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ELABORAÇÃO DE PROJETOS PRÁTICOS EM CURSOS DE PRODUÇÃO

CULTURAL

Leonardo Costa1
Nara Pessoa2

Resumo: Este artigo busca apresentar e refletir sobre as experiências em sala de aula
nas disciplinas Elaboração de Projetos Culturais e Oficina de Produção Cultural, dos
cursos de Produção Cultural, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte, e de Comunicação com habilitação em Produção
em Comunicação e Cultura oferecido na Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia, respectivamente. Em ambas os cursos, os estudantes desenvolvem
uma ideia transformando-a em um projeto cultural formatado para, a partir disso, porem
em prática os processos de pré-produção, execução e pós-produção dos seus projetos.
Através das disciplinas em formato de oficinas e/ou laboratórios pudemos, dentro das
estruturas curriculares dos cursos, aproximar os estudantes das realidades do setor
cultural, possibilitando a sua inauguração na área profissional. Ao realizarem essa
imersão e pensarem na condução desses projetos, os estudantes conectam saberes vistos
durante o curso, em outras disciplinas, com a sua aplicação no trabalho do produtor
cultural. Esse ponto nos leva, enquanto docentes, a retomar a organização curricular dos
cursos e suas metodologias em um exercício de reflexão sobre o profissional da cultura
formado em Universidades e Institutos Federais.

Palavras-chave: projetos culturais, produção cultural, formação profissional.

A formação em produção/gestão cultural no Brasil vem sendo compreendida há


mais de uma década, a partir de diferentes abordagens, seja pela definição do que se
entende por produção e produtor cultural (RUBIM, 2005); através da identificação dos
caminhos percorridos para a formação do campo da gestão cultural (CUNHA, 2007);
pela sistematização da profissionalização em organização da cultura (COSTA, 2011);
ou por meio da reunião de diferentes experiências em formação e organização da cultura
no Brasil (COSTA; MELLO, 2016), para citar algumas delas.
Ao longo desse tempo, uma das questões colocadas diz respeito às atividades
relacionadas ao fazer profissional do produtor/gestor cultural. Assim, se por um lado
concordamos que esse profissional necessita recorrer a instrumentos e ferramentas de
trabalho que envolvem “a formulação de diagnóstico situacional, planejamento
estratégico, planos de ação e de sustentabilidade e, por fim, a elaboração de projetos”

1
Professor na Universidade Federal da Bahia. leocosta@ufba.br
2
Professora no Instituto Federal do Rio Grande do Norte. nara.pessoa@ifrn.edu.br

1
(CUNHA, 2014, p. 1) também acreditamos na dimensão de criação, de imaginação e
invenção relativa à atividade de desenvolvimento da ideia e sua formatação em projeto
ao formular “um modo inovador de fazer com que as obras de criadores sejam expostas
ao público, tornem-se visíveis e ganhem notoriedade, através de eventos e produtos,
sejam eles presenciais ou midiáticos.” (RUBIM, 2005, p. 25 e 26).
Este trabalho surge das experiências em sala de aula nas disciplinas Projeto
cultural: editais e leis de incentivo e Oficina de Produção Cultural, dos cursos de
Produção Cultural, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte, e de Comunicação com habilitação em Produção em
Comunicação e Cultura oferecido na Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia, respectivamente. Em ambas os cursos, os estudantes desenvolvem
uma ideia transformando-a em um projeto cultural formatado para, a partir disso, porem
em prática os processos de pré-produção, execução e pós-produção dos seus projetos.
Dessa forma, neste trabalho nos propomos a apresentar os projetos culturais
desenvolvidos nas duas disciplinas supracitadas. Para tanto, objetivamos identificar as
metodologias utilizadas em sala de aula, considerar os principais trajetos percorridos
pelos estudantes para formatarem um projeto cultural em diferentes áreas artístico-
culturais e propor uma classificação dos projetos quanto às suas propostas de produtos
para o setor cultural.

