Você está na página 1de 5

1

Viagem da luz: Do olho até ao Cérebro

Patrícia Rebelo de Almeida (60973)


Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares- ISEIT/ Viseu
1º Ciclo de Estudos em Psicologia - Unidade Curricular Neurociências
Professor Doutor André Pedro Ribeiro Marques

18 de Janeiro de 2023
2

Viagem da luz: Do olho até ao Cérebro


Um aluno de Psicologia da Universidade de Coimbra, procura uma vela após ter
ficado sem luz em casa durante a noite, por causa de uma tempestade. Após se levantar
do sofá e acender a vela, interrogou-se sobre a viagem que a luz faria, desde o olho até
ao cérebro, e foi pesquisar na sua coleção pessoal de livros. Durante a leitura
compreendeu que, o ato de ver parece ser tão automático que os indivíduos a tomam
como garantida, ou seja, quando a pessoa abre os olhos o cérebro entra em ação de
modo instintivo e que qualquer anomalia no córtex visual afetará a visão (Enns, 2005).
Concluída a leitura, o aluno ficou com dúvidas e decidiu pedir ao professor de
neurociências para criar um debate na sala de aula, sobre o papel do cérebro e das
células envolventes no ato de visualizar a luz da vela. Aceite o debate, professor
explicou que, a detetação da luz é exercida por células foto-recetoras que estão
instaladas na retina, (uma camada de tecido que reveste a parte de trás do globo ocular),
estas células controlam a quantidade de luz recebida e garantem uma imagem focada e
clara, e cérebro completa essa ação, somente com base nos sinais sensoriais, havendo
um dano, esse sistema falha no processamento de nova informação (Gazzaniga et al.,
2018).
O professor referiu ainda que a diferença fundamental entre uma ação reflexa e
qualquer outra ação do sistema nervoso é o abarcamento do cérebro. Intrigado, com a
resposta, o aluno pede ao docente para explicar em detalhe. Este respondeu que, nos
sinais nervosos, as células estimuladas atuam por meio dos impulsos nervosos, através
das sinapses (Gleitman Henry, 2003). O impulso nervoso é uma onda de despolarização
devido às mudanças de permeabilidade da membrana ao sódio (Na+), que se espalha na
superfície do neurónio até atingir o terminal do axónio, local onde são libertados os
neurotransmissores (Moreira, 2015). O potencial eletronegativo que foi gerado no
interior da fibra nervosa devido à bomba de sódio e potássio (K+), é designado de
potencial de repouso da membrana (Moreira, 2015), ou seja, a carga elétrica do
neurónio está inativa, (interior negativo e exterior positivo), concluímos então que a
membrana está polarizada (Purves Dale, & et al., 2010). A carga elétrica no interior do
neurónio é mais negativa do que a exterior, que correntemente se encontra a -70mV
(uma bateria AA estandardizada com 1,5V) (Gleitman Henry, 2003). A passagem dos
iões negativos e positivos para o exterior e interior da membrana é regulado por canais
iónicos, sendo que cada canal é compatível com um tipo específico de ião, isto é, os
canais de potássio apenas permitem a passagem de iões de potássio assim como os
canais de sódio autorizam apenas a passagem de iões de sódio. Esta passagem de iões é
controlada por um mecanismo de
3

fluxo, mais especificamente quando o canal está aberto os iões fluem para dentro e fora
da membrana celular, e quando está encerrado não permite esta passagem. O fluxo de
iões é influenciado pela permeabilidade da membrana, que permite que alguns iões
passem mais facilmente que outros (Gazzaniga et al., 2018). Seguidamente acontece o
disparo neural ou o potencial da ação, isto é, um sinal elétrico que se desloca ao longo
do axónio, causando a libertação das moléculas químicas a partir dos terminais axónicos
(Gazzaniga et al., 2018). Por outras palavras, é uma redistribuição de carga elétrica
através de uma membrana, a despolarização da célula, é provocada pelo influxo de iões
de sódio através, e a despolarização é promovida pelo fluxo de iões de potássio (Bear et
al., 2017). O potencial de ação desloca-se pelo axónio, e distancia-se do corpo celular,
seguindo assim para os terminais axónicos (Gazzaniga et al., 2018), dentro de cada
terminal axónico estão neurotransmissores que são substâncias químicas que emitem
sinais de neurónio para neurónio e deslocam-se pela sinapse (Biscaino, 2016). As
mudanças do potencial elétrico levam à ação, os neurónios recebem a informação nas
dentrites e processam a mesma no seu corpo, se a informação for excitatória, o neurónio
vai disparar um potencial de ação (Gazzaniga et al., 2018). Os sinais recebidos pelas
dentrites podem ser: excitatórios (polarizam a membrana celular) ou inibitórios
(hiperbolizam a célula), são combinados dentro do neurónio. Por intermediário da
hiperpolarização os sinais diminuem a hipótese de o neurónio disparar, quando a
quantidade de estímulos excitatórios ultrapassar os limites de disparo (-55mV), ocorre
então o potencial da ação, (Gazzaniga et al., 2018) fazendo com que o potencial de
ação, seja continuamente regenerado à medida que a mesma se propaga ao longo do
axónio sensorial (Bear et al., 2017).
Compreendido isto, o aluno afirma que o olho contém, o cristalino que vai
refletir os raios luminosos que passam por ela, delineando a imagem numa superfície
(Gleitman Henry, 2003) e explica processos intermediários existentes no ato de ver.
Primeiramente a luz atravessa a córnea: camada externa transparente e grossa;
posteriormente, a luz é focada pela córnea e entra na lente. Este ato de focar, é realizado
por vários músculos que se contraem (curva mais o cristalino) e distendem (achata o
cristalino), a este processo chama-se acomodação; a lente e a córnea atuam em conjunto
para recolher e refletir os raios de luz a partir de um objeto (Gazzaniga et al., 2018).
Finalmente, o professor acrescenta que a quantidade de luz que entra no olho é
determinada por um músculo liso e redondo que envolve a abertura pupilar, designado
por íris (Gleitman Henry, 2003). Querendo parecer que domina o assunto o estudante
afirma que a pupila dilata e contrai
4

