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Resumo de Biologia – 10º ano

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Tema I – Membrana celular

Os seres vivos são sistemas abertos cujo equilíbrio dinâmico depende


fundamentalmente das diferentes substâncias que estes obtêm a partir do meio externo. Estas
trocas que os seres vivos efetuam com o exterior ocorrem sempre através de membranas
celulares ou plasmáticas, quer nos seres unicelulares quer nos seres multicelulares.

A membrana celular delimita a fronteira entre o meio extracelular e o meio intracelular,


contribuindo assim para a integridade da célula. Esta estrutura, existente em todas as células,
constitui uma barreira seletiva através da qual ocorrem as trocas entre esses dois meios.

1.1. Composição e estrutura da membrana celular

De acordo com o modelo de estrutura da membrana celular atualmente aceite, o


modelo do mosaico fluído, segundo o qual a membrana celular é uma estrutura dinâmica e
fluída, a membrana celular é constituída fundamentalmente por uma bicamada de fosfolípidos
onde se encontram distribuídas várias proteínas, o que lhe confere um padrão em mosaico.

Figura 1. Representação esquemática da membrana celular de acordo com o modelo do mosaico fluído

 Fosfolípidos – Os lípidos mais abundantes nas membranas são os fosfolípidos,


que, devido à sua natureza anfipática, isto é, ao facto de possuírem uma região polar (uma
cabeça hidrofílica) e uma região apolar (duas caudas hidrofóbicas), se organizam em
bicamada, com as caudas viradas para o interior, de forma a evitar o contacto com a água,
e com as cabeças na superfície da membrana, expostas à água.
 Colesterol – O colesterol é um lípido presente nas membranas plasmáticas das
células animais, localizado entre as moléculas de fosfolípidos, que contribuem para a
integridade da membrana, influenciando a sua fluidez.
 Proteínas – As proteínas da membrana podem posicionar-se de forma diferente
na bicamada fosfolipídica. As proteínas intrínsecas ou integradas estão inseridas total ou
parcialmente na bicamada de fosfolípidos, podendo algumas destas atravessar as duas

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camadas da membrana, de um lado ao outro, como é o caso das proteínas


transmembranares. A sua extração da membrana provoca a consequente destruição desta.
As proteínas periféricas ou extrínsecas estão somente ligadas às superfícies interna ou
externa da membrana, estabelecendo ligações fracas com as regiões hidrofílicas dos
fosfolípidos ou de proteínas integradas e, por isso, podem ser retiradas da membrana sem
a destruir.
 Glícidos – Os glícidos presentes na membrana plasmática localizam-se no
exterior da membrana e projetam-se para o meio extracelular. Estão ligados a lípidos e a
proteínas intrínsecas, por ligações covalentes, formando, respetivamente, glicolípidos e
glicoproteínas. Estas moléculas desempenham um papel importante no reconhecimento
químico de moléculas presentes no meio extracelular, como as hormonas.
O modelo do mosaico fluído admite que a membrana é uma estrutura dotada de grande
fluidez, o que permite que os fosfolípidos e as proteínas mudem de posição na bicamada,
permitindo os reajustamentos necessários aos processos dinâmicos da membrana. Estes
movimentos podem ser movimentos rotacionais ou laterais, através da mudança de posição na
mesma camada da membrana. Ocasionalmente, podem também ocorrer movimentos
transversais, com a mudança de posição de fosfolípidos entre as duas camadas da membrana,
através de movimentos de flip-flop, que, para ocorrerem, necessitam da intervenção de uma
enzima (flipase) e o consumo de energia (ATP).

Figura 2. Movimentos dos fosfolípidos da membrana celular: Movimento lateral (A) e movimento de flip-flop (B)

1.2. Movimentos transmembranares

A composição e estrutura da membrana plasmática conferem-lhe uma permeabilidade


seletiva às substâncias que existem tanto no interior como no exterior da célula, isto é, apresenta
uma permeabilidade variável em função das substâncias que a atravessam.