A disciplina de Elaboração de Projetos Culturais no IFRN


O curso superior de Tecnologia em Produção Cultural do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte foi inaugurado em 2009 e em
2012 teve sua estrutura curricular revisada e alterada. A partir disso, a disciplina
oficialmente denominada Projeto Cultural: editais e leis de incentivo3 passou a fazer
parte da sua matriz curricular, sendo ofertada no terceiro semestre do curso,
concomitantemente com a disciplina Marketing Cultural e Captação de Recursos, e
seguida, no quarto semestre, das disciplinas Desenvolvimento de Projeto Cultural e
Administração e Gestão Cultural.

3
A disciplina é comumente conhecida e chamada por Elaboração de Projetos Culturais, já que, diferente
do que foi colocado inicialmente no Projeto Pedagógico do curso, ela passou a não ser focada nos editais
e leis de incentivo, mas na fase de elaboração, modelagem e formatação de um projeto cultural.
2
A disciplina Elaboração de Projetos Culturais4 é oferecida anualmente desde
20135. À frente dela desde 2015, pudemos ir ao longo desse tempo aprimorando a sua
metodologia e compreendendo melhor as dificuldades relacionadas à competência de
elaborar e formatar um projeto cultural.
Todo o processo de construção de um projeto cultural parte de uma ideia dos
estudantes. Essa ideia pode ser inédita e surgida dentro de sala de aula, como pode ter
sido concebida anteriormente. Ao ingressarem nessa disciplina, 90% dos discentes6
nunca tinha tido a experiência de pensar e elaborar um projeto cultural. Os projetos
podem ser feitos individualmente ou em dupla, sendo sempre ressaltada a importância
dos dois estudantes (quando for o caso das duplas) passarem por cada etapa da
elaboração, como por exemplo, pensar em sua justificativa ou montar o seu orçamento.
A disciplina em questão funciona como um laboratório, já que traz a
experimentação, produção e prática para dentro do curso. Assim, ao iniciarmos o
semestre, realizamos uma primeira investigação para conhecermos as realidades de cada
estudante: se houve experiência anterior com projetos; se eles já têm alguma ideia do
que irão desenvolver; e se possuem uma área de interesse dentro da produção cultural.
Essa etapa se dá em formato de roda, bem como vários outros momentos da disciplina,
como por exemplo, o de apresentação das ideias iniciais para compartilhamento com
todos os presentes. Um momento bastante rico em termos de troca e surgimento de
novas ideias através das sugestões colaborativas.
Ainda no início do semestre, abordamos em sala as concepções de projeto,
projeto cultural e planejamento (INSTITUTO ALVORADA BRASIL, 2014). Então,
entramos com o entendimento de problema e utilizamos a metodologia de construção da
árvore do problema (THIRY-CHERQUES, 2008) para ampliarmos a compreensão dos
estudantes sobre as suas ideias iniciais. A partir dessa percepção de problema, ao
identificar e levar em consideração suas causas e efeitos no contexto em que está
inserido, e da primeira rodada de ideias (quando os alunos compartilham seus
pensamentos iniciais) avançamos em um outro exercício que denominamos de Primeiras

4
Adotaremos neste trabalho o nome não oficial dado à disciplina, mas utilizado amplamente por
discentes e docentes do curso.
5
Turma com entrada em 2012, já que a disciplina é ofertada no 3º semestre do curso.
6
Dados obtidos em levantamento realizado a cada semestre com todos os estudantes quando ingressam
na disciplina Elaboração de Projetos Culturais.
3
Perguntas. A atividade consiste em responder as perguntas básicas que fazem parte de
um projeto cultural, independente da formatação utilizada:
1. O quê? O que você pretende desenvolver?
2. Por quê? Por que pretende realizar o projeto? Um problema
a ser solucionado? Uma demanda cultural não atendida?
3. Quem? A quem se destinará o produto gerado pelo projeto e
com quem trabalharemos para a sua realização?
4. Como? De que forma será realizado o projeto?
5. Quanto? Qual o valor do projeto e de onde virão os recursos
para a sua realização? Poderemos contar com recursos
próprios, financiamento privado, público, apoios em forma
de serviços ou de bens, etc.
6. Quando? Em que período o projeto será realizado e qual
será a duração prevista?
7. Onde? Refere-se ao local, ou aos locais, onde será
apresentado, realizado, consumido ou distribuído o produto.
(INSTITUTO ALVORADA BRASIL, 2014, p. 24 e 25)

