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1 – Introdução

O conceito de células de combustível existe há mais de 150 anos. É atribuída


a paternidade da célula de combustível a William Grove. Este cientista teve esta
idéia durante seus experimentos sobre eletrólise de água, quando imaginou como
seria o processo inverso, ou seja, reagir hidrogênio com oxigênio para gerar
eletricidade. O termo célula de combustível surgiu em 1839, criado por Ludwig Mond
e Charles Langer.
A primeira célula de combustível bem sucedida aconteceu devido às
descobertas do engenheiro Francis Bacon em 1932. Porém, devido a problemas
técnicos, adiou-se a sua realização até 1959, quando foi finalmente concluída, por
Harry Karl Ihrig.
No final dos anos 50, a NASA precisou pensar em geradores de eletricidade
para missões espaciais. O projeto Apollo e as missões espaciais Shuttle fizeram uso
das células de combustível. Este foi o pontapé necessário para que está tecnologia
começasse a ser estudada e desenvolvida.
As células de combustível são baterias (pilhas) que convertem energia
química diretamente em energia elétrica e térmica. Elas podem possuir uma
operação contínua graças à alimentação constante de um determinado combustível.
A conversão de energia química em elétrica ocorre por meio de duas reações
químicas parciais em dois eletrodos separados por um eletrólito apropriado: a
oxidação de um combustível no ânodo e a redução de um oxidante no cátodo. A
corrente gerada por uma célula de combustível é contínua.
Este trabalho explica, em linhas gerais, o funcionamento desta tecnologia,
bem como suas vantagens, limitações, impactos ambientais e aplicações.
Geração de Energia Elétrica – Prof. Selênio Rocha e Silva

2 – Princípio de funcionamento

2.1 – Reação química interna

As células de combustível são basicamente constituídas de:


• Anodo – libera os prótons da molécula de hidrogênio para o catodo e conduz
os elétrons liberados pelo hidrogênio para o circuito externo.
• Catodo – distribui o oxigênio e reconduz os elétrons do circuito externo de
volta à célula.
• Catalisador – material especial que facilita a reação, atuando na dissociação
do hidrogênio.
• Eletrólito – membrana que conduz somente íons positivos, bloqueando
elétrons.
Tendo o hidrogênio como combustível e o oxigênio como oxidante, na célula
de combustível há formação de água e a produção de calor, além da liberação de
elétrons livres. Os prótons gerados na reação anódica são conduzidos pelo eletrólito
até o cátodo, onde se ligam aos ânions oxigênio, formando água. A figura abaixo
ilustra este funcionamento:

Figura 1 – Princípio de funcionamento de uma célula a combustível

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As equações químicas básicas deste processo estão abaixo:

• Anodo:
2H2 Æ 4H+ + 4e-
• Catodo:
O2 + 4H+ + 4e- Æ 2H2O
• Reação global:
2H2 + O2 Æ 2H2O

2.2 – Obtenção de combustível

Os dois principais reagentes da célula de combustível são o oxigênio e o


hidrogênio. O primeiro é facilmente obtido, pois se encontra disperso no ar. Já o
segundo é mais problemático de se obter. O hidrogênio, embora seja a substância
mais abundante no universo, não é encontrado isolado em nosso planeta. Sempre
está associado a outros átomos.
Existem várias formas de se obter hidrogênio para uso em células a
combustível. Uma delas consiste na eletrólise da água, que nada mais é que o
processo inverso realizado por estas células. Infelizmente, este processo demanda
uma energia muito alta, maior do que a energia que a célula irá gerar
posteriormente. Portanto, há aí um balanço deficitário de energia. Fez-se, portanto,
necessário o desenvolvimento de outras formas de obtenção de hidrogênio.
Um outro método desenvolvido para este fim é a utilização de combustíveis
hidrocarbonetos. Um equipamento chamado REFORMADOR ou PROCESSADOR
DE COMBUSTÍVEL realiza a separação do carbono e do hidrogênio contido nestes
combustíveis, produzindo neste processo dióxido de carbono.
Este método de obtenção de hidrogênio é bastante utilizado, pois os
combustíveis utilizados possuem uma densidade de energia muito maior que o
hidrogênio puro, evitando a necessidade de grandes tanques de armazenamento de
combustível.
Dentre os combustíveis mais utilizados, estão o metanol, o gás natural, o
propano, o metano, o propanol e o metanol.
Pode-se também obter hidrogênio a partir de bio-massa.