A forma como cada substância atravessa a membrana celular e a velocidade desse


movimento dependem, essencialmente, da dimensão das substâncias, bem como da sua
polaridade. As membranas celulares têm baixa permeabilidade a substâncias polares de grandes

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dimensões (não conseguem atravessar diretamente a bicamada


lipídica), mas apresentam uma alta permeabilidade a substâncias
apolares de reduzidas dimensões.

Os diferentes transportes transmembranares podem ser


classificados em ativos, se houver gasto de energia (ATP), ou em
passivos, se ocorrem sem consumo de enrgia da célula. Por outro
lado, o transporte diz-se mediado, se for realizado com a
Figura 3. A bicamada confere permeabilidade seletiva
intervenção de proteínas intrinsecas da membrana, ou não à membrana celular.
mediado, se as substâncias a transportar atravessarem a membrana através da bicamada de
fosfolípidos.

Difusão simples

A difusão simples traduz-se no movimento de moléculas de um


soluto do meio de maior concentração para o meio de menor
concentração, a favor do gradiente de concentração, através da bicamada
fosfolípidica, sem que haja a intervenção de proteínas transportadoras
(movimento não mediado).

A velocidade de movimentação de soluto será tanto maior


quanto maior for a diferença de concentração entre os dois meios. Este
movimento tende a igualar a concentração das substâncias nos
diferentes meios.

A difusão simples é um transporte passivo, uma vez que ocorre


devido à agitação térmica das moléculas, não havendo, portanto, gasto
Figura 4. Difusão simples de dois solutos
entre meios separados por uma de energia.
membrana permeável.

Osmose

A osmose corresponde à difusão de água através de membranas semipermeáveis, do


meio com menor concentração de soluto (hipotónico, com maior potencial hídrico e menor
pressão osmótica) para o meio mais concentrado (hipertónico, com menor potencial hídrico e
maior pressão osmótica), contra o gradiente de concentração. Em meios de igual concentração
(isotónicos), tende a ocorrer um fluxo idêntico de moléculas de água entre os dois meios nos
dois sentidos. Não havendo gasto de energia, diz-se que a osmose é um transporte passivo.

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Nas células, devido à dificuldades que as moléculas de água têm em atravessar a


bicamada fosfolípidica, por serem polares, a osmose ocorre através de aquaporinas (transporte
mediado). Na sequência dos movimentos osmóticos, a célula pode sofrer:

 Plasmólise – A colocação de células num meio hipertónico conduz à saída de


água da célula, diminuindo assim o volume do citoplasma.
 Turgescência – A colocação de células num meio hipotónico conduz à entrada
de água na célula, aumentando assim o volume do citoplasma e a pressão sobre a
membrana/parede celular (pressão de turgescência). No caso das células animais,
desprovidas de parede celular, a turgescência pode conduzir, em situação limite, ao
rompimento da membrana celular (lise celular). Nas células vegetais, a parede celular
assegura resistência à pressão exercida pela água que entra na célula – pressão de
turgescência -, o que impede a entrada de mais água, evitando assim a lise celular.

Figura 5. Comportamento das células em meios com diferentes concentrações.

Difusão facilitada

A difusão facilitada corresponde ao transporte passivo de substâncias do meio de maior


concentração para o meio de menor concentração, a favor do gradiente de concentração, sem
gasto de energia (transporte passivo), com intervenção de proteínas transportadoras,
designadas por permeases, ou atravessando proteínas-canal.

As permeases ligam-se às moléculas a transportar e, mudando a sua conformação,


possibilitam a passagem dessas substâncias através da membrana e a sua separação da
permease. Seguidamente, a proteína transportadora retorna ao seu estado inicial.

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Figura 6. Ação de uma permease: Ligação da molécula a transportar à permease (A) e alteração da
conformação da permease e libertação da substância no meio interno (B).

