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Escola Bíblica Dominical

História da Igreja

Rev. Vagner Pereira dos Santos1


1º Semestre de 2023

1
Direitos autorais: essas apostilas foram compiladas por mim a partir de material pesquisado em livros, apostilas e sites da internet, e a
maioria está com as notas de rodapé apontando seus autores.
Erros: caso perceba algum erro ou tenha alguma sugestão, eu ficarei agradecido se entrar em contato.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 1


ÍNDICE

Aula 01 - UMA VISÃO GERAL DA HISTÓRIA DA IGREJA ............................................................................. 3


Aula 02 - AS PERSEGUIÇÕES CONTRA A IGREJA .......................................................................................... 6
Aula 03 - SEITAS E HERESIAS ..................................................................................................................... 10
Aula 04 - OS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS E GERAIS ...................................................................................... 12
Aula 05 - DE CONSTANTINO, 313 AD ATÉ À QUEDA DE ROMA EM 476 AD. ............................................ 14
Aula 06 - CONTROVÉRSIAS TRINITÁRIAS E CRISTOLOGICAS ..................................................................... 17
Aula 07 – A FORMAÇÃO DO CÂNON BÍBLICO ........................................................................................... 27
Aula 08 - IGREJA MEDIEVAL ...................................................................................................................... 33
Aula 09 - O DESENVOLVIMENTO DA VIDA MONÁSTICA ........................................................................... 36
Aula 10 - AS CRUZADAS ............................................................................................................................. 39
Aula 11 - A INQUISIÇÃO ............................................................................................................................ 43
Aula 12 - TEMPO DE PÂNICO .................................................................................................................... 45
Aula 13 - INÍCIO DA REFORMA RELIGIOSA ................................................................................................ 47
Aula 14 - OS REFORMADORES................................................................................................................... 51
Aula 15 - REFORMA PROPRIAMENTE DITA ............................................................................................... 56
Aula 16 - A CONTRA-REFORMA ................................................................................................................. 61
Aula 17 – ACONTECIMENTOS RELEVANTES .............................................................................................. 65
Aula 18 - A IGREJA CONTEMPORÂNEA ..................................................................................................... 72
Aula 19 - IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL .......................................................................................... 76
Aula 20 - HISTÓRICO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL ................................................................. 79

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Aula 01 - UMA VISÃO GERAL DA HISTÓRIA DA IGREJA

Relembrando a história geral da Igreja

A PLENITUDE DO TEMPO
Gálatas 4 : 4 Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho,
nascido de mulher, nascido sob a lei,
A Palestina onde o cristianismo deu seus primeiros passos ocupava uma posição geográfica
privilegiada pois ocupava uma área onde era a encruzilhada das grandes rota comerciais que uniam o Egito
à Mesopotâmia, e a Arábia com a Ásia Menor. Por isso vemos na história descrita no Velho Testamento,
esta área tão cobiçada sendo invadida por vários impérios.
A língua predominante na época era o grego. Uma língua universal, apesar do império dominante
ser o império Romana, que unia em um só governo boa parte do mundo conhecido. Era um governo
pacífico e próspero e suas cidades estavam em progresso e viajar não era mais difícil pois muitas estradas
foram construídas.
Apesar de haver muitas religiões e filosofias ( A política dos romanos era, em geral, tolerante em
relação a religião e aos costumes dos povos conquistados. ) o mundo estava vazio espiritualmente, Assim
o mundo estava pronto para a recepção de uma nova religião.
Jesus nasceu dentro deste contexto e que biblicamente se conhece como "plenitude dos tempos"
Gl:4:4-5. A igreja, respondendo às ansiedades da época com a revelação de Deus em Jesus, conseguiu
rapidamente conquistar o Império.
Recomendamos a leitura de Gonzales, Justo. A Era dos Mártires. S.Paulo. Vida Nova. p.1-30.
Cairns, Earl; O Cristianismo Através dos Séculos. S. Paulo. Vida Nova, p29-44.
A "plenitude do tempo" não quer dizer que o mundo estivesse pronto a se tornar cristão, mas
quer dizer que, nos desígnios de Deus, havia chegado o momento de enviar o seu filho ao mundo.

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OLHANDO O RESTANTE DA HISTÓRIA CRISTÃ

Embora seja, em certa medida, artificial e errado quebrar a história da igreja Cristã em distintos
períodos ou épocas, é, todavia, uma ferramenta útil para visualizar o desenvolvimento da vida da igreja
nos dois milênios passados. A maioria dos historiadores da igreja reconhece três períodos gerais:

I. Cristianismo Patrístico - 95 d.C. a 590 d.C.


II. Cristianismo Medieval – 590 d.C. a 1517 d.C.
III. Cristianismo Moderno - 1517 d.C. até o presente

É útil subdividir cada um destes períodos gerais em fases mais descritivas:

I. Cristianismo Patrístico - 95 d.C. a 590 d.C.


a. A Idade das Apologéticas – este período data desde 95 d.C., geralmente considerado como o
ano quando o último livro do cânon do Novo Testamento (Apocalipse) foi escrito, até 325 d.C. e o Concílio
de Nicéia. Alguns preferem 312 d.C., o ano em que Constantino se converteu ao Cristianismo. O Edito de
Milão, em 313 d.C., pôs fim efetivamente à perseguição da igreja como um movimento minoritário e
concedeu-lhe um status legal pleno, para ser igualmente tolerada com todas as outras religiões. Durante
este período, a igreja se esforçou para se defender contra as ameaças do paganismo, tanto politicamente
como teologicamente.
b. A Idade das Polêmicas – de 325 d.C. até o aparecimento de Gregório (o último dos Pais da
Igreja e o primeiro dos verdadeiros Papas), em 590 d.C. Seguindo a conversão de Constantino, a igreja
“se moveu rapidamente da solidão das catacumbas ao prestígio dos palácios” ( Shelley ). Com o poder do
Estado ao seu favor, a igreja começou a exercer sua influência moral sobre a sociedade como um todo.
Com prestígio e influência política, contudo, veio também a corrupção interna. O Monasticismo emergiu
em protesto desta secularização da fé. Em 392, o imperador Teodósio I estabeleceu o Cristianismo como
a única religião legal do Império Romano. Foi durante este período também que as maiores controvérsias
doutrinárias foram travas e resolvidas em concílios teológicos sancionados pelo Estado.

II. Cristianismo Medieval – 590 d.C. a 1517 d.C.


a. A Idade da Hierarquia Papal desde Gregório o Grande (590) até a divisão entre Oriente e
Ocidente (1054), ou até Gregório VII (1073). A principal característica desta época, freqüentemente
referida (talvez sem justificação) como Idade das Trevas , foi o estabelecimento e solidificação do poder
da hierarquia papal Católica Romana.
b. A Idade do Escolasticismo ou Sistematização - de 1054/1073 até o começo da Reforma
Protestante em 1517. Durante este período, a doutrina cristã foi totalmente sistematizada através da
filosofia e teologia dos sacerdotes, tais como Anselmo(1033-1109), Peter Abelard (1142), Hugo de São
Vítor, Peter Lombard, Alberto o Grande, Duns Scotus, alcançando seu zênite na obra monumental de São
Tomás de Aquino (1225-74), cuja teologia (chamada Tomismo ) foi declarada eternamente válida para o
Catolicismo em 1879. Foi também durante este período que a igreja Oriental se dividiu da Romana (1054).

III. Cristianismo Moderno - 1517 d.C. até o presente


a. A Idade da Reforma Protestante e do Confissionalismo Polêmico – da postagem de Martinho
Lutero das 95 teses (1517) até a Paz de Westphalia (1648-50). Este período testemunhou o triunfo da
Reforma Protestante na Europa (com o florescimento das quatro maiores tradições do Protestantismo
antigo: Luterana, Reformada, Anabatista e Anglicana), bem como a reação de Roma na Contra-Reforma
Católica e a influência dos Jesuítas. O século XVII foi caracterizado pelo desenvolvimento do
escolasticismo e da ortodoxia credal. Movimentos reacionários e reavivalistas emergiram nos últimos
estágios deste período, parcialmente em oposição à aparente estagnação que se estabeleceu no meio de
muito do Protestantismo.

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b. A Idade do Racionalismo e do Reavivamento – de 1650 à Revolução Francesa (1789). Também
conhecida como a Idade da Razão, visto que a ciência substituiu a crença no sobrenatural, à medida que a
igreja ficou debaixo da influência poderosa do Iluminismo (no qual a razão era estimada acima da
revelação). Os grandes movimentos de reavivamento na Inglaterra (os Wesleys) e na América (Edwards
e Whitefield) foram a melhor defesa da igreja contra a invasão do humanismo. [1]
c. A Idade do Progresso – de 1789 até a Primeira Guerra Mundial (1914). Os primeiros anos deste
período foram caracterizados pela reviravolta política (as Revoluções Americana [1776] e Francesa
[1789]) e pela transformação social (a Revolução Industrial). A emersão da alta críticaAlemã e a
publicação da Origem das Espécies de Darwin ativaram uma filosofia que ameaçava minar os
fundamentos da ortodoxia. Foi durante os últimos estágios deste período que vemos a emersão do que é
conhecido como um liberalismo teológico moderno.
d. A Idade das Ideologias – de 1914 (Primeira Guerra Mundial) até os dias de hoje. Durante este
período a pletora de novos deuses se levantou para competir pela fidelidade da mente secular. Comunismo,
Nazismo, Facismo, liberalismo teológico (que foi desafiado pela reação da neo-ortodoxia Bartiniana),
socialismo, ecumenismo, individualismo, humanismo estão entre as ideologias mais competitivas. A
igreja respondeu a este assim chamado modernismo com os seus próprios ismos , Fundamentalismo, e
finalmente o mais intelectualmente sofisticado e culturalmente engajado Evangelicalismo. Outros
desenvolvimentos dignos de nota foram o Denominacionalismo e o movimento Pentecostal/Carismático.

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Aula 02 - AS PERSEGUIÇÕES CONTRA A IGREJA 2

ERA SOMBRIA
A última geração do primeiro século, a que vai do ano 60 ao 100 AD, chamamos de "Era
Sombria", em razão de as trevas da perseguição estarem sobre a igreja, e a falha de muitas informações
sobre este período.

Ao longo dos primeiros três séculos do cristianismo havia tanto competição entre as religiões como
o espírito de tolerância. Embora nunca tomaram recursos de armas para se defenderem, os cristãos foram
o único elemento social perseguido por período prolongado.
A falta de participar em festas e ritos idolatras dos templos bem como sua hostilidade a outras
religiões levou o mundo da época consideram os cristãos de ateus e inimigos dos deuses. Também os
cristãos passaram a se reunir de noite e em segredo e começaram a mostrar afeição uns pelos outros. Ao
mesmo tempo celebravam a ceia do Senhor (comer o sangue e o corpo de Jesus), deu margem às acusações
de antropofagia ou canibalismo.
Assim durante décadas foi lhes atribuído as seguintes acusações: ateísmo, licenciosidade e
canibalismo.
O cristianismo chocou a sensibilidade dos filósofos e mais educados, justamente pelo entusiasmo
de seus adeptos. Pior, entraram em conflito com os vendedores de ídolos e os comerciantes da idolatria.
Trouxe assim contra eles a má vontade duma classe poderosa.
O Paganismo em suas práticas aceitava as novas formas e objetos de adoração que iam surgindo,
enquanto o Cristianismo rejeitava qualquer forma ou objeto de adoração.
A adoração aos ídolos estava entrelaçada com todos os aspectos da vida. As imagens eram
encontradas em todos os lares, e até em cerimônias cívicas, para serem adoradas. Os cristãos, é claro, não
participavam dessas formas de adoração. Por essa razão o povo considera os cristãos como Antissociais e
ateus que não tinham deuses.
A adoração ao Imperador era considerada como prova de lealdade. Havia estátuas dos imperadores
reinantes nos lugares mais visíveis para o povo adorar. Os cristãos recusavam-se a prestar tal adoração.
As reuniões secretas dos cristãos despertaram suspeitas de praticarem atos imorais e criminosos,
durante a celebração da Santa Ceia. Era vetada a entrada dos estranhos.
O Cristianismo considerava todos os homens iguais. Não havia distinção entre seus membros, nem
em suas reuniões, por isso foram considerados como "niveladores da sociedade", portanto anarquistas,
perturbadores da ordem social.

Enquanto o cristianismo parecia aos olhos de todos, apenas mais uma seita judaica, não havia nenhuma
censura como religio illicita, pois o judaísmo gozava do privilégio de religio licita (religião legal) dado a todas as
religiões já existentes no império pela Pax Romana, mas quando foi se solidificando cada vez mais como uma
religião autônoma e separada do judaísmo, o Estado então, começou a perseguir os cristãos, pois havia uma lei que
interditava novas religiões por temer agitações sociais, provocadas por essas invasões religiosas. Um texto citado
por Cícero (De Legibus II, 8) asseverava: “Que ninguém tenha deuses particulares, nem novos, se eles não tiverem
sido admitidos pelo Estado” . Isto teve inicio em 64 quando Nero põe fogo em Roma e acusa os cristãos, os quais
são perseguidos e mortos. Esse foi apenas um preâmbulo do que aconteceria nos séculos posteriores. Até o ano 250,
tais perseguições foram locais e esporádicas para depois se tornarem gerais e constantes. Foram várias as causas
que desencadearam essa onda de perseguição que perdurou por mais de 2 séculos, a saber:

1. Políticas: Marcando o início do império e o final da república, formou-se um regime político, caracterizado pelo
absolutismo teocrático. O estado estava ligado umbilicalmente à religião, todos os sucessos obtidos eram creditados
aos deuses, até mesmo os imperadores deram a si mesmo o título de “Augustus”, isto é, divino e seus súditos eram
impelidos por lei a prestar culto ao imperador. A estabilidade política dependia da unidade religiosa. Toda e qualquer
religião que se insurgisse contra a religião estabelecida pelo estado era tida como anarquista e inimiga de César, e

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http://www.cacp.org.br/as-perseguicoes-contra-a-igreja/

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o cristianismo era considerado uma delas. Mas o curioso é que a maioria dos imperadores que foram mais cruéis no
trato com os cristãos foram tidos como os melhores administradores do império: Trajano foi excelente administrador
e respeitador das instituições civis e do senado; Adriano contribuiu para melhorar o direito romano, e Marco Aurélio,
que se destacou pelo grande espírito de justiça.

2. Religiosas: A religião adotada por Roma era sincretista. Todo vez que o império conquistava outros povos,
absorvia tanto sua cultura como sua religião. Tinha deuses para todos os tipos e gostos. O povo era obrigado a
queimar incenso perante as imagens e prestar-lhes tributo. Contra isso, os cristãos mantinham a convicção de que
só existia um único Deus e sua adoração não se dirigia a objeto material algum. Esta postura valeu-lhes muitas vezes
a acusação infundada de que eram ateus.

3. Sociais e econômicas: O cristianismo também pregava a igualdade entre todos e por isso ganhou mais facilmente
a amizade das camadas mais pobres, especialmente dos escravos. Temendo a influência do cristianismo na
sociedade, muitos aristocratas, que não queriam que o modelo social vigente mudasse, começou a empenhar-se na
campanha de difamação da religião cristã. Pois viam que até mesmo seus lucros provindo da exploração das
crendices populares, estava correndo perigo. Naquela época a sociedade romana era dividida em: Patrícios
(membros da aristocracia), Plebeus (O povo composto por trabalhadores em geral) e escravos. Somado a tudo isto,
havia também os boatos populares que se levantava contra os cristãos e sua religião. Todos os tipos de calúnias
eram impostas contra eles. As acusações iam, desde a adoração de um asno até a difamação de praticarem
canibalismo e incesto.

A Primeira Perseguição sob o Governo de Nero (64 d.C)


Nero tolerou a religião cristã durante algum tempo. Mas em seus últimos anos de governo voltou-se contra
os cristãos. Suas práticas insanas mostraram o verdadeiro caráter de seu governo. Mandou assassinar sua mãe,
irmãos e mulheres.
Em Roma os cristãos foram perseguidos pelo imperador Nero, que os transformou em bodes expiatórios
para o grande incêndio que consumiu a cidade. É possível que depois disso, a perseguição se tenha estendido às
províncias pelo exemplo, por que os governadores romanos se baseavam no precedente de Nero, que dispensava
aos cristãos o tratamento previsto para os criminosos. Nesta época foram martirizados os dois apóstolos: Paulo e
Pedro. Nero se transformou na visão de muitos cristãos, um tipo do anticristo.

A Segunda Perseguição sob o Governo de Domiciano ( 96 d.C)


Se a perseguição infligida por Nero foi desumana, Domiciano o superou nesta crueldade. Foi de pouca
duração, mas tão violenta que até mesmo o primo deste, Flávio Clemente, foi morto e sua esposa exilada. A
perseguição baseava sob a acusação de ateísmo por recusarem a participar do culto ao imperador. Nesta época o
apóstolo João foi banido para a ilha de Patmos.

A Terceira Perseguição sob o Governo de Trajano (98-117 d.C)


Trajano, apesar de manter a mesma política de seus antecessores, foi, contudo, mais brando para com os
cristãos. Mesmo o cristianismo continuando como religião ilícita, estes não seriam mais procurados ou perseguidos
a não ser que houvesse denúncias contra eles, também não deveria levar em conta as denúncias anônimas. Famosa
é a correspondência entre Plínio, governador da Bitínia e o imperador Trajano sobre essa questão. Nesta época,
Simão irmão de Jesus e Inácio morreram, este último foi jogado vivo às feras.

A Quarta Perseguição sob o Governo de Adriano (117-138)


Continuam as perseguições, mas com a mesma brandura do governo de Trajano. Apesar disso, houve muitos
mártires nesta época. Também houve uma perseguição aos judeus por causa da insurreição do líder Bar Koqueba.
Aristídes, filósofo cristão, dirige ao imperador sua apologia da religião cristã.

A Quinta Perseguição sob o governo de Antonino, o Pio (138-161)


Neste governo os cristãos tiveram finalmente sossego, apesar de haver casos esporádicos de perseguições.
Contudo os cristãos tinham liberdade de anunciar o evangelho. O cristianismo foi levado a várias partes do império.
Policarpo, um dos pais da Igreja foi martirizado por este tempo.

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A Sexta Perseguição sob o governo de Marco Aurélio. (161-180)
Após gozarem desta aparente paz, novamente as perseguições se fez sentir sob o governo do imperador
filósofo, Marco Aurélio. Sob o pretexto de manter a paz do estado estimulou a perseguição à religião cristã. Muitas
destas perseguições ficaram famosas como a dos “mártires de Lião e Viena”. Muitos filósofos começam a escrever
ao imperador defendendo a fé cristã, entre eles justino, Aristídes, Atenágoras, Melitão de Sardes e outros. Neste
tempo, morreu Justino, o mártir. No final de seu governo (178) o filósofo platônico, Celso, elabora um tratado
erudito contra o cristianismo – “Verdadeiro Logos”.

A Sétima Perseguição sob o Governo de Setímio Severo (193-211)


Durante algum tempo favoreceu os cristãos, mas perto do ano 202 sua benevolência chegou ao fim. Os
cristãos do norte da África foram os que mais sofreram com a crueldade das perseguições sob seu governo. De nada
adiantaram as defesas jurídicas do advogado e apologista cristão Tertuliano. O número de mártires era grande, um
exemplo disso foi o martírio de duas cristãs, Perpétua e Felicidade, que foram estraçalhadas pelas feras. Não
obstante, o número de conversões era ainda muito maior a ponto de Tertuliano exclamar que o sangue dos cristãos
é semente da igreja.

A Oitava Perseguição sob o Governo de Maximino (235-238)


O governo deste tirano durou apenas 3 anos, mas três anos de intensa perseguição. Para rivalizar com seu
antecessor no trono imperial, Alexandre, que fora pacífico com a religião cristã, Maximínio levou ao extremo as
perseguições. A terra novamente começou a ser regada pelo sangue dos mártires.

A Nona Perseguição sob o Governo de Décio (249-251)


Nesta época o império romano passava por grandes dificuldades e uma delas era a invasão dos bárbaros.
Décio consegue reavivar o culto ao imperador e a adoração dos deuses. Omitiu decretos para cada cristão no império
sacrificar em público. Como eles não se curvavam diante de seus editos, nova onda de execuções varreu o império.
Seu governo propôs liquidar a religião cristã. Nesta época Orígenes morre em decorrência das torturas sofridas.

A Décima Perseguição sob o Governo de Valeriano (253-260)


Este imperador ultrapassou em crueldade seu antecessor. Proibiu os cristãos de cultuar e visitar as
catacumbas. A recusa do sacrifício é castigada com mortes, confisco de bens, banimentos e trabalhos forçados.
Entre os executados sob seu regime estava o bispo Cipriano.

A Última Perseguição Imperial sob o Governo de Diocleciano (284-305)


Esta foi a última e a mais longa das perseguições que durou 10 anos. Diocleciano auxiliado por seus amigos,
mandou destruir todas as igrejas e os escritos sagrados, além disso mandou prender os principais líderes das igrejas
e forçou os cristãos a sacrificarem aos deuses. Suas perseguições alcançaram todo o império, os cristãos eram
caçados e exterminados exceto na região da Gália onde residia o imperador Constantino.

OS PRINCIPAIS MÁRTIRES

Inácio Provável discípulo de João, bispo em Antioquia, foi condenado no ano 107 AD por não
adorar a outros deuses. Foi morto como mártir, lançado para as feras no anfiteatro romano, no ano 108 ou
110 enquanto o povo festejava. Ele estava disposto a ser martirizado, pois durante a viagem para Roma
escreveu cartas às igrejas manifestando o desejo de não perder a honra de morrer por seu Senhor
Policarpo Bispo em Esmirna, na Ásia Menor, morreu no ano 155. Ao ser levado perante o
governador, e instado para abandonar a fé e negar o nome de Jesus, assim respondeu: " Oitenta e seis anos
o servi, e somente bens recebi durante todo o tempo, Como poderia eu agora negar ao meu Salvador ?
Policarpo foi queimado vivo.
Justino Mártir Era um dos homens mais competente de sue tempo, e um dos principais defensores
da fé. Seus livros, que ainda existem, oferecem valiosas informações acerca da vida da igreja nos meados
do segundo século. Seu martírio deu-se em Roma, no ano 166.

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OS EFEITOS PRODUZIDOS PELAS PERSEGUIÇÕES
As perseguições produziram uma igreja pura pois conservava afastados todos aqueles que não eram
sinceros em sua confissão de fé. Ninguém se unia à igreja para obter lucros ou popularidade. Somente
aqueles que estavam dispostos a ser fiéis até a morte, se tornavam publicamente seguidores de Cristo.
A Igreja multiplicava-se. Apesar das perseguições ou talvez por causa delas, a igreja crescia com
rapidez assombrosa. Ao findar-se o período de perseguição, a igreja era suficientemente numerosa para
constituir a instituição mais poderosa do império.
Não entanto era suficiente para criar o problema dos lapsos (aqueles que caíram). Por outro lado,
o fato de serem de curta duração criou as condições pelas quais "o sangue dos mártires foi a semente da
Igreja" As perseguições universais, mostraram que a igreja estava "gorda" nestes séculos, a perseguição
intensa, universal e demorada arrasou a Igreja. Muitos negaram a fé, outros tantos forma exilados do
império. Mesmo assim a lista daqueles que deram sua vida pela fé nas perseguições de Décio a
Dioclesiano foi muito grande. A Igreja conseguiu sobreviver e crescer ainda mais devido à relativa paz
de 40 anos entra as duas perseguições e o Edito de Milão.
O problema dos "lapsos" (caídos) foi muito agudo nos séculos II e III. Hermas (O Pastor) e
Cipriano (De Lapsis) escreveram tratados sobre a questão. O que se deve fazer com os que negaram a fé
e queimaram incenso a efígie de César? A Igreja elaborou algumas respostas: A igreja de Roma em geral
foi indulgente com os lapsos, recebendo-os de volta com a simples confissão de seu pecado. Existia um
rigor contra os lapsos, eles não teriam mais direito de fazer parte da Igreja. Hermas ( que escreveu o livro
O Pastor) representa uma posição mediadora que aceita uma única queda. Os lapsos seriam aceito de
volta, mas não mais para o lugar de líderes. Os lapsos seriam membros de "segunda classe" na Igreja.
Embora Cipriano é muito duro com os lapsos, ele os chama a um abundante arrependimento para
demostrar sua tristeza e aflição, sem desesperar da misericórdia de Deus. Apenas estes seriam recebidos
de novo na Igreja.

Apesar de considerarmos as perseguições o fato mais importante da História da Igreja, no segundo


e terceiro séculos, contudo, fatos interessantes aconteceram neste período que devem ser observados.
Vejamos :

O Cânon Bíblico
Os escritos do Novo Testamento foram terminados, entretanto a formação do Novo Testamento
com os livros que o compõem, como cânon, não foi imediata. Algumas Igreja aceitavam somente alguns
livros como inspirados e outra igrejas livros diferentes.
Gradualmente os livros do Novo Testamento, tal como usamos hoje, conquistaram a proeminência
de escritura inspirada.

O Crescimento e a Expansão da Igreja


O crescimento e a expansão da Igreja foi a causa da organização e da disciplina. A perseguição
aproximou as Igrejas e exerceu influência para que elas se unissem e se organizassem. O aparecimento
das heresias impôs, também, a necessidade de se estabelecerem alguns artigos de fé, e, com eles, algumas
autoridades para executá-las.
Outra característica que distingue esse período é sem dúvida, o desenvolvimento da doutrina. Na
era apostólica a fé era do coração, uma entrega pessoal a vontade de Cristo. Entretanto no período que
agora focalizamos, a fé gradativamente passara a ser mental, era uma fé do intelecto, fé que acreditava em
um sistema rigoroso e inflexível de doutrinas. O credo Apostólico, a mais antiga e mais simples declaração
da crença cristã, foi escrito durante esse período.
Nesta época surgiram três escolas teológicas. Uma em Alexandria, outra na Ásia Menor e outra na
África. Os maiores vultos da história do Cristianismo passaram por essas escolas: Orígenes, Tertulianao e
Cipriano.

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Aula 03 - SEITAS E HERESIAS

Juntamente com o desenvolvimento da doutrina teológica, desenvolviam-se também as seitas, ou


como lhes chamavam, as heresias na igreja cristã. Os cristãos não só lutaam contra as perseguições , mas
contra as heresias e doutrinas corrompidas.
Os Gnósticos do grego "Gnósis = Sabedoria, Conhecimento" Acreditavam que Deus Supremo é
espírito absoluto e causa de todo bem, enquanto a matéria é completamente má criada por um ser inferior
que é Jeová. O propósito é então escapar deste corpo que aprisiona o espírito. Afim de chegar a libertação,
é necessário que venha um mensageiro do reino espiritual. Cristo. Cristo portanto não era matéria, possuía
somente a natureza divina.
Os Ebionitas do hebraico que significa "Pobre" eram judeus-cristãos que insistiam na observância
da lei e dos costumes judaicos. Rejeitavam as cartas escritas por Paulo. Eram considerados como apostatas
pelo Judeus não convertidos.
Os Maniqueus de origem persa, foram chamados por esse nome, em razão de seu fundador ter o
nome de Mani. Acreditavam que o universo compõe-se do reino das trevas e da luz e ambos lutam pelo
domínio do homem. Rejeitavam a Jesus, porém criam em um "Cristo celestial".

Marcion
Nativo de Porto, foi a Roma perto de 138 e se tornou membro da Igreja de Roma. Não conseguiu
leva a igreja a aceitar seu ponto de vista, assim que organizou os seus seguidores numa igreja cismática e
expandiu a obra até ter congregações em quase todas as províncias. Embora talvez não seja correto chamar
Marcion de gnóstico, ele compartilhou vários de seus pontos de vista: judaísmo é mau. Jeová não é o
mesmo Deus do NT. Baseou-se quase que exclusivamente em Paulo. Contrastou a imoralidade e
crueldade do AT., com a espiritualidade, misericórdia, bondade e alta moral do NT.

Embora conceba o nascimento, vida e morte de Jesus como apenas aparente, Marcion insiste na
obra redentora de Cristo como necessária para a salvação dos homens. O marcionismo achou fácil
aceitação na Mesopotâmia e na Pérsia e sobreviveu lá durante alguns séculos.

Montanismo
É uma reação às inovações que foram introduzidas nas igrejas pelo gnosticismo e paganismo em
geral às custas da fé e da moral. Foi organizado na Frígia entre 135 e 160 por Montano com Priscila e
Maximinia (profetizas do movimento) em resposta a uma iluminação do Paracletos, para proclamar o
estabelecimento do reino de Cristo e pregar contra o mundanismo das igrejas. Algumas das doutrinas
desenvolvidas ( e pelas quais foram rejeitados) tornaram-se ensino básico da Igreja católica 2 séculos
depois: exaltação da castidade e viuvez; divisão dos pecados em mortal e venial, exaltação do martírio.
Tornou-se o precursor do cristianisno ascético. Suas doutrinas em geral eram as mesmas do
cristianismo católico. Reivindicaram ter recebido revelações divinas enquanto em estado de êxtase. O
espírito lhes dava a interpretação ascética de certas passagens bíblicas. O montanismo é uma explosão de
profetismo, dando importância especial a visões e revelações. Tem caráter essencialmente escatológico.
Para eles o período do Parácletos (Espírito Santo) se iniciou com Montano. A nova Jerusalém será
inaugurada para o reino de 1.000 anos. Assim que é necessário viver em continência e prepara-se para
tanto. Nenhum dos que escreveram contra o montanismo vê neles uma heresia. Ao contrário vê nele
"tendências arcaicas"

O Novacionismo
Foi o montanismo reaparecendo numa outra época, sem as reivindicações proféticas que
desapareceram. Novaciano foi condenado em 251 por um concílio romano que reunia 60 bispos. Após a
perseguição de Décio, quando muitos negaram a fé, Novaciano liderou os que queriam muito rigor para

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os que cairam. Este movimento cismático encontrou muita recepção na África e na Ásia Menor, onde
absorveu o que restou dos montanistas. Sua doutrina era igual à das igrejas católicas. Foi apenas a questão
de disciplina que questionavam: condições para ser membro da igreja e perdão de certos pecados
específicos. Enquanto Cipriano admitia a reconciliação dos caídos "após uma penitência severa e
prolongada: . Novaciano considerava que "reconciliação alguma lhe pode ser concedida" Para Novaciano
a igreja se identificava com um pequeno grupo de espirituais que estava em conflito obrigatório com a
cidade terrena. Crendo que as igrejas católicas eram apóstatas, os novacianos rejeitaram as ordenanças
delas. A crença na regeneração batismal era quase universal nesta época. Os novacianos deram tanta
importância à necessidade do batismo ser ministrado por pessoa devidamente qualificada que rebatizavam
os que vieram das igrejas católicas.

Os Donatistas
Como os montanistas e novacionistas, estavam preocupados principalmente com questões de
disciplina. O movimento surgiu após a perseguição de Diocleciano e especificamente em relação ao que
entregaram as Escrituras as autoridades. Os donatistas insistiram numa disciplina eclesiástica rigorosa e
numa membresia pura.
Rejeitaram ministros indignos (os "lapsi"traidores). O donatismo não trata dos caídos em geral e sim
apenas da sorte dos bispos que teriam consentido na entrega das Escrituras imposta pelo primeiro edito
de Dioclesiano. O simples fato de estar em comunhão com um dos culpados bastava para contrair mancha
e tornar-se traídos, apóstata. Todos os sacramentos administrados ou recebido pelos "traditores" eram
considerados nulos. Quanto a regeneração batismal, foram além dos católicos, crendo que a natureza
humana de Cristo também precisava ser purificada pelo batismo. Naturalmente rebatizaram os católicos
que vieram a eles como condição de comunhão.

Heresias primitivas
https://icp.com.br/df51materia2.asp

• Márcion (95 - 165)


• Gnosticismo = Jesus e Cristo eram duas pessoas diferentes. Jesus era homem filho de Maria; Cristo
era um espírito que veio sobre Jesus no batismo e O abandonou na crucificação. → Docetismo = Jesus
era Deus e parecia humano.
• Montano (120 - 180)
• Ascetismo = Autonegação, visão de que a matéria e o espírito estão em oposição um ao outro.
• Sabélio (180 - 250) = rejeitava o conceito de três Pessoas em uma só essência.
• Mani (216 - 277) = Deus usou diversos servos, como Buda, Zoroastro, Jesus e, finalmente, Mani.
ascetismo
• Ário (256-336) = Jesus Cristo era um ser criado, sem nenhum dos atributos incomunicáveis de Deus
• Apolinário (aprox. 310-390) = Jesus não tinha um espírito humano
• Nestório (aprox. 375-451) = negavam a existência de duas naturezas em Cristo
• Pelágio (aprox. 360-420) = ensinos afirmavam que o homem poderia viver isento do pecado
• Eutíquio (aprox. 410-470) = por ocasião da encarnação, a natureza humana de Cristo foi totalmente
absorvida pela natureza divina.

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Aula 04 - OS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS E GERAIS

A palavra Concílio significa “assembleia reunida por convocação”. É uma instituição tradicional
na vida da Igreja desde os tempos apostólicos, quando vimos os apóstolos reunidos em Jerusalém para
discutirem a questão da disciplina a ser aplicada aos judeus-cristãos e aos pagãos convertidos à fé cristã.

SINODO - Igreja Ortodoxa preferiu a palavra Sínodo para as reuniões eclesiais, o mesmo
acontecendo com as Igrejas da Reforma protestante e calvinista.
Após o Vaticano II, a palavra Sínodo adquiriu grande força na organização pastoral da Igreja
Católica, que realiza sínodos diocesanos, regionais, nacionais e
continentais.
Paulo VI, em 1965, instituiu o Sínodo dos Bispos, uma
assembléia internacional de bispos para auxiliar o Papa no
governo da Igreja.
O Sínodo Diocesano, a partir de 1983, significa a
reunião do bispo com os delegados dos presbíteros, diáconos,
religiosos e leigos. É a Igreja que, sobretudo depois do Concílio
Vaticano II, se caracteriza como comunhão.

CONCÍLIOS DO PRIMEIRO MILÊNIO O Concílio de Trento (1545-1563)


São Concílios convocados por iniciativa do Imperador que via na unidade da fé um pressuposto
para a unidade do Império. Geralmente foram celebrados no Oriente, com escassa participação ocidental.
A presença dos legados papais garantia a ecumenicidade do Concílio, como também a autoridade do
Concílio dependia da ratificação de Roma. A assinatura final do Imperador tornava as decisões conciliares
obrigatórias no Império.
1) Nicéia (325): Condenou Ario e formulou o Credo niceno. Definiu que o Verbo, Jesus, é Deus
verdadeiro, gerado de Deus verdadeiro, e tem a mesma
substância do Pai.
2) Constantinopolitano I (381): Reafirmou o Credo
niceno e condenou Apolinário. Proclamou que o Espírito Santo
procede do Pai e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado.
3) Éfeso (431): Condenou Nestório e aprovou as Cartas
de Cirilo. Maria é Mãe de Deus (Theotokos).
4) Calcedônia (451): Condenou Êutiques e formulou
uma profissão de fé cristológica: Jesus Cristo, verdadeiro Deus
e verdadeiro homem, tem uma só pessoa (divina) em duas
naturezas (divina e humana), sem divisão nem separação. Da O Concílio de Nicéia (325)
não aceitação das decisões conciliares surgiram as Igrejas
“monofisitas”. Elas afirmam que em Jesus há uma única natureza.
5) Constantinopolitano II (553): Condenou os “Três Capítulos” (escritos filo-nestorianos) e
rejeitou o origenismo. Sublinhou a unidade da Pessoa do Verbo encarnado.
6) Constantinopolitano III (680-681): Condenou o monotelismo, reafirmando as duas naturezas
da única Pessoa de Cristo, para afirmar a existência, nele, de suas vontades (divina e humana).
7) Nicéia II (787): Condenou o iconoclasmo (proibição do culto às imagens): justificando o culto
das imagens (ícones), naturalmente culto de honra e não de adoração. Foi um grande problema na vida da
Igreja oriental.
8) Constantinopolitano IV (869-870): Condenou Fócio, patriarca de Constantinopla. Decisão não
aceita pelos ortodoxos, pois viram nessa atitude de Roma uma intromissão ilegítima na vida de um outro
Patriarcado.
Os sete primeiros Concílios ecumênicos detêm uma autoridade própria por representarem a vida
da Igreja una e indivisa do primeiro milênio.

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CONCÍLIOS DA IGREJA CATÓLICA ROMANA NO SEGUNDO MILÊNIO
Receberam o nome de “ecumênicos” mas, na verdade, prevaleceu o costume de denominá-los
Concílios Gerais da Igreja do Ocidente, pois foram celebrados após o cisma de 1054 entre a Igreja católica
e a ortodoxa, entre Oriente e Ocidente.

OS CONCÍLIOS MEDIEVAIS
9) Lateranense I (1123) - Celebrado em São João de Latrão. Este concílio limitou o poder imperial
na vida interna da Igreja e acentuou a centralização da Igreja em Roma.
10) Lateranense II (1139) - Condenou Arnaldo de Bréscia e publicou os decretos de reforma.
11) Lateranense III (1179) - Discutiu os procedimentos para a eleição de um Papa.
12) Lateranense IV (1215) - Condenou o maniqueísmo, a publicação dos decretos de reforma e
instituiu o Tribunal da Inquisição para o combate à heresia. Foi o maior Concílio medieval e sinalizou o
apogeu do poder papal.
13) Lyon I (1245) - Destronizou Frederico II, imperador insubmisso à autoridade papal.
14) Lyon II (1274) - Buscou reunificar a Igreja oriental e ocidental, mas com sucesso limitado.
Procurou-se solucionar as questões disciplinares na vida da Igreja e alargar a ação reformadora dos papas.
Cresce o poder pontifício.
15) Vienne (1311-1312) - Discutiu o problema da Ordem dos Templários, vítimas de acusações
injustas, a cobiça dos reis e a pobreza franciscana.
16) Constança (1414-1417) - Fim do grande Cisma do Ocidente, mas logo tornado sem efeito,
pois a Igreja passa a ser governada por dois – num tempo três - papas.
17) Ferrara-Florença (1437-1439) - Buscouse alcançar a reunificação com a Igreja do Oriente,
mas, devido aos condicionamentos políticos – Constantinopla necessitava da ajuda militar do Ocidente
contra os turcos – não foi aceito pelo povo e pelo clero bizantino. Em 1453 Constantinopla caiu nas mãos
dos turcos, terminando o Império Romano do Oriente.
18) Lateranense V (1512-1517) - Debateu-se a reforma da Igreja, assolada pela corrupção em
Roma e em muitas dioceses e mosteiros. As decisões sobre a reforma foram ignoradas porque atingiam
privilégios da Cúria romana e o papa estava mais preocupado com a política eclesiástica. O final do
Concílio coincide com o início da pregação reformadora de Martinho Lutero.

