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Monique Renne/CB/D.

A Press
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CORREIO BRAZILIENSE
Brasília, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A vida depois da violência sexual

ÉRICA MONTENEGRO E
HELENA MADER
DA EQUIPE DO CORREIO

O primeiro capítulo desta história


já foi contado.Na beira das praias,
nas rodovias,no centro das
metrópoles,meninas e meninos
vendem o corpo em troca de
comida,presentes ou algum
dinheiro.Dentro do lar,crianças
são estupradas ou têm a
intimidade violada por pais,
padrastos e vizinhos.Cenas e
dramas como esses causam
indignação à opinião pública,
mas caem no esquecimento.O que
permanece obscuro é o capítulo
seguinte ao abuso,ao estupro,à
exploração.Quando meninos e
meninas precisam de auxílio para
retomar o curso de suas vidas,
encontram o desamparo.
Enquanto as vítimas sofrem com
traumas,gestações indesejadas e a
solidão dos abrigos,os agressores
quase sempre estão impunes.Neste
caderno especial,o Correio
mostra que,depois da violência,
crianças e adolescentes ficam sem
atendimento psicológico,jurídico,
médico e social.Abandonados,
amargam a dor e a vergonha dos
crimes cometidos por adultos.

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2 • Brasília, quarta-feira, 12 de novembro de 2008 • CORREIO BRAZILIENSE

REFÉNS DO ABANDONO

O desafio O projeto que deu origem a esta reportagem recebeu menção honrosa
no 4º Concurso Tim Lopes para Projetos de Investigação Jornalística,
realizado pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e pelo

de investigar
Childhood Instituto WCF-Brasil, com o apoio do Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef), da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e da Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).A equipe recebeu como
prêmio R$ 6 mil para a produção desta reportagem. Os recursos
complementares foram assegurados pelo Correio Braziliense.

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O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em vigor há 18 anos, determina
que as políticas públicas para a infância e a juventude sejam prioridades
absolutas no país. Os cidadãos com até 18 anos merecem preferência na prestação
de socorro em quaisquer circunstâncias. No caso das vítimas de abuso e
exploração sexual, o que se vê é o descumprimento das normas legais e o
abandono de quem sofreu as agressões no corpo e na alma.
Para desvendar o que acontece depois da violência, o Correio entrevistou 37
crianças e adolescentes e 110 pessoas envolvidas com a proteção dos direitos da
infância, como promotores, juízes, conselheiros tutelares, delegados e
representantes de ONGs. Durante 29 dias, duas equipes de reportagem visitaram
17 municípios em quatro regiões brasileiras, além do Distrito Federal. Ao todo,
foram 15 mil quilômetros percorridos de avião, carro, ônibus e barco.
O acolhimento é longe do ideal tanto nas capitais como nos grotões do país. Sem
a atenção que as faça recuperar a auto-estima e os planos para o futuro, as vítimas
tornam-se pessoas inseguras, agressivas, propensas a vícios e com dificuldades de
manter relacionamentos. Nas confidências de quem viveu a agressão e nos relatos
dos especialistas, o mesmo tom de abandono. Em todos os locais visitados, há falhas
desde a apuração da denúncia até a responsabilização do agressor.
Pela filosofia do ECA, as vítimas seriam amparadas por uma rede de proteção
assim que as situações de abuso ou exploração sexual fossem descobertas. Esse
atendimento deveria incluir assistência médica, psicológica, social e jurídica. As
crianças teriam direito ainda a uma atenção especial no ambiente escolar, para
que não fossem discriminadas, nem tivessem a educação prejudicada.
Mas, na prática, o que se vê é um jogo de empurra entre as autoridades e
instituições. De um ponto da rede para o outro, as crianças passam por inúmeros
“encaminhamentos”, sem que ninguém assuma efetivamente a responsabilidade
pelo tratamento garantido em lei. Abaixo, um fluxograma mostra o esquema ideal
de atendimento de acordo com a legislação. Nas páginas seguintes, uma
representação gráfica vai identificar em que momento ocorre a falha na assistência
a meninos e meninas atingidos pela violência sexual. PRAIA DE PONTA NEGRA, EM NATAL:
Em respeito ao ECA,todos os nomes de crianças,adolescentes e respectivos AÇÃO DA PREFEITURA É INSUFICIENTE
parentes citados no caderno são fictícios. PARA CONTER A EXPLORAÇÃO SEXUAL

Roteiro da
reportagem
O Correio selecionou as 17 localidades para
produzir o caderno Reféns do Abandono a
partir de dados oficiais. Os registros coletados
pelo disque-denúncia da Secretaria Especial de
Direitos Humanos da Presidência da República
serviram de parâmetro para apontar as regiões
Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste como
locais onde as crianças estavam mais
vulneráveis à violência e à falta de
atendimento. Além das capitais, os jornalistas
do Correio foram a pequenos municípios,
alguns com menos de 5 mil habitantes. Nessas
localidades, os casos de abuso e exploração
crescem sem que a rede de atendimento seja
preparada para socorrer as vítimas.

correiobraziliense.com.br EXPEDIENTE: correiobraziliense.com.br


Conteúdo especial: Diretor de Redação: Josemar Gimenez, Editora-chefe: Ana Dubeux, Editor- Conteúdo especial:
Lista completa das 110 pessoas executivo: Carlos Marcelo, Edição: Carlos Alexandre, Editor de Arte: João Bosco, Entrevista em vídeo com as jornalistas
entrevistadas para a matéria Editor de Fotografia: Luís Tajes, Projeto gráfico e diagramação: Anderson Araújo responsáveis pelo caderno

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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 12 de novembro de 2008 • 3

REFÉNS DO ABANDONO 1

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press

Onde o Estado
não alcança
Monique Renne/CB/D.A Press
A principal política pública para atender crianças e adolescentes vítimas de
abuso e exploração sexual só existe em 22% dos 5.564 municípios brasileiros. Os
Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) — para onde
são encaminhados meninos e meninas que sofreram agressões e negligência —
funcionam em apenas 1.230 cidades. Nos lugares onde não há Creas, as vítimas
ficam sem qualquer amparo para superar o trauma da violência sexual.
A ajuda precária pode ser medida em números. Diariamente, a Secretaria
Especial de Direitos Humanos recebe 360 denúncias referentes a violência
sexual. Mas os Creas só têm capacidade de atender uma média de 158 pessoas
por dia. Ou seja, mais da metade dos casos fica sem assistência. “A rede não dá
conta de auxiliar todas as vítimas”, reconhece a subsecretária de Promoção aos
Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira.
Essa realidade poderia ser muito diferente. Uma economia de apenas 4% nas
despesas do governo com energia elétrica permitiria dobrar o investimento no
combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. A conta de luz da
União custa R$ 1,14 bilhão por ano. Até 15 de outubro de 2008, foram aplicados
R$ 47,5 milhões para atender vítimas de abuso e exploração sexual. O
levantamento foi realizado pela ONG Contas Abertas, a pedido do Correio.
Além de escasso, o recurso é distribuído de forma desigual. Dos R$ 47,5
milhões gastos de janeiro a outubro, o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS) recebeu R$ 40,5 milhões, 85% do total. Esse valor foi
investido na implantação de Creas e no pagamento de profissionais. “O
combate ao abuso e à exploração sexual deve envolver diferentes atores”, aponta
Neide Castanha, secretária-executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à
Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Valéria Gonelli, diretora do Departamento de Proteção Especial do MDS,
ressalta o esforço do governo federal em ampliar a assistência. Ela argumenta
que, há três anos, os centros existiam somente em 316 cidades. “Trabalhamos
para levar o serviço a todos os municípios onde há risco de violência sexual,
ATENDIDA PELO CREAS EM NATAL, mas nossa maior dificuldade está em descobrir onde a necessidade é mais
SILVIA, 14 ANOS, RECLAMA DA FALTA DE urgente”, justifica. “É algo que, quase sempre, acontece entre quatro paredes.”
CONTINUIDADE NA AJUDA PSICOLÓGICA

REDE DE ituada a 58km de Natal, ta rotatividade. A maioria dos ideal é que fossem todos do qua-

ATENDIMENTO A
CRIANÇAS VÍTIMAS DE
S a pacata cidade de Goia-
ninha é um dos milha-
res de municípios brasi-
leiros onde crianças e adolescen-
tes não contam com uma rede de
profissionais tem contratos tem-
porários e fica apenas um ano em
atuação. O entra-e-sai de funcio-
nários confunde as crianças. De-
pois de um longo processo para
dro das prefeituras, mas a lei de
responsabilidade fiscal impede
os municípios de contratar.”
A falta de especialização nos
centros de atendimento também
VIOLÊNCIA SEXUAL proteção social contra a violência conquistar a confiança das víti- é criticada. Até 2002, o governo
e exploração sexual. “As meninas mas, a equipe precisa deixar o federal manteve um serviço es-
COBRE APENAS 22% daqui vão para a Praia da Pipa, posto. A ajuda é interrompida, o pecífico para crianças e adoles-
DOS MUNICÍPIOS onde fazem programas com tu-
ristas em troca de dinheiro ou
trauma persiste.
Silvia, de 14 anos, foi abusada
centes vítimas de violência se-
xual, o programa Sentinela. Há
R$ 47,5
BRASILEIROS.
PREFEITURAS TÊM
presentes”, reclama Dione Maria
Almeida, assistente social da pre-
feitura de Goianinha.
pelo padrasto aos 10. Ao ouvir os
relatos desesperados da menina,
a mãe achou que tudo não passa-
dois anos, o projeto foi substituí-
do pelos Creas.
Além das vítimas de abuso e
milhões é o total
Há anos a prefeitura da cidade va de uma fantasia infantil e ficou exploração, esses centros rece- destinado ao combate
DIFICULDADE EM potiguar reivindica a construção ao lado do marido. Silvia teve que bem registros de violência do- à violência sexual
de um Centro de Referência Es- sair de casa para viver em um dos méstica e casos de discrimina-
CONTRATAR E pecializado de Assistência Social abrigos de Natal e hoje recebe ções, trabalho infantil e cumpri-
(Creas). Mas a parceria necessá- atendimento no Creas. “Eu gosto mento de medidas socioeducati-
ASSISTÊNCIA
À VÍTIMA
MANTER
PROFISSIONAIS
ria para instalar a unidade ainda
é irreal. Dione Almeida ressalta
de vir conversar com a psicóloga,
me ajuda bastante”, conta Silvia.
vas. “Aumentaram as obrigações,
mas continuamos com o mesmo
R$ 40,5
ESPECIALIZADOS NA
que um Creas com serviço volta-
do ao apoio das famílias seria um
aliado importante na luta contra
Mas ao chegar ao centro em uma
segunda-feira de setembro, a me-
nina perguntou: “Cadê a psicólo-
número de profissionais”, comen-
ta Luzia de Carvalho, coordena-
dora do Creas Comércio, que fun-
milhões
é o valor concentrado pelo
ASSISTÊNCIA INFANTIL a exploração. ga que participou do nosso grupo ciona no centro de Belém. Ministério do
Nos 4.334 municípios não na semana passada”? Descobriu O psicólogo Ângelo Motti, ge- Desenvolvimento Social
atendidos pelos Creas, o desam- que a funcionária havia deixado rente nacional do Sentinela de
Monique Renne/CB/D.A Press paro é a regra. As vítimas acabam o cargo após o fim do contrato. 2000 a 2002, critica a extinção do
Creas
Os Centros de Referência
Especializados de
Assistência Social são
sem atenção especializada e os
casos de violência sexual contra
crianças e adolescentes aumen-
Alta rotatividade
Em João Pessoa, a alta rotativida-
programa. “A diversidade das si-
tuações colocadas para as equipes
dos Creas prejudica a capacidade
360
denúncias de exploração
compostos por uma equipe tam. Onde o Estado não está, o de dos funcionários da área de de dedicação às vítimas de violên- sexual ou abuso de crianças e
básica de psicólogo, terreno fica livre para a atuação assistência social incomoda até a cia sexual”, avalia. adolescentes são
assistente social e advogado. de abusadores e de exploradores. prefeitura. Dos 62 servidores da Em todo o Brasil, há dificul- encaminhadas todos os dias à
Os profissionais têm a Em Natal, o Creas funciona Secretaria de Desenvolvimento dades para fazer a rede de aten- Secretaria Especial de Direitos
missão de acolher as em uma casa ampla na área cen- Social, apenas dois são concursa- dimento funcionar de maneira Humanos. Mas a capacidade
de atendimento dos Creas é
vítimas, minimizar o tral da cidade. No local, traba- dos. “O número de técnicos é in- integrada. Na esfera federal, a
sofrimento e abrir caminho de...
lham duas psicólogas, duas assis- significante perto da demanda. Secretaria Nacional de Direitos
para a punição dos tentes sociais, um assessor jurídi- Faz pouco tempo que a assistên- Humanos traça as ações con-
agressores. Além dos casos co, seis educadores sociais, além cia social deixou de ser vista co- juntas na área de Saúde, Educa-
de violência sexual, os Creas
devem proteger crianças que
estejam sofrendo violência
física, negligência,
de motorista, vigia e recepcionis-
ta. Com essa organização, o Creas
realizou 155 atendimentos a víti-
mo benesse para ser considerada
uma necessidade”, explica a se-
cretária de Desenvolvimento So-
ção e Assistência Social. Mas, na
maioria dos estados e municí-
pios, não existe um órgão simi-
158
pessoas por dia.
abandono, ameaças e mas de violência sexual só no pri- cial, Francisca Fernandes. lar capaz de fazer a articulação
maus-tratos. São, ainda, meiro semestre deste ano. Mes- Em Brasília, no sexto andar do dos programas. “A política de
responsáveis por fiscalizar mo com boas condições de tra- Ministério do Desenvolvimento atenção integrada não é realida-
adolescentes em balho, há fila de espera para a as- Social e Combate à Fome, a dire- de. Ainda não conseguimos
cumprimento de medida sistência psicológica. tora do Departamento de Prote- identificar quem pode assumir
socioeducativa, liberdade Além da grande procura, uma ção Especial, Valéria Gonelli, re- responsabilidades nos estados e
assistida ou prestação de falha compromete a qualidade conhece que a rotatividade dos municípios”, lamenta a subse-
serviços à comunidade
do acolhimento das vítimas: a al- profissionais é um problema. “O cretária Carmen Oliveira.