Alguns solutos com carga elétrica (iões) atravessam a membrana a partir de canais
iónicos das proteínas-canal. Nestes casos, os solutos não estabelecem nenhuma ligação com a
proteína que forma o canal nem provocam nela mudanças na sua conformação.

A velocidade de transporte de um soluto


aumenta de forma considerável com a difusão facilitada. Na
difusão facilitada, maioritariamente através de permeases, a
partir de um certo valor de diferença de concentração do
soluto, quando todos os transportadores estão ocupados, a
velocidade do transporte atinge o seu valor máximo,
estabilizando. Nestes casos, diz-se que foi atingido o ponto de
Figura 7. Variação de velocidade de transporte de um saturação.
soluto através de difusão simples e de difusão facilitada.

Transporte ativo

O transporte ativo corresponde à passagem de substâncias através de uma membrana,


contra o gradiente de concentração, ou seja, de um meio de menor concentração para um meio
de maior concentração, com intervenção de proteínas transportadoras (transporte mediado),
denominadas por ATPases, e implica gasto de enrgia (ATP).

O transporte ativo assume um papel fundamental para as células, na medida em que


permite a entrada de nutrientes para a célula, mesmo que estes se encontrem em maior
concentração no seu interior, bem como a expulsão de substâncias tóxicas (resíduos
metabólicos), mesmo que estes estejem em maior concentração no meio extracelular,
assegurando assim uma diferença de concentrações entre os dois meios.

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Figura 8. Esquema de funcionamento da bomba de sódio-potássio: Ligação de três iões Na+ intracelular à ATPase (A); Ligação de um grupo
fosfato, proveniente da hidrólise de ATP (com gasto de energia) à bomba, alterando a conformação da ATPase, agora com menor afinidade
pelo Na+ e com maior a afinidade pelo K+ (B); Saída de 3 iões Na+ para o meio extracelular e ligação de 2 iões K+ extracelular à ATPase (C);
Perda do grupo fosfato. A ATPase volta à sua conformação inicial, agora com menor afinidade pelo K+ e com maior afinidade Na+, dando-
se a saída de 2 iões K+ para o meio intracelular (D). Este processo, sendo cíclico, repete-se continuamente.

1.3. Endocitose e exocitose

Algumas células, para além dos transportes acima descritos, possuem dois outros
mecanismos que lhes asseguram o transporte de partículas de maiores dimensões,
nomeadamente macromoléculas.

Na endocitose, a célula transporta moléculas do exterior para o interior da célula. Este


processo inicia-se com a formação de invaginações da membrana plasmática que acabam por
destacar-se da membrana, formando vesículas endocítica que transportam o material
extracelular para o interior das células. A endocitose classifica-se em:

 Fagocitose – A célula emite prolongamentos citoplasmáticos, os pseudópodes,


que envolvem as partículas sólidas de grandes dimensões, acabando por formar uma
vesícula fagocítica (fagossoma) que se destaca para o interior do citoplasma.
 Pinocitose – A membrana celular, por invaginação, engloba substâncias
dissolvidas ou fluídos extracelulares contendo macromoléculas, acabando por formar
pequenas vesículas endocíticas.
 Endocitose mediada por recetores – As proteínas recetoras da membrana ligam-
se especificamente a partículas extracelulares e formam-se, posteriormente, invaginações,
dando origem a vesículas. 333

Figura 9. Representação esquemática de endocitose (A) e de exocitose (B)

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Na exocitose, as vesículas de secreção existentes no citoplasma fundem-se com a


membrana plasmática e libertam o seu conteúdo no meio extracelular.

1.3. Propagação do impulso nervoso

Algumas células, para além dos transportes acima descritos, possuem dois outros
mecanismos que lhes asseguram

1.4. Sistema endomembranar e digestão intracelular

A membrana celular faz parte do sistema endomembranar, formado também pelo


invólucro nuclear, o RER, o complexo de Golgi, os lisossomas e as vesículas que dele derivam.