OS CONCÍLIOS DA ERA MODERNA


19) Trento (1545-1563) - Os bispos deram uma resposta satisfatória e possível às questões
teológicas suscitadas pela Reforma protestante. Foi o grande Concílio que iniciou a Contra Reforma, isto
é, a verdadeira reforma da vida interna da Igreja, salientando-se a missão espiritual e pastoral dos bispos
e padres. Marcou a fisionomia da Igreja até nossos dias.
20) Vaticano I (1869-1870) - Convocado por Pio IX em meio aos ataques do
racionalismo,positivismo e socialismo, na iminência da conquista de Roma que pôs fim aos Estados
Pontifícios, afirmou a origem divina da Revelação e sancionou a infalibilidade papal em questões de fé e
de moral, centralizando o catolicismo na pessoa do Papa.
21) Vaticano II (1962-1965) - Convocado por João XXIII e
concluído por Paulo VI, procurou responder aos grandes desafios postos
à vida da Igreja pela modernidade. Eminentemente pastoral, o Vaticano
II deu à Igreja um novo modo de olhar o mundo (ser solidária), os outros
cristãos (ecumênica), as outras religiões (dialogante). Igreja Povo de
Deus, servidora do mundo e da humanidade. Deu um grande impulso na
renovação da vida interna da Igreja, dos estudos bíblicos e da liturgia.

O Concílio Vaticano II (1962-


1965)

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Aula 05 - DE CONSTANTINO, 313 AD ATÉ À QUEDA DE ROMA EM 476 AD.

No ano 305, quando Diocleciano abdicou o trono imperial, a religião cristã era terminantemente
proibida, e aqueles que a professassem eram castigados com torturas e morte. Logo após a abdicação de
Diocleciano, quatro aspirantes à coroa estavam em guerra.
Os dois rivais mais poderosos eram Majêncio e Constantino. Constantino afirmou ter visto no céu
uma cruz luminosa com os seguintes dizeres: "Por este sinal vencerás". Constantino ordenou que seus
soldados empregassem para a batalha o símbolo que se conhece como " Labarum ", e que consistia na
superposição de duas letras gregas, X e P.
Em batalha travada sobre a ponte Mílvio, Constantino venceu o exercito de Majêncio e este morreu
afogado caindo nas águas do rio. Após este vitoria Constantino fez aliança com Licínio e posteriormente
com Maximino os outros dois pretendentes a coroa.
Em 323 AD, Constantino alcançou o posto supremo de Imperador, e o Cristianismo foi então
favorecido. Os templos das Igrejas foram restaurados e novamente abertos em toda parte. Em muitos
lugares os templos pagãos foram dedicados ao culto cristão. Em todo o império os templos pagãos eram
mantidos pelo Estado, mas, com, a conversão de Constantino, passaram a ser concedido às Igrejas e ao
clero cristão.
O Domingo foi proclamado como dia de descanso e adoração. Como se vê, do reconhecimento do
Cristianismo como religião preferida surgiram alguns bons resultados, tanto para o povo como para a
igreja:
- As perseguições acabaram - O infanticídio foi reprimido
- A crucificação foi abolida - As lutas de gladiadores foram proibidas
- Templos restaurados e muitos construídos

Apesar de os triunfos do Cristianismo haverem proporcionado boas coisas ao povo, contudo a sua
aliança com o Estado, inevitavelmente devia trazer, como de fato trouxe, maus resultados para a igreja.
- As Igrejas eram mantidas pelo Estado e seus ministros privilegiados, não pagavam impostos, os
julgamentos eram especiais.
- Iniciou-se as perseguições aos pagãos, ocorrendo assim muitas conversões falsas.
- Todos queriam ser membros da Igreja e quase todos eram aceitos. Homens mundanos, ambiciosos e sem
escrúpulos, todos desejavam postos na Igreja, para, assim obterem influência social e política.
- Os cultos de adoração aumentaram em esplendor, é certo, porém eram menos espirituais e menos sinceros
do que no passado.
- Aos poucos as festas pagãs tiveram seus lugares na Igreja, porém com outros nomes. A adoração a Vênus
e Diana foi substituída pela adoração a virgem Maria. As imagens dos mártires começaram a aparecer nos
templos, como objeto de reverência.
No ano 363 AD todos os governadores professaram o Cristianismo e antes de findar o quarto século
o Cristianismo, foi virtualmente estabelecido como religião do Império.

A Fundação de Constantinopla
O Imperador Constantino compreendeu que a cidade de Roma estava intimamente ligada à
adoração pagã, cheia de templos e estátuas pagãs. Ele desejava uma capital sob os auspícios da nova
religião. Na nova capital, a igreja era honrada e considerada, não havia templos pagãos.
Logo depois da fundação da nova capital, deu-se a divisão do império. As fronteiras eram tão
grande que um imperador sozinho não podia defender seu vastíssimo território.

O FALSO CRISTIANISMO TORNOU-SE DOMINANTE3

3
https://portugues.ucg.org/ferramentas-de-estudo-da-biblia/guias-de-estudo/a-igreja-que-jesus-edificou/o-surgimento-de-um-
falso-cristianismo

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Até o final do terceiro século os verdadeiros servos de Deus se tornaram uma distinta minoria entre
aqueles que se diziam cristãos. O falso Cristianismo tinha alcançado a maioria.
Os falsos mestres, exitosamente, conseguiram muitos mais seguidores do que os ministros fiéis de
Deus. No entanto, a história mostra as seitas falsas não eram coesas em suas crenças. Existiam muitas
facções entre elas.
Embora, dividido e inconverso, esse novo tipo de Cristianismo se expandiu rapidamente em
números de membros e se tornou a igreja Cristã visível. Reivindicando oferecer a salvação, sem a
necessidade de arrependimento real, ela mantinha apenas parte suficiente da verdade para atrair as massas.
Apesar de suas falhas, ela parecia oferecer uma esperança inigualável frente a qualquer religião
pagã daquela época. Nenhuma das religiões pagãs oferecia para as pessoas uma maneira crível de receber
o perdão dos pecados e alcançar a vida eterna. Esta nova religião parecia oferecer exatamente isso. Mal
sabiam ou percebiam seus seguidores que suas promessas, sem verdadeiro arrependimento, eram em vão.
Ao final do terceiro século, este falso cristianismo era uma religião cheia de conflitos e amargamente
dividida. Mas no início do quarto século, duas coisas aconteceram que abruptamente alteraram o curso da
história cristã. Primeiro, o imperador romano Diocleciano intensificou a política de muitos imperadores
romanos anteriores, a de perseguir os cristãos e ordenar que todos os manuscritos cristãos fossem
queimados. E isso drasticamente trouxe de volta o clima de medo em toda a comunidade cristã.
Dez anos mais tarde, outro imperador, Constantino, chegou ao poder. Ele havia derrotado outro
poderoso rival para ter o direito de substituir Diocleciano como imperador, mas ele ainda tinha muitos
inimigos, e sua posição política estava insegura. Em todo o império, somente os cristãos eram desligados
da política. Constantino imediatamente viu uma oportunidade de usar este corpo religioso, outrora
perseguido e politicamente alienado, para fortalecer seu poder sobre o império.
Primeiro, ele legalizou o cristianismo. Então, apenas dois anos mais tarde, ele chamou todos os
grupos divididos que professavam o cristianismo para elaborar conjuntamente um sistema unificado de
crenças. Ele queria um corpo religioso unido e politicamente comprometido com ele.
Para conseguir isso, Constantino presidiu as deliberações doutrinárias e ditou as declarações de
crença, sempre que as divergências não podiam ser resolvidas amigavelmente. Exitosamente, ele logo
formou um grupo conflitante de falsos cristãos que estavam dispostos a aceitar o controle do Estado em
um grupo vassalo forte e unificado do Império Romano.
Williston Walker, ex-professor de história eclesiástica da Universidade de Yale, nos diz que, no
ano 323, “Constantino finalmente se tornou o único governante do mundo romano. A igreja em todo o
mundo romano estava livre de perseguições… Mas, com a conquista dessa liberdade de seus inimigos, se
tornou em grande parte sob o controle do ocupante do trono imperial romano. Uma união fatal com o
Estado tinha começado” ( A História da Igreja Cristã, 1946, pág. 111).

A RELIGIÃO TRANSFORMADA ATRAVÉS DO SINCRETISMO


Conforme essa nova religião—agora apoiada pelos imperadores romanos—cresceu em poder e
influência, esforçou-se para se tornar uma igreja verdadeiramente universal. Na sua ambição de angariar
mais membros, muitos novos convertidos—e muitas novas práticas—foram acolhidos no seu seio.
Charles Guignebert, professor de história do Cristianismo da Universidade de Paris, descreveu o
processo: “Agora no início do quarto século, os ignorantes e os semi-cristãos afluíam à Igreja em grande
número … Eles não tinham esquecido nenhum de seus costumes pagãos… Os bispos desse período
tiveram de se contentar com a retificação, da melhor maneira que podia ser, e de modo experimental, das
chocantes má-formações da fé cristã, as quais eles observavam em torno deles …
“[Instruir corretamente os convertidos] estava fora de questão, pois eles tiveram que se contentar
em ensiná-los não mais do que o simbolismo do batismo e, em seguida, batizavam-nos em massa, deixando
para uma data posterior a tarefa de erradicar suas superstições, que eles ainda mantinham intactas … Essa
‘data posterior’ nunca chegou, e a Igreja adaptava a si mesma, do melhor jeito que podia, a eles e seus
costumes e crenças. Por sua vez, eles estavam satisfeitos em mascarar seu paganismo em um manto
cristão” (A História do Cristianismo, 1927, págs. 208-210).

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Qual foi o resultado? Esse Cristianismo dominado pelo Estado tornou-se uma síntese bizarra de
crenças, práticas e costumes de várias fontes.
Como o professor Guignebert explicou: “Às vezes é muito difícil dizer exatamente de qual rito
pagão é que um específico rito cristão é derivado, mas continua sendo certo que o espírito do ritualismo
pagão ficou impresso no Cristianismo , a tal ponto que, finalmente, todos os ritos pagãos podem ser
encontrados nas cerimônias cristãs ” (pág. 121).
Naqueles primeiros séculos, o cristianismo falso que os apóstolos de Jesus Cristo haviam lutado
muito para conter, cresceu em tamanho e popularidade. Séculos mais tarde, essa religião seria
fragmentada, repetidas vezes, em denominações rivais. Tragicamente, no entanto, nenhuma retornou
completamente às práticas e ensinamentos originais de Jesus Cristo e dos apóstolos. Este fato é
reconhecido por muitos estudiosos modernos da Bíblia (ver “Mudanças na Perspectiva de Estudiosos
Cristãos sobre a Lei de Deus”).
Enquanto isso, aqueles que, por muitos séculos, continuaram fielmente desenvolvendo sua vida
em obediência sincera a Deus e às Suas leis ainda eram, comparativamente falando, apenas um “pequeno
rebanho” em um mundo confuso.

AS CONTROVÉRSIAS
A Primeira Controvérsia Apareceu por causa da doutrina da Trindade. O Presbítero Ario de
Alexandria defendia a tese de que Jesus era superior aos homens porém inferior ao Pai, não admitia a
existência eterna de Cristo. Seu principal opositor foi Atanásio também de Alexandria afirma a unidade
de cristo com o Pai e sua divindade.
Constantino não teve êxito em resolver a questão por isso convocou o concílio de Nicéia em 325
AD onde a doutrina de Ário foi condenada.
A Controvérsia de Apolinário Apolinário era Bispo em Laodicéia quando declarou que a natureza
divina tomou lugar da natureza humana de Cristo. Este Heresia foi condenada no Concílio de
Constantinopla em 381 AD.
A Controvérsia de Nestor Nestor era sacerdote em Antioquia quando se opôs a aplicação do
termo " Mãe de Deus ", a Maria, afirmou que as duas natureza de Cristo agiam em harmonia. No Concílio
de Éfeso em 433 Nestor foi banido e suas obras foram queimadas e aprovado o termo " Mãe de Deus "

O DESENVOLVIMENTO DO PODER NA IGREJA ROMANA


Roma reclamava para si autoridade apostólica. A Igreja de Roma era a única que declara poder
mencionar o nome de dois apóstolo como fundadores, isto é, Pedro e Paulo. A organização da Igreja de
Roma e bem assim seus dirigentes defendiam fortemente estas afirmações. Neste ponto há um contraste
notável entre Roma e Constantinopla. Roma havia feito os imperadores, ao passo que os imperadores
fizeram Constantinopla.
Além disso Roma apresentava um Cristianismo prático. Nenhuma outra igreja a sobrepujava no
cuidado para com os pobres, não somente com os seus membros , mas também entre os pagãos. Foi assim
que em todo o ocidente o bispo de Roma, começou a ser considerado como autoridade principal de toda a
igreja.
Foi dessa forma que o Concílio Calcedônia, na Ásia Menor, no ano 451 AD, Roma ocupou o
primeiro lugar e Constantinopla o segundo lugar.

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Aula 06 - CONTROVÉRSIAS TRINITÁRIAS E CRISTOLOGICAS

No fim do II Século e no III começam aparecer divergências de interpretação dentro da própria


Igreja. As três grande linhas de interpretação posterior (Ásia Menor, Roma e Alexandria) já começaram
aparecer nos pais apostólicos. Movimentos gnósticos estão presentes em toda a Igreja no fim do II e
início do III século. Só foi possível contorná-los após a exclusão de seus grandes líderes. Com a ascensão
de Constantino, conhecido como o "imperador cristão", o palco estava pronto para uma série de conflitos
teológicos que duraria do IV até o VIII século. Estas controvérsias começaram como discussão da relação
de Jesus Cristo a Deus Pai e terminaram tentando explicar a relação entre as duas naturezas de Cristo. As
primeiras são chamadas de "trinitárias"; as últimas, "cristológicas".

O CONCÍLIO DE NÍCEIA
Este concílio reuniu 318 bispos por um período de 3 meses para resolver as diferenças entre
Alexandre e Ário. Segundo Ário, presbítero de Alexandria, somente Deus Pai seria eterno não gerado. O
Logos, o Cristo preexistente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre existiria. O Cristo
existiria num tempo anterior à nossa existência temporal, mas não era eterno. Por outro lado estavam
Alexandre e o jovem Atanásio que afirmava que o Logos era eterno e era o próprio Deus que apareceu em
Jesus.
Deus é Pai apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido começo e o Pai estaria com
o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho eterno do Pai, e o Pai, o Pai eterno do Filho.
A cristologia de Ário foi rejeitada pelo concílio de Nicéia afirmando que a igreja acreditava em:
"um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus; gerado do pai, unigênito da essência do Pai, Deus de Deus,
Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, consubstancial com o Pai, por quem
todas as coisas foram feitas no céu e na terra; o qual , por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu
e encarnou e foi feito homem" "todos os que dizem que houve um tempo que ele não existiu, ou que não
existiu antes de ser feito, e que foi feito do nada ou de alguma outra substância ou coisa, ou que o Filho
de Deus é criado ou mutável, ou alterável, são condenados pela Igreja Católica".

CONTROVÉRSIA CRISTOLÓGICA
A questão do relacionamento entre o Filho e o Pai foi resolvida em Nicéia. Porém isto gerou
novos questionamentos, agora em torno do relacionamento entre as naturezas humanas e divina de
Cristo. Em geral os teólogos ligados a Alexandria salientaram a divindade de Cristo, enquanto que os
relacionados a Antioquia, a sua humanidade, às expensas de Sua deidade. A controvérsia se iniciou no
ensino de Paulo de Samosata, bispo de Antioquia. Este ensinava o que se chama de adocionismo ou
monarquismo dinâmico. Jesus era um homem "energizado"pelo Espírito no batismo e assim exaltado à
dignidade divina. Apolinário de Laodicéia foi o primeiro a negar formalmente que Jesus teve uma alma
racional. No seu lugar estava o divino Logos.
O Concílio de Calcedônia (451) definiu a cristologia afirmando que Jesus Cristo era: "perfeito em
divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de alma racional e corpo, da
mesma substância com o Pai segundo a divindade; e da mesma substância conosco segundo a humanidade,
semelhante a nós em todos os aspectos, sem pecado, gerado do Pai antes de todos os tempos segundo a
divindade..."

OS "TEÓLOGOS" DA IGREJA
Por que o nome "pais da igreja"? Os "pais da igreja" foram a geração de crentes que surgiram após
a era apostólica. O termo "pais" é geralmente usado em referência a alguém mais velho, mais experiente,
mais sábio, é neste sentido que o termo "pais da igreja" surge. Foi aravés destes homens e mulheres que
as principais doutrinas cristãs existentes hoje se moldaram, eles foram os primeiros teólogos e apologistas
cristãos, e comumente eram: antigos, ortodoxos na doutrina, santo no viver e aprovados por outros cristãos.
Orígenes (185-254). Nasceu de pais cristãos em 185 ou 186 da nossa era, provavelmente em
Alexandria. Escritor cristão de vasta erudição, de expressão grega. Estudou letras e aprendeu de cor textos

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 17


bíblicos, com seu pai, que foi morto por ocasião da repressão do imperador Setímio Severo às novas
religiões. O bispo de Alexandria passou a Orígenes a direção da Escola Catequética, sendo então sucessor
de Clemente. Estudou na escola neoplatônica de “Ammonios”. Viajou a Roma, em 212, onde ouviu ao
sábio cristão Hipólito. Em 215 organizou em Alexandria uma escola superior de Exegese Bíblica. Devido
ao seu vasto conhecimento viajava muito e ministrava ao público nas igrejas.
Sua vida era de extremo ascetismo. O fato de se haver castrado por devoção (tomando Mateus
19:12 como conselho de perfeição), lhe criou dificuldades com alguns bispos, que contrariavam o
sacerdócio dos eunucos. Em 232 se transferiu para Cesaréia, na Palestina, onde se dedicou exaustivamente
aos seus estudos. Sobreviveu aos tormentos de que foi vítima sob o Imperador Décio (250-252).
Posteriormente a esta data morreu em Tiro, não se sabendo exatamente quando.
Foi considerado o membro mais eminente da escola de Alexandria e estudioso dos filósofos gregos.
Atanásio(298-373) Assistiu o Concílio de Nicéia, mas aparentemente não foi um grande luminário
lá.
Após a morte de Cirilo, Atanásio foi eleito bispo de Alexandria em 328. Durante seu bispado foi
exilado 5 vezes por Constantino e seus sucessores. Sua força se tornou tão grande, que os últimos dois
mandatos do exílio não podiam ser cumpridos. Nesse período a ortodoxia nicena já havia triunfado sobre
o arianismo. Sua vida pode ser dividida em 3 etapas: Antes de Nicéia até 325; luta contra o arianismo
325-361 e período de vitória da ortodoxia, 361-373.
Basílio de Cesaréia (329-379) foi instalado na sé de Cesareia em 370. Logo em seguida começou
uma série de negociações teológicas, primeiro com Atanásio e depois com o papa Dâmaso para promover
a reunião das igrejas cismadas pela controvérsia sobre a Trindade. Graças a sua obra de organizador e
legislador criou uma nova concepção da instituição monástica. Colocou como ideal o quadro dos cristãos
em Jerusalém (At:2-4) e destacou daí a obediência ao superior.
Gregório de Nissa (331-395). Irmão mais novo de Basílio, foi um estudante da Bíblia e de
Orígenes. Foi eleito bispo em 371. Tornou-se o defensor mais avançado do credo de Nicéia. Foi o primeiro
a procurar estabelecer por considerações racionais a totalidade das doutrinas ortodoxas. A filosofia se
tornou uma auxiliadora da teologia. Embora divergiu de Orígenes, especialmente em cosmologia, na maior
parte aceitou o ensino deste no que podia acomodá-lo à fé explícita da Igreja.
Gregório de Nazianso (330-390). Foi eleito bispo em 372, junto com os dois anteriores, procurou
reconciliar as 2 proposições de Atanásio: a identidade de essência entre Pai e Filho com a distinção de
pessoalidade entre Pai e Filho. Os 2 Gregório também procuravam salvar a reputação de Orígenes para a
ortodoxia. Assim adotaram a doutrina de Orígenes que rezava que o Logos uniu-se com a natureza
sensível pela mediação de uma alma humana racional. Acrescentaram que o Logos tomou todas as partes
da natureza humana em comunhão consigo e as permeava.
Ambrósio de Milão (340-397). Foi um grande administrador eclesiástico; pregador e teólogo. Foi
a pregação de Ambrósio que trouxe Agostinho ao evangelho. Era governador imperial da área ao redor
de Milão quando o bispo da cidade morreu em 374. O povo unanimemente queria que Ambrósio aceitasse
ser bispo. Crendo ser isto a vontade de Deus, renunciou ao seu cargo político, distribuiu seus bens aos
pobres e, após sua eleição, iniciou um estudo intensivo das Escrituras. Foi um grande pregador apesar de
sua exposição ser desfigurada pela interpretação alegórica das Escrituras. Resistiu ao imperador Teodósio,
não permitindo-o participar da Ceia até que humilde e publicamente se arrependesse do massacre dos
tessalonicenses. Aparentemente foi Ambrósio que introduziu o cantar de hinos na Igreja Ocidental.
João Crisóstomo (345-407). foi um grande expositor e orador. Ao princípio advogou segundo seu
treino em direito. Após seu batismo em 368 se tornou monge. Com a morte da sua mãe em 374 seguiu
uma vida extremamente ascética até 380. foi ordenado em 386 e se tornou patriarca de Constantinopla em
398. Foi banido em 404 por ter denunciado as vestimenta extravagantes da imperatriz, bem como a
colocação de uma estatueta dela em prata na Igreja ao lado de Santa Sofia. Morreu no exílio em 407.
Ainda existem 604 dos seus sermões. A leitura destes sermões mostra a força da sua pregação sem o
acréscimo da personalidade de seu autor. A grande maioria destes sermões versam sobre as epístolas de
Paulo.
Jerônimo (347-419). Foi o mais erudito de todos. Foi o autor da Vulgata que ele insistiu traduzir
do grego (NT) e hebraico (AT), salvo os Salmos que já foram traduzidos da Setuaginta (LXX). Jerônimo

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 18


introduziu dois outros elementos à Igreja ocidental que tiveram grandes repercussões lá. Introduziu a vida
ascética a Europa ocidental. A importância disto só pode ser avaliada à luz da forma que a Igreja toma na
Europa medieval. Introduziu também Orígenes ao Oeste. Por causa de uma tradução tendenciosa por
parte de Rufino, Jerônimo fez uma tradução ao pé da letra de Orígenes. Mais tarde ficou embaraçado de
ter seu nome ligado a Orígenes. Condenou a doutrina deste, mas sempre admirou seu estilo de escritor.
Além de suas traduções da Bíblia e de Orígenes, Jerônimo é famoso por seus comentários nas Escrituras.
Seu primeiro (388) comentário foi sobre Eclesiástes, seguido no mesmo ano por Gálatas, Efésios e Tito.
Três anos depois publicou um sobre 5 dos profetas menores. De 397 até 419 completou os profetas
menores, bem como Jonas, Daniel, Isaias, Ezequiel e Jeremias. E do NT apenas Mateus.
Teodoro de Mopsuéstia (350-428). Foi príncipe dos exegetas da antiguidade. em contraste com
os alexandrinos, ele com Crisóstomo procuravam proclamar o sentido natural do texto. Foi defensor, pelo
menos em parte, de Nestório. Defendeu insistentemente a integridade da humanidade de Cristo.
Agostinho ( 354 - 430 ) Filósofo e Teólogo de Hipona, Norte da África. Polemista capaz, pregador
de talento, administrador episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã da história
que continua válida até hoje em sua essência.Vivendo num tempo em que a velha civilização clássica
parecia sucumbir diante dos bárbaros, Agostinho permaneceu em dois mundos, o clássico e o novo
medieval.
Na busca pela verdade, ele aceitou o ensino herético maniqueísta, o qual ensinava um dualismo
radical: o poder absoluto do mal -- o Deus do Antigo Testamento, e o poder absoluto do bem -- o Deus do
Novo Testamento. No ano 386, quando passava várias crises em sua vida, Agostinho estava meditando
num jardim sobre a sua situação espiritual, e ouviu uma voz próxima à porta que dizia: “Tome e Leia”.
Agostinho abriu sua Bíblia em Romanos 13.13,14 e a leitura trouxe-lhe a luz que sua alma não conseguiu
encontrar nem no maniqueísmo nem no neo-platonismo. Com sua conversão à Cristo, ele despediu sua
concubina e abandonou sua profissão no Império. Sua mãe, que muito orara por sua conversão, morreu
logo depois do seu batismo, realizado por Ambrósio na Páscoa de 387. Uma vez batizado, regressou um
ano depois para Cartago, Norte da África, onde foi ordenado sacerdote em 391. Em Tagasta, ele
supervisionou e instruiu um grupo de irmãos batizados chamados de “Servos de Deus”. Cinco anos depois,
foi consagrado bispo de Hipona por pedido daquela congregação, onde permaneceu até sua morte.
Suas Obras. Agostinho é apontado como o maior dos Pais da Igreja. Ele deixou mais de 100 livros,
500 sermões e 200 cartas. Agostinho escreveu também muitas obras polêmicas para defender a fé dos
falsos ensinos e das heresias dos maniqueus, dos donatistas e, principalmente, dos pelagianos. Também
escreveu obras práticas e pastorais, além de muitas cartas, que tratam de problemas práticos que um
administrador eclesiástico enfrenta no decorrer dos anos do seu ministério.
A formulação de uma interpretação cristã da história deve ser tida como uma das contribuições
permanentes deixadas por este grande erudito cristão. Nem os historiadores gregos ou romanos foram
capazes de compreender tão universalmente a história do homem. Agostinho exalta o poder espiritual
sobre o temporal ao afirmar a soberania de Deus sobre a criação. Esta e outras inspiradoras obras
mantiveram viva a Igreja através do negro meio-milênio anterior ao ano 1000.
Agostinho é visto pelos protestantes como um precursor das idéias da Reforma com sua ênfase
sobre a salvação do pecado original e atual através da graça de Deus, que é adquirida unicamente pela fé.
Sua insistência na consideração dos sentido inteiro da Bíblia na interpretação de uma parte da Bíblia
(Hermenêutica), é um princípio de valor duradouro para a Igreja.

TEOLOGIA E HISTÓRIA EM QUADROS4

4
Teologia Crista em Quadros, Wayne House

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Aula 07 – A FORMAÇÃO DO CÂNON BÍBLICO5

Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho
e do Novo Testamentos, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática, que são os seguintes:
O Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel,
2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.
O Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemon,
Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João, Judas, Apocalipse.
Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do Cânon da
Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou
empregados senão como escritos humanos (Confissão de Fé de Westminster, 1:2-3).
O ensino destes parágrafos da Confissão de Fé de Westminster diz respeito especialmente ao cânon das
Escrituras. Nele não são indicados os critérios empregados. São apenas relacionados os sessenta e seis livros aceitos
como canônicos, ou seja, como inspirados por Deus, que compõem a Bíblia Protestante. Quanto aos livros apócrifos,
que foram incluídos na Bíblia Católica, são explici-ta-mente considerados não inspirados e, portanto, não
autorita-tivos; não devendo ser empregados senão como escritos humanos.
A palavra cânon é mera transliteração do termo grego kanwvn, que significa vara reta, régua, regra.
Aplicado às Escrituras, o termo designa os livros que se conformam à regra da inspiração e autoridade divinas.
Atanásio (séc. IV) parece ter sido o primeiro a usar a palavra neste sentido.[1] São chamados de canônicos, portanto,
os livros que foram inspirados por Deus, os quais compõem as Escrituras Sagradas — o cânon bíblico.
Qual o cânon das Escrituras? Quais são os livros canônicos, ou seja, inspirados? Como se dividem? Há
alguma regra pela qual se pôde averiguar a canonicidade de um livro? Como explicar a diferença entre os cânones
hebraico, católico e protestante? São estas as perguntas que precisam ser respondidas com relação ao presente
assunto.

O CÂNON PROTESTANTE DO ANTIGO TESTAMENTO

Origem - O cânon protestante do Antigo Testamento (composto pelos trinta e nove livros relacionados
acima) é exatamente igual ao cânon hebraico massorético. O cânon massorético é a Bíblia hebraica em sua forma
definitiva, vocalizada e acentuada pelos massoretas. A ordem dos livros, entretanto, segue a da Vulgata e da
Septuaginta.
Os Massoretas - Os massoretas eram judeus estudiosos que se dedicavam à tarefa de guardar a tradição
oral (massora) da vocalização e acentuação correta do texto. À medida que um sistema de vocalização foi sendo
desenvolvido, entre 500 e 950 AD, o texto consonantal que receberam dos soferim[2] foi sendo por eles
cuidadosamente vocalizado e acentuado. Além dos pontos vocálicos e dos acentos, os massoretas acrescentavam
também ao texto as massoras marginais, maiores e finais, calculadas pelos soferim. Essas massoras (tradições) eram
esta-tísticas colocadas ao lado das linhas, ao fim das páginas e ao final dos livros, indicando quantas vezes uma
determinada palavra aparecia no livro, o número de versículos, palavras e letras. Elas indicavam até a palavra e letra
central do livro.

O Cânon Massorético - Embora o conteúdo do cânon protestante seja o mesmo do cânon hebraico, a
divisão e a ordem dos livros são diferentes. Eis a divisão e ordem do cânon hebraico:
• O Pentateuco (Torá): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
• Os Profetas (Neviim):
o Anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis.
o Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Profetas Menores.
• Os Escritos (Kêtuvim):
o Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios e Jó.
o Rolos ou Megilloth (lidos no ano litúrgico): Cantares (na páscoa), Rute (no pentecostes),
Lamentações (no quinto mês), Eclesiastes (na festa dos tabernáculos) e Ester (na festa de purim).
o Históricos: Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.

5
Paulo R. B. Anglada, http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/canon_anglada.htm

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O Cânon Consonantal - A divisão e ordem dos livros no cânon hebraico consonantal (anterior) era a
mesma. O número de livros, entretanto, era diferente. O conteúdo era o mesmo, mas agrupado de modo a formar
apenas vinte e quatro livros. Os livros de 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas eram unidos, formando apenas
um livro cada (o que implica em três livros a menos em relação ao nosso cânon). Os doze profetas menores eram
agrupados em um só livro (menos onze livros). Esdras e Neemias formavam um só livro, o Livro de Esdras (menos
um livro).
Testemunhas Antigas do Cânon Protestante Hebraico - A referência mais antiga ao cânon hebraico é do
historiador judeu Josefo (37-95 AC). Em Contra Apionem ele escreve: “Não temos dezenas de milhares de livros,
em desarmonia e conflitos, mas só vinte e dois, contendo o registro de toda a história, os quais, conforme se crê,
com justiça, são divinos.”[4] Depois de referir-se aos cinco livros de Moisés, aos treze livros dos profetas, e aos
demais escritos (os quais “incluem hinos a Deus e conselhos pelos quais os homens podem pautar suas vidas”), ele
continua afirmando:
Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido
considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas
cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através de nossa conduta; pois, apesar de
ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma,
nem alterar neles qualquer coisa que seja.[5]
Josefo é suficientemente claro. Como historiador judeu, ele é fonte fidedigna. Eram apenas vinte e dois os
livros do cânon hebraico agrupados nas três divisões do cânon massorético. E desde a época de Malaquias
(Artaxerxes, 464-424) até a sua época nada se lhe havia sido acrescentado. Outros livros foram escritos, mas não
eram considerados canônicos, com a autoridade divina dos vinte e dois livros mencionados.
Além de Josefo, Mileto, Bispo de Sardes, diz ter viajado para o Oriente, em 170, com o propósito de
investigar a ordem e o número dos livros do Antigo Testamento; Orígenes, o erudito do Egito, que morreu em 254;
Tertuliano (160-250), pai latino contemporâneo de Orígenes; e Jerônimo (340-420), entre outros, confirmam o
cânon hebraico de vinte e dois ou vinte e quatro livros (dependendo do agrupamento ou não de Rute e Lamentações).
É interessante observar que o próprio Jerônimo, tradutor da Vulgata latina, que daria origem ao cânon
católico, embora considerasse os livros apócrifos úteis para a edificação, não os tinha como canônicos. Embora
tendo traduzido outros livros não canônicos, ele escreveu que “deveriam ser colocados entre os apócrifos,”
afirmando que “não fazem parte do cânon.” Referindo-se ao livro de Sabedoria de Salomão e ao livro de
Eclesiástico, ele diz: “Da mesma maneira pela qual a igreja lê Judite e Tobias e Macabeus (no culto público), mas
não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois livros úteis para a edificação do povo,
mas não para receber as doutrinas da igreja.”[6]
Vale salientar ainda que a versão siríaca Peshita, que bem pode ter sido feita no século II ou III,[7] ou até
mesmo no século I,[8] nos manuscritos mais antigos, não contém nenhum dos apócrifos.
O Testemunho de Jesus e dos Apóstolos - Embora as evidências já mencionadas sejam importantes, a
principal testemunha do cânon protestante do Antigo Testamento é o Novo Testamento. Jesus e os apóstolos não
questionaram o cânon hebraico da época (época de Josefo, convém lembrar). Eles citaram-no cerca de seiscentas
vezes, de modo autoritativo, incluindo praticamente todos os livros do cânon hebraico. Entretanto, não citam
nenhuma vez os livros apócrifos.[9] Pode-se concluir, portanto, que Jesus e os apóstolos deram o imprimatur deles
ao cânon hebraico e, conseqüen-temente, ao cânon protestante.

O CÂNON CATÓLICO DO ANTIGO TESTAMENTO

Origem - O cânon católico, composto pelos trinta e nove livros encontrados no cânon protestante, acrescido
das adições a Daniel e Ester, e dos livros de Baruque, Carta de Jeremias, 1-2 Macabeus, Judite, Tobias, Eclesiástico
e Sabedoria — 3 e 4 Esdras e a Oração de Manassés são acrescentadas depois do NT — origina-se da Vulgata
latina, que por sua vez provém da Septuaginta.
A Septuaginta - A Septuaginta é uma tradução dos livros judaicos para o grego feita, possivelmente,
durante o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-245 a.C.) ou até meados do século I a.C., para a biblioteca de
Alexandria, no Egito.[10] Os tradutores não se limitaram a traduzir os livros conside-rados canônicos pelos judeus.
Eles traduziram os demais livros judaicos disponíveis. E, a julgar pelos manuscritos existentes, deram um arranjo
tópico à biblioteca judaica, na seguinte ordem:
• Livros da Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
• Livros de História: Josué, Juízes, Rute, 1-2 Samuel, 1-2 Reis (chamados 1-2-3-4 reinados), 1-2 Crônicas,
1-2 Esdras (o primeiro apócrifo), Neemias, Tobias, Judite e Ester.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 28


• Livros de Poesia e Sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Sabedoria de Salomão,
Sabedoria de Siraque (ou Eclesiástico).
• Livros Proféticos: Profetas Menores; Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Baruque, Lamentações, Epístola
de Jeremias, Ezequiel, e Daniel (incluindo as histórias de Susana, Bel e o Dragão e cântico dos 3 Varões).
Alguns desses livros foram escritos posteriormente, em grego, possivelmente por judeus alexandrinos, e
foram incluídos na biblioteca judaica de Alexandria, tais como Primeiro e Segundo Esdras, adições a Ester,
Sabedoria, e a Epístola de Jeremias. Nem sempre todos estes livros estão presentes nos manuscritos antigos da
Septuaginta. O Códice Vaticano (B) omite Primeiro e Segundo Macabeus (canônicos para a Igreja Católica) e inclui
Primeiro Esdras (não canônico para a Igreja Católica). O Códice Sináitico (À) omite Baruque (canônico para Roma),
mas inclui o quarto livro dos Macabeus (não canônico para Roma). O Códice Alexandrino (A) inclui o Primeiro
Livro de Esdras e o Terceiro e Quarto Livros dos Macabeus (apócrifos para Roma).
O que se pode concluir daí é que, quando a Septuaginta era copiada, alguns livros não canônicos para os
judeus eram também copiados. Isso poderia ter ocorrido por ignorância quanto aos livros verdadeiramente
canônicos. Pessoas não afeiçoadas ao judaísmo ou mesmo desinteressadas em distinguir livros canônicos dos não
canô-nicos tinham por igual valor todos os livros, fossem eles original-mente recebidos como sagrados pelos judeus
ou não. Mesmo aqueles que não tinham os demais livros judaicos como canônicos certamente também copiavam
estes livros, não por considerá-los sagrados, mas apenas para serem lidos. Por que não copiar livros tão antigos e
interessantes?
Mesmo pessoas bem intencionadas podem ter sido levadas a rejeitar alguns dos livros canônicos, ou a aceitar
como canônicos alguns que não o fossem, por ignorância ou má interpretação da história do cânon. Convém lembrar
que, embora o testemunho do Espírito Santo seja a principal regra de canonicidade por parte da igreja como um
todo, mesmo assim, o crente ainda tem uma natureza pecami-nosa que não o livra totalmente de incidir em erro,
inclusive quanto ao assunto da canonicidade. Isto acontece especialmente em épocas de tran-sição, como foi o caso
de Agostinho que defendeu os livros apócri-fos, embora de modo dúbio, e depois o de Lutero, o qual colocou em
dúvida a canonicidade da carta de Tiago.
A Vulgata - Como já foi mencionado, ao traduzir a Vulgata, Jerônimo também incluiu alguns livros
apócrifos. Não o fez, contudo, por considerá-los canônicos, mas apenas por considerá-los úteis, como fontes de
informação sobre a história do povo judeu.
Na Idade Média a versão francamente usada pela igreja foi a Vulgata latina. A partir dela e da Septuaginta
também foram feitas outras traduções. Ora, multiplicando-se o erro, e afastando-se cada vez mais a igreja da verdade
(como aconteceu crescentemente nesse período), tornou-se mais e mais difícil distinguir entre os livros que
deveriam ser considerados canônicos ou não. Esses livros nunca foram completa-mente aceitos, mesmo nessa época.
Mas, por estarem incluídos nessas versões, a igreja em época de trevas, geralmente falando, não teve discernimento
espiritual para distinguir entre livros apócrifos e canônicos.
Por fim, no Concílio de Trento, em 1546, também em reação contra os protestantes, que reconheceram
apenas o cânon hebraico, a igreja de Roma declarou canônicos os livros apócrifos relacionados acima, bem como
autoritativas as tradições orais: “O Sínodo... recebe e venera todos os livros, tanto do Antigo como do Novo
Testamento... assim como as tradições orais.” A seguir são relacionados todos os livros considerados canônicos,
incluindo os apócrifos. Concluindo, o decreto adverte:
Se qualquer pessoa não aceitar como sagrado e canônico os livros mencionados em todas as suas partes, do
modo como eles têm sido lidos nas igrejas católicas, e como se encontram na antiga Vulgata latina, e
deliberadamente rejeitar as tradições antes mencionadas, seja anátema.[11]
A igreja grega seguiu mais ou menos os passos da igreja ocidental. Houve sempre dúvida na aceitação dos
apócrifos, mas, no Concílio de Trulano, em 692, foram todos aceitos (quatorze). Ainda assim, como sempre houve
reservas quanto à plena aceitação de muitos deles, a igreja grega, em 1672, acabou reduzindo para quatro o número
dos apócrifos aceitos: Sabedoria, Eclesiástico, Tobias e Judite.[12]

Conclusão
Por ironia da História, a Vulgata de Jerônimo, o qual não considerava canônicos os livros apócrifos,[13]
veio a ser a principal responsável pela inclusão destes mesmos livros no cânon católico.
A obra dos reformadores foi maior do que se pode pensar à primeira vista. Eles não apenas redescobriram
as doutrinas básicas do evangelho, como a doutrina da salvação pela graça mediante a fé. Eles redescobriram
também o cânon. Graças a eles e ao testemunho do Espírito Santo, a igreja protestante reconhece como canônicos,
com relação ao Antigo Testamento (é claro), os mesmos livros que Jesus e os apóstolos, e os judeus de um modo
geral sempre reconheceram.
Alguns dos apócrifos são realmente úteis como fontes de informação a respeito de uma época importante
da história do povo de Deus: o período inter-testamentário. Os protestantes reconhecem o valor histórico deles.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 29


Seguindo a prática dos primeiros cristãos, as edições modernas protestantes da Septuaginta normalmente incluem
os apócrifos, e até algumas Bíblias protestantes antigas os incluíam, no final,, apenas como livros históricos.
Mas as igrejas reformadas excluíram totalmente os apócrifos das suas edições da Bíblia, e, “induziram a
Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, sob pressão do puritanismo escocês, a declarar que não editaria Bíblias
que tivessem os apócrifos, e de não colaborar com outras sociedades que incluíssem esses livros em suas
edições.”[14] Melhor assim, tendo em vista o que aconteceu com a Vulgata! Melhor editá-los separadamente.