Ao responder esse exercício e participar dos momentos de diálogo em sala de


aula, o estudante vai concebendo sua ideia na realidade. Muitas vezes, a ideia inicial é
abandonada e outras vão surgindo. Ainda em sala de aula, vemos exemplos de projetos
formatados, recebemos produtores culturais (incluindo ex alunos do curso) para falarem
de seus projetos culturais, desde a fase da concepção da ideia, e possibilitamos bate
papos com estudantes que já passaram pela disciplina para contarem suas experiências.
Todos esses momentos são fundamentais para que os alunos, que nunca tiveram contato
com esse fazer, possam se familiarizar e compreender em que consiste o processo de
elaborar e formatar projetos culturais com vistas a executá-lo posteriormente.
Ao longo desse movimento de pensar na ideia inicial, os estudantes também
precisam ir a campo em um outro exercício que denominamos de Pesquisa de
viabilidade que serve para que os alunos façam contato com o universo que eles
pretendem trabalhar em seus projetos conhecendo assim grupos e artistas culturais,
possíveis parceiros (profissionais e instituições), espaços, público, outros projetos, entre
outros aspectos. O objetivo dessa atividade é ter informações que eles desconhecem
sobre a ideia que estão propondo. Para isso, eles podem se utilizar de entrevistas,
questionários e/ou formulários de pesquisa, visitas técnicas, participação como
observadores, etc.
Após todo o movimento de compreensão sobre projetos culturais e de
conhecimento sobre as suas propostas, partimos para a escrita dessas propostas, no

4
laboratório de informática do Campus, sempre sob orientação do professor da
disciplina. O trabalho de escrita dos projetos é, na maioria das vezes, um processo lento
e custoso para os estudantes.
Quase ao final da disciplina, montamos bancas para as apresentações dos
projetos e as avaliações desses por professores e/ou profissionais da área convidados.
Então, os estudantes têm mais algumas semanas para fazerem as correções, antes do
final do semestre.

Que projetos culturais são esses?


Este trabalho abordou quatro turmas do terceiro período do curso de Produção
Cultural do IFRN, nos primeiros semestres dos anos de 2015, 2016, 2017 e 2018. Para
esta primeira sistematização dos dados que possuímos, levamos em consideração os
projetos escritos e finalizados durante a disciplina, com o estudante aprovado no
semestre em questão, ou seja, não contabilizamos os projetos inconclusos, com a
consequente reprovação do estudante. Neste momento, a execução do projeto no
semestre subsequente ou em semestres posteriores, não foi uma condição exigida para
esta quantificação.
A turma de 2015, composta por quinze alunos, elaborou dez projetos, sendo
cinco deles individuais e cinco em dupla. Desses dez projetos temos, conforme mostra a
tabela 1, três projetos na área de música. É possível percebermos a partir dos dados dos
anos seguintes que a música junto com as artes visuais são as áreas artísticas que mais
tem projetos elaborados, seguidos do que chamamos de artes integradas - quando o
projeto está inserido em mais de uma área. Em outras áreas temos um número menor,
um ou dois projetos para cada área por semestre.
No ano de 2016, tivemos poucos estudantes concluindo a disciplina, apenas sete
alunos concluíram, fechando o semestre com seis projetos, já que um deles foi feito em
dupla. Desses seis apenas um projeto era desenvolvido em uma perspectiva mais ampla,
de continuidade de uma ação, focando em uma demanda da cidade, a qual se
caracterizava pela ausência de atividades culturais de artes integradas gratuitas em um
espaço da cidade que permanecia ocioso ao longo do ano, sendo ocupado apenas no mês
de dezembro em razão das festas de final de ano. Portanto, o projeto propunha edições
mensais de apresentações culturais, feira gastronômica, espaço para expositores de