Retículo endoplasmático (RE)

O RE é constituído por uma extensa rede de cisternas que possuem ligação com a
membrana nuclear e interagem com o complexo de Golgi. Atendendo à sua estrutura e função,
o RE organiza-se em:
 RER – Possui ribossomas ligados à sua superfície externa da membrana e, como
tal, o RER tem como função a síntese de proteínas, que são libertadas para o lúmen do
retículo. O RER participa também no transporte de proteínas para o Complexo de Golgi.
 REL – Não possui ribossomas ligados à sua superfície externa da membrana. Tem
como principais funções a síntese de lípidos e a eliminação de substâncias tóxicas.
O RER e o REL comunicam entre si e com o complexo de Golgi por meio de vesículas de
transporte.

Complexo de Golgi

O complexo de Golgi é o conjunto de dictiossomas de uma célula, que correspondem ao


conjunto de cisternas achatadas e empilhadas de forma regular, na periferia das quais se
encontram vesículas. Tem como função receber, armazenar e tornar funcionais certas moléculas.
O complexo de Golgi possui uma face de formação (ou face cis), mais próxima do RE, na
qual se fundem vesículas de transporte de substâncias provenientes do RE, e uma face de
maturação (ou face trans), mais próxima da membrana, onde se formam vesículas de secreção.
No interior das cisternas, são maturadas as diferentes moléculas, sequencialmente, de uma face
à outra.
Este complexo tem como principal função tornar certas moléculas, nomeadamente
proteínas, funcionais. No entanto, as vesículas por ele originadas podem ter diversas funções:
de secreção, de digestão intracelular (lisossomas) e de renovação e crescimento da membrana.

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Complexo de Golgi

Os lisossomas são pequenas vesículas, delimitadas por uma membrana e contendo


enzimas hidrolíticas, que se formam na face de maturação do complexo de Golgi. Os lisossomas
intervêm na digestão intracelular de produtos de origem distintas.
 Heterofagia – A partir da fusão de lisossomas com vesículas endocíticas, que
contêm substâncias substâncias extracelulares, formam-se vacúolos digestivos, no interior
dos quais são digeridas as substâncias provenientes do exterior da célula por ação de
enzimas hidrolíticas (hidrolases). Os produtos desta digestão passam para o citoplasma,
onde serão utilizados. As substâncias não digeridas são eliminadas por exocitose.
 Autofagia – Os lisossomas utilizam as suas enzimas para decompor e eliminar os
organelos celulares danificados ou envelhecidos, formando vacúolos autofágicos. Os
produtos da digestão são libertados para o citoplasma, onde são reutilizados, o que permite
a renovação celular de forma contínua.

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Tema II – Obtenção de matéria pelos seres heterotróficos

Os seres heterotróficos, a fim de obter a energia e os nutrientes necessários para a sua


sobrevivência, necessitam de obter matéria orgânica e inorgânica, que lhes serve de alimento,
através do meio externo (processo de nutrição). As moléculas orgânicas que sintetizam são,
portanto, sempre produzidas a partir de outras moléculas orgânicas obtidas a partir do seu
alimento (carbono orgânico).

- Ingestão, digestão e absorção

O processamento de alimentos pelos seres heterotróficos inclui, essencialmente, três


processos: a ingestão (entrada de alimento no organismo), a digestão (processo a partir do qual
as macromoléculas dos alimentos, por ação de enzimas digestivas, são hidrolisadas,
convertendo-se em moléculas orgânicas mais simples) e a absorção (passagem de nutrientes do
meio externo para o meio interno).

A digestão pode ser levada a cabo no interior da célula – digestão intracelular – ou no


seu exterior – digestão extracelular.