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

Por motivos óbvios, os judeus não aceitam os livros do Novo Testamento como canônicos. Se não
reconheceram a Jesus como o Messias, não poderiam aceitar os livros do Novo Testamento como inspirados.
Felizmente, entretanto, não precisamos falar de um cânon protestante e de um cânon católico do NT, visto que todos
os ramos do cristianismo — incluindo a igreja oriental — aceitam exatamente os mesmos vinte e sete livros, como
os temos em nossas Bíblias.
É claro, entretanto, que não se poderia esperar que todos os vinte e sete livros do Novo Testamento viessem
a ser imediata e simultaneamente reconhecidos como inspirados, por todas as igrejas, logo na época em que foram
escritos. Algum tempo seria necessário para que os quatro Evangelhos, o livro de Atos, as epístolas, e o livro de
Apocalipse alcançassem todas as igrejas. Afinal, no final do primeiro século e no início do segundo a igreja já havia
se espalhado por três continentes: Europa, Ásia e norte da África. Além disso, é provável que haja um intervalo de
quase cinqüenta anos entre a data em que o primeiro e o último livro do Novo Testamento foram escritos.[15] Por
fim, deve-se considerar ainda que, embora todos os livros canô-nicos sejam inspirados, nem todos têm a mesma
importância ou volume. É natural esperar que cartas pequenas como Judas, e as duas últimas cartas de João, fossem
bem menos mencionadas do que os Evangelhos, Atos, Romanos, etc.
Também é preciso observar que havia outros livros cristãos antigos: evangelhos, cartas, atos, apocalipses,
etc. Alguns desses livros foram escritos por crentes piedosos do primeiro e segundo séculos, outros eram
indevidamente atribuídos aos apóstolos ou aos seus contemporâneos. Algum tempo, é claro, seria necessário para
que a igreja, de um modo geral, de posse já de todos os livros canônicos, bem como de muitos outros não canônicos,
viesse a avaliar a autoria, teste-munho externo e interno, e discernir, pela ação do Espírito Santo, quais livros
realmente pertenceriam ao cânon. Isso tudo, entretanto, ocorreu de modo surpreendentemente rápido, de maneira
que antes que cem anos se passassem, praticamente todos os livros do Novo Testa-mento já eram conhecidos,
reunidos, reverenciados e tidos como autoritativos, conforme atestam as evidências históricas existentes.

Critérios de Canonicidade dos Livros do Novo Testamento


A principal questão teológica com relação ao cânon do NT diz respeito ao critério ou critérios que
determinaram a canonicidade dos livros do NT. Por que os vinte e sete livros, e apenas estes, incluídos em nossas
Bíblias são aceitos como canônicos? A resposta a esta pergunta encontra-se, em última instância, na doutrina da
inspiração. São canônicos os livros que foram inspirados por Deus. Mas como foi reconhecida a inspiração dos
livros do NT? Quais os critérios que levaram a igreja a aceitar todos os vinte e sete livros, e apenas estes, como
inspirados e conseqüentemente canônicos?
1) O Testemunho Interno do Espírito Santo - O critério essencial é o mesmo que levou ao reconhecimento
do Antigo Testamento: o testemunho interno do Espírito Santo na igreja como um todo. É certo, como já foi
mencionado, que crentes individuais podem falhar em identificar ou não certos livros como canônicos —
especialmente em épocas de transição, como nos primei-ros séculos da igreja na nova dispensação e durante o
período da Reforma. Não obstante, o testemunho da igreja como corpo (não como instituição ou indivíduos
isoladamente) é o principal critério de verifi-ca-ção da canonicidade das Escrituras.
Isso não significa dizer, entretanto, que seja a igreja quem tenha determinado o cânon. Quem determinou o
cânon foi o Espírito Santo que o inspirou. A igreja apenas o reconheceu, o discerniu, pela iluminação do próprio
Espírito Santo, que habita nos seus membros individuais. William Whitaker, professor de Teologia na Universidade
de Cambridge, no livro Disputation on Holy Scripture, publicado em 1588, e freqüentemente citado na Assembléia
de Westminster, resume o papel da igreja como corpo e dos crentes individuais com relação ao reconhecimento do
cânon, com as seguintes palavras: “...a autoridade da igreja pode, a princípio mover-nos a reconhecermos as
Escrituras: mas depois, quando nós mesmos lemos as Escrituras, e as compreende-mos, concebemos uma fé
verdadeira...”[16] — isto é, somos convencidos pelo Espírito da sua veracidade e identidade.
As evidências históricas deste reconhecimento do cânon do Novo Testamento pela igreja são abundantes.
Logo no final do primeiro século e início do segundo (até 120 d.C.), boa parte dos livros do Novo
Testamento já era conhecida, citada e até reverenciada como autoritativa pelos primeiros escritos cristãos que

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 30


chegaram até nós. É o caso da Carta de Clemente de Roma aos Coríntios, escrita por volta do ano 95; das cartas de
Inácio de Antio-quia da Síria, bispo que morreu martirizado em Roma entre 98 e 117; da Epístola aos Filipenses,
de Policarpo, discípulo de João que morreu martirizado, escrita pouco antes do martírio de Inácio; etc. Apenas a
segunda e terceira Carta de João e a carta de Judas não são menciona-das nestes escritos mais antigos; obviamente
por falta de oportunidade, visto serem muito pequenas.
Na metade do segundo e no terceiro século, quando já há mais abundância de escritos, preservados,[17]
todos os livros do NT são citados, e todos, de modo geral, reconhecidos como autoritativos, embora a canonicidade
de alguns livros seja colocada em dúvida ou rejeitada por um ou outro autor antigo. Orígenes de Alexandria (185-
250) e Eusébio de Cesaréia (265-340), seguindo Orígenes, por exem-plo, parecem lançar dúvidas sobre Hebreus, 2
Pedro, 2 e 3 João, Tiago e Judas. Neste período, o assunto da canonicidade dos livros foi debatido e defendido,
tendo em vista as posições heréticas, como as de Marcião e outros representantes do gnosticismo. Em 367, Atanásio
apresenta lista dos livros canônicos do Novo Testamento, incluindo todos os vinte e sete livros, e apenas estes.
Finalmente, em 397, no Concílio de Cartago, a igreja reconheceu oficialmente todos os vinte e sete livros, e só estes,
como canônicos. Esta decisão foi ratificada pelo Concílio de Hipona, em 419.
2) Origem Apostólica - Pelo lado humano, a origem apostólica foi, sem dúvida, o critério mais importante
considerado pela igreja, para o reconhecimento da canonicidade do Novo Testamento. Assim como os profetas (no
sentido lato) do Antigo Testamento eram a voz autorizada de Deus para o povo — e de algum modo, todos os livros
do AT têm origem profética — assim também a origem apostólica autenticava um livro como autoritativo, e
conseqüentemente canônico. Os apóstolos eram as testemunhas autorizadas escolhidas por Jesus, como dirigentes
da igreja que surgia. Para os pais da igreja este era o critério mais importante. Fosse possível provar que um
determinado livro era de origem apostólica, isso seria suficiente para ser reconhecido como canônico. Por outro
lado, havendo dúvida quanto à origem apostólica fatalmente haveria relutância — como realmente houve — na
aceitação da canonicidade de um livro.
O fato é que todos os livros aceitos como canônicos eram de autoria apostólica, ou tidos como de origem
apostólica. Mesmo Marcos está ligado a Pedro (foi até chamado de Evangelho de Pedro), Lucas e Atos provinham
da autoridade de Paulo; e Hebreus era também considerado de Paulo; Tiago e Judas, dos apóstolos que tinham esse
nome.
3) O Conteúdo dos Livros - O conteúdo dos livros também foi sempre um critério importante no
reconhecimento da canonicidade dos livros do NT. Livro algum, em desacordo com o padrão doutrinário e moral,
ensinado por Jesus e os apóstolos, seria recebido como autoritativo. Foi assim que muitos escritos heréticos foram
repudiados pela igreja. Foi com base nesta regra, também, que muitos livros apócrifos foram rejeitados, visto que
em franco desacordo com o caráter, simplicidade, doutrinas e ética dos livros canônicos.
4) As Evidências Internas do NT - Embora os critérios acima tenham sido decisivos, as evidências internas
do próprio NT, quanto à inspiração e autoridade de alguns desses livros, revestem-se de especial importância. É
claro que não se deve esperar encontrar uma lista completa do cânon do Novo Testamento dentro do próprio Novo
Testamento. Não é assim que Deus age. O lado humano da revelação (o instrumento) não é eclipsado pelo divino -
não é assim na inspiração (as Escrituras não são pneuma-grafadas), não é assim na preservação (as Escrituras não
são pneumapreservadas), e também não é assim no cânon (as Escrituras não são pneumacanonizadas). O elemento
fé permeia toda a Bíblia, e “a fé é a convicção de fatos que se não vêem”(Hb 11:1).
Isto, entretanto, não significa de modo algum que os autores dos livros do Novo Testamento e seus primeiros
leitores não tivessem consciência da inspiração desses livros. Alguns assim afirmam dizendo que, de início, as cartas
e Evangelhos foram escritos e recebidos como cartas e livros comuns, sem pretensão de inspiração ou canonicidade,
por parte dos autores e leitores. Contudo tal afirmação não corresponde aos fatos. Há, no prório Novo Testamento,
evidências claras da inspiração, autoridade e conseqüente canonicidade desses livros. O apóstolo Paulo não escreve
como alguém que aconselha, exorta ou en-si-na de si mesmo, mas com autoridade divina, extraordinária. De onde
provém a autoridade de Paulo, ao exortar os Gálatas (1:8), dizendo: “...ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do
céu vos pregue evan­gelho que vá além do que vos tenho pregado, seja anátema”? Ele explica logo a seguir, quando
afirma: “...o evangelho por mim anun­ciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de
homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:11,12).
Que os livros do NT não tinham caráter meramente circuns-tancial, específico e momentâneo é evidente
nas exortações no sentido de que fossem lidos publicamente (o que só se fazia com as Escrituras), e em outras
igrejas (1 Ts 5:27; Cl 4:16). Paulo afirma que os tessaloni-censes receberam as suas palavras como palavra de Deus;
e ele confirma que realmente são:
Outra razão ainda temos nós para incessantemente dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra
que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homem, e sim, como, em verdade é, a palavra
de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes (1 Ts 2:13).

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O apóstolo Pedro também coloca os escritos de Paulo em pé de igualdade com as Escrituras, reconhecendo
autoridade igual à do Antigo Testamento:
...e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos
escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como de fato costuma fazer em
todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como
também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles (2 Pe 3:15-16).
Em 1 Timóteo 5:18, o texto de Lucas 10:7 é chamado de Escritura, juntamente com Deuteronômio 25:4:
“Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o grão (Dt 25:4). E ainda: O trabalhador é digno do
seu salário” (Lc 10:7).

Os Livros Disputados
Como já mencionado, alguns pais da igreja tiveram dúvidas quanto à canonicidade de alguns livros do NT.
Enquanto a maioria dos livros praticamente nunca tiveram a sua canonicidade disputada pela igreja, outros sofreram
alguma resistência, embora parcial, para serem aceitos como canônicos. Os principais foram: Hebreus, Tiago, 2
Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.
Entretanto, não é difícil compreender as razões desta relutância, pois cada um desses livros apresenta uma
ou outra característica que, de certo modo, justificava o zelo por parte da igreja em averiguar mais cuidadosamente
a canonicidade deles. Afinal, haviam outros livros cristãos, de conteúdo fiel e ortodoxo, que poderiam ser
confundidos, se não houvesse discernimento por parte da igreja; a exemplo do que aconteceu com os apócrifos do
Antigo Testamento, pela Igreja Católica.
Não é muito difícil compreender os motivos que levaram os referidos livros a terem sua canonicidade
disputada. No caso de Hebreus, o problema estava na autoria e estilo. A tradição dizia ser de Paulo, mas não há o
nome do autor, como é costume de Paulo. O estilo também não é exatamente o mesmo, embora haja muita
semelhança. Com relação a Tiago, a aparente discrepância doutrinária com as demais cartas e a possibilidade de
haver sido escrita por outro Tiago certamente dificultaram o reconhecimento da sua canonicidade. A segunda carta
de Pedro, além de, por razões desconhecidas, provavel-mente haver tido circulação limitada, apresenta alguma
diferença de vocabulário e estilo, o que, segundo Jerônimo, foi a causa de alguns pais duvidarem da genuinidade da
epístola.[18] Quanto a Judas e 2 e 3 João, o próprio tamanho, importância relativamente menor, e a natureza mais
pessoal das duas últimas, certamente dificultaram a circulação e reconhecimento delas no cânon — no caso de
Judas, a questão da origem apostólica também pesou. Já o livro de Apocalipse, o qual teve aceitação generalizada
no segundo século, teve sua canonicidade posteriormente disputada, provavelmente pela dúvida lançada por
Dionísio de Alexandria, seguido por Eusébio de Cesaréia, quanto à origem apostólica do livro, devido ao que
consideravam diferenças de estilo entre ele e o Evangelho de João; o que o levou a atribuir o livro a um outro João.
É claro que estas dificuldades são todas aparentes. Estilo não pode ser determinante, pois a natureza do
assunto pode acarretar mudança de estilo. Além disso era comum o uso de amanuenses. Tamanho “também não é
documento;” e assuntos relativamente menos importantes tornam-se importantíssimos em determinadas
circunstân-cias — a História da Igreja tem comprovado isso. Quantas vezes as cartas de Judas, 2 e 3 João têm sido
de valor inestimável para pessoas e igrejas específicas! A “discrepância” doutrinária de Tiago já tem sido
suficientemente explicada: é apenas aparente. A relutância por parte de alguns, no terceiro ou quarto séculos em
reconhecer a canonicidade desses livros não deve de modo algum ser encarada como necessaria-mente depreciativa.
Pelo contrário, por mais que tenham sido submeti-dos a teste, até pelos reformadores, esses livros foram aprova-dos
pela História, e encontraram lugar seguro e imbatível no cânon do Novo Testamento.

Conclusão
Sejam quais forem os critérios que mais influenciaram os pais da igreja no reconhecimento dos livros do
Novo Testamento, e apesar da relutância de alguns em aceitar todos os vinte e sete livros, e não obstante o grande
número de livros apócrifos que surgiram nos primeiros séculos, o verdadeiro cânon teria que prevalecer. E
prevale-ceu. Inspirados que eram, tinham poder espiritual inerente. E este poder manifestou-se de tal modo que
todos os ramos do cristianismo alcança-ram unanimidade espantosa, de modo que desde pelo menos Atanásio, o
primeiro a apresentar uma lista completa do cânon do NT, até nossos dias, não tem havido nenhuma objeção
realmente séria quanto à canonicidade do NT, nos três principais ramos do cristianismo.

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Aula 08 - IGREJA MEDIEVAL

DE ROMA EM 476 AD ATÉ A QUEDA DE CONSTANTINOPLA, 1453 AD.

PROGRESSO PAPAL - O termo "papa", significa simplesmente "papai", sendo, portanto, um termo de
carinho e respeito, este termo era usado para qualquer bispo, sem importar se ele era de Roma. Como Roma
era, pelo menos de nome, a capital do Império, a igreja e o bispo desta cidade logo se viram em posição de
destaque.
Quando os bárbaros invadiram o Império, a igreja de Roma começou a seguir um rumo bem diferente
Constantinopla. No Ocidente, o Império desapareceu, e a igreja veio a ser a guardiã do que restava da velha
civilização. Por isto, o papa, chegou a Ter grande prestígio e autoridade.
Porém, enquanto que no Oriente duvidava-se de sua autoridade, em Roma e vizinhanças esta autoridade
se estendia até além dos assuntos religiosos. Tudo isto nos mostra que em uma época em que a Europa estava
em caos, o papado preencheu o vazio, proporcionando certa estabilidade.
O período de crescimento do poder papal começou com o pontificado de Gregório I, o Grande, e teve
o apogeu no tempo de Gregório VII, mais conhecido por Hildebrando. Hildebrando reformou o clero que se
havia corrompido, elevou as normas de moralidade de todo o clero, exigiu celibato dos sacerdotes, libertou a
igreja da influência do estado, podo fim à nomeação de papas pelos reis e imperadores. Hildebrando impôs a
supremacia da igreja sobre o Estado.

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO PAPADO


A autoridade monárquica do papa, é fruto de um longo processo. De um bispo igual aos outros, o de
Roma passa a ser o primeiro entre os demais e finalmente cabeça incontestável da Igreja. Vários papas de
grande envergadura, dos quais devemos citar: Inocêncio (402-417); Celestino (422-432); Leão I (440-461); e
Gregório I (590-604).

1. Até Constantino Os antigos autores católicos tenham insistido que a Igreja de Roma foi fundada
por Pedro e que tenha tido uma linha de papas, vigários de Cristo, desde então. Oscar Cullmann, teólogo
protestante, examina detalhadamente a questão de Pedro ter estado em Roma. Conclui que estava lá e lá foi
martirizado. Nega entretanto que tenha fundado a Igreja ou passado seus direitos aos bispos subseqüentes.
A lista dos primeiros bispos consta destes nomes: Lino, Cleto ou Anacleto, Clemente (91-100),
Evaristo, Alexandre (109-119), Sixto I (119-127), Telesforo (127-138), Higino (139-142), Pio I (142-157),
Aniceto (157-168), Soter (168-177), Eleutero (177-193). Estas datas são aproximadas e temos poucas
informações do seu pontificado.
Vitor (193--202). Parece ser o primeiro a procurar estabelecer a autoridade papal além das fronteiras
de sua igreja.
Cipriano. Bispo em Cartago durante o pontificado de Cornêlio e Estevão, contribuiu bastante para
fortalecer a autoridade do bispo de Roma. Defendeu as reivindicações petrinas (Mt:16:18) sem entretanto
colocar o papa sobre os demais bispos.
Estevão (253-257). Procurou forçar as demais igrejas a seguir o costume romano quanto ao cálculo da
data da páscoa.
Um outro elemento que contribuiu para fortalecer a posição de Roma neste período foi a crescente
prática das igrejas rurais ou de pequenas cidades serem relacionadas a alguma igreja em cidade grande ou
incorporadas num sistema diocesano. Esta prática começou no II século como resultado do sistema missionário
das igrejas mães.

2. De Constantino a Gregório Magno


A oficialização da Igreja trouxe em seu bojo rápido desenvolvimento hierárquico. Constantino se
considerava bispo e até bispo dos bispos em coisas formais e até doutrinárias. Sem sua permissão não se pode
reunir um sínodo.
Roma surge como árbitro entre as igrejas. No conflito entre os arianos e Atanásio, este contribuiu para
fortalecer Júlio por ter recorrido ao bispo de Roma, pedindo que convocasse um concílio. Esta e outras questões
entre as igrejas do leste e da África foram exploradas pelos papas para fortalecer suas próprias posições. Assim
questões religiosas seriam resolvidas pelo "sumo-pontífice" de religião e não pelos magistrados civis.

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Siricius (354-398). Conseguiu que um concílio realizado em Roma decretasse que nenhum bispo deve
ser consagrado sem o conhecimento e consentimento do bispo de Roma. Mesmo que seja um decreto falso, é
muito antigo e exerceu grande influência.
Inocêncio I (402-417). Demonstrou grande ousadia em explorar as reivindicações de Roma, exigindo
submissão universal a sua autoridade. Insistia que era a obrigação de todas as igrejas ocidentais se conformarem
aos costumes de Roma.
Celestino (422-432). Durante o exercício do seu papado foi resolvido a mui agitada questão do direito
de apelar a Roma decisões nas províncias. Celestino manipulou as questões de uma maneira que sempre saía
ganhando o prestígio de Roma, até o ponto de dispensar os cânones de um concílio geral.
Leão I (440)-461). Homem humilde, insistia que era sucessor de Pedro e que não se pode infringir a
autoridade deste. Conseguiu do jovem e fraco imperador Valentino III um edito em que este reconhece a
primazia da sé de Pedro e insiste que ninguém pode agir sem a permissão desta sé.
Gregório I (589-604). Possivelmente o maior papa deste período. filho de um senador, adotou o
costume monástico. Pretendia ser missionário aos ingleses quando foi consagrado papa aos 49 anos de idade.
Reclamou que Máximo foi eleito patriarca de Constantinopla no lugar de seu candidato e suspendeu todos os
bispos que o consagraram sob pena de anátema de Deus e do apóstolo Pedro. Repreendeu o patriarca de
Constantinopla por ter assumido o título de bispo ecumênico.

→ A coroação de Carlos Magno. Abriu a história política e eclesiástica da Europa um novo período,
no qual os dois poderes o civil e o papal aparecem intimamente ligados, em busca de ideal comum de poderio
e domínio.
Leão III (795-816). O período começa com Leão III assentado na cadeira pontificial. Foi ele quem
colocou Carlos Magno como imperador no ano 800.
Estevão IV (816-817). Este papa coroou o Rei Luiz o Pio, em Roma ato que elevou ainda mais a
posiçao do papa.
Gregório IV (827-844). Foi nos dias desse papa que apareceram falsos documentos a favor da
prerrogativa papal. Gregório defendeu Roma contra os sarracenos.
Nicolau I (858-867). Ascendeu a cadeira papal num momento de agitação e desordens, aproveitando-
se dos documentos falsos a favor da absoluta soberania e irresponsabilidade do papado, procurou firmar os
direitos de supremacia do papa e de sua jurisdição suprema.
Adrião II (867-872). Trabalhou principalmente à sombra a influencia atingida pelo seu antecessor.
João VIII (872-882). O maior problema durante o papado de João VIII foi a ameaça sarracena,
forçando-o a pedir ao novo imperador Carlos a sua proteção, mas Carlos e o papa aceitou o tratado humilhante
com os sarracenos.
O período de 882 a 903 caracteriza-se pela torpe degradação do poder papal. O poder papal
enfraqueceu-se notadamente. As eleições pontifícias feitas nesse período são memoráveis pela torpeza que as
acompanhou. O papa Formoso subiu ao poder em 891 e, dois anos depois de sanguinolento pontificado,
morreu, provavelmente envenenado.
Estevão VI, foi aprisionado e morto. E depois foi eleito o Papa Marino, cujo pontificado durou apenas
meses. João X, feito papa, procurou abrogar os atos de Estevão, e de fato abrogou muitos deles. Leão V, depois
de um breve pontificado, foi morto por seu próprio capelão seu sucessor, Mas ao assassino coube o mesmo fim
trágico, decorrido apenas oito meses.
No período de 903 a 963 Com Sergio III, começa a influência perniciosa de uma aventureira de alta
linhagem sobre o governo papal. De 936 a 956 o papado esteve sob inf1uência de Alberico que nomeou quatro
papas. Um filho do mesmo, sob o nome de João XIII, assumiu o ofício papal sendo o seu pontificado havido
como um dos mais imorais e licenciosos. Este papa morreu assassinado,
Otão, O Grande, fez sentir a sua interferência no papado em 983, com a convocação de um sínodo para
depor o imoral João XIII e substituí-lo por Leão VIII. Durante este período, até 1073, foram nomeados vário
papas e os imperadores ficaram no direito de nomear e controlá-los para evitar a dissolução completa do clero.
Hildebrando (1073). Foi inquestionavelmente o maior estadista eclesiástico da Idade Media. Seu
objetivo foi tornar um fato o domínio universal e absoluto do papado, e sua política subordinou-se
completamente a este propósito. Este papa tomou o nome de Gregório VII.

*Concílio de roma em 1059

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1- A nomeação do papa pelos bispos cardeais sancionadas pelo clero cardeal e depois aprovada pelo clero
inferior e os leigos.
2- Nenhum oficial da igreja, sob pretexto algum, pode aceitar benefício algum de qualquer leigo ou ser
chamado a contar ou dar conta a jurisdição.
3- Nenhum cristão pode, assistir a missa rezada por padre de quem se sabia ter concubina, apesar da renhida
oposição, Hildebrando executou a risco esses decretos. No entanto a vitória de Hildebrando, nunca foi completa
e permanente.
Inocêncio III (1198-1216), aproveitou as prerrogativas papais firmando umas e alargando outras. Foi
durante seu papado que o poder papal, que evoluía gradativamente através dos séculos chegou ao auge. Ele foi
o maior papa do século.

DECLÍNIO DO PODER PAPAL


Do século treze em diante começa o suave declínio do poder papal para o que concorreram fatos e
circunstâncias históricas diferentes.
1- Com o século XIII desapareceu completamente o gosto pelas cruzadas.
2- A corrupção constante na corte de Roma, o favoritismo e o mercantilismo que presidiam as decisões do
Papa e da Curia, igualmente estimulava a dissidência.
3- Á imoralidade dominava o clero.
4- A cadeira papal era objeto de ambição mais desenfreada.
5- A influência adquirida pelos franceses na Itália e Sicília após queda dos imperadores germânicos foi
sobremodo prejudicial ao papado.
Bonifácio VII (1294-l303), subiu a cadeira pontifica no meio destas condições tão favoráveis ao
papado, mas sem se adaptar a elas conservou aquele espírito de arrogância e mandonismo, muito característico
de seus antecessores.
Em 1305, foi eleito um francês, Clemente V, como papa. Este não foi a Roma, mas estabeleceu sua
corte Papal em Avignon e tornou se subserviente de Felipe rei da França. Aqui, ele e seus sucessores todos
franceses serviram durante setenta anos. Tão notório se tornaram as condições que os historiadores católicos
estigmatizaram o período de cativeiro babilônico do papado.
Em virtude da presença da corte papal de Roma em Avignon, na França, a Europa conseguiu muitas
inimizades. O catolicismo dividiu-se, ficando uma parte com a França e outra com a Itália. Aparecem então
dois papas um lançando maldições sobre o outro e cada qual julgando-se legitimo chefe da cristandade.
Em 1408, houve uma conferência em Livorno, entre representantes dos dois papas e um ano depois
reunia-se um concílio geral em Pisa. Discutida largamente a questão, ambos os papas foram declarados
heréticos e excomungados. O concílio elegeu então a Papa, o cardeal de Milão que tomou o nome de Alexandre
V.
A questão não ficou resolvida, pois, três papas levantarar-se disputando a cadeira pontificia, cada um
formando em torno de si um considerado número de admiradores.
O pontificado de Nicolau V (l448-1455) foi notável, tendo sido construído nesse tempo o Vaticano e a
Basílica de São Pedro, considerados como duas magníficas obras de arte. Talvez nesta época tenha-se resolvido
o problema dos três papas.
Inocêncio VIII (l484-l492). para melhorar a fortuna de seus filhos ilegítimos, pelejou contra Nápoles e
recebia tributo anual de Sultão, por manter seu irmão e rival na prisão em vez de envia-lo como cabeça de um
exercito contra os inimigos da cristandade.
Isto se deu numa época de ignorância, senão no período do renascimento literário e quando a Europa
tinha entrado numa era de invenções e descobrimentos destinados a transformar a civilização. O estado de
desmoralização em que a Igreja Romana se achava na véspera da reforma era um fato geralmente reconhecido.

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Aula 09 - O DESENVOLVIMENTO DA VIDA MONÁSTICA

INTRODUÇÃO6
Como definição inicial podemos utilizar a conceito da palavra monasticismo (do grego monachos,
uma pessoa solitária) é a prática da abdicação dos objetivos comuns dos homens em prol da prática
religiosa. Os praticantes do monasticismo são classificados como monges (no caso dos homens) e monjas
(no caso das mulheres). Ambos podem ser referidos como monásticos e, por norma, vivem na chamada
clausura monástica.
A clausura monástica é uma expressão que se refere à forma como os praticantes recebem o voto
e aceitam não saírem mais do seu mosteiro ou convento.
A clausura tem a finalidade de manter todos os seguidores em um estado de silêncio e oração e de
outros recursos ascéticos para a perfeita união com Deus. Apesar da separação do mundo, seus seguidores
nunca deixaram de se unir intimamente com a humanidade, oferecendo sempre suas orações em forma de
intercessão.
Vida monástica é fundada sobre a renúncia ao mundo, e assim apresenta-se como a renúncia de
uma natureza decaída em prol de sua superação, a fim de encontrar o que está acima desta natureza.
Em outras palavras, o monasticismo contém em si um elemento profundo de heroísmo exaltado,
próprio da vida real e genuína.
Ao mesmo tempo em que se encontra o mais distante deste mundo, mais o monasticismo é capaz
de ajudar este mundo.
Um monge conhece os segredos da alma humana, a atividade das paixões e da imagem da atividade
da graça de Deus, os mistérios e as dificuldades do caminho espiritual.
O monge é alguém que por seu esforço aprendeu muito. Ele é o melhor psicólogo. Ele entende os
fracos, os antagônicos, o coração partido, o oprimido e o traído, os famintos e os sedentos, os perseguidos
e os injustamente insultados.

CONTEXTO HISTÓRICO
O Monasticismo Cristão deve ser compreendido como uma resposta a secularização da igreja.
Porém não apenas aos motivos religiosos que se teve início o movimento. Boa parte de suas raízes são
políticas, sociais, econômicas e culturais. Todos esses motivos citados contribuíam naquela época para
pessoas se refugiarem nos desertos do Egito, levando uma vida de solidão. Nesta época, a crise no Império
Romano era terrível, o Egito era uma das províncias mais ricas do império, mas os altos impostos,
desvalorização da moeda refletiam em todo o caos em que a sociedade estava enfrentando Neste cenário
existia pessoas que fugiam para o deserto para não pagar dívidas, para evitar problemas judiciais ou ainda
como forma de protestar dos problemas sociais contra o governo.
Podemos ainda citar o fato do desenvolvimento da igreja cristã neste momento, porém a difusão
do cristianismo era parcial em apenas algumas cidades deixando um pouco de lado a área rural além de a
própria igreja ter uma visão paganista dos moradores do campo. Esses moradores acabaram se refugiando
também no deserto.
Contudo, o monasticismo foi um produto resultante de todos esses acontecimentos da época.
Muitos padres que buscavam fora da igreja um cristianismo puro saíram para o deserto e lá iniciaram os
trabalhos de divulgação do cristianismo
Por volta do ano de 305, tem se o registro do primeiro movimento, onde Santo Antônio, mais
conhecido como Santo Antão, ao qual podemos considerar como fundador da Vida Monástica une um
grupo de discípulos e decidem renunciar ao mundo e se agrupar entre eles. Esse agrupamento ainda não
contemplava uma visão perfeita de um mosteiro, mas no máximo uma Laura, um agrupamento de
anacoretas submetidos a uma ascese e a um modo de vida relativamente livre. Esta primeira comunidade
foi estabelecida as margens do rio Nilo não longe da fortaleza e Pispir, perto da atual aldeia de Deir-el-
Maimum.

6
https://teologiaaservicoevangelho.wordpress.com/2013/05/26/monasticismo/

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Por volta de 318, Pacômio, que vivera 12 anos como eremita, foi um dos fortes difusores do
movimento e fundou seu primeiro mosteiro. Situava-se perto da aldeia de Tabenesi, na margem ocidental
do Nilo, nas proximidades da antiga cidade de Denderah.
A obra monástica de São Pacômio foi estupenda, sete mil monges estavam sob seu controle direto
no Egito e na Síria. Todos eram tomados por uma profunda simplicidade, obediência e devoção.
A sua organização monástica ficou conhecida como tipo comunal ou coletivo de monasticismo
cenobítico. São Pacômio tinha o dom divino da administração. Sua obra serve de exemplo até hoje.

PRINCIPAIS PERSONAGENS
Dentre os principais personagens do movimento, podemos citar quatro figuras marcantes no
monasticismo, em ordem cronológica podemos citá-los: Santo Antônio ou Santo Antão, São Pacômio, São
Bento, São Basílio.
Santo Antônio ou Santo Antão (251 – 356) - Santo Antônio, o qual nasceu em Qeman, ao sul de
Mênfis no ano de 251, numa família cristã abastada. Aos vinte anos, órfão, abre mão de sua herança e
dedica-se a prática do asceticismo. Sua vida e obra foram divulgadas por Atanásio, aumentando a
influência desses padres no Oriente e no Ocidente, sendo comuns peregrinações no deserto para pedir-lhes
conselhos, orações e benção. Morreu com 105 anos de idade.
São Pacômio (290 – 364) - Pacômio nasceu na Alta Tebaida, aldeia Esne, em 292. De família
pagã, foi recrutado com aproximadamente vinte anos para servir ao exército imperial, onde teve contato
com cristãos, favorecendo sua conversão. Tornou-se um anacoreta tendo como guia Palamón. Depois de
sete anos, conta-nos Paládio que Pacômio ao visitar o deserto de Tabenese um anjo lhe teria entregado as
regras para o mosteiro, assim como o lugar do estabelecimento do mesmo. Apesar do misticismo que
envolve a fundação do primeiro mosteiro pacomiano e formulação das regras, fica evidente que Pacômio,
pela sua experiência, percebeu que o individualismo existente e o número cada vez mais elevado de
monges tornava o anacoretismo ineficaz para suprir as necessidades de todos, tanto espiritual como
materialmente.
São Bento de Núrcia (480 – 547 ) - São Bento nasceu em Núrcia, em 480. Quatro anos antes do
seu nascimento foi assassinado o último Imperador romano; a sobrevivência da cultura romana só foi
possível através do trabalho incansável, no campo religioso e cultural, dos monges.
Não há dúvida de que São Bento foi uma grande figura de monge da antiguidade. A vida monástica
ocidental teve seu início com ele. Foi abade e declarado padroeiro principal da Europa, em 1964, pelo
Papa Paulo VI, reconhecendo, assim, a grande colaboração do santo na civilização europeia.
A regra monástica que São Bento escreveu se resume em três palavras: “Ora et labora”; “ora e
trabalha”, que quer dizer que os seus monges deviam levar vida ativa e contemplativa.
São Basílio Magno (330-379) - Basílio de Cesareia, também chamado de São Basílio Magno ou
Basílio, o Grande oi o bispo de Cesareia Mazaca, na Capadócia (atualmente a cidade de Kayseri, na
Turquia). Ele foi um dos mais influentes teólogos a apoiarem o Credo de Niceia e um adversário das
heresias que surgiram nos primeiros anos do cristianismo como religião oficial do Império Romano
Sua habilidade em balancear suas convicções teológicas com suas conexões políticas fez de Basílio
um poderoso advogado da posição nicena.
Ficou conhecido por seu cuidado com os pobres e necessitados. Ele estabeleceu padrões para a
vida monástica com foco na comunidade, na oração e no trabalho manual. Juntamente com São Pacômio,
ele é lembrando como pai do monasticismo Oriental.

MONASTICISMO OCIDENTAL
O Monasticismo ocidental começou sob a forma eremítica e sob a inspiração de Santo Antão. São
Bento de Nurcia tornou-se o patriarca dos monges do ocidente. E criou a base de todo o Monasticismo
Ocidental. Ela estava composta em 73 artigos ou capítulos e a regra cheia de instruções práticas. Enquanto
os orientais se alimentavam mal, bento pregava refeições diárias contendo dois pratos de frutas ou legumes
e vinho. O sono era fixado em 8 horas diárias e cada monge tem sua coberta e seu travesseiro. Dentro da
regra, existem dois pontos onde a cobrança e incessante: o monge deveria permanecer toda a sua vida no
mosteiro em que o monge fez o seu voto ou o seu abade envie-o a outro mosteiro, E a obediência deve ser

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total ao seu abade. O verdadeiro monge, segundo a regra de São Bento, deve ser: “Não soberbo, não
violento, não comilão, não dorminhoco, não preguiçoso, não murmurador, não detrator… mas casto,
manso, zeloso, humilde e obediente”.
No entanto, a principal atividade dos monges beneditinos é a oração.
São prescritas horas de oração individual e de culto comum. Salmo 119.164 (Sete vezes no dia eu
te louvo) e Salmo 119.62: (Levanto-me à meia-noite para te dar graças).
Oito cultos diários: sete durante o dia e um à meia-noite. O culto da «meia-noite» era celebrado de
madrugada, do que se derivou para ele o nome Vigília ou Matina. A ele seguiam-se os demais: Laudes,
Prima, Tertia, Sexta, Nona, Véspera e Completas. Nessas horas de culto aconteciam a recitação dos salmos
e a leitura de partes da Escritura.
No espaço de uma semana eram recitados todos os Salmos. As leituras bíblicas seguiam o ano
litúrgico. Desse costume brotou um profundo conhecimento bíblico nos conventos. Nos conventos de
inspiração beneditina não se conhece a «era das trevas», mas uma profunda devoção bíblica. Os mosteiros
beneditinos passaram a serem, ainda, centros de estudo, nos quais se copiavam e preservavam manuscritos.
Ponto de partida para a atividade copista foi a própria vida de culto da ordem. Os textos bíblicos que eram
cantados e lidos tinham que ser copiado

MONASTICISMO ORIENTAL
Também conhecido por Monasticismo Bizantino, Cada monastério tinha suas próprias regras e sua
constituição. Geralmente elaborada dentro de sua fundação ao qual refletia as intenções do seu fundador.
Sexo não era segregado e nem se definia a autoridade superior. São Basílio no século V sugeriu as reformas
e a fim de organizar a vida monástica. Segundo suas ideias, os monges deveriam viver em comunidades
onde os bens eram comuns e obedeceria a autoridade de um superior eleito todos deveriam trabalhar orar
e realizar trabalhos sociais Os monges deveriam abrir mão de todos os seus bens antes de ingressar no
monastério, onde teriam uma vida absolutamente comunitária. Qualquer pessoa poderia tornar-se monge,
ou uma monja, em qualquer idade, a menos que se tratasse de um escravo foragido ou de um funcionário
governamental que ainda não tivesse completado seu tempo de serviço. Pessoas casadas precisariam obter
o consentimento do cônjuge. Em tais casos, era comum que ambos fizessem seus votos simultaneamente.
Ele, ou ela, teria que passar todos os seus bens às mãos dos legítimos herdeiros antes de efetuar os votos
definitivos. O noviciado tinha a duração de três anos, após os quais se faziam os votos finais de castidade,
pobreza e obediência.
O abade, chamado de higumene – líder – aou archimandrite – chefe do rebanho – era eleito por
voto de maioria entre os monges. Mas sua eleição tinha que se confirmada pelo bispo local. Quando da
fundação de um novo monastério, o bispo inspecionava e abençoava o local escolhido e aprovava os títulos
de propriedade.

