Você está na página 1de 16

Por que os motores elétricos queimam?

Os motores elétricos de indução são a base para os processos produtivos

industriais porém não é incomum ouvir falar da sua queima e do rebobinamento

dos enrolamentos.

É fundamental que o motivo da queima seja compreendido e corrigido para

evitar outras possíveis queimas.

Neste artigo iremos sobre as causas que podem levar a sua queima.

Entenda o funcionamento do motor elétrico

O princípio de funcionamento desses maquinários é utilizar do fenômeno da

indução eletromagnética em condutores para manipular os campos

magnéticos e assim gerar o movimento do rotor.

5 problemas elétricos que afetam suas máquinas

Ele é constituído basicamente de duas partes: o estator (parte estacionária) e o

rotor (parte rotativa). O estator está ligado a fonte de alimentação alternada do

sistema, já o rotor não está ligado eletricamente à alimentação.

Segundo a lei de Ampére, sempre que há a passagem de corrente em um

condutor ocorre a indução de um campo magnético que pode ser visualizado

pela regra da mão direita.


No estator o condutor é enrolado várias vezes com o intuito de intensificar o

campo magnético gerado, sendo assim chamado de bobina, que são colocadas

em ranhuras e são associadas de forma a constituir os conjuntos de pólos

magnéticos que direcionam o fluxo magnético no estator.

A imagem abaixo ilustra como o fluxo magnético se distribui com a utilização de

duas bobinas para gerar o par de pólos Norte e Sul.


No diagrama de exemplo com três fases os princípios são os mesmos, a análise

pode ser realizada considerando três circuitos monofásicos.

Como utilizar os 5 porquês na manutenção

Eles são dispostos deslocados de 120° de forma que a soma total do fluxo

magnético ao longo do tempo, seja um campo girando em torno do rotor que se

movimenta em função da frequência de alimentação.

O rotor é constituído de um núcleo de lâminas de aço com os condutores curto

circuitados dispostos paralelamente ao eixo e entranhados nas fendas em volta

do perímetro do núcleo.
Como há a passagem de um campo magnético girante em um condutor é

induzida uma corrente que percorre o núcleo do rotor e pela lei de lorentz é

induzida uma força em função do campo e da corrente que gera o movimento

rotativo de todo o sistema.

Entenda as partes que compõem o motor elétrico.

A queima dos enrolamentos

Como vimos, o motor depende dos enrolamentos em um bom estado e de uma

alimentação adequada para que a indução eletromagnética ocorra como

projetado e possa gerar a rotação do eixo.

A queima ocorre quando alguma condição de operação inadequada inflige uma

corrente tão alta que danifica o condutor impedindo seu funcionamento.

Agora veremos as causas mais comuns que levam isso a ocorrer.

Curto-circuito
Os condutores de cobre são revestidos por uma camada de esmalte isolante,

assim é possível enrolar os fios das bobinas uma sobre as outras sem que haja o

contato elétrico entre elas.

Além disso, os condutores esmaltados são unidos com um verniz com o intuito

de evitar que vibrem e atritam entre si, podendo danificar o esmalte.

Os enrolamentos também são envolvidos pela resina de impregnação, que tem

a função de preencher os espaços vazios dentro das ranhuras do estator

auxiliando na dissipação térmica gerada pelo condutor.

Importância de monitorar a saúde dos ativos

Todo esse sistema de isolamento dos enrolamentos existe para evitar o contato

elétrico entre os condutores, caso ele venha a falhar ocorre o curto circuito e

consequentemente a queima do condutor.

Os curtos podem ocorrer entre espiras de uma mesma uma mesma bobina,

entre fases de bobinas distintas ou nas conexões das bobinas.

De forma geral, os defeitos de isolação são associados com alguma

contaminação interna do motor, com degradação do material isolante por

ressecamento devido a temperatura excessiva ou por abrasão e com rápidas

oscilações na tensão de alimentação.

Sobreaquecimento

A passagem da corrente elétrica nos enrolamentos gera o aquecimento dos

componentes devido ao efeito joule, assim é necessário que o calor gerado seja

dissipado para não causar o sobreaquecimento e assim deteriorar o isolamento

dos condutores.
O isolamento para os motores são divididos em classes de acordo com os

respectivos limites de temperatura de operação. A NBR 5116 define as seguintes

classes de isolamento:

Caso o motor esteja operando com temperaturas das bobinas acima dos limites

de isolação provocará um envelhecimento gradual e generalizado, assim

reduzindo a vida útil do ativo.

É possível associar o envelhecimento da isolação com a elevação da

temperatura acima da recomendada pela sua classe, na tabela abaixo, vemos

que uma elevação de 10° C pode reduzir pela metade a vida útil de um motor

elétrico (Rezende, 2016).