Digestão intracelular

Quando a digestão se dá no interior das células, em vacúolos digestivos, designa-se por


digestão intracelular, e verifica-se nos seres unicelulares e em certos seres multicelulares
(esponjas, anémonas, planárias). Neste processo intervêm, direta ou indiretamente, vários
organelos do sistema endomembranar, de que fazem parte o retículo endoplasmático rugoso,
o complexo de Golgi e os lisossomas.

Figura 10 - Interação entre os organelos do sistema endomembranar, no processo da digestão intracelular

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As proteínas com função enzimática, sintetizadas no RER, são transportadas até o


complexo de Golgi, no qual as proteínas enzimáticas sofrem maturação e se tornam funcionais.
Seguidamente, as enzimas digestivas são transferidas para vesículas constituintes dos
lisossomas. As membranas dos lisossomas fundem-se com vesículas de fagocitose, originando
vacúolos digestivos, onde ocorre a digestão intracelular, após o qual as moléculas mais simples
são absorvidas para o citoplasma. Os resíduos resultantes da digestão são expulsos por
exocitose.

Digestão extracelular

Em muitos dos seres heterotróficos pluricelulares, a digestão extracelular (no exterior


das células, sendo que o alimento é digerido em cavidades antes de ser absorvido pelas células)
ocorre no exterior dos organismos – digestão extracorporal – ou no seu interior – digestão
intracorporal -, no interior de cavidades digestivas (órgãos especializados).

 Digestão extracorporal (nutrição por absorção) –


Os microconsumidores (como os fungos e bactérias), dado
que as suas células estão delimitadas por uma parede
celular rígida que os impede de ingerir os alimentos,
libertam enzimas para o meio extracelular, que vão digerir
as macromoléculas em micromoléculas capazes de serem
absorvidas através das hifas.
 Digestão intracorporal (nutrição por digestão) –
Figura 11 - Obtenção de matéria pelas hifas dos
Nos macroconsumidores, o alimento é introduzido no fungos
interior do organismo por ingestão, onde ocorre a digestão, no exterior das células
(animais) ou no interior das células (protozoários, como as amibas e as paramécias). Esta
digestão ocorre em cavidades digestivas onde são lançados sucos digestivos que contêm
enzimas, que, por sua vez, atuam sobre os alimentos ingeridos, transformando-os em
substâncias mais simples, capazes de serem, posteriormente, absorvidas. Os sistemas
digestivos dos organismo foram, ao longo dos anos, evoluindo no sentido de terem um
aproveitamento cada vez mais eficaz e especializado dos alimentos. Sendo assim, de
acordo com a sua complexidade, o tubo digestivo do organismo pode ser classificado em
completo ou incompleto.

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- Evolução dos sistemas digestivos


Os sistemas digestivos dos animais podem ser constituídos por uma simples cavidade ou
por um tubo digestivo composto por diferentes órgãos especializados.
O tubo digestivo de alguns invertebrados, como a hidra e a planária, apresenta uma
única abertura, que estabelece a comunicação entre o exterior e a cavidade digestiva, designada
por cavidade gastrovascular (pois, não havendo sistema circulatório, a distribuição dos
nutrientes é assegurada pela superfície das suas paredes), no interior da qual se inicia a digestão
e o alimento é parcialmente digerido por ação de enzimas. Esta abertura funciona
simultaneamente como boca, para a ingestão dos alimentos, e como ânus, pelo qual ocorre a
excreção dos resíduos resultantes da digestão. Apresentam um tubo digestivo incompleto.
O tubo digestivo dos animais mais complexos, como a minhoca e o Homem, possui duas
aberturas: a boca e o ânus. Apresentam um tubo digestivo completo. Uma vez que estes
organismos possuem uma cavidade no interior do seu organismo para onde o alimento é
conduzido e onde é iniciada a digestão – cavidade digestiva -, estes animais podem ingerir e
digerir partículas alimentares maiores.
Sistema digestivo incompleto (hidra e planária)
O processo da digestão inicia-se na cavidade gastrovascular, onde são lançadas enzimas
que atuam sobre os alimentos e os decompõe em partículas mais simples. As partículas
semidigeridas são fagocitadas por células da cavidade gastrovascular, originado vacúolos
digestivos (digestão intracelular), onde continua a digestão até os nutrientes resultantes deste
processo se difundirem para as restantes células do organismo.

