Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EMENTA
Abordar criticamente a história do cristianismo na América Latina, com destaque para o
Brasil, discutindo os diversos processos de evangelização. Visualizar a formação do
catolicismo e do protestantismo latino-americano, oferecendo instrumentos de análise
crítica para a leitura do cristianismo e da Igreja no continente, situando-os no seu contexto
social, político e econômico
OBJETIVOS
Compreender o papel histórico da Igreja na América Latina desde a invasão colonizadora
no século XV até a atualidade.
JUSTIFICATIVA
Como é desconfortável a um membro de uma igreja ver seu grupo sendo preterido diante
de outro; como é desconfortável ter que se calar diante de argumentações contrarias por
falta de conhecimento das raízes e da história de seu grupo. Sentimos nossas
argumentações enfraquecidas, mesmos que enriquecidas de conteúdo doutrinário bíblico
fidedigno, quando lhe falta bases históricas. Ao cristão que sabe explicar a distinção e o
porquê da distinção entre Católicos e Protestantes, seu histórico bem como as raízes e
razões das diferenças de estilos entre os diversos grupos pentecostais no pais terá muito
mais credibilidade durante a apresentação do Evangelho de Cristo. Como ensinava Pedro
“Saber responder com mansidão a todos que desejarem saber a razão da vossa fé” (1 Pd
3.15).
Nisto reside a importância desta disciplina, em seu conteúdo programático serão
apresentados estes e outros assuntos correlatos que visam dar ao aluno uma visão
panorâmica desta temática.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Sumário
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 4
1. A Igreja no Processo de Colonização ........................................................................ 4
1.1. A reforma protestante ......................................................................................... 4
1.2. O concilio de Trento ............................................................................................ 4
1.2.1. Causas ............................................................................................................... 5
1.2.2. Objetivo e decisões ........................................................................................... 5
j. Index: os livros proibidos do catolicismo........................................................... 6
1.2.3. Tribunal do Santo Ofício ................................................................................. 6
1.3. A contrarreforma ................................................................................................ 7
1.3.1. Consequências da Contrarreforma ................................................................ 7
1.4. A igreja Católica e a colonização do Brasil ....................................................... 8
1.4.1. Contribuições da igreja Católica no Brasil.................................................... 8
1.4.2. Marquês de Pombal ......................................................................................... 9
2. Os pequenos focos protestantes nas invasões franco-holandesas. ...................... 9
2.1. Os franceses na Guanabara (1555-1567) ........................................................... 9
2.2. Os holandeses no Nordeste (1630-1654) .......................................................... 10
3. As ordens religiosas na América Latina.............................................................. 11
3.7. Por que os religiosos? ........................................................................................ 13
4. A Diversificação do cristianismo nas Monarquias (1822 -1889) ....................... 14
4.1. Protestantismo de imigração ............................................................................ 15
4.2. Protestantismo missionário (1835-1889).......................................................... 16
5. O Cristianismo nos Regimes Republicanos. ....................................................... 18
5.1. Católicos e protestantes ..................................................................................... 19
5.2. Progressistas x conservadores .......................................................................... 19
5.3. Denominações históricas (1889-1964) .............................................................. 20
5.4. Denominações Históricas (após 1964) .............................................................. 23
6. O Nascimento dos Movimentos Pentecostais. ..................................................... 24
6.1. Igrejas pentecostais e neopentecostais ............................................................. 25
6.2. Primeira onda ou fase ....................................................................................... 25
6.3. Segunda onda ou fase ........................................................................................ 26
6.5. Terceira onda ou fase ........................................................................................ 27
7. O concilio do Vaticano II ...................................................................................... 29
7.1. O concilio do Vaticano 2 e os protestantes ...................................................... 29
8. Os Concílios de Medelin e de Puebla. .................................................................. 36
8.1. As conferências gerais do episcopado latino americano ............................... 36
8.2. Segunda conferência geral - Medellín/Colômbia 1968 .................................. 36
8.3. Terceira conferência geral – Puebla/Los Angeles 1979.................................. 37
DESENVOLVIMENTO
INTRODUÇÃO
Heródoto, um grego que viveu no século V antes de Cristo, considerado o pai da história,
recomendava “pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro“. Para
ele conhecer o passado ajudaria a compreender o presente e imaginar o futuro. Outro
pensador, Américo Ribeiro acrescenta: “É preciso conhecer o passado para bem viver o
presente e construir um novo futuro. ” Seguindo a mesma linha, Confúcio dizia “Se
queres prever o futuro, estude o passado”.