Os motores possuem um sistema de ventilação acoplado ao rotor utilizado para

realizar a ventilação e retirar o calor. Qualquer impedimento do fluxo de ar pode

ocasionar o sobreaquecimento, as causas mais comuns são acúmulo de

sujeira, poeira, grama e ferrugem.

Vale-se destacar que o motor precisa estar instalado em um local que permita

que o ar aquecido seja dissipado, caso contrário pode haver a recirculação do

ar podendo causar o sobreaquecimento.

Outras condições que podem levar a um sobreaquecimento são relacionadas

com um dimensionamento incorreto de condutores, atrito excessivo devido a

causas mecânicas e cargas excessivas geralmente associadas ao mau uso do

equipamento.

Descubra as falhas mecânicas mais comuns em motores elétricos.


Rotor bloqueado

A condição de rotor bloqueado impõe uma sobrecarga extrema no motor de

indução. A elevada corrente de rotor bloqueado faz com que toda a energia de

entrada seja convertida em aquecimento do rotor e do estator.

Na partida com 100% de carga, tipicamente as correntes nos enrolamentos do

estator variam de 3 a 7 vezes a corrente nominal, assim caso o motor não

consiga partir devido ao bloqueio do rotor, a corrente continuará no patamar de

partida causando o sobreaquecimento.

O aquecimento nos enrolamentos do estator é da ordem de 10 a 50 vezes aos da

sua condição nominal, lembrando que na partida os enrolamentos estão sem o

benefício da ventilação natural produzida pela rotação do rotor.

Picos de tensão

Os picos de tensão são grandes aumentos de tensão em uma ou mais fases por

um curto período de tempo, caso o motor não esteja devidamente protegido

pode vir a queimar.

A causa mais comuns desses surtos estão relacionadas com descargas

atmosféricas cuja energia percorre a rede elétrica oscilando a tensão de

alimentação de forma violenta.

Outras possibilidades de picos de tensão estão relacionadas com manobra em

banco de capacitores ou com problemas no sistema de acionamento e controle

do motor.

Desbalanceamento de tensão
O desbalanceamento de tensão é uma condição na qual as fases apresentam

diferentes valores de tensão ou defasagem angular diferentes de 120°C ou ainda

as duas condições simultaneamente.

Entre as principais causas do desequilíbrio de um sistema trifásico destaca-se a

adição de cargas monofásicas como sistemas de iluminação e motores

monofásicos de forma desproporcional sem um planejamento adequado.

O desequilíbrio da tensão irá ocasionar desperdício de energia devido à

existência de maiores perdas provocadas por altas correntes correntes

desequilibradas.

Estudos já demonstraram que desequilíbrios de 3,5% na tensão podem

aumentar as perdas do motor em até 20% e desequilíbrios acima de 5% causam

problemas operacionais imediatos (ELETROBRÁS, 2004) .

Pequenos valores na faixa de 1 a 2% também são prejudiciais, pois podem

ocasionar significativos aumentos no consumo de energia por muito tempo, sem

serem detectados, principalmente se o motor está superdimensionado.


Assim, a tensão da rede deve ser regularmente monitorada e um desequilíbrio

maior do que 1% deve ser corrigido.

Outro efeito importante relacionado ao desbalanceamento é o aumento da

temperatura do motor e principalmente do rotor.

Quando as correntes absorvidas pelos motores de indução estão

desequilibradas, é induzido nas barras do rotor uma corrente na frequência

duas vezes superior à frequência industrial.

Assim ocorre um efeito chamado de skin, em que as correntes indesejadas de

alta frequência tendem a percorrer a superfície dos condutores dos

enrolamentos, assim o rotor fica submetido de imediato aos efeitos térmicos

resultantes do processo.

Se o motor estiver operando na sua potência nominal, o rotor irá sofrer um

aquecimento acima do seu limite térmico e como já vimos anteriormente

reduz a sua vida útil.


Além desses fatores, o desbalanceamento das fases também causa efeitos

operacionais no motor como o surgimento de torque que age no sentido de

frear o movimento, alterações do tempo de partida e diminuição do fator de

potência.

Falta de fase

Caso uma das fases seja comprometida e não entregue tensão ao motor ele irá

entrar na condição de falta de fase.

Essa condição ocorre quando há algum problema com a alimentação podendo

ser causada por um rompimento no cabo de alimentação, uma queima de um

fusível, queima de de uma fase no transformador ou problemas no sistema de

acionamento.

Se o motor não estiver em operação e ocorra a falta de fase ele não dará partida,

porém se ele já estiver em movimento o torque será reduzido podendo parar ou

continuar com baixa velocidade.

