Você está na página 1de 4

LIGA PARAIBANA EM DEFESA DA CANNABIS M EDICINAL

Registro nº 740.962 – Livro A-650 – Cartório Toscano de Brito


CNPJ nº 23.560.415/0001-15
Endereço: Rua Dr. Oscar de Castro, nº 154, Brisamar
João Pessoa – Paraíba – Brasil – CEP: 58.033-550
Tefefones: (55-83) 99813 1050 / 98854 1833
Email: ligacanabicapb@gmail.com

POLÍTICA PÚBLICA NACIONAL DE CANNABIS TERAPÊUTICA

PROPOSTA

I. Introdução:

Antes de tratar especificamente dos pontos que poderão permear o que


propomos enquanto uma Política Pública Nacional de Cannabis Terapêutica, cabe
esclarecer alguns pressupostos que se encontram enfocados no próprio título do presente
documento propositivo.
Inicialmente, entendemos por uma política um conjunto de ações, serviços e
intervenções que acontecem de forma organizada, articulada, sistêmica (integrada) e
controlada, dirigida a uma demanda definida e com o objetivo de atender a necessidades
reais de um coletivo específico ou da população em geral de um município, estado ou
país.
Nessa direção, vem a adjetivação dessa política quando apresenta-se no texto
como pública, o que aparece como um elemento importante para dar legitimidade a
política proposta. Nesse sentido, cremos que deveria ser preservado o seu caráter
público, isto é, que seja idealizada e executada segundo o interesse público (coletivo), o
que pressupõe oposição a quaisquer caminhos que privilegiem grupos privados, se
coloquem em função do lucro ou priorizem objetivos de grupos de poder econômico e
político, em detrimento dos interesses da porção de sociedade a quem é dirigida uma
política que se propõe pública. Além disso, sendo pública, não pode prescindir de ser
concebida, planejada, executada e avaliada com a participação ativa de todos os atores
envolvidos, principalmente aqueles a quem se dirige a política pública, a quem deveria
ser dado poder de deliberação, inclusive, em todas as fases do processo que constitui a
política pública.
Por outro lado, quando está colocado no título do presente texto propositivo a
palavra nacional, pretende-se enfocar a essencialidade de um modelo de política que
responda às necessidades locais, garanta a soberania e a autodeterminação nacionais, e
seja construído de modo a contribuir para a autonomia do público atingido pela política
pública, favorecendo a sua autodeterminação e os interesses daquela população (povo) à
qual é dirigida.
A partir desses elementos norteadores, segue-se a palavra Cannabis para indicar
que nessa política pública nacional, deve-se considerar a história da população e seu
relacionamento com essa planta em sua integralidade (legitimando a tradicionalidade e a
ancestralidade de povos e comunidades que tem a cannabis incorporada às suas práticas
religiosas, terapêuticas e/ou socioculturais), as experiências vividas e o conhecimento
empírico acumulado cotidianamente por usuários e responsáveis de usuários que se
utilizam dessa planta em busca de exercer o seu direito à saúde.
Por fim, o vocábulo Terapêutica faz emergir a saúde como fim de todo o
percurso dessa POLÍTICA PÚBLICA NACIONAL DE CANNABIS TERAPÊUTICA.
Cabe salientar que saúde, na perspectiva da Organização Mundial de Saúde (OMS),
define-se como “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a
ausência de enfermidade ou invalidez”. Assim, ao pensar em uso terapêutico deve-se
considerar as necessidades dos pacientes de modo a atendê-lo em sua integralidade e
não apenas a partir de seus sintomas, e usar todo o potencial da Cannabis SSP com esse
objetivo.

