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Alegações Finais – Estelionato, Bando e Quadrilha, Uso de

Documento Falso. Falta de Prova pericial, Absorvição do Falso pelo


Estelionato.

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA COMARCA


DE .......

ESCRIVANIA DO CRIME

Protocolo .................

................................,
já qualificado, nos autos da ação penal que lhe move a Justiça Pública
desta comarca, via de seu defensor, in fine assinado, permissa máxima
vênia, vem perante a conspícua e preclara presença de Vossa
Excelência, com supedâneo no art. 403, do Código de Processo Penal,
com a redação que lhe deu a Lei 11.719/2008, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS

Face aos seguintes fatos razões e fundamentos:

SÚMULA DOS FATOS


1 Na exordial acusatória, de fls ....., o
órgão da Acusação Oficial, imputou ao acusado, ora defendente, a
prática do ilícito penal incrustado na norma proibitiva do artigo 171,
“caput”, 288 e 304, em concurso de pessoas com os co-réus ...........,
................ e ...................., nos seguintes termos in verbis:

“ Consta do incluso Inquérito Policial registrado sob o nº


........, oriundo da Delegacia de Polícia local, que os
denunciados, já qualificados nos autos, utilizando-se de
meios fraudulentos, induzindo e mantendo outrem em erro,
obtiveram vantagens ilícitas em prejuízo alheio, quando
também denotou-se que de forma organizada, estiveram
associados formando quadrilha ou bando para o fim de
cometer infrações.
Que segundo consta, no dia ......... do corrente ano, o
primeiro denunciado, utilizando-se de diversos documentos
falsificados, adquiriu junto a ............. – ..........................,
localizada nesta cidade, uma moto ......, no valor de R$ .......
(..............), emitindo, para pagamento, quatro cheques
“clonados” da conta ........., agência ........., ..........., cujo titular,
na verdade, era ...................., conforme apuração feita junto â
Instituição Financeira.
Que alguns dias depois, o primeiro denunciado retornou
até a referida empresa e apresentou o segundo denunciado,
que utilizando também de documentos falsificados, adquiriu
uma moto ....... Fazer, no valor de R$ ....... (...........................),
cujo pagamento fora feito através da emissão de ..... cheque,
também “clonados” da conta ....., agência ......, Banco ........, cujo
titular, segundo apurado, seria na verdade, ............................
Que poucos dias antes dos cheques inicialmente
apresentados vencessem, o primeiro denunciado novamente
contactou os funcionários da ........., indicando o terceiro e o
quarto denunciado como possíveis compradores, sendo que,
nesta oportunidade desconfiando que algo estaria errado, pela
semelhança da documentação apresentada, a vítima, por meio
de seus administradores, passou a investigar a origem dos
documentos, o que frustou as duas últimas negociações.
Assim, não obtendo êxito na tentativa de receber o
prejuízo sofrido e diante das informações de que o primeiro
denunciado teria utilizado dos mesmos artifícios em outras
oportunidades, a vítima procurou a Delegacia de Polícia local
para a adoção da providencias cabíveis. (...)”

A denúncia foi recebida as fls. ......;


ocasião em decretou-se a prisão preventiva; citado via editalícia (fls.
........), não compareceu para ser interrogado, tendo sido determinada a
suspensão do processo (fls.....).

Com o cumprimento do mandado de


prisão em desfavor do co-réu .................... (fls........), prosseguiu a
instrução criminal com relação a este, com a ...... (...) testemunhas
arroladas na denúncia (fls........); e, via deprecata ..... (...) testemunhas
de beatificação, arroladas pelo Acusado .........., além da genitora do,
ora defendente, (fls. .....).

As fls. o Acusado, ora defendente fez


juntar instrumento procuratório aos autos, pugnando pelo
prosseguimento do feito se a sua presença física, pedido que foi
indeferido nesta instância singela e deferido pelo TJ... através do HC
................).

Retomado o andamento do persecutio


criminis, a defesa técnica do Acusado as fls., ratificou e convalidou o
conjunto probatório carreado para os auto na sua ausência.

A prova coligida durante a instrução


criminal, é insuficiente para embasar eventual decreto condenatório,
vez que todas testemunhas ouvidas em Juízo são empregados da
suposta vítima, e por isso indignos de valor probante são seus
depoimentos.

De outro prisma verifica-se que com a


absolvição do co-réu ...................., inviável o reconhecimento do
crime de bando ou quadrilha (art. 288 do CPB) vez que restaram
apenas ... acusados, número aquém daquele exigido no referido
dispositivo legal para a configuração do delito.

Com relação ao crime de tipificado no


art. 304 do Código Penal Brasileiro, insta a conclusão, como delito-
meio, de que o mesmo restou absorvido pelo crime de estelionato, que
no presente feito, representa o delito-fim.