A igreja tem passado por grandes mudanças, umas boas e outras nem tanto, e a tendência
é que ainda muito mais mudanças ocorra. Mas nada é obra do acaso ou acontece de
repente. Talvez estas mudanças tenham sido pensadas no passado, talvez o futuro tenha
sido desenhado lá.
Assim, conhecer o histórico do cristianismo em nosso continente e pais pode ser muito
útil para entender estas tendências, visualizar os rumos que a igreja tem tomado bem como
ajudar a nos orientar quanto às nossas decisões no futuro.
A Igreja Católica está presente na história brasileira desde a chegada dos portugueses,
contribuindo para a formação cultural, artística, social e administrativa do país.
Você já se perguntou por que a maioria das cidades brasileiras foi construída em volta de
uma igreja? Ou por que grande parte dos feriados é dedicada a santos? Para tentar
responder a estas questões, é necessário entender a influência religiosa católica no Brasil.
Ainda no começo do século XXI, dentre as religiões professadas pela população
brasileira, o Catolicismo continua a ter o maior número de seguidores entre os habitantes
do país. Tal predominância é decorrente da presença da Igreja Católica em toda a
formação histórica brasileira.
Mas, para entendermos melhor precisamos interromper neste ponto e voltar um pouco na
história até o século XVI, mais precisamente no dia 31 de outubro de 1517, quando o
então monge católico Martinho Lutero afixaria na catedral de Westminster suas 95 teses,
o que deu origem à reforma protestante.
O Concílio de Trento foi uma assembleia convocada pelo papa Paulo III (1468-1549),
que reuniu lideranças religiosas católicas entre 1545 e 1563. O concílio tem lugar numa
época crucial para a Igreja Católica, que ocorre após o fim da Idade Média e expansão do
Renascimento e da fé protestante em determinados pontos da Europa.
1.2.1. Causas
O poder quase absoluto da fé católica na Europa vinha sofrendo confronto direto a
partir Reforma a Igreja Católica precisa contra-atacar. Para conter a proliferação do
protestantismo, mais afeito aos interesses de uma classe burguesa em ascensão no
continente, católicos precisavam de novos planos e estratégias.
O principal objetivo desse encontro era discutir reformas que pudessem fortalecer o poder
da Igreja Católica e combater o avanço protestante. Quando falamos em “assembleia” ou
reunião nos dias de hoje, nos referimos a algo que dure semanas ou, no máximo, meses.
Divergências políticas, interrupções fortuitas, trocas papais – tudo isso arrastou o concílio
por duas décadas até que as mudanças fundamentais pudessem ser aprovadas, em favor
do “controle” do avanço protestante.
O Index librorum prohibitorum existiu até 1966, quando foi extinto pelo Vaticano. Sua
última atualização, feita em 1948, abrangia cerca de quatro mil obras, entre elas clássicos
dos maiores sociólogos, filósofos, escritores e cientistas do conhecimento ocidental,
como Voltaire, Immanuel Kant, Alexandre Dumas, Victor Hugo, Honoré de Balzac, Jean
Paul-Sartre, entre muitos outros.
A Igreja também instituiu o Tribunal do Santo Ofício – o órgão que deu origem
à Inquisição. Atos considerados contrários à fé católica eram julgados e punidos, com
total legitimidade da maioria dos monarcas europeus da época.
Sempre que havia suspeitas de heresia ou de condutas condenáveis pelos valores cristãos,
acusados eram levados a depor num tribunal. As penas, quase sempre confirmadas pelos
juízes, envolviam a perda de bens, o exílio, a prisão, a tortura e a morte pela fogueira,
evisceração e outros métodos, sempre públicos, chocantes e exemplares para a população.
