Inóculo - Nutrição
A suscetibilidade a uma infeção depende - Virulência - Estado imunológico
- Fatores genéticos
→ quarentena
→ boa higiene
MEDIDAS PROFILÁTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
→ alterações do estilo de vida
→ eliminação do vetor
→ imunização da população MELHOR FORMA
VIROLOGIA 33
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TIPOS DE IMUNIZAÇÃO
→ Imunização passiva: Com anticorpo purificado ou soro contendo anticorpo ou com células
imunes estimuladas. Obtidos a partir de um dador apropriado. Fornece proteção rápida, mas
temporária
• Recém-nascidos: recebem a imunidade passiva natural através da imunoglobulina ma-
terna, que cruza a placenta ou está presente no leite da mãe
A imunidade a uma infeção viral → desenvolvimento de resposta imune para antigénios específicos
localizados na superfície das partículas virais ou das células infetadas por vírus. Para vírus com invó-
lucro, os antigénios importantes são as glicoproteínas de superfície.
Vacinação
VIROLOGIA 34
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Objetivo da vacinação
Várias vacinas provaram ser altamente eficazes em reduzir a incidência anual da doença viral.
VIROLOGIA 35
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VACINAS CLÁSSICAS
VIROLOGIA 36
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Consistem em mutantes menos virulentos (atenuados) do vírus selvagem, vírus de outras espécies
que partilham determinantes antigénicos ou vírus manipulados por engenharia genética com ausência
de propriedades de virulência.
Eficazes: Ocorre replicação mas, como o vírus é atenuado, a replicação frequentemente é restrita às
células em redor do local da inoculação, resultando numa doença suave ou inaparente.
Atuam como a infeção natural no que diz respeito ao seu efeito na resposta
imunológica.
- Replicam no hospedeiro e tendem a estimular produção de anticorpos de
duração mais longa.
VANTAGENS - Administradas em doses relativamente pequenas mas ao replicar aumen-
tam a carga antigénica.
- Induzem uma boa resposta mediada por células.
- Induzem produção de anticorpos e resistência no local de entrada do
vírus.
- Possíveis efeitos secundários (“doença suave”).
- Risco de reversão para maior virulência durante a multiplicação já na vacina.
- Podem estar associadas a reações severas em imunodeficientes, devido à
replicação descontrolada da estirpe vacinal.
- Podem conter agentes externos, i.e. contaminantes externos, não reconhe-
DESVANTAGENS
cidos, que infetam as culturas (ex. ovos ou culturas de células).
- O armazenamento e o limitado tempo de armazenamento (pode ser ultra-
passado nalguns casos com uso de estabilizantes).
- Interferência por co-infeção natural com um (outro)vírus “wild-type”, po-
dendo inibir a replicação do vírus da vacina e diminuir a sua eficácia.
VIROLOGIA 37
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Figura 17. Comparação das características das vacinas inativadas e vivas atenuadas.
Exemplos:
VIROLOGIA 38
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Imunidade de Grupo:
Risco de infeção entre indivíduos suscetíveis numa população pode ser diminuído pela
presença de números adequados de indivíduos imunes. → redução dramática na incidência da do-
ença, mesmo que todos os indivíduos suscetíveis não tenham sido vacinados.
VIROLOGIA 39
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Terapêutica Antiviral
Problemas associados:
A maioria dos medicamentos antivirais são dirigidos a enzimas codificadas pelo vírus ou estruturas
do vírus que são importantes para a replicação. Alguns são estimuladores das respostas imunes ina-
tas protetoras.
Existem terapias antivirais para alguns dos vírus que causam morbilidade e mortalidade significativa
e que têm alvos terapêuticos.
VIROLOGIA 40
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Os passos principais
da replicação viral po-
dem ajudar a encontrar
“alvos terapêuticos”:
adsorção, penetração,
descorticação, síntese
proteica, replicação,
reunião e libertação.
VIROLOGIA 41
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Inibidores da adsorção
Bloqueio da interação entre o vírus (VAP – “viral attachment protein”) e o seu recetor na superfície
celular. Este bloqueio pode ser feito por: anticorpos neutralizantes que se ligam à VAP ou antagonistas
do recetor.
Os anticorpos específicos (imunização passiva) são a forma mais antiga de terapia antiviral.
→ Polissacarídeos acídicos (ex. heparan, sulfato de dextrano): interferem com a adsorção viral
e têm sido sugeridos para o tratamento de infeção com HIV, HSV, e outros vírus.
→ Maraviroc (Selzentry®): liga-se ao co-recetor CCR5 do HIV:
o Inibe a entrada do HIV nas células
o Bloqueia a ligação do HIV a macrófagos e algumas células T CD4
o Previne a infeção inicial
Amantadina e Rimantadina:
Apenas têm atividade contra o vírus da gripe A (o vírus influenza B não tem a proteína M2).
Mecanismo de ação: Ligação e bloqueio do canal do ião H+ formado pela proteína viral M2:
VIROLOGIA 42
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Outros fármacos:
Docosanol: inibe a fusão dos vírus com invólucro, incluindo HSV, com membranas celulares
Enfuvirtida [Fuzeon®]: Péptido sintético de 33 aminoácidos (T20) que inibe a ação da proteína de
fusão viral do HIV (gp41) bloqueando a penetração e descorticação do HIV “Inibidor de
Fusão” pois impede a fusão do invólucro do HIV com a membrana da célula hospedeira. Foi aprovado
para o uso clínico (Fuzeon, Roche) e é utilizado contra HIV-1.
A síntese de RNAm não é um bom alvo porque é difícil inibir a síntese de RNA viral sem afetar a
síntese de RNAm celular.
→ Sofosbuvir: pró-fármaco para um análogo de nucleósido e foi aprovado como inibidor da RNA
polimerase RNA-dependente do HCV
→ Baloxavir marboxil: inibe os vírus da gripe A e B através da inibição da atividade endonuclease
da polimerase viral.
→ Ribavirina: análogo da guanosina que promove hipermutação e inibe a biossíntese de nu-
cleósidos, o cap do RNAm, e outros processos celulares e virais importantes para a repli-
cação de vários vírus. MECANISMO DE AÇÃO MÚLTIPLO
→ Interferões do tipo 1: podem inibir o “splicing” e tradução do RNAm viral. Estão aprova-
dos para uso clínico (papiloma e hepatite C). Causam:
o degradação do RNAm viral e celular
o bloqueio da montagem ribossomal
o previnem a síntese proteica e replicação viral
Tipos de Fármacos:
VIROLOGIA 43
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A maioria dos compostos são análogos de nucleósidos (nucleósidos contendo modificações no açúcar
e/ou na base). A maioria dos fármacos antivirais aprovados são análogos de nucleósidos que inibem
as polimerases virais pois são essenciais para a replicação viral e são diferentes das enzimas celula-
res.
Principais alvos: A DNA polimerase dependente de DNA dos vírus herpes e as transcriptases rever-
sas do HIV e HBV (também chamadas DNA polimerases dependentes de RNA). Os que têm como
alvo a DNA polimerase viral são muito usados no tratamento de infeções herpéticas e não têm ativi-
dade na infeção latente. Para máxima eficácia o tratamento deve ser iniciado muito cedo (quer na
infeção primária quer na recorrente).
NOTA: Antes de serem usados pela polimerase, os análogos de nucleósidos precisam ser
fosforilados para a forma trifosfato por enzimas virais (ex. timidina cinase do HSV no caso do
aciclovir) ou enzimas celulares (ex. no caso do AZT) ou ambas.
Análogos de nucleósidos inibem seletivamente as polimerases virais pois são menos rigorosas do
que as enzimas celulares do hospedeiro.
As resistências são normalmente causadas por uma mutação da polimerase. O mecanismo de ação
da resistência:
1. “TERMINADORES DE CADEIA”
Fármacos antivirais que causam terminação da cadeia de DNA. São nucleósidos contendo modifica-
ções no açúcar.
VIROLOGIA 44
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➢ ACICLOVIR
Mecanismo de ação: inibe a DNA polimerase viral e serve de substrato à DNA polimerase provocando
uma paragem na síntese da cadeia de DNA viral (terminador de cadeia).
Aciclovir é potente e seguro, mas tem limitações: baixa biodisponibidade oral (administração oral
pouco frequente) e aparecimento de estirpes resistentes.
➢ VALACICLOVIR
Pró-fármaco do aciclovir (éster valil derivado do ACV) muito ativo contra HSV e VZV. Retém a mesma
atividade e segurança do aciclovir, mas supera as limitações de biodisponibilidade oral do aciclovir.
➢ PENCICLOVIR
Análogo acíclico da guanosina. Tem um espetro de ação similar ao Aciclovir. É mal absorvido por via
oral, mas muito bem tolerado quando aplicado topicamente.
O trifosfato de Penciclovir tem uma semivida intracelular maior nas células infetadas do que o aciclovir.
➢ FANCICLOVIR
VIROLOGIA 45
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➢ GANCICLOVIR
Mecanismo de ação: inibe competitivamente a DNA polimerase viral. Ao contrário do aciclovir, é in-
corporado na cadeia de DNA em crescimento.
➢ VALGANCICLOVIR
Pró-fármaco do Ganciclovir com maior biodisponibilidade oral (formulação oral). Usado no tratamento
e prevenção de infeções por CMV em imunocomprometidos.
➢ CIDOFOVIR
➢ ADEFOVIR
Análogo da adenosina contendo um fosfato ligado ao análogo do açúcar. Foi aprovado para trata-
mento contra o HBV.
VIROLOGIA 46
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Mecanismo de ação: inibe a transcriptase reversa do HIV; não tem o 3’-hidroxilo necessário para o
alongamento da cadeia de DNA e evita a síntese do DNA complementar.
A seletividade antiviral é conseguida devido à maior afinidade para a transcriptase reversa do HIV do
que para a DNA polimerase celular humana.
Resistências: devidas à alta taxa de erros da polimerase do HIV cria mutações extensas e promove
o desenvolvimento de estirpes resistentes sendo por isso atualmente usado sempre em associação
com outros fármacos antiretrovíricos.
Também análogos de nucleosídeos aprovados como agentes anti-HIV. Tal como o AZT, a dideso-
xinosina, a didesoxicitidina e a estavudina (d4T) não possuem o grupo 3’- hidroxilo.
Disponíveis para o tratamento da SIDA em pacientes que não respondem à terapia com AZT, ou
podem ser administrados em combinação com o AZT. Lamivudina é também ativa contra a polimerase
transcriptase reversa do HBV.
São incorporados no genoma viral e causam erros na replicação (mutação) e erros na transcrição
(mRNA e proteínas inativas). São nucleósidos contendo modificações na base.
HIV e os vírus herpes têm polimerases que incorporam nucleótidos com velocidades rápidas e em
grande quantidade o que os torna particularmente suscetíveis a estes fármacos.
➢ RIBAVIRINA
Mecanismo de ação: inibe a RNA polimerase de alguns vírus, ao competir com a GTP e ATP (devido
à semelhança estrutural da molécula).
VIROLOGIA 47
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Exemplo: Ribavarina 5’-trifosfato serve de substrato à RNA polimerase do HCV (denominada NS5b).
Inibe essa RNA polimerase, causando paragem na síntese da cadeia de RNA viral, impedindo a re-
plicação viral → “Terminador de cadeia”.
→ Inibe a RNA polimerase de alguns vírus o que leva à inibição da síntese do RNA viral.
→ Diminuição do trifosfato de guanosina (GTP) na célula, essencial para síntese do RNA viral o
que leva à inibição de vários vírus RNA
→ Diminuição da síntese do DNA
→ Diminuição da síntese de proteínas virais porque inibe competitivamente a guanilação e meti-
lação dos RNAm levando à acumulação de RNAm não traduzíveis (inibição do eIF4E)
→ Imunomodulação que aumenta a resposta Th1 CD4 resultando num aumento da atividade de
linfócitos T citotóxicos e secreção de citocinas antivirais tais como o interferão-ɣ e TNF-α
Tem um largo espetro de ação e é ativo contra vírus DNA e RNA. Tem indicações terapêuticas (sem-
pre em combinação com outros medicamentos) para: hepatite C crónica, febre hemorrágica viral, vírus
respiratório sincicial e complicações por herpes simplex. É contraindicado na gravidez.
Têm como alvo as células com intensa replicação de DNA (como as infetadas com HSV), e “poupam”
as células que não estejam em crescimento.
Mecanismo de ação: inibidores clássicos das polimerases dos vírus herpes que inibem a replicação
viral ao se ligarem na DNA polimerase, bloqueando a ligação dos nucleotídeos.
VIROLOGIA 48
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Efeitos secundários: Não inibem as polimerases celulares nas concentrações farmacológicas, mas
podem causar problemas renais e outras desordens pois podem quelatar iões divalentes de metal
(ex., cálcio) e ser incorporados nos ossos.
Foscarnet inibe a DNA polimerase de todos os herpes vírus e a transcriptase reversa do HIV. Foi
aprovado para o tratamento de retinite causada por CMV em doentes com SIDA. Não necessita de
ativação (fosforilação) prévia pela timidina cinase ou outras cinases e, por isso, permanece ativo con-
tra mutantes de HSV deficientes em tirosina cinases e resistentes ao aciclovir.
Mecanismo de ação: inibidores não competitivos não nucleósidos da transcriptase reversa (TR) (li-
gam-se a locais das polimerases diferentes do local de ligação do substrato).
Usados no tratamento da infeção pelo HIV-1. A nevirapina foi o primeiro composto não nucleosídico,
inibidor da TR, a ser aprovado para tratar a infeção pelo HIV.
Só ativos para HIV-1. HIV-2 não é suscetível a esta primeira geração de inibidores não nucleósidos
da transcriptase reversa devido a diferenças entre HIV-1 e HIV-2 nos resíduos de aminoácidos que
contactam com estes fármacos (polimorfismos no HIV-2 que reduzem significativamente a ligação a
estes fármacos).
Inibidores da integrase
Aprovado para tratamento de doentes com HIV-1 (em associação com outros medicamentos antire-
trovíricos). Utilizado no tratamento de doentes que apresentam resistência aos outros antiretrovirais.
Fraco alvo para terapêutica antiviral pois os vírus usam os ribossomas da célula do hospedeiro, ou
seja, inibição seletiva não é possível.
VIROLOGIA 49
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Tipos de Fármacos:
Mecanismo de ação: inibidores da neuraminidase viral. Análogos sintéticos do ácido siálico que com-
petem para o local ativo da neuraminidase dos vírus influenza (onde se liga o ácido siálico). Podem
inibir tanto o vírus da gripe A como B (ao contrário da amantadina e rimantadina).
VIROLOGIA 50
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Resumos
VIROLOGIA 51
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VIROLOGIA 52
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Vírus que podem causar, dependendo da célula hospedeira infeções líticas, crónicas, latentes e trans-
formantes.
Características: Pequenos. Sem invólucro. Cápside icosahédrica. Genomas DNA circular de cadeia
dupla. Codificam proteínas que promovem o crescimento celular.
Doenças associadas:
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
→ Identificados pelos menos 100 tipos (variantes) geneticamente distintos de HPV (vírus do Pa-
piloma Humano)
→ Classificados em 16 grupos
VIROLOGIA 53
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Dentro dos HPVs da mucosa existe um grupo associado com cancro do colo do útero (“cervical”), do
pénis, anal e da laringe. Vírus do mesmo grupo → causam verrugas semelhantes.
HPV provocam lesões proliferativas do epitélio na maior parte dos casos benignas mas al-
guns podem estar associados ao desenvolvimento de cancro (HPVs de alto risco).
DNA do HPV codifica: 7 ou 8 genes precoces (dependendo do vírus) (“EARLY”, E1 a E8) e 2 genes
tardios ou estruturais (“LATE”, L1 e L2).
VIROLOGIA 54
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REPLICAÇÃO DO HPV
→ O ciclo de replicação do HPV está ligado ao ciclo de vida do queratinócito e célula epitelial da
pele e mucosa. O vírus consegue acesso à camada celular basal através de fissuras na pele.
“Although the virus can infect only the immature squamous cells, replication of HPV occurs in the
maturing squamous cells and results in a cytopathic effect, “koilocytic atypia,” consisting of nuclear
atypia and a cytoplasmic perinuclear halo”
→ Iniciada pelas proteínas virais E1 e E2: ligam-se ao DNA do HPV para promover a sua repli-
cação (DNA viral é mantido nas células basais replicando em sincronia com o ciclo celular);
→ Expressão das proteínas estruturais L1 e L2 para que ocorra formação da cápside viral (restrita
à camada superficial das células terminais diferenciadas da epiderme);
→ Inserção nas novas cápsides, formando-se novas partículas virais;
→ Lise celular e infeção de novas células → aparecimeto de verrugas características.
Pele infetada amadurece e passa para a superfície o vírus amadurece e é libertado com as células
mortas da camada superior.
VIROLOGIA 55
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PATOGÉNESE
HPV infetam e replicam no epitélio escamoso da pele (verrugas) e nas membranas mucosas (genital,
oral). Os tipos de HPV são específicos de tecido causando diferentes apresentações de doença. Os
HPV estimulam o crescimento celular e o espessamento de camadas → VERRUGAS (desenvolvi-
mento demora 3 - 4 semanas, ou meses)
VIROLOGIA 56
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MECANISMOS PATOLÓGICOS
A infeção viral permanece localizada e geralmente regride espontaneamente, mas pode reaparecer!
Dados epidemiológicos têm implicado o HPV no cancro do colo do útero. Atualmente é aceite que
todos os casos terão este agente como base da sua etiologia. Vários estudos mostraram que o DNA
do HPV está presente em 99,7% dos casos de carcinoma do colo do útero.
O cancro do colo do útero é a terceira neoplasia maligna mais comum em mulheres em todo o mundo
e continua a ser uma das principais causas de morte relacionada com o cancro em mulheres, em
países em desenvolvimento.