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2.3 – Pilhas de células a combustível

Uma célula a combustível isolada gera em torno de 1,2V. Este valor varia de
acordo com o nível de entalpia do combustível utilizado. Portanto, para se obter mais
energia, são utilizadas pilhas de células combustíveis.
Nestas pilhas, o número de células interligadas determina a tensão total e a
área da superfície de cada célula determina a corrente total. A figura abaixo mostra
uma configuração geral de uma pilha:

Figura 2 – Pilha de células a combustível

2.4 – Tipos de células a combustível

Os tipos de células são categorizados de acordo com o eletrólito usado.


Existem atualmente vários tipos de células a combustível. O grande
desenvolvimento desta tecnologia está diretamente relacionado ao desenvolvimento
(ou descoberta) de novos materiais a serem utilizados como eletrólitos.
Os tipos de células existentes atualmente são:
• PEMFC – Proton Exchange Membrane FC ou Polymer Electrolyte Membrane FC
• AFC – Alkaline Fuel Cell
• SOFC – Solid Oxide Fuel Cell
• MCFC – Molten Carbonate Fuel Cell
• PAFC – Phosphoric Acid Fuel Cell
• DMFC – Direct Methanol Fuel Cell

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2.5 - Eficiência

A eficiência de células a combustível é relativamente alta, girando em torno


de 70%. Porém, esta alta eficiência é obtida somente quando se utiliza o hidrogênio
puro como combustível. A utilização do reformador causa uma queda nesta
eficiência para a casa dos 40%, devido à própria eficiência do reformador.
Ao se comparar a eficiência das células a combustível com outras formas de
geração de energia elétrica, nota-se a superioridade das células a combustível,
mesmo utilizando-se reformadores. O gráfico abaixo ilustra isto:

Gráfico 1 – Comparativo entre algumas formas de geração de energia elétrica

Pode-se observar na coluna relativa às células a combustível que a eficiência


aumenta bastante com a utilização do chamado “reaproveitamento do calor”. Como
será mostrado na seção seguinte, alguns tipos de células a combustível operam em
temperaturas bastante elevadas. Esta alta temperatura pode ser aproveitada no
aquecimento de água para girar uma turbina, da mesma forma que é feito em usinas
termelétricas. Com isso, há um aumento considerável da eficiência total do sistema
de geração.

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2.6 – Temperatura de operação

Células combustíveis possuem temperaturas de operação relativamente


baixas, em torno dos 100°C. Porém, esta temperatura está diretamente relacionada
com o tipo de célula a combustível considerado, podendo variar desde os 60°C até
os 1000°C. O quadro comparativo abaixo relaciona os valores de eficiência,
potência, combustível utilizado, temperatura de operação e eletrólito empregado,
para os diversos tipos de células combustíveis existentes:

Tabela 1 – Quadro comparativo dos tipos de células a combustível

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3 – Vantagens e limitações

3.1 – Vantagens

Como já foi visto anteriormente, células a combustível apresentam uma alta


eficiência em instalações de co-geração. Além disso, em aplicações isoladas, a
eficiência, apesar de diminuir, continua acima de outras formas de geração de
energia elétrica.
Esta tecnologia também apresenta vantagens quanto a modularidade dos
equipamentos, flexibilidade quanto à escolha do combustível utilizado, além do fato
de sua operação ser tecnologicamente simples.
Com relação ao meio ambiente, as vantagens são significativas. O nível de
poluição é baixíssimo. Além disso, a operação das células a combustível é bastante
silenciosa, como pode ser visto no gráfico abaixo:

Gráfico 2 - Comparação entre a geração de ruídos de diversas formas de geração de energia elétrica

Pode-se perceber, portanto, que células a combustível possuem qualidades


extremamente relevantes nos dias de hoje.

