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As Pombas A um poeta

Vai-se a primeira pomba despertada... Longe do estéril turbilhão da rua,


Beneditino escreve! No aconchego
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas Do claustro, na paciência e no sossego,
De pombas vão-se dos pombais, apenas Trabalha e teima, e lima, e sofre e sua!

Raia sanguínea e fresca a madrugada... Mas que na força se disfarce o emprego


Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
E à tarde, quando a rígida nortada Rica mas sóbria, como um templo grego
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Não se mostre na fábrica o suplício
Ruflando as asas, sacudindo as penas, Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Voltam todas em bando e em revoada...
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
Também dos corações onde abotoam,
É a força e a graça na simplicidade.
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,


Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

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