5
produtos variados, etc. Os demais projetos do ano de 2016 estavam focados em um
produto específico, com temporalidade pontual, sem que houvesse uma possibilidade de
continuidade da ação, com um objetivo que se encerrava em si mesmo.
Em 2017, tivemos uma turma com doze alunos concluintes, os quais elaboraram
nove projetos, sendo três deles em dupla e seis individuais. Naquele ano, percebemos
que os projetos elaborados buscavam atender a uma problemática identificada no
contexto em que estavam inseridos e não mais a partir de uma perspectiva individual do
proponente, ou seja, a partir, exclusivamente, da sua área de interesse ou zona de
conforto. Isso pode ter sido fruto do trabalho docente mais atento à ideia de que “O
projeto parte de um contexto social, histórico e cultural para que possa ser planejado.
Deve-se, portanto, conhecer a realidade na qual se vai intervir, por meio do
levantamento de dados e pesquisas que possam subsidiar e fortalecer a sua concepção”
(CUNHA, 2014, p. 2). Além dessa mudança percebida, naquele ano também tivemos
dois projetos que classificamos como Cultura digital (ver tabela 1). O primeiro era uma
plataforma, via canal do YouTube e Facebook, que tinha como objetivo dar visibilidade
à produção artística autoral do Rio Grande do Norte. E o segundo, uma proposta de
canal no YouTube que abarcava além de uma agenda cultural, dicas sobre produção
cultural.
Em 2018, foram elaborados onze projetos dentro da disciplina por dezoito
alunos, sendo cinco em duplas, cinco individuais e um em trio7. Esse foi o ano que
tivemos a maior turma e o maior número de projetos elaborados. Percebemos que a
mudança identificada no ano anterior foi continuada em 2018. Os projetos se mostraram
mais maduros no que diz respeito às ideias propostas e às suas relações com as questões
locais, para além das motivações individuais de cada estudante. Assim, tivemos projetos
abordando públicos atípicos em momentos anteriores do curso, como pessoas em
situação de vulnerabilidade social, em centros comunitários; crianças com problemas
cognitivos; mães empreendedoras, artistas mulheres, entre outros. Foi possível constatar
que caminhávamos para fora do lugar comum, nos afastando da ideia de produtos
artísticos voltados para grupos já solidificados.

7
A situação de um trio de estudantes desenvolver juntos um único projeto se deu devido à problemas de
saúde de um dos alunos, sendo considerada uma exceção dentro da disciplina.
6
Tabela 1: Áreas dos projetos ao longo dos anos

Áreas 2015 2016 2017 2018

Artesanato 1 1

Artes integradas 1 1 1 3

Artes visuais 2 3 2

Audiovisual 1 1 1

Capacitação 1

Cultura digital 2

Literatura 1 1

Moda 1

Música 3 1 3

Patrimônio 1 2

Teatro 1 1

Total 10 projetos 6 projetos 9 projetos 11 projetos

Fonte: Elaboração própria

Oficina de Produção Cultural na UFBA


Através da realização de um Projeto Cultural na Oficina de Produção Cultural
(COM133) temos como objetivo o desenvolvimento da capacidade dos alunos de
realizar ações culturais através da produção de atividades práticas, promovendo a
iniciação dos mesmos com a sua futura área profissional. A disciplina, atualmente, é a
primeira oficina prática específica do curso de Comunicação com habilitação em