MONASTICISMO E A TEOLOGIA
O Movimento veio em encontro com um momento onde a igreja estava passando uma
transformação. O caminho do cristianismo estava em direção ao cristianismo controlado pelo governo e
neste processo, o monasticismo contribuiu e muito para a manutenção principalmente do ensinamento,
preservação de documentos, evolução de mecanismos para produção de alimentos, deixando os mosteiros
autossuficiente. Com o processo do monasticismo, também surgiram um trabalho muito eficiente da
criação de documentos contendo dados históricos da época. Creio que dentro deste contexto, a importância
para a teologia atual e considerável, pois até hoje muitos dos ensinamentos monásticos são utilizados em
nosso cotidiano.

 Recomendamos que assistam o vídeo: História da Igreja - Primórdios do Monasticismo =


https://www.youtube.com/watch?v=KSahHNwdXgU

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Aula 10 - AS CRUZADAS

O MUNDO ÁRABE: MAOMÉ E AS CRUZADAS

1. Maomé – Mundo árabe.


Maomé, nascido em Meca (ano 570), teria tido um certo dia uma visão do arcanjo Gabriel que lhe teria
dito: “Maomé, tu és o profeta do Deus único, Alá”. A partir disso, Maomé começou a pregar o monoteísmo. Não
foi aceito em sua cidade (Meca) e no ano 622 fugiu para a cidade de Medina. É o que chamamos de Hégira.
No ano 630, Maomé voltou para acidade de Meca e começou a expandir seu império. Pregava cinco orações diárias,
jejum, dar esmola, visitar a cidade de Meca pelo menos uma vez na vida e se dedicar à expansão do islamismo.
Após a morte de Maomé, os Califas (sucessores de Maomé) expandiram seus territórios e conquistaram o
Oriente Médio, partes da África e Europa. A partir de 732 os seguidores de Maomé começam a ser derrotados e a
perder os territórios conquistados.

2. As Cruzadas.
As cruzadas foram expedições organizadas com objetivo de conter o avanço dos muçulmanos, de difundir
a fé cristã e libertar a Terra Santa (região de Jerusalém) das mãos dos muçulmanos. Muitas pessoas, sem terras e
sem proteção dos senhores feudais, ingressaram nas cruzadas. Assim, as cruzadas podem ser entendidas como uma
tentativa de solução para diferentes setores da sociedade: econômicas (objetivo de conseguir terras e riquezas no
Oriente), religiosas (objetivo de libertar Jerusalém dos muçulmanos).
Entre o final do século XI até o século XIII foram organizadas várias cruzadas rumo ao oriente, mas não
tiveram sucesso. Mesmo não tendo alcançado os objetivos propostos, as cruzadas produziram os seguintes efeitos:
reabertura do Mar Mediterrâneo, contatos com novas culturas, aumento de circulação de pessoas e riquezas na
Europa, renascimento comercial e urbano.

AS SETE CRUZADAS

- A primeira cruzada foi anunciada pelo papa Urbano II, era composta de 275.000 dos melhores guerreiros,
para combater os Sarracenos que tinham invadido Jerusalém. Após grande batalha Jerusalém foi reconquistada.
- A Segunda Cruzada foi convocada em virtude das invasões dos Sarracenos às províncias adjacentes ao
reino de Jerusalém. Sob a influência de Luiz VII da França e Conrado III da Alemanha, um grande exército foi
conduzido em socorro dos lugares reconhecido como santos. Enfrentara grandes dificuldades, mas obtiveram
vitória.
- A terceira Cruzada foi dirigida por Ricardo I " Coração de Leão", da Inglaterra e outros como; Frederico
Barbarroxa, Filipe Augusto. Barbarroxa morrerá afogado e Filipe desentendeu-se com Ricardo I e voltou para
França. A coragem de Ricardo I, sozinho, não foi suficiente para conduzir seu exército para Jerusalém. Contudo fez
um acordo para que os cristãos tivessem direito a visitar o santo sepulcro.
- A Quarta Cruzada foi um completo fracasso, porque causou grande prejuízo a igreja cristã. Os cruzados,
se afastaram do propósito de conquistar a Terra Santa e fizeram guerra a Constantinopla, conquistaram-na e
saquearam-na. Constantinopla ficou, posteriomente, a mercê dos inimigos.
- Na Quinta Cruzada, Frederico II, conduziu um exército até a Palestina e conseguiu um tratado no qual
as cidades de Jerusalém, Haifa, Belém e Nazaré, eram cedidas aos cristãos. Porém 16 anos depois a cidade de
Jerusalém foi tomada pelos maometanos.
- A Sexta Cruzada foi empreendida por São Luiz. Invadiu a Palestina através do Egito, mas não obteve
êxito, foi derrotado pelos maometanos e libertado por uma grande soma .
- A sétima Cruzada teve também a direção de São Luiz juntamente com Eduardo I. A rota escolhida foi
novamente a África, porém São Luiz morreu e Eduardo I voltou para ocupar o trono na Inglaterra e a cruzada teve
um fracasso total. Esta foi considerada a última Cruzada, porém houve outras de menor vulto.

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CRISTÃOS E MUÇULMANOS: UMA LONGA HISTÓRIA DE CONFLITOS 7

Introdução
Estamos acostumados a ouvir notícias sobre o relacionamento hostil entre palestinos e judeus em Israel.
Vez por outra, também tomamos conhecimento de violentos choques entre muçulmanos e adeptos do hinduísmo e
de outras religiões na Índia e em outros países asiáticos. Todavia, mais antigo e mais pleno de conseqüências para
o mundo tem sido o relacionamento tenso - por vezes abertamente belicoso - entre cristãos e muçulmanos há quase
1400 anos. Os atentados terroristas nos Estados Unidos e outros países, as ações militares norte-americanas no
Afeganistão e posteriormente no Iraque, e as iradas manifestações de muçulmanos em muitos países constituem
mais um capítulo dessa longa história de conflitos.

1. O advento do islamismo
O Islamismo ou Islã foi fundado pelo mercador árabe Maomé (Muhammad, c.570-632) no início do século
sétimo da era cristã. Essa que é a mais recente das grandes religiões mundiais sofreu influências tanto do judaísmo
quanto do cristianismo, mas ao mesmo tempo opôs-se firmemente a ambos, alegando ser a revelação final de Deus
(Alá). O livro sagrado do islamismo, o Corão (Qur`an), teria sido revelado pelo próprio Deus a Maomé, o último e
maior dos profetas. A idéia básica do islamismo está contida no seu nome - islã significa "submissão" plena à
vontade de Alá e "muçulmano" é aquele que se submete. Os preceitos centrais dessa religião incluem a recitação
diária de uma confissão ("Não existe Deus senão Alá e Maomé é o seu profeta"), bem como a prática da caridade e
do jejum, sendo este último especialmente importante durante o dia no mês sagrado de Ramadã. O culto é regulado
de maneira estrita. Os fiéis devem orar cinco vezes ao dia, de preferência em uma mesquita ou então sobre um
tapete, sempre voltados para Meca, a cidade sagrada do islã, na Arábia Saudita. Nas sextas-feiras, realizam-se
cerimônias especiais. A peregrinação a Meca ao menos uma vez na vida também é uma prática altamente valorizada.
Desde o início o islamismo foi uma religião aguerrida e militante, marcada por intenso fervor missionário.
Um conceito importante é o de jihad, ou seja, o esforço em prol da expansão do islã por todo o mundo. Esse esforço
muitas vezes adquiriu a conotação de guerra santa, como aconteceu de maneira especial no primeiro século após a
morte de Maomé, em 632. Movidos por um profundo zelo pela nova fé, os exércitos muçulmanos conquistaram
sucessivamente a península da Arábia, a Síria, a Palestina, o Império Persa, o Egito e todo o norte da África. Nesse
processo, o cristianismo foi enfraquecido ou aniquilado em muitas regiões nas quais havia sido extremamente
próspero nos primeiros séculos. Lugares como Antioquia, Jerusalém, Alexandria e Cartago, onde viveram os Pais
da Igreja Orígenes, Cipriano, Tertuliano e Agostinho, foram permanentemente perdidos pelos cristãos. Em 674, os
muçulmanos lançaram os seus primeiros ataques contra Constantinopla, a grande capital cristã do Império
Bizantino.
No ano 711, os mouros atravessaram o estreito de Gibraltar sob o comando de Tarik (daí Gibraltar, isto é,
"a rocha de Tarik") e invadiram a Península Ibérica, ocupando a maior parte do território espanhol. Em seguida,
atravessaram os Pirineus e penetraram na França, mas foram finalmente derrotados por um exército cristão
comandado por Carlos Martelo, o avô de Carlos Magno, na batalha de Tours, em Poitiers, no ano 732. É verdade
que, tanto no Oriente Médio e no norte da África quanto na Península Ibérica, os sarracenos foram relativamente
tolerantes com os cristãos e os judeus. Estes geralmente não eram forçados a se converterem ao islamismo, mas
tinham de pagar um imposto caso não o fizessem. Em todas essas regiões, muitos acabaram aderindo à nova religião.
Em diversas áreas que conquistaram, os seguidores de Maomé criaram grandes centros de civilização, como foi o
caso de Bagdá, do Cairo e da Espanha. O Califado de Córdova foi marcado por notável prosperidade, destacando-
se pela sua belíssima arquitetura, seus elaborados arabescos, seus avanços nas ciências, literatura e filosofia.

2. As Cruzadas
O avanço islâmico teve profundas repercussões para o cristianismo. Como vimos, a Igreja Oriental ou
Bizantina foi seriamente enfraquecida, tendo perdido algumas de suas regiões mais prósperas. A Igreja ocidental ou
romana voltou-se mais para o norte da Europa. Com isso, o cristianismo tornou-se mais europeu e menos asiático
ou africano. Também foi acelerado o processo de separação entre as Igrejas grega e latina. Outro problema para os
cristãos foi a mudança da sua postura com relação à guerra e ao uso da força. Desde o início, os cristãos tinham
aprendido de Cristo e dos apóstolos a prática do amor e da tolerância no relacionamento com o próximo. Agora,
num mundo cada vez mais hostil à sua fé, eles acabaram abandonando muitos de seus antigos valores e passaram a
elaborar toda uma série de justificativas filosóficas e teológicas para legitimar a violência em certas situações. Esse
processo havia se iniciado com a aproximação entre a Igreja e o Estado a partir do imperador Constantino, no quarto
século, tendo se intensificado nos séculos seguintes. Num primeiro momento, legitimou-se o uso da força contra

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Alderi Souza de Matos, Mackenzie

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grupos cristãos dissidentes ou heréticos, como os arianos e os donatistas. Séculos mais tarde, os cristãos haveriam
de articular a sua própria versão de guerra santa, dirigindo-a principalmente contra os muçulmanos.
A maior, mais prolongada e mais sangrenta confrontação entre cristãos e islamitas foram as famosas
Cruzadas, que se estenderam por quase duzentos anos (1096-1291). Antes disso, a cristandade já havia começado a
lutar contra os muçulmanos na Espanha, no que ficou conhecido como a Reconquista, intensificada a partir de 1002
com a extinção do Califado de Córdova. Desenvolveu-se, assim, a partir da Península Ibérica, uma forma de
catolicismo agressivo e militante, que haveria de estender-se para outras partes do continente. As cruzadas foram
um fenômeno complexo cuja causa inicial foi a impossibilidade de acesso dos peregrinos cristãos aos lugares
sagrados do cristianismo na Palestina. Por vários séculos, os árabes haviam permitido, salvo em breves intervalos,
as peregrinações cristãs a Jerusalém, e estas haviam crescido continuamente. Todavia, a situação mudou quando os
turcos seljúcidas, a partir de 1071, conquistaram boa parte da Ásia Menor e em 1079 a cidade de Jerusalém, fazendo
cessar as peregrinações. Com isso surgiu na Europa um clamor pela libertação da Terra Santa das mãos dos "infiéis".
A primeira cruzada foi pregada pelo papa Urbano II, em Clermont, na França, em 1095, sob o lema "Deus
vult" (Deus o quer). Depois de uma horrível carnificina contra os habitantes muçulmanos, judeus e cristãos de
Jerusalém, os cruzados implantaram naquela cidade e região um reino cristão que não chegou a durar um século
(1099-1187). A quarta cruzada foi particularmente desastrosa em seus efeitos, porque se voltou contra a grande e
antiga cidade cristã de Constantinopla, que foi brutalmente saqueada em 1204. A oitava cruzada encerrou essa série
de campanhas militares que trouxe alguns benefícios, como o maior intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente e a
introdução de inventos e novas idéias na Europa, mas teve efeitos adversos ainda mais profundos, aumentando o
fosso entre as Igrejas latina e grega e gerando enorme ressentimento dos muçulmanos contra o Ocidente cristão,
ressentimento esse que persiste até os nossos dias.

3. A Reconquista
É verdade que alguns cristãos daquele período tiveram uma atitude mais construtiva em relação aos
islamitas, procurando ir ao seu encontro com o evangelho e não com a espada. Tal foi o caso de alguns dos primeiros
membros das novas ordens religiosas surgidas no início do século XIII, os franciscanos e os dominicanos. O mais
célebre missionário aos muçulmanos foi o franciscano Raimundo Lull (c.1232-1315), de Palma de Majorca, que fez
diversas viagens a Túnis e à Argélia. Todavia, o espírito predominante do período foi o de beligerância não só contra
os muçulmanos, mas mesmo contra grupos cristãos dissidentes, como foi o caso dos cátaros ou albigenses, no sul
da França, aniquilados por uma cruzada entre 1209 e 1229. Também data dessa época o estabelecimento da temida
Inquisição. Na Espanha, a Reconquista tomou ímpeto no século XIII e a partir de 1248 os mouros somente
controlaram o Reino de Granada. Nos séculos XII e XIII, nesse contexto de luta contra os mouros, houve o
surgimento de Portugal como um reino independente.
O Reino de Granada foi finalmente conquistado pelos reis católicos Fernando e Isabel em 1492, o mesmo
ano do descobrimento da América. Após um período inicial de tolerância, foi lançada contra os mouros uma
campanha de terror visando forçar a sua conversão e finalmente, em 1502, todos os muçulmanos acima de catorze
anos que não aceitaram o batismo foram expulsos, assim como havia acontecido com os judeus dez anos antes. Sob
a liderança de Tomás de Torquemada, a Inquisição espanhola, organizada em 1478, voltou-se de maneira especial
contra os mouriscos e os marranos (muçulmanos e judeus convertidos ao cristianismo) acusados de conversão
insincera.
Ao mesmo tempo em que o islamismo sofria essas pesadas perdas na Península Ibérica, obtinha estrondosos
sucessos no Oriente Médio e na Europa oriental. Um novo poder islâmico, os turcos otomanos vindos da Ásia
Central, depois de se estabelecerem firmemente na Ásia Menor, invadiram em 1354 a parte européia do Império
Bizantino, gradualmente estendendo o seu domínio sobre os Bálcãs, em regiões que estiveram há alguns anos nos
noticiários (Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Albânia). Em 1453, eles tomaram Constantinopla (hoje Istambul), selando
o fim do antigo Império Romano Oriental e impondo novas e pesadas perdas à Igreja Ortodoxa. Nos séculos XVI e
XVII, os exércitos turcos haveriam de cercar por duas vezes Viena, a capital da Áustria (1529 e 1683).

4. Os dois últimos séculos


Um período especialmente humilhante para os muçulmanos diante do Ocidente cristão foi o colonialismo
dos séculos XIX e XX, em que virtualmente todas as regiões islâmicas do Oriente Médio e do norte da África
ficaram sob o domínio de países europeus como a França, a Inglaterra, a Itália e a Espanha. Até o início do século
XIX, aquelas regiões tinham sido parte do vasto Império Otomano, com sua capital em Istambul. Com o
colonialismo chegaram os missionários, tanto católicos como protestantes, com suas igrejas, escolas e hospitais.
Após a Primeira Guerra Mundial, à medida que as novas nações árabes foram alcançando a sua independência,
houve o crescimento do sentimento nacionalista e a reafirmação dos valores islâmicos. Ao mesmo tempo, o
islamismo há muito havia ultrapassado os limites do mundo árabe, tendo alcançado, além dos persas e dos turcos,

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 41


muitos outros povos na África e na Ásia, chegando até a Indonésia, hoje a maior de todas as nações muçulmanas,
com mais de 100 milhões de habitantes. Em muitas dessas nações, árabes ou não, a presença de populações cristãs
tem produzido graves conflitos entre os dois grupos, como tem ocorrido muitas vezes na Indonésia. Um
acontecimento pouco divulgado foi o pavoroso genocídio promovido pelos turcos contra os armênios cristãos no
início do século XX.
Outro evento que acabou por gerar nova animosidade entre os países muçulmanos e o Ocidente cristão foi
a criação do Estado de Israel, em 1948, e a percepção de que o Ocidente, principalmente os Estados Unidos, apóia
incondicionalmente o Estado Judeu em sua luta contra os palestinos e outros povos árabes. Dois novos ingredientes
nessa luta foram o súbito enriquecimento de algumas nações árabes com a exploração do petróleo e o surgimento
do fundamentalismo militante entre os xiitas, uma antiga facção islâmica minoritária ao lado da maioria sunita. A
militância islâmica tem gerado várias revoluções e o surgimento de regimes islâmicos, como aconteceu há alguns
anos no Irã. Além do apoio dos Estados Unidos a Israel, os fundamentalistas se ressentem da presença de tropas
americanas na Arábia Saudita, o berço do islã, e da influência cultural do Ocidente nos seus respectivos países, vista
como danosa para a sua fé e seus valores tradicionais.
Neste início do século 21, o islamismo representa o maior desafio para o cristianismo, em diversos sentidos.
A invasão do Iraque e a enorme violência fratricida dela resultante têm sido muito negativas para a imagem do
cristianismo junto aos muçulmanos. Ao contrário do que foi propalado no início da ocupação, as ações do presidente
George W. Bush com o respaldo de muitos cristãos americanos não têm sido benéficas para a causa do evangelho
no mundo islâmico. A situação dos cristãos que vivem em países muçulmanos também se agravou muito nos últimos
anos. Como um dos "povos do livro" (expressão aplicada aos judeus e cristãos, visto serem mencionados no Corão),
os cristãos precisam reconhecer os muitos erros cometidos contra os muçulmanos ao longo da história e renovar a
sua determinação de contribuir para o bem-estar político, social e espiritual dos herdeiros de Maomé.

Assistir Vídeo → (382) A Idade Média | A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO | Episódio 3 - YouTube

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Aula 11 - A INQUISIÇÃO

Também chamada de Santo Ofício, INQUISIÇÃO era a designação dada a um tribunal eclesiástico, vigente
na Idade Média e começos dos tempos modernos. Esse Tribunal, instituído pela Igreja Católica Romana, tinha por
meta prioritária julgar e condenar os hereges. A palavra "herege" significa aquele que escolhe, que professa doutrina
contrária ao que foi definido pela Igreja como sendo matéria de fé. Então, todos os que se rebelavam contra a
autoridade papal ou faziam qualquer espécie de crítica à Igreja de Roma eram considerados hereges.
INQUISIÇÃO é o ato de INQUIRIR: indagar, investigar, pesquisar, perguntar, interrogar judicialmente. Os
hereges seriam os "irmãos separados", os "protestante", os "crentes", os "evangélicos" de hoje.
Em suma, a INQUISIÇÃO foi um tribunal eclesiástico criado com a finalidade de investigar e punir os
crimes contra a fé católica. Da Enciclopédia BARSA, vol 7, pags. 286-287 extraímos o seguinte: " Heresia, no
sentido geral é uma atitude, crença ou doutrina, nascida de uma escolha pessoal, em oposição a um sistema
comumente aceito e acatado. É uma opinião firmemente defendida contra uma doutrina estabelecida. A Igreja
Católica, no seu Direito Canônico, estabelece uma distinção entre heresia, apostasia e cisma. Assim diz este
documento:
"Depois de recebido o batismo, se alguém, conservando o nome de cristão, nega algumas das verdades que
se devem crer com fé divina e católica ou dela duvida, é HEREGE. Se afasta-se totalmente da fé cristã, é
APÓSTATA. Se recusa submeter-se ao Sumo Pontífice (o Papa) ou tratar com os membros da Igreja aos
quais está sujeito, é CISMÁTICO" (Direito Canônico 1.325, párag. 2). “

Então, por esse raciocínio e decreto de Roma, os milhões de crentes no mundo são hereges e cismáticos
porque negam muitas das "verdades" da fé católica, não se submetem ao Sumo Pontífice, e só reconhecem Jesus
Cristo como autoridade máxima da Igreja. De acordo com o que foi noticiado em janeiro/98 pelos jornais, a Igreja
Católica Romana resolveu abrir os arquivos do Santo Ofício ou Inquisição, colocando-os à disposição dos
pesquisadores. Nesses arquivos constam 4.500 obras sob fatos e julgamentos de quatro séculos da Igreja Católica,
conforme noticiado. A abertura desses processos é de muita valia para os pesquisadores, historiadores e interessados
em conhecer um pouco mais do passado negro da Igreja de Roma. Nem por isso a humanidade deixou de conhecer
as crueldades, as chacinas, o extermínio, as torturas que tiraram a vida de milhões de hereges. Os arquivos do
Vaticano vão mostrar, certamente, com mais detalhes, como foram conduzidos os processos sumários e quais os
métodos usados para obter confissões e retratações. Todavia, a guarda a sete chaves dessas informações não impediu
que o mundo tomasse conhecimento dos crimes cometidos pelos tribunais inquisitórios. A História não pode ser
apagada.

MASSACRES

* O Massacre De São Bartolomeu


O massacre de São Bartolomeu ou a Noite de São Bartolomeu ficou conhecido como "a mais horrível entre
as ações diabólicas de todos os séculos". Com a concordância do Papa Gregório XIII, o rei da França, Carlos IX,
eliminou em poucos dias milhares de huguenotes. A matança iniciou-se na noite de 24.08.1572, em Paris, e se
estendeu a todas as cidades onde se encontravam protestantes. Foram martirizados cerca de setenta mil nesse
massacre. "Quando a notícia do massacre chegou a Roma, a alegria do clero não teve limites. O cardeal de Lorena
recompensou o mensageiro com mil coroas; o canhão de Santo Ângelo reboou em alegre salva; os sinos dobraram
em todos os campanários; e o Papa Gregório XIII, acompanhado dos cardeais e outros dignitários eclesiásticos, foi,
em longa procissão, à igreja de S. Luís, onde o cardeal de Lorena cantou o Te Deum. Um sacerdote falou "daquele
dia tão cheio de felicidade e regozijo, em que o santíssimo padre recebeu a notícia e foi em aparato solene dar graças
a Deus e a S. Luís".
Veja o vídeo → https://www.youtube.com/watch?v=mF1AndPCyCk

* O Massacre Dos Albigenses


Albigenses eram os nascidos na cidade de Albi, sul da França. Em 1198, por iniciativa do Papa Inocêncio
III, foram instituídos "Os Inquisidores da Fé contra os Albigenses". Esses franceses foram considerados "hereges"
porque seus ensinos doutrinários não se alinhavam com os da Igreja de Roma. O extermínio começou no ano de
1209 e se estendeu por 20 anos, quando milhares de albigenses pereceram. Fala-se em mais de 20.000 mortos, entre
homens, mulheres e crianças.
Veja o vídeo → https://www.youtube.com/watch?v=msxfO35i09Y

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* O Massacre Da Espanha
Tomás de Torquemada (1420-1498), espanhol, padre dominicano, nomeado para cargo de grande-
inquisidor pelo Papa Sisto IV, dirigiu as operações do Tribunal do Santo Ofício durante 14 anos. "Celebrizou-se por
seu fanatismo religioso e crueldade". De mãos dadas com os reis católicos, promoveu a expulsão dos judeus da
Espanha por édito real de 31.03.1492, tendo estes o prazo reduzido de quatro meses para se retirarem do país sem
levar dinheiro, ouro ou prata. É acusado de haver condenado à fogueira 10.220 pessoas, e cerca de 100.000 foram
encarceradas, banidas ou perderam haveres e fazendas. Tudo em nome da fé católica e da honra de Jesus Cristo.

* O Massacre Dos Anabatistas


Grupo religioso iniciado na Inglaterra no século XVI, que defendia o batismo somente de pessoa adulta.
Por autorização do Papa Pio V (1566-1572), cem mil foram exterminados.

* O Massacre Em Portugal
Diante dos insistentes pedidos de D. João III, o Papa Paulo III introduziu, por bula de 1536, o Tribunal do
Santo Ofício em Portugal. As perseguições foram de tal ordem que o comércio e a indústria na Espanha e em
Portugal ficaram praticamente paralisados. "As execuções públicas eram conhecidas como autos-de-fé. No começo,
funcionaram tribunais da Inquisição nas diversas dioceses de Portugal, mas no século XVI ficaram apenas os de
Lisboa, Coimbra e Évora. Depois, somente o da capital do reino, presidido pelo inquisidor-geral. Até 1732, em
Portugal, o número de sentenciados atingiu 23.068, dos quais 1.554 condenados à morte. Na torre do Tombo, em
Lisboa, estão registrados mais de 36.000 processos". Daí porque os 4.500 processos constantes dos arquivos de
terror do Vaticano - Os Arquivos do Santo Ofício - recentemente liberados aos pesquisadores, não contam toda a
história da desumana Inquisição.

* A Inquisição No Brasil
A Inquisição se instalou no Brasil em três ocasiões: Em 09.06.1591, na Bahia, por três anos; em
Pernambuco, de 1593 a 1595; e novamente na Bahia, em 1618. Há notícia de que no século XVIII Inquisição atuou
no Brasil. Segundo o jornal "Mensageiro da Paz", número 1334, de maio/1998, "cento e trinta e nove" pessoas foram
queimadas vivas, no Brasil, entre os anos de 1721 e 1777. Todos os que confessavam não crer nos dogmas católicos
eram sentenciados. Praticamente a metade dos prisioneiros brasileiros cristãos-novos no século 18 era mulheres. Na
Paraíba, Guiomar Nunes foi condenada à morte na fogueira em um processo julgado em Lisboa. A Inquisição
interferiu profundamente na vida colonial brasileira durante mais de dois séculos. Um dos exemplos dessa
interferência era a perseguição aos descendentes de judeus. Os que estavam nessa condição podiam ser punidos
com a morte, confisco dos bens e na melhor das hipóteses ficavam impedidos de assumir cargos públicos".

Para finalizar, se tiver curiosidade e coragem (já aviso que é “pesado”, mas real), veja o vídeo
Métodos de torturas da Inquisição Católica = https://www.youtube.com/watch?v=z_Wfk7kSxyI

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Aula 12 - TEMPO DE PÂNICO 8 = O ano 1000

"Seria possível", pode alguém perguntar: "que as coisas se tornassem tão negras e tristes, que os espíritos
dos homens, repletos de preguiça e cegos pela superstição, se afundassem ainda mais em morbidez e miséria?"
Infelizmente era isso mais que possível. Ao aproximar-se o ano 1000 da igreja, juntou-se o terror. Pela superstição
do povo, apoderou-se de todos um tal pânico como de certo não se tinha visto até então. Não tinha, porventura, o
Senhor dito que depois de mil anos Satanás sairia da sua prisão, e andaria por toda parte enganando as nações nos
quatro cantos da terra? (Ap 20). E, em vista disto, muitos pensavam que o fim do mundo estava verdadeiramente
próximo.
Houve um ermitão de Turíngia chamado Bernhard, que, mal compreendendo estas palavras da Bíblia,
tomou-as para seu tema, e saiu no ano 960 a pregar a aproximação do julgamento. Havia alguma aparência da
verdade nesta doutrina, e a ilusão influiu no ânimo dos supersticiosos de todas as classes. Monges e ermitões
pregavam a doutrina e, muito antes do ano começar, soava este grito terrível por toda a Europa. O povo
encaminhava-se para a Palestina, deixando as suas terras e as suas casas, ou legando-as, como expiação dos seus
pecados, às igrejas ou aos mosteiros. Os nobres vendiam os seus domínios, e até os príncipes e os bispos iam em
peregrinação, preparando-se para o aparecimento do Cordeiro no monte Sião. Um eclipse do Sol e outros fenômenos
no céu contribuíram para aumentar o terror geral, e milhares de pessoas fugiram das cidades para se refugiar nas
covas e cavernas da terra.
Os terríveis vaticínios, que se hão de realizar no dia do julgamento, pareciam ter-se já cumprido; havia
"sinais no sol, e na lua e nas estrelas, e na terra aperto das nações em perplexidade, pelo bramido do mar e das
ondas, homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo" (Lc 2.25,26). Naquele
ano nem as casas dos ricos, nem as dos pobres foram reparadas, e as terras e vinhas ficaram incultas. Não se
recolheram searas, porque não se tinham feito sementeiras! Não se erigiam novas igrejas ou mosteiros, porque em
poucos meses esperavam não haver sequer seres humanos para freqüentá-los.
Por fim começou o último dia do terrível ano. Quando chegou a noite, poucos eram os que estavam em
condições de procurar as suas camas: os vestíbulos e pórticos das igrejas estavam apinhados de gente que esperavam
ansiosamente e com medo esse julgamento tremendo. Foi uma noite sem sono para toda a Europa. Mas despontou
o outro dia: o sol ergueu-se no firmamento como de costume e lançou o seu brilho sobre um mundo que não tinha
acabado mas que estava cheio de fome; não havia sinais sinistros no céu, nem temores na terra: tudo continuava
como dantes. De todos os corações saiu um suspiro de alívio. A multidão iludida voltou para as suas casas e todos
se entregaram às suas ocupações habituais. O ano do terror tinha passado e o século onze da Era Cristã havia
começado!

AS DATAS DE "FIM DO MUNDO" QUE NÃO SE CUMPRIRAM

Desde o início do 1º Milénio que se fazem previsões do "fim do Mundo" que não se cumpriram e se
arranjaram sempre novas datas pelos tempos até ao século actual.
Um dos primeiros personagens foi Santo Hilário que dizia que o mundo acabaria no ano 365 e S. Martin de
Tours anunciou o fim do mundo no ano 400.
Na passagem do ano 1000 se cometeram muitas loucuras porque as pessoas acreditavam que o mundo ia
acabar.
O Papa Inocêncio III chegou a anunciar a data de fim do mundo no ano 1284 e do mesmo modo se acreditava
que o mesmo estava sucedendo nos anos 1346 e seguintes quando a Peste Negra devastou a Europa, tendo perecido
75 milhões de pessoas em todo o mundo. Seria o prelúdio do fim da Humanidade e não do fim do mundo como se
dizia.
Em 1524 vários astrólogos profetizaram o fim do mundo devido a um dilúvio mundial e o mesmo já se
profetiza para o século actual.
Em 1669 os velhos crentes na Rússia acreditavam que o fim do mundo ocorreria nesse ano e 20.000 deles
se imolaram pelo fogo para se proteger do Anticristo.
Em 1736 o teólogo e matemático britânico William Whitson prevê um dilúvio como o de Noé para o dia 13
desse ano que não se realizou, e no ano 1792 os protestantes da United Society of Believers in Christ's Second
Appearing afirmavam que o mundo terminaria nessa altura...

8
HISTÓRIA DO Cristianismo, A. Knight & W. Anglin

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 45


Em 1843, William Miller acreditava que o fim do mundo ocorreria nesse ano ou o mais tardar até Abril do
ano seguinte e nada aconteceu.
A fundadora da Igreja Adventista do 7º Dia, Elen White, falava que o fim do mundo ocorreria entre 1850 e
1856 com a chegada de Jesus.
As Testemunhas de Jeová apontaram o ano de 1914 como o início do Armagedão que levaria ao fim do
mundo mas só acertariam no facto da 1ª Guerra Mundial ter começado nesse ano que durou até ao ano 1918. No
ano seguinte, o metereologista Albert Porta falou de uma conjunção de 6 planetas que iria gerar uma corrente
magnética que faria explodir o Sol, envolvendo a Terra. Tal profecia falhou para o dia 17 de Dezembro desse ano.
Em 1953, David Davidson, com base nos cálculos das pirâmides tinha previsto o fim do mundo nessa altura.
Um pastor de nome Mihran Ask tinha anunciado o fim do mundo em Abril de 1957.
Enfim, muitas outras datas foram sempre indicadas sucessivamente até hoje (1999, 2000, 2001, 2011)
falando do "fim do Mundo" sendo agora as profecias Maias que voltam a criar a crença de que tal acontecerá no dia
21 de Dezembro de 2012. Tal facto está provocando de novo o temor em muita gente que já não consegue viver de
forma tranquila e muitos até perguntam para a NASA se é verdade o que se diz, enquanto aquela Agência Espacial
norte-americana se limita apenas em desacreditar tais ideias dos novos profetas do século XXI que estão apostados
em gerar pânico e confusão.

9 MAIORES PANDEMIAS (ou epidemias) DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE9

1. Coronavírus = Vírus: SARS-COV-2


• Período do surto: março de 2020 a ......... (origem na China)
• Número de mortes: cerca de 5 milhões de pessoas (dezembro/2021)
2. Tuberculose = Bactéria: Bacilo de Koch
• Período do surto: 1850-1950
• Número de mortes: cerca de 1 bilhão de pessoas
3. Varíola = Vírus: Orthopoxvirus variolae
• Período do surto: 430 a.C. (primeiro surto na Grécia)
• Número de mortes: 300 milhões de pessoas aproximadamente
4. Gripe Espanhola = Vírus: Influenza
• Período do surto: 1918-1920 (surgiu no final da primeira guerra mundial)
• Número de mortes: entre 20 e 40 milhões de pessoas
5. Peste Negra = Bactéria: Yersinia pestis (também chamada de peste bubônica)
• Período do surto: 1347-1353 (origem no Oriente, na Mongólia)
• Número de mortes: 25 milhões de pessoas aproximadamente (⅓ da população da Europa)
6. Aids (HIV) = Vírus: HIV
• Surto da doença: 1980
• Número de mortes: 20 milhões de pessoas aproximadamente
7. Tifo = Bactéria: Rickettsia prowazekii
• Período do surto: 1918-1922
• Número de mortes: cerca de 3 milhões de pessoas
8. Cólera = Bactéria: Vibrião colérico
• Período do surto: 1817-1824
• Número de mortes: 30 mil pessoas aproximadamente
9. Gripe Suína (H1N1) = Vírus: Influenza tipo A
• Período do surto: 2009-2010 (começou no México)
• Número de mortes: cerca de 20 mil pessoas

9
9 maiores pandemias da história da humanidade - Toda Matéria (todamateria.com.br) copiado em 04/2023

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 46


Aula 13 - INÍCIO DA REFORMA RELIGIOSA

Cinco grandes movimentos de reformas surgiram na igreja; contudo, o mundo não estava preparado para
recebê-los, de modo que foram reprimidos com sangrentas perseguições.
Os Albigenses - "Puritanos" surgiram em 1170 no sul da França. Eles rejeitavam a autoridade da tradição,
distribuíam o Novo Testamento e opunham-se às doutrinas romanas do purgatório, à adoração de imagens e às
pretensões sacerdotais. O papa Inocêncio III, promoveu uma grande perseguição contra eles, e a seita foi dissolvida
com o assassinato de quase toda a população da região.
Os Valdenses - Apareceram ao mesmo tempo, em 1170, com Pedro Valdo, que lia, explicava e distribuía
as Escrituras, as quais contrariavam os costumes e as doutrinas dos católicos romanos. Foram cruelmente
perseguidos e expulsos da França; apesar das perseguições, eles permaneceram firmes, e atualmente constituem
uma parte do pequeno grupo de protestante na Itália.
João Wyclif - Nascido em 1324, Recusava-se a reconhecer a autoridade do papa e opunha-se a ela. Era
contra a doutrina da transubstanciação, considerando o pão e o vinho meros símbolos. Traduziu o Novo testamento
para o Inglês e seus seguidores foram exterminados por Henrique V.
João Huss - Nascido em 1369 foi um dos leitores de Wyclif, pregou as mesmas doutrinas, e especialmente
proclamou a necessidade de se libertarem da autoridade papal. Foi excomungado pelo papa, e então retirou para
algum esconderijo desconhecido. Ao fim de dois anos voltou a convite da igreja para participar de um concílio
católico-romana de Constança, sob a proteção de um salvo-conduto. Entretanto, o acordo foi violado sob o pretexto
de que "Não se deve ser fiel a hereges". Assim João Huss foi condenado e queimado.
Jerônimo Savonarola - Nascido em 1452 foi monge Dominicano, em Florença. A grande catedral enchia-
se de multidões ansiosas, não só de ouvi-lo, mas também para obedecer aos seus ensinos. Pregava contra os males
sociais, eclesiásticos e político de seu tempo. Foi preso, condenado e enforcado e seu corpo queimado na praça de
Florença em 1498.
A Queda de Constantinopla - A queda de Constantinopla, em 1453, foi assinalada como linha divisória
entre os tempos medievais e os tempos modernos. Província após província do grande império foi tomada, até ficar
somente a cidade de Constantinopla, que finalmente, em 1453, foi tomada pelos turcos sob as ordens de Maomé II.
O templo foi transformado em mesquita. Constantinopla ( Istambul ) tornou-se a capital do Império Turco e assim
terminou também o período da Igreja Medieval.

O CONTEXTO ANTERIOR DA REFORMA

Mesmo que seja costume começar os livros da Reforma tratando sobre a Alemanha e a experiência e a
teologia de Lutero, o fato é que o pano de fundo político e eclesiástico da época pode ser melhor entendido tomando
outros pontos de partida. O que aqui temos escolhido, que poderá parecer estranho, tem contudo certas vantagens.
A primeira delas e que mostra a continuidade entre os desejos reformadores com os pré reformadores, os concílios
e os acontecimentos do século XVI. Lutero não apareceu no meio de um vazio, mas foi o resultado dos sonhos
frustrados de gerações anteriores. E seu protesto tomou a direção que é de todos conhecida, devido em parte às
condições políticas que se relacionavam estreitamente com a hegemonia espanhola.
A segunda vantagem do nosso ponto de partida e que nos ajuda a traçar o marco político dentro do qual
tiveram 1ugar acontecimentos que freqüentemente se descrevem num plano puramente teológico. Catarina de
Aragão, a primeira esposa de que Henrique VIII da Inglaterra repudiou, era filha de Isabel. Carlos V, o imperador
a quem Lutero enfrentou em Worms, era neto da grande rainha espanhola, e portanto sobrinho de Catarina. Felipe
II, o filho de Carlos V e bisneto de Isabel, se casou com sua prima em segundo grau, Maria Tudor, rainha da
Inglaterra e neta de Isabel. Tudo isso, apresentado tão rapidamente pode parecer complicado, mas temos entretanto,
mostrar logo de início, importância de Isabel e sua descendência dentro do processo político e religioso do século
XVI.
Por último, a partir de nossa perspectiva espanhola, este ponto de partida nos ajuda a corrigir várias falsas
impressões que possamos ter recebido de uma história escrita principalmente sob uma perspectiva alemã ou anglo-
saxônica. Durante a época da Reforma, a Espanha era um centro de atividade intelectual e reformadora. Embora
seja certo que a Inquisição foi frequentemente uma força opressora, não é menos certo que em muitos outros países,
tanto católicos como protestantes, havia outras forças na mesma índole. Ademais, muito antes do protesto de Lutero,
os desejos reformadores se haviam instalado em boa parte da Espanha; precisamente graças a obra de Isabel e seus
colaboradores. A Reforma católica, que muitas vezes recebe o nome de Contra-reforma é anterior a protestante, se
não nos esquecermos do que estava acontecendo na Espanha nos tempos de Isabel, e nos primeiros anos de reinado
de Carlos V.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 47


Para à história escrita a partir de uma perspectiva alemã ou anglo-saxônica, a conquista da América pelos
povos ibéricos tem pouca importância, e aparece como um apêndice aos acontecimentos supostamente mais
importantes que estavam ocorrendo na Alemanha, Suiça, Inglaterra e Escócia. Porém o fato é que essa conquista
foi de tão grande importância para a história do cristianismo como foi a Reforma Protestante. E ambos os
acontecimentos tiveram lugar ao mesmo tempo10.
Os concílios reformistas foram uma teoria na qual propunham reformar a igreja em um concílio geral, que,
segundo a velha teoria, era suprema autoridade na Igreja. Perdidas as esperança no papado, os reformadores
reviveram essa teoria como um meio de alcançarem seus propósitos. Tentaram isso primeiramente no Concílio de
Pisa, num vão esforço para curar o Cisma.11

O CONTEXTO IMEDIATO
A Reforma religiosa não nasceu na cristandade, religiosamente enfraquecida, mas no mundo cuja as
exigências espirituais cresciam ao lado de uma total incapacidade da igreja.
Para intendermos o movimento reformista, é necessário inicialmente considerarmos o clima de
inquietude religiosa do fim da idade média: todos se sentiam culpados, e o temor do castigo eterno traduzia-se nas
imagens terríveis dos pintores e dos poetas. A guerra da Duas Rosas e crescente ameaça turca acentuaram nos
indivíduos a culpa e a responsabilidade por tamanhas desgraças. Uma angustia, que caracteriza uma época de fé
profunda, dominou todas as camadas sociais. Nos fins do século XV, difundiu-se a crença de que ninguém entraria
no paraíso depois do Cisma do Ocidente. Pregadores e teólogos populares, preocupados com a gravidade do pecado,
viam os últimos anos da idade Média como o preâmbulo do apocalipse.12
Os movimentos reformistas ocorrem paralelamente ao renascimento, à passagem do feudalismo para o
capitalismo e ao fortalecimento das monarquias nacionais européias. São resultados da nova visão sobre o homem
dada pelo o humanismo, assim como do descompasso entre a consciência crítica dos fieis e desmoralização com a
opulência do auto clero e a formação deficiente do baixo clero13.