Embora o Acusado, ora defendente,


responda outro processo criminal na comarca de ................, é
tecnicamente primário, possui residência na cidade de Ceres, e em
caso de eventual condenação deve sua reprimenda pena ser ancorada
no mínimo legal, a ser cumprida no local onde reside.

DO DIREITO

PRELIMINARMENTE

O Código de Processo Penal, no Livro


que trata das nulidades processuais impõe o seguinte comando
normativo:

Art. 564 - A nulidade ocorrerá nos seguintes


casos:

(...) 0missis
III - por falta das fórmulas ou dos termos
seguintes:
(...) omissis
b) O Exame do corpo de delito nos crimes que
deixam vestígios, ressalvado o disposto no artigo
167.

Nosso Estatuto de Ritos Processuais


Penais, no artigo ut retro citado, dispõe que ocorrerá nulidade no caso
de falta de termos ou fórmulas, dentre os quais a realização de exame
de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, como no caso em
pauta, por corporificar e instrumentalizar a materialidade dos fatos
objeto da persecução judicial. Isso, porque a Justiça Criminal,
principalmente, deve exteriorizar-se através de formas, absolutamente
cogentes e inalteráveis ao arbítrio das partes. Assim, sua falta já traduz
nulidade por si mesmo, independentemente da ocorrência ou não de
prejuízo.

Oportuna a lição do eminente


jurisconsulto pátrio JÚLIO FABBRINI MIRABETE, quando assim
leciona:
“Causa nulidade absoluta a ausência do exame de
corpo de delito nos crimes que deixam vestígios.
Na hipótese de delicta lactis permanentis é por
ele que se comprova a existência do crime
quando este deixa vestígios, sob pena de
nulidade, para evitar-se acusações infundadas.
Ressalva o artigo 167, porém, que não sendo
possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal
pode suprir-lhe a falta.” 1(Grifei).

Diz a jurisprudência

"A não realização de exame de corpo de delito


direto, que dá maior credibilidade e confiança ao
julgador, por incúria da autoridade policial, que,
por comodismo, realiza o exame indireto, sem
especificação de sua fonte, implica
comprometimento da prova da materialidade do
delito, impondo-se a absolvição" (RT 637/267).
No mesmo sentido, (TJSP: RT 553/339; TACRSP:
RT 548/339; TJMG: RT 534/416.)

1
Júlio Fabbrini Mirabete, “Código de Processo Penal Interpretado” – Ed. 94, pág. 634;
Correta a advertência de que quando o
ilícito penal deixa vestígios torna-se necessária e imprescindível a
realização do exame de corpo de delito. Desta ótica, destina-se a
comprovação por perícia da existência dos elementos objetivos do
tipo, os quais são aferidos, principalmente, ao resultado produzido
pelo atuar reprovável, de que houve o evento, do qual depende a
existência objetiva do crime, ex vi do artigo 13, do Código Penal.

Incensurável é o posicionamento de
que configura-se nulidade absoluta a ausência do exame de corpo de
delito nos crimes que deixam vestígios, e no caso sub examine, trata-
se de delicta factis permanentes, sendo por ele que se comprova a
existência típica só quando há vestígios positivados, sempre sob o
crivo da nulidade absoluta. Neste sentido é pacífica a orientação
pretoriana já apontada.2

É preciso insistir, no entanto, que se


trata de nulidade absoluta e não relativa, que por força do que dispõe
normativamente o artigo 573, do CPP, e pela ausência de dispositivo
que lhe outorgue qualquer sanatória (v. por falta do exame de corpo de
delito, direto ou indireto, nos crimes que deixam vestígios, ex vi do
artigo 564, III, letra b do CPP.

No caso em tela, a documentação


acostada aos autos, pela suposta vítima, constitui talvez ou
simplesmente, mero indício da ocorrência de possível ilícito penal,
não podendo ser elevado a categoria de prova da materialidade de um
delito, que por sua natureza e sede deixa vestígios constatáveis
através de elaboração de Laudo Pericial em documentos que se
submetidos ao crivo dos senhores peritos poderiam comprovar a
existência ou não da alegada fraude ou artifício.

2
RTJ 99/101; RT 534/416, 548/339, 554/335, 556/348, 580/316 e 637/267;.
A evidência do aspecto ora suscitada
encontra eco nas próprias palavras das testemunhas ouvidas em Juízo,
que de forma uníssona declaram que o Acusado teria utilizado de
documentos falsificados para a aquisição dos bens da suposta vítima.

Excelência é flagrante e incontestável


a incidência da nulidade do processo por falta de prova da
materialidade dos fatos descritos na denúncia de fls., por infringência
do disposto no artigo 564, III, “b” do Código de Processo Penal,
impondo-se o reconhecimento da preliminar suscitada com o
julgamento do feito sem apreciação do mérito, determinando-se o
arquivamento da presente ação penal para todos os fins de direito.

