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DISCIPLINA: História Do Cristianismo Na América Latina

CURSO: Bacharel em Teologia


PROFESSOR: Elias Alves dos Santos

EMENTA
Abordar criticamente a história do cristianismo na América Latina, com destaque para o
Brasil, discutindo os diversos processos de evangelização. Visualizar a formação do
catolicismo e do protestantismo latino-americano, oferecendo instrumentos de análise
crítica para a leitura do cristianismo e da Igreja no continente, situando-os no seu contexto
social, político e econômico
OBJETIVOS
Compreender o papel histórico da Igreja na América Latina desde a invasão colonizadora
no século XV até a atualidade.
JUSTIFICATIVA
Como é desconfortável a um membro de uma igreja ver seu grupo sendo preterido diante
de outro; como é desconfortável ter que se calar diante de argumentações contrarias por
falta de conhecimento das raízes e da história de seu grupo. Sentimos nossas
argumentações enfraquecidas, mesmos que enriquecidas de conteúdo doutrinário bíblico
fidedigno, quando lhe falta bases históricas. Ao cristão que sabe explicar a distinção e o
porquê da distinção entre Católicos e Protestantes, seu histórico bem como as raízes e
razões das diferenças de estilos entre os diversos grupos pentecostais no pais terá muito
mais credibilidade durante a apresentação do Evangelho de Cristo. Como ensinava Pedro
“Saber responder com mansidão a todos que desejarem saber a razão da vossa fé” (1 Pd
3.15).
Nisto reside a importância desta disciplina, em seu conteúdo programático serão
apresentados estes e outros assuntos correlatos que visam dar ao aluno uma visão
panorâmica desta temática.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Sumário
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 4
1. A Igreja no Processo de Colonização ........................................................................ 4
1.1. A reforma protestante ......................................................................................... 4
1.2. O concilio de Trento ............................................................................................ 4
1.2.1. Causas ............................................................................................................... 5
1.2.2. Objetivo e decisões ........................................................................................... 5
j. Index: os livros proibidos do catolicismo........................................................... 6
1.2.3. Tribunal do Santo Ofício ................................................................................. 6
1.3. A contrarreforma ................................................................................................ 7
1.3.1. Consequências da Contrarreforma ................................................................ 7
1.4. A igreja Católica e a colonização do Brasil ....................................................... 8
1.4.1. Contribuições da igreja Católica no Brasil.................................................... 8
1.4.2. Marquês de Pombal ......................................................................................... 9
2. Os pequenos focos protestantes nas invasões franco-holandesas. ...................... 9
2.1. Os franceses na Guanabara (1555-1567) ........................................................... 9
2.2. Os holandeses no Nordeste (1630-1654) .......................................................... 10
3. As ordens religiosas na América Latina.............................................................. 11
3.7. Por que os religiosos? ........................................................................................ 13
4. A Diversificação do cristianismo nas Monarquias (1822 -1889) ....................... 14
4.1. Protestantismo de imigração ............................................................................ 15
4.2. Protestantismo missionário (1835-1889).......................................................... 16
5. O Cristianismo nos Regimes Republicanos. ....................................................... 18
5.1. Católicos e protestantes ..................................................................................... 19
5.2. Progressistas x conservadores .......................................................................... 19
5.3. Denominações históricas (1889-1964) .............................................................. 20
5.4. Denominações Históricas (após 1964) .............................................................. 23
6. O Nascimento dos Movimentos Pentecostais. ..................................................... 24
6.1. Igrejas pentecostais e neopentecostais ............................................................. 25
6.2. Primeira onda ou fase ....................................................................................... 25
6.3. Segunda onda ou fase ........................................................................................ 26
6.5. Terceira onda ou fase ........................................................................................ 27
7. O concilio do Vaticano II ...................................................................................... 29
7.1. O concilio do Vaticano 2 e os protestantes ...................................................... 29
8. Os Concílios de Medelin e de Puebla. .................................................................. 36
8.1. As conferências gerais do episcopado latino americano ............................... 36
8.2. Segunda conferência geral - Medellín/Colômbia 1968 .................................. 36
8.3. Terceira conferência geral – Puebla/Los Angeles 1979.................................. 37
DESENVOLVIMENTO

INTRODUÇÃO

Heródoto, um grego que viveu no século V antes de Cristo, considerado o pai da história,
recomendava “pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro“. Para
ele conhecer o passado ajudaria a compreender o presente e imaginar o futuro. Outro
pensador, Américo Ribeiro acrescenta: “É preciso conhecer o passado para bem viver o
presente e construir um novo futuro. ” Seguindo a mesma linha, Confúcio dizia “Se
queres prever o futuro, estude o passado”.
A igreja tem passado por grandes mudanças, umas boas e outras nem tanto, e a tendência
é que ainda muito mais mudanças ocorra. Mas nada é obra do acaso ou acontece de
repente. Talvez estas mudanças tenham sido pensadas no passado, talvez o futuro tenha
sido desenhado lá.
Assim, conhecer o histórico do cristianismo em nosso continente e pais pode ser muito
útil para entender estas tendências, visualizar os rumos que a igreja tem tomado bem como
ajudar a nos orientar quanto às nossas decisões no futuro.

1. A Igreja no Processo de Colonização

A Igreja Católica está presente na história brasileira desde a chegada dos portugueses,
contribuindo para a formação cultural, artística, social e administrativa do país.
Você já se perguntou por que a maioria das cidades brasileiras foi construída em volta de
uma igreja? Ou por que grande parte dos feriados é dedicada a santos? Para tentar
responder a estas questões, é necessário entender a influência religiosa católica no Brasil.
Ainda no começo do século XXI, dentre as religiões professadas pela população
brasileira, o Catolicismo continua a ter o maior número de seguidores entre os habitantes
do país. Tal predominância é decorrente da presença da Igreja Católica em toda a
formação histórica brasileira.

1.1. A reforma protestante

Mas, para entendermos melhor precisamos interromper neste ponto e voltar um pouco na
história até o século XVI, mais precisamente no dia 31 de outubro de 1517, quando o
então monge católico Martinho Lutero afixaria na catedral de Westminster suas 95 teses,
o que deu origem à reforma protestante.

Todos os esforços no sentido de para Lutero fracassaram e o movimento ganhou amplo


apoio popular e de pessoas poderosas, crescendo assustadoramente quebrando a
hegemonia da igreja Católica.
1.2. O concilio de Trento

O Concílio de Trento foi uma assembleia convocada pelo papa Paulo III (1468-1549),
que reuniu lideranças religiosas católicas entre 1545 e 1563. O concílio tem lugar numa
época crucial para a Igreja Católica, que ocorre após o fim da Idade Média e expansão do
Renascimento e da fé protestante em determinados pontos da Europa.
1.2.1. Causas
O poder quase absoluto da fé católica na Europa vinha sofrendo confronto direto a
partir Reforma a Igreja Católica precisa contra-atacar. Para conter a proliferação do
protestantismo, mais afeito aos interesses de uma classe burguesa em ascensão no
continente, católicos precisavam de novos planos e estratégias.

Um concílio é uma espécie de assembleia constituída de autoridades eclesiásticas – o


papa, cardeais, arcebispos e outros clérigos de alta patente – com o objetivo de discutir e
deliberar sobre a doutrina, costumes e questões pastorais e eclesiásticas.

1.2.2. Objetivo e decisões

O principal objetivo desse encontro era discutir reformas que pudessem fortalecer o poder
da Igreja Católica e combater o avanço protestante. Quando falamos em “assembleia” ou
reunião nos dias de hoje, nos referimos a algo que dure semanas ou, no máximo, meses.

O Concílio de Trento estendeu-se por quase vinte anos – de 13 de dezembro de 1545 a 4


de dezembro de 1563. E, à parte de sua importância, a realidade é que antes de Trento a
igreja já havia passado por 18 concílios em sua existência.

Divergências políticas, interrupções fortuitas, trocas papais – tudo isso arrastou o concílio
por duas décadas até que as mudanças fundamentais pudessem ser aprovadas, em favor
do “controle” do avanço protestante.

O Concílio de Trento foi responsável por rejeitar formalmente o protestantismo e


confirmar uma série de dogmas católicos:

a. A infalibilidade do papa para os católicos, trata-se do dogma segundo o qual o


papa não falha no exercício de suas funções, ou seja, não se engana em questões
relacionadas à fé e à moral. Em outras palavras, era reafirmado mais do que nunca
o poder absoluto e inquestionável do papado.
b. A permanência do latim como língua oficial para cultos e textos bíblicos – o que
criava um distanciamento óbvio em relação aos fiéis e a classe clerical.
c. A continuidade do celibato (proibição do casamento para os membros do clero).
d. A conservação do culto à Virgem Maria e aos santos. Em oposição ao
protestantismo, os santos ofereciam e ainda oferecem uma maneira óbvia de
celebrar e conceder prestígio a regiões e estados onde a fé cristã é comum.
e. A validade dos sete sacramentos para a salvação da alma (batismo, crisma,
eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio). O que garantia
à igreja o acompanhamento dos fiéis por toda a sua vida.
f. E a condenação da venda de indulgências ou cargos religiosos – que oferecia uma
saída plausível para a punição de padres e monges que haviam se tornado
simpatizantes ou praticantes dos dogmas protestantes.
g. O Concílio também estabeleceu as bases para o catecismo (fundamentos para a
educação cristã de crianças e jovens) e para a construção de seminários.
Novamente, era preciso que a igreja garantisse que seu próprio contingente fosse
“incorruptível”, e que absorvesse todos os elementos fundamentais do
catolicismo, refutando tudo o que remetesse ao protestantismo.
h. Além disso, o Concílio de Trento organizou o Index librorum prohibitorum e
reativou a Santa Inquisição por meio do Tribunal do Santo Ofício.
i. Outra consequência importante do concílio foram as bases para a ampliação do
poder Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada pelo espanhol Inacio de
Loyola, em 1540. Os jesuítas seriam os responsáveis principais pela expansão do
catolicismo e “monopólio” da fé em praticamente todas as colônias portuguesas e
espanholas.
j. Index: os livros proibidos do catolicismo

Conforme as medidas tomadas pelo Concílio de Trento, o papa Paulo IV (1476-1559)


elaborou, em 1559, o Index librorum prohibitorum, uma lista dos “livros proibidos”.

Inicialmente utilizada para censurar os textos dos reformadores e conter o avanço do


protestantismo, a lista logo mostrou-se uma ferramenta conveniente para conter a
popularidade de filósofos e romancistas que apregoavam valores contrários ao da igreja
tradicional. Autores tinham seus exemplares queimados ou arrestados e eram levados a
julgamento.

Em 1571, o papa Pio V (1504-1572) criou a Sagrada Congregação do Índice, cujo


objetivo era analisar e incluir novos livros na lista do Index, atualizando-a sempre que
necessário.

Galileu Galilei, Nicolau Maquiavel, Erasmo de Rotterdam, Nicolau Copérnico – todos


eram nomes presentes na lista da igreja. As acusações contra as obras e os autores
apontavam para práticas de heresia, deficiências morais e oposição a valores divinos.

O Index librorum prohibitorum existiu até 1966, quando foi extinto pelo Vaticano. Sua
última atualização, feita em 1948, abrangia cerca de quatro mil obras, entre elas clássicos
dos maiores sociólogos, filósofos, escritores e cientistas do conhecimento ocidental,
como Voltaire, Immanuel Kant, Alexandre Dumas, Victor Hugo, Honoré de Balzac, Jean
Paul-Sartre, entre muitos outros.

1.2.3. Tribunal do Santo Ofício

A Igreja também instituiu o Tribunal do Santo Ofício – o órgão que deu origem
à Inquisição. Atos considerados contrários à fé católica eram julgados e punidos, com
total legitimidade da maioria dos monarcas europeus da época.

Embora a Inquisição já existisse na Europa desde o século XII, a partir da Contrarreforma


a instituição ganhou recursos, prestígio e um poder quase ilimitado para perseguir, acusar,
“julgar” e eliminar qualquer suspeita de atentado contra o poder católico.

Sempre que havia suspeitas de heresia ou de condutas condenáveis pelos valores cristãos,
acusados eram levados a depor num tribunal. As penas, quase sempre confirmadas pelos
juízes, envolviam a perda de bens, o exílio, a prisão, a tortura e a morte pela fogueira,
evisceração e outros métodos, sempre públicos, chocantes e exemplares para a população.

O poder da Inquisição, que possuía braços independentes em diversas regiões, permitiu a


lideranças eclesiásticas locais estabelecer um pretexto para punir não apenas hereges e
ameaças protestantes, mas ciganos, curandeiros, desafetos e mesmo lideranças regionais,
por vezes sob o argumento conveniente de “bruxaria”.

1.3. A contrarreforma

Do concilio de Trento nasce o movimento católico de reação à Reforma; a


Contrarreforma.

O reformismo iniciado por Lutero e propagado por toda a Europa provocou a reação da
Igreja de Roma, que tratou de promover reformas no sentido de reafirmar os princípios
fundamentais da moral católica, a chamada Contrarreforma.

A Igreja Católica reagiu ao movimento reformador, pois perdia fiéis e patrimônio


rapidamente. A movimentação contra reformadora contou com a participação dos reinos
ibéricos católicos e com nobres que se mobilizaram em defesa da instituição.

Exemplo dessa contribuição é atestado pela criação da Companhia de Jesus por Inácio de
Loyola, nobre que doou seu patrimônio para a Igreja e organizou o grupo que seria
conhecido como o “Exército de Cristo” da Contrarreforma.

Os jesuítas tiveram participação ativa na luta contra a heresia protestante, sendo


reconhecidos e absorvidos pela estrutura da Igreja Católica. Sua importância não é dada
apenas pelo combate ao protestantismo, mas também pela ação missionária,
principalmente no Novo Mundo. A obra de catequese foi a evangelização das
comunidades indígenas, o que ampliou o número de fiéis da instituição.

Além de reconhecer a Companhia de Jesus, a Igreja, por meio do papa Paulo III, convocou
o Concílio de Trento (de 1545 a 1563), que, após dezoito anos de trabalho, decidiu:

• Reativar os Tribunais de Inquisição;


• Reconhecer o papa como suprema autoridade da Igreja;
• Criar seminários para formar sacerdotes;
• Confirmar os dogmas e as práticas da Igreja, como salvação pela fé e pelas obras,
presença real de Cristo na eucaristia, culto à Virgem Maria e aos santos, e os sete
Sacramentos;
• Redigir o Index Libro rum Prohibitorum: catálogo de livros de leitura proibida
aos católicos, por serem considerados perniciosos à fé
Quanto aos livros proibidos à leitura. Quem mantivesse em seu poder obra considerada
imprópria seria julgado pelo Tribunal de Santo Ofício, a Inquisição. Enquanto o mundo
protestante se alfabetizava e lia não apenas a Bíblia, mas também outras obras publicadas
graças ao advento da imprensa, o mundo católico submergia na ignorância dos
analfabetos, conduzidos pelas autoridades eclesiásticas.

1.3.1. Consequências da Contrarreforma

Assim, a Igreja Católica se preparava para enfrentar os novos tempos na Europa. Apesar
de utilizar métodos repressivos para fazer valer sua hegemonia, numa época em que
o Renascimento cultural apontava para o humanismo, para uma nova relação entre o
homem e Deus, as decisões do Concílio de Trento serviram para orientar os católicos por
quase quatrocentos anos.