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1. Programa por R$ 25 clientes.Disse ter 22 anos,mas tinha corpo de 15. Leia mais na internet:
Os postos de gasolina são ponto para prostitutas e Entre uma noite de quinta e uma manhã de sexta, Confira o orçamento de cada município
traficantes de drogas. As garotas assediam os declarou ter transado com três homens diferentes. para o combate à violência sexual
caminhoneiros,candidatam-se para subir na Segundo ela,os programas renderam R$45,mas ela
Podcast:
boléia dos caminhões.Em um dos postos de Padre voltaria para casa apenas com R$ 25.O resto,havia Carmen Oliveira fala sobre o
Paraíso (MG),Leide se insinuava para possíveis gastado em pedras de crack. atendimento às vítimas

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4 • Brasília, quarta-feira, 12 de novembro de 2008 • CORREIO BRAZILIENSE

REFÉNS DO ABANDONO 2

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press

Exclusão até
nos hospitais
Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
atendidas no Pro-Paz, 35 delas fi-
ATENDIMENTO MÉDICO caram grávidas em decorrência
A VÍTIMAS DE da violência. O aborto só foi rea-
lizado em 13 casos, já que as ou-
VIOLÊNCIA SEXUAL tras haviam chegado depois das
22 semanas de gestação. Outras
TEM EFEITO LIMITADO. duas meninas encaminharam os
bebês para a adoção. “Em caso
MUITAS VEZES, ELAS de gravidez, o mais normal é que
PROCURAM AJUDA elas cheguem depois do prazo
permitido para o aborto. Nosso
QUANDO A SITUAÇÃO trabalho passa a ser convencê-
las a não rejeitar a gravidez”, la-
É CRÍTICA OU menta Eugênia Fonseca.

IRREVERSÍVEL, COMO Falhas na notificação


O protocolo de atendimento do
APÓS 22 SEMANAS Ministério da Saúde determina
as condições de assistência mé-
DE GRAVIDEZ. dica — com profissionais espe-
SOCORRO DIFICULDADE DE cializados e uma extensa bateria
de exames — para as vítimas de
MÉDICO RECOLHER PROVAS violência sexual. Mas a maioria
dos hospitais não tem equipe ca-
E ENCAMINHAR pacitada para prestar esse nível
de atendimento. E a vítima chega
DENÚNCIAS PIORA num momento de fragilidade tal
que não consegue exigir nada.
A ASSISTÊNCIA Nas cidades pequenas, o proble-
Protocolo de ma é ainda mais grave: as vítimas
atendimento são encaminhadas à capital do
Por lei, as vítimas de silêncio é o maior inimi- estado ou a cidades de maior
violência sexual têm direito
a serem atendidas por
uma enfermeira ou uma
médica caso não se sintam à
vontade com um homem.
Além do tratamento das
O go do tratamento das
crianças e adolescentes
vítimas de violência se-
xual. Quanto maior a demora pa-
ra denunciar os casos, mais gra-
porte para que possam se sub-
meter aos exames necessários.
O cumprimento do protocolo
médico também ajudaria no pro-
cesso de responsabilização do
lesões e do abalo psicológico, ves são as conseqüências deixa- agressor, já que os profissionais
os profissionais de saúde das na alma e no corpo de meni- de saúde comprovariam a vio-
têm que fazer um exame nos e meninas. As vítimas são lência e retirariam do corpo da
físico completo, envolvendo encaminhadas ao tratamento vítima o material necessário para
consulta ginecológica, coleta apenas quando os sinais da vio- constituir as provas judiciais. Na
de amostras para lência já não podem ser escondi- prática, entretanto, há médicos
diagnóstico de infecções dos. Nos hospitais, o abuso e a que até se recusam a emitir o lau-
genitais e coleta de material exploração chegam como pro- do por não ter experiência em
para a identificação do
agressor. Ainda de acordo
blemas de saúde. São barrigas perícia e encaminham as vítimas
com o protocolo, o indesejadas, doenças venéreas, ao IML. "Elas passam por um se-
responsável pelo transtornos mentais. gundo sofrimento, uma segunda
atendimento tem que Clara, 12 anos, serviu sexual- vitimização ao expor o corpo vio-
informar a mulher ou a mente ao padrasto, um homem lado para diferentes profissio-
adolescente sobre o direito de 51 anos, durante doze meses. nais", afirma Graça Gadelha, so-
de tomar contraceptivos de Toda a vizinhança sabia da rela- cióloga e consultora do Progra-
emergência ou de ção entre a menina e o militar ma Partners of the Americas
interromper a gravidez. aposentado, mas ninguém de- (Companheiros da América).
Também deve receitar anti- nunciou o crime à polícia. Sedu- Também há falhas na notifi-
retrovirais que impeçam a
infeção pelo vírus da Aids. A
zida pelo homem que chamava cação da violência na rede de
medicação deve ser dada até de pai, Clara se via no lugar da saúde. Os médicos e enfermeiros
72 horas após o ato sexual mãe. “Ela (a mãe) largou a gente. que constatam uma agressão se-
para ser eficaz. Ele disse para a gente formar xual muitas vezes deixam de dar
uma boa família. Eu aceitei”, o devido encaminhamento ao
conta. Ao chegar ao abrigo Ma- caso, como notificar o conselho
mãe Margarida, de Manaus, a tutelar. “Há profissionais que fi-
menina ainda não entendia que cam com receio de fazer a notifi-
havia sido violentada. cação por acharem que estarão
CLARA, 12 ANOS, GRÁVIDA DE SEIS MESES APÓS SOFRER ABUSO DO PADRASTO DE 51 ANOS EM MANAUS. Apenas quando a gravidez de fazendo uma denúncia e que is-
A VIZINHANÇA SABIA DO CASO, MAS NÃO DENUNCIOU À POLÍCIA. A MENINA MORA EM UM ABRIGO Clara passou a ser visível, o caso so, de certa forma, pode envolvê-
chegou à polícia. O abusador foi los em um procedimento judi-
preso preventivamente. A vítima cial”, explica a coordenadora de
Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press foi mandada ao abrigo da capital Saúde do Adolescente e do Jo-
O teste da Aids do Amazonas. Mas o prazo de vem do Ministério da Saúde, The-
Em agosto, no abrigo vinte e duas semanas de gestação, reza de Lamare.
Dulce Accioly, em que permite o aborto legal, já ha- Em 2006, o governo federal
Belém, Lúcia, 16 anos, via sido ultrapassado. Clara assu- criou o Sistema de Vigilância de
aguardava pelo miu a gravidez indesejada. “Vou Violências e Acidentes ( Viva),
resultado do teste de ter meu filho e cuidar dele, ainda que vai organizar os dados sobre
HIV . Magra, com
não sei como”, reconhece a meni- acidentes, suicídios e violência
feridas nos braços e nas
pernas, chegou ao na, com as mãos sobre a barriga contra a mulher, a criança e o
abrigo tossindo muito. de seis meses. O nascimento do adolescente. O primeiro levanta-
Três meses depois, veio o bebê será a oportunidade para fa- mento do sistema, realizado no
alívio. O exame deu zer o exame de DNA e comprovar ano passado em 84 unidades de
negativo. Outras três a culpa do padrasto. saúde de 37 municípios, mostrou
meninas atendidas na “As vítimas costumam chegar que a agressão sexual é a primei-
Santa Casa, de Belém, aqui quando a situação bateu no ra causa de atendimento a meni-
não tiveram a mesma teto, no insustentável, no indis- nas de 0 a 9 anos. Dos 1.939 regis-
sorte. Receberam testes farçável”, afirma a coordenadora tros de violência contra crianças,
de HIV positivos este
do programa de saúde Pro-Paz 43% eram referentes a abuso ou
ano. Se o atendimento
médico tivesse ocorrido Integrado, Eugênia Fonseca. O exploração sexual. “A implanta-
logo depois da Pro-Paz, como é mais conhecido, ção do Viva vai resolver o proble-
EUGÊNIA FONSECA, COORDENADORA DO PROGRAMA PRO-PAZ INTEGRADO, violência, elas teriam funciona em um anexo do Hos- ma da notificação de violência
EM BELÉM: REFERÊNCIA EM ATENDIMENTO A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL, tomado o coquetel pital Santa Casa, em Belém. No sexual na rede de saúde”, acredita
É O ÚNICO DISPONÍVEL PARA TODOS OS MUNICÍPIOS PARAENSES anti- retroviral. ano passado, 803 vítimas foram Thereza de Lamare.