7
Produção em Comunicação e Cultura8 oferecido na Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia.
Esse Projeto Cultural busca consolidar as experiências práticas relacionadas à
habilitação em Produção em Comunicação e Cultura, curso ligado à Faculdade de
Comunicação. O bacharelado, um dos primeiros criados no Brasil - com a primeira
turma iniciada no ano de 1996 -; que coloca como possíveis ações do profissional
formado “planejar, produzir e realizar atividades culturais e comunicacionais, sob
variadas formatações, sendo tais programas realizados diretamente pelos mídia”9. Desse
modo buscaremos alinhar a relação do ensino com a extensão, focando num dos
objetivos dessa formação.
Atualmente no currículo do curso temos as disciplinas Oficina de Produção
Cultural (COM133) e a Oficina de Planejamento e Elaboração de Projetos Culturais
(COM136) que tratam mais diretamente sobre as diferentes etapas de um produto
cultural. Entretanto, temos como ponto considerado negativo entre os docentes do curso
que o discente primeiro cursa a disciplina que vai executar um projeto cultural, no
terceiro semestre, e só depois, no sexto semestre, o mesmo discente irá cursar a
disciplina que vai refletir sobre o planejamento e a elaboração de projetos. Essa ordem
deverá ser alterada com a reformulação do currículo do curso, proposta que foi
amplamente discutida na Unidade e encaminhada em março de 2019 para a Pró-Reitoria
de Ensino de Graduação (PROGRAD) da UFBA.
Na Oficina de Produção Cultural ao longo de cada semestre é formatado um
Projeto Cultural juntamente com os alunos, para na prática serem trabalhados e
observados os processos de pré-produção, execução e pós-produção em diferentes
grupos. O trabalho desenvolvido em sala de aula, a partir do semestre 2017.1, começou
a utilizar o Trello na gestão dos processos.
A cada semestre a ação poderá ser focada em uma determinada área artística, a
depender do andamento e das escolhas que serão feitas em conjunto com os alunos
envolvidos. Como exemplo desse processo10 podemos citar a realização, em semestres

8
Vale ressaltar que a disciplina pode ser cursada por outros cursos da UFBA. Citamos aqui outros cursos
nos quais já tivemos algum estudante matriculado: Bacharelado Interdisciplinar em Artes, Bacharelado
Interdisciplinar em Humanidades, Dança, Teatro, Música, Administração, Gastronomia e Biotecnologia.
9
Disponível em: https://www.facom.ufba.br/portal2017/pagina/12/producao-em-comunicacao-e-cultura.
Acesso em: 11 abr. 2019.
10
Todos os projetos listados contaram com a supervisão do prof. Leonardo Costa.

8
anteriores, de projetos como: “Baiano tem é arte” (2006.1), “Retalho de Passos”
(2006.2), “Facom 20 anos” (2007.1), “3x4: circuito de produção cultural da UFBA”
(2007.2), “Circuito LabFoto” (2011.2), “Mostra Cem Nelson” (2012.1), “Desensaio de
Carnaval” (2012.2), “Circolando” (2013.1), “Circuito Ribeira-Mar” (2013.2), “Mixtape:
festival de cultural hip-hop” (2014.1), “Feshaação: festival de artes LGBT” (2014.2),
“Dique Dança” (2015.1) e “Festival Dúdú Onã” (2017.1), “Mixtape: Festival de Hip
Hop da UFBA” e “Ilê ti Com” (2017.2), “Macaxeira: Arraíá da UFBA” (2018.1) e
“Rodar: o Recôncavo em Salvador” (2018.2).

Figura 1: Panfleto do projeto “Rodar: o Recôncavo em Salvador”

