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Obtenção de matéria as proteínas membranares possuem

zonas hidrofóbicas e zonas hidrofílicas.


1. A Obtenção de matéria
pelos seres heterotróficos O estudo da membrana plasmática
foi evoluindo graças ao trabalho de vários
Dependendo da forma como os cientistas e à evolução tecnológica.
seres vivos obtêm a energia química de Existem dois modelos que tentam explicar
que necessitam para sobreviver, são a estrutura da membrana celular:
classificados em duas classes distintas:
“Modelo de Sanduíche”,
 Seres autotróficos: seres que de Danielli e Davson (1952)
conseguem sintetizar a sua própria
matéria orgânica a partir de Atendendo ao comportamento dos
matéria inorgânica, utilizando uma fosfolípidos na presença de água, este
fonte de energia externa, pelo modelo defendia a existência de uma
processo de fotossíntese. São bicamada fosfolipídica que garantia que
exemplos as plantas, as algas e as cadeias hidrofóbicas ficassem
algumas bactérias. estabilizadas, voltadas para o interior da
 Seres heterotróficos: seres vivos bicamada, enquanto as proteínas se
que apenas conseguem sintetizar a ligavam às extremidades hidrofílicas dos
sua matéria orgânica a partir de lípidos, revestindo a bicamada interne e
outra matéria orgânica que lhe é externamente. Ao longo da bicamada
fornecida pelo meio ambiente. São, existiriam interrupções, rodeadas por
portanto, dependentes da matéria proteínas, que formariam passagens nas
orgânica produzida pelos seres quais poderiam circular os iões e as
autotróficos. substâncias polares. Por outro lado, as
1.1 Permuta de matéria entre as substâncias não polares entrariam
células e o meio: ultra-estrutura da diretamente, atravessando a bicamada.
membrana celular
Como já foi referido, as células “Modelo de mosaico fluido”,
possuem uma membrana plasmática ou de Singer e Nicholson (1972)
celular, que: É o modelo atualmente aceite. Este
 Delimita exteriormente a célula também considera a existência de uma
 Mantém a integridade celular bicamada fosfolipídica na qual as
 Cria uma barreira seletiva que proteínas podem estar inseridas
assegura uma superfície de (proteínas intrínsecas), ou à superfície da
troca de substâncias, de energia membrana plasmática na face interna ou
e de informação entre o meio externa (proteínas extrínsecas ou
intracelular e extracelular. periféricas), lembrando um mosaico
fluido. Os glícidos encontram-se à
Do ponto de vista químico, as superfície da membrana ligados a lípidos
membranas são complexos lipoproteicos, (glicolípidos) ou a proteínas
podendo também conter glícidos. Os (glicoproteínas).
fosfolípidos são os principais lípidos que As membranas não são estáticas,
fazem parte da membrana. Tanto os apresentando tanto os fosfolípidos como
glicolípidos como os fosfolípidos possuem as proteínas movimentos. No caso dos
uma extremidade polar, hidrofílica, e uma
extremidade apolar, hidrofóbica. Também
fosfolípidos, estes apresentam mobilidade 3. Retoma da forma inicial da
lateral. permease.

A membrana celular possui  Osmose: refere-se à


permeabilidade selectiva, isto é, movimentação da água através
permite a passagem facilitada de certas de uma membrana
substâncias, dificultando ou impedindo a semipermeável (permeável ao
passagem de outras. Os processos através solvente – a água – e
dos quais as substâncias atravessam as impermeável aos solutos), de
membranas biológicas são de dois tipos um meio hipotónico (meio de
distintos. menor concentração de soluto e
Processos passivos – não implicam mais moléculas de água) para
dispêndio de energia e incluem: um meio hipertónico (meio de
 Difusão Simples: as partículas maior concentração de soluto e
deslocam-se de zonas onde a sua menos moléculas de água). Este
concentração é maior para zonas processo depende,
onde esta é menor (movimentação exclusivamente, das
a favor do gradiente de concentrações do soluto nas
concentração), até se atingir uma duas soluções. Quando os dois
distribuição uniforme dessas meios se tornam isotónicos,
partículas. A velocidade de isto é, quando os dois meios
movimentação do soluto é atingem iguais concentrações
diretamente proporcional à de soluto, o movimento da água
diferença de concentração entre os passa a ser idêntico nos dois
meios intracelulares e extracelular. sentidos.
 Difusão Facilitada: as substâncias
atravessam a membrana a favor do
gradiente de concentração, ou seja, Devido às diferenças morfológicas
da região onde se encontra a maior entre as células animais e vegetais, estas
concentração de soluto para a apresentam diferentes comportamentos.
região de menor concentração; A
velocidade do processo é superior Desta forma, quando uma célula
se comprada à difusão simples, pois vegetal se encontra mergulhada numa
neste caso o transporte é mediado solução hipotónica, vai absorvendo água –
por permeases às quais as por osmose – até atingir o estado de
substâncias a transportar se ligam, equilíbrio, ficando túrgida. Nesta situação
sendo o processo constituído por o vacúolo aumenta e empurra o
três fases: citoplasma contra a parede celular O
conteúdo celular exerce pressão de
1. Combinação da molécula ou turgescência, mas esta é contrabalançada
substância a transportar com pela resistência oferecida pela parede
a permease, na face externa da celular. Por outro lado, quando uma célula
membrana; vegetal é mergulhada numa solução
2. Alteração da conformação da hipertónica perde água, o citoplasma
permease para permitir a contrai-se parcialmente e fica preso à
passagem da molécula através parede celular apenas por alguns
da membrana e separação da filamentos, denominados por filamentos
permease; de Hetch. Neste caso a célula se encontra-
se plasmolisada.
No caso das células animais, uma pinocitose que é um processo
vez que não possuem parede celular, ao semelhante mas envolve a
serem mergulhadas numa solução inclusão de fluidos através da
hipotónica, pode ocorrer a sua lise devido invaginação da membrana,
ao aumento do volume celular, ficando seguida da formação de
também plasmolisadas, ao serem vesículas pinocíticas no interior
mergulhadas num meio hipertónico. da célula.
 Exocitose: é o processo inverso
Processos ativos: implicam dispêndio de da endocitose.
energia e há intervenção de proteínas
transportadoras. Ocorrem em situações
biológicas em que iões ou 1.2 Ingestão, digestão e
moléculas necessitam de ser
transportados, através da membrana, de absorção
regiões onde se encontram menos Para que os alimentos ingeridos pelos
concentrados para regiões onde se seres heterotróficos possam ser utilizados
encontram mais concentrados, ou seja, a nível celular têm que, primeiramente,
contra o gradiente de concentração. passar por vários processos, como:

 Transporte ativo, bomba de  Ingestão – introdução dos


Sódio e Potássio: é um alimentos no organismo;
complexo enzimático  Digestão – processo que
membranar que se pode consiste na transformação e
encontrar em praticamente simplificação de moléculas
todas as células animais. Esta complexas constituintes dos
enzima (ATPase) requere alimentos, em moléculas mais
energia, sob a forma de ATP, e simples, através de reações de
movimenta em sentidos hidrólise catalisadas por
opostos iões Sódio (Na ) e iões
+
enzimas (moléculas de natureza
Potássio (K ), saem 3 iões de
+
proteica), de forma a poderem
Sódio e entram 2 iões de ser utilizadas e integradas no
potássio, através da membrana. organismo;
 Transporte em grande  Absorção – consiste na
quantidade (permite o passagem das substâncias
movimento de macromoléculas, resultantes da digestão para o
partículas com maiores meio interno.
dimensões, ou mesmo A digestão pode ocorrer no interior
pequenas células entre o das células – digestão intracelular – ou
interior e o exterior da célula): fora das células – digestão extracelular
 Endocitose: transporte em que – em cavidades ou em órgãos
há inclusão de material por especializados.
invaginação da membrana
Digestão intracelular
plasmática, formando-se uma
vesícula endocítica. Esta pode  Os organelos complexo de Golgi,
designar-se fagocitose, quando lisossomas e retículo
a célula emite pseudópodes endoplasmático, estão
(“falsos-pés”), que envolvem diretamente envolvidos na
partículas sólidas e as incluem digestão intracelular. Esta
em vesículas fagocíticas, ou
ocorre após as partículas Vantagens de um tubo digestivo
alimentares serem completam:
interiorizadas na célula, pelo  Como os alimentos se deslocam
processo de endocitose, num único sentido, a digestão e
formando-se vesículas a absorção são sequenciais ao
endocíticas. A nível do retículo longo do tubo, o que se traduz
endoplasmático, formam-se num aproveitamento muito
proteínas enzimáticas que são mais eficaz.
incorporadas em vesículas,  A digestão pode ocorrer em
como os lisossomas, que as diferentes órgãos, permitindo
transportam até ao complexo aos alimentos estarem sujeitos
de Golgi. Aqui, estas fundem-se a tratamento mecânico e à ação
com as vesículas endocíticas, de diferentes enzimas.
formando um vacúolo digestivo,  A absorção é mais eficiente.
onde ocorre a digestão  Os resíduos não digeridos
intracelular. Os resíduos que se acumulam-se durante algum
formam neste processo são tempo, sendo depois expulsos
expulsos da célula por através do ânus.
exocitose. Este tipo de digestão
é típica de seres eucarióticos
unicelulares, como a ameba ou 2. A obtenção de matéria
a paramécia. pelos seres autotróficos