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2. Balseiras do Pará aparecem,começam a remar rapidamente para fisgá-los.Se Podcast:
No Rio Tajapurus,uma das maiores estradas fluviais do país, os passageiros da balsa aceitam o programa,elas sobem no Thereza de Lamare fala sobre o
meninas são exploradas sexualmente em troca de galões de barco e deixam seus pequenos casquilhos amarrados no atendimento nos hospitais
óleo combustível.Os clientes são passageiros de balsas de barco grande.A prática existe na região há décadas e
Leia mais na internet:
carga que levam mercadorias entre o Amapá,o Amazonas e o originou uma brincadeira comum.Os meninos costumam Reportagem sobre os problemas
Pará.As "balseirinhas", como são conhecidas,estão sempre zombar um com o outro:“Veja lá,o teu pai é aquele ali que vai nos Institutos de Medicina Legal
em duas.Ficam de prontidão na margem e,quando os barcos na balsa…”

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REFÉNS DO ABANDONO 3

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press

Almas em
sofrimento
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ATENDIMENTO
PSICOLÓGICO

SÃO POUCAS AS
UNIDADES DE
ATENDIMENTO QUE
OFERECEM AJUDA
PSICOLÓGICA ÀS
VÍTIMAS, ETAPA
FUNDAMENTAL PARA A
REJEITADA PELA FAMÍLIA APÓS O
DESCOBERTA ESTUPRO, SIMOME (DE PÉ), 9 ANOS,
NÃO RECEBEU QUALQUER
DOS TRAUMAS. ASSISTÊNCIA PSICOLÓGICA
SEM TRATAMENTO,
CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

❛❛
sofrimento das vítimas portar de maneira diferente. Fi- não de um abrigo”, acrescenta a
GUARDAM CICATRIZES
PROFUNDAS NA
PERSONALIDADE
O de violência sexual se
traduz em agressivida-
de, revolta, timidez e in-
segurança. A dor de ter o corpo
violado provoca danos psicológi-
cou agressiva e desaparece de
casa sempre que pode. Diante
do problema, o padrasto da me-
nina, um desempregado de 41
anos, decretou: não quer mais
promotora.

Revolta interior
A revolta é recorrente entre as ví-
timas de violência sexual. “Mui-
O ABUSO DEIXA DIFERENTES MARCAS.
DEPENDE DO TIPO DE VIOLÊNCIA, DA IDADE
cos graves, que poderiam ser evi- Simone por perto. Está em bus- tas meninas que sofrem abuso EM QUE ELA COMEÇOU A SER PRATICADA, DO
tados ou minimizados com um
acolhimento eficiente. Mas de-
pois do abuso ou da exploração
ca de um abrigo e já procurou a
Justiça para dizer que prefere
“dar a menina”. “Vou acabar na
ou foram exploradas sexualmen-
te chegam aqui agressivas, in-
quietas, com uma revolta muito
TEMPO QUE DUROU E DE QUEM A PRATICOU
❛❛
sexual, a maioria dos meninos e cadeia por causa da garota. É só grande por conta desse histórico Eva Faleiros,
meninas tem mais um direito a gente se distrair que ela desa- de violência”, conta Sayonara pesquisadora do Centro de Referência,
violado: fica sem atendimento e parece. Não quero mais ficar Dias, diretora do Centro de De- Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria)
não recebe o apoio de profissio- com a menina em casa”, explica fesa da Criança e do Adolescente
nais como psicólogos, assisten- o padrasto, como se falasse de Casa Renascer, em Natal. A ONG
tes sociais ou pedagogos. uma mercadoria defeituosa. oferece atendimento de referên-
Distúrbios mentais, compor- Ainda com a família, ouvindo cia às crianças e adolescentes O trauma de Leandra
tamentos compulsivos, dificul- as discussões sobre seu destino, que não têm espaço na rede pú- Três anos depois da violência que viveu,Leandra,de 16 anos,ainda sofre .“Eu
dade de desenvolver laços afeti- ela brinca de boneca, alheia a blica de acolhimento. fico ruminando tudo o que aconteceu.Sentindo a dor inteira de novo”,conta a
vos e promiscuidade são algu- tudo. As marcas do estupro se Marcela, 15 anos, está na Ca- menina bonita.Explorada sexualmente por um médico de uma pequena
mas das conseqüências deixa- tornaram difíceis de apagar e as sa Renascer. O sorriso no rosto cidade do Pará,Leandra foi obrigada por ele a fazer um aborto.O caso se
Danos psicológicos das pelas situações de violência conseqüências ficaram eviden- da adolescente disfarça o passa-
graves tornou público,mas a população ficou ao lado do agressor.Estigmatizada,
sexual. A maneira de lidar com tes nos atos e na revolta de Si- do de sofrimento. Depois de
Crianças e adolescentes Leandra deixou a cidade onde vivia e hoje mora em Belém.“Eu não gosto nem
esses problemas precisa ser ela- mone. “Aquele homem fez coi- dois anos de ajuda psicológica,
abusados sexualmente quase de ir lá,minha vontade é apagar tudo o que aconteceu.”O passado virou
sempre dão sinais de que estão borada de acordo com a expe- sas muito ruins comigo, tenho ela começou a superar a dor de
riência de cada vítima. “O abuso vergonha só de lembrar”, conta ser estuprada pelo próprio pai. assunto proibido com os novos amigos.“Não falo,não sei como falar,não sei
sofrendo. Isolam-se do convívio
deixa diferentes marcas. Depen- a menina, com um riso de cons- “Quando ela chegou aqui, jun- como vão reagir.Acho sempre que vão me achar ‘a diferente’, a problemática.”
social, ficam desmotivados,
de do tipo de violência, da idade trangimento e as mãos sobre o tamente com a irmã mais nova,
Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press

apáticos. A auto-estima é
reduzida a zero.“Esses em que ela começou a ser prati- rosto. Como a família demorou não conseguia nem mencionar
indicativos comportamentais cada, do tempo que durou e de a denunciar o caso, o início do o abuso. Agora, com apoio psi-
dão a dimensão do quanto a quem a praticou”, explica Eva atendimento psicológico e so- cológico, Marcela começou a es-
vítima pode estar sofrendo. Faleiros, pesquisadora do Cen- cial também atrasou. Simone crever uma nova história”, co-
Mas, muitas vezes, essas tro de Referência, Estudos e passou mais de seis meses so- menta Sayonara.
atitudes são entendidas pelos
Ações sobre Crianças e Adoles- frendo em silêncio. “Meu pai me estuprou e fez o
adultos como atos de rebeldia,
desobediência, indolência, centes (Cecria). Ela acrescenta As autoridades de Maman- mesmo com duas das minhas ir-
afronta ou desrespeito”, explica que, quanto maior a proximida- guape discutem o futuro de Si- mãs. A mais nova teve até perfu-
o psicólogo Ângelo Motti, de entre a vítima e o agressor, mone. A promotora de Justiça rações no útero e precisou fazer
coordenador do Programa mais difícil fica o tratamento. local, Ana Maria França, revolta- cirurgia”, conta Marcela. Apesar
Escola de Conselhos da As evidências do abuso fica- se com o caso. “É um absurdo a do acompanhamento profissio-
Universidade Federal do Mato ram claras no comportamento família querer entregá-la à Justi- nal, a adolescente ainda de-
Grosso do Sul. de Simone, 9 anos. Nas ruas do ça só porque ela passa por uma monstra ódio pelo sexo mascu-
pequeno e miserável município fase difícil. Quando ela mais lino — sentimento comum en-
de Mamanguape, no brejo pa- precisa de apoio e carinho, fa- tre vítimas de abuso sexual. “Ho-
raibano, ela foi estuprada por lam em mandá-la embora de ca- mem nenhum presta. Não que-
um desconhecido. Após a vio- sa”, desabafa. “Ela só precisava ro nunca saber de filhos, muito
lência brutal, passou a se com- de um tratamento psicológico, menos de marido”, afirma.

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3. Sexo no porto usa uma minúscula saia cor-de-rosa choque. Leia mais na internet:
Noite de quinta-feira em Breves, município do Cica procura clientes na avenida em frente ao Como identificar se a criança foi
Pará, região das ilhas do Marajó. Cica, de 15 porto do rio Parauhaú. Breves é uma das vítima de violência sexual
anos, pedala sobre uma bicicleta velha. O paradas para os que fazem trajetos entre o
apelido é uma referência a Daniela Cicarelli. Amazonas e o Pará de barco. O sexo com a
Em comum, as duas têm pernas longuíssimas. Cicarelli local custa R$ 20. Mas o preço pode
Para oferecer as dela aos passantes, a menina cair para R$ 15.

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REFÉNS DO ABANDONO 4 REFÉNS DO ABANDONO 5

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press Monique Renne/CB/D.A Press