A Inquisição realizou torturas e enviou muitas pessoas para a fogueira. Do lado dos
protestantes, a situação não foi diferente, pois católicos também eram perseguidos,
torturados e mortos

Deve-se ressaltar o significativo papel das monarquias católicas de Portugal e Espanha


na Contrarreforma, pois se mantiveram fiéis a Roma e ajudaram na propagação do
catolicismo para boa parte da América, porém, a estagnação cultural e econômica foi
elemento comum nos espaços em que a Contrarreforma teve êxito.

1.4. A igreja Católica e a colonização do Brasil

A chegada de membros do clero católico ao território brasileiro foi simultânea ao processo


de conquista das terras do Brasil, já que o reino português tinha estreitas relações com a
Igreja Católica Apostólica Romana. A missa celebrada na chegada de Pedro Álvares
Cabral, em 1500, foi imortalizada por Victor Meirelles no quadro Primeira Missa no
Brasil. A presença da Igreja Católica começou a se intensificar a partir de 1549 com a
chegada dos jesuítas da Companhia de Jesus, que formaram vilas e cidades, cujo caso
mais célebre é a cidade de São Paulo.

Vários outros grupos de clérigos católicos vieram também à colônia portuguesa com a
missão principal de evangelizar os indígenas, como as ordens dos franciscanos e das
carmelitas, levando a eles a doutrina católica. Esse processo se interligou às próprias
necessidades dos interesses mercantis e políticos europeus no Brasil, como base
ideológica da conquista e colonização das novas terras.

1.4.1. Contribuições da igreja Católica no Brasil


As consequências foram o aculturamento das populações indígenas e os esforços no
sentido de disciplinar, de acordo com os preceitos cristãos europeus, a população que aqui
habitava, principalmente através de ações educacionais.

Nas artes, a mais notória influência da Igreja Católica na história do Brasil foram as
produções artísticas barrocas, que tiveram como principal expoente o artista plástico
Aleijadinho. Essas obras podem ser encontradas nas cidades de Salvador, Diamantina,
Ouro Preto, Recife e Olinda. Por outro lado, o contato do catolicismo com as religiões
africanas produziu sincretismos religiosos, uma mescla das religiões que originou o
candomblé, por exemplo.

As relações entre Igreja Católica e Estado foram estreitas no Brasil tanto na colônia
quanto no Império, pois, além de garantir a disciplina social dentro de certos limites, a
igreja também executava tarefas administrativas que hoje são atribuições do Estado, como
o registro de nascimentos, mortes e casamentos. Contribuiu ainda a Igreja com a
manutenção de hospitais, principalmente as Santas Casas. Em contrapartida, o Estado
nomeava bispos e párocos, além de conceder licenças à construção de novas igrejas.
1.4.2. Marquês de Pombal
O cenário mudou com a nomeação do Marquês de Pombal, que afastou a influência da
Igreja Católica da administração do Estado. Após sua morte, os laços voltaram a se
estreitar, perpassando por todo o período imperial brasileiro no século XIX. Com a
proclamação da República em 1889, houve a separação formal entre Estado e Igreja
Católica, mas sua presença continuou ainda viva, como comprova a existência de várias
festas e feriados nacionais, como as festas juninas e o feriado de 12 de outubro, dia de
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país.

Contrariamente às diretrizes da direção da igreja, vários grupos religiosos atuaram


politicamente, lutando pelas melhorias das condições de vida da população explorada do
país. Existiram vários exemplos ao longo da história brasileira, entre eles, podemos citar
a Revolta de Canudos no fim do século XIX, ou mesmo no último quarto do século XX,
quando os grupos ligados à Teologia da Libertação conseguiram formar alguns
movimentos sociais, como o MST, através da ação nos Conselhos Eclesiais de Base
(CEB’s).

2. Os pequenos focos protestantes nas invasões franco-holandesas.

Nos séculos 16 e 17, duas regiões do Brasil foram invadidas por nações europeias: a
França e a Holanda. Muitos dos invasores eram protestantes, o que provocou forte reação
dos portugueses numa época em que estava em pleno curso a Contrarreforma, ou seja, o
esforço da Europa católica no sentido de deter e mesmo suprimir o protestantismo. O
esforço pela expulsão dos invasores fortaleceu a consciência nacional, mas ao mesmo
tempo aumentou o isolamento do Brasil.

2.1. Os franceses na Guanabara (1555-1567)


Em dezembro de 1555 chegou à baía de Guanabara uma expedição comandada por
Nicolas Durand de Villegaignon. O empreendimento contou com o apoio do almirante
Gaspard de Coligny (1519-1572), um simpatizante e futuro correligionário dos
protestantes franceses (huguenotes).

Inicialmente, Villegaignon se mostrou simpático à Reforma. Escreveu ao reformador


João Calvino, em Genebra, na Suíça, pedindo pastores e colonos evangélicos para sua
colônia. Uma segunda expedição chegou em 1557, trazendo um pequeno grupo de
huguenotes liderados pelos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier. Um integrante
da comitiva era Jean de Léry, que mais tarde se tornou pastor e escreveu o livro História
de uma viagem à terra do Brasil, publicado em Paris, em 1578. No dia 10 de março de
1557 esse grupo realizou o primeiro culto protestante da história do Brasil e das Américas.

Rapidamente surgiram divergências entre Villegaignon e os calvinistas acerca dos


sacramentos e de outras questões. O pastor Chartier foi enviado de volta para a França e
os colonos protestantes foram expulsos. O navio em que vários deles voltaram para a
França começou a apresentar problemas e cinco deles se ofereceram para retornar à terra:
Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon,, André Lafon e Jacques le Balleur.

Em resposta a uma série de perguntas apresentadas pelo comandante, esses homens


escreveram um belo documento, a Confissão de fé da Guanabara (1558). Três deles foram
executados por causa de suas convicções. André Lafon, o único alfaiate da colônia, teve
a vida poupada. Le Balleur fugiu para São Vicente, ficou encarcerado por vários anos em
Salvador, e finalmente foi levado para o Rio de Janeiro em 1567, sendo enforcado quando
os últimos franceses foram expulsos pelos portugueses.

Os calvinistas tiveram uma preocupação missionária em relação aos índios, mas pouco
puderam fazer por eles. Léry expressou atitudes contraditórias que provavelmente eram
típicas dos seus companheiros: embora interessado na situação espiritual dos indígenas,
a relutância dos mesmos em aceitar a fé cristã o levou a concluir que eles talvez
estivessem entre os não-eleitos. A França Antártica entrou para a história como a primeira
tentativa de se estabelecer uma igreja e um trabalho missionário protestante na América
Latina.

2.2. Os holandeses no Nordeste (1630-1654)


Em 1568 as Províncias Unidas dos Países Baixos tornaram-se independentes da Espanha.
A nova e próspera nação calvinista criou em 1621 a Companhia das Índias Ocidentais, na
época em que Portugal estava sob o domínio da Espanha (1580-1640). Em 1624 os
holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte.

Em 1630 a Companhia das Índias Ocidentais tomou Recife e Olinda e dentro de cinco
anos apossou-se de grande parte do nordeste brasileiro. O maior líder do Brasil holandês
foi o príncipe João Maurício de Nassau-Siegen, que governou por apenas sete anos (1637-
1644). Ele foi notável administrador e incentivador das ciências e das artes. Concedeu
uma boa medida de liberdade religiosa aos habitantes católicos e judeus do Brasil
holandês.

Os holandeses criaram sua própria igreja estatal nos moldes da Igreja Reformada da
Holanda. Durante os 24 anos de dominação, foram organizadas 22 igrejas e congregações,
dois presbitérios e um sínodo. As igrejas foram servidas por mais de 50 pastores
(“predicantes”), além de pregadores auxiliares (“proponentes”) e outros oficiais. Havia
também muitos “consoladores dos enfermos” e professores de escolas paroquiais.

As igrejas destacaram-se pela sua atuação beneficente e sua ação missionária junto aos
índios. Havia planos de preparação de um catecismo, tradução da Bíblia e ordenação de
pastores indígenas. Todavia, levados por considerações econômicas e agindo contra as
suas convicções religiosas, os holandeses mantiveram intacto o sistema de escravidão
negra, ainda que tenham concedido alguns direitos aos escravos.

Após alguns anos de divergências com os diretores da Companhia das Índias Ocidentais,
Maurício de Nassau renunciou em 1644 e no ano seguinte começou a revolta dos
portugueses e brasileiros contra os invasores, que finalmente foram expulsos em 1654.
No restante do período colonial, o Brasil manteve-se isolado, sendo inteiramente vedada
a entrada de protestantes. Porém, com a transferência da família real portuguesa, em 1808,
abriram-se as portas do país para a entrada legal dos primeiros protestantes (anglicanos
ingleses).
3. As ordens religiosas na América Latina.

A Ação Missionária da Igreja na América Latina desde o início do processo de


evangelização envolveu muitos agentes como protagonistas da implantação da fé em
nosso continente, mas entre todos precisamos destacar o trabalho redobrado das ordens
religiosas, sobretudo daquelas que são conhecidas como as grandes ordens, onde se
destacam os franciscanos, dominicanos, agostinianos e mercedários e, aqui entre nós no
Brasil, ganha relevo o trabalho dos jesuítas.

Um dos primeiros representantes oficiais do governo português a visitar o Brasil foi


Martim Afonso de Souza, em 1530. Três anos depois, foi implantado o sistema de
capitanias hereditárias, que, todavia, não foi bem-sucedido. Diante disso, Portugal
começou a nomear governadores-gerais, o primeiro dos quais foi Tomé de Sousa, que
chegou em 1549 e construiu Salvador, na Bahia, a primeira capital da colônia.

Com Tomé de Sousa vieram os primeiros membros de uma nova ordem religiosa católica
que havia sido oficializada recentemente (1540) – a Sociedade de Jesus ou os jesuítas.
Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e seus companheiros foram os primeiros
missionários e educadores do Brasil colonial. Essa ordem iria atuar ininterruptamente no
Brasil durante 210 anos (1549-1759), exercendo enorme influência sobre sua história
religiosa e cultural. Muitos jesuítas foram defensores dos índios, como o afamado padre
Antônio Vieira (1608-97). Ao mesmo tempo, eles se tornaram os maiores proprietários
de terras e senhores de escravos do Brasil colonial.

Neste artigo falamos um pouco de cada uma das grandes ordens.

3.1. Franciscanos
Destacaram-se mais no 1º século. Em 1532 a ordem já tinha uma província autônoma no
México. No século XVI formavam quase 200 conventos e residências nas Antilhas e
América Central.

Na província de Nova Granada tinham 12 conventos em 1583 e em 1535 formou-se a


primeira custodia no Peru e em 1553 fundou-se a primeira Província no Vice-Reino com
18 casas.

No ano de 1536 já estavam estabelecidos no Chile e Buenos Aires, sendo os primeiros a


passar a América onde se destacaram pelos seus colégios, conventos, reduções e pelo
trabalho dos missionários ambulantes.

Na ordem franciscana os destaques são o Frei Francisco Jimenez de Cisneiros, Frei Pedro
de Gante e Frei Toríbio de Renavente, conhecido como Motolinia.

3.2. Dominicanos
Chegaram a América em 1510 e foram se expandindo pelo México, América Central,
Nova Granada e Peru. Em fins do século XVI já tinham mais de 300 conventos no
México, 30 na Nova Granada e mais de 150 postos de evangelização dos índios.

Os dominicanos muito se destacaram pela sua intensa defesa do índio. Criaram postos de
evangelização, colégios, reduções e se destacam pelos métodos de ensino ou por sua
pedagogia. Se destacam também como construtores de Igrejas
Na ordem dominicana merece destaque o Frei Bartolomeu de Las Casas e São Luís
Beltrão.

3.3. Agostinianos
Chegaram à América em 1535 e em fins do século XVI já tinham duas províncias e mais
de 70 conventos no México e também já tinham se estendido para o sul, chegando até o
Chile.

Assim como as demais ordens se destacaram na catequese dos indígenas, no trabalho de


formação através de colégios, na constituição de reduções e postos de evangelização.

3.4. Os Mercedários:
Chegaram a São Domingos em 1514, em 1530 já estavam ao México e, em 1538,
chegaram à Nova Guatemala. Em 1536 chegaram ao Peru e em 1560 Cuzco tornou-se
uma província autônoma.

Os mercedários se estenderam mais na região sul e, em 1590, já tinham uns 30 conventos


e cerca de 300 sacerdotes além de 65 Doutrinas voltadas para a catequese dos índios.
Jesuítas

A ordem fundada por Santo Inácio de Loyola já nasceu voltada para a missão. No
princípio não foram aceitos nem por Carlos V, de Espanha e nem pelo Felipe II. Em 1567
chegaram os primeiros Jesuítas a Florida.

Quando chegaram à América, as regiões mais populosas já estavam ocupadas por outras
ordens, por isso mesmo tiveram de buscar os lugares mais distantes. Foi assim que
penetraram o Rio Orinoco antes mesmo dos conquistadores.

Os jesuítas fundaram missões, colégios e reduções e aqui o destaque fica com São Pedro
Claver (U1654).

3.5. Outras Ordens Religiosas


Os carmelitas chegaram à América em1584; os capuchinhos em 1622; os Beneditinos
chegaram em 1581. Os Hospitalários para cá vieram em 1602 e por fim vieram também
os Oratorianos.

As Ordens Religiosas Femininas: somente começaram a chegar a partir de 1570. Assim,


temos as principais ordens e a data de sua chegada:

Capuchinhas (1665)
Ordem Concepcionista (1570)
Clarissas (1570)
Dominicanas (1575)
Jerônimas (1585)
Agostinianas (1598)
Carmelitas Descalças (1748)
3.6. Ordens religiosas no Brasil
Os franciscanos foram os primeiros que para cá vieram, junto com a esquadra de Pedro
Álvares Cabral, mas não permanecera e só em 1587 se fundou o convento de Salvador e
depois, em 1607 fundou-se o convento no Rio de Janeiro que se torna custodia em 1657.

Os Dominicanos não se fizeram presentes no Brasil na fase colonial. Também os


Agostinianos não entraram no Brasil nesta primeira época.
Os Mercedários se expandiram no Brasil vindos de Quito pelo Rio Amazonas e em 1639
fundaram um vicariato no Pará.

Das ordens religiosas consideradas grandes a que mais se expandiu pelo Brasil foi a
dos Jesuítas. O primeiro grupo chegou ao Brasil em 1549 com Tomé de Souza, o
primeiro Governador Geral e, em 1553, se formou a primeira província tendo o padre
Manoel de Nóbrega como superior. Os filhos de Santo Inácio se expandiram por todo o
litoral e em 1622 já eram mais de 180 consagrados.

Em 1740 o Maranhão se tornou uma província independente e no momento da expulsão


os jesuítas tinham 590 missionários, havendo 9 colégios. Podemos bem calcular o
prejuízo que a expulsão dos jesuítas trouxe para o sistema educacional do Brasil.

Os Capuchinhos, por sua vez, chegaram com o apoio da Sagrada Congregação de


Propaganda Fide e tiveram missões no Maranhão e ao longo do Rio São Francisco.