OS PRÉ REFORMADORES

JOÃO HUS (1372-1415). Antigo Reformador tcheco. Hus (também escrito Huss) nasceu na aldeia de
Husinec, no sul da Boêmia. Estudou na Universidade de Praga, e em 1398 juntou-se ao corpo docente da Faculdade
de Letras, como preletor. Além disso, fez os votos de sacerdote. Durante estes anos, passou pela conversão, embora
não sejam claros os pormenores. Sua escolha de uma vocação sacerdotal tinha sido motivada, em grande medida,
pelo desejo de prestígio, segurança financeira e convivência na sociedade acadêmica. Como resultado de sua
conversão, Hus adotou um estilo mais simples de vida e manifestou mais interesse por seu crescimento espiritual.
Hus foi nomeado reitor e pregador na capela de Belém, em Praga, o centro do movimento da Reforma
Tcheca, em 1402. Durante estes anos, muitas das idéias de João Wycliffe influenciaram Huss, especialmente aquelas
que diziam respeito à espiritualidade da igreja. Hus, no entanto, não era exclusivamente um produto da teologia de
Wycliffe, porque teólogos thecos anteriores, tais como Mateus de Janov, também deram forma ao desenvolvimento
teológico de Hus.
Por volta de 1407 Hus estava claramente identificado com os Reformadores. Sua ala evangélica ameaçava
não somente o equilíbrio teológico na Boêmia como também o status quo étnico, ao desafiar o poderio que os
alemães detinham na Igreja Católica Romana na Boêmia.
Em 1409, o papa Alexandre V autorizou o Arcebispo de Praga a erradicar a heresia na sua diocese. Quando
o arcebispo pediu que Hus deixasse de pregar, ele se recusou e foi excomungado em 1410. Quando Hus continuou
a atacar as políticas papais do Grande Cisma e a venda de indulgências, explodiram motins em Praga contra a
hierarquia eclesiástica. Sem apoio do rei, e com o papa ameaçando interditar Praga, Hus deixou a cidade em 1412
para morar no sul da Boêmia.
Em 1414, com a promessa de salvo-conduto, Hus viajou para o Concílio de Constança, onde foi preso e
julgado por heresia. Recusou-se a reconhecer que as acusações contra ele fossem verídicas, a não ser que fossem
comprovadas pelas Escrituras. Mesmo assim, foi condenado como culpado e queimado a estaca, em 6 de julho de
1415.
Os sermões de Hus atacavam os abusos dos clérigos, especialmente a imoralidade e a luxúria do clero. Sua

10
Justo L. González, A Era dos Reformadores, página 19 – 21.
11
Robert H. Nichols, História da Igreja Cristã, página 148 149.
12
Cláudio Vicentino, Gilberto T. Marone, História, página 74.
13
Nicolino Spina, Almanaque Abril 97, página 681.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 48


teologia era uma mistura de doutrinas evangélicas e Católico-Romanas tradicionais. Hus pregava contra a veneração
do papa, ressaltando uma forte fé cristocêntrica que enfatizava a responsabilidade do indivíduo diante de Deus.
Acreditava que somente Cristo podia perdoar os pecados e esperava um dia de juízo vindouro. Apesar disso,
continuava sustentando a doutrina Católico-romana do purgatório. Hus acreditava que tanto o vinho quanto o pão
deviam ser administrados na ceia do Senhor, e sustentava um conceito dos elementos semelhante à doutrina da
consubstanciação. Enfatizava a pregação da Palavra de Deus para a realização de uma transformação moral e
espiritual nas vidas dos ouvintes. Para ajudá-los a 1er as Escrituras, também revisou uma tradução tcheca da Bíblia.
Como teólogo, Hus ajudou a restaurar uma visão bíblica da igreja, uma visão que se concentrava nos ensinos
de Cristo e no Seu exemplo de pureza. Além disso, sua ênfase na pregação e no sacerdócio universal dos crentes
vieram a ser marcas distintivas da Reforma Protestante posterior. Incentivou, também, o cântico de hinos
congregacionais, sendo que ele mesmo escreveu muitos deles. Para os tchecos, Hus não foi apenas um líder
espiritual como também um ponto central de inspiração nacional nos séculos posteriores à sua morte14.

JOÃO WYCLIFFE (1330-1384)


Estudioso e teólogo inglês que freqüentemente e chamado “A Estrela d’Alva da Reforma”. Nascido no
Condado de Yorkshire, estudou na Universidade de Oxford, e recebeu o doutorado em teologia em 1372. Sustentado
por seus cargos eclesiásticos, passou a maior parte da sua vida ensinando em Oxford. Sendo um estudioso brilhante
que dominou a tradição escolástica dos fins da Idade Média, chegou ao conhecimento dos membros do governo. O
Duque de Lancaster John de Gaunt, filho de Eduardo III, contratou seus serviços em várias ocasiões. Gaunt foi o
governante de fato na Inglaterra desde a morte do pai. enquanto Ricardo II não tinha idade suficiente para reinar
(1377 a 1381). Wycliffe cumpriu deveres diplomáticos para a Coroa, e escrevia a favor do governo civil. Suas obras
negavam a validade de os clérigos possuírem terras e propriedades, bem como da jurisdição do papa nos assuntos
temporais. A doutrina do domínio, que expôs em On Dtvíne Dominíon (1375) e On Civil Dominion (1376) declarou
que todas as pessoas são inquilinos de Deus e que somente os justos, como mordomos de Deus devem ter autoridade
política, porque somente eles têm o direito moral de governar e ter posses. Os ímpios, por outro lado mesmo sendo
nobres, reis ou papas, não têm semelhantes direitos a desperto do fato de que às vezes Deus lhes permita deter por
algum tempo poderes ou propriedades. Wycliffe acreditava que os clérigos que viviam em pecado mortal perdiam
seus direitos como mordomos de Deus, e deviam ser privados das suas riquezas e autoridade.
Essas opiniões levaram-no à condenação por uma serie de bulas as papais emitidas em 1377, que indicavam
que a Universidade de Oxford devia silenciar tais ensinos. A oposição forçou Wycliffe a posições mais extremadas,
e ele deixou o ataque contra as riquezas e os poderes temporais da igreja para criticar os dogmas centrais do
catolicismo medieval. Rejeitou todas as cerimónias e organizações não mencionadas especificamente na Bíblia,
condenou a transubstanciação, renunciou o poder sacramental do sacerdócio e negou a eficácia da missa. Além
disso, desconsiderou toda a estrutura dos rituais cerimônias, e ritos que permeavam a igreja, baseado não somente
no fato de serem falsos como também por interferirem na adoração verdadeira de Deus. Chegou a concordar com
Agostinho no sentido de a igreja ser o corpo predestinado dos crentes verdadeiros e de a salvação provir da graça
divina e não dos esforços das pessoas para salvarem a si mesmas.
Em 1381, a Revolta dos Camponeses na Inglaterra forçou a igreja e a aristocracia a cooperarem entre si na
restauração de lei e da ordem. Embora Wycliffe não estivesse envolvido na rebelião, aqueles que se opunham a ele
alegavam que a revolta fora resultado dos seus ensinos. Aproveitando-se da situação, os líderes da igreja inglesa
forçaram os seus seguidores a saírem de Oxford. Wycliffe foi morar na sua paroquia em Lutterworth (1382), onde
morreu de derrame cerebral em 1384.
Os escritos de Wycliffe, alem dos seus trabalhos sobre os problemas da igreja e do Estado, incluem tratados
de lógica e metafísica e numerosos livros e sermões teológicos. Sua fama maior, no entanto, deve-se ao fato de ter
fomentado uma tradução da Vulgata para o inglês. Segundo a sua doutrina de domínio, os cristãos são diretamente
responsáveis diante de Deus. A fim de conhecerem e obedecerem à lei de Deus, portanto, é necessário lerem a
Bíblia. Para Wycliffe, as Sagradas eram o único padrão da fé e a única fonte da autoridade. Foi por isso que achava
tão importante torná-las disponíveis no vernáculo. Dedicou os últimos poucos messes da sua vida àquela tarefa e
deixou aos seus seguidores a complementação da Bíblia de Wycliffe.
Os seguidores de Wycliffe, conhecido como lolardos, consistiam em estudiosos da Universidade de Oxford,
pequenos proprietários e em muitos pobres das áreas rurais e urbana S. Baseavam na Bíblia a sua pregação, e
aconselhavam desobediência a clérigos injustos, atacavam o sacerdócio, afirmavam a idéia da igreja invisível e
condenavam o monasticismo e o ritualismo. Essa mensagem levou-os à perseguição, que, segundo acham alguns
estudiosos, foi eficaz na destruição do movimento ate o fim do século XV. Outros argumentam que sentimentos

14
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórica Teológica da Igreja Cristã, página 280 - 281.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 49


lolardos foram preservados em certos lugares e que levaram a um entusiasmo pela Reforma do século seguinte.
Se a influência de Wycliffe sobre o protestantismo na Inglaterra é difícil de ser definida, sendo um pouco
mais clara no pensamento da Europa continental. Suas idéias espalharam-se para a Boêmia através de estudantes
checos que freqüentaram a Universidade de Oxford. Em Praga, João Hus adotou os seus ensinos, e os hussitas os
mantiveram vivos durante muitos anos. Uma das primeiras propostas de Lutero foi que fosse feita justiça aos
hussitas que, segundo ele acreditava, tinham sido condenados erroneamente. Através da ligação com a Boêmia,
Wycliffe realmente foi um precursor da Reforma Protestante15.

15
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórica Teológica da Igreja Cristã, página 651 - 652.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 50


Aula 14 - OS REFORMADORES

ULRICO
MARTINHO LUTERO JOÃO CALVINO JOÃO KNOX
ZUÍNGLIO
DATAS 1483 – 1546 1484 – 1531 1509 – 1564 1514 - 1572
LOCAL DE
Eisleben, Alemanha Alta Toggenburg, Suíça Noyon, França Haddington, Escócia
NASCIMENTO
FORMAÇÃO Leipzing Viena, Basiléia Paris, Órleans St. Andrews
INGRESSO NO
1507 1506 1536
SACERDÓCIO
95 teses; Sobre o
papado romano; Apelo a
Nobreza germânica; Da O primeiro toque do
servidão babilônica da Da liberdade e da As institutas da religião clarim contra o
ESCRITOS igreja; A prisão da escolha de alimentos; cristã; monstruoso governo por
IMPORTANTES vontade; O catecismo Sessenta e sete Comentários sobre 49 mulheres; História da
ampliado; O catecismo conclusões. livros da Bíblia. reforma da religião no
resumido; Estudos sobre reino da Escócia.
Romanos; Estudo sobre
os Gálatas

Foi influenciado por Abraçou o protestantismo


Foi influenciado pelos
Erasmo; Entrou para o enquanto estudava em Foi influenciado por
irmãos da vida comum;
sacerdócio com uma Paris; Em 1533 foi Tomás Guilherme e
Em 1505 entrou para um
carreira respeitável; forçado a fugir de Paris; Jorge Wishart; Passou
mosteiro agostiniano; Em
Opôs – se a venda de Em 1536 foi persuadido um ano e meio como
1508 começou lecionar
mercenários feita pela por Farel a ajudar na escravo galé; Em 1549
na Universidade de
Suiça; reforma em Genebra; Foi foi para a Inglaterra e
Wittenberg; Em 1517
Em 1518 foi chamado forçado a sair de começou a pregar contra
afixou as 95 teses; Foi
FATOS para Zurique; Sua Genebra e estabeleceu – o catolicismo; Em 1553
excomungado em 1520;
NOTÁVEIS reforma foi muito além da se em Estranburgo, onde foi para Genebra,
Em 1521 foi convocado
de Lutero; se casou; Em 1541 influenciado por Calvino;
para a dieta de Worms;
Alguns dos seus retornou a genebra e Em 1558 publicou o
Em 1521 a 1534 traduziu
seguidores separaram – comandou a reforma ali; Primeiro toque de clarim,
a Bíblia para o alemão;
se para formar o grupo Refugiados protestantes assim que Elisabeth
Em 1525 opôs – se a
anabatista, o qual ele de todas as partes da subiu ao trono; Em 1559
guerra dos camponeses;
perseguiu; Foi morto na Europa iam a Genebra e retornou à Escócia e
Em 1525 casou com
batalha contra os levavam consigo idéias conduziu a Reforma ali.
Catarina Von Bora.
cantões católicos. de Calvino.

MARTINHO LUTERO (1483-1546).

Principal líder da Reforma alemã. O pai de Lutero pertencia a uma família de camponeses, mas teve êxito
na indústria de mineração, de maneira que teve condições para pagar uma excelente educação para seu filho. Lutero
começou seus estudos na Ratschule, em Mansfeld, e provavelmente freqüentou a Escola da Catedral em Magdeburg,
onde veio a ser influenciado pelos Irmãos da Vida Comum. Completou sua educação secundária na Goergenschule,
em Eisenach, antes de entrar para a Universidade de Erfurt, em 1501. Recebeu o grau de bacharel em 1502 e o de
mestre em 1505. Em consonância com os desejos do pai, começou a estudar Direito quando um encontro com a
morte, durante uma tempestade acompanhada por raios, em julho de 1505, levou-o a fazer o voto de tornar-se
monge.
Enquanto esteve no mosteiro, Lutero começou o estudo sério de Teologia, em Erfurt. Em 1508, foi enviado
a Wittenberg para fazer preleções sobre Filosofia Moral na recém-fundada Universidade de Wittenberg. EM 1509,
voltou a Erfurt, onde continuou seus estudos e deu preleções sobre Teologia. Seus professores em Erfurt seguiam a
teologia nominalista de William de Occam e seu discípulo, Gabriel BieI, que fazia pouco caso do papel da razão na
busca da verdade teológica, dando mais ênfase do que o escolasticismo clássico ao livre arbítrio e ao papel de seres
humanos iniciarem sua própria salvação. Em 1510-11, Lutero viajou para Roma numa missão para sua ordem.
Enquanto estava ali, ficou chocado com o mundanismo dos clérigos e desiludido pela indiferença religiosa deles.
Em 1511, foi enviado de volta a Wittemberg, onde completou seus estudos para o grau de doutor em Teologia, em
HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 51
outubro de 1512. No mesmo ano, recebeu uma nomeação permanente para a cátedra de ensinos bíblicos naquela
universidade.
Entre 1507-12, Lutero passou por intensas lutas espirituais, enquanto procurava merecer a sua própria
salvação através da observância cuidadosa da regra monástica, a confissão constante e a mortificação de si mesmo.
Provavelmente como resultado da influência da piedade popular e dos ensinos do nominalismo, Lutero considerava
Deus como um juiz irado que esperava que os pecadores obtivessem sua própria justiça, cada um por si.
Parcialmente devido a seu contato com o vigário geral de sua ordem, Johann Von Staupitz, e da sua leitura de
Agostinho, mas principalmente por meio do estudo das Escrituras, enquanto preparava suas preleções universitárias.
Lutero mudou paulatinamente o seu conceito de justificação. Sua experiência na torre, quando fez sua maior
descoberta teológica e chegou ao pleno reconhecimento da doutrina da justificação pela fé somente, em geral tem
sido datada antes de 1517. Estudos recentes, no entanto, têm sugerido que Lutero tinha razão quando declarou, perto
do fim da sua vida, que ela não ocorreu senão em fins de 1518. Esta interpretação sustenta que Lutero progrediu
gradualmente na sua compreensão da justificação, desde o conceito nominalista, que dava aos seres humanos um
papel na iniciação do processo à livre graça de Deus, mas que acreditava que, depois da conversão, os seres humanos
podiam cooperar. A doutrina luterana plenamente desenvolvida, que via a justificação como um ato forense em que
Deus declara que o pecador é justo por causa da expiação vicária de Jesus Cristo sem qualquer mérito humano, em
vez de ser um processo que durasse a vida inteira, não foi expressa claramente nos escritos de Lutero antes do seu
sermão Da Justiça Tríplice, publicado perto do fim de 1518.
A Reforma começou em outubro de 1517, quando Lutero protestou contra um grande abuso na venda de
indulgências, em suas Noventa e Cinco Teses. Estas foram traduzidas para o alemão, impressas, e circularam em
todas as partes da Alemanha, dando origem a uma tempestade de protestos contra a venda de indulgências. Quando
a venda das indulgências havia sido seriamente prejudicada, o papado procurou silenciar Lutero. Primeiramente ele
foi confrontado numa reunião da sua ordem, realizada em Heidelberg em 26 de abril de 1518, mas ele usou o debate
de Heidelberg para defender a sua teologia e fazer novos convertidos. Em agosto de 1518, Lutero foi intimado a ir
a Roma e defender-se contra acusações de heresia, embora ele nada tivesse ensinado de contrário a qualquer doutrina
medieval claramente definida. Por ser improvável que Lutero recebesse um julgamento imparcial em Roma, seu
príncipe, Frederico o Sábio, interveio, e pediu que o papado enviasse representantes para debater com Lutero na
Alemanha. Encontros com o Cardeal Cajetan, em outubro de 1518, e com Karl Von Miltitz, em janeiro de 1519,
não puderam obter de Lutero uma retratação, embora este continuasse a tratar com respeito o papa e seus
representantes.
Em julho de 1519, no debate de Leipzig, Lutero questionou a autoridade do papado, bem como a
infalibilidade dos concílios eclesiásticos, e insistiu na primazia das Escrituras. Isto levou seu oponente, Johann Eck,
a identificá-lo com o herege da Boémia do século XV, Jan Hus, num esforço para desacreditar Lutero. Depois do
debate, Lutero tornou-se bem mais franco e expressava suas crenças com convicção cada vez maior. Em 1520,
escreveu três panfletos de grande relevância. O primeiro, Oração à Nobreza Cristã da Nação Alemã, conclamou os
alemães a reformarem a nação e a sociedade, visto que o papado e os concílios eclesiásticos não tinham conseguido
fazê-lo, O segundo, O Cativeiro Babilônico da Igreja, colocou Lutero claramente nas fileiras dos heterodoxos,
porque atacou a totalidade do sistema sacramental da igreja medieval. Lutero afirmava que havia apenas dois
sacramentos, o batismo e a ceia do Senhor ou três, no máximo, sendo que o arrependimento possivelmente tivesse
qualidades de um terceiro — em vez de sete sacramentos. Ele também negou as doutrinas da transubstanciação e
da missa sacrificial. O terceiro panfleto, A Liberdade do Cristão, foi escrito para o papa. Era não-polêmico, e
ensinava claramente a doutrina da justificação pela fé somente.
Até mesmo antes da publicação destes panfletos, uma bula papal de excomunhão já tinha sido lavrada, para
entrar em vigor em janeiro de 1521. Em dezembro de 1520, Lutero demonstrou seu repúdio à autoridade papal,
queimando a bula. Embora tivesse sido condenado pela Igreja, Lutero ainda foi ouvido diante de uma dieta imperial
em Worms, em abril de 1521. Na Dieta de Worms, foi conclamado a retratar-se quanto aos seus ensinos, mas ficou
firme, desafiando, assim, a autoridade do imperador também, sendo que este o submeteu ao interdito imperial e
ordenou que todos os seus livros fossem queimados. Na sua volta de Worms, Lutero foi seqüestrado por amigos
que o levaram ao castelo de Wartburg, onde permaneceu escondido durante quase um ano. Enquanto estava em
Wartburg, escreveu uma série de panfletos atacando práticas católicas, e começou sua tradução da Bíblia para o
alemão. Em 1522, Lutero voltou para Wittemberg para tratar das desordens que tinham irrompido na sua ausência,
e permaneceu ali pelo resto da sua vida. Em 1525, casou-se com Catarina Von Borla, uma ex-freira, que lhe deu
seis filhos. Lutero tinha uma vida familiar extremamente feliz e rica, mas sua vida em geral foi prejudicada por
doenças freqüentes e controvérsias amargas.
Lutero quase sempre respondia a seus oponentes de modo polémico, usando linguagem extremamente
ríspida. Em 1525, quando os camponeses do sul da Alemanha se revoltaram, e rejeitaram seu apelo no sentido de
negociarem pacificamente as suas queixas, Lutero os atacou violentamente num panfleto chamado Contra a Horda

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 52


Assassina dos Camponeses. Uma controvérsia com o reformador suíço Ulrich Zuínglio no tocante à ceia do Senhor,
dividiu o movimento protestante, quando fracassou um esforço para resolver as diferenças numa reunião em
Marburg em 1529. Durante toda sua vida, Lutero manteve uma carga esmagadora de trabalhos, escrevendo,
ensinando, organizando a nova igreja e fornecendo a liderança geral para a Reforma alemã. Entre seus escritos
teológicos mais importantes estão os Artigos de Smalcald, publicados em 1538, que definiram claramente as
diferenças entre a teologia dele e a da Igreja Catálica Romana.
Lutero, no entanto, nunca se considerou o fundador de uma nova organização eclesiástica. Ele dedicou sua
vida à reformada Igreja e à restauração da doutrina paulina da justificação à posição central na teologia cristã. Em
1522, quando seus seguidores começaram pela primeira vez a usar seu nome para se identificarem, rogou-lhes que
não fizessem aquilo, e escreveu: ‘Vamos abolir todos os nomes de partidos, e chamar-nos cristãos, segundo o nome
dAquele cujos ensinos sustentamos... Mantenho, juntamente com a igreja universal, a única doutrina universal de
Cristo, que é o nosso único Mestre”. Morreu em Eisleben, em 18 de fevereiro de 1546, enquanto viajava a fim de
arbitrar uma disputa entre dois luteranos da nobreza. Foi sepultado na Igreja do Castelo, em Wittemberg16.

JOÃO CALVINO (1509-1564)

Pai da doutrina e da teologia reformadas e presbiterianas. Calvino nasceu em Noyon, Picardia. Seu pai era
um tabelião que servia o bispo de Noyon e, como resultado, Calvino, embora ainda criança, recebeu uma conezia
na catedral, a qual pagaria as despesas de sua educação. Embora tivesse começado o treinamento para o sacerdócio
na Universidade de Paris, seu pai, por causa de uma controvérsia com o bispo e os clérigos da catedral de Noyon,
resolveu que seu filho deveria tornar-se advogado, e o mandou para Orléans, onde estudou sob a orientação de
Pierre I’Etoile. Posteriormente, estudou em Bourges com o advogado humanista Andrea Alciati. Provavelmente
quando estava em Bourges se tornou protestante.
Com a morte do pai, Calvino voltou para Paris, onde se envolveu com os protestantes e, como resultado,
teve de ir embora e acabou passando algum tempo na Itália e em Basiléia, na Suíca. Nesta última cidade publicou a
primeira edição das Institutas da Religião Cristã (1536). Depois de andar pela França, resolveu ir para Strasbourg,
uma cidade protestante, mas, ao pernoitar em Genebra, no caminho para la, foi abordado por Guilherme Farel, que
tinha introduzido o movimento protestante ali. Depois de muita argumentação, Calvino foi persuadido a ficar ali
para prestar ajuda. Calvino e Fio 1 no en tanto, logo tiveram de enfrentar forte oposição e foram obrigados a sair da
cidade. Calvino foi para Strasbourg, onde permaneceu durante três anos (1538-41), ministrando a uma congregação
de refugiados protestantes franceses. Chamado de volta para Genebra em 1541, permaneceu ali durante o restante
da sua vida como líder da Igreja Reformada.
Enquanto Calvino foi o pastor da Église St. Pierre, tendo passado parte do seu tempo pregando, sua maior
influência veio dos seus escritos. Tanto seu conhecimento de latim como de francês eram bons e seu raciocínio era
lúcido. Escreveu comentários sobre vinte e três dos livros do AT e sobre todos do NT menos o Apocalipse. Além
disso, produziu um grande número de panfletos — devocionais, doutrinários e polêmicos. Perdei, acima de tudo,
suas Institutas passaram por cinco edições, expandindo-se de um volume pequeno com seis capítulos para uma
grande obra de setenta e nove capitules, em 1559. Além disso, Calvino traduziu para o francês as edições originais
em latim. Todas estas obras foram amplamente distribuídas e lidas em todas as partes da Europa
Não somente a influência de Calvino era muito divulgada nos seus próprios dias, através de seus escritos,
mas seu impacto sobre a igreja cristã tem continuado até o dia de hoje. Suas obras foram traduzidas em muitas
línguas diferentes, inclusive em tempos recentes, a tradução das Institutas para o japonês e o português. O resultado
tem sido que seus ensinos teológicos, bem como suas opiniões políticas e sociais, têm exercido forte influência
sobre os cristãos bem como sobre os não-cristãos desde a Reforma17.

ULRICH ZUINGLIO (1484-1531).

Depois de Lutero e Calvino, o mais importante dos primeiros reformadores protestantes. Zuínglio nasceu
em Wildhaus, St. Gallen, na Suiça, e mostrou-se promissor desde cedo em educação. Estudou em Berna e Viena
antes de matricular-se na Universidade de Basíléia, onde foi cativado pelos estudos humanistas. Em Basiléia

16
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórica Teológica da Igreja Cristã, página 455 - 458.
17
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórica Teológica da Igreja Cristã, página 228 – 229.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 53


também foi influenciado pelo reformador Tomás Wyttenbach, que o encorajou na direção que acabaria levando-o à
sua crença na autoridade exclusiva das Escrituras e na justificação pela graça mediante a fé somente. Zuínglio foi
ordenado sacerdote católico e serviu a paróquias em Glarus (1506-16) e Einsiedeln (1516-18), até ser chamado para
ser o sacerdote popular (ou pregador) na Grande Catedral de Zurique.
Cerca de 1516, depois de estudos diligentes no Novo Testamento grego de Erasmo, e depois de urna longa
luta com o problema moral da sensualidade, experimentou uma abertura para a fé evangélica, muito semelhante
aquela que Lutero estava experimentando na mesma época. Essa experiência levou-o a voltar-se para as Escrituras
com fervor ainda mais sincero e também o levou a sentir hostilidade contra o sistema medieval de penitência e
relíquias, que atacou em 1518. Um dos grandes momentos da Reforma ocorreu no inicio de 1519, quando Zuínglio
começou seu culto em Zurique com proclamação da sua intenção de pregar sermões exegéticos, começando no
Evangelho de Mateus. Na década final da sua vida, pastoreou Zurique até a declaração a favor da Reforma (1523).
Escreveu numerosos folhetos e ajudou na composição de confissões para promover o avanço da Reforma (e.g., as
Dez Teses de Berna, 1528); estabeleceu relacionamentos sólidos coro outros reformadores, incluindo
Oecolampadius em Basiléia; inspirou o movimento anabatista que estava surgindo e depois rompeu com ele; e teve
um desacordo com Lutero a respeito da ceia do Senhor (expressado mais precisamente no Colóquio de Marburgo
em 1529). Zuínglio perdeu a vida enquanto servia como capelão ás tropas de Zurique que estavam em guerra contra
outros Catões suíços.
O protestantismo de Zuínglio era urna variação mais racionalista e bíblica da teologia a de Lutero. Seus
debates com os protestantes alemães a respeito da ceia do Senhor levou-o a duvidar da crença de Lutero numa
presença real sacramental de Cristo na comunhão, e até mesmo da crença de Martin Bucer numa presença real
espiritual, favorecendo um conceito quase memorialista. Para Zuínglio, a ceia do Senhor era, primariamente, uma
ocasião quando eram lembrados os benefícios comprados pela morte de Cristo. Na sua abordagem da teologia e
prática, Zuínglio procurava justificativas bíblicas rigorosas e específicas, embora essa prática o levasse a ficar
embaraçado quando os anabatistas primitivos exigiam textos bíblicos que apoiassem a prática do batismo de
crianças. O apego rigoroso de Zuínglio à Bíblia levou-o a remover em 1527 o órgão da Grande Catedral, visto que
as Escrituras não ordenavam em lugar algum o uso de tal instrumento no culto (e isso a despeito do fato de Zuínglio
ser um musicista de grande capacidade que, fora desse incidente, encorajava a expressão musical). Defendia a
fortemente a predestinação na sua teologia, mas revelou não possuir toda a percepção das relações entre os temas
das Escrituras que Calvino empregou na discussão da eleição. Zuínglio não hesitou em procurar a realização de
reformas religiosas através da autoridade da prefeitura de Zurique. Mesmo depois da sua morte, o governo da cidade
de Zurique, sob a liderança do seu sucessor, Heinrich Bullinger, exerceu um papel dominante nas questões
eclesiásticas. Esse modelo de relacionamento entre a igreja e o estado acabou sendo atraente à rainha Elizabeth da
Inglaterra, mesmo enquanto os reformadores Calvino e John Knox lutavam pela autonomia da igreja em, suas
próprias questões.
O caráter nobre de Zuínglio, seu compromisso firme com a autoridade bíblica e sua propagação diligente
da reforma evangélica, ainda mais do que os seus escritos, distinguiram-no como um dos líderes mais atraentes da
Reforma.18

PHILIP MELANCHTHON (1497-1560).

Reformador, teólogo e educador alemão. Nascido em Bretten Bacien formou-se Bacharel em Letras, em
Heidelberg, à idade de quatorze anos, e Mestre em Letras, em Tübingen, com dezesseis anos de idade. Desde cedo.
demonstrou sua perícia na língua grega e estabeleceu sua reputação como excelente gramático, e depois como
humanista bíblico, sendo finalmente incluído no circulo de Erasmo. Tornou-se catedrático na Universidade de
Wittemberg, em 1518. Sua primeira preleção pública estabeleceu uma estreita ligação com Lutero que perdurou
durante a vida dos dois. Em 1519 foi com Lutero para a Disputa de Leipzig. Por volta de 1521, escreveu Loci
Communes, a primeira declaração sistemática de idéias luteranas, que obteve ampla circulação, devido a seu estilo
claro e tom conciliador - duas características de Melanchthon que eram típicas de seus escritos e muito úteis em
seus contatos com outros luteranos, protestantes e católicos romanos.
Em 1528, seus Artigos de Visitação para as escolas foram promulgados como lei na Saxônia, e sua obra
como educador público passou a ser uma dimensão adicional na sua vida. Pelo menos cinquenta e seis cidades
procuraram a sua ajuda na reforma de suas escolas. Ele ajudou a reformar oito universidades e a fundar outras
quatro. Escreveu numerosos livros didáticos para uso nas escolas e mais tarde foi chamado o Instrutor da Alemanha.

18
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórica Teológica da Igreja Cristã, página 656 – 657.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 54


No Colóquio de Marburgo, em 1529, Melanchthon teve a forte oposição de Zuínglio, especialmente no caso
da presença real na ceia do Senhor. Mais tarde, Melanchthon alteraria suas opiniões e seria o alvo da ira dos puristas
luteranos. Em 1530, escreveu a Confissão de Augsburgo, e sua apologia, em 1531. Estes dois documentos, mais a
Concórdia de Wittemberg, em 1536, logo se tornaram as principais declarações da fé luterana. Por causa de seu
humanismo cristão, que o conservou aberto a novas idéias e compreensões, mudou de idéia quanto à ceia do Senhor,
e adotou uma posição sobre a presença real próxima à de Calvino. Este fato foi revelado no Artigo X das Variata,
de 1540, da Confissão de Augsburgo, e levou os gnésio-luteranos a acusar Melanchthon de ser criptocalvinista.
Com a derrota das forças protestantes em Mühlberg em 1547, Melanchthon propôs o Interino de Leipzig,
uma tentativa de preservar algumas idéias luteranas numa declaração confessional basicamente não-luterana, onde
ele argumentava que certos ritos e crenças católicos eram adiáforos, não-essenciais para a fé. e, portanto. podiam
ser aceitos. Por causa desse esforço foi atacado por Matias Flácio como traidor da causa luterana. Mais tarde, Flácio
dirigiu outro ataque contra Melanchthon, devido a sua opinião sinergística, em que argumentava que o homem podia
aceitar ou rejeitar a graça de Deus e o Espírito Santo, depois de a graça ter sido dada.
Os últimos anos de Melanchthon foram gastos em controvérsias, e muitos luteranos o consideravam com
suspeita. Sua mente brilhante, o amor ao humanismo cristão, a clareza de expressão, o comportamento manso e a
receptividade as novas idéias fizeram dele um cooperador ideal de Lutero, mas também precipitaram boa parte da
controvérsia que preencheu seus últimos anos. Apesar disso, suas contribuições ao movimento luterano, ao
protestantismo e à nação alemã são monumentais.19

19
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórica Teológica da Igreja Cristã, página 494 - 495.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 55


Aula 15 - REFORMA PROPRIAMENTE DITA

PORQUE ACONTECEU A REFORMA?


Alguns fatores tornaram inevitável a Reforma. Entre muitos pode-se destacar: a relutância da Igreja Católica
Romana medieval em aceitar as mudanças sugeridas por reformadores sinceros como os místicos, Wycliffe e Huss,
os líderes dos concílios reformadores e os humanistas; o surgimento das nações-estados, que opuseram ao poderio
universal do papa e a formação da classe média, que se revoltou contra a remessa de reservas para Roma. Sua
fixação ao passado clássico e pagão, indiferente às forças dinâmicas que estavam formando uma nova sociedade, a
Italiana, da qual o papado fazia parte, adotou uma força de vida corrupta sensual e imoral, embora ilustrada 20. Por
volta de 1500, os fundamentos da velha sociedade medieval estavam ruindo e uma nova sociedade, com uma
dimensão geográfica muita ampla e com transformações nos padrões políticos, econômicos, intelectuais e religiosos,
começava a surgir. As mudanças foram realmente revolucionárias, por sua natureza e pela força de seus efeitos
sobre a ordem social.

AS PRINCIPAIS CAUSAS DA REFORMA


Existe todo um conjunto de causas sendo religiosas, socio-econômicas e políticas, que ajudam a entender a
Reforma.

CAUSAS RELIGIOSAS
Um clima de reflexão crítica e de inquietação espiritual espalhou-se entre diversos cristãos europeus. Com
a utilização da imprensa, aumentou o número de exemplares da Bíblia disponíveis aos estudiosos. A divulgação da
Bíblia e de outras obras religiosas contribuiu para a formação de urna vontade mais pessoal de entender as verdades
divinas, sem a intermediação dos padres. Desse novo espírito de interiorização e individualização da religião, que
levou ao livre exame das Escrituras, surgiram diferentes interpretações da doutrina cristã. Nesse sentido, podemos
citar, por exemplo, urna corrente religiosa que, buscando apoio na obra de Santo Agostinho, afirmava que a salvação
do homem somente era alcançada pela fé. Essas idéias opunham-se à posição oficial da Igreja, baseada em Santo
Tomás de Aquino, na qual a salvação era alcançada pela fé e pelas boas obras.
Analisando o comportamento do clero, esses cristãos passaram a condenar energicamente uma série de
abusos e de corrupções que estavam sendo praticados. O alto clero de Roma estimulava inúmeros negócios
envolvendo a religião, como, por exemplo, o comércio de relíquias sagradas (espinhos que coroaram a fronte de
Cristo, panos que embeberam o sangue de seu rosto, objetos pessoais dos Santos etc.). Além do comércio de
relíquias sagradas, a Igreja passou a vender indulgências isto é, o perdão dos pecados. Assim, mediante certo
pagamento destinado a financiar obras da Igreja, Os fiéis poderiam comprar a sua salvação.
No plano moral, a situação de inúmeros membros da Igreja também era lastimável, sendo objeto de varias
críticas. Multiplicavam-se os casos de padres envolvidos em escândalos amorosos, de monges que vivam bêbados
como vagabundos e de bispos que somente acumulavam riquezas pessoais, vendiam os sacramentos e pouco se
importavam com a religião.

CAUSAS SÓCIO-ECONÔMICAS
A Concepção teológica da igreja desenvolvida durante o Período Medieval, estava adaptada ao sistema
feudal, que se baseava na economia fechada e na auto-suficiência dos feudos, onde o comércio subsistia apenas
como atividade marginal. Por isso, a teologia tradicional católica condenava a obtenção do lucro excessivo, da
usura, nas operações de comércio, defendendo a prática do preço justo.
Com o inicio dos tempos modernos, desenvolveu-se a expansão marítima e comercia!, e dentro desse novo
contexto a moral econômica da Igreja começou a entrar em choque com a atividade da grande burguesia. Essa
classe, empenhada em desenvolver ao máximo as atividades comerciais, sentia-se incomodada com as concepções
tradicionais da igreja, que taxava de pecado a busca impetuosa do lucro. Assim, essa burguesia começou a sentir
necessidade de uma nova ética religiosa, mais adequada ao espírito do capitalismo comercial. Essa necessidade
ideológica da burguesia foi satisfeita, em grande parte, com a ética protestante, que surgiria com a Reforma..
Convém frisar, entretanto, que nem todos os líderes reformistas estavam dispostos a incentivar as práticas do
capitalismo. É o caso, por exemplo, de Lutero, que condenava severamente o luxo e a usura, propondo para os
cristãos um ideal de vida modesto, em que não existiria a ansiedade pelo lucro e a vaidade pelas riquezas materiais.

CAUSAS POLÍTICAS

20
Earle E. Cairns, O Cristianismo através dos Séculos, página 221.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 56


O século XVI foi um período de fortalecimento das monarquias nacionais. A Igreja Católica, com sede cm
Roma e falando latim, apresentava-se como instituição de caráter universal, sendo um fator de unidade do mundo
cristão. Essas noções, entretanto, perdiam força, na medida em que os sentimentos nacionais desenvolviam-se com
grande vigor. Cada Estado, com sua monarquia, sua língua, seu povo e suas tradições, estava mais interessado em
auto-afirmar-se enquanto nação do que em fazer parte de uma cristandade obediente á Igreja. Opondo-se ao papado
e ao comando centralizador da Igreja Católica, a Reforma religiosa atendia aos anseios nacionalistas, permitindo a
autonomia de Igrejas nacionais21.