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3.2 – Limitações

A tecnologia de células a combustível ainda enfrenta algumas limitações. O


armazenamento de combustível quando se utiliza hidrogênio puro é difícil, pois são
necessários grandes galões para este propósito, além do fato de o gás hidrogênio
ser altamente inflamável. O armazenamento de hidrogênio na forma líquida também
é problemático, pois neste caso, ele deve ser submetido a altas pressões e baixas
temperaturas.
A queda na eficiência com o tempo (devido à contaminação dos eletrólitos e
catalisadores) também é uma limitação que ainda deverá ser minimizada.
Por ser uma tecnologia relativamente nova, os custos em investimentos ainda
são elevados, o nível de desenvolvimento ainda é baixo, e há poucos fornecedores
desta tecnologia no mercado.
Em relação a impactos ambientais, pode-se considerar a emissão de dióxido
de carbono (quando se utilizam reformadores) uma limitação, embora esta emissão
se dê em níveis bem abaixo de outras formas de processamento de
hidrocarbonetos.

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4 – Impactos ambientais

No geral, células a combustível apresentam baixíssimo impacto ambiental. A


emissão de gases poluentes é muito pequena, e sua operação é bastante silenciosa.
Além disso, como a fonte primária de combustível é o hidrogênio, e este é
considerado um recurso natural inesgotável, teoricamente nunca haverá escassez
de combustível.
A baixíssima quantidade de dióxido de carbono emitida pelos reformadores
não apresenta problemas para o meio ambiente. Aliás, o reformador, além de obter
o hidrogênio a partir de hidrocarbonetos, ainda tem a função de transformar o
monóxido de carbono (que é um gás extremamente poluente e venenoso) que surge
na queima do hidrocarboneto em dióxido de carbono, que é bem menos perigoso.
O gráfico abaixo ilustra esta vantagem das células a combustível empregadas
em automóveis, em relação a automóveis que utilizam outro tipo de tecnologia
motora:

Gráfico 3 – Comparação entre diferentes tipos de automóveis

Recentemente, com a formulação de normas mais rígidas quanto à emissão


de poluentes na atmosfera (principalmente na Europa), a tecnologia das células a
combustível têm se mostrada uma das melhores alternativas para substituir os meios
de transporte que hoje utilizam combustíveis fósseis.

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5 – Aplicações atuais

As células a combustível são atualmente empregadas em diversas áreas. A


geração de energia em pequena e grade escala já é uma realidade. Existem locais
no mundo que tem se utilizado exclusivamente de energia gerada por esta
tecnologia. Existem também plantas de co-geração de energia elétrica utilizando
células a combustível e turbinas movidas a vapor. Em sistemas de emergência
(UPS) também tem sido empregada esta tecnologia.
Ainda se empregam células a combustível no programa espacial norte-
americano. E para esta industria, este tipo de geração de energia elétrica tem se
mostrado bastante eficaz.
Nos dias de hoje, a industria que mais contribui para o desenvolvimento desta
tecnologia, é a industria automobilística. Já existem ônibus e carros circulando com
células a combustível como fonte de energia. Há inclusive um modelo de carro da
Honda (o Honda EV Plus) que está disponível comercialmente.
Uma outra aplicação interessante de células a combustível são os
bafômetros. Nestes equipamentos, o etanol libertado pela respiração é utilizado
como fonte de hidrogênio, e, portanto, a tensão a ser gerada será diretamente
proporcional à quantidade de álcool ingerida.

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6 – Conclusões

Por este trabalho, pode-se notar que células a combustível são uma excelente
alternativa na geração de energia elétrica, no que concerne preocupações com o
meio ambiente, manutenção, flexibilidade e eficiência.
Embora atualmente as tecnologias disponíveis ainda inviabilizem a utilização
de células a combustível para algumas aplicações, no futuro, elas deverão estar
presentes em grande escala em diversas aplicações (ônibus e automóveis, geração
distribuída, fontes modulares, etc.)

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7 – Bibliografia

• LARMINE, James e DICKS, Andrew; Fuel Cells: System Explained; John


Wiley & Sons; 1999.
• Renewable Energy World; Janeiro de 1999; Vol. 2; No. 1
• http://www.mct.gov.br
• http://www.fuelcellonline.com
• http://www.internationalfuelcells.com
• http://www.chemkeys.com
• http://www.howstuffworks.com
• http://www.dee.fct.unl.pt

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