Os Carmelitas chegaram à Olinda em 1584 e em 1586 se estabeleceram em Salvador.

Os Beneditinos fundaram o primeiro mosteiro em Salvador no ano de 1581 e até 1660 já


tinham 8 conventos e eram uma província autônoma.

Das ordens femininas as mais conhecidas se fizeram presentes no Brasil somente no


século XVII com as Clarissas em 1677, as Concepcionistas em 1678 e as Ursulinas em
1735.

3.7. Por que os religiosos?


Esta é uma pergunta que muitos ainda hoje se fazem. Mas o certo é que os religiosos
durante mais de 4 séculos tiveram a predominância na evangelização do Brasil e do
restante da América Latina. As ordens religiosas eram mais fiéis a missão, seus membros
eram menos preocupados com o enriquecimento pessoal e mais dedicados ao serviço
pastoral, por isso tinham a preferência dos reis e autoridades coloniais.

Mas por outro lado sofriam uma rejeição do clero diocesano por disporem de mais
recursos materiais e humanos e por gozarem de melhor situação, além de ocuparem postos
privilegiados na geografia das colônias e gozarem de muitas isenções.

Com as autoridades coloniais e com os colonizadores, sobretudo com os bandeirantes e


exploradores esta isenção também foi motivo de conflitos, especialmente quando os
religiosos se fizeram os defensores dos povos indígenas, frente a sanha do colonizador.

Outra causa de conflitos que ainda hoje perduram está na liberdade que os religiosos
possuem de arrebanhar vocações, não gozando dos limites impostos pelas divisões
territoriais de paróquias e dioceses.
4. A Diversificação do cristianismo nas Monarquias (1822 -1889)

Com a independência do Brasil, surgiu a necessidade de atrair imigrantes europeus,


inclusive protestantes. A Constituição Imperial, promulgada em 1824, concedeu-lhes
certa liberdade de culto, ao mesmo tempo em que confirmou o catolicismo como religião
oficial. Até a Proclamação da República, os protestantes enfrentariam sérias restrições no
que diz respeito ao casamento civil, uso de cemitérios e educação.

Desde o século 18, começaram a se tornar influentes no Brasil novos conceitos e


movimentos surgidos na Europa, tais como o iluminismo, a maçonaria, o liberalismo
político e os ideais democráticos americanos e franceses. Tais ideias tornaram-se
especialmente influentes entre os intelectuais, políticos e sacerdotes, e tiveram dois
efeitos importantes na área religiosa: o enfraquecimento da Igreja Católica e uma
crescente abertura ao protestantismo.

O liberalismo de muitos religiosos brasileiros, inclusive bispos, é ilustrado pelo padre


Diogo Antonio Feijó (regente do império de 1835 a 1837), que em diferentes ocasiões
propôs a legalização do casamento clerical, sugeriu que os irmãos morávios fossem
convidados para educar os índios brasileiros e defendeu um concílio nacional para separar
a igreja brasileira de Roma.

O imperador D. Pedro II (1841-1889) utilizou plenamente seus direitos legais de


padroado, bem como os poderes adicionais do recurso (em casos de disciplina
eclesiástica) e do beneplácito (censura de todos os documentos eclesiásticos antes de sua
publicação no Brasil), em virtude da sua preocupação com o ultramontanismo. Um autor
comenta que, durante o longo reinado de Pedro II, a igreja não passou de um departamento
do governo.

Todavia, no pontificado do papa Pio IX (1846-1878) Roma começou a exercer um maior


controle sobre a igreja brasileira. As ideias da encíclica Quanta cura e seu Silabo de Erros
tiveram rápida difusão, apesar de não terem recebido o beneplácito de Pedro II. O Silabo
atacou violentamente a maçonaria numa época em que os principais estadistas brasileiros
e o próprio imperador estavam ligados às lojas. Isto acabou desencadeando a famosa
“Questão Religiosa” (1872-75), um sério confronto entre o governo e dois bispos do norte
do Brasil (D. Vital Maria Gonçalves de Oliveira e D. Antônio de Macedo Costa) que
enfraqueceu o Império e contribuiu para a Proclamação da República.

A Questão Religiosa marcou o início da renovação católica no Brasil, que se aprofundou


no período republicano. À medida que afirmava sua autonomia diante do Estado, a Igreja
tornou-se mais universalista e mais romana. O próprio sacerdócio tornou-se mais
estrangeiro. Ao mesmo tempo, ela teve de enfrentar a concorrência de outros grupos
religiosos e ideológicos além do protestantismo, tais como o positivismo e o espiritismo.

O século 19 testemunhou um longo esforço dos protestantes no sentido de obter completa


legalidade e liberdade no Brasil, 80 anos de avanço lento, porém contínuo, em direção à
plena tolerância (1810-1890). Um passo importante na conquista da liberdade de
expressão e de propaganda ocorreu quando o missionário Robert Reid Kalley,
pressionado pelas autoridades, consultou alguns juristas destacados e obteve opiniões
favoráveis quanto às suas atividades religiosas. Finalmente, em 1890, um decreto do
governo republicano consagrou a separação entre a Igreja e o Estado, assegurando aos
protestantes pleno reconhecimento e proteção legal. A nova expressão religiosa se
implantou no Brasil em duas fases: protestantismo de imigração e protestantismo
missionário.

4.1. Protestantismo de imigração


O historiador Boanerges Ribeiro observa que “ao iniciar-se o século XIX, não havia no
Brasil vestígio de protestantismo” (Protestantismo no Brasil monárquico, p. 15). Em
janeiro de 1808, com a chegada da família real ao Rio de Janeiro, o príncipe-regente João
decretou a abertura dos portos do Brasil às nações amigas. Em novembro, um novo
decreto concedeu amplos privilégios a imigrantes de qualquer nacionalidade ou religião.

Em fevereiro de 1810, Portugal assinou com a Inglaterra tratados de Aliança e Amizade


e de Comércio e Navegação. Este último, em seu artigo 12, concedeu aos estrangeiros
“perfeita liberdade de consciência” para praticarem sua fé. Tratava-se de uma tolerância
limitada, porque vinha acompanhada da proibição de fazer prosélitos e de falar contra a
religião oficial. Além disso, as capelas protestantes não teriam forma exterior de templo
nem poderiam utilizar sinos.

O primeiro capelão anglicano, Robert C. Crane, chegou em 1816. A primeira capela


anglicana foi inaugurada no Rio de Janeiro em 26 de maio de 1822; seguiram-se outras
nas principais cidades litorâneas. Outros estrangeiros protestantes que chegaram nos
primeiros tempos foram americanos, suecos, dinamarqueses, escoceses, franceses e
especialmente alemães e suíços, de tradição luterana e reformada.

Boanerges Ribeiro continua: “Quando se proclamou a Independência, contudo, ainda não


havia igreja protestante no país. Não havia culto protestante em língua portuguesa. E não
há notícia de existir, então, sequer um brasileiro protestante” (Ibid., p. 18). Com a
independência, houve grande interesse na vida de imigrantes, inclusive protestantes. Isso
exigiu que se garantissem os direitos religiosos desses imigrantes. A Constituição
Imperial de 1824 afirmou no artigo 5º: “A religião católica apostólica romana continuará
a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto
doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de
templo”.

Em 1820, um contingente de suíços católicos iniciou a colônia de Nova Friburgo. Logo a


área foi abandonada e oferecida a alemães luteranos que chegaram em maio de 1824.
Eram 324 imigrantes acompanhados do seu pastor, Friedrich Oswald Sauerbronn (1784-
1864). A maior parte dos imigrantes alemães foi para o sul, cerca de 4.800 entre 1824 e
1830, 60% dos quais eram protestantes. Seus primeiros pastores foram Johann Georg
Ehlers, Karl Leopold Voges e Friedrich Christian Klingelhöffer.

Em junho de 1827, por iniciativa do cônsul da Prússia, Wilhelm von Theremin, foi criada
no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, congregando luteranos e
calvinistas, cujo primeiro pastor foi Ludwig Neumann. Em 1837, o primeiro santuário
passou a funcionar em um edifício alugado, sendo o edifício próprio inaugurado em 1845.

Por falta de ministros ordenados, os primeiros luteranos organizaram sua própria vida
religiosa. Elegeram leigos para serem pastores e professores, os “pregadores-colonos”.
Todavia, na década de 1850, a Prússia e a Suíça “descobriram” os alemães do sul do
Brasil e começaram a enviar-lhes missionários e ministros. Isso criou uma igreja mais
institucional e europeia.

Em 1868, o Rev. Hermann Borchard, que havia chegado em 1864, e outros colegas
fundaram o Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul, que foi
extinto em 1875. Em 1886, o Rev. Wilhelm Rotermund (chegado em 1874), organizou o
Sínodo Rio-Grandense, que se tornou modelo para outras organizações similares. Até o
final da II Guerra Mundial as igrejas luteranas permaneceram culturalmente isoladas da
sociedade brasileira.

Uma consequência importante da imigração protestante é o fato de que ela ajudou a criar
as condições que facilitaram a introdução do protestantismo missionário no Brasil. O
autor Erasmo Braga observou que, à medida que os imigrantes alemães exigiam garantias
legais de liberdade religiosa, estadistas liberais criaram “a legislação avançada que,
durante o longo reinado de D. Pedro II, protegeu as missões evangélicas da perseguição
aberta e até mesmo colocou as comunidades não católicas sob a proteção das autoridades
imperiais” (The Republic of Brazil, p. 49). Em 1930, de uma comunidade protestante de
700 mil pessoas no país, as igrejas imigrantes tinham aproximadamente 300 mil filiados.
A maior parte estava ligada à Igreja Evangélica Alemã do Brasil (215 mil) e vivia no Rio
Grande do Sul.

4.2. Protestantismo missionário (1835-1889)


As primeiras organizações protestantes que atuaram junto aos brasileiros foram as
sociedades bíblicas: Britânica e Estrangeira (1804) e Americana (1816). Havia duas
traduções da Bíblia em português, uma protestante, feita pelo Rev. João Ferreira de
Almeida (1628-1691), e outra católica, do padre Antônio Pereira de Figueiredo (1725-
1797). Os primeiros agentes oficiais das sociedades bíblicas foram: da SBA, James C.
Fletcher (1855); da SBBE, Richard Corfield (1856). Nesse período pioneiro, foi muito
importante o trabalho dos colportores, isto é, vendedores de Bíblias e literatura religiosa.

A Igreja Metodista Episcopal foi a primeira denominação a iniciar atividades


missionárias junto aos brasileiros (1835-1841). Seus obreiros iniciais foram Fountain E.
Pitts, Justin Spaulding e Daniel Parish Kidder. Eles fundaram no Rio de Janeiro a
primeira escola dominical do Brasil. Também atuaram como capelães da Sociedade
Americana dos Amigos dos Marinheiros, fundada em 1828.

Daniel P. Kidder foi uma figura importante dos primórdios do protestantismo brasileiro.
Ele viajou por todo o país, vendeu Bíblias e manteve contatos com intelectuais e políticos
destacados, como o padre Diogo Antônio Feijó, regente do império (1835-1837). Kidder
escreveu o livro Reminiscências de viagens e permanência no Brasil, publicado em 1845,
um clássico que despertou grande interesse pelo Brasil.
James Cooley Fletcher (1823-1901) era pastor presbiteriano. Estudou no Seminário de
Princeton e na Europa, e se casou com uma filha de César Malan, teólogo calvinista de
Genebra. Chegou ao Brasil em 1851 como o novo capelão da Sociedade dos Amigos dos
Marinheiros e como missionário da União Cristã Americana e Estrangeira. Atuou como
secretário interino da legação americana no Rio de Janeiro e foi o primeiro agente oficial
da Sociedade Bíblica Americana. Foi um promotor entusiasta do protestantismo e do
“progresso”. Escreveu O Brasil e os brasileiros, publicado em 1857, uma versão
atualizada da obra de Kidder.

Robert Reid Kalley (1809-1888) era natural da Escócia. Estudou medicina e foi trabalhar
como missionário na Ilha da Madeira (1838). Oito anos depois, escapou de uma violenta
perseguição e foi com seus paroquianos para os Estados Unidos. Fletcher sugeriu que ele
fosse para o Brasil, onde Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley (1825-1907) chegaram
em maio de 1855. No mesmo ano, fundaram em Petrópolis a primeira escola dominical
permanente do país (19 de agosto). Em 11 de julho de 1858, Kalley fundou a Igreja
Evangélica, depois Igreja Evangélica Fluminense (1863), cujo primeiro membro
brasileiro foi Pedro Nolasco de Andrade. Kalley teve importante atuação na defesa da
liberdade religiosa (1859). Sua esposa foi autora do famoso hinário Salmos e hinos
(1861). A Igreja Fluminense aprovou sua base doutrinária, elaborada por Kalley, em 2 de
julho de 1876. No mesmo ano, o missionário voltou em definitivo para a Escócia. Os
estatutos da igreja foram aprovados pelo governo imperial em 22 de novembro de 1880.

Os missionários pioneiros da Igreja Presbiteriana foram Ashbel Green Simonton (1859),


Alexander Latimer Blackford (1860) e Francis Joseph Christopher Schneider (1861). As
primeiras igrejas organizadas foram as do Rio de Janeiro (1862), São Paulo (1865) e
Brotas (1865). Duas importantes realizações iniciais foram o jornal Imprensa Evangélica
(1864-1892) e o Seminário do Rio de Janeiro (1867-1870). O primeiro pastor
evangélico brasileiro foi o ex-sacerdote José Manoel da Conceição, ordenado em 17 de
dezembro de 1865. Em 1870, os presbiterianos fundaram em São Paulo a Escola
Americana (atual Universidade Mackenzie). Em 1888, foi organizado o Sínodo do Brasil,
que marcou a autonomia eclesiástica da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Após a Guerra Civil americana (1861-1865), muitos imigrantes norte-americanos se


estabeleceram no interior da Província de São Paulo. Eles foram seguidos por
missionários presbiterianos, metodistas e batistas. Os pioneiros enviados pela Igreja
Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos (PCUS) foram George Nash Morton e Edward
Lane (1869). Eles fundaram o Colégio Internacional, instalado oficialmente em 1873.

A Igreja Metodista Episcopal (do sul dos Estados Unidos) enviou Junius E. Newman para
trabalhar junto aos imigrantes (1876). O primeiro missionário aos brasileiros foi John
James Ransom, que chegou em 1876 e dois anos depois organizou a primeira igreja no
Rio de Janeiro. A professora Martha Hite Watts iniciou uma escola para moças em
Piracicaba (1881). A partir de 1880, a I.M.E. do norte dos EUA enviou obreiros ao norte
do Brasil (William Taylor, Justus H. Nelson) e ao Rio Grande do Sul. A Conferência
Anual Metodista foi organizada em 1886 pelo bispo John C. Granbery, com a presença
de apenas três missionários.
Os primeiros missionários da Igreja Batista, Thomas Jefferson Bowen e sua esposa (1859-
1861), não foram bem sucedidos. Em 1871, os imigrantes batistas de Santa Bárbara
organizaram duas igrejas. Os primeiros missionários junto aos brasileiros foram William
Buck Bagby, Zachary Clay Taylor e suas esposas (chegados em 1881-1882). O primeiro
membro e pastor batista brasileiro foi o ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque,
que já estivera ligado aos metodistas. Em 1882 o grupo fundou a primeira igreja brasileira
em Salvador, na Bahia. A Convenção Batista Brasileira foi criada em 1907.