1.3. A contrarreforma
O reformismo iniciado por Lutero e propagado por toda a Europa provocou a reação da
Igreja de Roma, que tratou de promover reformas no sentido de reafirmar os princípios
fundamentais da moral católica, a chamada Contrarreforma.
Exemplo dessa contribuição é atestado pela criação da Companhia de Jesus por Inácio de
Loyola, nobre que doou seu patrimônio para a Igreja e organizou o grupo que seria
conhecido como o “Exército de Cristo” da Contrarreforma.
Além de reconhecer a Companhia de Jesus, a Igreja, por meio do papa Paulo III, convocou
o Concílio de Trento (de 1545 a 1563), que, após dezoito anos de trabalho, decidiu:
Assim, a Igreja Católica se preparava para enfrentar os novos tempos na Europa. Apesar
de utilizar métodos repressivos para fazer valer sua hegemonia, numa época em que
o Renascimento cultural apontava para o humanismo, para uma nova relação entre o
homem e Deus, as decisões do Concílio de Trento serviram para orientar os católicos por
quase quatrocentos anos.
A Inquisição realizou torturas e enviou muitas pessoas para a fogueira. Do lado dos
protestantes, a situação não foi diferente, pois católicos também eram perseguidos,
torturados e mortos
Vários outros grupos de clérigos católicos vieram também à colônia portuguesa com a
missão principal de evangelizar os indígenas, como as ordens dos franciscanos e das
carmelitas, levando a eles a doutrina católica. Esse processo se interligou às próprias
necessidades dos interesses mercantis e políticos europeus no Brasil, como base
ideológica da conquista e colonização das novas terras.
Nas artes, a mais notória influência da Igreja Católica na história do Brasil foram as
produções artísticas barrocas, que tiveram como principal expoente o artista plástico
Aleijadinho. Essas obras podem ser encontradas nas cidades de Salvador, Diamantina,
Ouro Preto, Recife e Olinda. Por outro lado, o contato do catolicismo com as religiões
africanas produziu sincretismos religiosos, uma mescla das religiões que originou o
candomblé, por exemplo.
As relações entre Igreja Católica e Estado foram estreitas no Brasil tanto na colônia
quanto no Império, pois, além de garantir a disciplina social dentro de certos limites, a
igreja também executava tarefas administrativas que hoje são atribuições do Estado, como
o registro de nascimentos, mortes e casamentos. Contribuiu ainda a Igreja com a
manutenção de hospitais, principalmente as Santas Casas. Em contrapartida, o Estado
nomeava bispos e párocos, além de conceder licenças à construção de novas igrejas.
1.4.2. Marquês de Pombal
O cenário mudou com a nomeação do Marquês de Pombal, que afastou a influência da
Igreja Católica da administração do Estado. Após sua morte, os laços voltaram a se
estreitar, perpassando por todo o período imperial brasileiro no século XIX. Com a
proclamação da República em 1889, houve a separação formal entre Estado e Igreja
Católica, mas sua presença continuou ainda viva, como comprova a existência de várias
festas e feriados nacionais, como as festas juninas e o feriado de 12 de outubro, dia de
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país.
Nos séculos 16 e 17, duas regiões do Brasil foram invadidas por nações europeias: a
França e a Holanda. Muitos dos invasores eram protestantes, o que provocou forte reação
dos portugueses numa época em que estava em pleno curso a Contrarreforma, ou seja, o
esforço da Europa católica no sentido de deter e mesmo suprimir o protestantismo. O
esforço pela expulsão dos invasores fortaleceu a consciência nacional, mas ao mesmo
tempo aumentou o isolamento do Brasil.
Os calvinistas tiveram uma preocupação missionária em relação aos índios, mas pouco
puderam fazer por eles. Léry expressou atitudes contraditórias que provavelmente eram
típicas dos seus companheiros: embora interessado na situação espiritual dos indígenas,
a relutância dos mesmos em aceitar a fé cristã o levou a concluir que eles talvez
estivessem entre os não-eleitos. A França Antártica entrou para a história como a primeira
tentativa de se estabelecer uma igreja e um trabalho missionário protestante na América
Latina.