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Na planária, a cavidade gastrovascular é ramificada, o que


aumenta a área de absorção de nutrientes. As planárias apresentam
uma faringe que é projetada para a boca que, ao libertar enzimas,
facilita a digestão do alimento.

Figura 12 – Tubo digestivo da planária

Sistema digestivo completo (minhoca)


Na minhoca, o alimento é ingerido pela boca, passa pela faringe,
pelo esófago e deste para o papo, onde o alimento é acumulado e
amolecido. De seguida, na moela, sofre digestão mecânica e é triturado
devido às contrações da sua parede. O alimento segue para o intestino,
onde sofre a ação de enzimas digestivas e ocorre a absorção de
substâncias mais simples, sendo os resíduos alimentares expulsos pelo
ânus. Neste órgão, a existência de pregas – tiflosole – aumenta a área de
absorção de nutrientes. A digestão é exclusivamente extracelular.

Figura 13 - Tubo digestivo da minhoca


Sistema digestivo completo (ser humano e outros vertebrados)
No ser humano, bem como em todos os vertebrados, a digestão é exclusivamente
extracelular, verificando-se, por isso, uma grande especialização e compartimentação dos seus
órgãos ao longo do tubo digestivo, ao longo do qual ocorrem processos físicos (mastigação e
movimentos peristálticos) e químicos (atuação de enzimas dos sucos digestivos, segregadas
pelas glândulas anexas – glândulas salivares, pâncreas e fígado).
Na boca, a partir da qual os alimentos são ingeridos, inicia-se a digestão química e
mecânica, originando o bolo alimentar, este que, ao passar pelo esófago, sofre digestão
mecânica por ação dos movimentos peristálticos da sua parede. Esta digestão continua no
estômago (originando o quimo) e termina no intestino, com a absorção dos nutrientes e a
excreção das fezes a partir do ânus. No intestino delgado, o suco pancreático e a bílis,
provenientes, respetivamente, do pâncreas e do fígado, intervêm também na digestão. No
intestino delgado, inicia-se a absorção dos nutrientes resultantes dos alimentos digeridos para o
sangue e para a linfa. Esta absorção é facilitada pela existência de pregas e vilosidades na
superfície intestinal, tais como válvulas coniventes (pregas que triplicam a superfície de contacto
com os alimentos), as vilosidades intestinais (pequenas estruturas que cobrem as válvulas
coniventes) e as microvilosidades (localizadas nas membranas voltadas para o lúmen intestinal

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das células superficiais das vilosidades), que aumentam, significativamente, a área de contacto
com os nutrientes, favorecendo a sua absorção.

No intestino grosso, os resíduos alimentares acumulam-se, ocorrendo a reabsorção de


água antes se serem eliminados através do ânus.
Os sistemas digestivos dos diferentes grupos de vertebrados possuem adaptações
relacionadas com o seu regime alimentar. Os carnívoros e os insectívoros têm tubos digestivos
mais curtos, pois, como consumem uma menor quantidade de alimento, não requerem um tubo
digestivo tão longo e complexo. Por outro lado, os herbívoros têm tubos digestivos mais longos
e cecos desenvolvidos, dada a digestão da celulose das paredes das células vegetais que, por sua
vez, implica a atuação de enzimas específicas.

- Vantagens do tubo digestivo completo


 Os alimentos deslocam-se num único sentido, o que permite uma digestão e
uma absorção sequenciais ao longo do tubo e, consequentemente, o processamento de
uma maior quantidade de alimento;
 A digestão pode ocorrer em vários órgãos, onde pode ocorrer digestão por ação
mecânica e química.
 Eficiente eliminação, através do ânus, dos resíduos alimentares não absorvidos.