A Igreja Protestante Episcopal foi a última das denominações históricas a iniciar


trabalho missionário no Brasil. Um importante e controvertido precursor havia sido
Richard Holden (1828-1886), que durante três anos atuou com poucos resultados no Pará
e na Bahia (1861-1864). O trabalho permanente teve início em 1890 com James Watson
Morris e Lucien Lee Kinsolving. Inspirados pela obra de Simonton e por um folheto sobre
o Brasil, eles se estabeleceram em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um estado até
então pouco ocupado por outras missões. Em 1899, Kinsolving tornou-se o primeiro bispo
residente da Igreja Episcopal do Brasil.

5. O Cristianismo nos Regimes Republicanos.

A separação entre a igreja e o estado foi efetivada pelo Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro
de 1890, que consagrou a plena liberdade de culto. Em fevereiro de 1891, a primeira
Constituição republicana confirmou a separação entre a igreja e o estado, bem como
proclamou outras medidas liberais como a plena liberdade de culto, o casamento civil
obrigatório e a secularização dos cemitérios. Sob influências liberais e positivistas, a
Constituição omitiu o nome de Deus, afirmando assim a caráter não religioso do novo
regime, e a Igreja Católica foi colocada em pé de igualdade com todos os outros grupos
religiosos; a educação foi secularizada, sendo a religião omitida do novo currículo. Em
uma carta pastoral de março de 1890, os bispos deram as boas-vindas à República, mas
também repudiaram a separação entre a igreja e o estado.

A partir de então, a Igreja teve duas grandes preocupações: obter o apoio do Estado e
aumentar a sua influência na sociedade. Um dos primeiros passos foi fortalecer a estrutura
interna da igreja: criaram-se novas estruturas eclesiásticas (dioceses, arquidioceses, etc.)
e fundaram-se novos seminários. Foi incentivada a vinda de muitos religiosos
estrangeiros para o Brasil (capuchinhos, beneditinos, carmelitas, franciscanos). A igreja
também manteve sua firme oposição contra a modernidade, o protestantismo, a maçonaria
e outros movimentos.

Dois grandes líderes foram especialmente influentes nesse esforço renovador: primeiro,
o padre Júlio Maria, que desde 1890 até sua morte em 1916 foi muito ativo como pregador
e escritor, visando mobilizar a igreja e tornar o Brasil verdadeiramente católico. Ainda
mais notável foi D. Sebastião Leme da Silveira Cintra (1882-1942), o líder responsável
pela orientação e mobilização da Igreja Católica brasileira na primeira metade do século
20, como arcebispo de Olinda e Recife (1916-21), coadjutor no Rio de Janeiro (1921-30)
e cardeal arcebispo do Rio até a sua morte.

Em 1925, D. Leme propôs emendas à constituição que dariam reconhecimento oficial à


Igreja Católica como a religião dos brasileiros e permitiriam a educação religiosa nas
escolas públicas. As chamadas “emendas Plínio Marques” enfrentaram a vigorosa
oposição dos protestantes, maçons, espíritas e da imprensa, sendo eventualmente
rejeitadas. Todavia, mediante um decreto de abril de 1930, Getúlio Vargas permitiu o
ensino religioso nas escolas. Por fim, a Constituição de 1934 incluiu todas as
exigências católicas, sem oficializar o catolicismo. O Centro Dom Vital, cujos líderes
iniciais foram Jackson de Figueiredo e Alceu de Amoroso Lima, deu continuidade à luta
pela ascendência católica. A agenda da Liga Eleitoral Católica incluía tópicos como a
oficialização do catolicismo, o casamento religioso, o ensino religioso nas escolas
públicas, capelanias católicas nas forças armadas e sindicatos católicos. Também foram
realizadas campanhas contra as missões estrangeiras protestantes.

5.1. Católicos e protestantes


Nas primeiras décadas do período republicano, os protestantes tiveram diferentes atitudes
diante da reação católica. Uma delas foi a criação de uma frente unida contra o
catolicismo. A entidade conhecida como Aliança Evangélica havia sido criada
inicialmente na Inglaterra (1846) e nos Estados Unidos (1867). A congênere brasileira
surgiu em São Paulo, em julho de 1903, tendo como presidente Hugh C. Tucker
(metodista) e como secretário F. P. Soren (batista). Todavia, o Congresso do Panamá e a
subsequente Conferência do Rio de Janeiro, em 1916, revelaram atitudes divergentes em
relação ao catolicismo, sendo alguns elementos, principalmente norte-americanos,
favoráveis a uma aproximação e mesmo colaboração com a igreja católica. Uma das
questões discutidas foi o rebatismo ou não de católicos convertidos à fé evangélica. Esse
período também viu o recrudescimento de perseguições contra os protestantes em
muitos lugares do Brasil.

Na década de 1920, a Comissão Brasileira de Cooperação, liderada pelo Rev. Erasmo de


Carvalho Braga (1877-1932) procurou unir as igrejas evangélicas na luta pela preservação
dos seus direitos e no exercício de um testemunho profético junto à sociedade brasileira.
Esse esforço teve prosseguimento até os anos 60 na Confederação Evangélica do Brasil.
Após 1964, as relações das igrejas evangélicas e da Igreja Católica com o estado brasileiro
tomaram rumos por vezes diametralmente opostos, cujas consequências se fazem sentir
até os dias de hoje.

5.2. Progressistas x conservadores


Nas primeiras décadas do século 20, o protestantismo brasileiro sofreu a influência de
algumas correntes teológicas norte-americanas, como o evangelho social, o movimento
ecumênico e o fundamentalismo. Inspirado em parte pelos dois primeiros, surgiu um
notável esforço cooperativo entre as igrejas históricas, sob a liderança do Rev. Erasmo
Braga, secretário da Comissão Brasileira de Cooperação (1917). Essa entidade se uniu
em 1934 à Federação das Igrejas Evangélicas do Brasil e ao Conselho Nacional de
Educação Religiosa para formar a Confederação Evangélica do Brasil (CEB). Nos anos
50 e início da década de 60, a CEB criou a Comissão de Igreja e Sociedade (1955), depois
Setor de Responsabilidade Social da Igreja. Sua quarta reunião, conhecida como
Conferência do Nordeste, realizada em Recife em 1962, teve como tema “Cristo e o
Processo Revolucionário Brasileiro”. Seus líderes foram Carlos Cunha, Almir dos Santos
e Waldo César, sendo preletores Sebastião G. Moreira, Joaquim Beato, João Dias de
Araújo e o bispo Edmundo K. Sherill.
O movimento ecumênico havia surgido com a Conferência Missionária Mundial
(1910), em Edimburgo, na Escócia, que deu origem ao Concílio Missionário Internacional
(1921). Outros dois movimentos, “Vida e Trabalho” e “Fé e Ordem” se uniram para
formar o Conselho Mundial de Igrejas (Utrecht, 1938; Amsterdã, 1948). Algumas das
primeiras igrejas brasileiras a se filiarem a essa organização foram a metodista (1942), a
luterana (1950), a episcopal (1965) e a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo
(1968).

Por fim, o espírito denominacional suplantou o ecumenismo. Duncan Reily observa:


“O ecumenismo no Brasil foi muito mais um projeto dos missionários e das sociedades
missionárias do que dos brasileiros” (História Documental, 233). Além de algumas
igrejas históricas, também se opuseram ao ecumenismo os grupos pentecostais, as
“missões de fé” e “missões indenominacionais”, e o movimento fundamentalista de Carl
McIntire.

5.3. Denominações históricas (1889-1964)

5.3.1. Igreja Congregacional


Essa foi a primeira denominação brasileira inteiramente nacional (não sujeita a nenhuma
junta missionária). Até 1913, foram organizadas somente treze igrejas congregacionais
no Brasil, todas autônomas. Oito eram filhas da Igreja Fluminense: Pernambucana (1873),
Passa Três (1897), Niterói (1899), Encantado (1903), Paranaguá, Paracambi e Santista
(1912), Paulistana (1913), e três da Igreja Pernambucana: Vitória (1905), Jaboatão (1905)
e Monte Alegre (1912). Em julho de 1913, essas igrejas se reuniram em 1ª Convenção
Geral, no Rio de Janeiro. Daí até 1942, a denominação mudou de nome dez vezes.

Os ingleses fundaram missões para atuar na América do Sul: Help for Brazil (criada em
1892 por iniciativa de Sarah Kalley e outros), South American Evangelical Mission
(Argentina) e Regions Beyond Missionary Union (Peru). Após a Conferência de
Edimburgo (1910), essas missões vieram a constituir a União Evangélica Sul-Americana
– UESA (1911). Dos seus esforços, surgiu no Brasil a Igreja Cristã Evangélica.

Os congregacionais uniram-se à Igreja Cristã Evangélica em 1942, formando a União das


Igrejas Congregacionais e Cristãs do Brasil. Separaram-se em 1969, tomando o nome de
União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. A outra ala dividiu-se em duas:
Igreja Cristã Evangélica no Brasil (Anápolis) e Igreja Cristã Evangélica do Brasil (São
Paulo).

5.3.2. Igreja Presbiteriana


A Igreja Presbiteriana do Brasil alcançou sua autonomia formal em 1888, com a criação
do Sínodo Presbiteriano. Surgiu então uma crise no período 1892-1903 em torno das
questões missionária, educativa e maçônica que resultou em divisão, surgindo a Igreja
Presbiteriana Independente. Dois eventos significativos no início do século 20 foram a
criação da Assembleia Geral (1910) e o estabelecimento de um plano de cooperação entre
a igreja e as missões americanas, conhecido como Modus Operandi ou “Brazil Plan”
(1917). Com a Constituição de 1937, a Assembleia Geral foi transformada em Supremo
Concílio. Em 1955 surgiu o Conselho Inter presbiteriano, criado para gerir as relações da
igreja com as missões americanas e com as juntas missionárias nos Estados Unidos.
Em 1948, Samuel Rizzo representou a IPB na Assembleia do Conselho Mundial de
Igrejas em Amsterdã. No ano seguinte, a igreja optou pela “equidistância” entre o CMI e
o CIIC de Carl McIntire. Em 1962, o Supremo Concílio aprovou o “Pronunciamento
Social da IPB”.

Entre a juventude surgiu um crescente questionamento da posição conservadora da igreja.


Um importante canal de expressão foi o controvertido Jornal Mocidade (1944). Billy
Gammon, filha do Rev. Samuel Gammon, foi nomeada secretária da mocidade a partir de
1946. Até 1958 o número de sociedades locais cresceu de 150 para 600, com 17 mil
membros. O Rev. M. Richard Shaull veio ao Brasil para trabalhar entre universitários.
Em 1953 tornou-se professor do Seminário Presbiteriano de Campinas e começou a
cooperar com o Departamento de Mocidade e a União Cristã de Estudantes do Brasil
(UCEB). Tornou-se uma voz influente na mocidade evangélica em geral. Em 1962, o
Supremo Concílio reestruturou o Departamento de Mocidade, tirando sua autonomia.

Igreja Presbiteriana Fundamentalista: Israel Gueiros, pastor da 1ª Igreja Presbiteriana de


Recife e ligado ao Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (Carl McIntire) liderou uma
campanha contra o Seminário do Norte sob a acusação de modernismo. Fundou outro
seminário e foi deposto pelo Presbitério de Pernambuco em julho de 1956. Em 21 de
setembro do mesmo ano foi organizada a IPFB com quatro igrejas locais (inclusive
elementos batistas e congregacionais), que formaram um presbitério com 1800 membros.

5.3.3. Igreja Presbiteriana Independente


Essa igreja surgiu em 1903 como uma denominação totalmente nacional, sem qualquer
vinculação com igrejas estrangeiras. Resultou do projeto nacionalista de Eduardo Carlos
Pereira (1856-1923). Em 1907 tinha 56 igrejas e 4.200 membros comungantes. Fundou
um seminário em São Paulo. Em 1908 foi instalado o Sínodo, inicialmente com três
presbitérios. Mais tarde, em 1957, foi criado o Supremo Concílio, com três sínodos, dez
presbitérios, 189 igrejas locais e 105 pastores. Seu jornal oficial era O Estandarte, fundado
em 1893. Após o Congresso do Panamá (1916), a IPI aproximou-se da IPB e das outras
igrejas evangélicas. A partir de 1930, surgiu um movimento de intelectuais (entre eles o
Rev. Eduardo Pereira de Magalhães, neto de Eduardo Carlos Pereira) que pretendia
reformar a liturgia, certos costumes eclesiásticos e até mesmo a Confissão de Fé. A
questão eclodiu no Sínodo de 1938. Um grupo organizou a Liga Conservadora, liderada
pelo Rev. Bento Ferraz. A elite liberal retirou-se da IPI em 1942 e formou a Igreja Cristã
de São Paulo.

A Igreja Presbiteriana Conservadora foi fundada pelos membros da Liga Conservadora


em 1940. Em 1957, contava com mais de vinte igrejas, em quatro estados, e tinha um
seminário. Seu órgão oficial é O Presbiteriano Conservador. Filiou-se à Aliança Latino-
Americana de Igrejas Cristãs e à Confederação de Igreja Evangélicas Fundamentalistas
do Brasil.

5.3.4. Igreja Metodista


A Conferência Anual Metodista foi organizada no Rio de Janeiro em 15 de setembro de
1886 pelo bispo John C. Granbery, enviado ao Brasil pela Igreja Metodista Episcopal do
Sul. Tinha apenas três missionários, James L. Kennedy, John W. Tarboux e Hugh C.
Tucker, sendo a menor conferência anual já criada na história do metodismo. Em 1899, a
IME do Norte transferiu seu trabalho no Rio Grande do Sul para a Conferência Anual.
Em 1910 e 1919 surgiram outras duas conferências (norte, sul e centro).

A Junta de Nashville continuou a interferir na vida da igreja de modo indevido,


culminando com a insistência em nomear o presidente do Colégio Granbery (1917).
Cresceu o movimento pelo sustento próprio, liderado por Guaracy Silveira. Em 1930 a
IMES cedeu a autonomia desejada. No dia 2 de setembro de 1930, na Igreja Metodista
Central de São Paulo, foi organizada a Igreja Metodista do Brasil. O primeiro bispo eleito
foi o velho missionário John William Tarboux. O primeiro bispo brasileiro foi César
Dacorso Filho (1891-1966), eleito em 1934, que por doze anos (1936-1948) foi o único
bispo da igreja. A Igreja Metodista foi a primeira denominação brasileira a filiar-se ao
Concílio Mundial de Igrejas (1942).

5.3.5. Igreja Batista


A Convenção Batista Brasileira foi organizada no dia 24 de junho de 1907 na Primeira
Igreja Batista da Bahia (Salvador), quando 43 delegados, representando 39 igrejas,
aprovaram a “Constituição Provisória das Igrejas Batistas do Brasil”.

Na chamada “questão radical”, líderes batistas do nordeste apresentaram um memorial


aos missionários em 1922 e um manifesto à Convenção em 1925 reivindicando maior
participação nas decisões, principalmente na área financeira. Não atendidos, mais tarde
organizaram-se como uma facção separada da Convenção e da Junta. As bases de
cooperação entre a igreja brasileira e a Junta de Richmond voltaram a ser discutidas em
1936 e 1957.

5.3.6. Igreja Luterana


O Sínodo Rio-Grandense surgiu em 1886. Posteriormente, surgiram outros sínodos
autônomos: Sínodo da Caixa de Deus ou “Igreja Luterana” (1905), com forte ênfase
confessional; Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná (1911) e Sínodo Brasil
Central (1912). O Sínodo Rio-Grandense, ligado à Igreja Territorial da Prússia, filiou-se
à Federação Alemã das Igrejas Evangélicas em 1929. Em 1932, o Sínodo Luterano
também se filiou à federação e começou a se aproximar dos outros sínodos. Em 1939 o
Estado Novo exigiu que toda a pregação pública fosse feita em português.

Em 1949 os quatro sínodos se organizaram em Federação Sinodal, a Igreja Luterana


propriamente dita. No ano seguinte a igreja solicitou admissão ao Conselho Mundial de
Igrejas e em 1954 adotou o nome de Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
(IECLB). A Igreja Luterana filiou-se à Confederação Evangélica do Brasil em 1959.

5.3.7. Igreja Episcopal


Uma Convocação especial reunida em Porto Alegre em 30 de maio de 1898 definiu a
relação formal entre a missão e a Igreja Episcopal dos Estados Unidos e elegeu Lucien
Lee Kinsolving como o primeiro bispo residente da igreja brasileira. Ele foi sagrado bispo
em Nova York em 6 de janeiro de 1899) e foi o único bispo episcopal no Brasil até 1925.
O primeiro bispo brasileiro foi Athalício Theodoro Pithan, sagrado em 21 de abril de
1940.
Em abril de 1952, foi instalado o Sínodo da Igreja Episcopal Brasileira, contando com
três bispos: Athalício T. Pithan, Luís Chester Melcher e Egmont Machado Krischke. Em
25 de abril de 1965 a Igreja Episcopal do Brasil obteve da igreja-mãe sua plena
emancipação administrativa e passou a ser uma província autônoma da Comunhão
Anglicana. Logo em seguida, filiou-se ao CMI.

5.4. Denominações Históricas (após 1964)


Dois eventos cruciais na década de 60 foram: (a) o Concílio Vaticano II (1962-65), que
marcou a abertura aos protestantes (“irmãos separados”) e revelou novas concepções
sobre o culto, a missão da igreja e a relação com a sociedade; (b) o Golpe de 1964 e o
regime militar no Brasil.

5.4.1. Igreja Presbiteriana


Esse período marcou o fim do antigo relacionamento da IPB com as missões norte-
americanas. Em 1954 havia sido criado o Conselho Inter presbiteriano. Em 1962, a
Missão Brasil Central propôs-se a entregar à igreja brasileira toda a sua obra
evangelística, educativa e médica. Em 1972 a igreja rompeu com a Missão Brasil Central,
sendo uma das possíveis causas a adoção da Confissão de 1967 pela Igreja Presbiteriana
Unida dos EUA. Em 1973 a IPB rompeu relações com a Igreja Unida (criada em 1958) e
firmou novo convênio com a missão da Igreja do Sul.

Duas questões candentes da época foram o ecumenismo e a postura social. A igreja enviou
representantes à assembleia do Conselho Mundial de Igreja em Amsterdã (1948) e
observadores a outras assembleias. Missionários como Richard Shaull deram ênfase a
questões sociais, influenciando os seminários e a mocidade da igreja. O Supremo Concílio
de 1962 realizou um importante pronunciamento social.

Houve uma forte reação conservadora no Supremo Concílio de 1966, em Fortaleza, com
a eleição de Boanerges Ribeiro, reeleito em 1970 e 1974. As principais preocupações do
período foram a ortodoxia, a evangelização e a rejeição do ecumenismo. Multiplicaram-
se os processos contra pastores, igrejas locais e concílios.

Nessa época surgiram alguns grupos dissidentes, como o Presbitério de São Paulo e a
Aliança de Igrejas Reformadas (1974), que defendiam maior flexibilidade doutrinária.
Em setembro de 1978, na cidade de Atibaia, foi criada a Federação Nacional de Igrejas
Presbiterianas (FENIP).

5.4.2. Igreja Presbiteriana Independente


A IPI inicialmente teve uma postura menos rígida que a IPB, mas a partir de 1972 tornou-
se mais inflexível quanto ao ecumenismo e à renovação carismática. Em 1978 admitiu
aos seus presbitérios os três primeiros missionários da sua história, Richard Irwin, Albert
James Reasoner e Gordon S. Trew, que antes colaboravam com a IPB. Em 1973, um
segmento separou-se para formar a Igreja Presbiteriana Independente Renovada, que
depois se uniu a um grupo semelhante egresso da IPB, formando a Igreja Presbiteriana
Renovada.

5.4.3. Igreja Batista


No período em questão, os batistas foram caracterizados por forte ênfase evangelística,
tendo realizado grandes campanhas. Billy Graham pregou no Maracanã durante o X
Congresso da Aliança Batista Mundial (julho de 1960). O pastor João Filson Soren, da 1ª
Igreja Batista do Rio, foi eleito presidente da Aliança Mundial. Em 1965 foi realizada a
Campanha Nacional de Evangelização como uma resposta ao golpe de 1964. Seu lema
foi “Cristo, a Única Esperança”, indicado que soluções meramente políticas eram
insuficientes. Seu coordenador foi o pastor Rubens Lopes, da Igreja Batista de Vila
Mariana, em São Paulo. Houve ainda a Campanha das Américas (1967-1970) e a Cruzada
Billy Graham, no Rio de Janeiro, em 1974, tendo como presidente o pastor Nilson do
Amaral Fanini. Houve também uma Campanha Nacional de Evangelização em 1978-
1980.

5.4.4. Igreja Metodista


No início dos anos 60, Nathanael Inocêncio do Nascimento, reitor da Faculdade de
Teologia, liderou o “esquema” nacionalista que visava substituir os líderes missionários
do Gabinete Geral por brasileiros (saíram Robert Davis e Duncan A. Reily e entraram
Almir dos Santos e Omar Daibert, futuros bispos).

Os universitários e estudantes de teologia pleiteavam uma igreja mais voltada para a ação
social e a política. A ênfase na justiça social dominou a Junta Geral de Ação Social
(Robert Davis, Almir dos Santos) e a Faculdade de Teologia. Dom Helder Câmara
paraninfou a turma de 1967. No ano seguinte, uma greve levou ao fechamento da
Faculdade e à sua reestruturação.

De 1968 em diante a igreja voltou-se para problemas internos como o regionalismo. Em


1971 cada um dos seis concílios regionais elegeu, pela primeira vez, o seu próprio bispo
(os bispos sempre tinham sido eleitos no Concílio Geral, como superintendentes gerais
da igreja) e surgiram vários seminários regionais. Essa tendência perdurou até 1978.

Nos anos 70 a IMB investiu na educação superior. No campus da antiga Faculdade de


Teologia surgiu o Instituto Metodista de Ensino Superior e em 1975 o Instituto
Piracicabano (fundado em 1881) foi transformado em Universidade Metodista de
Piracicaba. Em 1982 foi elaborado o Plano Nacional de Educação Metodista, cuja
fundamentação deu ênfase ao conceito do Reino de Deus e à teologia da libertação.

5.4.5. Igreja Luterana


Em 1968, os quatro sínodos, originalmente independentes um do outro, integraram-se em
definitivo na IECLB, aceitando uma nova constituição. No VII Concílio Geral (outubro
de 1970) foi aprovado unanimemente o “Manifesto de Curitiba, ” contendo o
posicionamento político-social da igreja. Esse manifesto foi entregue ao presidente
Emílio Médici por três pastores. Em 1975 entrou em vigor a reforma do currículo da
faculdade de teologia de São Leopoldo, refletindo as prioridades da igreja.

6. O Nascimento dos Movimentos Pentecostais.

O pentecostalismo é um movimento do Cristianismo evangélico que dá ênfase especial


numa experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no Espírito Santo. O
termo pentecostal é derivado de Pentecostes, um termo grego que descreve a festa judaica
das semanas. Para os cristãos, este evento comemora a descida do Espírito Santo sobre os
seguidores de Jesus Cristo, conforme descrito no Atos 2.[2] Pentecostais tendem a ver
que seu movimento reflete o mesmo tipo de poder espiritual, estilo de adoração e
ensinamentos que foram encontrados na Igreja primitiva. Por este motivo, alguns
pentecostais também usam o termo Apostólica ou Evangelho Pleno para descrever seu
movimento.

O movimento pentecostal de hoje traça seus vestígios da sua comunidade a uma reunião
de oração no Colégio Bíblico Betel, na cidade de Topeka, estado do Kansas, nos Estados
Unidos, em 1° de janeiro de 1901.[5] Ali, muitos chegaram à conclusão de que falar em
línguas era o sinal bíblico do Batismo no Espírito Santo. Charles Parham foi o fundador
desta escola, que mais tarde iria para a cidade de Houston, no Texas. Apesar da
segregação racial em Houston, William J. Seymour, um pregador negro, foi autorizado a
assistir a aulas bíblicas de Parham. Seymour viajou para Los Angeles, onde sua pregação
provocou o Avivamento da Rua Azusa em 1906. Apesar do trabalho de vários grupos
wesleyanos avivalistas, como Parham e D. L. Moody, o início do movimento pentecostal
difundido nos Estados Unidos, é geralmente considerado como tendo começado com
Seymour no avivamento da rua Azusa.[6]

O avivamento na rua Azusa foi o primeiro avivamento pentecostal a receber atenção


significativa, e muitas pessoas de todo o mundo tornaram-se atraídas para ele. A imprensa
de Los Angeles deu muita atenção ao avivamento de Seymour, o que ajudou a alimentar
o seu crescimento.[7] Um número de novos grupos menores iniciou-se, inspirado nos
acontecimentos deste avivamento. Os visitantes internacionais e missionários
pentecostais acabariam por trazer estes ensinamentos para outras nações, de modo que
praticamente todas as denominações pentecostais clássicas hoje traçam suas raízes
históricas no avivamento da rua Azusa.

6.1. Igrejas pentecostais e neopentecostais


As três ondas ou fases do pentecostalismo brasileiro foram as seguintes: (1) décadas de
1910-1940: chegada simultânea da Congregação Cristã no Brasil e da Assembleia de
Deus, que dominaram o campo pentecostal por 40 anos; (2) décadas de 1950-1960:
fragmentação do pentecostalismo com o surgimento de novos grupos – Evangelho
Quadrangular, Brasil Para Cristo, Deus é Amor e muitos outros (contexto paulista); (3)
anos 70 e 80: advento do neopentecostal ismo – Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja
Internacional da Graça de Deus e outras (contexto carioca).

6.2. Primeira onda ou fase


Também chamados de pentecostalismo clássico, vai da década de 1910 a 1940. A ênfase
de sua pregação eram; Salvação, Curas, Batismo com Espírito Santo e a ida do crente ao
céu.
Este pentecostalismo clássico tem características bem marcantes, segundo Freston (1993)
e Mariano (1999), que se agregam aos elementos litúrgicos que lhes são intrínsecos (o
batismo no espírito santo e a glossolalia). De forma resumida, podemos apontar: uma
forte oposição ao catolicismo, alvo de críticas doutrinárias constantes; um caráter sectário
bem demarcado, com baixo grau de proselitismo e elevado sentido de comunidade ou
congregação e; como decorrência disso, uma pregação com ênfase no ascetismo, na
rejeição do mundo profano e no isolamento da comunidade religiosa. A lógica doutrinária
apontava que a salvação seria produto de um conjunto de elementos que envolvia a fé
exacerbada ao lado de uma conduta moral e cotidiana radicalmente afastada das
oportunidades de prazer material oferecidas pela sociedade envolvente.

Em síntese, o pentecostalismo clássico brasileiro reunia uma negação da sociedade


existente, a difusão entre os fiéis de dogmas escatológicos referidos ao final dos tempos,
ao juízo final, ao apocalipse e ao regresso eminente de Cristo à terra, com o consequente
arrebatamento daqueles que estivessem salvos (Campos 2000). Era preciso, então “orar e
vigiar” e se manter em estado de pureza, longe do pecado, porque a hora final estava
chegando. (OpenEdition)

6.2.1. Congregação Cristã no Brasil


Fundada pelo italiano Luigi Francescon (1866-1964). Radicado em Chicago, foi membro
da Igreja Presbiteriana Italiana e aderiu ao pentecostalismo em 1907. Em 1910 (março-
setembro) visitou o Brasil e iniciou as primeiras igrejas em Santo Antônio da Platina (PR)
e São Paulo, entre imigrantes italianos. Veio 11 vezes ao Brasil até 1948. Em 1940, o
movimento tinha 305 “casas de oração” e dez anos mais tarde 815.

6.2.2. Assembleia de Deus


Teve como fundadores os suecos Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar Vingren (1879-
1933). Batistas de origem, eles abraçaram o pentecostalismo em 1909. Conheceram-se
numa conferência pentecostal em Chicago. Assim como Luigi Francescon, Berg foi
influenciado pelo pastor batista William H. Durham, que participou do avivamento de
Los Angeles (1906). Sentindo-se chamados para trabalhar no Brasil, chegaram a Belém
em novembro de 1910. Seus primeiros adeptos foram membros de uma igreja batista com
a qual colaboraram.

6.2.3. Igreja do Evangelho Quadrangular


Fundada nos Estados Unidos pela evangelista Aimee Semple McPherson (1890-1944). O
missionário Harold Williams fundou a primeira IEQ do Brasil em novembro de 1951, em
São João da Boa Vista. Em 1953 teve início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo
Raymond Boatright o principal evangelista. A igreja enfatiza quatro aspectos do
ministério de Cristo: aquele que salva, batiza com o Espírito Santo, cura e virá outra vez.
As mulheres podem exercer o ministério pastoral.

6.2.4. Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo


Fundada por Manoel de Mello, um evangelista da Assembleia de Deus que depois tornou-
se pastor da IEQ. Separou-se da Cruzada Nacional de Evangelização em 1956,
organizando a campanha “O Brasil para Cristo”, da qual surgiu a igreja. Filiou-se ao CMI
em 1969 (desligou-se em 1986). Em 1979 inaugurou seu grande templo em São Paulo,
sendo orador oficial Philip Potter, secretário-geral do CMI. Esteve presente o cardeal
arcebispo de São Paulo, Paulo Evaristo Arns. Manoel de Mello morreu em 1990.

6.3. Segunda onda ou fase


Da década de 1950-1960, as ênfases da pregação eram Curas divinas, Exorcismos e
libertações.
A segunda onda teria se instalado entre os anos 1950 e 1960, quando são criadas novas
denominações como a Igreja do Evangelho Quadrangular, em São Paulo em 1951; O
Brasil Para Cristo, também em São Paulo em 1962; a Casa da Benção, em Minas Gerais
em 1964; além de outras igrejas ou agregações religiosas de menor tamanho e expressão
(Freston 1993). Essa segunda onda foi o produto de um movimento nacional de
avivamento do pentecostalismo, que contou com a participação de pregadores norte-
americanos (Campos 2011; Mariano 1999). O que se observa nesse momento é o
investimento em perspectivas religiosas que buscavam inserir novas ênfases litúrgicas no
contexto das igrejas pentecostais “clássicas” já instaladas no Brasil. Esse “avivamento”
acabou ganhando contornos interdenominacionais e se consolidou na “Cruzada Nacional
de Evangelização” (Campos 2011). Tal “cruzada” percorreu o Brasil e realizou cultos nas
igrejas que abriam suas portas ou em grandes tendas de lona armadas em terrenos baldios.