Desde a década de 70 que estudos epidemiológicos revelaram uma associação entre a infeção por
um agente sexualmente transmissível – o “Human Papillomavirus” (HPV) – e o desenvolvimento de
carcinomas do colo do útero.
→ Imunidade inata e mediada por células são importantes para controlo e resolução das infeções
por HPV.
→ HPV pode suprimir ou “esconder-se” das respostas imunes protetoras. O queratinócito é um
local imunologicamente privilegiado para a replicação.
→ Existem muito baixos níveis de apresentação de antigénios (exceto nas células da pele termi-
nalmente diferenciadas).
→ Pessoas imunosuprimidas têm recorrências e apresentações mais severas das infeções por
HPV
Os HPVs de alto risco (ex. HPV-16, HPV-18), podem iniciar o desenvolvimento de carcinoma do cólo
do útero e de cancros da orofaringe, do esófago, pénis e anal.
DNA viral é encontrado em tumores benignos e malignos. Quase todos os carcinomas do cólo do
útero contêm DNA do HPV integrado, sendo 70% de HPV-16 ou HPV-18.
VIROLOGIA 57
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
A quebra do genoma circular nos genes E1 ou E2 para promover a integração causa a inativação
destes genes, impedindo a replicação viral, sem impedir a expressão de outros genes do HPV, inclu-
indo os genes E5, E6 e E7.
→ Proteína E5: estabiliza o EGFR (epidermal growth factor receptor) das células, torna as células
mais sensíveis a sinais de crescimento e aumenta o crescimento celular
→ Proteínas E6 e E7: ligam-se e bloqueiam a função de 2 proteínas supressoras tumorais. A E6
liga-se ao p53 e causa a sua degradação. A E7 liga-se e inativa o Rb (retinoblastoma).
Do ponto de vista da patologia cervical, os tipos HPV16 e o HPV18 são os de maior potencial on-
cogénico. HPV16 está relacionado com quase 60% dos casos de cancro colo útero. HPV18 está
relacionado com outros 10% dos casos.
Os fatores de risco para o cancro do colo do útero estão relacionados com características tanto do
hospedeiro como virais. Ex: exposição ao HPV, local da infeção, oncogenicidade viral (tipo do HPV),
resposta imunitária não eficiente e presença de co-carcinogéneos. Outros co-carcinogéneos (desnu-
trição, tabagismo, múltiplas infeções sexuais, qualquer situação associada a imunodeficiência), o es-
tado imunitário do indivíduo, fatores hormonais e outros (ex. polimorfismo do p53) influenciam se a
infeção pelo HPV irá regredir ou persistir e eventualmente progredir para cancro.
VIROLOGIA 58
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Os co-carcinogéneos incluem:
1. Muitos parceiros sexuais 6. Raça/Etnia
EPIDEMIOLOGIA
HPV resiste a inativação e pode ser transmitido por objetos contaminados (fómites), tais como super-
fícies de bancadas ou mobília, chão de casas de banho, e toalhas.
HPV apenas infeta humanos. É possivelmente a infeção mais prevalente transmitida por via sexual.
Tipos de HPV de alto risco, incluindo HPV16 e HPV-18, estão presentes em cancros de orofaringe,
pénis, cólo do útero, vaginal e anal. O carcinoma das células escamosas da orofaringe é agora o
cancro mais comum associado a HPV.
HPV está presente em 99.7% de todos os cancros do colo do útero, com HPV-16 e HPV-18 em 70%
deles.
TRANSMISSÃO DA INFEÇÃO
HPV é responsável por uma das infeções por transmissão sexual mais comuns a nível mundial. Infe-
ções genitais por HPV são, geralmente, transmitidas por via sexual através do contacto epitelial di-
recto (pele ou mucosa), mais raramente transmitidas por via vertical, durante o parto.
Também estão descritos casos de transmissão por contato orogenital. A exposição nos primeiros
anos após o início da vida sexual é frequente, mas não universal.
VIROLOGIA 59
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Infeção assintomática por HPV é identificada em 5-40% das mulheres em idade reprodutiva.
A maior parte das mulheres e homens sexualmente ativos infetar-se-ão com, pelo menos, um tipo de
HPV durante a vida. O risco estimado de infeção por HPV ao longo da vida: 50 a 80% em ambos os
sexos.
% PREVALÊNCIA HPV
Infeções genitais por HPV são muito comuns. Na maioria dos casos são assintomáticas, não causam
alterações nos tecidos e não são detetadas no teste de Papanicolau.
DURAÇÃO DA INFEÇÃO
Maioria das infeções por HPV são transitórias e eliminadas pela resposta imunológica num período
de alguns meses. 50% das infeções por HPV são eliminadas dentro de 8 meses, 90% dentro de 2
anos.
A duração da infeção está relacionada com o tipo de HPV, infeções com HPVs de alto risco oncogé-
nico duram mais tempo do que as infeções com HPVs de baixo risco oncogénico (13 meses versus 8
meses, respetivamente).
Estima-se que 10 a 20% das infeções se podem tornar persistentes. Algumas mulheres não irão
eliminar o HPV → maior risco de desenvolver cancro do colo do útero.
Embora o cancro do colo do útero seja tipicamente monoclonal (i.e. em cada caso apenas está en-
volvido um tipo de HPV na evolução para cancro), a infeção por um tipo não diminui a probabilidade
de infeção concomitante por outros genótipos: 20-30% das mulheres infetadas apresentam mais de
um tipo de HPV.
VIROLOGIA 60
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SÍNDROMES CLÍNICOS
→ VERRUGAS: Proliferação benigna da pele, normalmente das mãos ou pés. Regride com o
tempo. Normalmente associada aos tipos HPV-1 a HPV-4. Infeção inicial ocorre na infância ou
cedo na adolescência. Período de incubação: 3 a 4 meses.
• Papilomas orais únicos: são os tumores epiteliais mais benignos da cavidade oral.
Podem ocorrer em qualquer idade. Normalmente são únicos e raramente recorrem
após remoção cirúrgica;
• Papilomas da laringe: são os tumores epiteliais benignos mais comuns da laringe.
Associados a HPV-6 e HPV-11. Infeção das crianças provavelmente ocorre ao nasci-
mento. Pode ser mortal se os papilomas obstruírem a via aérea, ocasionalmente po-
dem ser encontrados na traqueia e brônquios;
• Carcinomas da orofaringe: 80% contêm DNA de HPV de alto risco.
exclusivamente no epitélio escamoso dos órgãos genitais externos e áreas perianais. Comuns
em indivíduos promíscuos. ~ 90% causados por HPV-6 e HPV-11, raramente se tornam ma-
lignas em pessoas saudáveis. Mas se causadas por estirpes de HPV oncogénicas de alto risco
verrugas anais e do pénis podem progredir para cancro.
prurido. Verrugas genitais podem aparecer dentro de semanas ou meses,após contacto sexual
com pessoa infetada. Alterações citológicas indicando infeção por HPV são detetadas no
teste de Papanicolau (coilócitos).
• Infeção do trato genital feminino por tipos de HPV de alto risco, associada com
neoplasia do colo do útero e com cancro.
• As alterações neoplásicas iniciais são denominadas displasia;
• ~ 40 a 70% das displasias suaves regridem espontaneamente
• Cancro do cólo do útero desenvolve-se ao longo de uma série de alterações celu-
lares progressivas de neoplasia suave (CIN 1) a moderada (CIN 2) a neoplasia
severa ou carcinoma in situ.
• Sequência de eventos pode demorar 1 a 4 anos
VIROLOGIA 61
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DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
→ Verrugas: regridem espontaneamente (pode demorar meses a anos); Podem ser removidas
(crioterapia cirúrgica) devido a dor e desconforto, razões cosméticas ou para prevenir disse-
minação (para outras partes do corpo ou para outras pessoas).
→ PAPILOMAS DA LARINGE: pode ser necessária cirurgia para remoção
Tratamentos: para cicatrizar mais rapidamente: estimuladores da resposta inata e inflamatória: imi-
quimod (Aldara), interferão; para matar seletivamente as células infetadas por HPV: Cidofovir (uso
tópico ou dentro da lesão), induz apoptose por inibir a DNA polimerase celular.
Como nos devemos proteger? R: Uso de preservativo (não tão eficazes na prevenção deste vírus ,
provavelmente porque o HPV pode estar na pele que não é coberta pelo preservativo), Vacinação.
VIROLOGIA 62
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ 1º teste aos 21 anos ou dentro de 3 anos do início da atividade sexual, depois disso anual-
mente. A partir dos 30 anos de idade as mulheres que tiveram 3 resultados consecutivos nor-
mais podem fazer o teste em cada 2 a 3 anos.
Pesquisa de DNA do HPV pode ser feito como “screening” adjuvante da citologia, em mulheres com
30 ou mais anos de idade:
→ Mulheres com resultados de citologia normais e negativas ao teste de DNA do HPV podem
ser testadasnovamente em cada 3 anos;
→ Mulheres com exame citológico normal mas com DNA de HPV de alto risco positivo, devem
repetir acitologia aos 6 e 12 meses
Programa de vacinação, aprovado pela FDA para prevenir a infeção pelo HPV.
→ FDA aprovou em 2006 a vacina quadrivalente, profilática para os tipos 6, 11, 16 e 18.
→ Induz níveis altos de anticorpos no soro em todos os vacinados;
→ A vacina não elimina o risco de cancro de colo do útero devido a outros tipos de HPV oncogé-
nicos → deve ser continuado o “screening” de cancro de colo do útero de acordo com os
“guidelines” do passado, de forma a minimizar a incidência de cancro.
→ Vacinas:
• Dezembro 2006 : comercializada em Portugal a vacina tetravalente (Gar-
dasil®), desenvolvida contra os HPV 16 e 18 (responsáveis por 70 a 75% de
casos de cancro do colo do útero) e contra os HPV 6 e 11 (responsáveis por
cerca de 90% de casos de verrugas genitais/condilomas);
• Outubro 2007: comercializada em Portugal a vacina bivalente (Cervarix®), de-
senvolvida contra os HPV 16 e 18.
Ambas as vacinas são constituídas por partículas semelhantes aos vírus (“vírus like particles” - VLP),
não infeciosas, produzidas por tecnologia de DNA recombinante e destinam-se à prevenção de infe-
ções por HPV, incluindo infeções persistentes, lesões vaginais de baixo grau, lesões precursoras do
cancro e cancro do colo do útero → VACINAS INATIVADAS
VIROLOGIA 63
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Atualização do PNV 2020 (Portugal) → Alargamento ao sexo masculino, aos 10 anos de idade, da
vacinação contra infeções por HPV (vacina HPV), incluindo os genótipos causadores de condilomas
anogenitais. Uma vez que a vacina não elimina o risco de cancro de colo do útero devido a
outros tipos de HPV oncogénicos, deve ser continuado o “screening” de cancro de colo do
útero de acordo com os “guidelines” do passado, de forma a minimizar a incidência de cancro.
VIROLOGIA 64
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
→ Mais pequenos (45 nm diâmetro), com menos ácidos nucleicos (5000 bp) e menos complexos
que os papilomavírus. Genomas divididos em regiões: precoces, tardias e não codificantes:
• Região precoce numa cadeia: codifica para proteínas transformadoras (não
estruturais);
• Região tardia na outra cadeia: codifica para 3 proteínas da cápside (VP1, VP2,
e VP3).
→ Replicação depende da célula hospedeira (semelhante ao HPV)
→ Células permissivas permitem a transcrição de RNAm tardios e replicação viral morte celular.
→ Fatores imunes podem promover bloqueio na replicação vírus estabelece latência nestas cé-
lulas não permissivas.
Algumas células apenas permitem expressão de genes precoces, incluindo o antigénio t, pro-
movendo crescimento celular e potencial transformação oncogénica.
PATOGÉNESE
→ BKV estabelece infeção latente nos rins e JCV estabelece infeção nos rins, células B, células
da linhagem monocítica, e outras.
→ Em imunocompetentes: replicação é bloqueada.
→ Em pessoas deficientes em células T, como por ex. doentes com SIDA ocorre reativação do
vírus no rim levando a libertação viral na urina com potenciais infeções severas do trato uriná-
rio (BKV) ou virémia e infeção do sistema nervosa central (JCV).
MECANISMOS PATOLÓGICOS
Leucoencefalopatia
multifocal
progressiva
VIROLOGIA 65
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ BKV e JCV podem causar tumores em hamsters mas não foram associados com tumores
humanos, MCV pode integrar e sofrer mutações no antigénio T que previne a replicação viral,
permitindo ao vírus converter a célula em tumoral.
EPIDEMIOLOGIA
Infeções com poliomavírus são ubiquitárias, a maioria casos infeção com JCV e BKV ocorre antes
dos 15 anos de idade. Inalação, ou contacto com água ou saliva contaminadas, o vírus está dissemi-
nado na urina, fezes e potencialmente em aerossóis.
Infeções latentes podem ser reativados em pessoas com sistemas imunes suprimidos devido a: SIDA,
transplante de órgãos, gravidez
Cerca de 10% das pessoas com SIDA desenvolvem PML (Leucoencefalopatia multifocal progres-
siva): doença fatal em 90% dos casos. A incidência diminuiu com o sucesso da terapia antiretroviral
HAART.
SÍNDROMES CLÍNICOS
BKV e JCV podem ser reativados em doentes imunocomprometidos ou durante a gravidez (efeitos no
feto não reportados).
→ BKV → em doentes com transplantes renais: estenose ureteral e em doentes com transplante
de medula óssea: cistite hemorrágica.
VIROLOGIA 66
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
NOTA: Nos indivíduos infetados com HIV não foi identificado doença renal associada à presença de
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Diagnóstico de Leucoencefalopatia multifocal progressiva: presença de DNA viral, por PCR em fluido
cerebrospinal visualização das lesões por ressonância magnética ou tomografia computorizada
Deteção do vírus: imunofluorescência in situ, imunoperoxidase, análise com sondas de DNA, análise
por PCR (de fluido cerebrospinal, urina ou biópsias) ou testes citológicos de urina podem revelar a
presença de infeção por JCV ou BKV (existência de células grandes com inclusões intranucleares
basófilas densas - parecidas com as induzidas pelo CMV)
Melhor tratamento: diminuição da imunossupressão. Cidofovir (pode ajudar). Pouco provável que a
infeção primária possa ser prevenida. (Vírus ubiquitários e falta de conhecimento sobre o seu modo
de transmissão).
VIROLOGIA 67
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VIROLOGIA 68
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
→ 70 a 90 nm
→ Sem invólucro
→ Genoma: DNA de cadeia dupla (dsDNA,
linear)
→ Cápside:
o icosaédrica com 240 capsómeros
(hexâmeros e pentâmeros)
o 12 pentâmeros nos vértices:
▪ contêm uma base de pentâmero e uma fibra (que se projeta): tóxicas para as
células
▪ A fibra contém as “VAPs” (virus attachment proteins”) e pode agir como uma
hemaglutinina
Codifica proteínas para promover síntese de RNA e DNA (incluindo a DNA polimerase) → Síntese da
DNA polimerase viral → ativa a expressão de genes tardios
VIROLOGIA 69
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
➢ Proteínas precoces:
o promovem o crescimento celular
o incluem DNA polimerase → replicação do genoma (no núcleo)
o também codificam proteínas que suprimem a apoptose e as respostas imunológicas e
inflamatórias do hospedeiro
➢ Proteínas tardias:
o sintetizadas após o início da replicação do DNA viral
o principais componentes do capsídeo
Proteína E1A é um oncogene. As proteínas E1A e E1B podem estimular a multiplicação celular pois
ligam-se a proteínas supressoras de crescimento celular: pRB (E1A) p53 (E1B).
Em células de roedores: proteínas E1A e E1B podem promover o crescimento celular, mas sem
morte celular → vírus transforma oncogenicamente as células, mas a transformação oncogénica
não se verifica em humanos!
VIROLOGIA 70
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PATOGÉNESE
Infetam o revestimento das células epiteliais da orofaringe, órgãos respiratórios e órgãos entéricos.
Atividade tóxica da proteína da base pentamérica pode resultar em inibição do transporte celular
de RNAm e síntese de proteínas, arredondamento da célula e lesão tecidual.
TIPOS DE INFEÇÃO:
Infeção Latente pode ocorrer em: tecidos linfoides, tecidos adenoides, amígdalas e placas de Peyer
→ Infeção persiste → Vírus pode ser reativado em imunossuprimidos.
VIROLOGIA 71
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Anticorpos: São protetores (protegem de reinfeção pelo mesmo serótipo) mas podem ocorrer repe-
tição de infeções por outro serotipo.
Imunidade celular: Importante para limitar o crescimento do vírus e para proteger imunossuprimidos
contra doenças mais sérias e recorrentes, mas adenovírus possuem vários mecanismos para escapar
às defesas do hospedeiro → persistir no hospedeiro.
EPIDEMIOLOGIA
Viriões resistem a:
→ Ressecamento
→ Detergentes
→ Secreções do trato gastrointestinal
→ Tratamento brando com cloro
→ plástico: 35 dias
→ metal: 45 dias
→ tecido: 10 dias
→ papel: 8 dias
DISSEMINAÇÃO:
→ aerossóis
→ via fecal-oral
→ dedos (para os olhos)
→ fómites (ex. toalhas e instrumentos médicos contaminados)
→ piscinas inadequadamente cloradas
Podem ser libertados intermitentemente da faringe e, em especial, nas fezes durante longos períodos.
A maioria das infeções é assintomática → facilita disseminação na comunidade.
Normalmente a doença não ocorre de modo epidémico, mas podem ser responsáveis por peque-
nas epidemias familiares ou extensas nas coletividades de crianças e sobretudo militares. Multidões
e locais de grande proximidade promovem a disseminação. Nos recrutas militares a doença res-
piratória aguda é a forma predominante (surtos epidémicos), sendo os tipos 4, 7 e 3 os principais
responsáveis.