9
Dentre os projetos listados seis eram da área de artes integradas (com a união de
diferentes linguagens artísticas), quatro eram da área da música, três eram da área das
artes cênicas, dois eram da área das artes visuais, um era da área do audiovisual, e um
da área do design. Cabe notar que para além das áreas artísticas trabalhadas, alguns
projetos trouxeram importantes questões identitárias na contemporaneidade, como a
cultura LGBTQIA no “Feshaação: festival de artes LGBT” e a cultura negra no
“Festival Dúdú Onã”. Os eventos variam, sendo realizados em um dia como o
“Macaxeira: Arraíá da UFBA” - evento que realizou uma festa junina, até 40 dias como
o “Circuito LabFoto” - evento que contou com uma série de ações na área das artes
visuais. A programação também é variada, normalmente com ações de difusão,
formação e circulação.
A disciplina tem uma oferta de 30 vagas, tendo em vista o seu caráter prático de
oficina. Essa modalidade foi implementada desde o início do currículo, quando criado
em 1995. Naquela época foram criadas disciplinas chamadas de oficinas que teriam
como resultado final um produto elaborado pelos estudantes, através das ementas e
conteúdos específicos. Tais componentes seriam oferecidos desde os semestres iniciais,
buscando romper com uma tradição de segregação entre os conteúdos teóricos e práticos
dos cursos de graduação. De acordo com o novo Projeto Político Pedagógico do curso:

Os currículos não podem ser concebidos de modo tradicional,


como simples ajuntamento e listagem de disciplinas (quase)
sempre entendidas como salas de aula, mas como conjunto
articulado de atividades que possibilitem a transmissão do
conhecimento através de variados procedimentos e formatações
pedagógico-acadêmicos, sempre adequados aos seus conteúdos.
Por conseguinte, os currículos, compostos por atividades,
incorporam procedimentos e formatações como “sala de aula”,
oficinas, laboratórios, estudos orientados, seminários, palestras,
etc. e reconhece como parte constitutiva dos currículos
atividades de extensão e pesquisa, às quais fica destinada carga
horária a ser realizada pelo alunado. Deste modo, o estudante
universitário pode vivenciar efetivamente a indissociabilidade
do ensino, da pesquisa e da extensão.
[...] as atividades nomeadas de oficinas incorporam como
exigência pedagógico-acadêmica obrigatória a existência de
produtos laboratoriais. Deste modo se reconhece a imperiosa
necessidade para a satisfatória formação da experimentação, da
publicização e crítica destes exercícios com as linguagens
da comunicação e da cultura. Sem a realização destes
produtos, as oficinas não podem inclusive ser
consideradas incluídas. (UFBA, 2019).

10
Nesse trecho podemos perceber a importância dada às oficinas para a formação
do estudante e, além disso, a importância do produto que deverá ser realizado pela
mesma. Produtos esses nos quais o estudante é protagonista da sua experiência em um
espaço privilegiado para o exercício da aprendizagem e para interação junto à
comunidade externa. No currículo atual, que data da reforma realizada no ano de 2000,
as oficinas estão cadastradas na Superintendência de Administração Acadêmica
(SUPAC)11 de forma errônea, com carga horária total (136 horas) de atividades teóricas.
No novo Projeto Político Pedagógico buscamos alterar esse erro, colocando a creditação
em atividades práticas além de incluir a questão da extensão - que de forma efetiva já é
realizada nestes componentes curriculares.
Desde o semestre de 2006.1 utilizamos ferramentas on-line na gestão da
comunicação da disciplina. Desde a criação de grupos de e-mail12 até a criação de
grupos no Facebook13, foram testadas possibilidades nas quais os estudantes estivessem
mais conectados naquele momento. A partir do semestre de 2013.1, com o projeto
“Circolando”, começamos a implementar outras ferramentas on-line para a gestão dos
processos na disciplina. Como, em média, temos 30 discentes em sala, é necessário ter
uma organização prévia para que o fluxo de informações e de ações não se perca. Desse
modo, com o auxílio da monitoria14, criamos um modelo de planejamento, contendo um
Plano de Ação e um Orçamento, que serviria de base para o preenchimento das
informações ao longo do semestre. Esse modelo de planejamento foi feito a partir das
planilhas do Google Drive15, o que facilitava o acesso remoto e simultâneo aos
estudantes.
Parte da avaliação do semestre também começou a ser realizada no Google
Drive, desta vez com a criação de um formulário. Além dos relatórios por equipe, onde
cada equipe precisa descrever e analisar as ações e tomadas de decisão realizadas no
semestre, foi introduzido uma avaliação individual através de formulário específico, no