 Possibilidade da ingestão de uma maior quantidade de alimento, pois enquanto


alguns alimentos são ingeridos, outros estão a ser digeridos ou absorvidos.
 Apresenta regiões especializadas e adaptadas para cada etapa do processo
digestivo, aumentando a sua eficácia.

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Tema III – Transporte transmembranar e impulso nervoso

Os neurónios são as células que constituem a unidade básica do sistema nervoso e, ao


serem altamente estimuláveis, são capazes de detetar mínimas alterações no meio,
respondendo através de impulsos nervosos, que percorrem a sua membrana.

Os neurónios são constituídos


por dendrites (ramificações
citoplasmáticas que recebem o
impulso nervoso), corpo celular
(contém o núcleo e grande parte do
citoplasma), axónio (prolongamento
que permite a condução dos impulsos
nervosos até à arborização terminal) e
arborização terminal, que estabelece
sinapses com outras células.

1.1. Propagação de impulsos nervosos

Quando os neurónios se encontram em repouso, isto é, não estão a transmitir um


impulso nervoso, há uma diferença de potencial elétrico entre o interior (negativo) e o exterior
(positivo) da membrana. Esta distribuição desigual de cargas positivas e negativas entre o interior
e o exterior da membrana resulta no estabelecimento de um potencial de repouso (+/- -70 mV),
que é mantida pelo mecanismo da bomba de sódio-potássio, que permite criar um gradiente de
carga elétrica entre as duas faces da membrana.

Quando o neurónio é sujeito a um estímulo, dá-se a abertura dos canais iónicos de Na+
que, ao permitirem a entrada de iões de Na+ para o interior da membrana por difusão facilitada,
dá-se a inversão da polaridade da membrana e o aumento do potencial da membrana, até se
atingir o potencial de ação, pico este que provoca o fecho dos canais deca abertura dos canais
de K + , que leva à saída destes iões para o exterior da membrana e à repolarização da membrana
do axónio. Após se atingir cerca de -80 mV, os canais c fecham e, pela intervenção da bomba de
sódio-potássio, reestabelece-se o potencial de repouso.

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Quando ocorre o potencial de ação, num dado local da membrana, essa região fica
refratária, dá-se a despolarização das secções seguintes, o que leva à propagação do potencial
de ação ao longo do neurónio, num sentido unidirecional.

1.2. Transmissão do impulso nervoso entre neurónios (sinapse)

Apesar dos neurónios não contactarem diretamente entre si, estabelecem-se entre eles
ligações funcionais designadas por sinapses, que se podem subdividir em sinapses químicas e
sinapses elétricas. A sinapse elétrica, há a transmissão direta do impulso nervoso através de
pontos de contacto entre os dois neurónios. Na sinapse química, as duas células estão separadas
pela fenda sináptica e a passagem do impulso nervoso do neurónio pré-sináptico para o neurónio
pós-sináptico dá-se graças aos neurotransmissores, substâncias químicas libertadas pelo
neurónio pré-sináptico que estão contidas em vesículas sinápticas.

Impulso
nervos

Neurónio
pós-sináptico

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1º Quando o impulso nervoso chega à arborização terminal, dá-se a abertura de


canais de Ca2+ . Consequentemente, dá-se a migração de vesículas sinápticas, que contêm
neurotransmissores e que estão ligadas aos iões de cálcio, até à membrana pré-sináptica,
fundindo-se com ela, o que permite a exocitose dos neurotransmissores para a fenda sináptica.

2º Os neurotransmissores ligam-se temporariamente a recetores presentes na


membrana pós-sináptica, o que conduz à abertura de canais de Na+ nas dendrites, permitindo
a sua difusão facilitada para o interior do neurónio que, pela criação de um potencial de ação,
se dá a propagação do impulso nervoso.

3º Os neurotransmissores são degradados, pelo efeito de enzimas, ainda na


fenda sináptica.

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