VIROLOGIA 72
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
O vírus é encontrado em todo o mundo sem incidência sazonal. A Infeção nosocomial é também uma
importante fonte de transmissão.
Infetam primariamente crianças menos frequentemente adultos. Nas crianças e adultos imunocom-
prometidos pode ocorrer doença resultante de reativação. Nos imunocompetentes a infeção é nor-
malmente auto-limitada. As síndromes clínicas específicas estão associadas a infeção por ade-
novírus específicos.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ Respiratórias
→ Oculares
→ Gastrointestinais
→ Genitourinárias
→ Outras
INFEÇÕES RESPIRATÓRIAS:
Principal alvo dos adenovírus: trato respiratório → responsáveis por 2-5% de todas as infeções res-
piratórias.
VIROLOGIA 73
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
INFEÇÕES OCULARES:
OUTRAS INFEÇÕES:
→ Gastroenterite:
o Os adenovírus entéricos (74erotipos 40 e 41) causam diarreia na criança jovem
o São a seguir aos rotavírus a maior causa de diarreia infantil
o Causam 15% dos casos de gastroenterite exigindo hospitalização
→ Cistite Hemorrágica Aguda:
o Ocorre quase exclusivamente em crianças do sexo masculino
→ Meningoencefalite: meningite asséptica, meningoencefalite e encefalite
→ Infeção Sistêmica em Pacientes Imunocomprometidos
→ Outras Manifestações:
o intussusceção em crianças pequenas
o distúrbios músculo-esqueléticos
o infeções genitais e cutâneas
o adenovírus tipo 36 está associado com obesidade
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Isolamento em culturas celulares derivadas de células epiteliais → Após 2 – 20 dias ocorre infeção
lítica com corpos de inclusão característicos e morte celular.
Análise direta de amostra clínica por: Imunoensaios e PCR. Testes serológicos raramente usados
(apenas fins epidemiológicos).
Reduzir a transmissão:
VIROLOGIA 74
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Vacinação: Vacinas orais vivas usadas para prevenir infeções por adenovírus dos tipos 4 e 7 em
recrutas nos EUA (não utilizadas na população civil).
Família Herpesviridae
VIROLOGIA 75
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Todos os herpesvírus têm morfologia idêntica não podem ser distinguidos por microscopia
eletrónica.
Infeções por herpes-vírus são comuns e são ubíquas (exceto HHV-8). O Homem é único hospedeiro
natural! São sensíveis a ácidos, solventes, detergentes e ressecamento.
Geralmente causam doenças benignas (principalmente em crianças). Mas podem causar morbi-
dade e mortalidade significativas (sobretudo em imunossuprimidos). Podem causar infeções líticas,
persistentes, latentes e nalguns casos imortalizantes (EBV e HHV-8). EBV e HHV-8 associados com
cancros em humanos.
VIROLOGIA 76
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
VIROLOGIA 77
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Também têm reação cruzada antigénica com VZV. Podem ser distinguidos por diferenças subtis nes-
sas propriedades.
PATOGÉNESE
Inicialmente infetam e replicam em células mucoepiteliais causam doença no local de infeção e esta-
belecem uma infeção latente do neurónio que inerva essa área.
HSV-1 geralmente associado com infeções acima da cintura. HSV-2 geralmente associado com infe-
ções abaixo da cintura.
Diferem nas características de crescimento e antigenicidade: HSV-2 tem maior potencial para causar
virémia (com sintomas sistémicos semelhantes aos da gripe).
VIROLOGIA 78
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
1. Primoinfeção
2. Infeção latente de longa duração
(para toda a vida)
3. Reativação
Imunidade celular é necessária para a resolução (papel limitado dos anticorpos). Efeitos imunopato-
lógicos mediados por células contribuem para sintomas.
PRIMOINFEÇÃO
→ HSV-1 infância
→ HSV-2 início da atividade sexual
INFEÇÃO LATENTE
VIROLOGIA 79
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
INFEÇÃO RECORRENTE
Causas de recorrências:
HSV-1
→ Gengivoestomatite
→ Faringite herpética (com adenopatia local, mal estar, febre)
→ Herpes traumático
→ Panarício herpético
→ Herpes glandiatorum (entrada pela pele)
HSV-2
→ Vulvovaginite
→ Herpes progenital (a vesiculação pode estender-se às nádegas e coxas)
VIROLOGIA 80
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
HSV-2: Herpes genital (recidiva mucosa ou cutânea: vagina, colo do útero, região anorectal)
Excreção viral: 6-8 dias (menos prolongada) e vesículas mais localizadas, menos graves. Pode haver
excreção de HSV nas recidivas sem haver sintomas.
✓ menos graves
✓ mais localizadas
✓ duração mais curta
✓ (depende da natureza da disseminação e da exis-
tência de respostas imunes de memória)
EPIDEMIOLOGIA
→ Ubiquitário
→ Sem incidência sazonal
→ Infeção exclusivamente humana
→ Causa infeção por toda a vida → fonte permanente de contágio
→ Doença recorrente é fonte de contágio
→ Vírus pode ser libertado assintomaticamente
→ Transmissão: Saliva, secreções vaginais e contacto com o fluido de lesões (contacto entre
mucosas)
→ Transmissão oral e sexual (HSV-2 normalmente por via sexual mas não exclusivamente)
→ Imunocomprometidos e recém-nascidos: risco de doença disseminada e possível morte
Vírus com invólucro transmitido por meio de secreções e por contato íntimo. É muito lábil, sendo
rapidamente inativado pelo ressecamento, por detergentes e pelas condições do trato gastrointestinal.
VIROLOGIA 81
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DISSEMINAÇÃO
HSV-1:
✓ Geralmente por contato oral (beijos) ou por partilha de copos, escovas de dentes ou outros
objetos contaminados com saliva
✓ Pode infetar os dedos ou o corpo por meio de corte ou abrasão na pele
✓ Autoinoculação pode causar a infeção de olhos e dedos
HSV-2:
Dependendo das práticas sexuais e da higiene pessoal, o HSV-2 pode infetar genitália, tecidos anor-
retais ou orofaringe. O preservativo reduz o risco de transmissão, mas não o elimina completamente
(as lesões do herpes podem surgir em áreas da região genital que não ficam cobertas pelo preserva-
tivo).
Infeção inicial por HSV-2 acontece mais tarde na vida do que por HSV-1 o que se correlaciona com o
aumento da atividade sexual. A incidência de infeção genital por HSV-1 está a aproximar-se da por
HSV-2.
INFEÇÃO NEONATAL: geralmente resulta da excreção de HSV-2 pelo cérvix durante o parto. Pode
ocorrer a partir de infeção intrauterina ascendente durante a infeção primária da mãe. Resulta em
doença disseminada e neurológica, com consequências graves.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
VIROLOGIA 82
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Herpes Neonatal
HERPES OCULAR
VIROLOGIA 83
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ENCEFALITE HERPÉTICA
Infeção herpética do SNC: causa mais frequente da encefalite aguda (pode ocorrer após infeção pri-
mária ou reinfeção) devido sobretudo a HSV-1.
EQUIZEMA HERPÉTICO
Lesões herpéticas atingindo uma grande zona da pele em pele com dermatite ou psoríase.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Não há vacinas disponíveis atualmente. O tratamento previne ou diminui o curso da doença primária
ou recorrente. Nenhum dos tratamentos medicamentosos pode eliminar a infeção latente.
Deve-se evitar o contato direto com lesões e usar luvas (pessoal de saúde). Pessoas com lesões
genitais ativas: evitar contacto sexual até lesões ficarem reepitelizadas.
VIROLOGIA 84
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
- após replicação local do vírus no trato respiratório, ocorre virémia e formação de lesões cutâneas 5
em todo o corpo
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
VZV possui o menor genoma dos herpes-vírus humanos. Replica-se de modo semelhante mas mais
lentamente e em menos tipos celulares que o HSV. Estabelece infeção latente em neurónios.
PATOGÉNESE
→ Infeção: geralmente por inalação. Infeção primária inicia-se nas amígdalas e mucosa do trato
respiratório.
→ Virémia primária (corrente sanguínea e sistema linfático). Replicação viral nas células do sis-
tema reticuloendotelial. Vírus infecta células T, que migram para a pele e transferem o vírus
para as células epiteliais cutâneas. Após 11-13 dias ocorre virémia secundária, dissemi-
nando o vírus por todo o corpo e para a pele.
→ O VZV supera a ação do α-interferon. Produz vesículas na pele (exantema cutâneo vesicu-
lopapular). Febre e sintomas sistémicos.
Esquema Geral:
Gotículas → Trato Respiratório → Sistema linfático → Fígado, baço, Sis. Reticuloendotelial, células T
→ VIRÉMIA (Febre, mal-estar, dor de cabeça) → PELE (Progressão vesicular - Máculas - Pápulas -
Vesículas – Pústulas – Crostas) ou MEMBRANA MUCOSA. A partir da PELE pode haver LATÊNCIA
NEURONAL e vice-versa.
VIROLOGIA 85
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Período de incubação:
RESPOSTA IMUNOLÓGICA:
Imunidade celular: essencial para resolver a doença aguda e controlar a infeção latente (doença
mais disseminada e mais grave na ausência de imunidade celular). Mas respostas imunológicas me-
diadas por células contribuem para sintomatologia.
→ Pode ser reativado em adultos mais velhos quando a imunidade decresce ou em doentes com
imunidade celular prejudicada.
REATIVAÇÃO: vírus replica-se e é libertado ao longo de toda a via neural, infetando a pele e cau-
sando exantema vesicular no trajeto de todo o dermátomo = ZONA. Danifica o neurónio e pode resul-
tar em neuralgia pós-herpética dor intensa pode durar meses).
VIROLOGIA 86
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
VZV torna-se latente na raiz dorsal ou em gânglios de nervos cranianos após a infeção primária.
EPIDEMIOLOGIA
→ VARICELA:
• doença endémica em todo o Mundo
• doença clássica da infância (prevalência 4-10 anos)
• em zonas temperadas tem incidência sazonal: Inverno e Primavera
VIROLOGIA 87
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Vírus encontrado em todo o mundo. Sem incidência sazonal: em zonas tropicais e nos EUA (devido
a altas taxas de vacinação). Vírus causa infeção para toda a vida. Imunidade pode diminuir na popu-
lação idosa. Doença recorrente (“herpes zoster” ou ZONA) é fonte de contágio.
→ ZONA:
• Resulta da reativação do vírus latente. Desenvolve-se em ~ 10% a 20% da população
infetada com VZV. Incidência aumenta com a idade. → Mais de 50% dos indivíduos
tem + de 50 anos.
• Ocorrência: esporádica, não sazonal, geralmente em adultos (manifestações clínicas
nunca ocorrem na idade pediátrica)
• Só se manifesta em indivíduos que já tenham tido varicela. (normalmente só uma
vez na vida e após algumas décadas da primoinfeção).
Lesões do herpes-zóster contêm o vírus viável podem constituir uma fonte de infeção de vari-
cela em pessoas não imunes (crianças). Ausência de vírus nas vias respiratórias → Baixo
contágio
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ VARICELA:
Resulta de infeção primária por VZV. Normalmente: doença branda da infância ou sintomática (mas
pode ser assintomática).
Sintomas: febre ligeira (por vezes grave no adulto), dor de cabeça, mal-estar, falta de apetite, erupção
da pele.
Surgem pequenas manchas vermelhas (máculas). Evoluem para lesões sólidas da pele (em horas)
Seguindo-se (durante 3-4 dias) a formação de vesículas (pequenas bolhas) que progridem para a
formação de crostas → Causam comichão.
VIROLOGIA 88
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Erupção da pele inicia-se no tronco, passando para extremidades (couro cabeludo, axilas, boca, face,
trato respiratório) ou para áreas com irritação cutânea (queimaduras solares e dermites por fraldas).
• POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES:
Severas: pneumonia viral (20% a 30% dos doentes adultos, podendo ser fatal); encefalite; -
varicela progressiva disseminada.
Comuns: Infeção secundária bacteriana das vesículas e formação de cicatriz (evitar coçar!)
→ ZONA:
Zona = herpes-zóster (zóster significa “cinto” ou “cintura”) é a recorrência de infeção latente por vari-
cela não constitui motivo de preocupação em indivíduos saudáveis.
Sintomas: Dor forte na área de inervação (geralmente precede o aparecimento de lesões semelhan-
tes às da varicela); Neuralgia pós-herpética (síndrome de dor crónica) pode persistir por meses ou
anos (em até 30% dos casos).
• POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES:
Ligadas à localização: localização oftálmica com queratite
Ligadas ao hospedeiro: algias pós–zona, intensas e prolongadas (30% dos casos)
Defeitos na imunidade celular nesses doentes aumentam o risco de disseminação do vírus para pul-
mões, cérebro e fígado. Pode resultar em doença grave, progressiva e potencialmente fatal.
VIROLOGIA 89
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Varicela no final da gravidez: Se 6-14 dias antes do nascimento: anticorpos maternos protegem o
récem-nascido (varicela menor). Se 0-5 dias antes do nascimento: não há anticorpos maternos
(récem-nascido pode ter forma grave disseminada, 6º-10ºdia de vida)
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
→ Deteção de antígenos
→ Deteção de genomas (PCR)
→ O isolamento do VZV não é feito por rotina
→ Testes serológicos para deteção de anticorpos contra VZV: usados para a triagem da popula-
ção (imunofluorescência ou ELISA)
→ Na ZONA: pode haver aumento significativo no nível de anticorpos
O tratamento pode ser indicado em adultos e doentes imunocomprometidos com infeções por VZV e
em pessoas com ZONA, mas geralmente não é necessário em crianças com varicela.
Para a neuralgia pós-herpética que se segue à Zona: analgésicos, anestésicos tópicos ou creme de
capsaicina.
VIROLOGIA 90
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Em Portugal a vacina da varicela não está incluída no Programa Nacional de Vacinação, mas está
autorizada pelo Infarmed e disponível para prescrição médica.
Grupos de risco incluem: mulheres não imunes antes da gravidez; pais de crianças jovens, não imu-
nizados; adultos ou crianças que contactam habitualmente com doentes imunodeprimidos; indivíduos
não imunes em ocupações de alto risco (trabalhadores de creches e infantários, professores, profis-
sionais de saúde)
Uma vez que a infeção por VZV em crianças é geralmente branda e induz imunidade para toda a vida,
a exposição precoce ao VZV é frequentemente encorajada. Indivíduos de alto risco (ex. crianças
imunossuprimidas) devem ser protegidos da exposição ao VZV.
CITOMEGALOVÍRUS (CMV)
Geralmente causa doença branda ou assintomática em crianças e adultos. Causa viral mais comum
de anomalias congénitas. Patógeno oportunista em imunocomprometidos.
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
CMV humano só se replica em células humanas. Células que permitem a replicação do CMV: fi-
broblastos, células epiteliais, granulócitos, macrófagos e outras.
Replicação viral é muito mais demorada do que a do HSV (ECP pode não ser visualizado por 7 a 14
dias) pode facilitar o estabelecimento de infeção latente em: células-estaminais mieloides, monócitos,
linfócitos, células do estroma da medula óssea ou outras células.
VIROLOGIA 91
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PATOGÉNESE
→ Após infeção o CMV permanecerá para toda a vida no organismo, podendo ser ativado de
tempos a tempos, durante os quais viriões infeciosos serão excretados principalmente pela
saliva e urina.
→ Estabelece rapidamente infeções persistentes e latentes (em vez de extensa infeção lítica).
Altamente associado a células, sendo disseminado pelo corpo dentro de células infetadas (es-
pecialmente linfócitos e leucócitos).
→ Reativado por imunossupressão (ex., corticosteroides, infeção por HIV) e possivelmente por
estimulação alogénica (i.e. resposta do hospedeiro contra células transfundidas ou transplan-
tadas). Imunidade celular é essencial para resolução e controle do desenvolvimento da infe-
ção. Mas o CMV é capaz de evasão imunológica (apresenta diversos mecanismos de
evasão das respostas inatas e adaptativas).
EPIDEMIOLOGIA
TRANSMISSÂO
Vírus causa infeção para toda a vida. Na maioria dos casos replica-se e é libertado sem causar sinto-
mas. Reservatório permanente do vírus na comunidade: após primo-infeção a excreção viral é
prolongada; após reativações a excreção viral é intermitente (doença recorrente é fonte de
contágio).
VIROLOGIA 92
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
VIROLOGIA 93
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ INFEÇÃO NO IMUNOCOMPROMETIDO:
Em imunocomprometidos, causa
doença sintomática primária ou recorrente.
Doenças pulmonares (pneumonia e pneu-
monite) podem ser fatais se não tratadas.
Causa, com frequência, retinite, colites ou
esofagites em pacientes gravemente imu-
nodeficientes (ex. com SIDA).
→ INFEÇÃO CONGÉNITA:
• Causa viral mais comum de infeção congénita nos países industrializados.
• Infeção congénita em 0.5-2% dos nascimentos (varia consoante o país e os grupos sociais).
• Fetos são infetados pelo vírus através do sangue materno (infeção primária) ou pela ascensão
do vírus a partir do colo uterino (após recorrência)
O risco de anomalias graves ao nascimento é extremamente alto para bebés de mães que sofreram
infeções primárias durante a gravidez. Sintomas podem ser menos graves ou prevenidos pela res-
posta imune de uma mãe seropositiva.
VIROLOGIA 94
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ INFEÇÃO PERINATAL:
Modo de infeção perinatal: através de um colo uterino infetado (durante o parto); a partir do leite
materno ou colostro; por transfusões sanguíneas. Geralmente associada a infeção recorrente ma-
terna.
Seroconversão no período perinatal: 1% à nascença; 10- 60% aos 6 meses; 80% ao ano de idade.
Muito frequente mas habitualmente sem consequências. Normalmente assintomática em bebés sau-
dáveis nascidos a termo (mas prematuros mais sintomáticos). Infeção clínica significativa pode ocor-
rer em bebés prematuros que adquirem CMV a partir de sangue transfundido: geralmente pneumonia
e hepatite.
