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MILLET, August. Os Quebra-kilos e a crise da lavoura. Vol. 5 de Coleção Resgate.

2º ed. Global, 1987.

“O movimento do Quebra-quilos, filho legítimo dos sofrimentos e mal-estar que a


destruição do capital flutuante da lavoura e do comércio ocasionara às classes
laboriosas do interior, veio tirar os nossos tutores do otimismo em que se compraziam,
e obrigá-los a pôr na ordem do dia a necessidade de auxiliar a lavoura.” (MILLET,
1987, p. 24)
O livro é originalmente publicado em 1876, mas os textos que nele estão contidos são
publicações reunidas em uma de suas colunas do Jornal do Recife [checar que ano
foram feitas as publicações];
Atribui a existência do movimento quebra-quilos à situação econômica pela qual
passava a lavoura e o comércio.

Escreve visivelmente em favor dos senhores fazendeiros, denunciando que o Estado era
o responsávele e “senhor absoluto do crédito e regulador da circulação monetária, as
fortunas individuais estão à mercê dos poderes públicos”. (MILLET, 1987, p. 24)

O autor reclamava de que nos últimos meses do ano de 1875, acerca da


“impossibilidade absoluta em que se achavam os agricultores [leia-se os senhores
agricultores] de pagarem jornais de mil réis e a ausência de outros meios de ganhar
dinheiro determinaram tal oferta de trabalho braçal que trouxe uma redução de 20%
dos salários dos trabalhadores agrícolas [...]” interfirindo diretamente nos cálculos
feitos sobre o custo da produção dos gêneros de exportação, a despeito do açúcar, por
exemplo. (MILLET, 1987, p. 24-25)

Os senhores, lamentava Augusto Millet, “estão reduzidos a trabalhar tão-somente com


os escravinhos que ainda possuem, e portanto nenhuma melhora trouxe-lhes a baixa
dos salários. Por outro lado, os braços livres de que dispomos para trabalharem
alugados são tão poucos que qualquer aumento na procura, como bem o que há de
trazer a execução da linha férrea de Limoeiro, bastará para restaurar o jornal de mil
réis.” (MILLET, 1987, p. 24)
Podemos averiguar a partir de sua fala, a presença marcante da mentalidade senhorial
da época, preocupada apenas com a propriedade individual dos senhores de escravos e
de terra, produtores exportadores os quais se esforçavam para manter o pagamento aos
trabalhadores jornaleiros o mais baixo de pudessem, lamentado-se, por outro lado, do
aumento dos jornais mesmo quando a expectativa de lucro tendia a aumentar mediante
a possibilidade de maior rapidez e menor gasto com transporte de mercadorias pela
recente ferrovia de Limoeiro.
“Movimentos sediciosos, oriundos da província da Paraíba, têm lavrado no centro desta
[Pernambuco], do Rio Grande do Norte e Alagoas; grupos numerosos, embora as mais
das vezes desarmados, têm invadido as povoações do interior na occasião das feiras
semanais, opondo-se à percepção dos direitos municipais, quebrando ou dispersando as
medidas do novo padrão, atacando as coletorias e as câmaras municipais para queimar
os respectivos arquivos, e praticando alguns desses desacatos, próprios das massas
ignorantes quando se acham desenfreadas.” (MILLET, 1987, p. 29)
Reconhece que o início dos movimentos sediciosos partiu da província da Paraíba para
outras, bem como caracteriza a população como “massas ignorantes”.

“Graças ao telégrado elétrico, aos vapores e locomotivas, as medidas de repressão


foram tão prontas como eficazes [...]”.(MILLET, 1987, p. 29)
O Rio Grande do Norte contava com um telégrafo já em 1862 (registrado no relatório
de Medeiros Murta), vapores circulavam no porto do Natal, mas em 1876 ainda não
havia finalizado as obras da ferrovia. Talvez isso tenha dificultado enormemente o
deslocamento das tropas e da guarda nacional para o interior da província,
diferentemente de outras localidades em que o quebra-quilos se manifestara.

“certo é, todavia, que a sedição Quebra-quilos [sic] não pode ser tida nem como
pronunciamento político, nem como protesto religioso; pois os chefes, tanto de uma
como de outra parcialidade, conhecem de sobra a impossibilidade de lutar contra o
governo e não se querem comprometer sem proveito. A sedição Quebra-quilos [sic]
tem raízes mais profundas; nasce do mal-estar das nossas populações do interior; mal-
estar de que não pode duvidar quem se acha em contato com elas, e rende-se pelos
laços mais evidentes à tremenda crise pela qual está passando a nossa agricultura e a
das mossas vizinhas do Norte e do Sul, desde a alça do câmbio, junto à falta de crédito
suficiente e a juro razoável, há tornado o preço de nossos principais gêneros de
exportação inferior as mais das vezes ao custo de produção. (MILLET, 1987, p. 30)

Millet sustenta sua posição de representate da aristocracia rural, afirmando


categoricamente que as causas para a sedição do quebra-quilos não estão na ação dos
grupos de oposição política e/ou religiosa. Conforme o autor encontrar-se-ia a origem
desta crise na situação agrícola vivenciada pelo Brasil, causadora do “mal-estar” da
população. No entanto percebe-se que a saída apontada por Augusto Millet é uma
solução desejada pelos grandes senhores produtores exportadores de açúcar e algodão:
oferta de crédito, juros baixos e pequeno custo de produção (entrando nesta conta a
redução do valor da força de trabalho braçal dos jornaleiros, por exemplo).

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