Essas igrejas que se constituem a partir do movimento de avivamento do pentecostalismo


clássico brasileiro mantêm os princípios pentecostais básicos, mas modificam
completamente o cenário religioso. Primeiro, porque o recrutamento dos novos adeptos
passa a ter como carro-chefe a noção de cura divina. Ou seja, há uma recorrente ênfase
litúrgica nos rituais de cura, que passam a ocupar grande parte do tempo dos cultos e da
pregação em geral. As orações especificamente voltadas para a cura do público presente
ganham relevo na prática religiosa, bem como os testemunhos emocionados daqueles que
teriam alcançado supostos milagres referentes à saúde e à condição física.

Além desse elemento, as igrejas criadas no contexto da segunda onda abandonam a lógica
sectária de isolamento e estabelecem diretrizes agressivas de recrutamento de fiéis. Fazem
isso, seja por meio do proselitismo de “porta em porta” ou pela realização de cerimônias
itinerantes em espaços públicos, seja pelo uso massivo do rádio como ferramenta de
evangelização.

Em geral, as instituições religiosas que compunham o pentecostalismo clássico rejeitaram


as perspectivas inseridas na “segunda onda” e insistiram em caminhos sectários. No
entanto, foi inevitável a debandada de parte dos fiéis e mesmo de pastores e outros agentes
religiosos que se vincularam à “Cruzada Nacional de Evangelização” e às denominações
religiosas que derivaram desta. (OpenEdition)

6.4. Igreja Deus é Amor


Fundada por David Miranda (nascido em 1936), filho de um agricultor do Paraná. Vindo
para São Paulo, converteu-se numa pequena igreja pentecostal e em 1962 fundou sua
igreja em Vila Maria. Logo transferiu-se para o centro da cidade (Praça João Mendes).
Em 1979, foi adquirida a “sede mundial” na Baixada do Glicério, o maior templo
evangélico do Brasil, com capacidade para dez mil pessoas. Em 1991 a igreja afirmava
ter 5.458 templos, 15.755 obreiros e 581 horas diárias em rádios, bem como estar presente
em 17 países (principalmente Paraguai, Uruguai e Argentina).

6.5. Terceira onda ou fase


Também chamada de neopentecostal ismo, acontece a partir da década de 80, sua
pregação enfatiza a prosperidade, e o Determinismo.
A terceira onda pentecostal teria sido iniciada nos anos 1970, ganhado força nos anos
1980 e 1990 (Freston 1993; Mariano 1999) e estaria ainda em curso. Esse novo momento
pentecostal foi composto por igrejas como a Universal do Reino de Deus (criada em 1977
no Rio de Janeiro); a Internacional da Graça de Deus (criada em 1980 também no Rio de
Janeiro); a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (criada em 1976 em Goiás) e a
Renascer em Cristo (criada no ano de 1986 em São Paulo). Para além dessas grandes
estruturas que acabaram se espalhando por todo o país, a cada ano surgem milhares de
outras denominações em progressão geométrica. Verifica-se, portanto, uma elevada
dispersão institucional que aponta para um nível maior de heterogeneidade do que aquele
verificado nas ondas anteriores.

Como mostra Mariano (1999), aos princípios pentecostais básicos, as igrejas da terceira
onda agregam um conjunto muito maior de elementos litúrgicos e doutrinários, quando
comparado com as da segunda onda —embora mantenham com firmeza a ênfase na cura
divina. Vejamos: investem pouco na limitação moral da conduta cotidiana do fiel
(principalmente nos aspectos referentes a vestuário e consumo); afastam-se radicalmente
do ascetismo de rejeição do mundo que caracterizara a primeira onda e já perdera terreno
na segunda; fazem uso intenso do proselitismo via rádio e televisão; buscam espaço na
política partidária, apoiados no princípio de que os homens de Deus devem se acercar do
poder para o bem da sociedade; enfatizam e estimulam o que denominam como guerra
espiritual contra o diabo, o que remete ao combate às demais religiões, com atenção
especial para àquelas de matriz afro-brasileira e, por fim, mas não menos importante,
representam a composição de interpretações específicas da doutrina cristã em direção ao
que a literatura tem denominado como “teologia da prosperidade” (Mariano 1996 e 1999).

Esse último aspecto constitui uma inovação doutrinária de peso, embora não seja uma
criação nacional. De fato, a teologia da prosperidade, ou “confissão positiva”, como
também é conhecida nos Estados Unidos, aparece naquele país nos anos 1940 (Mariano
1996) entre pregadores com inclinação pentecostal. A partir desse ponto é retrabalhada
por diversos agentes religiosos e denominações pentecostais, espalha-se pelo país e atinge
até mesmo outras nações. (OpenEdition)

6.5.1. Igreja Universal do Reino de Deus


Fundada por Edir Macedo (nascido em 1944), filho de um comerciante fluminense.
Trabalhou por 16 anos na Loteria do Estado, período no qual subiu de contínuo para um
posto administrativo. De origem católica, ingressou na Igreja de Nova Vida na
adolescência. Deixou essa igreja para fundar a sua própria, inicialmente denominada
Igreja da Bênção. Em 1977 deixou o emprego público para dedicar-se ao trabalho
religioso. Nesse mesmo ano surgiu o nome IURD e o primeiro programa de rádio.

Macedo viveu nos Estados Unidos de 1986 a 1989. Quando voltou ao Brasil, transferiu a
sede da igreja para São Paulo e adquiriu a Rede Record de Televisão. Em 1990 a IURD
elegeu três deputados federais. Macedo esteve preso por doze dias em 1992, sob a
acusação de estelionato, charlatanismo e curandeirismo
6.5.2. As Igrejas renovadas
Em paralelo ao crescimento do chamado neopentecostal ismo verificou-se, também, um
importante movimento de “pentecostalização” nas igrejas protestantes de missão ou
tradicionais —fenômeno que ficou conhecido como “renovação”. Isso gerou a criação de
novas instituições religiosas a partir do rompimento com a Igreja Presbiteriana e com a
Igreja Batista, principalmente. O resultado disso foi uma série de novas igrejas que
inseriam a indicação “renovada” a suas denominações iniciais (por exemplo, Batista
Renovada e Presbiteriana Renovada).

Nesse ponto, devemos voltar à tabela 3, na qual observamos que, nos 19 anos que separam
1991 e 2010, os evangélicos de missão permaneceram quase estagnados em números
relativos. Já os pentecostais mais do que dobraram. Chama atenção, porém, o crescimento
ainda mais profuso dos “evangélicos não determinados”, que multiplicam seu peso
relativo por 12 no mesmo período. (OpenEdition)

7. O concilio do Vaticano II

O Concílio Vaticano II foi uma reunião de autoridade dos bispos da Igreja Católica,
chamado de concílio ecumênico, realizado em Roma de 1962 a 1965. Houve 21 concílios
ecumênicos na história da Igreja, nos quais, de acordo com o Catecismo da Igreja
Católica, “o Colégio dos Bispos exerce de modo solene o poder sobre toda a Igreja no
Concílio Ecumênico”

O Concílio foi convocado para articular os ensinamentos da fé católica de uma forma que
pudessem ser entendidos na modernidade, para lidar com a relação da Igreja com o mundo
secular e para abordar algumas questões teológicas e pastorais que haviam surgido nas
décadas anteriores.

7.1. O concilio do Vaticano 2 e os protestantes


Conhecer o concilio do Vaticano II é de grande importância pois ele foi uma das maiores
e mais bem-sucedida iniciativa de aproximação da igreja Católica com os protestantes,
como é possível observar da análise feita pelo site PERMANÊNCIA em um artigo
denominado “A protestantização do Concilio Vaticano 2.” O que se segue é o referido
artigo, será utilizada fonte diferente para destaca-lo, apenas os grifos pertencem ao autor
desta ementa:

I. RESUMO DA POSIÇÃO PROTESTANTE

1. O ponto de partida do protestantismo, sua base filosófica e teológica, é sem dúvida


a concepção de Lutero acerca do pecado e da justificação.
Para ele, corrompeu o pecado totalmente a natureza humana, não há sequer liberdade
moral. Assim, nada encontra a graça de Deus que curar, transformar, divinizar, limitando-
se tão-só a uma declaração exterior: Deus encobre o pecado com o manto dos méritos de
seu Filho, não imputando-lhe de pecado, contudo o pecador conserva sua natureza
corrompida.
2. De tal parecer do estado da natureza decaída, decorrem os quatro soli de Lutero:
a) Sola fide: salva-se o homem só pela fé; notem que, entre os reformadores, concebe-se
a fé enquanto fé confiante nos méritos do Cristo Redentor, e não enquanto plena aceitação
da Revelação de Deus sob impulso da graça. As boas obras – o jejum, a oração, a esmola,
a penitência, a mortificação – não contribuem para a salvação, antes são sinais de fé.
Exprime Lutero desta forma seu pensamento de modo categórico: “Peca fortemente e
crê mais fortemente ainda, e tu serás salvo”.
b) Sola gratia: com sua natureza sem liberdade moral, o homem e radicalmente incapaz
de contribuir à salvação; Deus obra sozinho, o homem permanece passivo.
c) Solus Deus: opera Deus sozinho nossa salvação; não há mediação da Igreja, do
magistério ou do sacerdócio, menos ainda intercessão dos santos, por exemplo o da
Santíssima Virgem. Se o homem não diligencia para sua própria salvação, como poderia
obrar para a do próximo?
d) Sola scriptura: porque é impossível um magistério que exponha a Revelação de Deus,
não pode existir Tradição como fonte da Revelação; porque Deus faz tudo, ilumina
diretamente a alma dos crentes para que possam compreender a Santa Escritura, que
contém toda a Revelação.
3. Destes quatro soli decorre o sistema protestante:
a) A estrutura da Igreja: Não constitui um corpo vivo a dar a salvação às almas, mas
não passa de um serviço de caridade cuja hierarquia dá ensanchas à uma democratização:
todos somos povo de Deus, o sacerdócio ministerial absorve-se no sacerdócio geral dos
fiéis.
b) A fé e seu conteúdo; axiomas filosóficos. A Igreja e os santos, em particular a
Santíssima Virgem Maria, devem dar lugar a um falso cristocentrismo. Por um lado, cada
fiel pode ler a Santa Escritura e interpretá-la sob inspiração do Espírito Santo; por outro
lado, depara-se com uma multidão de diferentes confissões – a Igreja, enquanto única
vida de salvação, há de ser substituída pela multidão das confissões e modalidades de fé,
o magistério pelo trabalho dos teólogos, sob influxo da exegese liberal e da
“Formengeschichte”.
Se não se encontra explícita na Santa Escritura uma tradição, ela não pode existir.
O livre exame deve substituir a lei da fé; força é abandonar a ideia do estado católico,
pois que contradiz o livre arbítrio; decorre daí a exigência da liberdade religiosa.
A ordem objetiva cede lugar ao subjetivismo e ao individualismo, o bem comum à
realização pessoal, i. é, ao personalismo.
A Igreja deve abandonar o poder temporal e a dominação; deve sobretudo abandonar o
Estado Católico enquanto fato, pois que se opõe á propagação do protestantismo.
O laço harmonioso entre a natureza e a graça não se mantém. No protestantismo, existe
uma oscilação entre, por um lado, o fideísmo (Karl Barth) e, por outro lado, o
racionalismo (Bultmann) e o naturalismo com a laicisação da sociedade.
Há mister de abandonar a romanidade expressa na língua latina, o Romano Pontífice e a
Cúria, orientando-se em direção a Igrejas nacionais.
Igualmente, há de se rejeitar a escolástica, sistema esclerosado oposto ao Evangelho vivo.
c) O culto: acento na palavra e na Eucaristia-refeição, abandono da ideia de sacrifício
expiatório: a liturgia não é culto, é antes instrução e assunto de toda a comunidade.
Demais, há necessidade de retorno a formas de culto mais simples, abandonando o
triunfalismo.
II. PRESENÇA DOS PROTESTANTES NO CONCÍLIO VATICANO II
Era da responsabilidade do Secretariado para a Unidade dos Cristãos, sob o cardeal Bea,
preparar os convites para o Concílio às “Igrejas” não católicas, comunidades eclesiásticas,
observadores e delegados, enviando os convites em nome do Papa1.

Encontravam-se na primeira sessão do Concílio os seguintes representantes do


protestantismo:
- Comunidade anglicana: 3 representantes;
- Aliança Mundial Luterana: 3 representantes;
- Aliança Mundial da Igreja Reformada, Igreja Presbiteriana: 3 representantes;
- Igreja Evangélica Alemã: 1 representante;
- Convenção Mundial das Igrejas de Cristo: 1 representante;
- Friend’s World Committee for Consultation (Quakers) : 1 represent ante;
- Internacional Congregation Council: 2 representantes;
- Conselho Mundial Metodista: 3 representantes;
- Conselho Ecumênico das Igrejas de Genebra: 1 representante;
- Associação Internacional para o Cristianismo Liberal e a Liberdade Religiosa: 2
representantes;