→ Reativação ou reinfeção: A reinfeção (com outra ou com a mesma estirpe de CMV que cau-
sou a primoinfeção) não difere clinicamente da reativação. Normalmente assintomática, exceto
nos imunocomprometidos.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
VIROLOGIA 95
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Transmissão pode ser reduzida por triagem de dadores de sangue e de órgãos (para seronegatividade
do CMV). Transmissão congénita e perinatal do CMV não podem ser prevenidas (mas mãe seroposi-
tiva apresenta menor risco de ter um bebé com doença sintomática). Não há vacina.
HHV-6 e HHV-7
Ambos foram isolados inicialmente a partir de doentes com SIDA. O alvo principal é o linfócito T, mas
linfócito B também pode ser infetado. HHV-6 e HHV-7 partilham homologia nucleotídica.
Distribuição ubiquitária. 90-99% população na idade adulta tem Ac contra ambos os vírus. Trans-
mitidos principalmente por contacto com saliva e amamentação. Permanecem latentes após infeção
primária e reativam de tempos a tempos.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
VIROLOGIA 96
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
A doença é controlada e curada pela imunidade celular, mas o vírus estabelece infeção latente
vitalícia nas células T. Reativação é frequente nos imunossuprimidos, mas desconhece-se se
causa doença. Associação a linfomas ou doenças linfoproliferativas: por esclarecer.
→ Vírus com invólucro de DNA linear de cadeia dupla que circulariza na forma de epissoma no
núcleo das células infetadas.
→ O primeiro vírus associado a tumores humanos (1964 -células de Linfoma de Burkitt).
→ Infecta cerca de 90% da população humana - Na maioria de modo assintomático.
→ A primoinfeção é tanto mais precoce quanto mais baixas forem as condições socioeconómi-
cas.
→ Quando a primoinfeção ocorre na 1ª infância é normalmente inaparente. Quando a primoinfe-
ção ocorre na adolescência desenvolve-se um quadro de mononucleose infeciosa em 50%
dos casos.
→ O EBV tem sido associado a alguns cancros humanos.
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
→ EBV tem tropismo tecidual definido pela expressão celular do seu recetor: CD21.
→ CD21 é expresso em células B e em algumas células epiteliais da orofaringe e da nasofaringe.
→ Infeção por EBV pode: causar replicação viral em células B ou células epiteliais permissivas;
causar infeção latente de células B de memória; estimular e imortalizar as células B.
PATOGÉNESE
→ Transmitido por via oral (saliva). Infecta células que expressam o recetor CD21.
→ Células epiteliais da oro- e da nasofaringe e Linfócitos B.
→ Promove imortalização de células B. Células T limitam o crescimento exagerado de células
B (controlo da infeção). Resposta das células T contribui para sintomas da mononucleose
infeciosa.
→ Papel dos anticorpos limitado.
VIROLOGIA 97
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
LATENT (NON-PRODUCTIVE):
- NO VIRAL PARTICLES FORMED
- B cell immortalization
- Virus persists as an episome and viral DNA
replicated by host cellular DNA polymerase.
LYTIC (PRODUCTIVE)
- PRODUCTION OF NEW INFECTIOUS VI-
RUS
- Viral DNA replicated by viral DNA polymer-
ase
Vírus persiste no organismo: com um baixo grau de replicação nas células epiteliais da faringe; sob
forma de genoma nalguns linfócitos B circulantes imortalizados que são continuamente eliminados
pelo sistema imunológico.
VIROLOGIA 98
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Escape à apoptose:
o LMP1: gene latente que codifica para uma proteína de membrana (latência tipo III),
codifica para uma proteína oncogénica. Ativa várias vias de sinalização celular (trans-
dução de sinal) e ativa o Bcl2. Importante para a libertação viral e infeção.
o Homólogos virais do Bcl-2:
▪ BALF1: gene precoce (“early lytic”) homólogo do Bcl2. Possivelmente pro-
apoptótico.
▪ BHRF1: gene precoce (“early lytic”) homólogo do Bcl2. Anti-apoptótico.
(…Existe uma variante de splicing alternativo descrita na fase latente).
VIROLOGIA 99
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
EPIDEMIOLOGIA
→ Vírus causa infeção para toda a vida. Pode ser libertado assintomaticamente.
→ Mononucleose infeciosa: distribuição mundial
→ Transmissão: Saliva; Contacto próximo (“doença do beijo”); Partilha de itens pessoais (ex.
escovas de dentes e copos); Transfusão sanguínea. Não parece haver infeção transplacentá-
ria.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ MONONUCLEOSE INFECCIOSA:
Doença linfoproliferativa generalizada e transitória, em geral benigna que atinge todo o tecido
linfóide, particularmente as amígdalas, os gânglios e o baço. Período de incubação de 30-50 dias
(+ curto na criança).
Associada a: febre, faringite exsudativa (angina), adenopatias cervicais, astenia (fraqueza) 50% casos
– esplenomegalia moderada, 5% casos – icterícia, frequentemente sinais hepáticos. Cura em 2-3
semanas.
Latent long-term EBV infection has been associated with the development of several diseases.
IARC (1997) – Carcinogéneo grau I
VIROLOGIA 100
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
VIROLOGIA 101
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Os linfócitos atípicos e os anticorpos heterófilos podem estar ausentes na fase inicial da doença mas
usualmente são detetáveis após 1-2 semanas.
NOTA: HIV, CMV, HHV-6, Toxoplasma gondii, provocam também esta síndrome.
Tem capacidade para escapar à resposta imunológica do hospedeiro e estabelecer infeção latente
para toda a vida.
VIROLOGIA 102
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Sarcoma de Kaposi
PATOGÉNESE
→ Infeção pelo vírus KSHV é muito mais comum do que o Sarcoma de Kaposi.
→ A maior parte das pessoas infetadas com este vírus não desenvolve Sarcoma de Kaposi. Mui-
tas pessoas infetadas com este vírus nunca vão ter sintomas.
→ É necessária infeção pelo KSHV para se desenvolver Sarcoma de Kaposi, mas na maioria dos
casos não é suficiente.
→ A maior parte das pessoas que desenvolve Sarcoma de Kaposi tem um sistema imune
fraco, devido à infeção pelo HIV, transplante de órgãos, idade avançada o outro.
Sarcoma de Kaposi: para a progressão do tumor é também necessário existir um cofator: HIV é um
dos cofatores identificados. A identidade de cofatores não associados a HIV é controversa.
EPIDEMIOLOGIA
VIROLOGIA 103
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DNA de HHV-8 foi detetado em: 88% dos casos de Sarcoma de Kaposi clássico e 100% dos casos
de Sarcoma de Kaposi em doentes com SIDA. O HHV-8 foi recentemente implicado como sendo o
fator causal do Sarcoma de Kaposi.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O genoma viral do HHV8 também pode ser encontrado noutras doenças: Linfoma de efusão primá-
rio e na Doença Multifocal de Castleman (outra doença linfoproliferativa).
VIROLOGIA 104
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Sarcoma de Kaposi
Linfoma de efusão primário
Doença Multifocal de Castleman
Família Parvoviridae
O PARVOVÍRUS B19
• Alguns podem necessitar da presença de um vírus auxiliar para sua replicação (ex. AAV -
adenoassociated vírus).
• Outros multiplicam-se apenas em células que estão em fase de multiplicação do seu DNA (ex.
Parvovírus B19).
VIROLOGIA 105
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
O parvovírus B19 e o bocavírus são os únicos membros do género Parvovírus conhecidos como
causadores de doença humana. Bocavírus foi descoberto recentemente e pode causar doença respi-
ratória aguda (pode ser grave em crianças pequenas).
Parvovírus não possuem meios para estimular o crescimento celular ou codificar uma polimerase →
necessitam de infetar células mitoticamente ativas. Existe apenas um serótipo de B19.
TROPISMO:
→ destruição direta dessas células (produção de eritrócitos cessa e níveis de hemoglobina des-
cem).
→ subsequente resposta imunológica (erupção cutânea e artralgia).
PATOGÉNESE
VIROLOGIA 106
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Infecioso
→ Diminuição da produção de eritrócitos
o aproximadamente 1 semana
o devido à destruição das células precursoras
Grandes quantidades de vírus são libertadas (secreções orais e respiratórias). Anticorpos interrom-
pem a virémia, são importantes para a resolução da doença, mas contribuem para agravar os sinto-
mas.
→ Mediado imunologicamente
→ Erupção cutânea e artralgia (coincidem com o aparecimento de anticorpos específicos, desa-
parecimento do vírus e formação de complexos imunes).
Normalmente a infeção termina antes de se verificar um abaixamento significativo dos níveis de he-
moglobina, mas 2 fatores predispõem o hospedeiro para complicações sérias: necessidade de uma
alta produção de eritrócitos (ex:feto) e deficiência no sistema imunitário (ex: feto,imunodeficiente).
EPIDEMIOLOGIA
Infeção por B19 é comum e altamente contagiosa. Aproximadamente 65% da população adulta já
foi infetada pelo B19. O eritema infecioso é mais comum em crianças e adolescentes de 4-15 anos
(fontes de contágio). Incidência é máxima nas crianças com 4-7 anos.
Transmissão:
→ via respiratória
→ transfusão ou derivados sanguíneos
→ transmissão vertical (atravessa a placenta e infeta o feto)
Período prodrómico inespecífico de 7-10 dias (durante o qual o indivíduo está infecioso).
Surtos epidémicos escolares no Inverno e Primavera (com picos de atividade com 4-5 anos intervalo).
VIROLOGIA 107
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Exantema geralmente espalha-se principalmente para áreas expostas da pele (braços e pernas) re-
gredindo entre 1-2 semanas.
Pode durar semanas, meses ou anos. Predomina artrite de mãos, punhos, joelhos e tornozelos. O
exantema cutâneo pode preceder a artrite (mas não frequente).
Há uma redução transitória da eritropoiese na medula óssea que leva a crise aplástica (sintomas
severos de anemia com níveis criticamente baixos de hemoglobina, reticulocitopenia e ocasional-
mente leucopenia e trombocitopenia), acompanhada por febre e sintomas inespecíficos (mal-estar,
mialgia, calafrios e pruridos). Também possível exantema cutâneo maculopapular com artralgia e al-
gum edema articular.
VIROLOGIA 108
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Infeção na gravidez
Após virémia, o vírus pode infetar o feto e destruir os precursores dos eritrócitos e os miócitos cardí-
acos, causando anemia e insuficiência cardíaca congestiva. O feto é incapaz de controlar e erradicar
o vírus e estabelece-se infeção crónica no feto.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Diagnóstico de infeção pelo Parvovírus B19: deteção de IgM e IgG específicas (ensaios imunoen-
zimáticos, ex. ELISA) e deteção do DNA viral (PCR).
NOTA: vírus é raramente detetado nos doentes com a 5ª doença pois as manifestações clínicas são
secundárias à formação dos imunocomplexos (o doente só vai ao médico depois do período de viré-
mia).
VIROLOGIA 109
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Mas doentes com crise aplástica podem ser infeciosos durante a fase exantemática e devem
ser afastados de doentes de risco (indivíduos com imunodeficiência, doença hematológica,
grávidas).
Família Reoviridae
REOVÍRUS E ROTAVÍRUS
COLTIVÍRUS
Família Reoviridae:
→ sem invólucro
→ com cápsides proteicas de camada dupla, icosaédricas
→ genomas segmentados (10 a 12 segmentos RNA de dupla-cadeia)
→ estáveis em detergentes, numa ampla variação de pH e temperatura e nos aerossóis transmi-
tidos pelo ar
→ classe III - Classificação de Baltimore
→ dsRNA (+/-)
VIROLOGIA 110
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
✓ sem invólucro
✓ com cápsides proteicas de camada dupla, icosaédricas
✓ genomas segmentados (10 a 12 segmentos RNA de dupla-cadeia)
✓ resistentes a condições ambientais e gastrointestinais (ex. detergentes, pH ácido, secagem)
✓ replicação viral no citoplasma
✓ libertados por lise celular
Capsídeo externo
VIROLOGIA 111
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
No rotavírus:
→ camada intermediária:
o proteína principal do capsídeo VP6
→ camada externa:
o proteína de ancoragem do vírus na célula VP4
o glicoproteína VP7
Geralmente causam infeções assintomáticas ou associadas a manifestações clínicas suaves (em hu-
manos) → “órfãos”.
Isolados com frequência de amostras respiratórias e fecais. Apenas 3 serótipos (1, 2 e 3) infetam o
homem.
VIROLOGIA 112
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ROTAVÍRUS
→ antes do desenvolvimento das vacinas, eram responsáveis por ~ 1 milhão de mortes/ano (di-
arreia viral em crianças subnutridas)
VIROLOGIA 113
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Estrutura do rotavírus:
C: Vista em corte mostrando a organização em três camadas do virião, com a camada VP6 interme-
diária e a camada VP2 mais interna indicadas. As enzimas necessárias para a transcrição endógena
(VP1) e capping (VP3) estão ligadas como complexos heterodiméricos à superfície interna da camada
VP2.
D: Organização proposta do genoma de RNA de cadeia dupla dentro da camada VP2, juntamente
com complexos de enzimas de transcrição (VP1/3) representados como bolas.
E: Saída de transcrições dos canais nos vértices quíntuplos das partículas da transcrição ativa da
dupla camada.
SERÓTIPOS E GRUPOS
GRUPOS:
VIROLOGIA 114
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
SERÓTIPOS do Grupo A:
Definidos pelas proteínas da cápside externa (principais determinantes antigénicos dos rotavírus e
envolvidos na neutralização do vírus):
Atualmente a divisão em serótipos foi substituída por divisão em genótipos com base na sequenciação
do cDNA dos VP4 e VP7 (27 genótipos G e 35 genótipos P descritos – não se sabe se correspondem
a diferentes serótipos).
PATOGÉNESE
Transmissão:
→ Via fecal-oral
o Principalmente contacto de pessoa a pessoa
o Também possível através de:
▪ ingestão de águas e alimentos contaminados
▪ contacto com fómites (vírus sobrevive bem em fómites (ex. brinquedos) e nas
mãos)
→ Via respiratória também possível
Ação citolítica e ação semelhante a toxina no epitélio intestinal: causam perda de eletrólitos e impe-
dem reabsorção de água.
Disseminação máxima do vírus: 2 - 5 dias após o início da diarreia, mas também pode na infeção
assintomática.
→ virião convertido em ISVP (“intermediate/infectious subviral particle”) pelas proteases (no trato
gastrointestinal)
VIROLOGIA 115
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
8 horas após a infeção → possível visualizar inclusões citoplasmáticas (contêm proteínas e RNA)
Podem ser libertadas até 1010 partículas virais por grama de fezes durante o período da doença.
EPIDEMIOLOGIA
Gastroenterite por rotavírus ocorre predominantemente no grupo etário dos 6-24 meses e no Inverno.
Infeção normalmente esporádica, mas podem surgir surtos em centros pré-escolares, creches e entre
recém-nascidos e hospitalizados. Infeção nosocomial é comum.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
GASTROENTERITE
VIROLOGIA 116
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Nota: cultura de células com rotavírus não utilizada para fins diagnósticos (necessário tratamento
prévio do vírus com tripsina para gerar as ISVP).
• Rotateq
o vacina pentavalente
o recombinante: produzida por rearranjo de 5 rotavírus bovinos, contendo as proteínas
VP4 ou VP7 de 5 diferentes rotavírus humanos
o via oral; 3 Doses (aos 2, 4 e 6 meses)
• Rotarix
o vacina monovalente
o composta de 1 única estirpe de rotavírus humano atenuada (por passagem em cultura
celular)
o via oral; 2 Doses (entre 6 - 24 meses)
Existiu outra vacina (Rotashield) que foi retirada do mercado em 1999 devido à incidência de intus-
suscepção (dobramento do intestino provavelmente resultante de reação inflamatória da vacina) num
pequeno número de recém-nascidos.
VIROLOGIA 117
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Vacinação em Portugal não faz parte do PNV, sendo uma decisão conjunta entre pais e médico as-
sistente.
Família Togaviridae
O VÍRUS DA RUBÉOLA
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
→ RNA cadeia única, sentido positivo (Classe IV - Classificação de Baltimore: ssRNA (+))
→ Com invólucro
→ Replicação no citoplasma, com síntese de proteínas precoces (não estruturais) e tardias (es-
truturais)
→ Libertação de vírus pela membrana plasmática
→ Hemaglutinina à superfície
Vírus da rubéola: vírus respiratório e não causa efeitos citopatológicos facilmente detetáveis.
A rubéola é um dos cinco exantemas clássicos da infância. A infeção materna por rubéola está corre-
lacionada com vários defeitos congénitos graves.
VIROLOGIA 118
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PATOGÉNESE
Vírus da rubéola:
Após a virémia surge anticorpo (aparecimento correlacionado com o surgimento do exantema) que
limita a disseminação virémica. O anticorpo sérico numa mulher grávida evita a disseminação do vírus
para o feto.
VIROLOGIA 119
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Existe apenas um serótipo de rubéola e a infeção natural produz imunidade protetora para toda a
vida.
INFEÇÃO CONGÉNITA
O vírus pode persistir em tecidos, como o cristalino do olho, por 3 - 4 anos e pode ser libertado até 1
ano após o nascimento.
EPIDEMIOLOGIA
Humanos são os únicos hospedeiros. Existe apenas um serotipo e pode causar doença assintomá-
tica.
INFEÇÃO:
Aproximadamente 20% das mulheres na idade fértil escapam da infeção durante a infância e estão
suscetíveis à infeção, se não estiverem vacinadas.