Digestão extracelular A energia luminosa e/ou química que


Característica dos seres
os seres autotróficos captam, não é
heterotróficos multicelulares, pode ser: utilizada diretamente pelas células, sendo
 Extracorporal: no caso dos
que parte dessa energia é transferida para
cogumelos, estes, através das um composto – o ATP (adenosina
suas hifas, libertam enzimas trifosfato) que é a fonte de energia
digestivas sobre o
utilizável pela célula. Este é formado por:
substrato no qual se encontram,
ocorrendo a digestão  Adenina – base azotada
extracorporal, seguida de  Ribose – açúcar com cinco
absorção das substâncias mais carbonos
simples, também a nível das hifas.  Três grupos fosfato –
 Intracorporal (maioria dos compostos inorgânicos
animais). Esta última ocorre em
tubos digestivos, mais ou
menos complexos, Uma vez que as células não têm
apresentando diferentes órgãos armazenadas grandes quantidades de
especializados. O tubo digestivo ATP, a transferência de energia depende
pode ser incompleto, se do ciclo ATP – ADP.
apresentar uma única abertura,
ou completo, no caso de Da hidrólise de uma molécula de
apresentar duas aberturas: a ATP forma-se adenosina difosfato (ADP) e
boca e o ânus. liberta-se um grupo fosfato. Se a
adenosina difosfato se hidrolisar, vai
formar-se a adenosina monofosfato
(AMP), com libertação de outro grupo internas, onde se localizam os pigmentos
fosfato. fotossintéticos.