Agressores impunes, crianças refugiadas


Monique Renne/CB/D.A Press Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press Monique Renne/CB/D.A Press
colchão. Disse que se eu falasse
sobre os estupros me mataria”, Oásis no
revela Maria da Luz.
A impunidade é comum nos sertão do
casos de abuso sexual, o que só
aumenta a dor das vítimas. Dele- desamparo
gados e promotores não conse-
guem reunir as chamadas provas
materiais, que dão maior segu- A falta de instituições para
rança para que a Justiça decrete abrigar crianças e adolescentes
as condenações. Os juízes, por que sofreram violência sexual é
sua vez, resistem a punir os agres- um problema em todos os esta-
sores tomando por base apenas o dos brasileiros. Na Paraíba, o
testemunho das crianças e ado- Ministério Público e a Justiça
lescentes. “A história que se repete não encontram destino para as
é a palavra delas (vítimas) contra MENINAS RESIDENTES NA vítimas. Além de João Pessoa, o
a deles (agressores). Mas delega- COMUNIDADE TALITA, EM abrigo mais próximo fica em
dos e juízes têm medo de sair em GUARABIRA (PB), UM DOS ÚNICOS Guarabira, a 100 quilômetros da
defesa das meninas”, reclama Ana DO ESTADO A ACOLHER VÍTIMAS capital. Lá funciona a Comuni-
Lúcia Mesquita, presidente do dade Talita, instituição coorde-
CONDENAÇÃO Conselho Tutelar de Manacapu- nada pelo padre italiano Luigi
ru, no Amazonas. Pescarmona. O local é espaçoso
CRIMINAL Quando acontece dentro de e organizado, tem piscina, área
casa, o abuso costuma ser prati- de lazer e vegetação exuberan-
cado por anos até que seja de- te. As meninas de 10 a 17 anos
nunciado. No momento em que chamam o padre de pai. Todas
a situação de violência se torna vão à escola e fazem cursos pro-
EM CASOS DE pública, os sinais das agressões fissionalizantes.
já desapareceram do corpo da O oásis do padre Luigi é para
VIOLÊNCIA SEXUAL, vítima. “O ideal é solicitar exa- poucas. Apenas 22 garotas mo-
mes de conjunção carnal, pes- ram no abrigo, que não é exclu-
PREVALECE A quisa de espermatozóide, análi- sivo para vítimas de abuso ou
LÓGICA DA se de roupas, exame de lesão Espaço exploração e recebe crianças e
adolescentes de vários municí-
corporal, além de fazer a análise despersonalizado
IMPUNIDADE: MÃES da região anal. Mas são raros os No Mamãe Margarida, os pios do estado. “Tem meninas
casos de flagrante, porque as ví- quartos das internas ficam de Mamanguape, Rio Tinto, Ma-
E FILHOS SÃO timas só fazem os exames mui- na parte de cima de um dos ri, Alagoinha, Cuitegi, Capim e
tos meses depois da agressão”, sobrados e são ocupados por Sapé. O telefone aqui não pára
TRANSFERIDOS PARA explica a delegada de Proteção à quatro meninas cada. de tocar. Ligam juízes, promoto-
Criança e Adolescente de Natal, Salvo um ou outro pôster res, mas infelizmente não temos
ABRIGOS, ENQUANTO Adriana Shirley. de artista de televisão, estrutura para receber mais gen-
os ambientes não têm te”, explica Maria Josiane Alves,
O ACUSADO TEM A O silêncio e a negligência das
decoração. As camas são a
mães das vítimas também con- única mobília. As meninas
funcionária do abrigo e chama-
LIBERDADE tribuem para proteger os agres- CRIADA NAS RUAS DE MANAUS, BIA, guardam roupas e objetos da de “madrinha” pelas meni-
sores. A maioria não enfrenta a pessoais em escaninhos que nas. Se abrisse as portas para
13 ANOS, TEM DIFICULDADE EM
PRESERVADA PELA situação como fez a paraibana SE ADAPTAR À INSTITUIÇÃO: ficam em um ambiente demandas de todo o estado, o
Maria da Luz. Ao contrário, pre- comum. Uma recente onda abrigo estaria lotado e perderia
DIFICULDADE EM fere acreditar que tudo não pas-
NADA SUBSTITUI A FAMÍLIA
de furtos levou as freiras a a qualidade do atendimento.
sa de uma história inventada pe- confiscarem as chaves dos Renata, de 15 anos, está há se-
OBTER PROVAS QUE la criança. Assim, a Justiça tam- MARIA DA LUZ E OS 11 FILHOS
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ram compradas com cestas bási- de aniversário e esperam os pas- vivem em um espaço desperso- armários. Agora, as internas te meses na Comunidade Talita.
bém encontra problemas para MUDARAM-SE PARA ABRIGOS DE JOÃO
JANAÍNA, 12 ANOS,
cas para inocentar os agressores.
ENVIAR CRIANÇAS E seios ou licenças especiais para nalizado, com normas de convi- passam o dia inteiro com Antes de chegar ao abrigo, fazia
O LEVEM À PRISÃO ESCONDEU-SE EM UM ABRIGO bolsas penduradas nos
reunir testemunhos. “Além da PESSOA. O MARIDO, QUE ESTUPROU
DE MANAUS PARA FUGIR “Dos cinco acusados, consegui ADOLESCENTES PARA conhecer um pouco do mundo vência coletiva. Manter a iden-
ombros, onde guardam o
programas e cometia pequenos
dificuldade de produção de pro- DUAS FILHAS E AMEAÇOU A DONA-DE- sentenciar apenas três. Os depoi- que os cerca. tidade e conquistar autonomia material escolar e os itens de
furtos para comprar drogas. Por
DOS SEGUIDOS ESTUPROS
vas, a maior barreira é a atitude CASA, ESTÁ SOLTO
COMETIDOS PELO PAI mentos foram mudando ao longo ABRIGO DEVERIA SER Na periferia de Manaus, está a são desafios diários. “Eu não higiene de uso diário. determinação judicial, saiu de
mecânico Agenor, de 47 de conivência assumida pela fa- do processo”, conta o juiz. Os três Casa Mamãe Margarida. São agüento isso aqui. É chato de- casa provisoriamente. Hoje, Re-

O anos, estuprou duas fi-


lhas, agrediu a mulher e
fez ameaças para que as
mília. Como na dúvida temos
que absolver os acusados, isso
atrapalha muito”, explica o juiz
condenados, entretanto, apela-
ram ao Tribunal de Justiça do esta-
do e aguardam nova decisão da
UMA MEDIDA
EXTREMA, MAS É
dois sobrados cor-de-rosa, cer-
cados por muros altos e grades
de ferro. Um deles aloja 40 meni-
mais”, diz Bia, 13 anos, que pas-
sou boa parte da infância pe-
rambulando pelas ruas e praças
nata está adaptada à Comunida-
de Talita, mas deveria visitar a
mãe periodicamente e retomar o

❛❛
vítimas não denunciassem a vio- Max Nunes, do município parai- Justiça em liberdade. nas com idades entre seis e 18 de Manaus. As meninas que so- convívio familiar. O problema é
lência sofrida. E depois dessa sé- bano de Mamanguape. A lentidão da Justiça também
PRÁTICA CORRIQUEIRA anos. Quase todas são vítimas de freram exploração sexual infan- que a casa da menina fica em
rie de brutalidades, quem per- contribui para o sofrimento das NA ASSISTÊNCIA A violência sexual. No outro sobra- til têm mais dificuldade para se Mulungu, município a 300km de
deu a liberdade não foi o agres- Manacapuru A HISTÓRIA QUE SE crianças e adolescentes. Sem do, a instituição realiza ativida- adaptar às regras. Guarabira. Como a cidadezinha
sor, mas sim as meninas abusa- O caso da amazonense Janaína, REPETE É A PALAVRA uma prioridade para os casos de VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA des pedagógicas para outras 300 Outro problema nos abrigos é natal de Renata não tem nenhum
das por ele. Agenor está livre. Sua de 12 anos, é exemplar nesse DELAS (VÍTIMAS) abuso e exploração sexual contra garotas em situação de risco. a institucionalização das crian- abrigo próximo, ela foi levada
mulher, a dona-de-casa Maria da sentido. A menina começou a CONTRA A DELES meninos e meninas, os agresso- SEXUAL. Apesar da atenção às crianças e ças e adolescentes. A tarefa de para a Comunidade Talita. “Já fui
Luz, 39 anos, teve que sair de ca- ser violentada pelo pai aos 6 (AGRESSORES). MAS res ficam livres e fazem das suas adolescentes, a Casa Mamãe restabelecer laços em uma famí- Bia, 13 anos visitar a minha mãe algumas ve-
sa aos oito meses de gravidez, ao anos, no município de Manaca- vítimas reféns do medo. A presi- ATENDIMENTO Margarida não substitui o fun- lia atingida pela violência quase Na periferia de Manaus, Bia zes, mas desanimo porque é
lado dos onze filhos do casal. Ho- puru. A denúncia veio quando DELEGADOS E JUÍZES damental: o convívio familiar. nunca é cumprida. Na entidade muito longe. Prefiro ficar no
dente do Conselho Nacional dos era agenciada por gays que a
je, as vítimas vivem espalhadas uma professora desconfiou do TÊM MEDO DE SAIR EM Direitos da Criança e do Adoles-
INSUFICIENTE E “Abrigo não é bom para nin- Raio de Luz, em Belém do Pará, chamavam de “miniputa”. abrigo”, conta Renata.
entre dois abrigos de João Pes- agressor. “Eu já não agüentava DEFESA DAS MENINAS cente (Conanda), Maria Luiza ACOLHIMENTO DIFICULDADE DE guém. Por pior que seja a situa- das 40 meninas abrigadas, três “Eles diziam assim: vai lá Diante da dificuldade de rein-
soa, enquanto o criminoso que mais. Ele prometeu parar, mas Oliveira, explica que os casos re- ção das famílias, as meninas poderiam ser adotadas. “O ECA que este cliente é teu, mini- tegrar-se às famílias ou de supe-
lhes tirou a dignidade circula à nunca parou”, desabafa a meni- Ana Lúcia Mesquita, lacionados à infância deveriam EM INSTITUIÇÕES REINTEGRAÇÃO sentem falta dos irmãos, dos aposta na reinserção familiar, púúúúta...”, conta, imitando rar os obstáculos para adoção,
seus exploradores.
vontade pela capital paraibana.
Em casos de violência sexual
na, que está protegida em um
abrigo de Manaus.
presidente do conselho
tutelar de Manacapuru,
Exploração desafia Justiça ter prioridade. "Esses processos
criminais entram numa fila lon- FAMILIAR SÃO
amigos”, lamenta a irmã Liliana
Maria Lindoso, uma das funda-
mas elas vieram de famílias
doentes. É muito difícil conse- Bia cobrava R$ 20 para
as vítimas de violência sexual fi-
cam esquecidas nos abrigos.
deixar os clientes se
em que o agressor faz parte do O crime é do pai. Mas a pena no Amazonas Se punir os autores de abuso mento à Violência Sexual contra ga. A infância passa muito rápido doras da casa assistencial. guir que elas voltem para casa “esfregarem”, afirma que não
Uma das meninas da entidade
círculo familiar, é comum as ví- está sendo cumprida pela ado- sexual é um desafio para a polí- Crianças e Adolescentes no últi- e muitos casos levam mais de 10 CONSTANTES Para os casos de violência se- em segurança”, desabafa Nahum permitia penetração e que Raio de Luz, em Belém do Pará,
timas deixarem o lar para esca- lescente. O caso foi denunciado à A MAIOR BARREIRA É A cia e para as entidades de defesa mo 18 de maio. O caso ficou co- anos para serem julgados", recla- xual, o ECA prevê duas alterna- Freitas, diretor da instituição. gastava o dinheiro já está lá há mais de cinco anos.
par do abuso. A lógica se inverte: polícia pelo conselho tutelar da ATITUDE DE dos direitos da criança, a respon- nhecido como “as meninas de 50 ma Maria Luiza. tivas anteriores ao abrigamen- No abrigo paraense, as regras comprando lanches e balas. “Por causa da idade, elas já nem
sem determinações legais para cidade. Janaína passou por um sabilização dos exploradores é centavos”: cinco garotas com Dos 27 estados brasileiros, to: a retirada do agressor de ca- são cumpridas com atenção. Há Com corpo de criança, poderiam mais ficar aqui. A gen-
CONIVÊNCIA ASSUMIDA
tirar os criminosos de casa ou exame pericial que recolheu es- praticamente inexistente. Os ali- idades entre 9 e 12 anos recebiam apenas três têm varas especiali- sociedade que protege sa ou a colocação da criança em uma rotina de horários para Bia ainda não ficou te abre exceção porque não há
assegurar a prisão preventiva
deles, famílias inteiras precisam
ser alojadas em abrigos para es-
capar da violência. Tornam-se
prisioneiras ao passo que abu-
perma do agressor do corpo dela.
Mas, enviado a Manaus, onde se-
riam feitos testes mais detalha-
dos, o material estragou por falta
de acondicionamento adequa-
PELA FAMÍLIA. COMO NA
DÚVIDA TEMOS QUE
ABSOLVER OS
ACUSADOS, ISSO
ATRAPALHA MUITO
ciadores e os homens que fazem
programa com crianças e adoles-
centes se valem da posição social
e do poder econômico superior
ao das vítimas para impedir que
moedas para fazer sexo com mo-
radores da cidade de Itaobim. Os
crimes ocorreram entre 1998 e
1999, a sentença saiu em 2006 e
até hoje nenhum dos explorado-
zadas em crimes contra crianças
e adolescentes: Bahia, Ceará e
Pernambuco. Os dados foram le-
vantados pela defensora pública
Hélia Barbosa, que atua em Sal-
1
criança é encaminhada por
A abusadores e explorado-
res esconde as vítimas
em abrigos — lugares
sem placa na porta, afastados
do centro das cidades, com ho-
uma família substituta. Mas,
com 22 anos de experiência no
atendimento às vítimas, irmã
Liliana diz que essas determi-
nações raramente são seguidas.
acordar, almoçar, brincar e to-
mar banho. No dia em que a re-
portagem esteve no local, as
meninas haviam ido ao dentista
e todas estavam com os cabelos
menstruada. Quando
crescer, quer namorar
empresário e virar delegada.
“Vou prender quem faz
programa com criança”,
planeja.
opções de lugar para essas crian-
ças”, afirma o diretor Nahum
Freitas. Ele cita o caso de Paula,
uma menina de 15 anos que vive
ali há seis anos e que, durante
sadores e exploradores ficam li- do. Na delegacia, a mãe e os vizi- os processos sigam adiante. Eles res foi preso. vador. A advogada verificou que a dia pela Justiça e pelos rários rígidos e entrada contro- “No lugar de onde vêm, essas presos com os mesmos elásticos esse período, nunca recebeu vi-
vres e, muitas vezes, impunes. nhos testemunharam em favor só são presos no caso excepcio- Autor da sentença, o juiz Nean- criação de uma vara especializa- conselhos tutelares ao abrigo lada por vigias. Estão mais para meninas são consideradas ga- coloridos. Na hora do almoço, sita de parentes. “Outro dia, ela
Max Nunes, Mamãe Margarida, em
“Procurei o Creas e o conselho do agressor. Disseram que ele era juiz do município nal de serem flagrados em prostí- derson Martins Ramos conta que, da reduziu em até três vezes o colégios internos do que para rotas-problema, ninguém as comiam sem fazer algazarra. queria se matar. Dizia que nin-
tutelar, mas tinha que ir sempre um excelente pai. “O caso dela é bulos ou motéis. durante o processo, apenas uma Manaus. Mas a instituição casas de família. Mas é ali que as quer. Um absurdo, porque elas Nos quartos, sobre as camas, guém no mundo se importava
paraibano de ❛❛ tempo de espera por uma respos- só tem capacidade
escondido. Quando ele desco- revoltante. O abusador não pas- Mamanguape A impunidade de um grupo de das vítimas manteve o depoimen- ta judicial. "Antes os casos fica- crianças e adolescentes crescem é que são as vítimas.” dezenas de bichos de pelúcia com ela. O que eu posso fazer?
para atender 40 vítimas.
briu que eu estava buscando sou um dia sequer na cadeia”, in- exploradores sexuais em Minas to inicial. Na pequena cidade mi- vam parados por até seis anos. até que a Justiça decida o desti- Por causa dessas distorções, enfileirados davam a impressão Me preocupo em dar autono-
ajuda, chegou em casa com dois digna-se a conselheira tutelar Gerais motivou um protesto do neira, circulam boatos de que as Hoje os julgamentos levam, em no deles. Almoçam em refeitó- o abrigo passa a ser regra, e não de jamais terem sido usados pa- mia, porque a família, ela já per-
facões e colocou embaixo do Ana Lúcia Mesquita. Comitê Nacional de Enfrenta- famílias das outras meninas fo- média, de um a dois anos." rios coletivos, ficam sem festas exceção. Lá, meninos e meninas ra brincadeiras. deu”, afirma.

