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Todo o conhecimento obtido com os anos praticando o FIL, Jessica Spina detalha no
livro “Le Flux Instinctif Libre : l’Art de Se Passer de Protection Periodique” (O Fluxo
Instintivo Livre: a Arte de Evitar Absorventes, tradução livre), um guia de como adotar
a técnica. “Transmito essa descoberta que, para mim, foi uma verdadeira revolução
interior. É uma espécie de libertação de algumas crenças de que a mulher não pode
controlar seu corpo. Na verdade, é apenas uma questão de as mulheres se conhecerem,
se estudarem e terem o domínio de seu organismo”, diz.
Apesar de o FIL ainda não ser adotado por um grande número de mulheres na França,
ele vem se popularizando através das redes sociais. A YouTuber Claire relatou sua
experiência de substituir os absorventes pelo fluxo instintivo livre em seu canal Bicar &
Co.
Em entrevista à RFI, ela conta que a técnica foi adquirida há um ano e, pouco a pouco, à
medida em que foi aprendendo a compreender como funcionava o fluxo menstrual. Para
ela, tudo é uma questão de ouvir seu próprio organismo.
“O FIL é algo que aprendi com o tempo. É preciso vários ciclos para se adaptar e a
reconhecer os sinais que o corpo nos envia para sabermos quando devemos ir ao
banheiro. É por isso que chamamos de ‘instintivo’, porque aprendemos a identificar
quando é hora de eliminar a menstruação”, afirma.
A experiência, segundo ela, é vivida de forma diferente por cada mulher. “Algumas vão
saber que é hora de ir ao banheiro sentindo alguma dor no ventre; outras percebem uma
espécie pressão no útero. Eu, por exemplo, não tenho nenhum sinal, mas eu sei quando
a menstruação está descendo: às vezes acordo à noite porque sei que preciso ir ao
banheiro eliminar meu fluxo”, diz.
Apolline Compagnon lembra, no entanto, que a mulher pode optar por outros métodos
mais ecológicos: como os absorventes laváveis, a calcinha-absorvente (reutilizável) ou o
copo coletor. A principal questão, para a terapeuta, é a possibilidade de a mulher poder
dominar seu organismo.
“O FIL é um método natural porque não precisa de ‘material exterior’. O que a mulher
deve se perguntar é se deseja controlar a menstruação, quando ela já deve ter um imenso
controle de seu cotidiano. Nada impede que ela utilize diversos métodos: o FIL quando
estiver em casa (ou mesmo à noite) e absorventes ou o copo coletor quando sair”,
recomenda.
Ana Arruda também é uma adepta do método que, para ela, vai além das questões
econômicas e ecológicas. “Há momentos, durante a menstruação, que não dá
VONTADE de usar nada, nem mesmo uma calcinha absorvente ou um absorvente de
pano. A gente quer essa liberdade de fluidez, já que passamos muitos anos tendo a nossa
feminilidade, nossa menstruação e nossos corpos dominados. Eu senti essa necessidade
de deixar o sangue descer.”
Apesar de a medicina tradicional ser cética quanto ao método, Ana Arruda acredita que
há muitas vantagens nas técnicas naturais para a eliminação da menstruação, como o
conhecimento do corpo e a valorização da intuição feminina. “Sinto que esse método,
entre outras práticas da ginecologia natural, traz a gente de volta pra esse contato mais
interno e profundo, com nossas vísceras, ventre e útero. Além dessa experiência sobre o
controle sobre nós mesmas, que é algo completamente possível e que a gente perdeu”,
diz.
A naturóloga não acredita que o sangramento livre possa ser prejudicial, como alegam
alguns ginecologistas. “A ideia do sangramento livre não é ficar contraindo para sempre
o útero, mas ter mais ingerência sobre essa musculatura, que vai ajudar inclusive a
fortalecer a região pélvica, e que pode até ajudar a mulher no parto ou ter relações
sexuais mais prazerosas. O objetivo é ter contato com esses movimentos de contração e
expansão do útero e, quando sentir que é necessário, fazer uma pausa, ir até o banheiro e
fazer a eliminação deste sangue”, destaca.
A terapeuta francesa Apolline Compagnon também lembra que qualquer mulher pode
realizar a experiência do FIL: “qualquer que seja sua idade não há nenhum impedimento
para isso”. Mas, segundo ela, é preciso levar em consideração o cotidiano de cada uma.
“Imagino que isso não deva ser prático para uma cirurgiã no meio de uma operação ou
uma taxista…”, pondera.
Mas, para a especialista, não há dúvidas: o FIL ou sangramento livre não é apenas uma
técnica para eliminar a menstruação, mas uma forma de celebrar e assumir uma faceta
da feminilidade. “Antes se falava menos sobre o fluxo menstrual porque era tabu, para
não mencionar ‘sujo’, ocultando o lado natural deste fenômeno. Hoje, é uma maneira de
se reivindicar como mulher.”