dependendo da luz e quando observámos algo que gostamos ou não (Tombs &
Silverman, 2004). O professor esclarece que dentro da retina encontramos duas células
recetoras: Bastonetes: correspondem a baixos níveis de luz; perceção do preto e branco
e visão noturna e Cones: correspondem a níveis altos de luz e perceção da cor, estas
células não comunicam de forma direta com o cérebro, pois as suas informações são
conduzidas por outras células da retina (Gleitman Henry, 2003). Referiu ainda, uma
curiosidade geral, existem cerca de 120 milhões de bastonetes e 6 milhões na retina do
homem (Gazzaniga et al., 2018). Acrescentou também que, os recetores estimulam os
neurónios bipolares que excitam as células glangionares, que por sua vez reúnem
informação da retina e os axónios dessas células convergem para formar o nervo ótico.
Este nervo conduz a informação para o núcleo talâmico e de seguida para o córtex
(Gleitman Henry, 2003). O aluno interpreta então que, no local onde o nervo ótico deixa
o globo ocular, não se encontram recetores dando origem à zona cega (Cornsweet,
1970), e por isso nesta zona não é possível visualizar a luz da vela. Estas células
principiam a transdução das ondas luminosas em impulsos elétricos neurais
(Gazzaniga et al., 2018). Com o conhecimento adquirido pela leitura dos livros e
com a ajuda do professor, o aluno entendeu que, o processo visual é iniciado por sinais
elétricos e pelos recetores sensoriais da retina, tais recetores contêm moléculas proteicas
e pigmentos que são incertos e desaparecem na exposição à luz. Explicou aos colegas
que os cones e os bastonetes não disparam os potenciais da ação como o resto dos
neurónios, por isso os fotopigmentos vão alterar o potencial da membrana dos
fotorreceptores provocando potenciais de ação noutros neurónios (Gazzaniga et al.,
2018). Percebeu ainda, que a luz é traduzida pelas células recetoras, outras células
presentes na camada média desempenham operações sofisticadas, as informações dessas
células convergem sobre os neurónios retinais- primeiros neurónios na via visual a
conter axónios gerando potenciais de ação enviando os sinais do interior do olho para o
tálamo. O professor acrescentou, que devia ser do conhecimento do aluno, que metade
dos axónios do nervo ótico passam pelo quiasma ótico, para que, a informação vinda do
lado esquerdo do espaço visual seja enviada para o hemisfério esquerdo e vice-versa. De
qualquer modo, a informação alcança as áreas visuais do tálamo e passeia até ao córtex
visual primário- zona cortical junto dos lobos occipitais, de modo a conseguirmos obter
a experiência da visão (Gazzaniga et al., 2018), afirma o aluno após a visualizar esta
informação no livro. O académico percebeu que o ato de ver se resume em três fases:
estímulo físico, sensação e transdução.
5

Referências Bibliográficas

Bear, M, Connors, B., Paradiso, M. (2017). Neurociências Desvendando o Sistema


Nervoso (4ªed.).

Bear F. M., Connors W. B., Paradiso A. M. (2016). Neuroscience Exploring the Brain.
4ºed). Wolters Kluwer

Biscaino, L. C., Garzella, M. H., Kapp, E. M. Z., & Horszczaruk, S. M. (2016).


NEUROTRANSMISSORES. Mostra Interativa da Produção Estudantil em Educação
Científica e Tecnológica.

Damiani, D., Gonçalves, V. P., Kuhl, L., Aloi, P. H., & Nascimento, A. M. (2016).
Aspectos neurofuncionais do cerebelo: o fim de um dogma. Arquivos Brasileiros de
Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery, 35(01), 039-044.

Gazzaniga, Michael & et al. (2018) Ciência Psicológica 5° Edição, Armed, 2018.

Gleitman, Henry, (2003), Psicologia, 6ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,


2003

Moreira, C., (2015) Potencial de Ação, Rev. Ciência Elem., V3(4):253

Pires, J. (2009). Anatomia do sistema nervoso.

Purves, Dale, (2010), Neurociências, 4º edição, São Paulo Brasil, 2010

Você também pode gostar