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4. Garotas da estrada apontado como crítico pelos agentes que Conteúdo especial:
5. Encruzilhada do sexo das estradas da cidade,como faziam essas duas adolescentes Veja a galeria:
Na BR-116, conhecida como Rio/Bahia, a trabalham no combate à exploração sexual. O Entrevista com o promotor de Defesa Cortado por quatro importantes rodovias estaduais,o em uma tarde de setembro.Outro foco de exploração sexual Galeria de fotos dos abrigos visitados
prostituição ocorre à beira da estrada. As baixo índice de desenvolvimento humano dos da Infância e da Juventude do Rio município de Guarabira é um importante pólo econômico é o município de Mamanguape,cortado pela BR-101,uma
municípios (IDH) e a pobreza da população Grande do Norte Manoel Onofre Neto das mais movimentadas do país.Além de baterem ponto na
meninas ficam no acostamento oferecendo da região do brejo paraibano.A prosperidade e o grande
programas para os caminhoneiros. O trecho da levam as adolescentes a fazer dos programas um Leia mais na internet: trânsito de caminhões tornam o ambiente propício à margem da rodovia,garotas circulam pelos postos de
estrada que passa no Vale do Jequitinhonha é meio de ganhar dinheiro. Legislação completa acerca da exploração sexual.Meninas saem de municípios próximos, gasolina da cidade,onde realizam programa com
violência sexual caminhoneiros em troca de dinheiro ou comida.
como Mari,Sapé ou Piripituba,para vender o corpo na beira

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REFÉNS DO ABANDONO

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Sem meios para agir a rede de proteção às


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N crianças e adolescentes,
os conselhos tutelares
cumprem papel central.
Cabe a eles exigir tratamento psi-
cológico ou médico quando ne-
cessário, incluir meninos e meni-
nas em programas sociais ou
acompanhar o desempenho es-
colar se há situação de risco. Em
casos de violência sexual, os con-
selheiros têm poder até mesmo
para pedir o afastamento do lar
do pai ou padrasto, por exemplo,
quando eles são os agressores.
Apesar da importância vital, os
conselhos operam sem estrutura
mínima para defender os direitos
da infância e da adolescência. Em
muitos municípios e até mesmo
FALHA NA no Distrito Federal, os conselhei-
ros trabalham em locais improvi-
DENÚNCIA sados, sem carro ou telefone.
Em Ceilândia, atender uma
criança de forma sigilosa é missão
impossível. A sala onde funciona
INFRA-ESTRUTURA o conselho tutelar não tem divisó-
rias. O acolhimento de meninos,
PRECÁRIA E FALTA DE meninas e suas famílias é feito
diante das pessoas que esperam
PESSOAL por atendimento. Os funcioná-
rios usaram os armários para fa-
PRATICAMENTE zer paredes improvisadas, mas SELMA DA COSTA TRABALHA NO CONSELHO TUTELAR DE
qualquer conversa, mesmo que a CEILÂNDIA, ONDE AS VÍTIMAS NÃO TÊM PRIVACIDADE PARA
INVIABILIZAM OS meia-voz, é ouvida por todos. REVELAR O SOFRIMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL
CONSELHOS Somada à infra-estrutura pre-
cária, a sobrecarga de trabalho
TUTELARES. EM compromete a qualidade do
atendimento. Na teoria, o Conse- des adequadas em cada um dos No município de Melgaço, no
CEILÂNDIA, NÃO lho de Ceilândia é responsável 10 conselhos. O promotor de De- interior do Pará, a sede do conse-
O que diz o Estatuto
da Criança e do
Desconfiança
EXISTE SEQUER UMA
por atender 700 mil pessoas. Na fesa da Infância e da Juventude, lho tutelar funciona em uma sala Adolescente e negligência
prática, os cinco conselheiros fa- Oto de Quadros, explica que o com apenas nove metros quadra-
zem 50 novos atendimentos por ideal seria uma entidade para ca- dos, cedida pela prefeitura. Os É obrigação dos A presidente do Conselho Na-
SALA PRIVATIVA ONDE dia. “É humanamente impossí- da região administrativa do Dis- conselheiros não contam com te- conselhos tutelares: cional dos Direitos da Criança e
vel. A demanda é tão grande que trito Federal. “A resolução 75 do lefone para receber as denúncias, do Adolescente (Conanda), Ma-
A VÍTIMA POSSA não conseguimos fazer o enca- Conanda (Conselho Nacional dos tampouco com acesso à internet. - Dar orientação, apoio ria Luiza de Oliveira, lembra que
minhamento ideal”, explica a Direitos da Criança e do Adoles- O meio de transporte dos guar- e acompanhamento os conselhos tutelares são porta-
RELATAR A VIOLÊNCIA conselheira Selma da Costa. cente) determina um conselho diões da infância e adolescência é temporários vozes dos direitos de meninos e
-Matricular a criança meninas. “São os conselhos que
O chefe da Coordenação de tutelar para cada grupo de 200 mil uma bicicleta velha. A dificuldade
em escola pública
Conselhos Tutelares da Secreta- habitantes. E no caso de unidades de locomoção prejudica o traba- - Incluir a vítima em
trazem à tona os casos de violên-
ria de Justiça e Cidadania do DF, com regiões administrativas, de- lho, pois mais da metade dos 20 programa de auxílio à cia que muitas vezes são silen-
Maurício Albernaz, conta que o veria ser um para cada uma de- mil habitantes do município mo- família, à criança e ao ciados pela omissão”, destaca.
governo já tem pronto um proje- las”, detalha Oto de Quadros. ram na zona rural, em locais que adolescente “Mas eles ainda funcionam com
to para criar 11 novos conselhos só são acessíveis de barco. “Com - Requisitar estrutura muito precária. Os con-
tutelares no Distrito Federal, dois Situação crítica verba para gasolina, chegaríamos tratamento médico, selhos ficam à mercê de gestores,
deles só em Ceilândia. A medida Se na capital do país a situação a esses lugares. Mas, como não psicológico ou que não olham para o Estatuto
poderia melhorar o atendimen- está complicada, no interior a podemos circular, temos de ficar psiquiátrico da Criança e do Adolescente”,
to, mas, segundo o governo, não carência dos conselhos tutelares esperando as denúncias aparece- - Incluir o adolescente critica a presidente do Conanda.
em programa para Hoje, existem cerca de 70 mil
há recursos disponíveis. “O GDF é crítica. Em Goianinha, municí- rem”, reclama o conselheiro Hel-
alcoólatras e
já conseguiu aprimorar muito a pio de 20 mil moradores no Rio ton Guimarães. toxicômanos
conselheiros atuando no Brasil.
estrutura dos conselhos. Todos Grande do Norte, a unidade de Em Natal, o conselho tutelar - Encaminhar a vítima Os conselhos tutelares foram
receberam computadores novos. proteção à criança e ao adoles- da região sul, um dos cinco da ca- para família substituta criados pelo ECA, em 1990, para
O único obstáculo para a criação cente funciona em uma pequena pital potiguar, funciona em uma - Atender e aconselhar funcionarem como uma articu-
dos novos conselhos é a lei de sala sem computador e com ape- casa grande e de fácil acesso. os pais ou responsável lação entre a sociedade civil e as
responsabilidade fiscal”, explica nas um telefone. A conselheira Mas, no início do ano, ficou às es- - Denunciar casos de autoridades.
Maurício. O custo de cada conse- Sara Tatiane de Lima reclama da curas. A energia foi cortada por- violência sexual ao No município de Manacapu-
lho não é alto. Resume-se aos falta de condições para as equi- que a prefeitura não repassou os Ministério Público ru, no Amazonas, ações integra-
gastos com água, luz, telefone, pes cumprirem suas obrigações recursos de manutenção. “Tam- - Auxiliar o poder das entre o conselho tutelar e o
Executivo local na Creas fizeram o número de de-
além do salário dos funcionários, legais. “Não temos meios de per- bém ficamos alguns meses sem
inclusão de recursos
que no DF é de R$ 2.100. correr o município. Já houve ca- opções de locomoção, já que tí- orçamentários para
núncias saltar 70% entre o pri-
Além de cobrar a criação de sos de eu levar meninas que so- nhamos um carro à disposição, planos e programas meiro trimestre do ano passado
mais unidades, o Ministério Pú- freram violência sexual para a mas não havia motorista”, conta a de defesa dos direitos e o primeiro trimestre deste ano.
blico do DF entrou com ações ci- minha casa porque o conselho conselheira Rosana Mireille Bar- da criança e do Por um lado, os profissionais en-
vis para exigir a construção de se- não tem estrutura”, explica. bosa, que é assistente social. adolescente volvidos no combate comemo-
ram a maior sensibilização da
sociedade para o tema. Por ou-
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tro, preocupam-se com o que fa-


zer para atender às vítimas. Em
Manacapuru, não há abrigos,
nem atendimento de saúde es-
pecial para as crianças e adoles-
centes violentados.
Na polícia, os relatos de vio-
lência sexual são vistos com ex-
trema desconfiança. “A menina é
avacalhada da recepção à sala do
delegado”, revolta-se a conse-
lheira tutelar Vânia Nóbrega Con-
de, de 33 anos. Ela usa o termo
“avacalhada” para se referir às
perguntas constrangedoras que
CONSELHO TUTELAR DE são feitas pelos policiais durante
MELGAÇO, NO INTERIOR os interrogatórios. Mas ele fez o
DO PARÁ: NÃO HÁ que com você? Botou a mão on-
TELEFONE, INTERNET, de? E você não queria? É o tipo de
COMPUTADOR, CARRO. coisa que se escuta, de acordo
AGENTES USAM com as conselheiras tutelares.
BICICLETA PARA CHEGAR “Desacreditadas, as meninas são
AOS LOCAIS ONDE HÁ revitimizadas”, completa Regina
DENÚNCIAS DE Fernandes, psicóloga do Senti-
VIOLÊNCIA SEXUAL nela de Manacapuru.

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6. Luta contra a exploração A qualquer hora do dia,carros param para abordar as Leia mais na internet:
Quando o assunto é turismo sexual,a capital potiguar ainda dezenas de meninas e adultas que vendem o corpo.Durante Resolução 75 de 2001 do Conanda,
é um destino muito procurado — apesar do esforço das as operações rotineiras,a Vara da Infância e da Juventude de que regulamenta o funcionamento
dos conselhos tutelares
autoridades municipais para tirar meninas e meninos da Natal faz blitzes dentro do motel.Os agentes batem à porta
exploração sexual.Na Praia do Meio,prostitutas e dos quartos e pedem a identidade dos clientes.Quando
adolescentes exploradas se misturam em busca de clientes.O encontram adolescentes ou crianças,levam os exploradores
point mais movimentado fica em frente ao motel L'Amore. para a delegacia e as meninas,para casa.

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REFÉNS DO ABANDONO 7

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Segredo de menino
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CLÁUDIO, 11 ANOS, FOI ABUSADO PELO PADRASTO E VIVE EM
UM ABRIGO EM BELÉM: "ELE PRECISA DE UMA CORREÇÃO.
PARA NÃO MALTRATAR MINHA MÃE E MEU IRMÃO"

VÍTIMAS DO SEXO no — o equivalente a 45,6 mil ca- costuma acontecer quando o


sos. Os dados não refletem a rea- abuso atinge o sexo feminino. A
MASCULINO SÃO lidade, já que muitas vítimas e fa- sociedade enxerga como se eles
mílias preferem omitir a violên- tivessem consentido a violência,
PRATICAMENTE cia sofrida a encarar o constran- o que só aumenta o preconceito.
gimento de denunciar. O tema é tabu até mesmo entre
IGNORADAS PELA REDE A história de Cláudio, 11 anos, os estudiosos. “Tive dificuldade
é mantida sob sigilo em um abri- em encontrar pesquisas sobre o
DE ATENDIMENTO. go de Belém. Os 13 colegas que assunto no Brasil. Existe uma
DIFICULDADE DE convivem com o menino desco- subnotificação de abusos contra
nhecem o sofrimento que ele meninos e há preconceito até
EXPOR SENTIMENTOS, encarou antes de chegar ali. O mesmo entre os profissionais que
garoto foi abusado pelo padras- lidam com as vítimas”, observa.
RECEIO DE SER VISTO to e abandonado pela mãe. Para Sônia, são duas as princi-
“Aqui, a regra é que um não saiba pais causas do silêncio social em
COMO HOMOSSEXUAL a história do outro. Até mesmo torno do tema. “O homem é mais
para preservá-los”, conta Maria contido para liberar e revelar suas
E PRECONCEITO DOS de Lourdes Cunha, diretora do emoções. Mas a primeira razão
abrigo. No caso de Cláudio, o te- para esse sigilo é a questão da se-
ASSISTENTES SOCIAIS mor é que a criança sofra pre- xualidade masculina”. Segundo
ASSISTÊNCIA IMPEDEM SUPERAÇÃO conceito e seja segregada por Sônia Prado, os meninos e suas fa-
TOMÁS, 17 ANOS, FAZ PROGRAMAS NAS RUAS DE NATAL:
conta de seu passado. mílias se calam para evitar uma
INCOMPLETA DO TRAUMA Cláudio fala sobre o assunto exposição. Temem que as crianças INDÚSTRIA DA PROSTITUIÇÃO SEDUZ GAROTOS COM PROMESSA
de cabeça baixa, evita os olhos do sejam taxadas de homossexuais. DE DINHEIRO FÁCIL E MUDANÇA PARA O EXTERIOR
interlocutor, tem vergonha do
que aconteceu. “Ele colocou (o Peito e passaporte prótese de silicone. Enquanto ro mas, principalmente, de loló”,
pênis) nas minhas costas. Me ba- Os adolescentes homossexuais não tem dinheiro, toma hormô- conta o adolescente.
teu. Fez o que quis comigo”, diz o sofrem assédio constante da rede nios para ficar com seios maiores Tomás planeja virar cabelei-
dor e a vergonha de ter o menino, que tinha dez anos de exploração sexual internacio- e curvas mais arredondadas. Os reiro. Mas a única oportunidade

❛❛ A corpo tocado ou violado


ganham outro sentido
quando a vítima é um
menino. O tabu da homossexua-
lidade transforma em segredo o
quando foi violentado na própria
casa. A mãe não acreditou na
criança, confiou no marido. Cláu-
dio foi afastado de casa, dos vizi-
nhos, dos amigos e teve de mu-
nal e da indústria de transforma-
ção de corpos. “Antes de definir a
identidade de gênero, já são pro-
curados pelo mercado do silico-
ne. Ouvem promessas de dinhei-
cabelos são longos, as unhas,
compridas e as roupas, bem cur-
tas. A mãe o expulsou de casa
quando descobriu que o filho era
homossexual.
que teve na vida até hoje foi ven-
der o corpo para turistas ou mo-
radores da cidade. “Comecei a
fazer programa com 13 anos. Eu
ia para a escola, mas fui expulso
abuso e a exploração sexual. Os dar de escola. O menino não tem ro e felicidade para que se trans- Na praia do Meio, Tomás cir- quando joguei uma mesa na ca-
EXISTE UMA casos que envolvem crianças ou vontade de voltar para o colo da formem em travestis e vendam o cula entre as prostitutas. Ao lado beça de um garoto que me saca-
adolescentes do sexo masculino mãe, mas espera por Justiça. “Não corpo”, afirma Neide Castanha, dele, um grupo de adolescentes neou”, conta. Tomás garante que
SUBNOTIFICAÇÃO DE dificilmente chegam ao conheci- quero ele preso, mas ele precisa secretária-executiva do Comitê também está sentado na calça- só faz programa com camisinha.
ABUSOS CONTRA mento da rede de proteção da in- de uma correção. Para não mal- Nacional de Enfrentamento à da. Todos usam bermuda e boné “A paquita tá solta por aí, minha
fância e da juventude. Diante do tratar minha mãe e meu irmão”, Violência Sexual Contra Crianças e têm entre 14 e 16 anos. Pare- filha”, justifica. “O que é paquita?
MENINOS E HÁ constrangimento e da posição de justifica Cláudio. e Adolescentes. O trio peito-bun- cem meninos comuns, desses É a Aids, ué”! Quando fala de
PRECONCEITO ATÉ fragilidade em que estão, os garo- O maior temor dos meninos da-passaporte torna-se o sonho que sonham em virar jogador de seus sonhos para o futuro, o me-
tos calam o sofrimento, o que di- abusados é expor a sua sexuali- dourado de garotos marginaliza- futebol e conquistar a menina nino tem convicção. “Vou para
MESMO ENTRE OS ficulta a superação do trauma. dade. A psicóloga Sônia Prado dos em seu meio social. mais bonita da escola. Ao avistar São Paulo virar cabeleireira. Fa-
PROFISSIONAIS QUE Os registros de violência se- desvendou os medos e angústias Tomás, 17 anos, ganha a vida a kombi dos assistentes sociais zer muito sucesso e encontrar o
LIDAM COM AS VÍTIMAS ❛❛ xual contra meninos são escas-
sos. Das 122 mil denúncias rece-
bidas pela Secretaria de Direitos
desses garotos em sua disserta-
ção de mestrado, defendida na
Universidade de Brasília. Ao ou-
nas ruas de Natal, no Rio Grande
do Norte. O menino, que tem cor-
po de mulher, gosta de ser cha-
do município, a garotada corre.
Tomás, que na madrugada já vi-
rou Brenda, fica e aceita conver-
homem da minha vida”. A con-
versa é interrompida por um tra-
ficante que chega ao local e proí-
Sônia Prado, Humanos nos últimos cinco vir relatos, ela descobriu que a mado de Brenda. Ele sonha em ti- sar com a reportagem. “Aqueles be as fotos. Tomás, ou Brenda, se
psicóloga da anos, apenas 37% eram relacio- maioria dos meninos não é vista rar uma das costelas para afinar a meninos fazem programa tam- despede e desaparece na noite
Universidade de Brasília nadas a vítimas do sexo masculi- como vítima, ao contrário do que cintura e quer implantar uma bém. Fazem em troca de dinhei- de Natal.

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7. Meninas da noite correr.Um dos assistentes garante que elas são garotas de Conteúdo especial:
Sábado à noite em Manaus (AM),o brega embala os programa,que já as surpreendeu cobrando por sexo.O Tabela completa com os dados
freqüentadores do restaurante Amarelinho,no bairro educador social convoca um companheiro e os dois do disque-denúncia
Educandos.Brindes feitos com copos cheios de cerveja partem atrás do grupo.As meninas têm mais medo deles
amenizam o calor.A equipe da Central de Resgates chega do que do perigo.Entram em uma das favelas mais
ao local por volta de meia-noite.Ao reconhecer dois perigosas da região.Os educadores sociais seguram duas,
educadores sociais,quatro adolescentes começam a as outras duas somem na escuridão.