MUDANÇAS DECORRENTES DA REFORMA

Nem todos os ramos do protestantismo, parecem ter tido forte influência depois da Reforma. O ramo do
calvinismo foi, ao que parece um dos mais fortes, inclusive na Alemanha, e a religião Reformada, mais do que
outras, parece ter promovido o desenvolvimento do espírito do capitalismo, no Wupperthal como em outras regiões.
Muito mais do que o luteranismo, como bem o provam comparações, tanto genéricas como específicas, e como
parecem prová-lo estudos feitos no Wupperthal.22
Todo o mundo protestante desde os tempos da Reforma, tem se dividido em duas grandes famílias de igrejas
– a Luterana, incluindo todas aquelas que receberam sua impressão característica do grande homem cujo nome
exibem; a Reformada, incluindo todas aquelas que, em contrapartida, derivaram seu caráter de Calvino.23
Durante a Reforma a Bíblia passou a ser a única fonte legítima a nortear a fé e a prática. Os reformadores
basearam—se no método literal da escola antioquina e dos vitorinos. A Reforma foi uma época de distúrbios sociais
e eclesiásticos, mas, como destacou Ramm, foi essencialmente uma reforma hermenêutica, uma reforma da maneira
de ver a Bíblia.
Há dois princípios desenvolvidos pelos reformadores, tanto bíblicos como da máxima importância, que são
especialmente suscetíveis a abuso em tempo de excitação popular.
O primeiro consiste no direito de juízo privado. Este, como entendido pelos reformadores é o direito de todo
homem decidir o que a revelação feita a ele por Deus requer que ele creia. Foi um protesto contra a autoridade
pretendida pela igreja (isto é, os bispos), de decidir pelo povo em que este devia crer. Era muito natural que os
fanáticos, ao rejeitar a autoridade da igreja, rejeitassem também toda a autoridade externa em questões de religião.
Entenderam por direito de juízo privado o direito de todo homem determinar em que deve crer à luz das operações
de sua própria mente e à luz da experiência pessoal, independentemente das Escrituras. Mas, como é palpavelmente
absurdo esperar, no tema como o de religião, com uma convicção que seja satisfatória a nós mesmos e autoritativa
para outros, à luz de nossa própria razão ou sentimentos, era inevitável que estas convicções subjetivas se referissem
a uma fonte supernatural. Revelações privativas, um luz interior, o testemunho do Espírito, viriam a ser exaltados
acima da autoridade da Bíblia.
Em segundo lugar, os Reformadores ensinaram que a religião é uma matéria do coração, que a aceitação
que alguém faz de Deus não depende de sua condição de membro em alguma sociedade externa, da obediência aos
seus oficiais e da assídua observância de seus ritos e ordenanças; mas dá regeneração de seu coração, bem como de
sua fé pessoal no filho de Deus, manifestando-se numa vida santa. Esse foi um protesto contra o principio
fundamental do romanismo de que todos os que tomam parte da organização externa à qual os romanistas chama
de igreja estão salvos; e todos os de fora estão perdidos. Não causa surpresa que homens maus tenham torcido este
princípio como fazem com todas as demais verdades, para sua própria destruição. Visto que a religião não consiste
no que é externo, muitos chegaram à conclusão de que o externo - a igreja, suas ordenanças, seus oficiais, seu culto
– era destituído de valor. Esses princípios foram logo aplicados além da esfera da religião. Os que se consideram
instrumentos de Deus, emancipados da autoridade da Bíblia e exaltados acima da igreja, comparecem para
reivindicar isenção da autoridade do estado. A grave e duradoura opressão dos camponeses contribuiu grandemente
para tal insurreição, de modo que o espírito de fanatismo e revolta rapidamente eclodiu por toda a Alemanha, Suíça
e Holanda24.

21
Gilberto Cotrim, História Geral, página 127 – 128.
22
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, página 26.
23
Alexander A. Hodge, Confissão de Fé de Westminster Comentada, página 29.
24
Charles Hodge, Teologia Sistemática, página 60 - 61.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 57


A respeito do protestantismo Latino-Americano dois homens chamados Villegaignon e Huguenotes,
principalmente o primeiro obteve apoio do seu governo para estabelecer uma colônia no Rio de Janeiro. É provável
que o seu objetivo tenha sido puramente comercial, mas os Huguenotes que ele trouxe como colonizadores tinham
outras ideais. Além de um lugar de refugio da perseguição religiosa na França, eles podem muito bem Ter tido
algum interesse missionário, pois escreveram a respeito de abrir o caminho da salvação para os selvagens.
A colônia não era, no entanto uniformemente calvinista. Apesar da maior parte ser composta de Huguenotes,
inclusive doze pastores comissionados por Calvino25, com isto nós podemos ver uma expansão do movimento da
Reforma.
Depois que as casas foram construídas, igrejas erigidas, governo civil estabelecido e meios de vida
assegurados, a educação foi uma das primeiras preocupações dos colonos, segundo o panfleto “os primeiros frutos
da Nova Inglaterra”. Este interesse fazia parte da tradição da Reforma; Calvino e Lutero tinham encarecido a
necessidade de educação para que o indivíduo pudesse ler a Bíblia e para que os líderes das igrejas e do Estado
fossem preparados26.
Como movimento histórico, a Reforma do século XVI encontra-se agora no passado. Obviamente, ainda
podemos aprender muito sobre suas causas e feitos, à medida que estudamos os fatores sociais, políticos,
econômicos e culturais que a tornaram uma época tão central na história da civilização ocidental. Entretanto, como
movimento do Espírito de Deus, a Reforma possui um significado permanente para a igreja de Jesus Cristo27.

a) MUDANÇAS GEOGRÁFICAS
O conhecimento geográfico do homem medieval sofreu mudanças fundamentais entre 1492 e 1600. A
civilização do mundo antigo é tida como potâmica, por estar ligada aos sistemas fluviais do mundo antigo. A
civilização da Idade Medieval tem sido chamada de talássica, por ter-se desenvolvido em torno dos mares
Mediterrâneo e Báltico. Em 1517 as descobertas de Colombo e de outros exploradores inauguraram uma época de
civilização oceânica, em que os mares do mundo tornaram-se as estradas do mundo. Ao tempo em que Lutero
traduzia o Novo Testamento para o alemão, em 1522, o navio de Magalhães completava a sua volta ao mundo. As
rotas rnarítimas para as riquezas do Oriente Antigo eram já uma realidade. Países católicos romanos, como
Portugal, França e Espanha, tornaram-se líderes nas navegações, enquanto as nações protestantes, como Inglaterra
e Holanda, logo os alcançariam em exploração e colonização.
Dois continentes novos e ricos do hemisfério ocidental estavam abertos à exploração pelo Velho Mundo.
Espanha e Portugal tinham o monopólio na América Central e na América do Sul, mas a maior parte da América
do Norte, depois de um confronto entre a França e a Inglaterra, acabou por ser a nova terra dos anglo-saxões.
Espanha, Portugal e mais tarde a França, exportaram uma cultura latina com o catolicismo da Contra-
Reforma levado por conquistadores e cléricos a Quebec, no Canada e a America Central e do Sul, formando uma
cultura homogênea. O povo do noroeste europeu exportou a cultura Anglo-Saxônica, ou teotônica, e o
protestantismo pluralista para formar a cultura dos Estados Unidos e do Canadá. Estas culturas tem persistido até o
presente no Hemisfério Ocidental.

b) MUDANÇAS POLÍTICAS
As perspectivas mudaram também no campo político. O conceito medieval de um estado universal estava
dando lugar ao novo conceito de nação estado. Os estados a partir do declino da Idade Media, começaram a se
organizar em bases nacionais. Estas nações-estados, com poder central e com governos fortes, servidas por uma
força militar e civil, eram nacionalistas opondo-se ao domínio de um governo religioso universal. Alguns daqueles
estavam interessados em apoiar a reforma afim de poderem controlar mais efetivamente as igrejas nacionais. A
unidade política do mundo medieval foi substituída pelas nações-estados, todas empenhadas em sua independência
e soberania. A descentralização feudal (prática) do mundo medieval foi substituída por urna Europa fundada sobre
nações-estados centralizadas. Diante da independência de cada estado, o novo princípio do balanço do poder,
orientador das relações internacionais, tomou o seu lugar de importância nas guerras religiosas do século XVI e de
princípios do XVII.

c) MUDANÇAS ECONÔMICAS
Surpreendentemente, algumas mudanças econômicas ocorreram um pouco antes da Reforma. Durante a
Idade Média, a economia dos países da Europa baseava-se na agricultura, sendo que fazia do solo a base da riqueza.

25
Earle E. Cairns, O Cristianismo através dos Séculos, página 359.
26
Earle E. Cairns, O Cristianismo através dos Séculos, página 315.
27
Timothy George, Teologia dos Reformadores, página 306.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 58


Por volta 1500, o ressurgimento das cidades, a abertura de novos mercados e a descoberta de fontes de matéria-
prima nas recentes terras descobertas inauguraram uma era de comércio, em que a classe média mercantil tomou a
frente da nobreza feudal na liderança da sociedade. Só com a erupção da Revolução Industrial, na segunda metade
século XVIII, é que este modelo comercial de vida econômica sofreu alterações relevantes. O comércio tornou
internacional aquilo que era interurbano. Surgiu, então, uma economia em que o dinheiro era importante. À classe
média capitalista emergente não interessava o envio de suas riquezas à Igreja universal sob a liderança do papado
em Roma. Pelo menos no norte da Europa, esta reação influenciou a Reforma.

d) MUDANÇAS SOCIAIS
A organização social horizontal da sociedade medieval, onde se morria na classe em que se nascia, foi
substituída por uma sociedade organizada sob traços verticais. Era possível a alguém da classe baixa emergir à alta.
Nos tempos medievais, quem fosse filho de servo teria pouquíssimas chances de mudar de condição, exceto se fosse
servir na Igreja. Em 1500, os homens estavam ascendendo, por força dos negócios, a altos níveis sociais. A servidão
estava desaparecendo e uma nova classe média, inexistente na sociedade medieval, formada especialmente por
proprietários livres, pela pequena nobreza da cidade e pela classe mercantil começou a surgir. Em linhas gerais, foi
essa classe média fortalecida que garantiu as mudanças introduzidas pela Reforma no noroeste da Europa.

e) MUDANÇAS INTELECTUAIS
As transformações intelectuais provocadas pelo Renascimento, ao norte e ao sul dos Alpes, criaram um
clima intelectual que favoreceu o desenvolvimento do protestantismo. O interesse pela volta as fontes do passado
levou os humanistas cristãos do norte ao estudo da Bíblia nas línguas originais. Deste modo, as diferenças entre a
Igreja do Novo Testamento e a Igreja Católica Romana tornaram-se claras, para prejuízo da organização eclesiástica,
medieval e papista.
A ênfase renascentista no indivíduo foi um fator preponderante do desenvolvimento do ensino protestante
de que a salvação era uma questão pessoal, a ser resolvida pelo indivíduo em íntima relação com seu Deus, sem a
interferência de um sacerdote como mediador humano. O espírito crítico do renascimento foi usado pelos
reformadores para justificar sua crítica à hierarquia e aos sacramentos, mediante comparação com as Escrituras.
Embora o Renascimento na Itália tivesse contornos humanistas e pagãos, as tendências que gerou foram assumidas
no norte da Europa pelos humanistas e reformadores cristãos e por eles usadas para justificar o estudo da Bíblia no
original como documento básico da fé cristã.

f) MUDANÇAS RELIGIOSAS
A uniformidade religiosa medieval deu lugar, no início do século XVI à diversidade religiosa. A túnica
inconsútil da Igreja Católica Romana, internacional e universal, estava rasgada de novo, como acontecera em 1054,
pelos cismas que resultaram na formação de igrejas protestantes nacionais. Estas igrejas, especialmente a anglicana
e a luterana, estavam em geral sob o controle dos governos das nações-estados. Só depois de 1648 e que as
denominações e a liberdade religiosa surgiram.
A autoridade da igreja Romana foi substituída pela autoridade da Bíblia, de leitura livre a qualquer um. O
crente, individualmente, seria agora o seu próprio sacerdote e o mentor de sua própria vida religiosa em comunhão
com Deus, depois de aceitar seu Filho como seu Salvador, pela fé somente.
Entre a época da descoberta da América, por Colombo, e a fixação das 95 teses na porta da igreja em Wittenberg,
em 1517, por Lutero, transformações surpreendentes aconteceram ou começaram a acontecer. Os padrões estáticos
da civilização medieval foram substituídos pelos padrões dinâmicos da sociedade moderna. As mudanças no setor
religioso não foram as menos importantes que ocorreram na civilização européia ocidental. O cristão é impelido à
reverência quando nota a mão de Deus nos problemas dos homens daquele tempo.28

OS PÓS REFORMADORES

28
Earle E. Cairns, O Cristianismo através dos Séculos, página 221 - 223.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 59


Após a reforma houve um período marcado por grandes mudanças sociais políticas e religiosas. Os
reformadores tinham em comum não se conformar com o sistema religioso vigente, queriam que a igreja corrigisse
seus erros e seguisse os ensinamentos da palavra de Deus corretamente.
Depois dos primeiros anos da reforma, começaram a surgir divergências entre seus líderes. Não
conseguindo chegar a um consenso, surgi então ramificações dentro do protestantismo:

➢ 1520 LUTERANOS;
➢ 1525 ANABATISTAS;
➢ 1534 ANGLICANOS;
➢ 1560 PRESBITERIANOS;
➢ 1612 BATISTAS;
➢ 1787 METODISTAS.

FRANCISCO TURRETIN (1623-1678).


Teólogo calvinista. Turretin era neto de um protestante italiano que emigrou para Genebra, e filho de um
teólogo suíço de destaque no inicio do século XVII. Benedito Turretin foi um proponente do calvinismo ortodoxo
formulado no Sínodo de Dordt (1618-19), e promoveu os Cânones de Dordt na Suíça e na França. Francisco defendia
o mesmo tipo de calvinismo que seu pai adotava, e é mais conhecido por ter apresentado o calvinismo ortodoxo de
modo escolástico.

JEAN-ALPHONSE TURRETIN (1648—1737)


Filho de Francisco Turretin, escreveu De Sacrae Scripturae Interpretandae methodo Tractatus (1728), onde
enfocou os aspectos relativos à exegese gramatical e histórica.

JOHANN ERNESTI (1707—1781)


É provavelmente o nome mais notável da história da exegese do século XVIII. Seu trabalho Institutio
Interpretes Nove Testamenti (Princípios de Interpretação do Novo Testamento) foi um manual de hermenêutica
durante mais de cem anos.29

29
Roy B. Zuck, A Interpretação Bíblica , página 57.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 60


Aula 16 - A CONTRA-REFORMA
Logo após haver-se iniciado o movimento da Reforma, um poderoso esforço foi também iniciado
pela igreja católica romana no sentido de recuperar o terreno perdido, para destruir a fé protestante e para
enviar missões a países estrangeiros. Esse movimento foi chamado Contra-Reforma.
Tentou-se fazer a reforma dentro da própria igreja por via do CONCÍLIO DE TRENTO,
convocado no ano de 1545 pelo papa Paulo III, principalmente com o objetivo de investigar os motivos e
pôr fim aos abusos que deram causa à Reforma. O Concílio era composto de todos os bispos e abades da
igreja, e durou quase vinte anos, durante os governos de quatro papas, de 1545 a 1563. Todos esperavam
que a separação entre católicos e protestantes teria fim, e que a igreja ficaria outra vez unida. Contudo, tal
coisa não sucedeu. Fizeram-se, porém, muitas reformas na igreja católica e as doutrinas foram
definitivamente estabelecidas. Os próprios protestantes admitem que depois do Concílio de Trento os
papas se conduziram com mais acerto do que os que governaram antes do Concílio. O resultado dessa
reunião pode ser considerado como uma reforma conservadora dentro da igreja católica romana.
De ainda maior influência na Contra-Reforma foi a Ordem dos Jesuítas, fundada em 1534 pelo
espanhol Inácio de Loyola. Era uma ordem monástica caracterizada pela combinação da mais severa
disciplina, intensa lealdade à igreja e à Ordem, profunda devoção religiosa, e um marcado esforço para
arrebanhar prosélitos. Seu principal objetivo era combater o movimento protestante, tanto com métodos
conhecidos como com formas secretas. Tornou-se tão poderosa a Ordem dos Jesuítas, que teve contra ela
a oposição mais severa, até mesmo nos países católicos; foi suprimida em quase todos os países da Europa,
e por decreto do papa Clemente XIV, no ano de 1773, a Ordem dos Jesuítas foi proibida de funcionar
dentro da igreja. Apesar desse fato, ela continuou a funcionar, secretamente durante algum tempo, mais
tarde abertamente, e foi reconhecida pelo papa em 1814. Hoje é uma das forças mais ativas para divulgar
e fortalecer a igreja católica romana em todo o mundo.
A perseguição ativa foi outra arma poderosa usada para impedir o crescente espírito da Reforma.
É Certo que os protestantes também perseguiram, e até mataram, porém geralmente isso aconteceu por
sentimentos políticos e não religiosos. Entretanto, no continente europeu, todos os governos católicos
preocupavam-se em extirpar a fé protestante, usando para isso a espada. Na Espanha estabelceu-se a
Inquisição, por meio da qual inumerável multidão sofreu torturas e muitas pessoas foram queimadas vivas.
Nos Países-Baixos o governo espanhol determinou matar todos aqueles que fossem suspeitos de heresias.
Na França o espírito de perseguição alcançou o clímax, na matança da noite de São Bartolomeu, 24 de
agosto de 1572, e que se prolongou por várias semanas. Segundo o cálculo de alguns historiadores,
morreram de vinte a setenta mil pessoas. Essas perseguições nos países em que o governo não era
protestante não só retardavam a marcha da Reforma, mas, em alguns países, principalmente na Boêmia e
na Espanha, a extinguiram.
Os esforços missionários da igreja católica romana devem ser recõnhecidos, também, como uma
das forças da Contra-Reforma. Esses esforços eram dirigidos em sua maioria pelos jesuítas, e tiveram
como resultado a conversão das raças nativas da América do Sul, do México e de grande parte do Canadá.
Na India e países circunvizinhos estabeleceram-se missões por intermédio de Francisco Xavier, um dos
fundadores da sociedade dos jesuítas. As missões católicas, nos países pagãos, iniciaram-se séculos antes
das missões protestantes e conquistaram grande número de membros e bem assim poder para a respectiva
igreja.
Como resultado inevitável de interesses e propósitos contrários dos estados da Reforma e católicos
na Alemanha, iniciou-se então uma guerra no ano de 1618, isto é, um século depois da Reforma. Essa
guerra envolveu quase todas as nações européias. Na história ela é conhecida como a Guerra dos Trinta
Anos. As rivalidades políticas e religiosas estavam ligadas a essa guerra. Ás vezes estados que
professavam a mesma fé, apoiavam partidos contrários. A luta estendeu-se durante quase. uma geração, e
toda a Alemanha sofreu ou seus efeitos terríveis.
Finalmente, em 1648, a guerra terminou, com a assinatura do TRATADO DE PAZ DE
WESTFÁLIA, que fixou os limites dos estados católicos e protestantes, que duram até hoje. O periodo
da Reforma pode ser considerado terminado nesse ponto.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 61


RESUMO DA APOSTASIA = HERESIAS CATÓLICAS ROMANAS

Mencionaremos algumas das doutrinas que não tem apoio nas Escrituras Sagradas, e quando foram
implantadas na igreja.

1. DE TODAS AS TRADIÇÕES HUMANAS ensinadas e praticadas pela Igreja Católica Romana, que são contrárias à 310
Bíblia, as mais antigas são as preces aos mortos e o sinal da Cruz. Ambas surgiram 300 anos depois de Cristo .

2. As Velas de parafina foram introduzidas na igreja cerca de . 300

3. A Veneração aos anjos e santos mortos cerca de . 375

4. A Missa, adotada em . 394

5. A Adoração a Maria, mãe de Jesus, e o uso do termo, "Mãe de Deus", como aplicado a ela, teve origem no 431
conselho de Eféso em

6. Os Padres passaram a vestir-se diferentemente dos leigos em 500

7. A doutrina do Purgatório foi estabelecida primeiro, por Gregório o Grande, cerca do ano de 593

8. O Latim, como língua das orações e dos cultos nas igrejas, foi também imposto pelo Papa Gregório I. 600 anos 600
depois de Cristo . A palavra de Deus proíbe a oração e a pregação em uma língua desconhecida. ( I Cor. 14:9).

9. A Bíblia ensina que oremos a Deus apenas. Na igreja primitiva, nunca houveram orações dirigidas a Maria, nem 600
aos santos mortos. Esta prática começou na Igreja Romana cerca de (Mateus 11:28; Lucas 1:46; Atos 10: 25-26; 14:
14-18).

10. O Papado é de origem pagã. O título papa ou bispo universal, foi dado ao bispo de Roma, pelo cruel imperador 610
Phocas, primeiramente no ano de .
Ele deu-lhe este nome com o objectivo de causar um descontentamento ao Bispo Ciriacus de Constantinopla, que
justamente o excomungou por ter causado a morte do seu antecessor, imperador Mauritus. Gregório I, o então bispo
de Roma, recusou o título, mas o seu sucessor, Bonifácio III, foi o primeiro a assumir o título de "papa." Nota: - Não há
qualquer menção nas Escrituras, nem na história, que afirme que Pedro em algum momento esteve em Roma,
tão pouco que ele fora papa lá por 25 anos; Clemente, 3º Bispo de Roma, ressalta que não há nenhuma
evidência real do século I, para afirmar que Pedro em algum momento tenha estado em Roma.

11. O acto de beijar os pés do Papa começou em 709


Era um costume pagão beijar os pés de imperadores. A Palavra de Deus proíbe tais práticas. (Leia Atos 10: 25-26;
Rev. 19:10; 22:9).

12. O poder Temporal dos Papas começou em . 750


Quando Pepin, o usurpador do trono da França, dirigiu-se a Itália, convocado pelo Papa Stephen II, para a guerra
contra os Longobards Italianos, ele dizimou-os, e deu a cidade de Roma e as suas vizinhanças ao papa. Jesus
expressamente proíbe tal coisa, e Ele mesmo recusou ser posto rei do mundo. (Leia Mateus 4: 8-9; 20: 25-26, João
18:38).

13. Veneração da cruz, de imagens e relíquias foi autorizada em Isto foi por ordem da Imperatriz Irene de 788
Constantinopla, que causou a extirpação dos olhos de seu próprio filho, Constantino VI, e então convocou um conselho
da igreja, por solicitação do papa de Roma Hadrian I, naquele tempo. Na Bíblia tal prática é simplesmente chamada de
IDOLATRIA, e é severamente condenada. (Leia Êxodo 20:4; 3:17; Deuteronómio 27:15: Salmo 115).

14. A Água Benta, misturada com uma pitada de sal e abençoada pelo padre, foi autorizada em . 850

15. A Veneração a São José começou em 890

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 62


16. O Baptismo dos sinos foi instituído pelo papa João XIV, no ano de 965

17. A Canonização dos santos mortos, foi feita pelo Papa João XV. . Na Bíblia todos os crentes e seguidores de 995
Cristo, são chamados de santos. (Leia Romanos 1:7; I Coríntios 1:2).

18. Jejuar às sextas-feiras e durante as Quaresmas, foram tradições impostas no ano de 998
pelos papas, que se disseram interessados pelo comércio de peixe. (bula papal, ou permitir que se coma carne),
algumas autoridades dizem, que começou no ano de 700. Isto é contra o claro ensino do Evangelho. (Leia Mateus
15:10; I Coríntios 10:25; I Timóteo 4:1-3).

19. A Missa foi desenvolvida gradualmente como um sacrifício; passou a ser obrigatória no Século XI.
O Evangelho ensina que o sacrifício de Cristo foi oferecido uma vez para todos, e não é para ser repetido, mas apenas
lembrado na Ceia do Senhor. (Leia Hebreus 7:27; 9:26-28; 10:10-14).

20. O celibato do sacerdócio foi decretado pelo Papa Hildebrand, Bonifácio VII, no ano de 1079
Jesus não impôs nenhuma regra parecida, nem os seus apóstolos. Pelo contrário, São Pedro foi um homem casado, e
São Paulo diz que convém que os bispos tenham mulher e filhos. (Leia I Timóteo 3:2,5, e 12; Mateus 8: 14-15).

21. O Rosário, ou o terço de oração, foi introduzido pelo Pedro o Eremita, no ano de 1090. Copiado dos Hindus e 1090
Muçulmanos
A diversidade de orações é uma prática pagã, e é expressamente condenada por Cristo. (Mateus 6 :5-13).

22. A Inquisição dos hereges foi instituída pelo Conselho de Verona, no ano de 1184. Jesus nunca ensinou o uso da 1184
força para difundir a fé.

23. A venda de Indulgências, usualmente considerada como a compra do perdão que permite indultar o pecado, 1190
começou no ano de O Cristianismo, conforme o que ensina o Evangelho, condena tal comércio, e foi o protesto contra
este tráfico que trouxe à tona a Reforma Protestante no Século XVI.

24. O Dogma da Transubstanciação foi decretado pelo Papa Inocêncio III, no ano 1215
Através desta doutrina, o padre pretende fazer um milagre diário, de transformar uma hóstia no próprio corpo de Cristo,
e então, ele finge comê-Lo vivo na presença do povo durante a Missa. O Evangelho condena tais absurdos; A Ceia do
Senhor é simplesmente um memorial do sacrifício de Cristo. A presença espiritual de Cristo está implicada no
Sacramento. (Leia Lucas 22: 19-20; João 6:35; I Coríntios 11:26).

25. A Confissão dos pecados ao padre, uma vez ao ano, foi instituída pelo Papa Inocêncio III, no Conselho de 1215
Latrão, no ano de . O Evangelho ordena-nos que confessemos os nossos pecados directamente a Deus. (Leia Salmos
51: -10; Lucas 7:48; 15:21; I João 1:8-9).

26. A adoração à Hóstia, foi decretada pelo Papa Honório, no ano de Deste modo, a Igreja Romana adora um Deus 1220
feito pelas mãos do homem. Isto é grossa idolatria, e absolutamente contrária ao espírito do Evangelho. (Leia João
4:24).

27. A proibição da Bíblia aos leigos, e a sua inclusão na lista de livros proibidos pelo conselho de Valência em 1287
Jesus ordena que as Escrituras sejam lidas por todos. (João 5:39; I Timóteo 3:15-17).

28. O Escapulário foi inventado por Simon Stock, um monge inglês, no ano de Trata-se de uma tira de tecido marrom, 1287
com o desenho da Virgem, que supõe conter virtudes sobrenaturais para proteger de todos os perigos, aqueles que as
vestirem sobre a pele nua. Isto é feiticismo.

29. A Igreja Romana proibiu o cálice aos fieis, pela instituição de um tipo só no Conselho de Constância em . O 1414
Evangelho ordena que celebremos a Ceia do Senho com pão e fruto da vide. (Leia Mateus 26:27; I Coríntios 11: 26-
29).

30. A Doutrina do Purgatório foi proclamada como dogma de fé, pelo Conselho de Florença em . 1439
Não existe nenhuma palavra na Bíblia que ensine o purgatório dos padres. O sangue de Jesus Cristo nos purifica
(purga) de todos os pecados. (Leia I João 1:7-9; 2:1-2; João 5:24, Romanos 8:1).

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 63


31. A doutrina dos 7 Sacramentos (Batismo, Confirmação (ou Crisma), Eucaristia, Reconciliação (ou Penitência), 1439
Unção dos enfermos, Ordem e Matrimônio). O Evangelho diz que Cristo instituiu apenas duas ordenanças, o Batismo e
a Ceia do Senhor. (Leia Mateus 28:19-20; 26:26-28).

32. A Avé-Maria, parte da última metade de . 1508


Cinquenta anos depois, e então, foi finalmente aprovada pelo Papa Sixtus V, ao final do Século XVI.

33. O Conselho de Trento, ocorrido no ano de 1545, declarou que a Tradição tivesse autoridade igual à Bíblia 1545
Pela tradição quer dizer os ensinamentos dos homens. Os Fariseus creram do mesmo modo, e Jesus amargamente os
condenou, pois por ensinar tradições humanas, eles negaram os mandamentos de Deus. (Leia Marcos 7:7-13;
Colossenses 2-8; Apocalipse 22:18).

34. Os livros apócrifos também foram incluídos na Bíblia pelo Conselho de Trento, em . Estes livros não foram 1546
reconhecidos como canônicos pela Igreja primitiva (Leia Apocalipse 22: 8-9).

35. O Credo do Papa Pius IV, foi imposto como credo oficial 1560 anos após Cristo e os Apóstolos, em . 1560
Os verdadeiros Cristãos mantêm as Escrituras Sagradas e o Credo dos Apóstolos, como seus únicos credos. Sendo
assim, o credo deles é 1.500 anos mais antigo do que o credo dos Católicos Romanos. (Leia Gálatas 1:8).

36. A Concepção Imaculada da Virgem Maria foi proclamada pelo Papa Pius IX no ano de O Evangelho diz que todos 1854
os homens, com a única excepção de Cristo, são pecadores. A própria Maria, necessitou de um Salvador. (Leia
Romanos 3:23; 5:12; Salmos 51:5; Lucas 1:30; 46-47.)

37. No ano 1870 depois de Cristo, o Papa Pius IX proclamou o dogma da Infalibilidade Papal 1870
Isto é uma blasfémia, e um sinal da apostasia e do anticristo, previstos pelo apóstolo São Paulo. (Leia II
Tessalonicenses 2:2-12; Apocalipse 17:1-9; 13:5-8, 18). Muitos estudiosos da Bíblia vêem o número da besta 666
(Apocalipse 13:18), nas letras Romanas do título Papal: "VICARUS FILII DEI." – V-5, I-1; C-100, I-1; V-5, I-1; L-50, I-1;
D-500, I-1 – Total, 666.

38. O Papa Piu X, no ano de 1907, condenou juntamente com o "Modernismo", todas as descobertas da ciência 1907
moderna, as quais não eram aprovadas pelas Igreja . Pius IX fez a mesma coisa no Sílabo de 1864.

39. No ano de 1930, Pius XI condenou as Escolas Públicas

40. No ano de 1931, o mesmo Papa, Pius XI, reafirmou a doutrina a qual Maria era "a Mãe de Deus" Esta doutrina foi 1931
primeiramente inventada pelo o Conselho de Eféso, no ano de 431. Isto é uma heresia, que contradiz as próprias
palavras de Maria. (Leia Lucas 1:46-49; João 2:1-5).

41. No ano de 1950, o último dogma foi proclamado pelo Papa Pius XII, a Assunção da Virgem Maria ao céu 1950

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Aula 17 – ACONTECIMENTOS RELEVANTES

1456 - JOÃO GUTENBERG PRODUZ A PRIMEIRA BÍBLIA IMPRESSA


Durante a Idade Média, apenas poucas pessoas possuíam a Bíblia ou livros de qualquer tipo. Os
monges copiavam os textos à mão, em folhas de papiro ou em pergaminhos feitos de peles de animais. O custo
desses materiais e a remuneração do tempo utilizado pelos copistas estavam muito além das posses do homem
comum, mesmo quando o livro que determinada pessoa quisesse ler estivesse ao seu alcance.
Não havia muitas pessoas que conseguiam ler na própria língua, e muitos livros — incluindo-se a Bíblia —
estavam disponíveis apenas em latim, língua que um número ainda menor de pessoas compreendia. O povo comum
confiava no sacerdote local e nos desenhos ou nas imagens da igreja para obter informação sobre a Bíblia. O
sacerdote local, com freqüência, tinha pouco ou nenhum treinamento em latim, e seu conhecimento da Bíblia era
bastante precário. Embora os estudiosos debatessem sobre as Escrituras e escrevessem comentários, seus
pensamentos dificilmente chegavam até o cristão comum.
Uma das maiores mudanças do século xv teve enorme impacto sobre essa situação. Na década de 1440,
João Gutenberg experimentou a impressão com tipos móveis de metal. Ao montar um livro com tipos de chumbo,
ele podia fazer muitas cópias a um custo muito inferior ao de um texto copiado à mão.
Em 1456, Gutenberg — ou um grupo do qual ele fazia parte — imprimiu duzentas cópias da Vulgata, a
Bíblia latina, revisada por Jerónimo. O homem comum não podia ainda compreender a Palavra de Deus, mas esse
foi o primeiro passo de uma enorme revolução.
Durante algum tempo, os impres-sores de Mainz guardaram
segredo sobre as técnicas de Gutenberg, mas, em 1483, quando Martinho
Lutero nasceu, todos os grandes países da Europa já tinham pelo menos
uma máquina de impressão. No espaço de cinqüenta anos, desde a
primeira impressão da Bíblia de Gutenberg, os impressores já haviam
ultrapassado a quantidade de material que os monges produziram em
vários séculos. Os livros passaram a ser disponibilizados em diversas
línguas, e houve um aumento do número de pessoas que sabiam ler e
escrever.
Sem a invenção de Gutenberg, talvez os objetivos da Reforma
tivessem levado mais tempo para ser alcançados. Uma vez que apenas o
clero podia ler a Palavra de Deus e compará-la aos ensinamentos da igreja,
a Bíblia tinha um impacto limitado sobre o cristão comum.
Com a invenção da máquina de impressão, Lutero e os outros
reformadores poderiam fazer com que a Palavra de Deus ficasse Gutenberg examina as páginas
disponível "a todo jovem do campo e a qualquer empregada doméstica". saídas da máquina de
Lutero traduziu as Escrituras para um alemão bastante eficaz e de fácil impressão
leitura, usado durante vários séculos. A partir do momento em que todos tiveram acesso à Bíblia, nenhum sacerdote,
papa ou concilio se colocava entre o cristão e sua compreensão da Bíblia. Embora muitos afirmassem que o homem
comum poderia não compreender a Palavra de Deus e talvez precisasse que ela fosse interpretada pelos clérigos, os
alemães começaram a fazer exatamente isso.
Conforme liam, esses homens e mulheres comuns começaram a se sentir parte do maravilhoso mundo da
Bíblia. O ensinamento da Bíblia em casa tornou-se possível. Lentamente, a barreira entre o pastor e o membro da
igreja foi destruída. Em vez de se preocupar com o pensamento "O que tenho de confessar ao sacerdote?", o crente
podia perguntar: "Será que a minha vida está de acordo com a Palavra de Deus?".
Com a invenção de uma complexa ferramenta de impressão, um fogo foi aceso por toda a Europa, uma
chama que espalhou tanto o evangelho quanto a instrução.
Com bastante freqüência, isso assumiu a forma de troca de idéias teológicas e o afastamento dos grupos
heréticos da igreja. Porém, a igreja — que ainda não fora capaz de alçar vôo — não poderia impor qualquer sistema
de fé aos que estavam no erro.
Em 1184, o papa Lúcio in, preocupado com o sistema de crenças dos freqüentadores da igreja, pediu que
todos os bispos "inquirissem" sobre as crenças de seu rebanho. Um homem que fosse culpado de heresia seria

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 65


excomungado, ou seja, colocado para fora da igreja. Contudo, não deveria ser punido fisicamente e, caso se
retratasse de sua heresia, seria readmitido à igreja. Teoricamente, a igreja usou esse instrumento tanto para corrigir
de maneira amorosa um irmão que estava equivocado quanto para proteger os outros desse erro.

1646 - A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER

Nem todos na Inglaterra aprovavam a igreja


estatal. Desde o início muitas pessoas viam o
anglicanismo como um sistema que não penetrara
profundamente nas doutrinas reformadas. A rainha
Elisabete I aprovara Os trinta e nove artigos de
religião em 1563, estabelecendo uma igreja episcopal
inglesa. Desde o início, os puritanos estavam tentando
impor a forma presbiteriana de governo e de cultos
menos ritualísticos, mas seus pedidos foram
totalmente ignorados.
Os reis da casa de Stuart — Tiago I e seu filho,
Carlos I — procuraram aumentar o poder do sistema
episcopal. Carlos, que queria a uniformidade tanto na
Escócia quanto na Inglaterra, tentou impingir o
anglicanismo sobre os escoceses presbiterianos. Essa A assembléia de Westminster
situação volátil, tratada de maneira desajeitada, levou
ao início da guerra civil inglesa.
Carlos ι teve uma longa história de batalhas com o Parlamento. Na primavera de 1640, convocou um parlamento
que se opôs vigorosamente a ele, levando-o a dissolvê-lo rapidamente, apenas para convocar outro no outono do
mesmo ano. O Parlamento Longo, outrora puritano, seria o motivo de sua queda.
Dois anos depois, diante do mesmo parlamento, o rei tentou prender alguns membros da Câmara dos Comuns
que se opunham a ele. Sua acusação de que aqueles homens tinham cometido traição foi a fagulha que deu início à
guerra, que levou a Inglaterra ao puritanismo por alguns anos.
Logo no início de 1643, o Parlamento aboliu o sistema episcopal. Para colocar uma igreja presbiteriana em seu
lugar, uma assembléia foi convocada na abadia de Westminster. Um total de 121 ministros e 30 leigos — alguns
dos quais eram escoceses — se reuniu para reconstruir a igreja inglesa.
Durante os seis anos em que a Assembléia de Westminster se reuniu, Oliver Cromwell, o líder do exército do
Parlamento, levou os puritanos ao poder. O rei seria decapitado em 1649.
A Assembléia de Westminster criou a Confissão de fé de Westminster (1646), um clássico do pensamento
presbiteriano, assim como o Breve catecismo de Westminster (1647) e o Catecismo maior (1648). As crenças
propagadas neles eram puramente calvinistas.
A Confissão falava sobre a inspiração das Escrituras, declarando que a Bíblia é a única autoridade da fé cristã.
Em suas línguas originais, as Escrituras foram "inspiradas por Deus e [...] se mantiveram puras por todas as eras".
A plena certeza da autoridade divina, porém, é "uma obra interior do Espírito Santo".
A Confissão de fé de Westminster incluiu a doutrina da predestinação, assunto sobre o qual Os trinta e nove
artigos de religião se mantiveram em silêncio. A confissão afirmava: "Alguns homens e anjos são predestinados
para a vida eterna e outros preorde-nadas para a morte eterna". Contudo, "nem Deus é o autor do pecado, nem
violentada é a vontade da criatura".
Além disso, ele enfatizava o relacionamento de Deus com seu povo por meio da Aliança. A redenção humana é
um tipo de equilíbrio entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana.
A Confissão defendia o governo dos presbíteros, em vez de deixá-la a cargo de sacerdotes e de bispos, além de
não permitir qualquer espaço para a transubstanciação (ao contrário do que fizeram Os trinta e nove artigos). Do

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 66


mesmo modo, determinava a observância do domingo por parte do crente, um dia estritamente dedicado à adoração
pessoal e pública.
O puritanismo da Inglaterra, porém, não durou muito. Em 1658, com a morte de Oliver Cromwell, nenhum líder
forte se levantou do lado puritano. Embora tivesse assumido o lugar de seu pai como Protetor da Inglaterra, Richard,
o filho de Cromwell, não tinha as habilidades de liderança de seu pai. Richard afastou-se de maneira digna, e a
Inglaterra voltou à monarquia sob o reinado de Carlos II, filho de Carlos I.
O novo rei conseguiu restaurar de maneira bem-sucedida o episcopado na Inglaterra. Os escoceses, no entanto, se
apegaram à Confissão de fé de Westminster, fazendo com que ela se vinculasse à Igreja da Escócia. Por intermédio
da Escócia, a palavra Westminster se transformou em sinônimo de "calvinismo histórico".

