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Resposta:
Os enunciados descritivos (aos quais os tipos fazem parte), são aqueles que
possuem a função de apresentar informações diversas sobre o mundo ao qual
fazemos parte, podendo ser falsos ou verdadeiros. Eles não possuem a intenção de
guiar o comportamento do indivíduo ao qual se destinam, nem mudar o
comportamento deste indivíduo, por causa dele. Eles limitam-se a informar ao
destinatário como as coisas estão, são ou têm sido. Para Humberto Ávila, por essa
razão, os enunciados descritivos “comportam um significado cognoscitivo em
sentido estrito, não normativo: seu destinatário limita-se a acreditar ou não em seu
conteúdo, sem ser instado a mudar de comportamento com base nele ou por causa
dele.” Por outro lado, os enunciados prescritivos, possuem a função de dirigir,
instruir, modificar ou influenciar a conduta do indivíduo ao qual ele se destina, por
essa razão, não podem, como os enunciados descritivos, ser considerados
verdadeiros e nem falsos. É o caso das normas jurídicas. Um exemplo disso é o
artigo 129 do Código Penal, que versa sobre lesão corporal e prevê que a ofensa à
integridade corporal ou saúde de outrem gera pena de detenção de três meses a
um ano ou o artigo 138, também do Código Penal, e que versa sobre calúnia,
explicitando em seu cáput que caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato
definido como crime gera pena de detenção de seis meses a dois anos. Com isso, é
possível concluir que as normas jurídicas não possuem função descritiva, elas
atuam individual ou coletivamente com outras na função de determinar como as
coisas devem ser feitas. Para Humberto então, “daí dizer-se que uma norma jurídica
possui caráter prescritivo, podendo este ser exteriorizado de múltiplas formas e em
variados graus.”
Mas então, qual a relação entre normas que, no entendimento de Ávila, constituem “
o significado de um enunciado com função prescritiva, reconstruído por meio da
interpretação de enunciados contidos nas fontes” e dentro das quais enquadram-se
aquelas de repartição tributária e conceitos; e porque as normas de repartição de
competência tributária não são consideradas normas típicas (que exprimem tipos)?
Bem, para que um conceito seja assim o considerado, é necessário que a partir da
sua definição também, exista propriedades suficientes e necessárias para a sua
verificação. Necessárias, porque o conceito só se revela com a existência dessas
propriedades e não o faz sem a existência das mesmas, e, suficientes porque a
partir dessas propriedades, ele se confirma.
As normas, dado o seu caráter prescritivo, e, dentro do ponto de vista conteudista,
se manifestam de duas maneiras: abstratamente ou concretamente. Abstratamente,
quando seu enunciado prescritivo é direcionado a fatos futuros ou a uma classe de
fatos. Quando isso acontece, o sentido do seu enunciado prescritivo pode ser
descrito como uma regra hipotético-condicional. Nesse caso e para o autor
Humberto Ávila, isso acontece porque o sentido do enunciado prescritivo “descreve
ou refere uma classe de ações, que passa a ser condicionante necessária da sua
aplicação, e estabelece uma classe de consequências, aplicável somente caso o
fato se enquadre na classe de ações descrita ou referida pela hipótese (“se,
então”).” Ou seja, as normas que manifestam o seu conteúdo abstratamente, se
relacionam e se adequam à definição de conceito porque, na medida em que
possuem o sentido do seu enunciado prescritivo referente a uma classe de ações
que passa a ser condicionante necessária para a aplicação daquelas determinadas
normas e uma vez que estabelece uma classe de consequências, aplicável somente
caso o fato se enquadre na classe de ações descrita ; revelam seu alinhamento à
definição de conceito, que possui propriedades necessárias com somente as quais
existe e não o faz sem a existência das mesmas; e, possui propriedades
suficientes, porque, somente a partir delas, ele se confirma.
Por fim, mas não menos importante, as regras constitucionais que limitam o poder
de tributar, para Humberto Ávila, dentro do ponto de vista conteudista, se
expressam de maneira abstrata. Isso acontece, porque as mesmas se direcionam a
uma classe de fatos e a fatos futuros. Nas palavras do autor, as normas de
repartição de competências tributárias se direcionam a “uma classe de fatos, porque
se referem a instâncias ou exemplos de casos, sem aludir a casos singulares; a
fatos futuros, porque referem a fatos ou situações que podem em tese ocorrer, mas
que ainda não ocorreram concretamente.” Devido a isso, podem ser descritas como
normas detentoras de regras hipotético-condicionais, principalmente porque se
dirigem a uma classe de ações e estabelecem uma classe de consequências.
Nesse último ponto ( regras constitucionais que limitam o poder de tributar se
manifestando de maneira abstrata), são incompatíveis com os tipos, pois estes
últimos, limitando-se ao seu caráter descritivo, para Ávila “ não podem ser
igualmente formulados como regras hipotético-condicionais.”
Referências: