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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO TRIBUNAL DO JÚ RI

DA COMARCA DE SÃ O PAULO-SP

A, já qualificado nos autos do processo criminal em epígrafe que lhe move o Ministério
Pú blico Estadual, por seu advogado que esta subscreve, nã o se conformando com a
respeitá vel decisã o de pronú ncia à fls. ___, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, interpor o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO com fulcro no artigo 581,
IV, do Có digo de Processo Penal.

Desde já , requer o recorrente que o presente instrumento seja recebido, processado e, na


hipó tese de Vossa Excelência nã o considerar os argumentos e manter a r. Sentença de
pronú ncia, que seja encaminhado ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Sã o Paulo.

I – SÍNTESE DO OCORRIDO

A” e B eram amigos e resolveram fazer uma viagem para explorar algumas cavernas na
cidade de Sã o Paulo. Ocorre que acabaram por se perder por longos 2 meses, passando por
dificuldades inimaginá veis ao homem comum. Quando os bombeiros os alcançaram,
conforme a denú ncia o acusado havia tirado a vida de B e assado a coxa da perna esquerda
deste para se alimentar. O recorrente foi preso em flagrante, sendo processado por
homicídio doloso simples (art. 121 do CP), tendo sua liberdade provisó ria concedida (fls.
___). Restou pronunciado (fls. ___), em decisã o prolatada há 2 dias. Vem, entã o, o recorrente
requerer o que se segue.

II – FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A) Ausência de provas ou indícios de homicídio.

Consta da inicial acusató ria que o recorrente incorreu na conduta prevista no art. 121 do
Có digo Penal, homicídio simples. Embora tenha sido constado o ó bito de B (laudo fls. __), e
os pró prios bombeiros testemunharam o acusado assando um de seus membros
(depoimento fls. __), em nenhum momento há a imputaçã o ou qualquer indício de que de
fato o acusado tenha tirado a vida de seu colega. O fato de o recorrente estar comendo os
restos mortais de seu amigo nã o prova, por si só , que o mesmo cometeu a conduta descrita
no art. 121. Nã o havendo prova de ter o réu concorrido para infraçã o penal, nã o deveria o
magistrado a quo ter pronunciado o recorrente, pois o art. 413 do CPP indica que haverá a
pronú ncia quando houver indícios suficientes de sua autoria ou participaçã o do acusado no
crime, o que nã o há neste caso. Portanto, erra o juízo a quo ao pronunciar o recorrente na
inexistência de provas ou indícios de crime contra vida, devendo neste caso, haver desde
logo a impronú ncia do acusado neste aspecto, conforme preceitua o art. 414 do CPP.

B) Estado de necessidade.

Por outro lado, ainda que na eventualidade de V. Exas considerarem as razõ es acusató rias,
há de se ressaltar que um eventual homicídio praticado pelo recorrente foi apenas em
razã o da circunstâ ncia extrema de vida ou morte: a fome. Preceitua o art. 23 do Có digo
Penal, que nã o há crime quando o agente pratica o fato em estado de necessidade. Vejam
julgadores, é o típico caso de necessidade extrema, onde o recorrente apenas mataria seu
amigo para saciar a sua fome, tanto que assim o fez, assando parte de seus membros por
estarem a 2 meses presos numa caverna e sem perspectiva alguma de resgate. Neste caso,
prevê o CPP em seu artigo 415, IV, que o juiz absolverá desde logo o acusado quando o fato
nã o for punível, havendo excludente de ilicitude, isto é, a exclusã o do pró prio crime.
Destarte, incabível e errô nea a decisã o de pronú ncia, que desde logo deveria absolver
sumariamente o recorrente.

III – PEDIDOS

Ante o exposto, requer que seja conhecido e provido o presente recurso em sentido estrito,
para que haja a devida reforma, impronunciando o acusado, pela ausência de indícios de
crime contra vida, conforme o art. 414 do CPP, ou, eventualmente, na conclusã o de haver
ocorrido o delito, desde logo absolvido sumariamente em razã o da existência da excludente
de ilicitude do estado de necessidade (art. 23 do CP c/c art. 415 do CPP).

Nestes termos, pede deferimento.

Comarca, data.

Advogado:___.

OAB:___.

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