O HOLOCAUSTO
[Do grego holokauston, de hólos, completo + kaio, eu queimo] = Sacrifício levítico que consistia na queima
completa da vítima animal sobre o altar. Quando da Segunda Guerra Mundial, o termo passou a designar a
matança sis-temática dos judeus pela Alemanha de Hitler
O Holocausto ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1941 e 1945. Na época do Holocausto,
estima-se que a população judaica mundial fosse de cerca de 11 milhões de pessoas. Portanto, os seis milhões de
judeus mortos representam aproximadamente 55% a 60% da população judaica daquela época. Essa devastadora
perda teve um impacto profundo na comunidade judaica em todo o mundo.

CAUSAS
As causas do Holocausto são complexas e multifacetadas, mas podem ser atribuídas a uma combinação
de fatores históricos, políticos, econômicos e ideológicos. Aqui estão algumas das principais causas:
1. Antissemitismo arraigado: O antissemitismo existia há séculos na Europa e estava enraizado na cultura,
na religião e nas crenças populares.
2. Ascensão do nazismo: O Partido Nazista, liderado por Adolf Hitler, assumiu o poder na Alemanha em 1933,
promovendo uma ideologia de superioridade racial ariana e ódio aos judeus.
3. Crise econômica e instabilidade política: A Alemanha enfrentava dificuldades econômicas após a Primeira
Guerra Mundial, e o descontentamento popular alimentou o crescimento do nazismo.
4. Propagação de teorias eugenistas: Ideias eugenistas sobre purificação racial ganharam popularidade,
buscando eliminar grupos considerados "inferiores" ou "indesejáveis".
5. Políticas de exclusão e perseguição: A implementação de leis discriminatórias restringiu os direitos e
liberdades dos judeus e de outros grupos considerados indesejáveis pelo regime nazista.
6. Propaganda e controle da informação: O governo nazista utilizou propaganda intensiva para difamar os
judeus, espalhando estereótipos negativos e promovendo a ideia de sua eliminação.
7. Guerra e expansão territorial: Com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, a Alemanha nazista
buscou expandir seu domínio, usando a guerra como uma oportunidade para implementar suas políticas
genocidas.

JULGAMENTOS E PENALIDADES
A Alemanha sofreu penalidades e consequências decorrentes do Holocausto e de seus crimes durante a
Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, as principais penalidades e medidas tomadas incluíram:
Julgamentos de Nuremberg: Os principais líderes nazistas foram julgados e condenados por crimes de guerra,
crimes contra a humanidade e crimes contra a paz durante os Julgamentos de Nuremberg, realizados de 1945 a
1946.
1. Reparações e compensações: A Alemanha foi obrigada a pagar reparações e compensações às vítimas do
Holocausto e a outros países afetados pela guerra. Isso incluiu o Acordo de Luxemburgo em 1952 e o
Acordo de Reparação Israelo-Alemão em 1952.
2. Desnazificação: A Alemanha passou por um processo de desnazificação, no qual os membros do Partido
Nazista foram removidos de posições de poder e influência na sociedade alemã.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 67


3. Ocupação e divisão: Após a guerra, a Alemanha foi ocupada pelas forças aliadas e posteriormente dividida
em duas partes, a Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha) e a Alemanha Oriental (República
Democrática Alemã), refletindo a Guerra Fria.
4. Lembrança e educação: A Alemanha promoveu esforços significativos para lembrar e enfrentar o
Holocausto, implementando programas de educação, estabelecendo monumentos e museus, e
confrontando sua história sombria para evitar que tais atrocidades ocorram novamente.

Essas são apenas algumas das principais penalidades e medidas tomadas em relação à Alemanha após o
Holocausto. É importante ressaltar que o Holocausto teve um impacto duradouro nas relações internacionais e na
consciência global, influenciando políticas de direitos humanos e ações de combate ao racismo e à discriminação
em todo o mundo.
Além da Alemanha, outras pessoas e organizações foram responsabilizadas pelo Holocausto e pelos crimes
cometidos durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns exemplos incluem:
1. Membros do alto escalão do regime nazista: Além dos líderes nazistas julgados nos Julgamentos de
Nuremberg, outros membros do alto escalão do regime nazista foram responsabilizados por seus papéis
no Holocausto e em outros crimes de guerra.
2. Oficiais e colaboradores nazistas: Oficiais e colaboradores nazistas que estiveram diretamente envolvidos
na implementação e execução das políticas do Holocausto foram identificados, julgados e condenados em
diferentes países.
3. Organizações nazistas: Além das punições individuais, organizações como as SS (Schutzstaffel) e a Gestapo
(Polícia Secreta do Estado) foram consideradas responsáveis por suas ações durante o Holocausto.
4. Empresas e instituições envolvidas: Algumas empresas e instituições alemãs foram consideradas
responsáveis por sua participação no Holocausto, seja através de trabalho forçado, fornecimento de
materiais ou apoio financeiro ao regime nazista.
5. Colaboradores e cúmplices em outros países ocupados: Indivíduos e organizações em outros países
ocupados pelo regime nazista, que colaboraram ou foram cúmplices nas ações do Holocausto, também
foram responsabilizados por seus atos.

Os julgamentos e as responsabilidades variaram de acordo com o contexto e as circunstâncias específicas.


No entanto, é importante destacar que nem todos os responsáveis pelos crimes do Holocausto foram capturados
e punidos, e muitos escaparam da justiça.

ATUALMENTE
Atualmente, estima-se que a população judaica mundial esteja em torno de 14,7 milhões de pessoas. No
entanto, é importante observar que a população judaica é diversa e está dispersa em diferentes países ao redor
do mundo, com variações em termos de afiliação religiosa, identidade cultural e práticas observadas.
Os países com as maiores populações judaicas atualmente são:
1. Israel: Como o Estado judaico, Israel possui a maior população judaica concentrada em um único país,
com cerca de 6,9 milhões de judeus.
2. Estados Unidos: Os Estados Unidos abrigam a segunda maior população judaica, estimada em cerca de
5,7 milhões de judeus.
3. França: A França possui uma comunidade judaica significativa, com aproximadamente 450.000 a 500.000
judeus.
4. Canadá: O Canadá é o lar de uma comunidade judaica próspera, com uma população judaica estimada em
torno de 400.000.
5. Reino Unido: O Reino Unido também tem uma comunidade judaica substancial, com cerca de 290.000 a
340.000 judeus.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 68


EPITOME CRONOLÓGICO DA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO 30

• 4 a.C. – Nascimento do Messias em Belém.


• 30 d.C. – Crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo em Jerusalém.
• 70 d.C. – Jerusalém é devastada pelo império Romano. Os cristãos de Jerusalém são dispersos pelo mundo.
• 110 d.C. – Os pais da Igreja se tornam pessoas importantes na defesa da fé e na propagação do evangelho.
• 156 d.C. – Surge o termo “Igreja Católica”.
• 160 d.C. – Márcion tenta introduzir o gnosticismo, considerado, posteriormente, um movimento herético.
• 180 d.C. – Nascimento de Sabélio, um dos expoentes da heresia modalista que negava a Trindade e ensinava as
várias manifestações de Deus.
• 218 d.C. – Surge o ensinamento de Pedro ter sido o primeiro Papa.
• 312 d.C. – Início da adoração aos santos.
• 313 d.C. – O Imperador Constantino concede liberdade religiosa; Eusébio consegue a permissão do imperador
para confeccionar 50 bíblias.
• 325 d.C. – Concílio de Nicéia: primeiro encontro ecumênico do cristianismo. Condenou o arianismo e
promulgou o credo conhecido como Símbolo de Nicéia.
• 367 d.C. – Concílio de Hipo: ratificação dos 66 livros da Bíblia Sagrada
• Daqui para frente, devido à influência do Estado e, principalmente, à intervenção do imperador Teodósio,
sucessor de Constantino, o cristianismo começaria a deteriorar até tornar-se catolicismo.
• 386 d.C. – No século IV, São Jerônimo prepara a tradução latina da Bíblia – a Vulgata.
• 400 d.C. – Maria passa a ser considerada “mãe de Deus” e os católicos começam a interceder pelos mortos.
• 431 d.C. – Instituição do culto a Maria no concílio de Éfeso.
• 451 d.C. – Surge a Doutrina da virgindade perpétua de Maria.
• 503 d.C. – Os “cristãos” decretam o Purgatório.
• 554 d.C. – Convencionou-se o nascimento de Cristo para a data de 25 de dezembro. O Natal cristão.
• 600 d.C. – Gregório, o Grande, torna-se o primeiro Papa oficialmente aceito. Podemos considerar a instituição
oficial da Igreja Católica Apostólica Romana daqui para frente.
• 787 d.C. – Instituição do culto às imagens e às relíquias no II Concílio de Nicéia.
• 794 d.C. – Concílio de Frankfurt, cuja decisão era absolutamente contrária ao culto às imagens.
• 816 d.C. – Cláudio, bispo de Turim. É considerado “o protestante do século IX”.
• 850 d.C. – Concílio de Paiva. Instituição do rosário e da coroa da virgem Maria e da doutrina da
transubstanciação.
• 880 d.C. – Início da canonização dos santos.
• 1000 d.C. – O Ano do Pânico. Um ermitão de Turíngia, Bernhard, iniciou uma pregação apocalíptica
anunciando por 40 anos que o mundo chegaria ao fim no ano 1000. A Europa espera terminantemente pelo fim
do mundo.
• 1054 d.C. – A Igreja Ortodoxa de Constantinopla separa-se da Igreja de Roma.
• 1073 d.C. – Hildebrando chega à cadeira Papal, tomando o nome de Gregório VIII. Foi o responsável por
implantar a doutrina do celibato na Igreja.
• 1094 d.C. – No Concílio de Clermont a Igreja Católica cria as indulgências (venda de salvação).
• 1100 d.C. – Institui-se na Igreja Católica o pagamento pelas missas e pelo culto aos santos.
• 1160 d.C. – A Igreja Católica estabelece os Sete Sacramentos.
• 1184 d.C. – A “Santa Inquisição” é estabelecida no Concílio de Verona.
• 1229 d.C. – A Igreja Católica proíbe aos leigos a leitura da Bíblia.
• 1250 d.C. – A Bíblia é dividida em 1189 capítulos.
• 1275 d.C. – A transubstanciação da hóstia é transformada em artigo de fé.
• 1355 d.C. – Na França, o “Santo Sudário” aparece pela primeira vez.
• 1380 d.C. – John Wycliff: professor de Oxford, Inglaterra, defendeu o direito que o povo tinha de ler a Bíblia,
traduzindo-a para o inglês.
• 1409 d.C. – Nesse período, a Igreja Católica contou com três papas, simultaneamente.
• 1015 d.C. – John Huss: reitor da Universidade de Praga, Boêmia, exaltava as Escrituras acima dos dogmas. Foi
queimado vivo.

30
https://avozprofetica.webnode.com.br/news/epitome-cronologico-da-hitoria-do-cristianismo/

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• 1450 d.C. – A primeira Bíblia foi impressa e é conhecida como a “Bíblia de Gutenberg”.
• 1494 d.C. –William Tyndale: sua edição final do Novo Testamento foi cumprida em 1535. Com isso, iniciou a
tradução do Velho Testamento, porém não viveu o suficiente para termina-la.
• 1494 d.C. –Jerônimo Savonarola: pregava como um dos profetas hebreus. Foi enforcado e queimado na grande
praça de Florença 19 anos antes das 95 teses de Lutero.
• 1500 d.C. –Primeira missa celebrada no Brasil.
• 1517 d.C. –Martinho Lutero lança suas 95 teses contra a Igreja Católica. Com isso, a Reforma Protestante chega
para guinar definitivamente a História da Igreja Cristã.
• 1520 d.C. –O papa Leão X excomunga Lutero do catolicismo romano.
• 1522 d.C. –Lutero traduz e publica a primeira Bíblia em alemão (Novo Testamento).
• 1525 d.C. –Zuínglio: convenceu-se, por volta de 1516, que a Bíblia era o meio de purificar a Igreja. Nesse
período, a bíblia é dividida por versículos: 31.173.
• 1541 d.C. –Calvino funda a Igreja Calvinista (futura Igreja Presbiteriana). Foi considerado o maior teólogo da
cristandade.
• 1545 d.C. –Concílio de Trento: concílio ecumênico da Igreja Católica (1545-1563), importante por suas
decisões sobre os dogmas e a legislação eclesiástica: a contra-reforma.
• 1556 d.C. –João Calvino envia ao Brasil um grupo de colonos e pastores reformados, que se fixam na “França
Antártica”, uma das ilhas da baía de Guanabara no Rio de Janeiro.
• 1557 d.C. –Os evangélicos franceses realizaram o primeiro culto protestante do Brasil e, possivelmente, do
Novo Mundo. Também foram os autores da bela “Confissão de Fé da Guanabara”.
• 1572 d.C. –Morte de John Knox, reformador protestante que tornou o presbiterianismo na religião oficial da
Escócia.
• 1573 d.C. – A Igreja Católica altera a Bíblia original com a canonicidade de sete livros apócrifos.
• 1600 d.C. – Surge o pietismo, movimento de santidade originado na Igreja Luterana.
• 1604 d.C. – Nasce na Inglaterra a Igreja Batista.
• 1611 d.C. – A “Versão King James” da Bíblia em inglês é lançada.
• 1620 d.C. – As missões protestantes chegam nas treze colônias (Estados Unidos).
• 1632 d.C. – Galileu é condenado pela Inquisição Católica. Seu pecado: desqualificar o “geocentrismo” e a
transubstanciação.
• 1660 d.C. – Carlos II persegue puritanos e restaura o anglicanismo como religião oficial da Inglaterra.
• 1700 d.C. – Nasce o maior avivamento missionário da história da igreja com os irmãos Morávios.
• 1706 d.C. – Início do Presbiterianismo nos Estados Unidos.
• 1730 d.C. – John Wesley lidera o maior reavivamento da história da Grã-Bretanha e lança as bases do
metodismo.
• 1753 d.C. – Primeira bublicação integral da Bíblia em português traduzida pelo protestante João Ferreira de
Almeida.
• 1780 d.C. – A Escola Dominical foi fundada por R. Raikes, na Inglaterra, para ministrar educação cristã a
crianças pobres que não freqüentavam a escola.
• 1795 d.C. – Congregacionais, anglicanos, presbiterianos e wesleyanos fundam a Sociedade Missionária de
Londres (LMS).
• 1807 d.C. – Robert Morrison torna-se o primeiro missionário protestante na China.
• 1824 d.C. – As primeiras igrejas Luteranas são formadas no sul do Brasil.
• 1825 d.C. – Charles Finney lidera reavivamentos evangélicos em Nova York.
• 1835 d.C. – Chegada dos primeiros missionários metodistas no Brasil.
• 1844 d.C. – O adventista Guilherme Miller prevê que neste ano ocorreria o “fim dos tempos” – é inicio Da
igreja Adventista do Sétimo Dia.
• 1854 d.C. – O papa Pio XII cria o dogma da Imaculada Conceição de Maria.
• 1859 d.C. – Surge a primeira Igreja Presbiteriana Do Brasil no Rio de Janeiro.
• 1865 d.C. – Surge, na Inglaterra, o Exercito da Salvação. O protestante Hudson Taylor realiza a maior ação
missionária para o interior da China.
• 1870 d.C. – I Concílio do Vaticano proclama o dogma da infalibilidade papal.
• 1871 d.C. – Surge a primeira Igreja Batista do Brasil em Santa Bárbara, São Paulo.
• 1890 d.C. – É decretada a separação entre a Igreja e o Estado Brasileiro.
• 1903 d.C. – Fundação da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil em São Paulo.
• 1908 d.C. – Nos Estados Unidos, o movimento de santidade bíblica culmina na fundação da Igreja do Nazareno.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 70


• 1910 d.C. – Chegam a Belém do Pará os missionários que fundariam a Igreja Evangélica Assembléia de Deus
e, em São Paulo, imigrante italiano funda a Congregação Cristã do Brasil.
• 1923 d.C. – Oficialmente é fundada a Igreja do Evangelho Quadrangular em Los Angeles, EUA.
• 1936 d.C. – A seita Testemunhas de Jeová realiza no Brasil sua primeira assembléia em São Paulo.
• 1950 d.C. – A mais antiga cópia conhecida do Novo Testamento é descoberta no Egito. Manuscritos das
cavernas de Qunram.
• 1951 d.C. – A Igreja do Evangelho Quadrangular chega em São João da Boa Vista, São Paulo.
• 1955 d.C. – O protestante irmão André funda a agencia missionária “Missão Portas Abertas”, que leva Bíblias
aos países comunistas da chamada “Cortina de ferro”.
• 1956 d.C. – É fundada a Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo”, em Pirituba, São Paulo.
• 1958 d.C. – Missionários norte-americanos da Igreja do Nazareno chegam a Campinas, São Paulo.
• 1962 d.C. – Em São Paulo, o missionário David Miranda funda a Igreja Pentecostal “Deus é Amor”.
• 1962 d.C. – II Concílio do Vaticano.
• 1965 d.C. – Reaproximação entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa. O papa Paulo VI
extingue oficialmente a Inquisição.
• 1966 d.C. – Acontece na cidade de Berlim (Alemanha) o “I Congresso Mundial de Evangelização”.
• 1967 d.C. – Fundação da Igreja Metodista Wesleyana em Nova Friburgo, Rio de Janeiro.
• 1967 d.C. – O papa Paulo VI proíbe os católicos romanos de freqüentarem cultos evangélicos.
• 1974 d.C. – “II Congresso Mundial de Evangelização”, realizado em Lousanne (Suíça), onde foi lançado o
famoso documento conhecido como “Pacto de Lausanne”, em que são fixados os princípios e estratégias para
evangelização do mundo.
• 1977 d.C. – O bispo Edir Macedo funda, no Rio de Janeiro, a Igreja Universal do Reino de Deus.
• 1980 d.C. – Com o grande crescimento dos evangélicos no Brasil, João Paulo II torna-se o primeiro papa a
visitar o país.
• 1980 d.C. –O missionário R.R. Soares funda a Igreja Internacional da Graça de Deus, no Rio de Janeiro.
• 1983 d.C. – Acontece em Belo Horizonte, MG, o “Congresso Brasileiro de Evangelização”. Marco importante
no movimento missionário brasileiro.
• 1986 d.C. – Surge em São Paulo a Igreja Evangélica Renascer em Cristo.
• 1989 d.C. – Acontece o “II Congresso de Evangelização Mundial”, dessa feita em Manilla, Filipinas, sob o
tema: “Proclamar a Cristo até que Ele volte”.
• 1994 d.C. – Oficialmente, surge o Ministério Sara Nossa Terra, em Goiânia, Goiás.
• 2001 d.C. – O papa João Paulo II pediu à Igreja latino-americana para fomentar uma “ação pastoral decidida”
contra as seitas evangélicas, as quais definiu como um “grave obstáculo para a evangelização do continente”.
• 2001 d.C. – O Censo 2001, do IBGE, divulga os evangélicos como único segmento religioso a crescer acima
da média da população. Estimados em 26 milhões de fiéis.

→ Deve-se considerar que, os acontecimentos aqui descritos são basicamente relacionados em termos de mais ou
menos. Podendo ser questionados e analisados com base relevante da arqueologia no mais esse resumo com
toda certeza é aceito e toleravel pela maioria dos Teologos.
→ Fonte: Revista Defesa da Fé

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 71


Aula 18 - A IGREJA CONTEMPORÂNEA

Nos últimos séculos, nossa atenção dirigir-se-á especialmente para as igrejas que nasceram da
Reforma. Pouco depois da Reforma apareceram três grupos diferentes na igreja inglesa:
➢ Os elementos romanistas que procuravam fazer amizade e nova união com Roma;
➢ O anglicanismo, que estava satisfeito com as reformas moderadas estabelecidas nos reinados de
Henrique VIII e da rainha Elisabete;
➢ E o grupo protestante radical que desejava uma igreja igual às que se estabeleceram em Genebra e
Escócia. Este último grupo ficou conhecido, cerca do ano de 1654, como "os puritanos", e opunha-
se de modo firme ao sistema anglicano no governo de Elisabete, e por essa razão muitos de seus
dirigentes foram exilados.

* Os puritanos
Os puritanos também estavam divididos entre si: uma parte mais radical, era favorável à forma
presbiteriana; a outra parte desejava a independência de cada grupo local, conhecidos como
"independentes" ou "congregacionais". Apesar dessas diferenças, continuavam como membros da igreja
inglesa.
Na luta entre Carlos I e o Parlamento, os puritanos eram fortes defensores dos direitos populares. No
início o grupo presbiteriano predominava. Por ordem do Parlamento, um concílio de ministros reunido em
Westminster, em 1643, preparou a "Confissão de Westminster" e os dois catecismos, considerados durante
muito tempo como regra de fé por presbiterianos e congregacionais. Após a Revolução de 1688, os
puritanos foram reconhecidos como dissidentes da igreja da Inglaterra e conseguiram o direito de
organizarem-se independentemente.
Do movimento iniciado pelos puritanos surgiram três igrejas, a saber, a Presbiteriana, a
Congregacional, e a Batista.

* A Igreja Episcopal
A igreja, nos Estados Unidos, tomou o nome oficial de Igreja Protestante Episcopal. O crescimento da
igreja Episcopal desde então tem sido rápido e constante. Atualmente conta quase três milhões e meio de
membros.
A igreja Episcopal reconhece estas três ordens no ministêrio: bispos, sacerdotes e diáconos, e aceita
quase todos os trinta e nove artigos da Igreja da Inglaterra, modificados para serem adaptados à forma de
governo norte-americano. Sua autoridade legislativa está concentrada em uma convenção geral que se
reúne cada três anos. Trata-se de dois corpos, uma câmara de bispos e outra de delegados clérigos e leigos
eleitos por convenções nas diferentes dioceses.

* Os Batistas
Uma das maiores igrejas existentes na América do Norte é a denominação Batista, a qual conta
com mais de vinte milhões de membros. Seus princípios distintivos são dois: (1) Que o batismo deve ser
ministrado somente àqueles que confessam sua fé em Cristo; por conseguinte, as crianças não devem ser
batizadas. (2) Que a única forma bíblica do batismo é a imersão do corpo na água, e não a aspersão ou
derramamento.
Os batistas são congregacionais em seu sistema de governo. Cada igreja local é absolutamente
independente de qualquer jurisdição externa, fixando suas próprias regras. Surgiram os batistas
pouco depois da Reforma, na Suíça, e espalharam-se rapidamente no norte da Alemanha e na Holanda.
No princípio foram chamados anabatistas, porque batizavam novamente aqueles que haviam sido
batizados na infância. Na Inglaterra, a princípio, estavam unidos com os independentes ou
congregacionais, mas pouco a pouco tornaram-se um corpo independente. Com efeito, a igreja de Redford,
da qual João Bunyan era pastor, cerca do ano 1660, e que existe até hoje, considera-se tanto batista como
congregacional.
Na América do Norte a denominação batista iniciou suas atividades com Roger Williams, clérigo
da Igreja da Inglaterra expulso de Massachusetts porque se recusou a aceitar as regras e opiniões

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 72


congregacionais. Roger fundou a colônia de Rhode Island, em 1644. Ali todas as formas de adoração
religiosa eram permitidas, e os membros de religiões perseguidas em outras partes eram bem-vindos. De
Rhode Island os batistas espalharam-se rapidamente por todo o continente.

* A Igreja Luterana
Depois da Reforma iniciada por Martinho Lutero, as igrejas nacionais que se organizaram na
Alemanha e nos países escandinavos tomaram o nome de luteranas. No início da história da colonização
holandesa da Nova Amesterdã, hoje Nova lorque, que se supôe haja sido em 1623, os luteranos, ainda que
da Holanda, chegaram a essa cidade. Em 1652, solicitaram licença para fundar uma igreja e contratar um
pastor. Entretanto, as autoridades da Igreja Reformada da Holanda opuseram-se a esse desejo, e fizeram
com que o primeiro ministro luterano voltasse à Holanda, em 1657. Os cultos continuaram a ser realizados,
embora não oficialmente. Contudo, em 1664, quando a Inglaterra conquistou Nova Amsterdã, os luteranos
conseguiram liberdade de culto.
Em 1638, alguns luteranos suecos estabeleceram-se próximo ao rio Delaware, e construíram o
primeiro templo luterano na América do Norte, perto de Lewes. Porém a imigração sueca cessou até ao
século seguinte. Em 1710, uma colônia de luteranos exilados do Palatinado, na Alemanha, estabeleceu a
sua igreja em Nova Iórque e na Pensilvânia. No século dezoito os protestantes alemães e suecos emigraram
para a América do Norte, aos milhares. Isso deu motivo à organizaçãodo primeiro Sínodo Luterano na
cidade de Filadélfia, em 1748. A partir daí as igrejas luteranas cresceram, não só por causa da imigração,
mas também pelo aumento natural, sendo que atualmente há aproximadamente nove milhões e meio de
membros nas igrejas luteranas.

* A Igreja Metodista
As igrejas metodistas do Novo Mundo existem desde o ano de 1766, quando dois pregadores
wesleyanos locais, naturais da Irlanda, se transferiram para os Estados Unidos e começaram a realizar
cultos segundo a ordem metodista. Não se sabe ao certo se Filipe Embury realizou o primeiro culto em
sua própria casa em Nova lorque ou se foi Roberto Strawbridge, em Fredrick County, Maryland. Esses
dois homens organizaram sociedades, e, em 1768, Filipe Embury edificou uma capela na Rua João, onde
funciona ainda um templo metodista episcopal. O número de metodistas na América do Norte cresceu.
Por essa razão, em 1769, João Wesley enviou dois missionários, Ricardo Broadman e Tomás Pilmoor, a
fim de inspecionarem a obra e cooperarem na sua extensão. Outros pregadores, sete ao todo, foram
enviados da Inglaterra, dentre os quais se destacou Francisco Asbury, que chegou aos Estados Unidos em
1771. A primeira Conferência Metodista nas colônias foi realizada em 1773, presidida por Tomás Rankin.
Porém, em razão do início da Guerra de Independência, todos os pregadores deixaram o país; exceto
Asbury, e a maior parte do tempo, até que a paz foi assinada em 1783, ele esteve afastado.
Quando o governo dos Estados Unidos foi reconhecido pela Grã-Bretanha, os metodistas da
América do Norte alcançavam o número de quinze mil.

* A Assembléia de Deus
A maior igreja pentecostal de todos os tempos foi fundada a 18 de junho de 1911 na cidade
brasileira de Belém, capital do estado do Pará. Toda a sua história está marcada por fatos sobrenaturais,
acontecimentos evidenciadores da presença do Espírito Santo, o que a coloca como fiel e digna sucessora
da igreja nascida no Dia do Pentecoste.
Os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, este ex-pastor da Swedish Baptist Church, (Igreja
Batista Sueca), de Menominee, Michigan, EUA, foram os apóstolos tomados por Deus para o lançamento
das primeiras sementes, o Senhor os aproximou por ocasião de uma convençáo de igrejas batistas
reavivadas, em Chicago, quando sentiram o chamado para terras distantes. Em mensagem profética, o
Senhor lhes falou, mais tarde, na cidade de South Bend, quando pela primeira vez ouviram o nome "Pará".
Consultaram um mapa e souberam, então, que se tratava de uma "Província" (estado) do Brasil.
Empreenderam uma jornada em que muitos acontecimentos surpreendentes se verificaram, constituindo
todos eles evidentes provas de que Deus lhes testava a fé. A 5 de novembro de 1910, os dois suecos
deixavam Nova lorque, a bordo do navio "Clement", oportunidade em que promoveram a evangelização

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 73


dos tripulantes e passageiros, registrando-se algumas decisões para Cristo. A chegada a Belém do Pará
deu-se a 19 de novembro.
Alojados no porão da Igreja Batista, na rua Balby n.0 406, permaneciam muitas horas em orações,
suas vidas no altar de Deus. E, tão logo começaram a falar em língua portuguesa, iniciaram trabalho
evangelístico, enquanto doutrinavam a respeito do batismo como Espírito Santo. Na pequena igreja
opunham-se alguns com grande resistência, aos ensinos dos dois missionários.
A 8 de junho de 1911, Celina Albuquerque recebia o batismo com o Espírito Santo e, no dia
seguinte Maria Nazaré, sua irmã, tinha a mesma experiência espiritual. Juntamente com elas, outros
membros e congregados foram expulsos do templo e organizavam, a 18 de junho de 1911, na residência
de Henrique Albuquerque, no bairro da Cidade Velha, Belém, a primeira igreja no mundo a adotar a
denominação de Assembléia de Deus. Gunnar Vingren foi, então, aclamado pastor da igreja. Sucederam-
no os pastores Samuel Nystron, Nels Julius Nelson, Francisco Pereira do Nascimento, José Pinto Menezes,
Alcebíades Pereira Vasconcelos e Firmino Assunção Gouveia.

* Movimento Pentecostal e Neo-Pentecostal


O Movimento Pentecostal teve suas origens no início do século XX nos Estados Unidos,
particularmente na cidade de Los Angeles, em 1906. Durante um período de intensa oração e busca
espiritual, ocorreu o que ficou conhecido como o "avivamento da Rua Azusa". Nesse avivamento, liderado
por William J. Seymour, ocorreram manifestações carismáticas, como falar em línguas e curas divinas,
que foram identificadas como um batismo do Espírito Santo.
O Movimento Pentecostal se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos e por outras partes do
mundo, por meio de missões e evangelismo. O foco principal era a experiência do batismo no Espírito
Santo e a ênfase na manifestação dos dons espirituais descritos no Novo Testamento, como profecias,
curas e falar em línguas.
No Brasil, o Movimento Pentecostal teve início na década de 1910, através de missionários
estrangeiros. Daniel Berg e Gunnar Vingren, suecos de origem, chegaram ao Brasil em 1910 e fundaram
a Assembleia de Deus, uma das primeiras denominações pentecostais do país. A mensagem do batismo
no Espírito Santo e a prática dos dons espirituais rapidamente atraíram seguidores, principalmente nas
regiões Norte e Nordeste.
A partir da década de 1970, surgiu no Brasil o movimento conhecido como Neo-Pentecostalismo.
Diferentemente do Pentecostalismo clássico, o Neo-Pentecostalismo trouxe uma maior ênfase na teologia
da prosperidade, no exorcismo e no uso de técnicas de cura e milagres. Líderes carismáticos, como Edir
Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, ganharam destaque nesse movimento.
O Neo-Pentecostalismo se expandiu consideravelmente no Brasil, alcançando milhões de fiéis e
exercendo influência na sociedade. As igrejas neo-pentecostais adotaram estratégias de mídia e marketing,
utilizando rádio, televisão e outras plataformas para alcançar um público mais amplo.

As diferenças entre pentecostais e neopentecostais estão relacionadas a certos aspectos


doutrinários, práticas de culto e abordagens ministeriais. Aqui estão algumas das diferenças mais comuns:
Origem histórica: Os movimentos pentecostal e neopentecostal têm origens distintas. O
movimento pentecostal surgiu no início do século XX como um ramo do protestantismo, enfatizando a
experiência do batismo no Espírito Santo e os dons espirituais, como falar em línguas. O movimento
neopentecostal é uma evolução posterior do pentecostalismo, surgindo principalmente nas décadas de
1970 e 1980, com uma ênfase maior na prosperidade material e na teologia da conquista.
Teologia da prosperidade: Enquanto ambos os grupos acreditam na intervenção divina na vida
dos fiéis, os neopentecostais tendem a enfatizar a teologia da prosperidade de forma mais acentuada. Isso
implica que a bênção de Deus é frequentemente associada a conquistas materiais e financeiras, e a doação
de dinheiro à igreja é vista como um meio para obter essas bênçãos.
Ênfase nos dons espirituais: Ambos os grupos acreditam na manifestação dos dons do Espírito
Santo, como mencionado na Bíblia. No entanto, os pentecostais tradicionais geralmente dão mais destaque
à experiência do batismo no Espírito Santo, incluindo o falar em línguas como sinal inicial dessa
experiência. Os neopentecostais podem enfatizar uma variedade mais ampla de dons espirituais, mas

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 74


também colocam uma forte ênfase na busca por sinais externos de poder espiritual, como curas milagrosas
e expulsão de demônios.
Batalha espiritual: Os neopentecostais costumam enfatizar a ideia de batalha espiritual e
confronto direto com forças demoníacas. Eles podem ensinar que muitos problemas e obstáculos
enfrentados pelos crentes são causados por ataques demoníacos e que é necessário combater essas forças
por meio de orações específicas, jejuns e rituais.
Abordagem ao culto: Embora haja variações entre as igrejas pentecostais e neopentecostais,
geralmente os pentecostais têm um estilo de culto mais tradicional, com destaque para o fervor emocional,
a música gospel, os testemunhos e a ênfase nos dons espirituais. Os neopentecostais costumam adotar uma
abordagem mais contemporânea, com um uso mais extenso de tecnologia, música contemporânea,
produções teatrais e uma ênfase na pregação da prosperidade e na resolução de problemas pessoais.
Influência política: Os neopentecostais têm sido mais ativos no cenário político e exercem
influência considerável em alguns países, especialmente no Brasil. Alguns líderes neopentecostais se
envolvem diretamente na política e buscam eleger candidatos alinhados com suas crenças, enquanto os
pentecostais tendem a se concentrar mais na evangelização e no ministério pastoral.
Ensinamentos sobre santificação: Enquanto os pentecostais tradicionais enfatizam a importância
da santificação e da vida piedosa, os neopentecostais podem ter uma abordagem mais permissiva em
relação ao comportamento pessoal. Isso não significa que todos os neopentecostais compartilhem essa
perspectiva, mas certas correntes enfatizam mais a obtenção de bênçãos materiais e a resolução de
problemas pessoais do que a ênfase na santificação moral.
Lembre-se de que essas diferenças teológicas são uma generalização e que cada igreja ou
denominação pode ter suas próprias ênfases e interpretações específicas da teologia. É sempre importante
considerar as nuances e as variações existentes dentro dos grupos pentecostais e neopentecostais.

Denominações Pentecostais:
• Assembleia de Deus - Fundada por Daniel Berg e Gunnar Vingren em 1911, em Belém, Pará.
• Congregação Cristã no Brasil - Estabelecida em 1910 por Luigi Francescon e Louis Francescon, em
São Paulo.
• Igreja do Evangelho Quadrangular - Fundada por Aimee Semple McPherson em 1922, em Chicago,
Estados Unidos, e chegou ao Brasil em 1951.
• Igreja Deus é Amor - Fundada por David Miranda em 1962, em São Paulo.
• Outras: O Brasil para Cristo, Evangélica Nova Vida, Voz da Verdade, Casa da Bênção, Manancial da
Vida, .....

Denominações Neopentecostais:
• Igreja Universal do Reino de Deus - Fundada por Edir Macedo em 1977, no Rio de Janeiro.
• Igreja Internacional da Graça de Deus - Fundada por R.R. Soares em 1980, no Rio de Janeiro.
• Igreja Renascer em Cristo - Fundada por Estevam Hernandes e Sônia Hernandes em 1986, em São Paulo.
• Igreja Mundial do Poder de Deus - Fundada por Valdemiro Santiago em 1998, em Sorocaba, São Paulo.
➢ Igreja Fonte da Vida - teve origem em Goiânia, Goiás, e é liderada pelo apóstolo César Augusto e sua
esposa, bispa Rúbia de Sousa.
➢ Igreja Videira, também conhecida como Comunidade Cristã Videira, teve origem em Goiânia, Goiás.
Ela foi fundada pelo apóstolo Luiz Hermínio.
➢ Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra - teve origem em Brasília, no Distrito Federal, Brasil. Foi
fundada pelo apóstolo Robson Rodovalho em 1992
➢ Comunidade da Graça: Fundada pelo pastor Caio Fábio, a Comunidade da Graça é uma denominação
neopentecostal no Brasil que enfatiza a graça divina, a vida em comunidade e o discipulado cristão.
➢ Comunidade Evangélica Internacional Zona Sul
➢ Comunidade Evangélica Vida Nova
➢ Outras: Igreja Bola de Neve, Plenitude do Trono de Deus, Igreja Cristã Maranata,

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 75


Aula 19 - IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL 31

A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas que têm em comum uma história, uma
forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária. Historicamente, a
IPB pertence à família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como
fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.
Suas origens mais remotas encontram-se nas reformas protestantes suíça e escocesa, no século 16,
lideradas por personagens como Ulrico Zuínglio, João Calvino e João Knox. O nome “igreja presbiteriana”
vem da maneira como a igreja é administrada, ou seja, através de “presbíteros” eleitos democraticamente
pelas comunidades locais. Essas comunidades são governadas por um “conselho” de presbíteros e estes
oficiais também integram os concílios superiores da igreja, que são os presbitérios, os sínodos e o Supremo
Concílio. Os presbíteros são de dois tipos: regentes (que governam) e docentes (que ensinam); estes
últimos são os pastores. Atualmente, a Igreja Presbiteriana do Brasil tem aproximadamente 3.840 igrejas
locais, 228 presbitérios, 55 sínodos, 2.660 pastores, 370.500 membros comungantes e 133.000 membros
não-comungantes (menores), estando presente em todos os estados da federação.
Quanto à sua teologia, as igrejas presbiterianas são herdeiras do pensamento do reformador João
Calvino (1509-1564) e das notáveis formulações confessionais (confissões de fé e catecismos) elaboradas
pelos reformados nos séculos 16 e 17. Dentre estas se destacam os documentos elaborados pela
Assembléia de Westminster, reunida em Londres na década de 1640. A Confissão de Fé de Westminster,
bem como os seus Catecismos Maior e Breve, são adotados oficialmente pela IPB como os seus símbolos
de fé ou padrões doutrinários. Outras igrejas presbiterianas adotam documentos adicionais, como a
Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg. O conjunto de convicções presbiterianas, conforme
expostas no pensamento de Calvino, de outros teólogos e dos citados documentos confessionais, é
denominado teologia calvinista ou teologia reformada. Entre as suas ênfases estão a soberania de Deus, a
eleição divina, a centralidade da Palavra e dos sacramentos, o conceito do pacto, a validade permanente
da lei moral e a associação entre a piedade e o cultivo intelectual.
No seu culto, as igrejas presbiterianas procuram obedecer ao chamado princípio regulador. Isso
significa que o culto deve ater-se às normas contidas na Escritura, não sendo aceitas as práticas proibidas
ou não sancionadas explicitamente pela mesma. O culto presbiteriano caracteriza-se por sua ênfase
teocêntrica (a centralidade do Deus triúno), simplicidade, reverência, hinódia com conteúdo bíblico e
pregação expositiva. Na prática, nem todas as igrejas locais da IPB seguem criteriosamente essas normas,
embora as mesmas tenham caracterizado historicamente o culto reformado. Os problemas causados pelo
afastamento desses padrões têm levado muitas igrejas a reconsiderarem as suas práticas litúrgicas e
resgatarem a sua herança nessa área fundamental. Quando se diz que o culto reformado é solene e
respeitoso, não se implica com isso que deva ser rígido e sem vida. O verdadeiro culto a Deus é também
fervoroso e alegre.
Finalmente, a vida das igrejas presbiterianas brasileiras não se restringe ao culto, por importante
que seja. Essas igrejas também valorizam a educação cristã dos seus adeptos através da Escola Dominical
e outros meios; congregam os seus membros em diferentes agremiações internas para comunhão e
trabalho; têm a consciência de possuir uma missão dada por Deus, a ser cumprida através da evangelização
e do testemunho cristão. Muitas igrejas locais se dedicam a outras atividades em favor da comunidade
mais ampla, como a manutenção de escolas, creches, orfanatos, ambulatórios e outras iniciativas de
promoção humana. Cada igreja possui um grupo de oficiais, os diáconos, cuja função primordial é o
exercício da misericórdia cristã. O presbiterianismo tem uma visão abrangente da vida, entendendo que o
evangelho de Cristo tem implicações para todas as áreas da sociedade e da cultura.