➔ VASPR: vacina do sarampo, parotidite epidérmica, rubéola; PNV Português: 2 doses, aos 12
meses e 5 anos
VIROLOGIA 120
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ MALFORMAÇÕES
o Catarata
o Atraso mental
o Anomalias cardíacas
o Surdez
VIROLOGIA 121
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
VIROLOGIA 122
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Família Picornaviridae
VIROLOGIA 123
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Uma das maiores famílias de vírus e inclui importantes vírus humanos e de animais. Uma família com
mais de 230 membros divididos em vários géneros, incluindo
➢ Enterovirus
➢ Rhinovirus
➢ Hepatovirus
➢ Sem invólucro
➢ Pequenos (25-30 nm)
➢ Cápside icosaédrica
➢ Genoma RNA + cadeia simples (RNAm)
➢ Replicam-se no citoplasma
➢ Maioria dos vírus é citolítico
O genoma purificado dos picornavírus é suficiente para infetar, se microinjetado numa célula.
VIROLOGIA 124
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ESTRUTURA
✓ proteínas do capsídeo
✓ VPg
✓ Protéases
✓ RNA polimerase RNA-dependente
RINOVÍRUS
PATOGÉNESE
Incapazes de replicar no trato gastrointestinal (sensíveis ao pH ácido). Crescem melhor a 33°C (mul-
tiplicação limitada às células ciliadas do epitélio nasal).
Infeção pode ser iniciada por apenas 1 partícula viral. No pico da doença, secreções nasais contêm
500-1.000 viriões infeciosos/ml.
VIROLOGIA 125
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Vírus entra pelo nariz, boca ou olhos e nicia a infeção do trato respiratório superior (inclusive
garganta). Maior parte da replicação viral ocorre no nariz.
Imunidade aos rinovírus é transitória e provavelmente não impede infeção subsequente (muitos seró-
tipos) e a imunidade celular provavelmente não importante.
EPIDEMIOLOGIA
Transmissão: Contacto direto com mãos infetadas e fómites ou inalação de gotículas infeciosas.
Cada indivíduo sofre anualmente 2-4 infeções por diferentes serotipos (ausência imunidade cruzada).
Pode haver reinfeção mais tarde pelo mesmo serotipo.
Causam doença clínica em apenas metade das pessoas infetadas. Pessoas assintomáticas tam-
bém podem disseminar o vírus (mas produzem < quantidade).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
CONSTIPAÇÃO COMUM
➢ Espirros
➢ Rinorreia (corrimento nasal)
➢ Obstrução nasal
➢ Dor de garganta moderada
➢ Cefaleia
➢ Mal-estar
➢ Por vezes também sintomas associados ao trato intestinal
➢ Geralmente sem febre
Complicações possíveis: sinusite e otite média de origem bacteriana crises de asma (em asmáticos)
Sintomas duram 3 - 4 dias (tosse e sintomas nasais podem persistir 7-10 dias ou +).
VIROLOGIA 126
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
TRATAMENTO
Enterovírus
VIROLOGIA 127
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Replicação Viral
Neurotropismo: Paralisia (Poliovirus 1, 2, 3, Enterovirus 70, 71, Coxsackievirus A7) e Meningite as-
séptica, encefalite. (Podem ser isolados do LCR).
EPIDEMIOLOGIA
VIROLOGIA 128
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Determinadas por vários fatores: serótipo viral, dose infetante, tropismo tecidual, porta de entrada,
idade, género e estado de saúde do doente, gravidez.
Grande heterogeneidade de sintomas clínicos, desde infeção inaparente (mais frequente) até do-
ença mortal: doença febril indiferenciada, infeção trato respiratório, infeção da conjuntiva, lesões da
pele e mucosas, infeções SNC, músculo, coração.
VIROLOGIA 129
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
“A poliomielite é uma doença provocada por um vírus, que pode provocar meningite, paragem respi-
ratória, a morte e nalguns casos, a paralisia permanente com deformações (atrofia) de pernas, bra-
ços ou ambos. Não existe tratamento específico para esta doença. Está descrito que mais de um
quarto das pessoas que tiveram poliomielite paralítica na infância pode desenvolver novos sintomas
até 30 a 40 anos depois da doença”
Provavelmente a doença infeciosa mais preocupante da primeira metade do século XX. Polio 1 era
responsável por 80% casos de paralisia.
VIROLOGIA 130
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
poliovírus não está presente, admite-se que a síndrome resulte na perda de neurónios dos
nervos inicialmente afetados.
VIROLOGIA 131
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Pleconaril: inibe a penetração do picornavírus nas células e deve ser administrado precocemente no
curso da infeção.
Vacina para o vírus da poliomielite: Para prevenção da poliomielite paralítica. Não há vacinas para
coxsackievírus ou ecovírus.
Transmissão desses vírus pode ser reduzida por melhorias na higiene e nas condições de vida. En-
terovírus podem ser inativados por formaldeído, hipoclorito e por cloro.
Ambas incorporam os três tipos de pólio, são estáveis, relativamente baratas e induzem uma resposta
de anticorpo protetora. A IPV provou ser eficaz em 1955, mas a vacina oral tomou seu lugar por ser
barata, fácil de administrar, induzir imunidade durante toda a vida e imunidade da mucosa.
VIROLOGIA 132
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Na ausência de poliovírus tipo selvagem, as novas recomendações (desde o ano 2000) indicam o uso
da IPV para vacinação de rotina. PNV: IPV aos 2, 4 e 6 meses e depois aos 18 meses e aos 5 anos
de idade.
VIROLOGIA 133
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
1999 - O poliovírus tipo 2 foi erradicado. Existe o risco de importação de casos a partir dessas
regiões para áreas onde a vacina não é disponível (ou contraria crenças religiosas ou outras).
Número pequeno, mas significativo, de casos de pólio relacionados com a vacina resulta da mutação
de um dos três tipos do vírus vivo vacinal, que restabelece sua neurovirulência estímulo para o uso
da vacina de pólio inativada.
Família Caliciviridae:
→ Classificação de Baltimore:
Classe IV, ssRNA (+)
→ A Família Caliciviridae tem 5 géneros.
Pelos menos 6 novos géneros foram
propostos.
NOROVÍRUS
VIROLOGIA 134
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
PATOGÉNESE
→ Os norovírus que infetam humanos, só podem infetar humanos. Dose infetante muito baixa
(˜18 partículas víricas).
→ Causam danos no intestino, impedindo a absorção apropriada de água e nutrientes e provo-
cando uma diarreia aquosa. O esvaziamento gástrico pode ser retardado, causando vómito.
→ A imunidade é geralmente de curta duração e pode não ser protetora.
→ A grande diversidade genética e a alta taxa de mutação permitem a reinfeção, apesar dos
anticorpos de exposição anterior (falta de imunidade protetora e duradoura).
→ EXCREÇÃO: Fezes principalmente, também no vómito.
• Elevada excreção viral. Durante o pico de excreção são libertados 100 bilhões de viri-
ões/grama de fezes.
• Pico excreção: 1-3 dias após início doença. Excreção do vírus: pode continuar por 2
semanas após cessarem os sintomas (mais prolongada em imunocomprometidos).
PODE OCORRER ANTES DOS SINTOMAS. PODE OCORRER NA INFEÇÃO ASSINTOMÁ-
TICA. (Até 30% dos indivíduos infetados são assintomáticos, mas podem disseminar a infe-
ção).
EPIDEMIOLOGIA
Norovírus são muito estáveis no meio ambiente. Mais resistente às pressões ambientais do
que os poliovírus ou rotavírus. Ex. vírus Norwalk é resistente ao calor (60°C), pH 3, detergente e até
mesmo aos níveis de cloro da água potável. Podem persistir nas superfícies mais de 2 semanas.
VIROLOGIA 135
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ TRANSMISSÃO
→ SURTOS
Normalmente causam surtos de gastroenterite com fonte comum de contaminação (ex. água,
ostras, saladas, framboesas, alimentos manipulados). Surtos em países desenvolvidos: podem ocor-
rer o ano inteiro descritos nas escolas, em resorts, hospitais, casas de repouso, restaurantes e navios
de cruzeiro. Norovírus serão responsáveis por aproximadamente 50% (23 milhões de casos nos EUA
por ano) de todos os surtos de gastroenterite transmitidos por alimentos.
Cerca de 70% das crianças nos EUA já têm anticorpos para norovírus aos 7 anos de idade.
Período de incubação: ~ 12 - 48 horas. Doença é normalmente auto-limitada (<72h), mas estão
descritos casos de diarreia prolongada e severa. Risco aumentado de desidratação e hospitalização
em crianças < 5anos, idosos e imunocomprometidos.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
VIROLOGIA 136
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Nenhum tratamento específico para a infeção com calicivírus. Surtos podem ser minimizados: mani-
pulando cuidadosamente os alimentos; mantendo a pureza do abastecimento de água; lavagem cui-
dadosa das mãos; desinfeção de superfícies contaminadas.
Sapovírus
→ Associados primariamente a gastroenterite aguda em crianças <5 anos (sintomas menos se-
veros que os causados pelos rotavírus e norovírus).
→ Estudos recentes têm descrito prevalências de 9%-13%.
→ Também implicados em surtos epidémicos de gastroenterite.
VIROLOGIA 137
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Responsáveis por doença respiratória severa, por vezes fatal. Conseguem infetar o trato respiratório
inferior: causam danos pulmonares agudos/ síndrome respiratória aguda severa; chope séptico;falha
de vários órgãos; alta taxa de mortalidade.
VIROLOGIA 138
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
VIROLOGIA 139
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Viriões de tamanho médio: 80 a 160 nm diâmetro com aparência semelhante à coroa solar.
→ Genoma RNA de polaridade positiva, cadeia simples: RNAss+, linear; com invólucro.
→ Os coronavírus têm com os maiores genomas RNA que se conhecem (27-32 kb).
→ Vírus montado no retículo endoplasmático rugoso.
→ Cresce em cultura celular
→ Glicoproteínas na superfície do invólucro: projeções em forma de taco aparecem como um
halo (coroa) em torno do vírus.
FUNÇÕES DA PROTEÍNA S:
PATOGÉNESE
CORONAVÍRUS HUMANOS:
VIROLOGIA 140
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Resumo CORONAVÍRUS
EPIDEMIOLOGIA
VIROLOGIA 141
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ Associados a infeções suaves do trato respiratório superior (raramente das vias respiratórias
inferiores) - segundos agentes da constipação comum.
→ Também podem estar associados a infeção gastrointestinal.
→ 50% infeções assintomáticas.
SARS-CoV
SURTO DE 2003
SARS inicialmente reportada na Ásia em Novembro 2002 (província de Guangdong, sul da China).
Finais de Fevereiro 2003 - CDC reconhece esta nova entidade clínica a que dá o nome de Sín-
droma Respiratória Aguda Severa (SARS):
Março 2003 - OMS lança um Alerta Global e institui uma vigilância Mundial
Março 2003 – isolado um novo coronavírus a partir de doentes com Síndrome Respiratória Aguda:
SARS-associated coronavirus (SARS-CoV). Surto foi levado para Hong Kong por um médico que
trabalhava no surto original.
Nos meses seguintes: doença espalhou-se para mais de 2 dúzias de países na América do Norte,
América do Sul, Europa e Ásia. O surto global de 2003 foi contido.
Alerta global da Organização Mundial da Saúde (OMS) resultou em medidas de contenção para
limitar a disseminação do vírus e controlou o surto de 8.000 indivíduos infetados, mas com pelo
menos 784 mortes. Restrições relativas a viagens e receio público resultaram em perda de centenas
de milhões de dólares em viagens e outros negócios.
Desde 2004, não ocorreram mais casos de SARS causados pelo SARS-CoV.
SINTOMAS DE SARS:
VIROLOGIA 142
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Dores no corpo
→ Algumas pessoas têm sintomas respiratórios suaves no início
→ 10-20% dos doentes têm diarreia
→ Após 2-7 dias, pode surgir tosse seca
→ Maioria dos doentes desenvolve pneumonia
TRANSMISSÃO
“CONTACTO PRÓXIMO” = ter cuidado de (ou vivido com) pessoa com SARS ou ter tido contato
direto com secreções respiratórias ou fluidos corporais de um doente com SARS. Ex: beijar, abraçar,
partilhar utensílios ao comer ou beber, falar a menos de 1 metro de distância, ou tocar em alguém
diretamente.
Período de incubação normalmente 2-7 dias, mas pode chegar aos 10 dias. Mortalidade é de
pelo menos 10% (MAS APENAS 3% DE ACORDO COM A DEFINIÇÃO DE CASO DA WHO).
VIROLOGIA 143
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Para os que têm risco elevado de contrair a doença (ex. profissionais de saúde): uso de equi-
pamento protetor pessoal tal como mascara, óculos, e “bata protetora”
→ Para quem tem contactos em casa: uso de máscara
MERS-CoV
Surgiu em 2012.
“Middle East respiratory syndrome coronavirus (MERS-CoV)” - transferido aos humanos pelos
camelos dromedários. Vírus zoonótico, contraído por contacto direto ou indireto com animais infeta-
dos.
MERS-CoV foi identificado em camelos dromedários em vários países (Médio Oriente, África e Sul da
Ásia). Origem do vírus não bem estabelecida, mas pode ter tido origem em morcegos (reservatórios
naturais) e depois ter sido transmitido para camelos.
Transmissão pessoa-a-pessoa é possível (mas apenas tem sido verificada em poucos casos, entre
membros da mesma família e vivendo na mesma casa) e mais frequente em locais do sistema de
saúde.
Total de 27 países reportaram casos desde 2012, tendo causado 858 mortes.
35% dos doentes com MERS-CoV morreram (pode estar sobre-estimado uma vez que casos sua-
ves podem não ter sido detetados pelos sistemas de vigilância existentes).
VIROLOGIA 144
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Não existe vacina ou tratamentos específicos. Vacinas em estudo. Tratamento de suporte e baseado
na condição clínica do doente.
Medidas de contenção: Como precaução, qualquer pessoa que visite quintas, mercados, celeiros
ou outros locais onde existam camelos dromedários deve: lavar frequentemente mãos depois de tocar
nos animais e evitar contacto com animais doentes.
Consumo de produtos animais crús ou mal-cozinhados, incluindo leite e carne: alto risco de infeção.
Produtos animais processados (cozinhados ou pasteurizados) são seguros para consumo humano
mas devem ser manuseados com cuidado para evitar contaminação com alimentos não cozinhados.
Transmissão entre doentes e profissionais de saúde, ou entre doentes, ocorreu em vários países
antes do diagnóstico pelo vírus ter sido feito
SARS-COV2
VIROLOGIA 145
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
VIROLOGIA 146
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Doença infeciosa causada por 1 novo coronavírus (SARS-CoV-2). Maioria das pessoas infetadas
pelo SARS-CoV-2 vai ter doença respiratória suave a moderada, e vai recuperar sem necessitar
de tratamento especial. Pessoas mais velhas e as que têm problemas médicos subjacentes (ex. do-
ença cardiovascular, diabetes, doença respiratória crónica e cancro), têm mais probabilidade de de-
senvolver doença séria.
Sintomas de COVID-19 são semelhantes nas crianças e nos adultos, mas as crianças mostram,
de uma forma geral, sintomas mais ligeiros e parecem registar, em proporção, menos casos de do-
ença.
COVID-19 afeta diferentes pessoas de forma diferente “Os sinais e sintomas da COVID-19 variam em
gravidade desde a ausência de sintomas (assintomáticos) até febre (temperatura ≥ 38.0ºC), tosse,
dor de garganta, cansaço e dores musculares e, nos casos mais graves, pneumonia grave, sín-
drome respiratória aguda grave, septicémia, choque sético e eventual morte”. “O agravamento
da situação clínica pode ocorrer rapidamente, geralmente durante a segunda semana da doença".
SINTOMAS
Período de incubação normalmente 5-6 dias,
SINTOMAS MAIS COMUNS:
mas pode chegar aos 14 dias
✓ Febre (≥ 38.0ºC)
✓ Tosse seca
✓ Cansaço
✓ Perda de olfato e paladar
✓ Dor de garganta
✓ Dor de cabeça
✓ Dores musculares
✓ Diarreia Irritação na pele, ou descoloração de dedos das mãos ou pés
✓ Olhos vermelhos ou irritados
SINTOMAS GRAVES:
VIROLOGIA 147
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
TRANSMISSÃO
✓ Pessoa-a-pessoa por contacto próximo com pessoas infetadas pelo SARS-CoV-2 (trans-
missão direta)
o Principalmente através de gotículas respiratórias libertadas pelo nariz ou boca de pes-
soas infetadas, quando tossem ou espirram (podem atingir diretamente a boca, nariz
e olhos de quem estiver próximo)
✓ Contacto com superfícies e objetos contaminados (transmissão indireta)
o Gotículas respiratórias podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a
pessoa infetada e assim infetar outras pessoas quando tocam com as mãos nestes
objetos ou superfícies e depois nos seus olhos, nariz ou boca
VIROLOGIA 148
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
O risco de transmissão por SARS-CoV-2 a partir das fezes de uma pessoa infetada parece ser redu-
zido (apesar de ser uma via de excreção do vírus, não parece ser uma via preferencial de transmis-
são).
O vírus pode sobreviver em superfícies durante horas ou até dias (dependendo do tipo de superfície,
temperatura ou humidade do ambiente, e da carga viral inicial)
Frequência de limpeza deve ser aumentada. Deve utilizar-se detergente e desinfetante comum de
uso doméstico (ex. lixívia ou álcool).
O dinheiro pode servir de veículo de transmissão mas não será uma forma de transmissão comum. A
higiene das mãos quando se manipula o dinheiro é uma boa prática.
VIROLOGIA 149
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PATOFISIOLOGIA
IMUNIDADE
Ainda não é possível confirmar se as pessoas infetadas com o SARS-CoV-2 desenvolvem imunidade
protetora duradoura.
Indivíduos com vacinação completa e indivíduos previamente infetados com SARS-CoV-2 têm menor
risco de infeção subsequente pelo menos durante 6 meses. Os níveis de alguns anticorpos diminuem
com o passar do tempo após infeção.