DO MÉRITO
A denúncia imputa ao Acusado a
conduta descrita no art. 288, que assim preconiza “associarem-se mais
de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometerem
crimes”.

O referido dispositivo, trata-se crime


coletivo, plurissubjetivo, que exige um número mínimo de quatro
agentes para sua configuração típica, o que vale dizer que com a
absolvição do co-réu ........................., restaram apenas três acusados,
número inferior ao exigido legalmente, para a configuração do ilícito
penal denunciado. Logo, por falta de elementar do tipo impõe-se sua
absolvição.

A jurisprudência hodierna comunga o


entendimento acima alinhado conforme o seguinte julgado:

“A absolvição, com provimento da apelação, de


um dos quatro réus que se associaram para
cometer crimes, descaracteriza o delito de
quadrilha ou bando, pela falta, em relação aos
demais, do quorum mínimo de quatro”3

Assim sendo, dever o Acusado, ora


defendente, ser absolvido da imputação prevista no aret. 288 do CPB.

De igual modo não merece prosperar a


acusação referente o delito previsto no art. 304, do Código Penal
Brasileiro, vez que, no presente caso, a suposta falsidade configurou
ato meramente preparatório do crime de estelionato, pelo que dever
por este ser absorvido, conforme inteligência do art. 14 do mesmo
Codex.

A doutrina mais abalizada tem


proclamado que os atos preparatórios, quais sejam aqueles que
representam a forma de atuar, que criam condições prévias para a
realização do delito planejado, não são puníveis. Assim sendo, aquela
conduta que precede, sob o prisma temporal, a execução do fato
criminoso, é meramente uma fase do iter criminis, ou seja ato
preparatório indiferente ao nosso direito penal, que pune a cogitação e
a preparação.

No caso em apreço, a suposta


falsificação de documentos configurou ato preparatório do delito de
estelionato, conforme entendimento esposado pela jurisprudência
majoritária:

“tentativa cometida mediante uso de documento


falso - Pune-se somente o crime de
estelionato,que absorve afalsidade, quando este
foi o meio fraudulento empregado para a
prática.”4

3
TFR – AC 7.605 – Rel. Nilson Neves, JTFR Lex 62/345;
4
TJSP – Ap. 1.350/95 – Rel. José Lucas Alves de Brito – RT 733/661;
“Uso de documento falso – Crime-meio para a
obtenção da indevida vantagem econômica –
Absorção pelo crime-fim, no caso estelionato.
Inteligência da Súmula 17 do STJ - Se o uso de
documento falso foi endereçado à obtençaão de
indevida vantagem econômica, o falso constitui-
se em crime-meio, que fica absorvido pelo crime-
fim no caso estelionato.”5

“A utilização de documento falsificado como


meio para a prática de estelionato, resulta na
absorção, por este, do delito previsto no art. 304
do CP.”6

É, assim, caso de uso de documento


falso – delito-meio - para a consumação do verdadeiro objetivo do
agente, o estelionato – delito-fim, há pluralidade de normas e unidade
de crimes, onde nasce a consunção, com que se procura resolver o
problema de conflito aparente de normas.

Segundo o princípio da consunção, a


norma incriminadora de um fato, que é meio necessário ou normal
fase de preparação ou execução de outro crime, é excluída pela norma
a este relativa. Assim sendo, no magistério de Heleno Fragoso “há
consunção quando um crime é meio necessário ou normal fase de
preparação ou de execução de outro crime”.7

Deste modo, imperioso que se proceda


a absolvição do Acusado, ora defendente com relação ao delito do art.
304 do Código Penal Brasileiro, vez que pelo princípio da consunção
este foi absorvido pelo delito de estelionato.

5
TJSP – Ver. 174.504-3/7 – Rel. Breno Guimarães – RT 724/618;
6
TJSP – AC – Rel. Camargo Sampaio – RT 492/315;
7
Heleno Cláudio Fragoso – “Lições de Direito Penal” – 7ª Ed. ;Vol. 1, pág. 376;
O Acusado, embora responda por
outra ação penal na comarca de................ é primário, possui endereço
certo e sabido na cidade de Ceres, onde reside em companhia de sua
mãe, pelo que, no caso de eventual condenação deve sua pena ser
cumprida naquela urbe conforme lhe faculta o art. 86, da Lei de
Execução Penal.

EX POSITIS,
Espera o Acusado, ......................, sejam as presentes Alegações finais,
recebidas, vez que próprias e tempestivas, julgando procedente a
preliminar suscitada, com a decretação da nulidade absoluta do
processo nos termos do art. 564, III, “b”, do Código de Processo
Penal, em caso de análise de mérito, julgada improcedente a denúncia
e todos seus termos, decretando-se sua ABSOLVIÇÃO, pois desta
forma Vossa Excelência estará restabelecendo o império da Lei, do
Direito e da Excelsa JUSTIÇA.

Termos em pede e espera deferimento.

LOCAL, DATA.

_____________
OAB

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