Em 1630 a Companhia das Índias Ocidentais tomou Recife e Olinda e dentro de cinco
anos apossou-se de grande parte do nordeste brasileiro. O maior líder do Brasil holandês
foi o príncipe João Maurício de Nassau-Siegen, que governou por apenas sete anos (1637-
1644). Ele foi notável administrador e incentivador das ciências e das artes. Concedeu
uma boa medida de liberdade religiosa aos habitantes católicos e judeus do Brasil
holandês.
Os holandeses criaram sua própria igreja estatal nos moldes da Igreja Reformada da
Holanda. Durante os 24 anos de dominação, foram organizadas 22 igrejas e congregações,
dois presbitérios e um sínodo. As igrejas foram servidas por mais de 50 pastores
(“predicantes”), além de pregadores auxiliares (“proponentes”) e outros oficiais. Havia
também muitos “consoladores dos enfermos” e professores de escolas paroquiais.
As igrejas destacaram-se pela sua atuação beneficente e sua ação missionária junto aos
índios. Havia planos de preparação de um catecismo, tradução da Bíblia e ordenação de
pastores indígenas. Todavia, levados por considerações econômicas e agindo contra as
suas convicções religiosas, os holandeses mantiveram intacto o sistema de escravidão
negra, ainda que tenham concedido alguns direitos aos escravos.
Após alguns anos de divergências com os diretores da Companhia das Índias Ocidentais,
Maurício de Nassau renunciou em 1644 e no ano seguinte começou a revolta dos
portugueses e brasileiros contra os invasores, que finalmente foram expulsos em 1654.
No restante do período colonial, o Brasil manteve-se isolado, sendo inteiramente vedada
a entrada de protestantes. Porém, com a transferência da família real portuguesa, em 1808,
abriram-se as portas do país para a entrada legal dos primeiros protestantes (anglicanos
ingleses).
3. As ordens religiosas na América Latina.
Com Tomé de Sousa vieram os primeiros membros de uma nova ordem religiosa católica
que havia sido oficializada recentemente (1540) – a Sociedade de Jesus ou os jesuítas.
Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e seus companheiros foram os primeiros
missionários e educadores do Brasil colonial. Essa ordem iria atuar ininterruptamente no
Brasil durante 210 anos (1549-1759), exercendo enorme influência sobre sua história
religiosa e cultural. Muitos jesuítas foram defensores dos índios, como o afamado padre
Antônio Vieira (1608-97). Ao mesmo tempo, eles se tornaram os maiores proprietários
de terras e senhores de escravos do Brasil colonial.
3.1. Franciscanos
Destacaram-se mais no 1º século. Em 1532 a ordem já tinha uma província autônoma no
México. No século XVI formavam quase 200 conventos e residências nas Antilhas e
América Central.
Na ordem franciscana os destaques são o Frei Francisco Jimenez de Cisneiros, Frei Pedro
de Gante e Frei Toríbio de Renavente, conhecido como Motolinia.
3.2. Dominicanos
Chegaram a América em 1510 e foram se expandindo pelo México, América Central,
Nova Granada e Peru. Em fins do século XVI já tinham mais de 300 conventos no
México, 30 na Nova Granada e mais de 150 postos de evangelização dos índios.
Os dominicanos muito se destacaram pela sua intensa defesa do índio. Criaram postos de
evangelização, colégios, reduções e se destacam pelos métodos de ensino ou por sua
pedagogia. Se destacam também como construtores de Igrejas
Na ordem dominicana merece destaque o Frei Bartolomeu de Las Casas e São Luís
Beltrão.
3.3. Agostinianos
Chegaram à América em 1535 e em fins do século XVI já tinham duas províncias e mais
de 70 conventos no México e também já tinham se estendido para o sul, chegando até o
Chile.
3.4. Os Mercedários:
Chegaram a São Domingos em 1514, em 1530 já estavam ao México e, em 1538,
chegaram à Nova Guatemala. Em 1536 chegaram ao Peru e em 1560 Cuzco tornou-se
uma província autônoma.
A ordem fundada por Santo Inácio de Loyola já nasceu voltada para a missão. No
princípio não foram aceitos nem por Carlos V, de Espanha e nem pelo Felipe II. Em 1567
chegaram os primeiros Jesuítas a Florida.
Quando chegaram à América, as regiões mais populosas já estavam ocupadas por outras
ordens, por isso mesmo tiveram de buscar os lugares mais distantes. Foi assim que
penetraram o Rio Orinoco antes mesmo dos conquistadores.
Os jesuítas fundaram missões, colégios e reduções e aqui o destaque fica com São Pedro
Claver (U1654).
Capuchinhas (1665)
Ordem Concepcionista (1570)
Clarissas (1570)
Dominicanas (1575)
Jerônimas (1585)
Agostinianas (1598)
Carmelitas Descalças (1748)
3.6. Ordens religiosas no Brasil
Os franciscanos foram os primeiros que para cá vieram, junto com a esquadra de Pedro
Álvares Cabral, mas não permanecera e só em 1587 se fundou o convento de Salvador e
depois, em 1607 fundou-se o convento no Rio de Janeiro que se torna custodia em 1657.
Das ordens religiosas consideradas grandes a que mais se expandiu pelo Brasil foi a
dos Jesuítas. O primeiro grupo chegou ao Brasil em 1549 com Tomé de Souza, o
primeiro Governador Geral e, em 1553, se formou a primeira província tendo o padre
Manoel de Nóbrega como superior. Os filhos de Santo Inácio se expandiram por todo o
litoral e em 1622 já eram mais de 180 consagrados.
Mas por outro lado sofriam uma rejeição do clero diocesano por disporem de mais
recursos materiais e humanos e por gozarem de melhor situação, além de ocuparem postos
privilegiados na geografia das colônias e gozarem de muitas isenções.
Outra causa de conflitos que ainda hoje perduram está na liberdade que os religiosos
possuem de arrebanhar vocações, não gozando dos limites impostos pelas divisões
territoriais de paróquias e dioceses.
4. A Diversificação do cristianismo nas Monarquias (1822 -1889)
Em junho de 1827, por iniciativa do cônsul da Prússia, Wilhelm von Theremin, foi criada
no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, congregando luteranos e
calvinistas, cujo primeiro pastor foi Ludwig Neumann. Em 1837, o primeiro santuário
passou a funcionar em um edifício alugado, sendo o edifício próprio inaugurado em 1845.
Por falta de ministros ordenados, os primeiros luteranos organizaram sua própria vida
religiosa. Elegeram leigos para serem pastores e professores, os “pregadores-colonos”.
Todavia, na década de 1850, a Prússia e a Suíça “descobriram” os alemães do sul do
Brasil e começaram a enviar-lhes missionários e ministros. Isso criou uma igreja mais
institucional e europeia.
Em 1868, o Rev. Hermann Borchard, que havia chegado em 1864, e outros colegas
fundaram o Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul, que foi
extinto em 1875. Em 1886, o Rev. Wilhelm Rotermund (chegado em 1874), organizou o
Sínodo Rio-Grandense, que se tornou modelo para outras organizações similares. Até o
final da II Guerra Mundial as igrejas luteranas permaneceram culturalmente isoladas da
sociedade brasileira.
Uma consequência importante da imigração protestante é o fato de que ela ajudou a criar
as condições que facilitaram a introdução do protestantismo missionário no Brasil. O
autor Erasmo Braga observou que, à medida que os imigrantes alemães exigiam garantias
legais de liberdade religiosa, estadistas liberais criaram “a legislação avançada que,
durante o longo reinado de D. Pedro II, protegeu as missões evangélicas da perseguição
aberta e até mesmo colocou as comunidades não católicas sob a proteção das autoridades
imperiais” (The Republic of Brazil, p. 49). Em 1930, de uma comunidade protestante de
700 mil pessoas no país, as igrejas imigrantes tinham aproximadamente 300 mil filiados.
A maior parte estava ligada à Igreja Evangélica Alemã do Brasil (215 mil) e vivia no Rio
Grande do Sul.
Daniel P. Kidder foi uma figura importante dos primórdios do protestantismo brasileiro.
Ele viajou por todo o país, vendeu Bíblias e manteve contatos com intelectuais e políticos
destacados, como o padre Diogo Antônio Feijó, regente do império (1835-1837). Kidder
escreveu o livro Reminiscências de viagens e permanência no Brasil, publicado em 1845,
um clássico que despertou grande interesse pelo Brasil.
James Cooley Fletcher (1823-1901) era pastor presbiteriano. Estudou no Seminário de
Princeton e na Europa, e se casou com uma filha de César Malan, teólogo calvinista de
Genebra. Chegou ao Brasil em 1851 como o novo capelão da Sociedade dos Amigos dos
Marinheiros e como missionário da União Cristã Americana e Estrangeira. Atuou como
secretário interino da legação americana no Rio de Janeiro e foi o primeiro agente oficial
da Sociedade Bíblica Americana. Foi um promotor entusiasta do protestantismo e do
“progresso”. Escreveu O Brasil e os brasileiros, publicado em 1857, uma versão
atualizada da obra de Kidder.
Robert Reid Kalley (1809-1888) era natural da Escócia. Estudou medicina e foi trabalhar
como missionário na Ilha da Madeira (1838). Oito anos depois, escapou de uma violenta
perseguição e foi com seus paroquianos para os Estados Unidos. Fletcher sugeriu que ele
fosse para o Brasil, onde Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley (1825-1907) chegaram
em maio de 1855. No mesmo ano, fundaram em Petrópolis a primeira escola dominical
permanente do país (19 de agosto). Em 11 de julho de 1858, Kalley fundou a Igreja
Evangélica, depois Igreja Evangélica Fluminense (1863), cujo primeiro membro
brasileiro foi Pedro Nolasco de Andrade. Kalley teve importante atuação na defesa da
liberdade religiosa (1859). Sua esposa foi autora do famoso hinário Salmos e hinos
(1861). A Igreja Fluminense aprovou sua base doutrinária, elaborada por Kalley, em 2 de
julho de 1876. No mesmo ano, o missionário voltou em definitivo para a Escócia. Os
estatutos da igreja foram aprovados pelo governo imperial em 22 de novembro de 1880.
A Igreja Metodista Episcopal (do sul dos Estados Unidos) enviou Junius E. Newman para
trabalhar junto aos imigrantes (1876). O primeiro missionário aos brasileiros foi John
James Ransom, que chegou em 1876 e dois anos depois organizou a primeira igreja no
Rio de Janeiro. A professora Martha Hite Watts iniciou uma escola para moças em
Piracicaba (1881). A partir de 1880, a I.M.E. do norte dos EUA enviou obreiros ao norte
do Brasil (William Taylor, Justus H. Nelson) e ao Rio Grande do Sul. A Conferência
Anual Metodista foi organizada em 1886 pelo bispo John C. Granbery, com a presença
de apenas três missionários.
Os primeiros missionários da Igreja Batista, Thomas Jefferson Bowen e sua esposa (1859-
1861), não foram bem sucedidos. Em 1871, os imigrantes batistas de Santa Bárbara
organizaram duas igrejas. Os primeiros missionários junto aos brasileiros foram William
Buck Bagby, Zachary Clay Taylor e suas esposas (chegados em 1881-1882). O primeiro
membro e pastor batista brasileiro foi o ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque,
que já estivera ligado aos metodistas. Em 1882 o grupo fundou a primeira igreja brasileira
em Salvador, na Bahia. A Convenção Batista Brasileira foi criada em 1907.
A separação entre a igreja e o estado foi efetivada pelo Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro
de 1890, que consagrou a plena liberdade de culto. Em fevereiro de 1891, a primeira
Constituição republicana confirmou a separação entre a igreja e o estado, bem como
proclamou outras medidas liberais como a plena liberdade de culto, o casamento civil
obrigatório e a secularização dos cemitérios. Sob influências liberais e positivistas, a
Constituição omitiu o nome de Deus, afirmando assim a caráter não religioso do novo
regime, e a Igreja Católica foi colocada em pé de igualdade com todos os outros grupos
religiosos; a educação foi secularizada, sendo a religião omitida do novo currículo. Em
uma carta pastoral de março de 1890, os bispos deram as boas-vindas à República, mas
também repudiaram a separação entre a igreja e o estado.
A partir de então, a Igreja teve duas grandes preocupações: obter o apoio do Estado e
aumentar a sua influência na sociedade. Um dos primeiros passos foi fortalecer a estrutura
interna da igreja: criaram-se novas estruturas eclesiásticas (dioceses, arquidioceses, etc.)
e fundaram-se novos seminários. Foi incentivada a vinda de muitos religiosos
estrangeiros para o Brasil (capuchinhos, beneditinos, carmelitas, franciscanos). A igreja
também manteve sua firme oposição contra a modernidade, o protestantismo, a maçonaria
e outros movimentos.
Dois grandes líderes foram especialmente influentes nesse esforço renovador: primeiro,
o padre Júlio Maria, que desde 1890 até sua morte em 1916 foi muito ativo como pregador
e escritor, visando mobilizar a igreja e tornar o Brasil verdadeiramente católico. Ainda
mais notável foi D. Sebastião Leme da Silveira Cintra (1882-1942), o líder responsável
pela orientação e mobilização da Igreja Católica brasileira na primeira metade do século
20, como arcebispo de Olinda e Recife (1916-21), coadjutor no Rio de Janeiro (1921-30)
e cardeal arcebispo do Rio até a sua morte.
Os ingleses fundaram missões para atuar na América do Sul: Help for Brazil (criada em
1892 por iniciativa de Sarah Kalley e outros), South American Evangelical Mission
(Argentina) e Regions Beyond Missionary Union (Peru). Após a Conferência de
Edimburgo (1910), essas missões vieram a constituir a União Evangélica Sul-Americana
– UESA (1911). Dos seus esforços, surgiu no Brasil a Igreja Cristã Evangélica.
Duas questões candentes da época foram o ecumenismo e a postura social. A igreja enviou
representantes à assembleia do Conselho Mundial de Igreja em Amsterdã (1948) e
observadores a outras assembleias. Missionários como Richard Shaull deram ênfase a
questões sociais, influenciando os seminários e a mocidade da igreja. O Supremo Concílio
de 1962 realizou um importante pronunciamento social.
Houve uma forte reação conservadora no Supremo Concílio de 1966, em Fortaleza, com
a eleição de Boanerges Ribeiro, reeleito em 1970 e 1974. As principais preocupações do
período foram a ortodoxia, a evangelização e a rejeição do ecumenismo. Multiplicaram-
se os processos contra pastores, igrejas locais e concílios.
Nessa época surgiram alguns grupos dissidentes, como o Presbitério de São Paulo e a
Aliança de Igrejas Reformadas (1974), que defendiam maior flexibilidade doutrinária.
Em setembro de 1978, na cidade de Atibaia, foi criada a Federação Nacional de Igrejas
Presbiterianas (FENIP).
Os universitários e estudantes de teologia pleiteavam uma igreja mais voltada para a ação
social e a política. A ênfase na justiça social dominou a Junta Geral de Ação Social
(Robert Davis, Almir dos Santos) e a Faculdade de Teologia. Dom Helder Câmara
paraninfou a turma de 1967. No ano seguinte, uma greve levou ao fechamento da
Faculdade e à sua reestruturação.
O movimento pentecostal de hoje traça seus vestígios da sua comunidade a uma reunião
de oração no Colégio Bíblico Betel, na cidade de Topeka, estado do Kansas, nos Estados
Unidos, em 1° de janeiro de 1901.[5] Ali, muitos chegaram à conclusão de que falar em
línguas era o sinal bíblico do Batismo no Espírito Santo. Charles Parham foi o fundador
desta escola, que mais tarde iria para a cidade de Houston, no Texas. Apesar da
segregação racial em Houston, William J. Seymour, um pregador negro, foi autorizado a
assistir a aulas bíblicas de Parham. Seymour viajou para Los Angeles, onde sua pregação
provocou o Avivamento da Rua Azusa em 1906. Apesar do trabalho de vários grupos
wesleyanos avivalistas, como Parham e D. L. Moody, o início do movimento pentecostal
difundido nos Estados Unidos, é geralmente considerado como tendo começado com
Seymour no avivamento da rua Azusa.[6]
Além desse elemento, as igrejas criadas no contexto da segunda onda abandonam a lógica
sectária de isolamento e estabelecem diretrizes agressivas de recrutamento de fiéis. Fazem
isso, seja por meio do proselitismo de “porta em porta” ou pela realização de cerimônias
itinerantes em espaços públicos, seja pelo uso massivo do rádio como ferramenta de
evangelização.