A falta de fase é a condição extrema do desbalanceamento de fases, assim

ocorre um aumento considerável de correntes nas fases acionadas.

Idealmente, o sistema de proteção impede que o motor opere na condição de

falta de fase, porém existe um caso particular que chama a atenção que ocorre

quando ele opera com cargas parciais em cerca de 40% e 60% da carga

nominal.

Nessa situação, mesmo com o aumento de corrente de serviço, nos condutores

externos atinge valores próximos da corrente nominal com carga cheia o que

não levaria a disparo do sistema de proteção, porém mesmo assim pode levar o

aumento de temperatura do motor e danificar a isolação do enrolamento.


Como evitar essas condições?

Vimos que essas condições devidas aos fatores operacionais, falhas mecânicas

ou problemas na rede elétrica podem ocasionar graves problemas nos motores

aumentando consumo de energia, alterando o rendimento e reduzindo a vida útil

até que ocorra a queima.

Dessa forma, o ideal é monitorar os parâmetros de operação para garantir a

confiabilidade dos ativos e evitar a queima dos motores.

O Energy Trac é o sistema de monitoramento de energia da TRACTIAN que coleta

os dados nos painéis dos ativos e consegue identificar automaticamente as

condições irregulares de operação.


Com o monitoramento das fontes de alimentação é possível identificar as falhas

na rede elétrica que danificam o motor elétrico no longo prazo como

sobretensão, subtensão, baixo fator de potência e desbalanceamento de fases.

Então é possível atuar em possíveis problemas na rede elétrica, fazer melhores

distribuições de cargas, redimensionar projetos e instalar bancos de capacitores

para melhorar a qualidade da energia entregue aos ativos.

Não basta apenas inspecionar de forma pontual essas condições, o ideal é

monitorar essas condições continuamente para garantir as condições

nominais para prolongar a vida útil dos componentes e aumentar a eficiência

dos sistemas.
A plataforma da TRACTIAN analisa continuamente os dados e gera insights de

condições que danificam os motores como sobrecorrente, sobrecarga e

consegue identificar até o sobreconsumo dos equipamentos.

Na imagem acima foi identificado uma condição de sobrecorrente que rompeu

em 36% o limite máximo de operação e que se continuasse acontecendo de

forma recorrente certamente estaria danificando os enrolamentos.

Assim é possível identificar problemas de processo que potencialmente

passariam despercebidos e que levariam a falha dos motores no longo prazo.

Quer entender mais sobre como fazer o monitoramento de energia dos seus

motores? Fale com nosso time de especialistas e marque uma demonstração.

Referências

[1] KOSTENKO, M.; PIOTROVSKY, L. Electrical Machines. Moscow. Mir Publishers,

1977. 700p.
[2] KOSOW, I. L. Máquinas Elétricas e Transformadores. Porto Alegre. Editora

Globo, 1979. 632p.

[3] REZENDE, P. H. Efeitos do desequilíbrio de tensões de suprimento nos motores

trifásicos, obtidos de forma indireta. 2022 Trabalho de Iniciação Científica.

Universidade federal de Uberlândia, Uberlândia 2016.

[4] FREITAS, P. C. F. Comparação dos rendimentos dos motores da linha padrão e

de alto rendimento, obtidos de forma indireta. 2007 Trabalho de Iniciação

Científica. Universidade federal de Uberlândia, Uberlândia 2005.

[5] ELETROBRÁS / PROCEL. Programa de eficientização industrial: modulo motor

elétrico. Rio de Janeiro. 130 p. MEHL, Edvaldo L. M. Qualidade da energia elétrica.

Disponível em:

http://www.eletrica.ufpr.br/mehl/downloads/qualidade-energia.pdf>. Acesso em:

18 out.2007, 13:38.

[6] SOUTO, Olívio Carlos Nascimento. Modelagem e análise do desempenho

térmico de motores de indução sob condições não ideais de alimentação.

Uberlândia, dez. 2001. 399 p.30Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica) –

Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Uberlândia.

[7] ELETROBRÁS. Disseminação de informações em eficiência energética

-Eficiência energética aplicada para comércio e indústria. Programa de combate

ao desperdício de energia elétrica – PROCEL. Rio de Janeiro: PROCEL, 2004. 309p

[8] GONÇALEZ, Fábio Gonçalves. Estudo do motor de indução trifásico e

desenvolvimento de um dispositivo de proteção efetiva de motores operando em

condições anormais:
[9]WOLL, R. F.; “Effect of Unbalanced Voltage on the Operation of Polyphase

InductionMotors”; IEEE Transactions on Industry Applications, VOL. IA-11, No. 1,

January/1975.

Oferecido por:

Você também pode gostar