31
http://www.ipb.org.br/portal/historia/75-oqueeipb

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 76


DE ONDE VIEMOS?
O presbiterianismo ou movimento reformado nasceu da Reforma Protestante do século 16. Tendo
o protestantismo começado na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, pouco depois surgiu uma
segunda manifestação do mesmo no Cantão de Zurique, na Suíça, sob a direção de outro ex-sacerdote,
Ulrico Zuínglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo movimento ficou conhecido
como a Segunda Reforma ou Reforma Suíça. O entendimento de que a reforma suíça foi mais profunda
em sua ruptura com a igreja medieval e em seu retorno às Escrituras fez com que recebesse o nome de
movimento reformado e seus simpatizantes ficassem conhecidos simplesmente como “reformados”.
Ao morrer, em 1531, Zuínglio teve um hábil sucessor na pessoa de João Henrique Bullinger (1504-
1575). Todavia, poucos anos depois surgiu um líder que se destacou de todos os outros por sua inteligência,
dotes literários, capacidade de organização e profundidade teológica. Esse líder foi o francês João Calvino
(1509-1564), que concentrou os seus esforços na cidade suíça de Genebra, onde residiu durante 25 anos.
Através da sua obra magna, a Instituição da Religião Cristã ou Institutas, comentários bíblicos, tratados e
outros escritos, Calvino traçou os contornos básicos do presbiterianismo, tanto em termos teológicos
quanto organizacionais, à luz das Escrituras Sagradas.
Graças aos seus escritos, viagens, correspondência e liderança eficaz, Calvino exerceu enorme
influência em toda a Europa e contribuiu para a difusão do movimento reformado em muitas de suas
regiões. Dentro de poucos anos, a fé reformada fincou sólidas raízes no sul da Alemanha (Estrasburgo,
Heidelberg), na França, nos Países Baixos (as futuras Holanda e Bélgica) e no leste europeu, onde surgiram
comunidades reformadas em países como a Polônia, a Lituânia, a Checoslováquia e especialmente a
Hungria. Em algumas dessas nações, a reação violenta da Contra-Reforma limitou ou sufocou o novo
movimento, como foram, respectivamente, os casos da França e da Polônia. As igrejas calvinistas
nacionais da Europa continental ficaram conhecidas como igrejas reformadas (por exemplo, Igreja
Reformada da França).
Outra região da Europa em que a fé reformada teve ampla aceitação foram as Ilhas Britânicas,
particularmente a Escócia, cujo parlamento adotou o presbiterianismo como religião oficial em 1560. Para
tanto foi decisiva a atuação do reformador João Knox (1514-1572), que foi discípulo de Calvino em
Genebra. Foi nessa região que surgiu a designação “igreja presbiteriana”. Na Inglaterra e na Escócia dos
séculos 16 e 17, o presbiterianismo representou uma posição ao mesmo tempo teológica e política. Com
esse termo, as igrejas reformadas declaravam que não queriam uma igreja governada por bispos nomeados
pelos reis (episcopalismo), e sim por presbíteros eleitos pelas comunidades. Foi na Inglaterra que, em meio
a uma guerra civil, o parlamento convocou a Assembléia de Westminster (1643-1649), que elaborou os
documentos confessionais mais amplamente aceitos pelos presbiterianos ao redor do mundo.
Nos séculos 17 e 18, milhares de calvinistas emigraram para as colônias inglesas da América do
Norte. Muitos deles abraçavam a teologia de Calvino, mas não a forma de governo eclesiástico presbiterial
proposta por ele. Foi esse o caso dos puritanos ingleses que se estabeleceram na Nova Inglaterra. Ao
mesmo tempo, as colônias norte-americanas também receberam muitas famílias presbiterianas emigradas
da Escócia e do norte da Irlanda. Foram essas pessoas que eventualmente criaram a Igreja Presbiteriana
dos Estados Unidos, cujo primeiro concílio, o Presbitério de Filadélfia, foi organizado em 1706 sob a
liderança do Rev. Francis Makemie, considerado o “pai do presbiterianismo norte-americano”. O primeiro
Sínodo foi organizado em 1717 e a Assembléia Geral em 1789. Em 1859, a Junta de Missões Estrangeiras
da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos enviou ao Rio de Janeiro o Rev. Ashbel Green Simonton,
fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 77


DENOMINAÇÕES PRESBITERIANAS NO BRASIL 32

1. Igreja Presbiteriana do Brasil = A IPB é a mais antiga denominação reformada do país, tendo sido fundada
pelo missionário Ashbel Green Simonton (1833-1867), que aqui chegou em 1859. Mais tarde, ao longo do século
20, surgiram outras igrejas congêneres que também se consideram herdeiras da tradição calvinista. Elas são as
seguintes, por ordem cronológica de organização: Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (1903), com sede em
São Paulo; Igreja Presbiteriana Conservadora (1940), com sede em São Paulo; Igreja Presbiteriana Fundamentalista
(1956), com sede em Recife; Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil (1975), com sede em Arapongas, Paraná, e
Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (1978), com sede no Rio de Janeiro. www.ipb.org.br

2. Igreja Presbiteriana Independente do Brasil = Surgiu em 1903 como uma denominação totalmen-te nacional,
sem vinculação com igrejas estrangeiras. Resultou do projeto nacionalista do Rev. Eduardo Carlos Pereira (1856-
1923), que entrou em conflito com o Sínodo da IPB em torno das questões missionária, educacional e maçônica.
Em 1907, a IPI tinha 56 igrejas e 4.200 membros comungantes. Fundou um seminário em São Paulo. Em 1908 foi
instalado o seu Sínodo, inicialmente com três presbitérios; em 1957 foi criado o Supremo Concílio, com três sínodos,
dez presbitérios, 189 igrejas locais e 105 pastores. O Estandarte, fundado em 1893, é até hoje o jornal oficial. Após
o Congresso do Panamá (1916), a IPI aproximou-se da IPB e das outras igrejas evangélicas. A partir de 1930, surgiu
um movimento de intelectuais (entre eles o Rev. Eduardo Pereira de Magalhães, neto de Eduardo C. Pereira) que
pretendia reformar a liturgia, certos costumes eclesiásticos e até mesmo a Confissão de Fé. A questão eclodiu no
Sínodo de 1938. Um grupo organizou a Liga Conservadora, liderada pelo Rev. Bento Ferraz. A elite liberal retirou-
se da IPI em 1942 e formou a Igreja Cristã de São Paulo.

3. Igreja Presbiteriana Conservadora = Foi fundada em 11-02-1940 pelos membros da Liga Conservadora da
IPI, sob a liderança do Rev. Bento Ferraz. Outros líderes conhecidos foram o Dr. Flamínio Fávero, o Rev. Rafael
Pages Camacho, ex-pastor da 2ª I. P. Independente de São Paulo, e o Rev. Francisco Augusto Pereira Júnior. Em
1957, contava com mais de vinte igrejas, em quatro estados. Tem um seminário em Riacho Grande, município de
São Bernardo do Campo. Seu órgão oficial é O Presbiteriano Conservador (1940). Por alguns anos foi filiada à
Aliança Latino-Americana de Igrejas Cristãs e à Confederação de Igrejas Evangélicas Fundamentalistas do Brasil.
Hoje tem cerca de oitenta igrejas e congregações, em dez estados da federação. Sua sede nacional está localizada
em São Paulo.

4. Igreja Presbiteriana Fundamentalista = Na década de 1950, Israel Furtado Gueiros, pastor da histórica 1ª
Igreja Presbiteriana de Recife (1878) e ligado ao Concílio Internacional de Igrejas Cristãs, fundado por Carl
McIntire, liderou uma campanha contra o Seminário do Norte sob a acusação de modernismo. Gueiros fundou outro
seminário e foi deposto pelo Presbitério de Pernambuco em julho de 1956. Em 21 de setembro do mesmo ano foi
organizada a IPFB com quatro igrejas locais (incluindo elementos batistas e congregacionais), que formaram um
presbitério com 1800 membros. A pequena denominação tem igrejas no Nordeste, na Amazônia e apenas uma no
sul do país. Há alguns anos, a igreja-mãe de Recife retornou à IPB.

5. Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil = Em 1968, como resultado do "movimento de renovação" na IPB,
surgiu em Cianorte, no Paraná, a Igreja Cristã Presbiteriana. Em 1972, um segmento separou-se da IPI para formar
a Igreja Presbiteriana Independente Renovada, em Assis, São Paulo. Em 1975, os dois grupos se uniram, criando a
Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil.

6. Igreja Presbiteriana Unida do Brasil = Foi fundada por elementos que discordaram da postura conservadora
da IPB durante a administração do Rev. Boanerges Ribeiro (1966-1978). Surgiram dois grupos dissidentes. Em
1974, membros do Presbitério de São Paulo criaram a Aliança de Igrejas Reformadas. Em 1978, foi criada a
Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP), em Atibaia. Em 1983, na cidade de Vitória, a FENIP adotou
o nome de Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. Essa igreja adota uma postura teológica liberal e pluralista.

32
Alderi Souza de Matos, http://www.mackenzie.br/10175.html

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 78


Aula 20 - HISTÓRICO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
Alderi Souza de Matos33
Atualmente existem no Brasil várias denominações de origem reformada ou calvinista. Entre elas incluem-
se a Igreja Presbiteriana Independente, a Igreja Presbiteriana Conservadora e algumas igrejas criadas por
imigrantes vindos da Europa continental, tais como suíços, holandeses e húngaros. No entanto, a maior e mais
antiga denominação reformada do país é a Igreja Presbiteriana do Brasil. Ao mesmo tempo, convém lembrar que
já nos primeiros séculos da história do Brasil houve a presença de calvinistas em nosso país.

I. Primórdios do Movimento Reformado no Brasil

1. A França Antártica
Os primeiros calvinistas chegaram ao Brasil ainda no começo da sua história. No final de 1555, um grupo
de franceses liderados por Nicolas Durand de Villegaignon instalou-se em uma das ilhas da baía de Guanabara.
Um ano e meio mais tarde, chegou à "França Antártica" um grupo de colonos e pastores reformados enviados
pelo próprio João Calvino, em resposta a um pedido de Villegaignon. No dia 10 de março de 1557 esses evangélicos
realizaram o primeiro culto protestante do Brasil e possivelmente do Novo Mundo. Eventualmente, surgiram
desavenças teológicas entre Villegaignon e os calvinistas. Cinco deles foram presos e forçados a escrever uma
declaração de suas convicções. O resultado foi a bela "Confissão de Fé da Guanabara." Com base nessa declaração,
três dos calvinistas foram executados e outro foi poupado por ser o único alfaiate da colônia. O quinto autor da
confissão de fé, Jacques le Baleur, conseguiu fugir, mas eventualmente foi preso e mais tarde enforcado. Dentre
os que conseguiram retornar para a França estava o sapateiro Jean de Léry, que mais tarde tornou-se pastor e
escreveu a célebre obra Viagem à Terra do Brasil (1578).

2. O Brasil Holandês
A próxima tentativa de introdução do calvinismo no Brasil ocorreu em meados do século XVII através dos
holandeses. No contexto da guerra contra a Espanha, a Companhia das Índias Ocidentais ocupou o nordeste
brasileiro por vinte e quatro anos (1630-1654). O mais famoso governante do Brasil holandês foi o príncipe João
Maurício de Nassau-Siegen, que aqui esteve apenas sete anos (1637-1644). Embora os residentes católicos e
judeus tenham gozado de tolerância religiosa, a igreja oficial da colônia era a Igreja Reformada da Holanda, que
realizou uma grande obra pastoral e missionária. Ao longo dos anos foram criadas 22 igrejas e congregações, dois
presbitérios (Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Além da assistência
aos colonos europeus, a igreja reformada fez um notável trabalho missionário junto aos indígenas. Ao lado da
pregação e ensino, houve a preparação de um catecismo na língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução
das Escrituras e a ordenação de pastores indígenas, o que não chegou a efetivar-se. Com a expulsão dos
holandeses, as igrejas nativas vieram a extinguir-se e por um século e meio desapareceram os vestígios do
calvinismo no Brasil.

3. O Protestantismo de Imigração
O protestantismo em geral e o presbiterianismo em particular só puderam estabelecer-se definitivamente
no Brasil após a chegada da família real, em 1808. Em 1810, Portugal e a Inglaterra firmaram um Tratado de
Comércio e Navegação cujo artigo XII pela primeira vez em nossa história concedeu liberdade religiosa aos
imigrantes protestantes. Logo, muitos deles começaram a chegar de diversas regiões da Europa, inclusive
reformados franceses, suíços e alemães. Em 1827, por iniciativa do cônsul da Prússia, foi fundada no Rio de Janeiro
a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, que congregava luteranos e calvinistas.
Durante várias décadas, o calvinismo ficou restrito às comunidades imigrantes, sem atingir os brasileiros.
Os poucos pastores reformados ou presbiterianos que por aqui passaram restringiram suas atividades religiosas
aos estrangeiros. Tal foi o caso do Rev. James Cooley Fletcher, um pastor presbiteriano norte-americano que teve
uma longa e frutífera ligação com o Brasil a partir de 1851. Ele deu assistência religiosa a marinheiros e imigrantes
europeus, procurou aproximar o Brasil e os Estados Unidos nas áreas diplomática, comercial e cultural e escreveu
o livro O Brasil e os Brasileiros, publicado em 1857. Através de seus contatos com políticos e intelectuais
brasileiros, Fletcher contribuiu indiretamente para a introdução do protestantismo no Brasil. Foi por sua sugestão

33
Histórico da Igreja Presbiteriana do Brasil (thirdmill.org)

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 79


que o missionário congregacional inglês Robert Reid Kalley veio para o Brasil em 1855. Finalmente, o
presbiterianismo foi implantado entre os brasileiros pelo Rev. Ashbel Green Simonton, que aqui chegou em 1859.

II. História da Igreja Presbiteriana do Brasil


A história da Igreja Presbiteriana do Brasil divide-se em alguns períodos bem definidos.

1. Implantação (1859-1869)
O surgimento do presbiterianismo no Brasil resultou do pioneirismo e desprendimento do Rev. Ashbel
Green Simonton (1833-1867). Nascido em West Hanover, na Pensilvânia, Simonton estudou no Colégio de Nova
Jersey e inicialmente pensou em ser professor ou advogado. Alcançado por um reavivamento em 1855, fez a sua
profissão de fé e pouco depois ingressou no Seminário de Princeton. Um sermão pregado por seu professor, o
famoso teólogo Charles Hodge, levou-o a considerar o trabalho missionário no estrangeiro. Três anos depois,
candidatou-se perante a Junta de Missões da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, citando o Brasil como campo
de sua preferência. Dois meses após a sua ordenação, embarcou para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 12
de agosto de 1859, aos 26 anos de idade.
Em abril de 1860, Simonton dirigiu o seu primeiro culto em português. Em janeiro de 1862, recebeu os
primeiros conversos, sendo fundada a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. No breve período em que viveu no
Brasil, Simonton, auxiliado por alguns colegas, fundou o primeiro periódico evangélico do país (Imprensa
Evangélica, 1864), criou o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e organizou um seminário (1867). O Rev. Ashbel
Simonton morreu vitimado pela febre amarela aos 34 anos, em 1867 (sua esposa, Helen Murdoch, havia falecido
três anos antes).
Os principais colaboradores de Simonton nesse período foram seu cunhado Alexander L. Blackford, que
em 1865 organizou as Igrejas de São Paulo e Brotas; Francis J. C. Schneider, que trabalhou entre os imigrantes
alemães em Rio Claro, lecionou no seminário do Rio e foi missionário na Bahia; e George W. Chamberlain, grande
evangelista e operoso pastor da Igreja de São Paulo. Os quatro únicos estudantes do "seminário primitivo" foram
eficientes pastores: Antonio Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves Torres, Modesto Perestrelo Barros de Carvalhosa
e Antonio Pedro de Cerqueira Leite.
Outras poucas igrejas organizadas no primeiro decênio foram as de Lorena, Borda da Mata (Pouso Alegre)
e Sorocaba. O homem que mais contribuiu para a criação dessas e outras igrejas foi o notável Rev. José Manoel
da Conceição (1822-1873), um ex-sacerdote que tornou-se o primeiro brasileiro a ser ordenado ministro do
evangelho (1865). Conceição visitou incansavelmente dezenas de vilas e cidades no interior de São Paulo, Vale do
Paraíba e sul de Minas, pregando o evangelho da graça.

2. Consolidação (1869-1888)
Simonton e seus companheiros eram todos da Igreja Presbiteriana do norte dos Estados Unidos (PCUSA).
Em 1869 chegaram os primeiros missionários da igreja do sul (PCUS): George Nash Morton e Edward Lane. Eles
fixaram-se em Campinas, região onde residiam muitas famílias norte-americanas que vieram para o Brasil após a
Guerra Civil no seu país (1861-1865). Em 1870, Morton e Lane fundaram a igreja de Campinas e em 1873 o famoso,
porém efêmero, Colégio Internacional. Os missionários da PCUS evangelizaram a região da Mogiana, o oeste de
Minas, o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. O pioneiro em várias dessas regiões foi o incansável Rev. John Boyle,
falecido em 1892.
Os obreiros da PCUS também foram os pioneiros presbiterianos no nordeste e norte do Brasil (de Alagoas
até a Amazônia). Os principais foram John Rockwell Smith, fundador da igreja do Recife (1878); DeLacey Wardlaw,
pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W. Butler, o "médico amado" de Pernambuco. O mais conhecido dentre os
primeiros pastores brasileiros do nordeste foi o Rev. Belmiro de Araújo César, patriarca de uma grande família
presbiteriana.
Enquanto isso, os missionários da Igreja do norte dos Estados Unidos, auxiliados por novos colegas, davam
continuidade ao seu trabalho. Seus principais campos eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e
Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb; Rio de Janeiro, que inaugurou seu templo em 1874, e Nova Friburgo, onde
trabalhou o Rev. John M. Kyle; Paraná, cujos pioneiros foram Robert Lenington e George A. Landes; e
especialmente São Paulo. Na capital paulista, o casal Chamberlain fundou em 1870 a Escola Americana, que mais
tarde veio a ser o Mackenzie College, dirigido pelo educador Horace Manley Lane. No interior da província
destacou-se o Rev. João Fernandes Dagama, português da Ilha da Madeira. No Rio Grande do Sul, trabalhou por
algum tempo o Rev. Emanuel Vanorden, um judeu holandês.

HISTÓRIA DA IGREJA - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 80


Entre os novos pastores "nacionais" desse período estavam Eduardo Carlos Pereira, José Zacarias de
Miranda, Manuel Antônio de Menezes, Delfino dos Anjos Teixeira, João Ribeiro de Carvalho Braga e Caetano
Nogueira Júnior. As duas igrejas norte-americanas também enviaram ao Brasil algumas notáveis missionárias
educadoras como Mary Parker Dascomb, Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper.

3. Dissensão (1888-1903)
Em setembro de 1888 foi organizado o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, que assim tornou-se
autônoma, desligando-se das igrejas-mães norte-americanas. O Sínodo compunha-se de três presbitérios (Rio de
Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e Pernambuco) e tinha vinte missionários, doze pastores nacionais e cerca de
60 igrejas. O primeiro moderador foi o veterano Rev. Blackford. O Sínodo criou o Seminário Presbiteriano, elegeu
seus dois primeiros professores e dividiu o Presbitério de Campinas e Oeste de Minas em dois: São Paulo e Minas.
Nesse período a denominação expandiu-se grandemente, com muitos novos missionários, pastores brasileiros e
igrejas locais. O Seminário começou a funcionar em Nova Friburgo no final de 1892 e no início de 1895 transferiu-
se para São Paulo, tendo à frente o Rev. John Rockwell Smith. O Mackenzie College ou Colégio Protestante foi
criado em 1891, sendo seu primeiro presidente o Dr. Horace Manley Lane. Por causa da febre amarela, o Colégio
Internacional foi transferido de Campinas para Lavras, e mais tarde veio a chamar-se Instituto Gammon, numa
homenagem ao seu grande líder, o Rev. Samuel R. Gammon (1865-1928).
A primeira escola evangélica do nordeste foi o Colégio Americano de Natal (1895), fundado por Katherine
H. Porter, esposa do Rev. William C. Porter. Na mesma época, a cidade de Garanhuns começou a tornar-se um
grande centro da obra presbiteriana. Além do trabalho evangelístico, foram lançadas as bases de duas importantes
instituições educacionais: o Colégio Quinze de Novembro e o Seminário do Norte, hoje sediado em Recife. No final
desse período, além de estar presente em todos os estados do nordeste, a Igreja Presbiteriana chegou ao Pará e
ao Amazonas.
No sul, foi iniciada a obra presbiteriana em Santa Catarina (São Francisco do Sul e Florianópolis). A igreja
também iniciou a sua marcha vitoriosa no leste de Minas. O primeiro obreiro a residir em Alto Jequitibá foi o Rev.
Matatias Gomes dos Santos (1901). As igrejas de São Paulo e do Rio de Janeiro passaram a ser pastoreadas por
dois grandes líderes, respectivamente Eduardo Carlos Pereira (1888) e Álvaro Emídio G. dos Reis (1897).
Infelizmente, os progressos desse período foram em parte ofuscados por uma grave crise que se abateu
sobre a vida da igreja. Inicialmente, surgiu uma diferença de prioridades entre o Sínodo e a Junta de Missões de
Nova York. O Sínodo queria apoio para a obra evangelística e para instalar o Seminário, ao passo que a Junta
preferiu dar ênfase à obra educacional, principalmente através do Mackenzie College. Paralelamente, surgiram
desentendimentos entre o pastor da Igreja Presbiteriana de São Paulo, Rev. Eduardo Carlos Pereira, e os líderes
do Mackenzie, Horace M. Lane e William A. Waddell.
Com o passar do tempo, o Rev. Eduardo C. Pereira passou a tornar-se mais radical em suas posições,
perdendo o apoio até mesmo de muitos dos seus colegas brasileiros. Como uma alternativa ao jornal do Rev.
Eduardo, O Estandarte, o Rev. Álvaro Reis criou O Puritano em 1899. Em 1900 foi organizada a Igreja Presbiteriana
Unida de São Paulo, que resultou da fusão de duas igrejas formadas por pessoas que haviam saído da igreja do
Rev. Eduardo. Na mesma época, um novo problema veio complicar ainda mais a situação: o debate acerca da
maçonaria.
Em março de 1902, Eduardo C. Pereira e seus partidários começaram a divulgar a sua Plataforma, com
cinco tópicos sobre as questões missionária, educativa e maçônica. Após pouco mais de um ano de debates
acalorados, a crise chegou ao seu lamentável desfecho em 31 de julho de 1903, durante a reunião do Sínodo. Após
serem derrotados em suas propostas, Eduardo Carlos Pereira e seus colegas desligaram-se do Sínodo e formaram
a Igreja Presbiteriana Independente.

4. Reconstituição (1903-1917)
No início de agosto de 1903, os independentes organizaram o seu presbitério, com quinze presbíteros e
sete pastores (Eduardo C. Pereira, Caetano Nogueira Jr., Bento Ferraz, Ernesto Luiz de Oliveira, Otoniel Mota,
Alfredo Borges Teixeira e Vicente Temudo Lessa). Seguiu-se um triste período de divisões de comunidades, luta
pela posse de propriedades, litígios judiciais. Uma pastoral do Presbitério Independente chegou a vedar aos
sinodais a Ceia do Senhor. O período mais conflitivo estendeu-se até 1906. Nessa época, o Sínodo contava com 77
igrejas e cerca de 6500 membros; em 1907, os independentes tinham 56 igrejas e 4200 comungantes.
O prédio do seminário, no bairro Higienópolis, foi ocupado sem solenidade em setembro de 1899. Os
principais professores eram os Revs. John R. Smith e Erasmo Braga (este a partir de 1901); o membro mais

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destacado da diretoria era o Rev. Álvaro Reis. Em fevereiro de 1907, o seminário foi transferido para Campinas,
ocupando a antiga propriedade do Colégio Internacional. A primeira turma de Campinas só se formou em 1912.
Entre os formandos estavam Tancredo Costa, Herculano de Gouvêa Jr., Miguel Rizzo Jr. e Paschoal Luiz Pitta. Mais
tarde viriam Guilherme Kerr, Jorge T. Goulart, Galdino Moreira e José Carlos Nogueira.
A obra presbiteriana crescia em muitos lugares. A primeira cidade atingida no Leste de Minas foi Alto
Jequitibá (Manhuaçu) e no Espírito Santo, São José do Calçado. Os primeiros pastores daqueles campos foram
Matatias Gomes dos Santos, Aníbal Nora, Constâncio Omero Omegna e Samuel Barbosa. No Vale do Ribeira, o
dinâmico evangelista Willes Roberto Banks continuava em atividade. A família Vassão daria grandes contribuições
à igreja.
Em 1907, o Sínodo dividiu-se em dois (Norte e Sul) e em 1910 foi organizada a Assembléia Geral da Igreja
Presbiteriana do Brasil. O moderador do último sínodo e instalador da Assembléia Geral foi o veterano Modesto
Carvalhosa, ordenado 40 anos antes. A Assembléia Geral foi instalada na Igreja do Rio de Janeiro e o Rev. Álvaro
Reis foi eleito seu primeiro moderador. Os conciliares visitaram a Ilha de Villegaignon para lembrar os mártires
calvinistas e comemorar o quarto centenário do nascimento de Calvino. Na época, a Igreja Presbiteriana do Brasil
tinha 10 mil membros comungantes, outro tanto de menores e cerca de 150 igrejas em sete presbitérios. As
demais denominações tinham os seguintes números – metodistas: 6 mil membros; independentes: 5 mil; batistas:
5 mil; e episcopais: cerca de mil. Em 1911, a IPB enviou a Portugal o seu primeiro missionário, Rev. João da Mota
Sobrinho, que lá permaneceu até 1922.
Os missionários americanos continuavam em plena atividade. Devido a divergências quanto ao lugar da
educação na obra missionária, a Missão Sul da PCUS dividiu-se em duas: Missão Leste (Lavras) e Missão Oeste
(Campinas). O Rev. William Waddell fundou uma influente escola em Ponte Nova, Bahia. Pierce, um filho de
Chamberlain, trabalhou na Bahia de 1899 a 1909. A obra presbiteriana no Mato Grosso começou nesse período:
os pioneiros foram os missionários Franklin Graham (1913) e Filipe Landes (1915).
Em 1917, foi aprovado o Modus Operandi, um acordo entre a igreja brasileira e as missões norte-
americanas pelo qual os missionários desligaram-se dos concílios da IPB, separando-se os campos nacionais
(presbitérios) dos campos das missões. Em 1924, a Assembléia Geral reuniu-se pela primeira sem qualquer
missionário como delegado de presbitério.

5. Cooperação (1917-1932)
O maior líder presbiteriano desse período foi o Rev. Erasmo de Carvalho Braga (1877-1932), professor do
Seminário e secretário da Assembléia Geral. Em 1916, participou com dois colegas do Congresso de Ação Cristã
na América Latina, no Panamá. Poucos anos depois, tornou-se o dinâmico secretário da Comissão Brasileira de
Cooperação, entidade que liderou um grande esforço cooperativo entre as igrejas evangélicas do Brasil na década
de 1920. As principais áreas de cooperação foram literatura, educação cristã e educação teológica. Foi fundado
no Rio de Janeiro o Seminário Unido, que existiu até 1932.
Outros esforços cooperativos desse período foram: (1) Instituto José Manoel da Conceição, fundado pelo
Rev. William A. Waddell na cidade de Jandira, perto de São Paulo (1928); visava preparar os jovens que depois
seguiriam para o seminário. (2) Associação Evangélica de Catequese dos Índios (1928), depois Missão Evangélica
Caiuá: idealizada pelo Rev. Albert S. Maxwell e instalada em Dourados, Mato Grosso, num esforço cooperativo
das igrejas presbiteriana, independente, metodista e episcopal.
O Seminário de Campinas correu o risco de ser extinto por causa do Seminário Unido, mas finalmente
superou a crise. Em 1921, o Seminário do Norte foi transferido para o Recife. As principais instituições
educacionais das missões eram o Colégio Agnes Erskine, em Recife; Colégio 15 de Novembro (Garanhuns); Escola
de Ponte Nova (Bahia); Colégio 2 de Julho (Salvador); Instituto Gammon (Lavras); Instituto Cristão (Castro) e
principalmente o Mackenzie College. Os principais periódicos presbiterianos eram O Puritano e o Norte
Evangélico.
Em 1924, a Assembléia Geral encerrou o trabalho missionário em Lisboa. No mesmo ano, Erasmo Braga e
alguns amigos fundaram a Sociedade Missionária Brasileira de Evangelização em Portugal, que enviou para aquele
país o Rev. Paschoal Luiz Pitta e sua esposa Odete. O casal ali esteve por quinze anos (1925-1940), regressando ao
Brasil devido à constante falta de recursos.
Em 1921, morreu o Rev. Antonio Bandeira Trajano. Com ele desapareceu a primeira geração de obreiros
presbiterianos no Brasil, os da década de 1860. Outros obreiros falecidos nesse período foram: Eduardo Carlos
Pereira (1923), Álvaro Reis (1925), Carlota Kemper (1927), Samuel Gammon (1928) e Erasmo Braga (1932). Além
do seu trabalho na área religiosa, vários dos pioneiros presbiterianos deram valiosa contribuição de ordem

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intelectual e literária. Alguns autores e os livros que os celebrizaram são os seguintes: Modesto Carvalhosa
(Escrituração Mercantil), Antonio Trajano (Álgebra Elementar), Eduardo C. Pereira (Gramática Expositiva), Otoniel
Motta (O Meu Idioma) e Erasmo Braga (Série Braga).

6. Organização (1932-1959)
Nas décadas de 1930 a 1950, a IPB continuou a crescer e a aperfeiçoar a sua estrutura, criando entidades
voltadas para o trabalho feminino, mocidade, missões nacionais e estrangeiras, literatura e ação social. O período
terminou com a comemoração do centenário do presbiterianismo no Brasil.
Nessa época, a igreja era constituída dos seguintes sínodos: (1) Setentrional: estendia-se de Alagoas até a
Amazônia, estando o maior número de igrejas no Estado de Pernambuco; (2) Bahia-Sergipe: criado em 1950,
quando o Presbitério Bahia-Sergipe, antigo campo da Missão Central, dividiu-se nos presbitérios de Salvador,
Campo Formoso e Itabuna; (3) Minas-Espírito Santo: surgiu em 1946, abrangendo o leste de Minas e o Espírito
Santo, a região de maior crescimento da igreja; (4) Central: formado em 1928, incluía o Estado do Rio de Janeiro,
bem como o sul e o oeste de Minas Gerais; (5) Meridional: sínodo histórico (1910-47), abrangia São Paulo, Paraná
e Santa Catarina; (6) Oeste do Brasil: foi formado em 1947, abrangendo todo o norte e oeste de São Paulo. No
final da década de 50, foram entregues pelas missões os Presbitérios do Triângulo Mineiro, Goiás e Cuiabá.
Nesse período, as missões norte-americanas continuaram o seu trabalho: (1) PCUS: (a) Missão Norte:
atuou no nordeste, onde o principal obreiro foi o Rev. William Calvin Porter (†1939); o campo mais importante
era o de Garanhuns, onde estavam o Colégio 15 de Novembro e o jornal Norte Evangélico; (b) Missão Leste: atuou
no oeste de Minas e depois em Dourados, Mato Grosso, cuja igreja foi organizada em 1951. (c) Missão Oeste:
concentrou-se mais no Triângulo Mineiro, onde o casal Edward e Mary Lane fundou em 1933 o Instituto Bíblico
de Patrocínio. (2) PCUSA: (a) Missão Central: seus principais campos eram Ponte Nova/Itacira, a bacia do Rio São
Francisco, o sul da Bahia e o norte de Minas.; (b) Missão Sul: atuou no Paraná e Santa Catariana, fundindo-se com
a Missão Central por volta de 1937. O Rev. Filipe Landes foi grande evangelista no Mato Grosso (norte e sul). Em
Rio Verde, Goiás, atuou o Rev. Dr. Donald Gordon, que fundou um importante hospital.
Trabalho feminino: as primeiras sociedades de senhoras surgiram em 1884-85 e as primeiras federações,
na década de 1920. Os primeiros secretários gerais do trabalho feminino foram o Rev. Jorge T. Goulart e as sras.
Genoveva Marchant, Blanche Lício, Cecília Siqueira e Nady Werner. O primeiro congresso nacional reuniu-se na I.
P. Riachuelo, no Rio de Janeiro, em 1941; o segundo congresso realizou-se também no Rio em 1954. A SAF em
Revista foi criada em 1954.
Mocidade: algumas entidades precursoras foram a Associação Cristã de Moços (Myron Clark), o Esforço
Cristão (Clara Hough) e a União Cristã de Estudantes do Brasil (Eduardo P. Magalhães). Benjamim Moraes Filho foi
o primeiro secretário do trabalho da mocidade, em 1938. O primeiro congresso nacional reuniu-se em Jacarepaguá
em 1946, quando foi criada a confederação. Entre os líderes da época estavam Francisco Alves, Jorge César Mota,
Paulo César, Waldo César, Tércio Emerique, Gutemberg de Campos, Paulo Rizzo e Billy Gammon.
Missões Nacionais: em 1940 foi organizada na I. P. Unida a Junta Mista de Missões Nacionais, com
representantes da IPB e das missões norte-americanas. Entre os primeiros líderes estavam Coriolano de Assunção,
Guilherme Kerr, Filipe Landes, Eduardo Lane, José Carlos Nogueira e Wilson N. Lício. Até 1958, a Junta ocupou
quinze regiões em todo o Brasil, com cerca de 150 locais de pregação. Em 1950 foi criada a Missão Presbiteriana
da Amazônia.
Missão em Portugal: os primeiros obreiros foram João da Mota Sobrinho (1911-1922) e Paschoal Luiz Pitta
(1925-1940). Em 1944 a IPB assumiu o trabalho e foi criada a Junta de Missões Estrangeiras, com o apoio das
igrejas norte-americanas. Os primeiros missionários foram Natanael Emerique, Aureliano Lino Pires, Natanael
Beuttenmuller e Teófilo Carnier.
Outras organizações: (a) Casa Editora: começou a ser organizada em 1945, no início da Campanha do
Centenário, sob a liderança do Rev. Boanerges Ribeiro. A primeira sede foi instalada em dependências cedidas
pela I. P. Unida, na Rua Helvetia. (b) Orfanatos: em 1910, a Assembléia Geral planejou um orfanato para Lavras;
em 1919, passou a funcionar em Valença, e em 1929 veio a ocupar uma propriedade da I. P. de Copacabana em
Jacarepaguá. O orfanato foi denominado Instituto Álvaro Reis. (c) Conselho Interpresbiteriano (CIP): foi criado em
1955 para superintender as relações da IPB com as missões e as juntas missionárias dos Estados Unidos. Tinha
mais autoridade que o "modus operandi" de 1917.
Outras igrejas: (a) Igreja Presbiteriana Independente: em 1957, foi criado o Supremo Concílio, com três
sínodos, dez presbitérios, 189 igrejas, 105 pastores e cerca de 30 mil membros comungantes; O
Estandarte continuou a ser o jornal oficial. No final dos anos 30 houve um conflito teológico. Em 1942, um grupo

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de intelectuais liberais (entre os quais o Rev. Eduardo P. Magalhães) retirou-se da IPI e formou a Igreja Cristã de
São Paulo. (b) Igreja Presbiteriana Conservadora: foi fundada em 1940 pelos membros da Liga Conservadora da
IPI. Em 1957, contava com mais de vinte igrejas em quatro estados e tinha um seminário. Seu órgão oficial é O
Presbiteriano Conservador. (c) Igreja Presbiteriana Fundamentalista: foi fundada em 1956 pelo Rev. Israel Gueiros,
pastor da 1ª I. P. de Recife e ligado ao Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (do líder fundamentalista norte-
americano Carl McIntire).
Neste período, a IPB participou de vários movimentos cooperativos: Associação Evangélica Beneficente
(fundada por Otoniel Mota em 1928), Associação Cristã de Beneficência Ebenézer (dirigida pelo Dr. Benjamin
Hunnicutt), Missão Evangélica Caiuá, Instituto José Manoel da Conceição, Confederação Evangélica do Brasil
(fundada em 1934), Sociedade Bíblica do Brasil, Centro Áudio-Visual Evangélico (CAVE, fundado em 1951) e
Universidade Mackenzie, que seria transferida à IPB no início dos anos 60.
Constituição da IPB: em 1924, foram aprovadas pequenas modificações no antigo Livro de Ordem adotado
quando da criação do Sínodo, em 1888. Em 1937, entrou em vigor a nova Constituição da Igreja (os independentes
haviam aprovado a sua três anos antes), sendo criado o Supremo Concílio. Houve protestos do norte contra alguns
pontos: diaconato para ambos os sexos, "confirmação" em vez de "profissão de fé" e o nome "Igreja Cristã
Presbiteriana." Em 1950, foi promulgada um nova Constituição e no ano seguinte o Código de Disciplina e os
Princípios de Liturgia.
Estatística: em 1957, a IPB contava com seis sínodos, 41 presbitérios, 489 igrejas, 883 congregações, 369
ministros, 127 candidatos ao ministério, 89.741 membros comungantes e 71.650 não-comungantes. Os primeiros
presidentes do Supremo Concílio foram os Revs. Guilherme Kerr, José Carlos Nogueira, Natanael Cortez, Benjamim
Moraes Filho e José Borges dos Santos Júnior.
A Campanha do Centenário foi lançada em 1946, tendo como objetivos: avivamento espiritual, expansão
numérica, consolidação das instituições da igreja, afirmação da fé reformada e homenagem aos pioneiros. A
Comissão Central do Centenário, organizada em 1948, enfrentou muitas dificuldades. Após 1950, a campanha
ganhou ímpeto. A Comissão Unida do Centenário (IPB, IPI e Igreja Reformada Húngara) planejou uma grande
campanha evangelística com a participação de Edwyn Orr e William Dunlap, que estendeu-se por todo o país em
1952. Outras medidas foram a criação do Museu Presbiteriano, do Seminário do Centenário e do jornal Brasil
Presbiteriano, resultante da fusão de O Puritano e Norte Evangélico (1958). A 18ª Assembléia da Aliança
Presbiteriana Mundial reuniu-se em São Paulo de 27 de julho a 6 de agosto de 1959. O lema do centenário foi:
"Um ano de gratidão por um século de bênçãos."

Para uma versão mais completa, acesse: História da Igreja Presbiteriana do Brasil I (1859-1959)
(thirdmill.org)

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