Como mostra Mariano (1999), aos princípios pentecostais básicos, as igrejas da terceira
onda agregam um conjunto muito maior de elementos litúrgicos e doutrinários, quando
comparado com as da segunda onda —embora mantenham com firmeza a ênfase na cura
divina. Vejamos: investem pouco na limitação moral da conduta cotidiana do fiel
(principalmente nos aspectos referentes a vestuário e consumo); afastam-se radicalmente
do ascetismo de rejeição do mundo que caracterizara a primeira onda e já perdera terreno
na segunda; fazem uso intenso do proselitismo via rádio e televisão; buscam espaço na
política partidária, apoiados no princípio de que os homens de Deus devem se acercar do
poder para o bem da sociedade; enfatizam e estimulam o que denominam como guerra
espiritual contra o diabo, o que remete ao combate às demais religiões, com atenção
especial para àquelas de matriz afro-brasileira e, por fim, mas não menos importante,
representam a composição de interpretações específicas da doutrina cristã em direção ao
que a literatura tem denominado como “teologia da prosperidade” (Mariano 1996 e 1999).
Esse último aspecto constitui uma inovação doutrinária de peso, embora não seja uma
criação nacional. De fato, a teologia da prosperidade, ou “confissão positiva”, como
também é conhecida nos Estados Unidos, aparece naquele país nos anos 1940 (Mariano
1996) entre pregadores com inclinação pentecostal. A partir desse ponto é retrabalhada
por diversos agentes religiosos e denominações pentecostais, espalha-se pelo país e atinge
até mesmo outras nações. (OpenEdition)
Macedo viveu nos Estados Unidos de 1986 a 1989. Quando voltou ao Brasil, transferiu a
sede da igreja para São Paulo e adquiriu a Rede Record de Televisão. Em 1990 a IURD
elegeu três deputados federais. Macedo esteve preso por doze dias em 1992, sob a
acusação de estelionato, charlatanismo e curandeirismo
6.5.2. As Igrejas renovadas
Em paralelo ao crescimento do chamado neopentecostal ismo verificou-se, também, um
importante movimento de “pentecostalização” nas igrejas protestantes de missão ou
tradicionais —fenômeno que ficou conhecido como “renovação”. Isso gerou a criação de
novas instituições religiosas a partir do rompimento com a Igreja Presbiteriana e com a
Igreja Batista, principalmente. O resultado disso foi uma série de novas igrejas que
inseriam a indicação “renovada” a suas denominações iniciais (por exemplo, Batista
Renovada e Presbiteriana Renovada).
Nesse ponto, devemos voltar à tabela 3, na qual observamos que, nos 19 anos que separam
1991 e 2010, os evangélicos de missão permaneceram quase estagnados em números
relativos. Já os pentecostais mais do que dobraram. Chama atenção, porém, o crescimento
ainda mais profuso dos “evangélicos não determinados”, que multiplicam seu peso
relativo por 12 no mesmo período. (OpenEdition)
7. O concilio do Vaticano II
O Concílio Vaticano II foi uma reunião de autoridade dos bispos da Igreja Católica,
chamado de concílio ecumênico, realizado em Roma de 1962 a 1965. Houve 21 concílios
ecumênicos na história da Igreja, nos quais, de acordo com o Catecismo da Igreja
Católica, “o Colégio dos Bispos exerce de modo solene o poder sobre toda a Igreja no
Concílio Ecumênico”
O Concílio foi convocado para articular os ensinamentos da fé católica de uma forma que
pudessem ser entendidos na modernidade, para lidar com a relação da Igreja com o mundo
secular e para abordar algumas questões teológicas e pastorais que haviam surgido nas
décadas anteriores.