11
Disponível em: https://supac.ufba.br/. Acesso em: 11 abr. 2019.
12
Disponível em: https://groups.google.com. Acesso em: 11 abr. 2019.
13
Disponível em: https://www.facebook.com/. Acesso em: 11 abr. 2019.
14
Começamos a ter uma monitoria na disciplina no semestre de 2012.2, a partir de uma bolsa do
Programa Permanecer - tendo sequência posterior com bolsas do Programa de Monitoria da Pró-Reitoria
de Ensino de Graduação (PROGRAD). Nos semestres de 2012.2 e 2013.1 a monitora foi Tamiles Santos
Alves, no semestre 2017.1 foi Melvyn Caires, no semestre 2017.2 foi Valdiria Souza Fernandes, e nos
semestres de 2018.1 e 2018.2 foi Romário Almeida Santos dos Anjos.
15
Disponível em: https://www.google.com.br/drive/apps.html. Acesso em: 11 abr. 2019.

11
qual através de perguntas fechadas e abertas são avaliadas a performance do estudante e
dos diferentes grupos, além de ser um instrumento onde é possível dar um retorno sobre
a metodologia empregada na disciplina.
Como já exposto anteriormente em 2017.1 incluímos o Trello no planejamento
do projeto. Sem descartar o Google Drive, e suas aplicações, como a planilha, o Trello
auxiliou o gerenciamento dos projetos, tendo em vista que o mesmo possui
funcionalidades que não estão disponíveis da mesma forma no Google Drive. Um
exemplo disso é a criação do quadro geral, onde cada equipe no projeto aparece
enquanto formato de lista. Em cada uma dessas listas dispomos de ações, que são
criadas e alteradas a depender das demandas da fase do planejamento. Em cada uma das
ações podemos criar check-lists, colocar prazos, marcar os responsáveis - que serão
notificados automaticamente pelo aplicativo, anexar arquivos, fazer comentários, dentre
outras funções. Em 2018.2 incluímos o Google Classroom16 na gestão da comunicação
da sala de aula, bem como na inclusão dos textos acadêmicos que são discutidos ao
longo do semestre.

Figura 2: Quadro do Festival Dúdú Onã

Fonte: Trello

16
Disponível em: https://classroom.google.com. Acesso em: 11 abr. 2019.

12
Comumente trabalhamos com a divisão de equipes, desde a pré-produção até a
pós-produção dos projetos. Temos uma equipe de coordenação, que pode ser destacada
ou ser colegiada, a partir dos coordenadores das outras equipes; de comunicação; de
captação e administração financeira; e de produção de cada área do projeto, o que
normalmente varia em cada semestre. Como a proposta é criada pelos próprios
estudantes a cada novo semestre, não temos como prever quais serão as equipes e
possíveis divisões antes de iniciar o trabalho de forma coletiva.
Antes da divisão do trabalho por equipes realizamos uma série de discussões
sobre qual seria o projeto cultural que os estudantes gostariam de propor e executar no
semestre corrente. Para isso, serve como fundamentação uma apresentação com todos
os projetos já realizados nesta disciplina desde o ano de 2004, além de um toró de
palpites (brainstorm) sobre o que cada um gostaria de realizar ou teria maior afinidade
para construção. A partir das propostas individuais, vão se formando pequenos grupos,
ainda para construir as possíveis diferentes propostas, para tentar colocar a questão do
projeto cada vez mais de forma coletiva e não individualizada. Após a apresentação das
propostas buscamos, através do diálogo e da sustentação de argumentos e ideias, um
consenso sobre qual será o projeto que iremos seguir. Até o momento apenas em um
semestre foram realizadas duas ações: “Mixtape: Festival de Hip Hop da UFBA” e “Ilê
ti Com” no semestre de 2017.2.

