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Leituras do Cânon 3 – Prof.ª Dr.

ª Maria Elisa Cevasco – Matutino


Douglas Mattos Moraes – 8977807
Issue Paper #1 – The Great Gatsby

Uma das questões que mais busquei no livro foi entender o papel de Nick enquanto narrador:
não apenas de seu efeito para o romance enquanto escolha técnica, mas pensando por que ele
contaria essa história que não diz respeito a ele diretamente. O que tanto o atraiu em Gatsby que
o impeliu a narrar os dados acontecimentos?
Tentando responder a segunda questão primeiro, parece que Nick está obcecado por Gatbsy; não
apenas porque conta-nos sobre ele, mas porque conhece – e faz questão de contar – detalhes que
só uma memória exímia ou emocionalmente impactada se lembrariam. A exemplo disso, toda a
narrativa da paixão de Gatsby por Daisy nos é contada em minúcia, com um lirismo até
apaixonado. O que atrai tanto Nick em Gatsby? Ele não parece particularmente interesseiro, isto
é, interessado na fortuna ou no status de Gatsby. Mas está preocupado que o leitor não perceba
claramente a natureza de sua relação com o protagonista, sempre lançando mão de estratégias
narrativas de construção de confiança, descrevendo-se neutro, observador, afastado, de
julgamento não-precipitado. Que tenta esconder-nos por trás disso?
Uma das partes mais marcantes do romance, e que mostra, de certa forma, a força da influência
de Gatsby sobre Nick, é quando ambos estão conversando sobre Daisy, mais especificamente
sobre sua voz, considerada indiscreta por Nick. Enquanto este tenta descrevê-la, hesitante,
Gatsby arremata: "Her voice is full of money", ao que Nick concorda. That was it! And he had
never understood before. Nick por si próprio parece sempre ter tido uma grande admiração por
sua prima. Sua voz, seu charme, sua beleza, tudo eram encantos que ele diz reconhecer desde
sempre. E enfim ele parece descobrir a natureza desse encanto todo – então Daisy não passa de
um caríssimo e belo diamante? Aqui temos mais duas questões, uma afirmativa, outra
interrogativa.
A primeira é que parece haver um certo processo de influência e fusão entre a visão de Nick e a
de Gatsby, expresso por essa e por muitas outras cenas. A cada momento, Nick enxerga os
acontecimentos muito próximos à visão de Gatsby – ele quase se envolve com tudo da mesma
maneira que Gatsby. Já a segunda é Daisy, essa figura central para o romance – ainda que não
para a narrativa de Nick. O que tem ela que deixaria um homem tão louco de amores como o
protagonista ficou? O que levaria alguém aos atos que ele cometeu em nome de outrem?
Somos levados a crer que trata-se de uma paixão febril – quase adolescente, de imatura –, mas
concluir que a amada tem a voz cheia de dinheiro não parece o sentimento mais lírico que se
poderia ter. Se formos até a cena em que ambos se conhecem, notamos também que Gatsby
sente enorme atração pela casa e estilo de vida de Daisy, ainda jovem. Encanta-se e decide
largar-se a ela porque é a única chance que jamais terá de aproximar-se daquele mundo – e eis
que acaba apaixonado. Assim, não seria a paixão de Gatsby uma grande ambição? A necessidade
do status, do dinheiro e daqueles que o carregam? Até aqui, poderíamos dizer que ele poderia ter
se apaixonado por outra mulher rica – mas Daisy transpira riqueza. Está em sua voz, é a natureza
de seu charme, é a atmosfera que ela carrega. Daisy é como a personificação feminina do
dinheiro – e, como este, é aquela por quem vários lutam. E é também aquela que escolhe pelo
material, pelo estável, pelo rico: assim escolhe jovem, deixando de lado sua paixão pelo distante
soldado; e escolhe madura, quando hesita ao dizer que nunca amou Tom e quando, pouco
depois, escolhe permanecer casada.

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