A hidrólise de ATP trata-se de uma Os cloroplastos são organelos


reação exoenergética, uma vez que há celulares, de forma variada, delimitados
transferência de uma determinada por uma dupla membrana lipoproteica
quantidade de energia que pode ser (com constituição idêntica à membrana
utilizada nas atividades celulares, pois a plasmática). A membrana interna do
energia mobilizada para romper as cloroplasto invagina para o interior do
ligações químicas é menor do que a organelo formando várias lamelas –
energia transferida durante a formação de os tilacoides – os quais se encontram
novas ligações. sobrepostos formando o granum. Nas
membranas dos tilacoides encontram-se
Por outro lado, quando ocorre os pigmentos fotossintéticos, como
síntese de ATP a partir de ADP e do ião a clorofila, os carotenos e as ficobilinas,
fosfato (fosforilação do ADP), a reação é que têm a capacidade de absorver energia
endoenergética pois a energia mobilizada luminosa e convertê-la em energia
para romper as ligações é maior do que a química. Os tilacoides estão mergulhados
energia que se transfere quando se no estroma, um material amorfo onde
formam novas ligações. também se podem encontrar partículas de
amido e gotículas de lípidos.
As reacções exoenergéticas a nível
A clorofila a e b, os carotenos e as
celular permitem a formação de ATP, pois
xantofilas são os principais pigmentos
a energia é transferida para essa
presentes nas células das plantas.
molécula. As reacções endoenergéticas
utilizam a energia transferida durante a O espectro luminoso e a
hidrólise de ATP. Fotossíntese
O espectro solar é constituído por
2.1 Fotossíntese
radiações com diferentes comprimentos
A fotossíntese é o processo
de onda, que vão desde as ondas rádio
utilizado pelos seres fotoautotróficos para
(elevado comprimento de onda, baixa
a produção de matéria orgânica a partir
energia), até aos Raios Gama (baixo
de água e dióxido de carbono, na presença
comprimento de onda, elevada energia).
de energia luminosa. Durante a
Entre as várias radiações do espectro, o
fotossíntese a energia luminosa é
olho humano apenas consegue visualizar
convertida em energia química, que surge
luz com comprimentos de onda
sob a forma de um produto de reação – a
compreendidos entre os 380nm e 750nm
glicose. Posteriormente, a glicose é
– espectro da luz visível ou luz branca.
convertida noutras substâncias orgânicas,
Esta, ao atravessar um prisma ótico,
como por exemplo a amido. A fotossíntese
decompõe-se nas várias radiações que a
ocorre, principalmente, ao nível das folhas
constituem e que variam entre o violeta e
das plantas. Por isso, nas células vegetais
o vermelho.
que constituem as folhas, encontra-se
uma grande densidade de cloroplastos e,
A experiência de Theodore Engelmann
consequentemente, uma grande
quantidade de pigmentos fotossintéticos.
Theodore Engelmann realizou uma
As bactérias fotoautotróficas, uma vez que
experiência que consistiu na observação
não apresentam cloroplastos, realizam a
ao microscópio ótico, de um filamento
fotossíntese ao nível de membranas
de Spirogyra (alga filamentosa), entre
lâmina e lamela, usando como meio de clorofila, após excitação
montagem água com bactérias aeróbias pela absorção luminosa).
(que utilizam O2 na sua respiração). Ele  Oxidação da clorofila a: a
observou que quando a luz branca incidia clorofila a, ao absorver
sobre a lâmina, as bactérias estavam energia luminosa fica
uniformemente dispersas pela excitada e liberta eletrões
preparação, no entanto, ao adaptar um que são transferidos para
prisma ao microscópio, que decompôs uma cadeia transportadora
essa luz branca, verificou que, ao fim de de eletrões, ficando
algum tempo as bactérias se encontravam oxidada.
aglomeradas junto às zonas vermelho –  Fluxo de eletrões: os
alaranjada e azul-violeta. Esta observação eletrões ao passarem
permitiu concluir que estes através das cadeias
comprimentos de onda são os mais transportadoras, vão
eficazes para a realização da fotossíntese, baixando o seu nível
uma vez que as bactérias deslocaram-se energético. Essas
para essas zonas à procura oxigénio transferências de energia
fornecido pela Spirogyra através da que ocorrem permitem a
fotossíntese. Ou seja, estas radiações são fosforilação da molécula de
as mais absorvidas pelas plantas de cor ADP, que a passa a ATP –
verde, uma vez que a maiores taxas fotofosforilação.
fotossintéticas correspondem as maiores  Redução do NADP+: os
taxas de absorção de radiação. protões provenientes da
Efetivamente, as plantas de cor verde não fotólise da água, juntamente
absorvem as radiações com com eletrões provenientes
comprimentos de onda correspondentes à do fluxo eletrónico da
cor verde, essas são refletidas, daí vermos cadeia de transportadores,
a cor verde nas plantas. São fundamentais para
A Fotossíntese ocorre em duas etapas: reduzir uma molécula
transportadora de
1. Fase fotoquímica: é a fase em que a hidrogénio
energia luminosa é captada e NADP+ (nicotinamida
convertida em energia biologicamente adenina dinucleótido
utilizável. Tem lugar nos tilacoides fosfato), transformando-se
dos cloroplastos. Esta fase envolve as em NADPH.
seguintes etapas:  Fase química – ciclo
de Calvin: corresponde ao
 Fotólise da água: na conjunto de reações da
presença de luz, as fotossíntese não
moléculas de água dependentes da luz, ocorre
dissociam-se em oxigénio, no estroma dos cloroplastos
que se liberta, hidrogénio e analisa o percurso do
(que será utilizado noutras CO2 desde a entrada no
etapas) e eletrões (a água é processo até à sua
o dador primário de integração em compostos
eletrões; estes vão repor os orgânicos. A síntese de
eletrões perdidos pela compostos orgânicos
necessita da presença de de eletrões e protões provenientes do
CO2, ATP e NADPH. substrato considerado, formando-se
Nesta fase a Ribulose um composto redutor, o NADPH e
difosfato, um composto com 5 moléculas de ATP. Parte da energia
átomos de Carbono e dois átomos aqui mobilizada é transferida para as
de fósforo, combina-se com o moléculas de ATP.
CO2 absorvido para formar um 2. Etapa equivalente à fase química da
composto com 6 átomos de fotossíntese: nesta fase ocorre a
Carbono, extremamente instável. redução do CO2 o que conduz à síntese
Este rapidamente se desdobra em de substâncias orgânicas.
dois compostos com três átomos de
carbono cada, o ácido
fosfoglicérico – PGA. As duas
moléculas de PGA formadas são
fosforiladas pelo ATP e reduzidas
pelo NADPH, formados na fase
fotoquímica, originando cada uma
delas outro composto, o aldeído
fosfoglicérico – PGAL, que
continua a ter três carbonos. Estas
duas moléculas de PGAL vão seguir
dois caminhos diferentes. A maior
parte vai intervir na regeneração da
Ribulose difosfato, outra parte é
utilizada para síntese de outras
substâncias no estroma,
principalmente síntese de glicose,
sendo necessário que o ciclo se
repita seis vezes, para se formar
uma molécula de glicose.
2.2 Quimiossíntese
Ao contrário das plantas, alguns
seres vivos, conseguem reduzir o dióxido
de carbono sem utilizar a energia
luminosa – são
seres quimioautotróficos ou quimiossin
téticos. Neste caso não ocorre
fotossíntese mas sim quimiossíntese.
Como não há recurso à energia solar, a
energia usada é proveniente da oxidação
de compostos minerais. Estes são os
dadores primários de eletrões e não a
água.
Tal como na fotossíntese, também aqui
podemos considerar duas etapas:

1. Oxidação de substratos minerais: é


desta oxidação que resulta um fluxo

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