Considerações finais
As experiências apresentadas de elaboração de projetos práticos em cursos de
Produção Cultural nos revelam aspectos importantes para pensarmos a formação em
produção cultural no Brasil. Através das disciplinas em formato de oficinas e/ou
laboratórios pudemos, dentro das estruturas curriculares dos cursos, aproximar os
estudantes das realidades do setor cultural, possibilitando a sua inauguração na área
profissional. Ao realizarem essa imersão e pensarem na condução desses projetos, os
estudantes conectam saberes vistos durante o curso, em outras disciplinas, com a sua
aplicação no trabalho do produtor cultural. Esse ponto nos leva, enquanto docentes, a
retomar a organização curricular dos cursos e suas metodologias em um exercício de
reflexão sobre o profissional da cultura formado em Universidades e Institutos Federais.

13
As duas disciplinas apresentadas neste trabalho alcançaram um ponto caro para
os cursos de graduação em Produção Cultural no Brasil, a aproximação entre a reflexão
da complexidade própria do setor cultural e as ações práticas do cotidiano de um
produtor cultural.
No curso de Produção Cultural do IFRN, a disciplina de Elaboração de Projetos
é o princípio para a entrada dos estudantes no mundo profissional. Ainda que tenhamos
muita clareza de que a área de atuação e as funções do egresso em produção cultural são
mais amplas do que a concepção e execução de um projeto cultural, também
entendemos que essa competência pode ser trabalhada dentro dos cursos contribuindo
para a diversidade de olhares na produção cultural das suas localidades.
Em pesquisa realizada com os egressos do curso de Comunicação com
habilitação em Produção em Comunicação e Cultura da UFBA (COSTA; MELLO et al.,
2016, p. 86), foi verificado que a Oficina de Produção Cultural apresenta um dos
melhores resultados numa avaliação sobre as disciplinas cursadas ao longo da
graduação e o quanto elas contribuíram para a formação do egresso. 64% dos
pesquisados disseram estar satisfeitos com a contribuição da Oficina de Produção
Cultural, dentre eles os que julgam boa (33%) e muito boa (31%). O percentual
insatisfeito soma um total de 36%, dentre os que acreditam que a contribuição dela para
a sua formação acadêmica seja regular (24%), pouca (7%) ou muito pouca (5%). Muito
possivelmente a metodologia testada e aplicada da disciplina deve auxiliar para a
obtenção deste índice de contribuição na formação dos egressos. Muitos estudantes
chegam no terceiro semestre do curso ainda sem experiências práticas na sua área de
formação, e a realização de uma oficina com um produto prático busca auxiliar a sua
iniciação com a sua futura área profissional.

Referências
COSTA, Leonardo. Profissionalização da organização da cultura no Brasil: uma análise
da formação em produção, gestão e políticas culturais. 2011. 120 f. Tese (Doutorado) –
Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.

COSTA, Leonardo; MELLO, Ugo (org.). Formação em organização da cultura no


Brasil: experiências e reflexões. Salvador: Edufba, 2016.

CUNHA, Maria Helena. Gestão cultural: profissão em formação. Belo Horizonte: DUO
Editorial, 2007.

14
CUNHA, Maria Helena. Projeto cultural: concepção, elaboração e avaliação. In: Curso
de Formação de Gestores Públicos e Agentes Culturais. 2014. Disponível em:
http://www.cultura.rj.gov.br/curso-gestores-agentes/projeto-cultural-
gestores#projcultconcelaava. Acesso em: 07 abr. 2019.

INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos Culturais: como elaborar, executar e


prestar contas. Brasília: Instituto Alvorada Brasil: Sebrae Nacional, 2014.

RUBIM, Linda. Produção cultural. In: RUBIM, Linda (org.). Organização e Produção
da Cultura. Salvador: Edufba, 2005.

THIRY-CHERQUES, Hermano R. Projetos culturais: técnicas de modelagem. 2 ed. Rio


de Janeiro: Editora FGV, 2008.

UFBA. Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Comunicação com Habilitação


em Produção em Comunicação e Cultura. Salvador: 2019.

15

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