II. Justificativa:

A LIGA PARAIBANA EM DEFESA DA CANNABIS MEDICINAL – LIGA


CANÁBICA, considera inadiável e imprescindível a discussão e o comprometimento,
não só do poder legislativo, mas também do poder executivo, em suas três esferas
(municipal, estadual e federal), com a construção de uma política pública nacional de
cannabis terapêutica, tendo em vista aspectos importantes que demonstram a pertinência
da concepção e implementação dessa política, a exemplo da demanda crescente pelo uso
medicinal da Cannabis SSP; do direito inalienável à saúde dos portadores de doenças
crônicas e incapacitantes que necessitam do uso medicinal da Cannabis SSP para aliviar
seu sofrimento; da comprovação da eficácia e segurança do uso medicinal de Cannabis
SSP para inúmeras patologias; do reconhecimento da existência do uso tradicional de
Cannabis SSP como erva medicinal no Brasil; do avanço científico no Brasil e no
mundo, no campo da Cannabis Terapêutica; da falta de legislação que garanta o direito
de escolha dos pacientes e responsáveis por pacientes; e da ausência de políticas
públicas que garantam o acesso universal e qualificado a todas as formas de uso
terapêutico da Cannabis SSP, principalmente para os pacientes mais vulneráveis
socioeconomicamente. Nessa direção, a LIGA PARAIBANA EM DEFESA DA
CANNABIS MEDICINAL – LIGA CANÁBICA vem propor as seguintes diretrizes
para contribuir com a construção dessa POLÍTICA PÚBLICA NACIONAL DE
CANNABIS TERAPÊUTICA:

III. Diretrizes para uma Política Pública Nacional de Cannabis Terapêutica:

1) Que tenha como referência a perspectiva da Organização Mundial de Saúde (OMS)


que define saúde como “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
somente a ausência de enfermidade ou invalidez”;
2) Observância dos princípios doutrinários que regem o Sistema Único de Saúde
(SUS), a saber: a universalidade (garantia do direito à saúde para todos os
brasileiros e brasileiras), a integralidade (prevenção, promoção, cura e
reabilitação) e a equidade (tratar os diferentes considerando suas especificidades,
individualmente, ou segundo coletivos específicos, priorizando os mais vulneráveis
socioeconomicamente);
3) Fidelidade aos princípios e práticas da agricultura orgânica e, onde couber, da
economia solidária;
4) Obediência aos parâmetros e modus operandi da fitoterapia e do uso tradicional
(consideração da experiência popular de comunidades indígenas, quilombolas e
tradicionais, entre outras que tenham a Cannabis enquanto erva tradicionalmente
legitimada), aproximando o modelo das Farmácias Vivas1 à produção rural,
doméstica e de pequeno porte;
5) Controle social por parte de usuários e familiares responsáveis por usuários, com
participação paritária em quaisquer instâncias de deliberação criadas, sendo
garantido também o princípio da descentralização e autonomia na execução dessas
políticas públicas;
6) O incentivo permanente à produção e difusão do conhecimento científico em
Cannabis terapêutica e ao diálogo constante deste com outros sistemas terapêuticos
(fitoterapia, homeopatia, entre outros), incluindo o saber popular tradicional e dos
usuários (pacientes) enquanto produtores legítimos de conhecimento empírico e
achados necessários à produção científica;
7) A formação permanente de médicos, farrmacêuticos e outros profissionais da saúde
ligados direta ou indiretamente à terapêutica canábica, principalmente no âmbito
das comunidades, além de outros agentes sociais envolvidos no cultivo, produção e
distribuição de derivados medicinais da Cannabis ssp;
8) O incentivo a uma cultura de reconhecimento da planta Cannabis como erva
medicinal tradicional e patrimônio da cultura popular brasileira, bem como a
disseminação de uma cultura de acolhimento e superação de preconceitos em
relação à essa planta e aos usuários;
9) Respeito à função social prioritária da patente (propriedade intelectual) e da
produção (primazia no apoio a entidades sem fins lucrativos, a exemplo de
associações, cooperativas e iniciativas de economia solidária);
10) Direito ao cultivo doméstico (por usuário ou familiar de usuário) e de pequeno
porte, por meio de organizações familiares, grupos de usuários, associações,
cooperativas e iniciativas de economia solidária, orientando-os e apoiando-os
técnica e financeiramente com programas dirigidos exclusivamente para esse fim;
11) Criação e fortalecimento de um programa estatal permanente de cannabis
terapêutica, incluindo a pesquisa, formação, cultivo, produção e distribuição
(mudas, matéria vegetal ou derivados terapêuticos), através do Sistema Único de
Saúde (SUS), tendo como referencial o modelo das Farmácias Vivas para a
produção rural, doméstica e de pequeno porte, além de garantir que o cultivo de