Demais, participaram outros convidados do Secretariado para a Unidade: Roger Schutz,


prior da comunidade protestante de Taizé e seu confrade Max Thurian; o Pr. Cullmann,
da Universidade de Bâle e de Paris; o Pr. Berghauer, da Universidade Protestante de
Amsterdan. Em suma, um total de 23 representantes.
(...)
d) O Secretariado para a Unidade dos Cristãos serve de intermediário entre os organismos
do Concílio e os observadores para transmitir a estes as informações necessárias, a fim de
que possam com mais facilidade e eficácia acompanhar os trabalhos do Concílio. (...)
Temos agora a presença viva dos protestantes. Já estavam presentes no Concílio de forma
indireta por meio dos padres e teólogos que sabiam há muito cooptados a suas ideias,
representando-os mais ou menos abertamente: os cardeais Bea, König, Frings, Döpfner,
Liénart, Alfrink; especialistas como Rahner, Hans Küng, Edouard Schillebeeckx, Congar.
Alguns trechos das obras de Congar servem-nos de prova2:
“Em Saulchoir, tinham interesse por Lutero, de forma bem diferente da de Denifle ou
Grisar. Durante uma segunda estada na Alemanha, visitei os lugares marcantes do
luteranismo, os quais me atraiam”. Devota grande admiração ao reformador: “Lutero é
dos maiores gênios religiosos de toda a história. Ponho-lhe neste quesito no mesmo
patamar de Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino ou Pascal. De certo modo, é ele
ainda maior. Repensou todo o cristianismo. Lutero fora um homem de Igreja.” Donde
vem tal admiração por um homem cujo gênio era o de destruição? Vem de que Lutero
“era incapaz de receber algo que não viesse de sua própria experiência. ” [...]
Citemos ainda o cardeal Ratzinger, grande admirador de Karl Barth. Em 1986, numa
carta à Theologische Quartalsschrift, Tübingen, escrevera isto:
“ [...] De várias maneiras, não se deve considerar um bem para a Igreja Católica, na
Alemanha e fora dela, o fato de que a seus flancos existisse o protestantismo e sua
liberdade e piedade, seus conflitos e a grande exigência espiritual?3”
Anos mais tarde, ele concelebrará em Haburgo as vésperas com a Sra. Jespen, bispa
protestante!
III. A INFLUÊNCIA DOS PROTESTANTES SOBRE O CONCÍLIO
Com tamanha presença de protestantes no Concílio – presenças direta e indireta – como
espantar-se da influência sobre o Concílio e seus documentos? Citemos-lhe alguns para
fundamentar a afirmação:
1. O decreto “Sacrosanctum Concilium” sobre liturgia
Já no artigo 5, encontramos a noção de mistério pascal, que põe a tônica da Redenção na
Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e arrefece a realidade do sacrifício expiatório
da liturgia.
No artigo 6, mencionam o mistério pascal duas vezes.
No artigo 7, equiparam a presença do Cristo na Santa Missa e na substância
transubstanciada com a presença no ministro da ação litúrgica, na virtude dos
sacramentos, na palavra, ou com a presença que há onde duas ou três pessoas estiverem
reunidas em seu nome. Uma tal ordem de coisas é um empréstimo manifesto dos
protestantes.
Nos artigos 24 e 51, fala-se da grande importância da Santa Escritura na liturgia.
Convida o artigo 34 à reforma dos ritos para que observem o esplendor em nobre
simplicidade, e sejam limpos de repetições. Vemos aqui claramente a influência
racionalista e antiliturgista – já que a liturgia vive de repetições, como vemos por exemplo
nos ritos da Igreja do Oriente, nas ladainhas e no rosário.
Os de número 36 e 54 versam da introdução da língua vernacular na liturgia, sem dar os
precisos limites para ela na Santa Missa.
No artigo 37, distinguimos já a enculturação e a presumida unidade na pluralidade
Sugere o artigo 55 dar em certas ocasiões a Eucaristia sob as duas espécies, à moda dos
protestantes.
O artigo 81 exige a supressão do sombrio pensamento acerca da morte, em favor de
outras cores litúrgicas diferentes do negro. Ora, uma orientação que tal vai ao encontro
do aplauso dos protestantes, que não conhecem nem purgatório, nem oração dos defuntos.
Num lanço d’olhos sobre tal esquema, constata-se o espírito racionalista, antilitúrgico e
anti-romano, em tudo de mentalidade protestante.
2. A constituição dogmática sobre a Igreja “Lumen Gentium”
Para começar, diz o artigo 8 que a Igreja do Cristo “subsiste na Igreja Católica”,
expressão nefasta e prenhe de consequências. Ora, é um pastor protestante, Schmitt, que
propusera substituir o est de identificação entre a Igreja do Cristo e a Igreja Católica pela
expressão relativista subsistit in.
No capítulo 2, artigos 4 a 16, fala-se, antes do mais, da Igreja enquanto povo de Deus, e
tão-só no terceiro capítulo se fala da hierarquia, como se ela fosse o fruto da comunidade
e um serviço para ela
Aceitou o Concílio as graves restrições de Karl Rahner e dos senhores Ratzinger,
Grillmeier e Semmelroth contra um esquema próprio sobre a Santíssima Virgem. As
explicações acerca da Santíssima Virgem encontram-se agora no capítulo 8 da
constituição sobre a Igreja, onde omite-se deliberadamente o título de “corredentora”; não
reconheceram ainda à Santíssima Virgem o de ‘mediadora”, cuja utilização apenas se
menciona.
3. O decreto sobre o exumenismo “Unitatis redintegratio”.
A princípio, notemos que a noção de ecumenismo vem do protestantismo, em que se
observa esforços ecumênicos já no séc. XIX para remediar sua dilaceração insolúvel.
Diz o artigo 3 que as comunidades separadas da Igreja Católica não estão em comunhão
plena com a Igreja, mas intentam mesmo assim que exista uma como continuidade de
comunhão, pois que os fiéis se justificam no batismo, incorporando-se ao Cristo. Por isso,
diz o decreto, reconhecem-nos a justo título como irmãos no Senhor. Cabe a cada qual
uma parcela de culpa na separação. A afirmação de que pertencem de jure à Igreja
Católica os elementos de santificação nestas comunidades é uma melhoria inserida
pelo Papa pouco antes da publicação do decreto.
No parágrafo 4º, diz-se que estas comunidades, enquanto tais, são meios de salvação,
significando isso duas coisas:
1) elas são importantes para a salvação de seus membros;
2) em geral, possuem uma função soteriológico-histórica.
Essas afirmações relativistas estão entre as piores do Concílio como um todo.
No artigo 4 estatui-se que o trabalho ecumênico não se relaciona com o favorecimento
das conversões individuais; encontra-se afirmação semelhante na Constituição sobre a
Igreja, artigo 9, finis. Substituem assim a missão que legou Jesus Cristo pelo esforço
de coexistência pacifica entre todas as denominações e religiões, à moda protestante.
O artigo 7 revela-nos que não há ecumenismo verdadeiro sem conversão interior, desta
feita mistura-se ortodoxia e ortopraxia, o lado objetivo e o subjetivo.
O artigo 8 não só permite a oração em comum com os “irmãos separados”, mas a
recomenda explicitamente, como testemunho qualificado dos laços existentes.
Exige o artigo 10 o ensinamento da teologia sob o ângulo ecumênico, em particular no
que tange à história. Deste modo, a teologia controversista e apologética contra o
protestantismo está condenada à morte.
Apesar de no artigo 21 apresentarem a Santa Escritura como instrumento excelente para
o diálogo, há de se perguntar de que modo se deve conduzir este diálogo com os
subjetivistas protestantes, em que cada um é seu próprio magistério. Demais, neste artigo
conferiram ao magistério autêntico um papel restrito, não constituindo mais a norma para
o cânon e a interpretação da Santa Escritura.
No artigo 22 atribui-se à ceia protestante, não obstante a ausência do sacramento da
Ordem, um certo valor positivo.
É de se notar também que não tratam da questão dos casamentos mistos, deixando de
ensinar aos católicos que tais matrimônios só se contraem perante um padre católico, que
devem batizar os filhos na Igreja Católica e educá-los nesta fé.
4. A constituição dogmática sobre a Revelação Divina “Dei Verbum”
Esta constituição abandona a doutrina católica das duas fontes da Revelação, para
aproximar-se do sola scriptura dos protestantes. Apresentam-nos de imediato no capítulo
1 a Revelação não mais como comunicação das verdades sobre Deus e suas intenções
salvíficas, mas como auto comunicação de Deus; nisto põe em evidência a passagem da
perspectiva objetiva à perspectiva subjetiva.
No artigo 5, descrevem a fé como encontro pessoal com Deus, e dom do homem para
com Ele; não se deveria mais considerar a tradição como complemento quantitativo e
material da Escritura. Ela teria apenas uma dupla função de reconhecimento do teor do
cânon e certidão da revelação. De modo ambíguo, não apresentam o magistério abaixo da
palavra de Deus, senão que a seu serviço.
Reconhece-se fortemente no artigo 12 a exegese moderna com sua “Formengeschichte”,
embebida no espírito protestante de Bultmann. Não mais se atribui à Santa Escritura a
inerrância, mas só dizem que ela ensina a verdade.
O artigo 19 fala que os Evangelhos oferecem o veraz e o sincero – no texto originam,
acrescentaram: “alimentados pela força criativa da comunidade primitiva”, suprimido
após o protesto de muitos dos Padres do Concílio. Na 2ª frase deste artigo, assume o
Concílio sem meias palavras a exegese moderna: os apóstolos pregavam uma
compreensão mais plena do Cristo, os redatores dos Evangelhos “redigiram” o material
desta prédica, i. é., material que eles selecionaram, resumiram e atualizaram.
No artigo 22, encorajam-se as traduções ecumênicas da Bíblia, traduções estas que, de
fato, são as utilizadas hoje em dia. Todavia, há mister de se perguntar como, em textos
que tais, se formula e comenta a Anunciação de Maria; o mesmo vale para os irmãos de
Jesus, e para Mateus 16, 184.
5. A constituição pastoral “Gaudium et Spes”.
(...)
9. A declaração sobre a liberdade religiosa “Dignitatis humanae”
Foi de grande interesse para os protestantes esta declaração, e isto sob duplo aspecto,
enquanto princípio e fato:
a) enquanto princípio, substitui a ordem objetiva pela livre consciência;
b) enquanto fato, abole os Estados Católicos, que serviam de entrave à penetração das
seitas protestantes. Assim, vê-se o Conselho Mundial Ecumênico das Igrejas Protestantes,
em Genebra, dirigir-se à presidência do Concílio, em setembro de 1965, pouco antes da
quarta e última sessão, para pedir com instância a proclamação da liberdade religiosa, o
que se deu a 7 de setembro de 1965
IV. APRECIAÇÃO SOBRE A ATUAL SITUAÇÃO DA IGREJA
Uma influência tão maciça do protestantismo no Concílio só poderia resultar numa
Igreja protestanizada.
1. A estrutura da Igreja
a) O poder central de Roma diminui consideravelmente, em favor das Conferências
Episcopais, que cada vez mais se constituem em igrejas nacionais. O duplo poder da
Igreja – por um lado o Papa, por outro os colégios de bispos com o Papa, como se depara
na Lumen Gentium e na nota previa explicativa, nota esta que evita o pior – reaparece
nos cânones 336 (direito romano 1983), no Catecismo da Igreja Católica, nº 883, e no
novo Compendium, questão nº 183.
Na encíclica Ut unum sit, de 25 de maio de 1995, o Papa João Paulo II diz o seguinte:
“ [...] O Espírito Santo nos dê a sua luz, e ilumine todos os pastores e os teólogos das
nossas Igrejas, para que possamos procurar, evidentemente juntos, as formas mediante as
quais este ministério possa realizar um serviço de amor, reconhecido por uns e por
outros” 5. (DC 18 de junho de 1995 n° 2118, p. 593 § 95)
b) Por onde se verifique a democratização ad Igreja, a começar nas paróquias, pelos
conselhos paroquiais, nas dioceses, e até nos sínodos de bispos em Roma. Existe, de feto,
uma hierarquia paralela.
c) É obvio que os inovadores desprezam o monarquismo. Nos Estados Unidos, a vida
religiosa está em vias de desaparecer completamente. A vida consagrada se encontra,
onde ainda ela existe, distendida no exercício das obras sociais. Nas orações festivas dos
fundadores das Ordens, no Novo Ordo, faz-se silêncio sistemático da glória do fundador
e da graça da fundação.
2. A fé
a) Hoje em dia, a fé na unidade e no caráter absoluto da Igreja está, até entre
católicos, posta em xeque ou negada.
b) Introduziu-se um subjetivismo malicioso, não apenas na consciência geral, mas
até nas dos católicos. O cardeal Ratzinger, na homilia de abertura do conclave, a 18 de
abril, falou da “tirania do relativismo”. Ora, o ecumenismo é justamente o relativismo
religioso.
c) Caso todos os fiéis, pela graça do batismo, estejam unidos entre si, duma vez por
todas, como afirma o Papa João Paulo II, então a graça é inalienável, o que equivale
à uma heresia. Ora, encontramos hoje na Igreja tal otimismo salvífico, que esquece
totalmente o julgamento de Deus e a possibilidade de danação.
d) Na declaração comum sobre a justificação, de 31 de outubro de 1999, pretende-
se que o homem seja pecador e santo ao mesmo tempo. Só há como fundamentar tal
concepção na noção protestante da justificação.
e) Certos membros da hierarquia sentem falta dum espírito de secularização. Não
foi Lutero o primeiro representante deste espírito? Por exemplo, no axioma: “o casamento
é um fato puramente secular”.
f) Mais importa a veracidade, a sinceridade, que a verdade. Há pois uma passagem da
ordem ontológica à ordem moral. O cânone 844 do novo direito canônico é um reflexo
disso: para conferir os sacramentos da Penitência, Extrema-Unção, Eucaristia a não
católicos, basta a crença nestes sacramentos. Como a Penitência e a Extrema-Unção
não interessam aos protestantes, basta-lhes acreditar na presença real para
comungar conosco. Não se exige mais a fé de adesão à toda a Revelação, mas apenas
a sinceridade duma fé subjetiva.
g) A harmonia entre a graça e a natureza por todo lado está corrompida, assim como
a identidade entre Jesus de Nazaré e o Cristo da Fé. O protestantismo, sempre a oscilar
entre o racionalismo e o fideísmo, nega – mormente seus teólogos – a divindade do Cristo.
Para os fideístas, a religião não passa de sentimento que se diversifica em mil tipos de
pentecostalismos. Nesta mesma ordem, o bem comum dá lugar ao auto realização.
h) Em espiritualidade, há um distanciamento notável do espírito de sacrifício, de
penitência e de oração.
i) A devoção à Santíssima Virgem e os Santos está quase que completamente
enquadrada do espírito moderno.
(...)
CONCLUSÃO
Segundo a enciclopédia do ano 2000, há atualmente no mundo 33.820 denominações
protestantes diferentes. No fundo, teria de dizer que existem tantas denominações
quantos protestantes, pois que cada qual é seu próprio magistério e pastor. Com o
Concílio, e após ele, assumiu a Igreja de tal forma os postulados protestantes que ela
mesma está quase a tomar o caminho da autodissolução. Que o Senhor da Igreja faça-nos
a graça duma reforma rápida e enérgica, uma reforma in capite membris, conforme o
exemplo do Concílio de Trento.
Dizia há pouco um prelado da Cúria Romana que deste Concílio só uma coisa
restava: uma grande confusão. O cardeal Stickler dizia-se que um dia seriam obrigados
a fazer uma revisão do Concílio, e nossa Fraternidade poderia contribuir nela. Estes
simpósios, organizados aqui em Paris, são uma magnífica ocasião de pôr mãos à obra.
8. Os Concílios de Medelin e de Puebla.

8.1. As conferências gerais do episcopado latino americano


A Primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano CELAM, realizou-
se no Rio de Janeiro de 25 de julho a 4 de agosto de 1955, no Colégio Sacré Coeur.
A Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano realizou-se
em Medellín, na Colômbia no período de 24 de agosto a 6 de setembro de 1968.
A Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizou-se
em Puebla de los Angeles no período de 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979.
A Quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizou-se em Santo
Domingo, na República Dominicana, no período de 12 a 28 de outubro de 1992. João
Paulo II a convocou oficialmente no dia 12 de dezembro de 1990, estabelecendo como
tema: "Nova evangelização, Promoção humana, Cultura cristã", sob o lema: "Jesus Cristo
ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8). A quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-
americano e do Caribe, ou Conferência de Aparecida, foi inaugurada pelo Papa Bento
XVI, em Aparecida, no dia 13 de maio e encerrou no dia 31 de maio de 2007.