APARECIMENTO DE VARIANTES
VIROLOGIA 150
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
o Kappa (B.1.617.1)
o 1.617.3
o Mu (B.1.621, B.1.621.1)
o Zeta (P.2)
• Variant of Interest (VOI)
• Variant of Concern (VOC)
o Delta (B.1.617.2 and AY lineages)
o Omicron (B.1.1.529 and BA lineages)
• Variant of High Consequence (VOHC)
o To date, no variants of high consequence have been identified in the United States.
VIROLOGIA 151
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Variante Omicron:
✓ Altamente transmissível
✓ Está a substituir a variante Delta em todo o lado
✓ Preferência pela infeção do trato respiratório superior
✓ Tem menor risco de hospitalização
✓ Os meios de diagnóstico conseguem detetar esta variante
✓ Tem alguma evasão ao sistema imune: aumento do risco de re-infeção por Omicron
✓ Resposta imune celular protege contra doença severa
✓ Vacinas protegem contra hospitalização mas são menos eficazes contra doença sintomática
por Omicron
✓ Idosos e pessoas com outras condições de risco (ex. obesidade, diabetes, hipertensão, do-
ença cardíaca, doença pulmonar crónica, doença cerebrovascular, demência, desordens men-
tais, doença renal crónica, imunossupressão, cancro, HIV/AIDS, gravidez) permanecem com
maior risco de Covid-19
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
VIROLOGIA 152
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PREVENÇÃO
VACINAS
“Não pode ser infetado através da vacina, pois as vacinas não contêm vírus que causam a doença.
No entanto, é possível ter contraído COVID-19 nos dias antes ou imediatamente após a vacinação e
surgirem os sinais da doença poucos dias depois da vacinação.”
VIROLOGIA 153
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
“Uma dose (0,3 ml) contém 30 microgramas de tozinameran, uma vacina de mRNA contra a COVID19
(incorporados em nanopartículas lipídicas). Tozinameran é um RNA mensageiro (mRNA) de cadeia
simples com estrutura 5-cap, produzido usando transcrição in vitro sem células a partir dos moldes
de DNA correspondentes, codificando a proteína S (Spike) do vírus SARS-CoV-2”.
Administração intramuscular.
• Indivíduos com idade igual ou superior a 12 anos: 2 doses (0,3 ml cada). Recomenda-se que
a segunda dose seja administrada 3 semanas após a primeira dose.
• Gravemente imunocomprometidos com idade igual ou superior a 12 anos: Poderá ser admi-
nistrada uma terceira dose do esquema primário por via intramuscular, pelo menos, 28 dias
após o esquema primário de 2 doses.
Dose de reforço: Poderá administrar-se uma dose de reforço de Comirnaty por via intramuscular, pelo
menos, 6 meses após a segunda dose, em indivíduos com idade igual ou superior a 12 anos. A deci-
são sobre quando e a quem realizar uma dose de reforço de Comirnaty deverá ser tomada com base
nos dados de efetividade e segurança da vacina disponíveis.
Uma dose (0,5 ml) contém 100 microgramas de elasomeran, uma vacina de mRNA (encapsulado em
nanopartículas lipídicas SM-102) Uma dose (0,25 ml) contém 50 microgramas de elasomeran, uma
vacina de mRNA contra a COVID19 (encapsulado em nanopartículas lipídicas SM-102).
O elasomeran é um RNA mensageiro (mRNA) de cadeia simples, com estrutura 5’-Cap, produzido
utilizando transcrição in vitro num sistema livre de células a partir dos moldes correspondentes de
DNA, que codifica a proteína S (Spike) do vírus SARS-CoV-2.
Indicada para imunização ativa, para prevenção da COVID-19 causada pelo SARS-CoV-2 em indiví-
duos com idade igual ou superior a 6 anos.
• Indivíduos com idade igual ou superior a 12 anos: 2 doses de 100 microgramas (de 0,5 ml
cada). Recomenda-se que a segunda dose seja administrada 28 dias após a primeira dose.
VIROLOGIA 154
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
• Crianças dos 6 aos 11 anos: esquema de 2 doses de 50 microgramas (0,25 ml cada, contendo
50 microgramas de mRNA, o que constitui metade da dose primária para indivíduos com idade
igual ou superior a 12 anos).
• Gravemente imunocomprometidos com idade igual ou superior a 6 anos:Poderá ser adminis-
trada uma terceira dose (0,5 ml, 100 microgramas), após um prazo de pelo menos 28 dias a
contar da segunda dose, a indivíduos com idade igual ou superior a 12 anos (0,5 ml, 100
microgramas) e a crianças dos 6 aos 11 anos de idade (0,25 ml, 50 microgramas) gravemente
imunocomprometidas.
Dose de reforço: Indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos. Deve ser administrada uma dose
de reforço de Spikevax (0,25 ml, contendo 50 microgramas de mRNA, o que constitui metade da dose
primária) por via intramuscular a adultos, pelo menos 3 meses após completarem o esquema de va-
cinação primário. A Spikevax pode ser utilizada como reforço em adultos que tenham recebido
o esquema de vacinação primário com Spikevax ou um esquema de vacinação primário cons-
tituído por outra vacina de mRNA ou por uma vacina de vetor adenoviral.
População pediátrica: A segurança e eficácia da Spikevax em crianças com idade inferior a 6 anos
não foram ainda estabelecidas. Não existem dados disponíveis.
*Produzido em células 293 de rim embrionário humano (HEK) modificadas geneticamente e por tec-
nologia de ADN recombinante.
Indicada para a imunização ativa para prevenir a COVID-19 causada pelo vírus SARS-CoV-2, em
indivíduos com idade ≥ 18 anos.
Duas doses separadas. A segunda dose deve ser administrada entre 4 a 12 semanas (28 a 84 dias)
após a primeira. A segurança e eficácia em crianças e adolescentes (˂ 18 anos de idade) não foram
ainda estabelecidas.
Uma dose (0,5 ml) contém: Adenovírus tipo 26 que codifica a glicoproteína S (spike*) do SARS-CoV-
2 (Ad26.COV2-S), não inferior a 8,92 log10 unidades infeciosas (U.Inf.)
VIROLOGIA 155
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
* Produzida numa linha celular PER.C6 TetR e por tecnologia de DNA recombinante
Indicada para imunização ativa, para prevenção da COVID-19 em indivíduos com idade ≥ 18 anos.
Dose única, injeção intramuscular. Dose de reforço: Pode ser administrada uma dose de reforço
(segunda dose) de 0,5 ml de COVID-19 Vaccine Janssen por via intramuscular, pelo menos, 2 meses
após a vacinação primária em indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos.
A segurança e eficácia em crianças e adolescentes (˂ 18 anos de idade) não foram ainda estabeleci-
das.
REFORÇO DA VACINAÇÃO
VIROLOGIA 156
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
VIROLOGIA 157
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
VIROLOGIA 158
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ABORDAGENS TERAPÊUTICAS
• Anticorpo monoclonal
• Profilaxia pré-exposição da COVID-19 em adultos e adolescentes com idade igual ou superior
a 12 anos que pesem, pelo menos, 40 kg
• AstraZeneca AB
• “Evusheld is made of the active substances tixagevimab and cilgavimab, two monoclonal anti-
bodies designed to attach to the spike protein of the SARS-CoV-2 virus (the virus that causes
COVID-19) at two different sites. When the antibodies in Evusheld attach to the spike protein,
the virus cannot enter the cells to multiply and is unable to cause COVID-19 infection.”
VIROLOGIA 159
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Xevudy (sotrovimab)
• Anticorpo monoclonal (IgG1, kappa) produzido por tecnologia de ADN recombinante em célu-
las de ovário de hamster chinês (CHO) designado para reconhecer um alvo específico no vírus
SARS-CoV-2
• Tratamento de adultos e adolescentes (com idade igual ou superior a 12 anos e pesando, pelo
menos, 40 kg) com doença por COVID-19 que não necessitam de suplemento de oxigénio e
que apresentam um risco acrescido de progredirem para COVID-19 grave
• Âmbito de utilização: doença ligeira a moderada
• GlaxoSmithKline Trading Services Limited
• AIM de 17/12/2021
Veklury (Remdesvir)
• Antiviral
• Tratamento da doença provocada pelo SARS-CoV-2 em adultos e adolescentes (com 12 a 18
anos de idade e pesando, pelo menos, 40 kg) com pneumonia que requerem administração
suplementar de oxigénio (oxigénio de baixo ou alto fluxo ou outra ventilação não invasiva no
início do tratamento) e adultos que não requerem administração suplementar de oxigénio e
que estão em risco aumentado de progredir para COVID-19 grave
• Âmbito de utilização: doença moderada a grave
• Gilead Sciences Ireland UC
• AIM de 03/07/2020
• Anticorpo monoclonal
• Casirivimab e imdevimab são dois anticorpos monoclonais humanos recombinantes IgG1,
produzidos por tecnologia de DNA recombinante em células de ovário de hamster chinês
• Tratamento da COVID-19, em adultos e adolescentes com idade igual ou superior a 12
anos que pesem, pelo menos, 40 kg, que não necessitem de oxigénio suplementar e que
apresentem risco aumentado de progressão para COVID-19 grave. Prevenção da COVID-
19 em adultos e adolescentes com idade igual ou superior a 12 anos que pesem, pelo
menos, 40 kg
• Âmbito de utilização: doença ligeira a moderada
• Roche Registration GmbH
• AIM de 12/11/2021
VIROLOGIA 160
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Roactemra (tocilizumab)
Regkirona (Regdanvimab)
• Antiviral (Comprimidos)
• Tratamento da doença provocada pelo COVID-19 em adultos que não necessitam de oxigénio
suplementar e que apresentam risco aumentado de progressão para COVID-19 grave
• Deve ser administrado logo que possível após ter sido feito um diagnóstico de COVID-19 e
até 5 dias após o início dos sintomas. Recomenda-se a conclusão do ciclo de tratamento com-
pleto de 5 dias, mesmo que o doente necessite de ser hospitalizado devido a COVID-19 grave
ou crítica após ter iniciado o tratamento com Paxlovid
• Âmbito de utilização: doença ligeira a moderada
• Pfizer Europe MA EEIG
• AIM de 28/01/2022
Lagevrio (molnupiravir)
• Antiviral
• Tratamento de COVID-19 ligeira a moderada, risco de COVID-19 grave
• Âmbito de utilização: doença ligeira a moderada
• Merck Sharp & Dohme B.V.
VIROLOGIA 161
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Kineret (anacinra)
Dexametasona
• Imunomodulador
• Corticosteróide
• Tratamento de COVID-19 em adultos e adolescentes (com 12 anos ou mais com peso corporal
de pelo menos 40 kg) que necessitam de oxigénio suplementar
• Âmbito de utilização: doença grave a crítica
• Recomendação de utilização emitida pela EMA a 18-09-2020
VIROLOGIA 162
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
A probabilidade de desenvolver Síndrome pós-COVID-19 não parece estar relacionada com a gravi-
dade da infeção. Cerca de 10% dos doentes permanecem sintomáticos após 3 semanas de infeção
por SARS-CoV-2 (e até 12 semanas).
SINTOMAS:
Sequelas neurológicas como acidentes vasculares cerebrais, convulsões, encefalite, neuropatias são
raras.
Família Paramyxoviridae
VIROLOGIA 163
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
PROTEÍNA DE FUSÃO
VIROLOGIA 164
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ O virião completo consiste num genoma RNA de sentido negativo num nucleocapsídeo heli-
coidal envolvido por um invólucro contendo as proteínas virais de ligação (hemaglutinina-neu-
raminidase [HN], nos vírus parainfluenza e vírus da parotidite; hemaglutinina [H], no vírus do
sarampo e glicoproteína [G], no vírus sincicial respiratório [VSR]) e uma glicoproteína de fusão
(F).
→ Os géneros podem ser caracterizados pelas atividades da proteína viral de ligação: a HN dos
vírus parainfluenza e parotidite liga-se ao ácido siálico e possui atividade da hemaglutinina e
neuraminidase, e a proteína H do vírus de sarampo liga-se ao recetor de proteína e é também
uma hemaglutinina, porém a proteína G do VSR liga-se ao recetor, mas não exerce a atividade
de hemaglutinina.
→ O vírus tem a sua replicação no citoplasma. Os viriões penetram na célula através de fusão
com a membrana plasmática e são libertados por evaginação pela membrana plasmática. O
vírus induz à fusão célula a célula, formando as células gigantes multinucleadas.
→ Os paramixovírus são transmitidos em secreções respiratórias e iniciam a infeção pelo trato
respiratório.
→ A imunidade celular é responsável por muitos dos sintomas, embora seja essencial no controlo
da infeção.
→ Os Paramixovírus são antigénicamente estáveis.
VIROLOGIA 165
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
SINCÍCIOS
Vírus do sarampo
PATOGÉNESE
→ Vírus é capaz de passar diretamente célula a célula e escapar à ação dos anticorpos. Inclu-
sões no citoplasma, compostas de partículas virais incompletas.
→ A produção dos vírus dá-se com eventual lise celular. Infeções persistentes, sem lise celular,
descritas em alguns tipos celulares (ex. células do cérebro humano).
VIROLOGIA 166
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
VIROLOGIA 167
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
O vírus deprime a resposta imune: Pela infeção direta de monócitos e células T e B ou por deprimir a
produção de interleucina-12 (IL-12) e a resposta células T auxiliares (TH1).
EPIDEMIOLOGIA
VIROLOGIA 168
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ SARAMPO:
• Período prodrómico: febre alta e “TCCF” – tosse, coriza, conjuntivite e fotofobia → É a
fase da doença mais infeciosa.
• 2 dias depois: lesões típicas na membrana mucosa = manchas de Koplik.
• Lesões vesiculares persistem de 24-48 horas - são geralmente pequenas (1 a 2 mm),
descritas como grãos de sal cercados por um halo vermelho.
• 12-24 horas depois do aparecimento das manchas de Koplik, o exantema do sarampo
começa atrás das orelhas e espalha-se por todo o corpo. O exantema é maculopapular,
em geral de grande extensão, e frequentemente as lesões tornam-se confluentes.
• As lesões levam de 1 a 2 dias para cobrir o corpo e desaparecem da mesma maneira
que apareceram.
• Febre: mais alta no dia do aparecimento das lesões.
→ COMPLICAÇÕES DO SARAMPO:
• PNEUMONIA: representa 60% das causas de óbito por sarampo (mortalidade alta
nos casos de desnutrição e nas faixas etárias extremas). A super-infecção bacteriana
é comum em pacientes com pneumonia.
• ENCEFALITE: Complicação mais indesejada. Em menos de 0,5% dos infetados. Taxa
de óbito de 15%. Raramente surge na fase aguda, costuma começar 7-10 dias após
o início da doença.
VIROLOGIA 169
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ SARAMPO ATÍPICO:
• Em pessoas que receberam a antiga vacina de sarampo inativada e foram subsequen-
temente expostas ao tipo selvagem do vírus.
• Em situações raras pode ocorrer também em pessoas vacinadas com o vírus atenu-
ado.
• Sensibilização anterior sem proteção suficiente pode ampliar a resposta imunopatoló-
gica à exposição ao vírus selvagem.
• A doença começa abruptamente e é a forma mais extrema de apresentação do sa-
rampo.
→ PANENCEFALITE ESCLEROSANTE SUBAGUDA (SSPE):
• Extremamente grave → Sequela neurológica tardia do sarampo (em ̴ 7 doentes/milhão)
• A incidência de SSPE tem diminuído devido aos programas de vacinação.
• Ocorre quando um vírus do sarampo defeituoso persiste no cérebro e atua como vírus
lento. O vírus replica e dissemina diretamente célula a célula, mas não é libertado.
• Mais prevalente em crianças que foram inicialmente infetadas antes dos 2 anos de
idade e surge aproximadamente 7 anos após o diagnóstico clínico.
• Doente apresenta alterações na personalidade, no comportamento e na memória,
acompanhadas de contração muscular mioclónica, cegueira e espasmos.
• Níveis altos de anticorpos contra o sarampo podem ser encontrados no sangue e no
líquido cefalorraquidiano (ao contrário dos doentes com as demais apresentações de
sarampo).
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Infeção por sarampo pode ser confirmada quando se observa a seroconversão ou pelo aumento de
até 4X do título de anticorpos específicos (obtidos do soro entre a fase aguda e a fase convalescente).
VIROLOGIA 170
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ VACINAÇÃO: Vacina viva e atenuada de sarampo. Produziu uma dramática redução na inci-
dência do sarampo e alterou os padrões epidemiológicos:
• Época pré-vacinal: doença era endémica em todo o mundo com predomínio nas
crianças com 5-10 anos e aparecimento de epidemias todos os 2-5 anos (In-
verno e Primavera).
• Após 1985: mais de 60% dos casos de sarampo ocorrem em indivíduos > 10
anos, metade dos quais são adolescentes e jovens adultos.
• Atualmente: casos de sarampo diminuíram 90%.7
(A vacina inativada de sarampo, introduzida em 1963, não teve efeito protetor. Uso descontinuado,
pois os vacinados corriam risco de apresentar a forma mais grave e atípica de infeção por sarampo –
SARAMPO ATÍPICO)
Programa Nacional de Vacinação 2020:
Uma vez que o vírus do sarampo é estritamente humano, com um único serótipo, é um exce-
lente candidato para erradicação. Mas, a população ainda não vacinada e falta de adesão de alguns
à vacinação: dão continuidade à existência de indivíduos suscetíveis.
Vírus pode surgir de uma comunidade ou pode ser importado pela imigração de regiões do
mundo onde não existe programa de vacinação. Dificuldades na distribuição da vacina em regiões
onde não há condições apropriadas de refrigeração (ex. África) e dificuldades na própria rede de
distribuição.