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REFÉNS DO ABANDONO 8

Monique Renne/CB/D.A Press

Lares miseráveis
Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press Monique Renne/CB/D.A Press

MÃE COM AS DUAS FILHAS EM ZONA


DE PROSTITUIÇÃO DE NATAL:
CRIANÇA DE SEIS ANOS BRINCA
ENTRE AS MULHERES QUE FAZEM
PROGRAMA NA CAPITAL POTIGUAR

EM PADRE PARAÍSO, MINAS


GERAIS, CINCO IRMÃS SE
PROSTITUEM À BEIRA DA
ESTRADA: “A GENTE FAZ PISTA
PARA GANHAR ALGUM DINHEIRO”

Monique Renne/CB/D.A Press


EM ÁREAS DE m uma casa de taipa, com ra do Partners of the Americas delas pensa em buscar outro ti-

EXTREMA POBREZA,
A EXPLORAÇÃO
E esgoto a céu aberto cor-
rendo pela porta, uma
menina de 13 anos obser-
va a barriga e os seios que come-
çam a crescer. Ela está grávida,
(Companheiros das Américas).
Onde há miséria, existe ex-
ploração sexual. Mas não são
todas as pessoas pobres que se
entregam a essa realidade. Para
po de renda. Jéssica, de 23 anos,
explica a lógica financeira do
negócio: “Emprego aqui não pa-
ga mais do que R$ 100 por mês,
é menos do que a gente ganha
SEXUAL PASSA A SER mas não sabe há quanto tempo. os especialistas, a diferença está em dois dias de pista”. Enquanto
Aparenta ter cerca de quatro me- na valorização familiar e na so- as filhas vão para a estrada, a
O VÍNCULO ENTRE ses de gestação, mas nunca foi lidez dos laços comunitários. “A mãe delas toma conta dos netos.
MÃES E FILHAS. ao médico e não tem a menor auto-estima das famílias, a cria- Mônica tem um bebê de apenas
idéia de como vai cuidar da ção de oportunidades de renda, um mês. O de Melissa tem um
AÇÕES PARA EVITAR criança. Sara foi vítima de explo- a educação das meninas e me- ano e cinco meses.
ração sexual e hoje não vislum- ninos são capazes de evitar que Aliada à pobreza, a falta de es-
A DEGRADAÇÃO bra nenhuma perspectiva de fu- eles se entreguem à explora- trutura familiar contribui para
turo. Está longe da escola desde ção”, afirma a socióloga Améri- que meninos e meninas sejam ví-
MORAL o início do ano, espera um filho e ca Ungaretti, consultora da timas da exploração sexual. Em
ninguém de sua família está em- ABMP. “Mas, para desenvolver Natal, na praça Gentil Ferreira,
DECORRENTE DA pregado. O Bolsa Família, única um ambiente assim, são uma criança de apenas seis anos
fonte de renda da casa, foi can- necessárias políticas públicas e brinca entre as prostitutas que fa-
PROSTITUIÇÃO SÃO celado quando a adolescente ações comunitárias”, completa. zem programa no local. Gabriela
EXCLUSÃO PRATICAMENTE abandonou os estudos. nunca foi à escola e tinha um
A casa de Sara, no subúrbio Irmãs na pista enorme roxo no olho esquerdo
SOCIAL INEXISTENTES. de Mamanguape, interior da Pa- No município de Padre Paraíso, no dia em que o Correio a entre-
raíba, é um retrato de sua famí- em Minas Gerais, seis irmãs repe- vistou. A mãe da menina, Valquí-
lia. O local miserável tem pare- tem a sina da paraibana Sara. ria, de 34 anos, se prostitui há
Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press des em ruínas. O teto quebrado Com idades entre 18 e 26 anos, mais de dez anos na capital poti-
e repleto de teias de aranha não todas ganham o pão na BR-381, guar. A filha mais velha, Carla, de
protege os moradores. É uma ti- conhecida como Rio/Bahia. O di- 17 anos, também vende o corpo
ra de lona que segura parte da nheiro obtido na pista serve para Ilusão perigosa pelas ruas de Natal. Valquíria e
água em dias de chuva. Comida, alimentar as onze crianças da fa- Segundo Carla chegam à praça todos os
a família só tem quando ganha mília. Melissa e Mônica, as duas especialistas, dias às 8h. “Não tenho ninguém
doações. “Não sei como a gente mais novas, foram as primeiras a algumas famílias que possa cuidar da menina. Mi-
sobrevive. Passei a minha vida transformar o sexo com cami- vêem a prostituição nha mãe é muito doente. Tenho
trabalhando em canavial e ago- nhoneiros em fonte de renda. Co- como uma forma de que trazer a Gabriela junto com a
ra estou desempregada, passan- meçaram ainda meninas, aos 13 melhorar de vida. gente”, justifica Valquíria.
do fome”, reclama a mãe de Sa- anos. “No começo, era uma brin- “Os pais acham que, Enquanto Valquíria e Carla
ra, uma mulher de 43 anos que cadeira. Depois, a gente foi se entregando as filhas oferecem o corpo para os moto-
aparenta ser duas décadas mais acostumando”, conta Melissa, gê- para aliciadores, ristas que passam, Gabriela tenta
velha. Diante de tanta miséria, a mea de Mônica. elas terão uma se divertir no pequeno canteiro
garota foi em busca de dinheiro Apesar do barraco de tábuas oportunidade de da Gentil Ferreira. Se a mãe e a ir-
nas ruas. Fazia programas em em que a família mora, as seis ir- ascender social e mã saem para fazer programa, a
boates e postos de gasolina lota- mãs estão vestidas com roupas economicamente. menina de seis anos fica com as
Sexo, merla e café dos de caminhoneiros. da moda. “Aqui não tem empre- Acreditam que a dezenas de prostitutas que circu-
O sistema pensado para pro- go, a gente faz pista para ganhar exploração sexual lam pela praça. A situação da me-
Moradora da cidade paraense de Breves, na região das ilhas do
teger as vítimas não dá conta de algum dinheiro”, reclama Paula, pode oferecer nina assustou até mesmo as edu-
Marajó, Ana, de 15 anos, vende o corpo para marinheiros de
oferecer ações integradas, preser- de 26 anos, a mais velha. Mãe de chances de ganhar cadoras sociais do município.
passagem pela região. Depois de cada programa, a menina magricela dinheiro que elas
var as famílias e afastá-las da ex- quatro crianças e separada do “Como vamos saber se esta me-
parte em busca da merla oferecida por traficantes do município.“Eu jamais terão”, afirma
ploração sexual. “O abuso acon- pai dos filhos, Paula diz que não nina não é abusada? Se a família
quero largar, mas não sei como fazer”, diz ela, que tem a ponta dos Vera Rodrigues, do
tece em todas as classes sociais. teria como manter a família de inteira faz programa, nada garan-
dedos manchada de amarelo e vive com os cinco irmãos e a mãe em Mas a exploração está intima- outra maneira. Na BR-381, o projeto Escola que te que a mãe não receba dinheiro
um barraco a poucos metros do porto onde se prostitui. A mãe da mente ligada à vulnerabilidade preço do programa varia entre Protege, vinculado para permitir que a filha menor
adolescente explorada vende cafezinhos durante o dia para os social das famílias”, explica a so- R$ 15 e R$ 20. Com ganho médio ao MEC. seja tocada”, diz a educadora so-
mesmos homens que violam o corpo da filha durante a noite. cióloga Graça Gadelha, consulto- de R$ 50 por noite, nenhuma cial Maria Lúcia Faustino Silva.

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8. A ponta da exploração o local com maior movimento de turistas da
Conteúdo especial:
A praia de Ponta Negra,uma das mais famosas do cidade,meninas de áreas carentes circulam pela Reportagem extra sobre o fenômeno
Brasil,ainda é o principal ponto de exploração praia em busca de clientes.Muitas jantam com os da interiorização da exploração sexual
sexual de Natal.O vaivém de adolescentes e visitantes em restaurantes de luxo instalados à
Podcast:
aliciadores diminuiu com a instalação de beira da praia.Todas as noites,a kombi dos Professora da UnB, Maria Lúcia Leal
câmeras de segurança ao longo da avenida Beira assistentes sociais cruza Ponta Negra e os explica como a exploração chegou ao
Mar,mas os crimes persistem.Como Ponta Negra é profissionais abordam meninas. interior do país

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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 12 de novembro de 2008 • 11

REFÉNS DO ABANDONO 9

Monique Renne/CB/D.A Press

Viciados no crime vítima. Para justificar a conduta,


Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
A PRISÃO É UMA eles argumentam que a sedução
MEDIDA partiu da criança ou da adoles-
cente. “Eles precisam negar ou
INSUFICIENTE diminuir a responsabilidade
frente aos crimes. Mesmo in-
PARA CRIMINOSOS conscientemente, sabem que fi-
zeram algo extremamente con-
SEXUAIS. SEM denável”, analisa a psicóloga
PASSAR POR Andreína Moura, que prepara
tese de doutorado sobre o tema
QUALQUER na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
TRATAMENTO Mauro (nome fictício), 45
anos, põe a culpa na enteada de
PSICOLÓGICO, 12 anos. Argumenta que a moça
“armou” para cima dele. Ela teria
MUITOS VOLTAM A combinado com a mãe uma ara-
puca para retirá-lo de casa. “Foi
COMETER ABUSOS ela (a menina) que me chamou
TRATAMENTO E REPRESENTAM para o sofá, eu não fiz nada”. Na
versão da menina, o padrasto in-
A AGRESSORES UMA AMEAÇA vadiu o quarto dela, a arrastou
para a sala e tentou despi-la. O
PERMANENTE À estupro só não foi consumado
porque a mãe acordou e sur-
SOCIEDADE preendeu o marido sobre a filha.
Sentenciado a seis anos e seis
meses de prisão, Mauro adota
tom moralista para falar das duas:
agressor treme a voz, “São safadas. Eu criava ela como

O abaixa a cabeça, nega o


crime. Wilson Soares
Santos, 44 anos, cumpre
pena por ter violentado uma me-
nina de apenas três anos. Com
filha e a minha mulher já botou
outro homem dentro de casa”.
Os agressores geralmente en-
frentam problemas com a se-
xualidade. Muitos têm dificulda-
seus dedos longos e unhas com- de em manter relacionamentos
pridas, violou o corpo da filha de adultos. Deficiente físico, o co-
uma vizinha. Pelo crime, Wilson merciante Aureliano Santos, de
ganhou o apelido de Gavião. Co- 57 anos, procurava meninas com
mo a ave predadora, prefere as idades entre 7 e 11 anos para se
“presas” pequenas. Na peniten- satisfazer sexualmente. Oferecia
ciária de Medina (MG), improvi- balas e moedas de R$ 1 para to-
sada nos fundos da delegacia, car no corpo delas e exibia DVDs
não recebe atendimento psicoló- pornográficos. “Não houve dúvi-
gico que o faça refletir sobre a das sobre a culpa dele porque as
barbaridade que cometeu. meninas detalharam muito bem
“Tenho filha, não mexo com a o que acontecia. Elas chegaram
família dos outros”, desconversa até a indicar para a polícia onde
Gavião. A reação mais comum ele guardava os DVDs”, comenta
entre os agressores é negar a vio- a promotora Sumara Aparecida
Só punir lência cometida. Eles conside- Marçal, que apresentou a de-
não resolve ram o ato tão brutal que não ad- núncia à Justiça.
A opção por tratar o agressor mitem nem para si mesmos que Na penitenciária de Medina,
encontra forte resistência na foram responsáveis pelo crime. Aureliano garante que as meni-
A atitude não contribui para a nas é que buscavam por ele. “Elas
opinião pública. A maioria
reintegração à sociedade. Negar iam para a minha casa, pegavam
da sociedade os vê como
a culpa aumenta o risco de rein- o controle remoto, pareciam as
monstros.“As pessoas acham cidência. No caso de Wilson, a donas do lugar”, declara o comer-
que, ao trabalharmos com menina de três anos violentada é ciante, que, durante a entrevista,
um autor de violência a segunda vítima. Em 2000, ele tenta chorar.
sexual, estamos concordando foi condenado por estuprar uma
com o que ele fez. É preciso moça. “Não falo sobre isso, não Castração e vigilância
compreender que o foco do cabe falar, já paguei o que devia”, A maneira correta de lidar com o PRESO POR ABUSAR MENINAS ENTRE 7 E 11 ANOS, AURELIANO SAIRÁ DA PRISÃO SEM QUALQUER
trabalho é a prevenção”, diz Gavião. agressor não é consenso em ou- ATENDIMENTO TERAPÊUTICO: MAIS DE 30% DOS AGRESSORES SEXUAIS REINCIDEM NO CRIME
explica a psicóloga Karen Não é apenas na cadeia do tras partes do mundo. Na Fran-
Esber, que durante o interior de Minas que os agres- ça, a castração química — trata- Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
sores ficam sem atendimento. mento hormonal que diminui o
mestrado na Universidade
No Brasil, experiências de trata- desejo sexual — é defendida pe-
Católica de Goiás pesquisou
mento para eles são iniciativas lo presidente Nicolas Sarkozy.
o universo dos autores de isoladas. Até hoje não foi formu- Em agosto, ele anunciou a cons-
violência sexual. Ela lada uma estratégia nacional de trução de um hospital psiquiá-
trabalha em um programa atenção aos abusadores sexuais. trico para tratamento de conde-
pioneiro que atende detentos Depois de cumprir as sentenças, nados por crimes sexuais. Nos
do Complexo Prisional eles voltam às ruas sem passar Estados Unidos, alguns estados
Goiano.“Muitos foram por qualquer tipo de atendi- adotam métodos de vigilância
vítimas de violência, são mento psicológico. eletrônica. Os passos dos vio-
pessoas que têm problemas As chances de reincidência lentadores são comunicados a
com a sexualidade. Precisam são grandes. Uma pesquisa re- uma central de polícia por meio
cente realizada nos Estados Uni- de sinais emitidos por chips.
ser tratadas”, completa
dos mostra que 33,2% dos abusa- “A discussão sobre o trata-
Karen Esber.
dores voltam a cometer crimes mento do agressor é muito no-
sexuais. Quando recebem trata- va. Ainda temos de avançar mui-
mento terapêutico, o percentual to”, reconhece Neide Castanha,
cai para 14%. “Temos de investir secretária-executiva do Comitê
na Justiça restauradora, que faça Nacional de Enfrentamento à
os agressores terem a consciência Violência Sexual contra Crian-
dos crimes e que, inclusive, os le- ças e Adolescentes. Para ela, a
ve a pedir perdão para as víti- complexidade do assunto mere-
mas”, afirma Carmen Oliveira, ce maior investimento em pes-
subsecretária de Promoção dos quisas. “A penalização não dá
Direitos da Criança e do Adoles- conta de resolver o assunto. É
cente, da Secretaria Especial dos necessário fazer algo para evitar
Direitos Humanos. a reincidência”, acrescenta. “A
primeira reação é apartá-los do CONDENADO A SEIS ANOS POR TENTAR ABUSAR A WILSON, CHAMADO DE GAVIÃO NA CIDADE DE MEDINA
Culpa da vítima convívio. Mas isso não contribui ENTEADA, MAURO JOGA A CULPA NA MULHER E NA (MG) POR PREFERIR AS “PRESAS” PEQUENAS:
Uma estratégia comum entre para a construção de uma socie- GAROTA. TOM MORALISTA PARA FALAR DO ASSUNTO: ABUSADORES NEGAM A BRUTALIDADE DA AGRESSÃO
agressores confessos é culpar a dade mais pacífica.” "SÃO SAFADAS" SEXUAL E ACUSAM AS VÍTIMAS