1
Ins tituída pela Portaria nº. 886/GM/MS, de 20 de abril de 2010, a Fa rmácia Vi va é um ente públ i co s ob ges tã o
es tadual, municipal ou do Distrito Federal, que foi cri ado para a tender à s necessidades do SUS, não podendo ass i m
comerci alizar plantas medi ci na i s e/ou fi toterá pi cos . Es tã o s ob s ua res pons a bi l i da de o cul ti vo, a col eta , o
processamento, o a rmazenamento de plantas medicinais, a manipulação e a dispensação de preparações de plantas
medi ci na i s e fi toterá pi cos .
Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/legislacao/portaria886_20_04_2010.pdf. Acesso em 23.06.2018
grande porte seja exclusivo2 da Produção Estatal. Esse programa estatal atenderá às
seguintes demandas de realização:
a) Cultivo e distribuição de mudas considerando as necessidades específicas das
diversas formas de cultivo (autocultivo, cultivo doméstico, cultivo por grupos de
pacientes, cultivo associativo e de outras experiências sem fins lucrativos, cultivo
privado);
b) Beneficiamento e produção de derivados, considerando as necessidades específicas
advindas das formas de cultivo citadas no item “a” (autocultivo, cultivo doméstico,
cultivo por grupos de pacientes, cultivo associativo e de outras experiências sem
fins lucrativos, cultivo privado);
c) Pesquisa:
 Agronômicas, considerando os diversos aspectos que classificariam as plantas,
em função do atendimento qualificado aos pacientes (plantas por patologia,
banco de germoplasma3 , resistência a pragas, produção de material vegetal,
variedades por clima e composição de canabinoides, etc.);
 Antropológicas e sociológicas (usos históricos e contemporâneos da planta em
contextos populares, tradicionais, religiosos e socioeconômicos);
 Pré-clínicas e clínicas (programas de financiamento, incentivo e difusão do
conhecimento acumulado nessas pesquisas, com o fomento de canais de
publicação e apresentação de resultados (congressos, revistas, etc);
d) Educação e cultura de acolhimento:
 Temas transversais no ensino médio e nas universidades;
 Eventos artístico-culturais;
 Palestras, rodas de conversa, debates e vivências em espaços variados.
e) Formação permanente de profissionais de saúde coletiva e outros atores sociais
envolvidos no cultivo, produção e distribuição de Cannabis SSP e derivados
medicinais:
 Eventos médico-científicos e culturais;
 Oficinas para pacientes (cultivo e extração de óleos e outros derivados);
 Emissão de materiais impressos (manuais, cartilhas, etc.);
f) Controle Social:
 Ferramentas de controle social como instâncias de decisão e acompanhamento
(conselhos, câmaras, agências, etc), fóruns e espaços intersetoriais, aliando
usuários e entidades governamentais;
 Participação ativa dos pacientes na discussão, concepção, acompanhamento e
avaliação dessa política pública.

LIGA PARAIBANA EM DEFESA DA CANNABIS MEDICINAL – LIGA CANÁBICA

2
Nenhuma empresa, associação ou qualquer outro ente privado poderá realizar cultivo de Grande Porte, a nã o s er
entes excl us i va mente públ i cos , s em qua l quer pa rti ci pa çã o a ci oná ri a pri va da .
3
“Entende-se como Germoplasma o material que constitui a base fís i ca da hera nça s endo tra ns mi ti da de uma
gera ção para outra. Significa a matéria onde se encontra um princípio que pode cres cer e s e des envol ver, s endo
defi ni do a i nda , como a s oma tota l dos ma te ri a i s heredi tá ri os de uma es péci e ”.
Fonte: https://www.embrapa.br/recursos-geneticos-e-biotecnologia/pesquisa-e-desenvolvimento/intercambio-de-
germoplasma

Você também pode gostar