VIROLOGIA 171
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Vírus da parotidite
PATOGÉNESE
→ Causa uma parotidite aguda e benigna (inflamação dolorosa nas glândulas salivares). Papeira
é doença bastante contagiosa com um único serótipo e infeta somente humanos (único reser-
vatório).
→ Causa infeção lítica nas células.
→ Papeira é primariamente uma doença da infância.90% das infeções ocorrem em crianças com
menos de 15 anos.
→ Rara em países que utilizam a vacina viva, administrada com as vacinas de sarampo e rubé-
ola.
→ Vírus inicia a infeção nas células epiteliais
do trato respiratório superior, infetando a
glândula parótida (tanto via ducto de
Stensen quanto por virémia). Propaga-se
pela virémia por todo o corpo até testícu-
los, ovários, pâncreas, tireoide e outros
órgãos.
VIROLOGIA 172
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Envolvimento do tecido glandular e nervoso → Em 50% dos infetados: ocorre infeção no sis-
tema nervoso central, sobretudo nas meninges.
→ CURSO DA INFEÇÃO: Período de incubação: 18 - 21 dias
• Vírus é libertado em secreções respirató-
rias de doentes assintomáticos e durante o
período de incubação de 7 dias antes de a
doença clínica aparecer.
• O período de maior contágio ocorre 1-2
dias antes da tumefação da parótida até 5
dias depois.
• É praticamente impossível o controle da
disseminação.
EPIDEMIOLOGIA
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ Frequentemente ASSINTOMÁTICA
→ PAPEIRA:
• Quase sempre bilateral e acompanhada de febre.
• Primeiros sintomas repentinos → Tumefação das glândulas salivares, principalmente
da parótida (em 1/3 dos casos).
VIROLOGIA 173
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
→ Vírus cresce bem em células de rim de macaco → formação de células gigantes multinuclea-
das.
→ Causa hemadsorção de eritrócitos de cobaias (devido à hemaglutinina viral)
→ Diagnóstico por: RT-PCR para deteção de genomas virais ou Deteção de IgM ou antigénio
por ELISA
Vírus parainfluenza
VIROLOGIA 174
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PATOGÉNESE
EPIDEMIOLOGIA
→ Vírus com invólucro – facilmente inativado. Infeção limitada a humanos → Pode ocorrer rein-
feção. As reinfeções acontecem por toda a vida (imunidade de curta duração) mas geralmente
associadas a doença suave.
→ Infeções primárias normalmente ocorrem em bebés e crianças ˂ 5 anos. Crianças têm risco
de doença branda ou crupe.
→ Vírus ubíquo, distribuído em todo o mundo.
→ Incidência sazonal: parainfluenza 1 e 2 - infeções + no outono; parainfluenza 3 - infeções ao
longo do ano (endémico). Podem provocar surtos em enfermarias e unidades pediátricas.
→ Não existe modo de controlo da infeção.
→ TRANSMISSÃO: pelo contato pessoa a pessoa ou por meio de gotículas respiratórias.
→ Período de contágio: precede o aparecimento de sintomas ou pode ocorrer na ausência de
sintomas.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Vírus parainfluenza 1, 2 e 3:
• resfriado com infeção do trato respiratório superior (coriza = inflamação mucosa nasal, farin-
gite, bronquite, chiado e febre)
• bronquiolite
• pneumonia (+ frequente em idosos) principalmente o hPIV3
VIROLOGIA 175
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Mais grave em crianças do que em adultos, mas maioria recupera dentro de 48h. São, a seguir ao
RSV, os principais responsáveis por doença respiratória na criança.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
TRATAMENTO E CONTROLO
→ A causa mais comum de infeção aguda fatal do trato respiratório inferior em bebés e crian-
ças.
→ Principal agente etiológico da bronquiolite infantil. Infeta praticamente todas as crianças ˂ 2
anos de idade. Doença com pico de prevalência nas crianças com 2-5 meses. Surtos tam-
bém podem ocorrer na população idosa (ex. em casas de repouso).
→ Reinfeção é comum em todos os grupos etários, mas raramente causa doença severa.
PATOGÉNESE
→ Efeito patológico causado pela invasão direta do vírus no epitélio respiratório e pelo dano
celular provocado pela resposta imune. → RSV causa infeção localizada no trato respiratório.
→ Não ocorre virémia. Pode ocorrer:
• Pneumonia – consequência da disseminação citopatológica com formação de
sincícios.
• Bronquiolite – associada à resposta imune
→ Bébés: podem ficar com vias aéreas obstruídas
→ Anticorpos maternos não protegem o bébé de infeção.
VIROLOGIA 176
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
EPIDEMIOLOGIA
→ Vírus com invólucro – facilmente inativado. Vírus eliminado nas secreções respiratórias por
muitos dias → Altamente contagioso
→ Período de contágio: precede o aparecimento de sintomas ou pode ocorrer sem sintomas
→ Infeção limitada a humanos. Bastante prevalente em crianças pequenas. 25% - 33% desses
casos envolvem o trato respiratório inferior e 1% apresenta quadro clínico grave com hospita-
lização.
→ Bébés: risco de infeção do trato respiratório inferior (bronquiolite e pneumonia).
→ Crianças: risco de doença branca ou pneumonia.
→ Adultos: risco de reinfeção com sintomas brandos.
→ Vírus ubíquo, encontrado em todo o mundo. Incidência sazonal (quase sempre no Inverno).
Responsável por infeções nosocomiais.
→ TRANSMISÃO: aerossóis e também pelas mãos e por fómites.
→ Período de incubação: 4 - 5 dias.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
VIROLOGIA 177
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Metapneumovírus
VIROLOGIA 178
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Família Ortomyxoviridae
VIROLOGIA 179
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
ESTRUTURA E REPLICAÇÃO
VIROLOGIA 180
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
HEMAGLUTININA (HA)
NEURAMINIDASE (NA)
Vírus da gripe A tem vários subtipos (com base nas diferenças antigénicas da HA e NA).
VIROLOGIA 181
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PATOGÉNESE
Podem estabelecer infeção nos tratos respiratórios superior e inferior. Sintomas locais são devidos
à lesão das células epiteliais e os sintomas sistémicos são provocados pela resposta imunológica.
Interferão e respostas imunomediadas por células (natural killer e T) são importantes para a resolução
imune e para a imunopatogénese. Pode ocorrer superinfeção bacteriana. Os anticorpos são impor-
tantes para proteção futura contra infeção e são específicos para epítopos nas proteínas HA e NA.
VIROLOGIA 182
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Tipo (A)
→ Origem do hospedeiro (exceção do homem)
→ Origem geográfica
→ Número da estirpe
→ Ano do isolamento
→ Descrição antigénica da hemaglutinina(H) e neuraminidase (N): subtipo
VIROLOGIA 183
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
“Drift” antigénico
“Shift” antigénico
VIROLOGIA 184
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
O subtipo H1N1 reapareceu em 1977: a população ˂ 30 anos ficou em risco para a doença. Exposição
anterior e resposta imunológica humoral protegeram os membros da população ˃ 30 anos.
VIROLOGIA 185
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Primeira infeção humana por um vírus da gripe puramente aviário (com capacidade para se
transmitir diretamente ao homem). Este vírus aviário H5N1 não é comum, porque não se trata de
um rearranjo. Foi isolado em pelo menos 18 pessoas e provocou 6 mortes em Hong Kong, sendo
que houveram casos em todo o mundo.
Vírus foi disseminado por aves domésticas e aves aquáticas selvagens (contacto direto com
aves doentes ou infetadas) e exige a inalação de grandes quantidades de vírus (e viver em ambi-
entes partilhados). O surto foi controlado pela destruição de todos os galináceos do território
(1,5 milhões aves abatidas em 3 dias em Hong Kong). O surto ficou contido, mas reapareceu em
abril 2003 e não parou a sua expansão.
Tem uma alta taxa de mortalidade. O vírus de gripe com um novo subtipo de hemaglutinina (H5)
desconhecido da população mundial. H5N1 é agora endémico em muitas regiões da Ásia, mas conti-
nua incapaz de se transmitir de pessoa a pessoa de forma eficaz e sustentada.
Setembro 2019: vacina disponibilizada para distribuição de forma prioritária; depois foi adminis-
trada com a vacina sazonal contra influenza. Fim da pandemia: agosto de 2010.
VIROLOGIA 186
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
EPIDEMIOLOGIA
Vírus com invólucro por isso é facilmente inativado. O genoma segmentado facilita alterações genéti-
cas – principalmente na HA e NA.
Transmissão:
→ frequentemente precede sintomas e perdura por 1 longo período, especialmente nas crianças
→ inalação de gotículas de aerossol (expelidas durante fala, respiração, tosse)
→ vírus também pode sobreviver até 1 dia em superfícies
Sintomas:
→ Adultos: gripe
→ Crianças: de assintomáticas até infeções graves do trato respiratório
→ Grupos de alto risco: idosos, imunocomprometidos, pessoas com problemas cardíacos ou res-
piratórios subjacentes (ex. asma)
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Infeção pode ser assintomática. O período de incubação é de 1 a 4 dias. Origina o “Síndrome gripal”.
VIROLOGIA 187
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
NOTA: O novo vírus A (H1N1) da pandemia de 2009 veio substituir os anteriores vírus influenza A
H1N1 dominantes nas últimas décadas.
GRIPE SAZONAL
Incidência global da gripe é elevada - 10% da população mundial é infetada por ano. A mortalidade e
a morbilidade são significativas em idosos e em indivíduos com doenças subjacentes (patologia res-
piratória, doença cardiovascular e diabetes). Mais de 90% das mortes ocorrem em indivíduos com
mais de 65 anos.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Amantadina e rimantadina inibem a etapa de descorticação do vírus influenza A (alvo: proteína M2),
mas não afetam os vírus influenza B e C.
Zanamivir e oseltamivir são inibidores da enzima neuraminidase, impedem a libertação do vírus e são
usados contra o influenza A e B.
VIROLOGIA 188
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
É quase impossível limitar a disseminação da gripe. A imunização natural, que resulta de exposição
anterior, é protetora por longos períodos. Vacinas inativadas representam as “estirpes do ano”.
VACINA DA GRIPE
EFICÁCIA DA VACINA
Depende do grau de semelhança entre as estirpes incluídas na vacina e as que circulam na comuni-
dade, mas a proteção pela vacina falha quando surge um novo subtipo. Administração é feita
entre Setembro-Novembro. São necessárias 1 a 2 semanas após vacinação, para ocorrer desen-
volvimento de anticorpos e consequentemente proteção.
VIROLOGIA 189
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Família Retroviridae
RETROVÍRUS
Forma de replicação única: codificam uma DNA polimerase RNA-dependente (a transcriptase re-
versa) e replicam-se por meio de um intermediário de DNA (=provírus). A cópia de DNA do genoma
viral (provírus) é depois integrada aleatoriamente no cromossoma do hospedeiro, tornando-se um
gene celular.
Esta descoberta veio contradizer o dogma central da biologia – que a informação genética passava
do DNA para o RNA e, em seguida, para as proteínas Baltimore, Temin e Dulbecco - Prémio Nobel
1975.
Retrovírus simples codificam os genes gag, pol e env. Retrovírus complexos também codificam genes
acessórios: ex. tat, rev, nef, vif e vpu para HIV. A morfogénese final do HIV requer a clivagem por
protéase dos polipeptídeos Gag e Gag-pol após aquisição do invólucro.
HIV-1 e HIV-2
Final da década de 1970 e início da de 1980: muitos homens jovens homossexuais, haitianos, viciados
em heroína e hemofílicos nos Estados Unidos (grupo de risco inicial) estava a morrer em consequên-
cia de infeções oportunistas normalmente benignas. Em 1981 o CDC (Centro de Controlo de Doenças
Infeciosas, Atlanta, EUA) reconhece uma nova doença.
SIDA - Síndroma da Imunodeficiência Adquirida. É causada por 2 tipos de HIV: HIV-1 (desco-
berto em 1983, Luc Montagnier, Robert Gallo) e HIV-2 (descoberto em 1986, Prof. Odette Ferreira -
FFUL em colaboração com Prof. Luc Montagnier - Instituto Pasteur).
VIROLOGIA 190
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
SIVsm no macaco verde africano (Cercocebus atys) na África ocidental. Houve uma difusão rapida-
mente pela África e pelo mundo.
EPIDEMIA DE SIDA
Atualmente sabe-se que a SIDA não é limitada apenas a esses grupos, pode ocorrer em qualquer
pessoa exposta ao vírus.
HIV-1 HIV-2
→ Pandémico → Endémico na África Ocidental
→ Transmissão: sexual, sangue contami- → Transmissão sexual (menor eficácia na
nado e mãe-filho transmissão)
→ Primeiros casos doença nos anos 80 → Primeiros casos doença nos anos 70
→ Grande variabilidade genética → Menor variabilidade genética
→ Menor tempo de vida do doente → Maior tempo de vida do doente
→ Muito patogénico → Menos patogénico
São vírus do Género Lentivirus. Portugal é o país com maior número de casos de infeção por HIV-2.
ESTRUTURA
VIROLOGIA 191
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
gp120
A maior glicoproteína do HIV. Liga-se aos recetores da superfície celular. Determina o tropismo
tecidual primário do vírus e é reconhecida por anticorpos neutralizantes.
VIROLOGIA 192
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
A especificidade ao recetor pode sofrer alterações (devido a mutações ocorridas durante infe-
ção crónica).
REPLICAÇÃO
FUSÃO
Ligação das espículas das glicoproteínas virais (formadas pelas gp120 e gp41) ao recetor primário,
a proteína CD4, e a um co-recetor.
Na infeção inicial: o co-receptor utilizado é o CCR5, expresso nas células mieloides, células T peri-
féricas e subgrupos de células T helper (macrófagos, [M]-trópico).
Na infeção crónica: o gene env sofre mutações que fazem com que a gp120 se ligue a um recetor de
quimiocinas diferente, CXCR4, primariamente expresso nas células T (T-trópico).
Este mecanismo
de fusão, mediado
pela ligação de
CCR5 e gp41, é
alvo para fármacos
antivirais.
TRANSCRITASE REVERSA
VIROLOGIA 193
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
A transcriptase reversa, codificada pelo gene pol, utiliza o tRNA presente no virião como um primer e
sintetiza um DNA complementar (cDNA), de polaridade negativa (=provírus). A transcriptase re-
versa também atua como uma ribonuclease H, degradando o genoma de RNA e sintetizando a cadeia
positiva do DNA.
A transcriptase reversa é muito suscetível a erros (aproximadamente cinco erros por genoma de HIV)
A instabilidade genética do HIV é responsável por promover o aparecimento de novas estirpes do
vírus durante a infeção de um indivíduo:
INTEGRASE
Ajuda a transportar o cDNA de cadeia dupla para o núcleo e a inseri-lo no cromossoma do hospedeiro.
É codificada pelo vírus. A integração requer a multiplicação celular (mas cDNA pode permanecer no
núcleo e no citoplasma na forma de um DNA circular não integrado até que a célula seja ativada). É
outro importante alvo para fármacos antirretrovirais.
TRANSCRIÇÃO DO PROVÍRUS
Depois de integrado, inicia-se a fase tardia da replicação. O DNA viral ou provírus é transcrito como
um gene celular pela RNA polimerase II do hospedeiro. A transcrição do genoma produz uma mo-
lécula única de RNA que, nos retrovírus simples, é processada para produzir vários RNAm,
que contêm as sequências dos genes: gag, gag-pol ou env. Transcritos completos do genoma
também podem ser agrupados dentro de novos viriões. A capacidade de uma célula para transcrever
o genoma retroviral é também um determinante importante para o tropismo tecidual e a gama de
hospedeiros de um retrovírus.
PROTEASE
VIROLOGIA 194
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
CAUSAS:
CONSEQUÊNCIAS:
Com base na análise filogenética das numerosas estirpes de HIV isoladas em diferentes zonas geo-
gráficas, o HIV é classificado em: Tipos, Grupos, Subtipos, Sub-subtipos, Formas Recombinan-
tes Circulantes (CRFs), Formas Recombinantes Únicas (URFs). A recombinação é o principal
mecanismo de evolução do VIH.
Essa classificação baseia-se em diferenças na sequência dos genes env (pode variar de 7% - 12%)
e gag → alteram a antigenicidade e o reconhecimento imune das proteínas gp120 e de outras prote-
ínas da cápside viral.
✓ Desenvolvimento de vacina
VIROLOGIA 195
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PATOGÉNESE
O principal determinante na patogénese e doença causadas pelo HIV é o tropismo do vírus por células
mieloides (ex. monócitos, macrófagos, macrófagos alveolares pulmonares, células dendríticas e cé-
lulas microgliais do cérebro) e por células T que expressam CD4:
Estágios iniciais de infeção: vírus com tropismo para células mieloides (denominado M-trópico),
que se ligam ao recetor CD4 e ao co-recetor CCR5 (recetor de quimocinas) nas células dendríti-
cas e em outras células da linhagem de monócitos-macrófagos (assim como em células T de memó-
ria, TH1, maioria das células T associadas ao intestino, e outras células T CD4+).
Mutação do gene env para a gp120 altera o tropismo do vírus de M-trópico (vírus R5) para T-
trópico (vírus X4).
A gp120 do vírus T-trópico liga-se ao recetor CD4 e ao co-recetor CXCR4 (receptor de quimioci-
nas).
A preferência de ligação ao recetor CXCR4 ocorre em estágios avançados da infeção e está correla-
cionada com a progressão da doença.
VIROLOGIA 196
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
→ Estirpes M-trópicas ou R5
→ Receptor CD4
→ Co-recetor CCR5 (recetor de quimiocinas)
→ Macrófagos
→ Estirpes monotrópicas
→ Não indutoras de sincício
→ Estirpes T-trópicas ou X4
→ Receptor CD4
→ Co-recetor CXCR4 (recetor de quimiocinas)
→ Linfócitos T CD4+
→ Estirpes linfotrópicas
→ Indutoras de sincícios
→ Mais patogénicas
CO-RECETOR CCR5
Co-receptor usado pelas estirpes que entram por via sexual. Indivíduos com mutações no co-receptor
CCR5 são mais resistentes à infeção por HIV, e têm maiores períodos de progressão da doença. A
ligação ao recetor CCR5 é um importante alvo para fármacos antivirais.