8.2. Segunda conferência geral - Medellín/Colômbia 1968


A Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, realizada na cidade de
Medellin (Colômbia), entre os dias 24 de agosto e 06 de setembro de 1968, produziu um
importante e significativo documento - As Conclusões de Medellin - que registraram as
posições da Igreja da América Latina, que assumiu uma posição libertadora frente a
opressão no continente. O objetivo do Papa Paulo VI, como diz o próprio título da
proposta da Conferencia, era ler a realidade latino-americana a luz do Concilio Vaticano
II. Os bispos fizeram mais do que isso: leram o Concilio a luz da realidade latino-
americana. Nesse contexto, o objetivo deste artigo, a partir de pesquisa bibliográfica, é
apresentar alguns elementos da realidade política e eclesial de Medellin e analisar dois
aspectos do documento: a educação e a juventude. A década de 1960 e, particularmente,
o ano de 1968, são momentos históricos efervescentes, contexto da guerra-fria,
impactando muitas mudanças. A Igreja assume de forma clara o trabalho de inserção nas
comunidades pobres. A educação passa a ser pensada numa perspectiva libertadora e há
a inserção dos religiosos nas comunidades de base. A juventude católica assume
compromissos socais e políticos. Em Medellin, a Igreja latino-americana ganha
identidade própria e surge uma forma original de fazer teologia, a teologia da libertação
e sua opção pelos pobres. Também o exercício da colegialidade dá passos importantes,
inclusive na forma de elaboração desse documento. Portanto, celebrar 50 anos de
Medellin deve levar o olhar crítico para seus valores e limitações e recuperar seus
avanços, contribuindo para o debate no campo das Ciências da Religião.

A Conferencia de Medellín (1968) aconteceu na Colômbia de Camilo Torres que, ao lado


de Che Guevara, compôs o panteão dos “heróis” de um momento de inflexão na história
do continente. Esses guerrilheiros são símbolos maiores capazes de traduzir a mentalidade
do momento, que aspirava e que combatia por rupturas. Sartre viu com espanto que em
Cuba aconteceu a revolução dos jovens. Disse que seus filhos estavam no poder.
Ministros de Estado e demais dirigentes tinham entre 27 e 33 anos, sobretudo. (...)
O documento usa a palavra "libertação" quando trata do tema da opressão e apresenta o
tema do Êxodo, que veio a ser um elemento caro a futura Teologia da Libertação.
Assegura que da mesma forma que o antigo povo de Israel "sentia a presença salvifica de
Deus quando ele o libertava da opressão do Egito, quando o fazia atravessar o mar e o
conduzia a conquista da terra prometida, assim também nós: o novo povo de Deus não
podemos deixar de sentir seu passo que salva" (Med, Introd., n.6).(...)

8.3. Terceira conferência geral – Puebla/Los Angeles 1979


O que se segue são recortes de um artigo escrito por Elias Wolff “O contexto ecumênico
da Conferência de Puebla e suas contribuições para a unidade cristã” que fornece um
panorama desta conferência. Nenhuma modificação foi feita no referido artigo exceto a
subtração de algumas partes devido a sua extensão, além dos grifos do autor da ementa.
INTRODUÇÃO
Com o Concílio Vaticano II, o ecumenismo foi assumido como elemento constitutivo da
natureza, identidade e missão da igreja católica.1 A partir de então, o magistério católico
exorta para que as conferências episcopais em todo o mundo encontrem o modo de aplicar
as orientações conciliares sobre o ecumenismo, no contexto da recepção do Concílio
como um todo. E isso acontece de três principais formas: criando estruturas para o diálogo
no interior das próprias conferências, como delegados/as e comissões responsáveis pela
promoção do ecumenismo; desenvolvendo a perspectiva/dimensão ecumênica dos
projetos pastorais e da formação dos agentes de pastoral; estabelecendo relações
concretas com as diferentes igrejas existentes no mesmo território. Tal foi o que aconteceu
com muitas conferências episcopais em diversos países da América Latina. No Brasil, por
exemplo, a CNBB elaborou em 1966 o Plano Pastoral de Conjunto estruturado em 6
Linhas pastorais, sendo a “Linha 5” a responsável por dinamizar a causa ecumênica. Em
âmbito continental, em 1967 o CELAM criou o Departamento para o Ecumenismo. E a
partir da Conferência de Medellín em 1968, o ecumenismo foi sempre contemplado nas
discussões e nas Conclusões de suas Conferências Gerais. A Conferência de Puebla
exemplifica tal fato. Embora nas Conclusões da Conferência de Medellín o ecumenismo
já tenha sido contemplado explicitamente, de modo transversal nos vários temas das
Conclusões, Puebla é a primeira Conferência do episcopado latino-americano que lhe
dedica uma seção especial, composta de 28 números. A partir de então, as demais
Conferências também dedicam um espaço próprio nas Conclusões para tratar do assunto,
mas de forma mais reduzida: Santo Domingo (1992) o trata explicitamente em 20
números;2 e Aparecida (2007) em apenas 8 números.
(...)
As Conclusões de Medellín, por exemplo, talvez sejam as que propõem o ecumenismo
de forma mais incisiva, permeando todo o documento de modo que o ecumenismo confi
gura o espírito das Conclusões. Isso se explicita por outro fator: a Conferência de
Medellín talvez tenha sido, de todas, a que mais viveu concretamente a experiência
ecumênica: pela presença e atuação dos Observadores das diferentes igrejas e
organizações de igrejas; e pela prática da hospitalidade eucarística. Talvez esses fatores
de algum modo intimidaram a causa ecumênica em Puebla
(...)
Dessa forma, a continuidade à Medellín faz com que Puebla impulsione significativas
práticas ecumênicas nas igrejas locais em todo o continente. E tal posicionamento
incentivou também a continuidade da orientação ecumênica nas Conferências posteriores,
de Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), realizadas em tempos de maiores
incertezas que as de Medellín e de Puebla para o movimento ecumênico no mundo e na
América Latina.
(...)
1. O contexto ecumênico da Conferência de Puebla
1.1. As igrejas evangélicas
Com isso tenta-se descrever aspectos da vida da igreja indivisa em todos os níveis: de
uma comunidade de diálogo entre confissões distintas, na qual se podem examinar
questões ainda não resolvidas, como eucaristia, ministério, autoridade, confissões de fé.
Sem dúvida, o conceito “comunidade conciliar” é a elaboração máxima da proposta que
o CMI apresenta à consideração de todas as igrejas em seu caminho para a unidade
visível.
As igrejas na América Latina também têm suas iniciativas ecumênicas. No ano de 1969,
realizou-se a III Conferência Evangélica Latino-Americana, considerada um dos eventos
ecumênicos mais sintonizados com a realidade do continente pela sua apurada
sensibilidade social, impulsionando o desenvolvimento de uma cristologia autóctone,
uma antropologia libertadora, uma eclesiologia e missiologia inseridas.4 Isso influenciou
para que nos anos 70, a União Latino Americana de Juventudes Ecumênicas – ULAJE,
afirmasse “a opção por uma teologia que considerasse a libertação sociopolítica dos povos
do nosso continente como inseparável da redenção total que Cristo oferece”.5 Assim,
segmentos das igrejas evangélicas reelaboram a sua teologia, a sua espiritualidade e a sua
ação missionária, integrando a profissão da fé com projetos de ação que tenham
incidência política.
Na III CELA foi confirmada outra importante organização ecumênica, a Unidade
Evangélica Latino Americana – UNELAM, como responsável pela continuidade da
articulação das relações ecumênicas das igrejas evangélicas do continente até a criação
do Conselho Latino Americano de Igrejas – CLAI, 1982.6 Nesse contexto, é importante
tratar também da Fraternidade Teológica Latino-Americana – FLT, criada em 1970 na
consulta feita em Cochabamba, Bolívia, ajudando as igrejas a terem uma base comum
para a compreensão do Evangelho de modo contextualizado na realidade dos diferentes
países da região.
(...)
Portanto, na década de 70 do século XX o movimento ecumênico do continente vivia um
intenso dinamismo e criatividade, expressando um forte potencial transformador. Mas em
meados dessa década, o avanço dos governos militares, a repressão política e o
consequente êxodo de líderes proeminentes do movimento criaram uma situação de
desorientação dos projetos ecumênicos. Conflitos sociais, políticos e econômicos em
quase todos os países do continente, produziram crises no funcionamento dos Conselhos
Nacionais de Igrejas.
(...)
1.2. A igreja católica latino-americana e o ecumenismo
Nesse tempo a Igreja Católica vive sob o impulso do Concílio Vaticano II que a orienta
para integrar-se nas iniciativas ecumênicas. E o faz realizando diálogos oficiais com
diversas igrejas e organizações ecumênicas. Desses diálogos resultaram significativas
Declarações comuns, documentos que expressam convergências e consensos em questões
doutrinais. Destacamos sete deles, todos publicados no vol. I do Enchiridion
Oecumenicum: 1) Diálogo católico-anglicano: Declaração de Windsor (1971) sobre a
Doutrina da Eucaristia (1971) e o Esclarecimento de Salisbury (1979),10 Declaração de
Cantuária sobre Ministério e Ordenação (1973) e o Esclarecimento de Salisbury,11
Declaração de Veneza sobre Autoridade na Igreja (1976) e o Esclarecimento de Windsor
(1981);12 2) Diálogo católicoluterano: O Evangelho e a Igreja (1972),13 A Ceia do
Senhor (1978);14 3) Diálogo católico-metodista: Relatório de Denver (1971) tratando de
diversos temas, como cristianismo no mundo contemporâneo, a espiritualidade, a família
cristã,15 Relatório de Dublin (1976) tratando sobretudo do testemunho comum e a
salvação hoje e a espiritualidade;16 4) Diálogo católico-luteranoreformado: A teologia
do matrimônio e os problemas dos matrimônios interconfessionais (1976); 5) Diálogo
católico-pentecostal: Relatório da primeira fase do diálogo (1972-1976), tratando do
objetivo e método do diálogo, além de temas teológicos diversos, como o batismo no
Espírito Santo, a iniciação cristã, o dom do Espírito Santo, a Escritura, tradição e
desenvolvimentos, o movimento carismático, o discernimento dos espíritos, oração e
louvor;17 6) Diálogo católico-reformados: conclui-se a primeira fase do diálogo (1970-
1977) com o documento: A presença de Cristo na Igreja e no mundo (1977);18 7) Diálogo
Católico-Conselho Mundial de Igrejas: Terceiro Relatório (1971), tratando sobre a fé e
culto das igrejas, missão e unidade, o laicato, os Conselhos de Igrejas, testemunho comum
e proselitismo, catolicidade e apostolocidade;19 Quarto Relatório (1975), tratando dos
fundamentos comuns, como o testemunho e o chamado à renovação, a unidade da igreja,
o desenvolvimento e a paz, a semana de oração pela unidade dos cristãos.
3.2. O diálogo inter-religioso
O diálogo inter-religioso O ecumenismo tem especificidades próprias enquanto diálogo
entre os cristãos. Mas ele não acontece isolado do diálogo também com as diferentes
religiões, que se distingue do diálogo ecumênico em seus sujeitos, natureza e objetivos.
Com o diálogo inter-religioso não se busca o testemunho comum da fé, mas possibilitar
que, a partir da fé de cada um, os membros das diferentes religiões realizem projetos de
cooperação em função de um mundo melhor. Os bispos percebem a existência do
pluralismo religioso no continente, identificam suas expressões no que chamam de
“movimentos religiosos livres”56 e nas diferentes “formas religiosas ou para-
religiosas”,57 com especial atenção ao Judaísmo58 e ao Islamismo.
Analisam o significado das diversas formas de crer no continente e os desafios que
apresentam para a convivência com a fé cristã. Buscam analisar a realidade religiosa
plural dentro do plano salvífico de Deus que quer salvar a todos (At 4,12; 1Tm 2,4) e por
todos Cristo morreu (Lc 22,20; 1Cor 11,24; 15,4), recorrendo ao Vaticano II para afirmar
que de alguma forma conhecida unicamente por Deus “o Espírito Santo oferece a
todos a possibilidade de serem associados ao mistério pascal (GS 22)”.
É louvável como Puebla apresenta os valores positivos que se manifestam no pluralismo
religioso. Entende que os “movimentos religiosos livres” manifestam desejo de
comunhão, participação e liturgia vivida;61 que no monoteísmo islâmico existe a busca
do Absoluto e de respostas aos questionamentos existenciais, o que se constitui como
“pontos de aproximação para um diálogo”;62 e nas outras formas religiosas ou para
religiosas “vislumbra-se a proposta de respostas para as necessidades concretas do
homem, um desejo de contato com o mundo transcendente e espiritual”.63 Temos aqui
elementos fundamentais para o diálogo: identificar o que constitui a identidade do outro,
buscar compreender sua manifestação e valorizar o seu modo de ser. Mesmo entre tensões
e divergências, o valor da alteridade religiosa precisa ser afirmada, ainda que não seja
possível partilhar de seus elementos constitutivos. Os bispos expressam o entendimento
de que a finalidade primeira do diálogo não consiste em querer negar ou mudar o que o
outro é, mas compreendê-lo em seu modo de ser. Desse modo, é possível estabelecer
sintonias e convergências entre a fé cristã e alguns elementos doutrinais ou éticos que se
manifestam no interior do pluralismo religioso do nosso tempo. Existe, por exemplo, o
reconhecimento da busca do Absoluto e do mundo transcendente e espiritual pelas
diversas formas religiosas, e que estas são tentativas de respostas aos questionamentos da
existência humana e possibilitam a vida em comunhão. Com relação ao Judaísmo, Puebla
recorda o ensino conciliar sobre “o vínculo com que o povo do Novo Testamento está
espiritualmente unido à raça de Abraão”, pelo que é preciso “fomentar e recomendar o
mútuo reconhecimento e apreço”, promovendo o “patrimônio comum”64 das duas
religiões. Dessa forma, Puebla segue a orientação conciliar de reconhecer, conservar e
fazer progredir os bens espirituais, morais e os valores socioculturais das diferentes
religiões65 e com elas cooperar na construção da “fraternidade universal”.
CONCLUSÃO
Na intenção de dar uma visão ampla da história do cristianismo na América latina foi
apresentada recortes de vários documentos que procuram abranger, ainda que de forma
panorâmica, os principais fatos desta história. Como já foi dito, conhecer estes fatos
capacita o aluno a compreender os rumos que o Cristianismo tem tomado em nossos dias.
Esperamos ter despertado a curiosidade e, se isto aconteceu, todo o material usado tem
sua referência abaixo para posteriores consultas.
REFERÊNCIAS
HOOMAERT, E. História do cristianismo na América Latina e no Caribe. São Paulo:
Paulus.
PLOU, Dafne Sabanes. CAMINHOS DE UNIDADE. Itinerário do Diálogo
Ecumênico na América Latina. São Leopoldo: Sinodal,
DREHER, MARTIN N. A IGREJA LATINO-AMERICANA NO CONTEXTO
MUNDIAL. São Leopoldo: Sinodal.
PARKER, Cristian. Religião Popular e modernização Capitalista. Petrópolis: vozes,
1996
https://brasilescola.uol.com.br/historiab/igreja-catolica-no-brasil.htm
https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/a-igreja-e-a-colonizacao
https://maniadehistory.com/historia-do-protestantismo-no-brasil/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pentecostalismo
https://journals.openedition.org/revestudsoc/46128
https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Confer%C3%AAncia_Geral_do_Episcopado_La
tino-
Americano#:~:text=A%20Segunda%20Confer%C3%AAncia%20Geral%20do,Igreja%
20presente%20na%20Am%C3%A9rica%20Latina.
https://permanencia.org.br/drupal/node/917

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