9. Receio paraibano nossas meninas sejam exploradas",explica a secretária correiobraziliense.com.br


A capital paraibana ainda não é um dos destinos municipal de Desenvolvimento Social de João Pessoa, Podcast:
A consultora da Associação de
turísticos favoritos no Nordeste,mas o fluxo de visitantes Francisca Chagas.Na praia de Cabo Branco,uma das Magistrados e Promotores de
aumenta a cada dia.O desafio das autoridades mais conhecidas da capital paraibana,adolescentes Defesa da Infância e da Juventude
municipais é fomentar o turismo sem trazer a exploração começam a aparecer cedo,a partir das 8h.As três jovens América Ungaretti explica a
importância de dar tratamento
sexual."Essa é uma das nossas grandes preocupações. que aparecem na foto correram ao perceberem que psicológico aos agressores
Queremos trazer mais visitantes para João Pessoa,mas haviam sido flagradas.Mas no dia seguinte,duas delas
estamos trabalhando preventivamente para evitar que estavam no mesmo local.

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REFÉNS DO ABANDONO

Todos contra
a violência
Monique Renne/CB/D.A Press

GRUPO DE TEATRO EM CAPIM, NA PARAÍBA, ENCENA


A HISTÓRIA DE GENI. ASSIM COMO NA MÚSICA DE
CHICO, PERSONAGEM É APEDREJADA PORQUE FAZ
SEXO COM ESTRANGEIRO

Uma infância de sorrisos e brincadeiras, uma adolescência com Em Capim, na Paraíba, estudantes criaram uma peça teatral para
sonhos e projetos, uma família que apóia e protege. Essa fórmula alertar sobre as armadilhas da violência sexual. Com essas
simples pode evitar casos de violência sexual e garantir o bem-estar iniciativas simples, meninos e meninas ficam menos vulneráveis e
de crianças e jovens. Em dois pequenos municípios brasileiros, traçam um futuro sem agressões, abusos ou exploração.
projetos que apostam na valorização da infância e no protagonismo A importância do protagonismo é um dos temas da 3ª edição do
juvenil fazem diferença na luta contra o abuso e a exploração sexual. Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual contra
Quem antes corria o risco de se tornar vítima ajuda Crianças e Adolescentes, que será realizado de 25 a 28 deste mês, no
a escrever uma nova história para a comunidade. Rio de Janeiro. Os jovens participarão diretamente da organização e
Em Itaobim, Minas Gerais, a Casa da Juventude — ONG criada por estarão lado a lado com os especialistas nos debates. Serão peça-
religiosos católicos - tirou meninas exploradas da beira das rodovias. chave na criação de políticas públicas em favor de toda a infância.

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press


PROJETOS QUE cidade de Itaobim, em Mi- da Casa. Aprendem habilidades são exploradas e as que não anos, se transforma em Geni.

VALORIZAM A INFÂNCIA
E A ADOLESCÊNCIA SÃO
A nas Gerais, já foi conheci-
da como o paraíso dos ca-
minhoneiros à procura de
sexo pago. Dezenas de meninas fi-
cavam à beira da BR-116 à dispo-
que possam reforçar o orçamen-
to doméstico e ajudam a cuidar
das crianças mais novas e a man-
ter o espaço organizado. “A Casa é
de todo mundo. Então, todos têm
são”, acredita a socióloga Amé-
rica Ungaretti.
No interior da Paraíba, escola,
conselho tutelar e Ministério Pú-
blico se aliaram para encabeçar
Mesmo sem nunca ter feito curso
de teatro, a menina interpreta o
drama da personagem com mui-
ta emoção e realismo. “Conheço
muitas garotas que sofreram o
UMA ARMA PODEROSA sição dos motoristas de passa- responsabilidade aqui dentro”, um projeto que combate a vio- mesmo problema mostrado na
gem. Com o tempo, a situação se afirma Flávio de Oliveira, de 28 lência sexual por meio da arte e peça. Quando tive essa oportuni-
CONTRA O ABUSO tornou constrangedora até para anos, que entrou no projeto aos da informação. Os alunos da Es- dade de ajudar a acabar com a
SEXUAL. GRUPOS E os moradores da cidade. Há uma 17 anos e é um dos líderes. cola Estadual Olho d'Água, no violência, resolvi me dedicar de
década, entretanto, religiosos ca- A relação entre o projeto e o pequeno município de Capim, verdade”, explica Lígia, com um
INSTITUIÇÕES tólicos iniciaram uma bem-suce- combate à violência sexual é a participam de uma peça de tea- enorme sorriso no rosto.
dida intervenção nessa realidade. promoção da auto-estima das tro que discute a exploração se- A pedido do Correio, o grupo
PROMOVEM No bairro mais pobre e vio- crianças, adolescentes e de suas xual. A história de uma menina da Escola de Olho d'Água apre-
lento do município, abriram um famílias. Ao oferecer oportunida- que faz programas e sai com tu- sentou a peça Menina Abusada
ATIVIDADES LÚDICAS E espaço de educação e lazer — a des de geração de renda, a Casa ristas estrangeiros é parte do pro- em 29 de setembro. A comunida-
Casa da Juventude. Lá, a regra contribui para diminuir a vulne- jeto Menina Abusada. A iniciativa de do distrito se aglomerou em
CAMPANHAS são as portas abertas. “Aqui, en- rabilidade dos participantes. é voltada para a prevenção de volta do colégio para assistir a
tra quem quer, à hora que quer”, Protagonista da Casa da Ju- uma realidade comum na região. mais uma apresentação. Sem di-
EDUCATIVAS PARA explica Maria Aparecida Quei- ventude, Daniele da Silva, de 15 O texto, criado pelo Ministério nheiro e sem estudar, a persona-
AFASTAR CRIANÇAS E roz, conhecida como Lia. “Apos- anos, participa de um grupo de Público da Paraíba, já foi encena- gem começa a fazer programas,
tamos na educação com liber- jovens que discute o abuso e a ex- do pelos jovens de Capim em vá- influenciada por garotas que já
JOVENS DO PESADELO dade. É mais difícil, mas é a ma- ploração sexual. Junto com os rios municípios da região. estavam na exploração sexual.
neira que encontramos para companheiros, já elaborou carti- No final da peça, Geni deixa de
DA EXPLORAÇÃO reunir as pessoas e conciliar as lha e peça de teatro sobre o tema. História de Geni ser explorada e volta para a esco-
diferenças”, completa ela, que “A mensagem é que a vítima deve O grupo de teatro tem 15 estu- la. Em meio às músicas de axé e
faz parte da comunidade Papa dizer não. Ela tem caminhos para dantes, de 14 a 21 anos. Eles cria- funk, os atores apresentam, ao fi- CASA DA JUVENTUDE EM MINAS:
João XXIII. fazer isso”, comenta Daniele, que ram o figurino colorido e todo o nal, um jingle criado pela própria INICIATIVA DE RELIGIOSOS
A Casa da Juventude funciona nunca vendeu o corpo, mas co- cenário da peça. Por onde pas- equipe sobre a importância de CATÓLICOS ATENDE 500 FAMÍLIAS
em um galpão que já foi fábrica nhece meninas que já o fizeram. sam, os jovens atores atraem denunciar casos de abuso e ex-
de laticínios. Atende a 500 famí- “Elas vão para a pista porque crianças, adolescentes e adultos, ploração sexual pelo telefone dis-
lias. As crianças recebem reforço querem dinheiro. A gente tenta que assistem atentos à história de que 100. “Ninguém conhecia o
escolar e freqüentam oficinas de mostrar que o corpo e a vontade Geni. Assim como na música de telefone para fazer denúncias.
música e aulas de esporte. Os dela são coisas que não devem Chico Buarque, a personagem é Com a peça, a gente conseguiu
mais velhos vão para cursos de ser vendidas”. apedrejada pelos vizinhos. As divulgar o serviço e mobilizar to- correiobraziliense.com.br
informática, teatro, artesanato e A receita da ONG de Itaobim agressões começam quando os da a comunidade em torno desse Vídeo:
Trecho da peça Menina Abusada e
atividades profissionalizantes. é aprovada por especialistas. conhecidos descobrem que a me- tema”, explica a conselheira tute- reunião de fim de tarde na Casa da
“Eles experimentam e escolhem “Não é tanto a condição de po- nina é explorada sexualmente. lar de Capim Marinez Trajano. No Juventude
o que preferem”, comenta Lia. breza, mas sim a auto-estima e Com uma coroa de margari- interior da Paraíba e de Minas
As mães também são incenti- a proteção familiar que fazem a das sobre os longos cabelos escu- Gerais, há esperança contra a Veja mais na internet:
vadas a participar do cotidiano diferença entre as meninas que ros, Lígia Lopes dos Santos, 14 realidade da exploração. Programação completa do Congresso
Mundial de Enfrentamento da
Exploração Sexual contra Crianças e
Adolescentes

Disque 100
para denunciar casos de violência sexual

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