VIROLOGIA 197
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
EVOLUÇÃO CLÍNICA
FASES DA INFEÇÃO:
VIROLOGIA 198
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
EPIDEMIOLOGIA
É uma epidemia mundial em expansão. Não há incidência sazonal. Vírus com invólucro, facilmente
inativado, mas pode ser transmitido por líquidos corporais. Doença com longo período prodrómico.
Vírus pode ser libertado antes do desenvolvimento de sintomas identificáveis.
Risco para: Consumidores de drogas intravenosas, pessoas com muitos parceiros sexuais, recém-
nascidos de mães HIV positivas, parceiros sexuais de indivíduos infetados. Recetores de sangue/ór-
gãos transplantados e hemofílicos que receberam doação de sangue antes de 1985 (antes dos pro-
gramas de pré-triagem).
TRANSMISSÃO
VIROLOGIA 199
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ Imunodeficiência severa:
Perda das células T CD4 TH1 e TH17 (responsáveis pela ativação de macrófagos e neutrófilos)
permite a instalação de muitas infeções intracelulares oportunistas (fungos e bactérias). Diminuição
do número de células T CD8 e incapacidade de ativação dessas células aumenta o potencial de rea-
tivação de vírus latentes: poliomavírus JC (pode causar leucoencefalopatia multifocal progressiva -
LMP); vírus do herpes simples (HSV); vírus da varicela-zóster (VZV); citomegalovírus (CMV); vírus
Epstein-Barr (EBV) – associado com linfomas; herpesvírus humano tipo 8 (HHV 8) – associado com
sarcoma de Kaposi.
→ Problemas neurológicos:
VIROLOGIA 200
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
1. SEROLOGIA
→ Deteção de anticorpos específicos para o HI
→ Deteção de antigénios virais circulantes (Ag
p24).
Ag p24 desaparece geralmente durante as semanas que se seguem à formação dos primeiros Ac.
VIROLOGIA 201
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
TESTES RÁPIDOS EM SITUAÇÕES DE “POINT OF CARE”: Testes rápidos de leitura visual, que
utilizam a tecnologia imuno-cromatográfica, que permitem a deteção qualitativa de anticorpos séricos
anti-HIV1 e anti-HIV2 no soro, plasma ou sangue total humano.
Importante para:
→ Averiguar se uma criança nascida de mãe seropositiva foi infetada “in utero”. os Ac maternos
“mascaram” a resposta imune, os Ac transferidos podem persistir vários meses (normalmente
desaparecem ao fim de 9 meses mas podem persistir até aos 18 meses), as crianças podem
ter dificuldade em seroconverter.
VIROLOGIA 202
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PREVENÇÃO E CONTROLO
TRATAMENTO
→ Inibidores da entrada
→ Inibidores da Transcritase Reversa (aná-
logos de nucleósidos ou não nucleósi-
dos)
→ Inibidores da Integrase
→ Inibidores da Protease
VIROLOGIA 203
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
HTLV-1 e HTLV-2
VIROLOGIA 204
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
EPIDEMIOLOGIA
→ TRANSMISSÃO
A maior parte dos indivíduos infetados por HTLV-1 são portadores assintomáticos.
VIROLOGIA 205
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ Leucemia ou linfoma da célula T adulta (ATL): Cerca de 1-3% de indivíduos infetados de-
senvolverão eventualmente esta leucemia agressiva (após um período de incubação, normal-
mente de muitas décadas).
Após um período assintomático, o doente pode desenvolver pré-ATL. 50% permanecem assintomáti-
cos mas há uma expansão clonal de células T (que podem ser alteradas morfologicamente) e 50%
dos doentes com pré-ATL progridem para ATL crónica.
• Manifesta-se por lesões da pele (micoses fungóides) e altas contagens de leucócitos. Depois
progridem para ATL aguda dentro de vários meses. A sobrevivência é de meses.
• A oncogénese do HTLV demora cerca de 20-30 anos : infeção induz a transformação de uma
população policlonal de linfócitos T, mas essa transformação não corresponde à formação de
tumor. São necessários mais eventos (talvez anormalidades cromossómicas)
Integra mas pensa-se que o HTLV-1 não tem um local de integração preferencial que possa
levar à ativação de genes nas células. Não se consegue detetar qualquer oncogene ativado, num
ensaio de transformação. Acredita-se que o vírus aumenta a proliferação das células T → Expansão
da população de células T na qual um evento de malignidade pode ocorrer
VIROLOGIA 206
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PREVENÇÃO
→ Mesmas medidas que para a prevenção do HIV: Prática de sexo seguro, Rastreio nos bancos
de sangue. → MAS, transmissão materna para uma criança é muito difícil de ser controlada.
Hepatites virais
→ Os sintomas básicos da hepatite são semelhantes, por isso são apresentados na mesma aula.
MAS estes vírus são muito diferentes entre eles na estrutura, modo de replicação, modo de
transmissão, tempo de duração da doença e sequelas.
→ O vírus da hepatite A (HAV) e o vírus da hepatite B (HBV) são os vírus da “hepatite clássica”
→ Os vírus da hepatite C, D e E são denominados de “vírus da hepatite não A, não B” (NANBH)
Nota: Outros vírus também podem causar hepatites esporádica (ex. CMV, EBV, HSV, vírus da rubé-
ola e os enterovírus)
VIROLOGIA 207
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
HAV
ESTRUTURA
→ Família Picornaviridae.
→ Classe Baltimore: Classe IV, ssRNA
(+), Sem invólucro com cápside icosaé-
drica (27 nm de diâmetro)
→ Transmissão Fecal-Oral
→ Inicialmente denominado como enterovírus 72 recentemente reclassificado dentro de um novo
género: Hepatovirus (devido ao genoma único). Existe apenas um serótipo de HAV e este
vírus só infeta o homem.
→ Estável: ácido, solventes (éter, clorofórmio), detergentes, dessecação.
→ Temperatura: 4º durante semanas, 56ºC durante 30 min, 61º C durante 20 min
→ Inativado por: Tratamento de água potável com cloro, Formalina, Radiação UV.
→ PERÍODO DE INCUBAÇÃO: ~1 mês
→ MANISFESTAÇÕES: sintomas de icterícia manifestam-se abruptamente após o período de
incubação. Não causa doença hepática crónica, raramente é fatal.
PATOGÉNESE
AQUISIÇÃO E REPLICAÇÃO:
EXCREÇÃO:
→ Nas fezes (grandes quantidades) ~10 dias antes do aparecimento de sintomas de icterícia
ou da deteção do anticorpo
VIROLOGIA 208
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Quadro de icterícia resulta dos danos causados ao fígado e ocorre quando as respostas imunes me-
diadas por células e anticorpos são detetadas.
Não causa infeção crónica, e não está associado com cancro hepático.
TRANSMISSÃO
→ Via fecal-oral (95%): contacto pessoa-a-pessoa (vírus pode ser transmitido por pessoa que
manuseia alimentos, profissionais de creches e por crianças); alimentos (mariscos, ostras e
mexilhões) e água contaminados com material fecal; frutos e vegetais crus lavados com água
contaminada. (Fontes de infeção)
→ Através de produtos sanguíneos (devido à fase de virémia): factor VIIIe factor IX.
→ Atividade sexual (<5%): Contacto oro-anal (Encontrada elevada prevalência de anti-HAV em
homossexuais).
EPIDEMIOLOGIA
→ Vírus encontrado em todo o mundo. Não existe incidência sazonal. Cerca de 40% dos casos
agudos de hepatite são causados por HAV.
→ Incidência relativamente alta de infeção diretamente relacionada com condições precárias de
higiene e aglomerações.
→ Nos países mais desenvolvidos, a infeção ocorre mais tarde na vida.
→ Países em vias de desenvolvimento: Forma endémica, 90% população imune aos 10 anos.
→ Países industrializados: Forma esporádica, 10-20% população imune aos 40 anos.
Indivíduos com risco elevado de infeção: Homossexuais, Toxicómanos drogas endovenosas, Viajan-
tes para países endémicos, Pessoas em aglomerações humanas e em áreas sem saneamento.
Fácil disseminação numa comunidade: maioria das pessoas infetadas é contagiosa 10 - 14 dias antes
do aparecimento dos sintomas. 90% das crianças infetadas e entre 25-50% dos adultos infetados são
portadores de infeções produtivas, mas não aparentes (propagação assintomática).
SURTOS: difícil identificar a fonte (devido à excreção assintomática e longo período de incubação).
VIROLOGIA 209
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
SINTOMAS:
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
VIROLOGIA 210
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
HBV
ESTRUTURA
→ Genoma DNA, circular, parcialmente cadeia dupla (3.2 kb). Com invólucro, mas resistente aos
agentes físicos e químicos (grande quantidade de proteínas) auxiliam na transmissão da do-
ença de pessoa a pessoa e dificultam a desinfeção.
→ Codifica para uma transcritase reversa.
→ Células infetados com HBV produzem e libertam grandes quantidades de partículas HBsAg
sem DNA.
→ O genoma do HBV pode ser integrado no cromossoma da hospedeiro. Múltiplos serótipos
(subtipos) e 8 genótipos A-H.
→ No soro de doentes infetados podem ser visualizados
3 tipos de partículas:
• Partículas Dane (42nm diâmetro): únicas infe-
ciosas
• Partículas esféricas (22 nm diâmetro)
• Partículas filamentosas (200 nm compri-
mento)
VIROLOGIA 211
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
REPLICAÇÃO
Embora sendo um vírus de DNA, codifica uma transcriptase reversa e replica-se por meio de um
intermediário de RNA, produzindo e libertando partículas antigénicas de HBs.
cccDNA (covalently closed circular DNA): Ao contrário do provirus DNA dos retrovírus, o cccDNA
não necessita de se integrar no genoma celular.
VIROLOGIA 212
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
TRANSCRITASE REVERSA:
MUTANTES DO HBV:
ANTIGÉNIOS DO HBV:
VIROLOGIA 213
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
PARTÍCULAS CONTENDO HBSAG: Libertadas no soro dos indivíduos infetados. Em número supe-
rior ao de viriões. Podem ser esféricas (mais pequenas que a partícula Dane) ou filamentosas. São
imunogénicas. Foram incluídas na primeira vacina comercial contra o HBV. A glicoproteína S é o
componente principal das partículas de HBsAg.
INTEGRAÇÃO NO GENOMA HUMANO: O genoma completo do HBV pode ser integrado na croma-
tina da célula hospedeira. O HBsAg pode ser detetado no citoplasma de células contendo o DNA de
HBV integrado. → DNA viral integrado tem sido encontrado em carcinomas hepatocelulares.
TRANSMISSÃO
Mais eficiente: penetração do vírus na corrente sanguínea e menos eficiente: contacto sexual e parto.
PATOGÉNESE
Dependendo da resposta imune do indivíduo à infeção, pode causar: doença aguda ou doença cró-
nica, que pode ser sintomática ou assintomática.
VIROLOGIA 214
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Infeções fulminantes, infeções crónicas ou co-infeção com o agente delta podem resultar em dano
hepático permanente e cirrose.
EPIDEMIOLOGIA
VIROLOGIA 215
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
INFEÇÃO AGUDA:
INFEÇÃO CRÓNICA:
VIROLOGIA 216
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
CARCINOMA HEPATOCELULAR:
HBV: o maior fator de risco para desenvolvimento deste carcinoma e considerado pela OMS como o
segundo carcinogéneo imediatamente a seguir ao tabaco.
→ MECANISMOS DE ONCOGÉNESE:
• Efeito direto
o Integração de sequências de ácido nucleico viral no DNA da célula, permite:
▪ codificar para a proteína X que ativa proto-oncogenes ou silencia genes
supressores tumorais → estimula a proliferação celular.
▪ inserir sequências de DNA do HBV que podem ativar e influenciar a
transcrição de genes celulares
• Efeitos indiretos
o devidos à resposta imunológica e inflamatória, o HBV pode:
▪ causar uma inflamação crónica com morte celular e regeneração de he-
patócitos e com fibrose (aumentando o risco de “acidentes” genéticos).
▪ inflamação e fagocitose originam altas concentrações de superóxidos e
radicais livres provocando danos no DNA do hepatócito.
VIROLOGIA 217
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Diagnóstico inicial baseado nos sintomas clínicos e na presença de enzimas hepáticas no sangue!
Distinção entre hepatite aguda e crónica: Feita pela presença de HBsAg e de HBeAg no soro e pelo
padrão de anticorpos aos antígenos individuais do HBV.
HBsAg → doença (aguda ou crónica); Anti-HBs → imunidade: vacinação ou cura, sem doença ativa
IgM anti-HBc → infeção aguda (recente); IgG anti-HBc → infeção antiga;
HBeAg → alta infecciosidade ; Anti-HBe → baixa infecciosidade.
PREVENÇÃO: Imunoglobulina da hepatite B (para prevenir ou atenuar a doença) pode ser adminis-
trada dentro de 1 semana após exposição e a bebés recém-nascidos de mães portadoras de HBsAg.
VIROLOGIA 218
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
HCV
ESTRUTURA
VIROLOGIA 219
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
Genoma do HCV
Vírus RNA de cadeia positiva contendo duas regiões não codificantes nas extremidades 5’ e 3’.
Codifica para um polipeptídeo único que é processado em várias proteínas virais, dando origem às
proteínas:
VIROLOGIA 220
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
TRANSMISSÃO
NOTAs: vírus foi detetado na saliva, mas é pouco provável a transmissão através do beijo (só se
existirem feridas na boca) e não se propaga no convívio social, ou na partilha de loiça e outros objetos
90% dos infetados com HIV e que são ou foram consumidores de drogas intravenosas, estão infeta-
dos com HCV
EPIDEMIOLOGIA
→ Na Europa e nos EUA 60-70% dos doentes têm infeção pelo genótipo 1.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
VIROLOGIA 221
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
MECANISMOS DE ONCOGÉNESE
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
→ Se não forem encontrados anticorpos para o HCV no sangue → não está infetado.
→ Presença de anti-HCV evidencia uma exposição ao vírus (ie. infeção presente ou antiga e
curada). Mas não significa necessariamente que o vírus permaneça no organismo.
→ Para distinguir entre infeção crónica ou resolução/cura: necessário teste para detetar a pre-
sença do RNA HCV. Se o RNA for positivo → infeção ativa.
VIROLOGIA 222
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
TRATAMENTO
Atualmente: Antivíricos de Ação Direta (AAD) dirigidos a alvos terapêuticos: protease (NS3/4A),
proteína NS5A e polimerase (NS5B); os inibidores da polimerase incluem análogos de nucleótidos e
não análogos.
PREVENÇÃO E CONTROLO
VIROLOGIA 223
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
HDV
ESTRUTURA
O vírus da hepatite D é um vírus incompleto que requer a ajuda do vírus da hepatite B para se replicar.
Uma vez que o HDV usa o AgHBs como a sua proteína de invólucro, a hepatite D só pode ocorrer em
indivíduos infetados com HBV.
CO-INFEÇÃO OU SUPER-INFEÇÃO:
SUPER-INFEÇÃO = primo-infeção por HDV num indivíduo já infetado cronicamente pelo HBV.
VIROLOGIA 224
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
TRANSMISSÃO:
→ Parenteral
→ Sexual (menos eficaz que HBV)
→ Perinatal (mãe-filho) – rara
→ A hepatite D pode ser transmitida através do contato com sangue e outros fluidos corporais.
→ Infeção por HDV tem grande prevalência em drogados e menor prevalência em homossexuais.
→ Risco máximo: Consumidores de drogas parenterais, hemofílicos e outros recetores de pro-
dutos de sangue.
EPIDEMIOLOGIA
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Na co-infeção não fica nenhum marcador serológico para indicar a infeção passada por HDV.
VIROLOGIA 225
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
HEV
ESTRUTURA
→ Família Hepeviridae
→ Vírus ssRNA+, sem invólucro, estável aos ácidos.
→ Disseminado predominantemente pela via fecal-oral, em especial pela água contaminada.
→ Grandes surtos epidémicos de hepatite aguda associados a uma transmissão pela água co-
muns nos países em vias de desenvolvimento. MAS, até final dos anos 90, nos países indus-
trializados a hepatite E era considerada uma doença rara e associada apenas aos viajantes
de zonas endémicas. A partir daí, começam a ser descritos nos países industrializados casos
de hepatite aguda e crónica associadas ao HEV = “casos autóctones”.
→ 1 serótipo, 4 genótipos. → Foi comprovada a transmissão zoonótica do genótipo 3 através
de alimentos (ingestão de carne de porco, veado e javali).
EPIDEMIOLOGIA
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
→ Os sintomas e o curso da doença por HEV são semelhantes aos da doença por HAV (mas
podem ocorrer mais tarde). HEV causa apenas doença aguda.
→ Nos países industrializados a seroprevalência anti-HEV é relativamente alta comparada com
a ocorrência de casos de hepatite E aguda → doença clínica é pouco frequente.
→ Taxa de mortalidade: 1% a 2% ( ~ 10 vezes ˃ do que na doença por HAV).
→ MAS em gestantes a taxa de mortalidade: ~ 20%
VIROLOGIA 226
Flávia Matos | Soraia Azevedo 2021/2022
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Nota: Abril- Maio 2022 → SURTO de Hepatite aguda em crianças de causa ainda desconhecida!
181 casos foram testados para o vírus Adenovirus, sendo que 110 (60.8%) testaram positivo.
188 casos foram testados com PCR para o SARS-CoV-2, 23 (12.2%) testaram postitivo.
EM RESUMO
VIROLOGIA 227