Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
A análise de minerais na área de nutrição animal tem como limitantes
os baixos níveis de minerais nos tecidos e as pequenas quantidades de amostra,
em virtude disso, a maior preocupação com qualidade é evitar a contaminação,
que pode ocorrer em praticamente todas as fases da análise. Uma das
dificuldades do estudo de mineral nos animais são as interações que podem
ocorrer entre eles, desde o alimento até a utilização pelos tecidos, isto faz
com que seja necessária a análise de vários elementos. Um dos pontos chaves
na qualidade é a coleta e preparo da amostra, que se não forem adequados
comprometem todo o restante do processo. A rotina de trabalho no laboratório
também é de extrema importância, há uma série de cuidados indispensáveis
para assegurar a qualidade. Atualmente há vários equipamentos e métodos
para análise de minerais, sendo que com o avanço da eletrônica e das técnicas
computacionais, o custo dos equipamentos tem diminuído sensivelmente ao
longo do tempo, facilitando sua aquisição. A escolha do método adequado é
indispensável e com tantos equipamentos e técnicas disponíveis a análise ficou
muito mais fácil e precisa. Há uma série de recomendações indispensáveis para
garantir a qualidade da análise de mineral, mas, a principal delas é a utilização
de material de referência certificado e de organismo independe.
INTRODUÇÃO
Apesar da análise de minerais não variar muito entre os diferentes
materiais, geralmente quando trabalhamos com tecido animal, há que se alguns
cuidados especiais principalmente com contaminação, sendo um fator de
complicação os baixos níveis nos tecidos e a pequena quantidade de amostras.
Na nutrição animal há um grupo de elementos considerados essenciais para
os animais e outro grupo tóxico, como podemos ver na Tab. 1. Os minerais
são ainda classificados como macro elementos (ocorrem em concentrações
superiores a 100 mg/kg) ou como micro elementos (abaixo de 100 mg/kg).
89
Tab. 1 – Macro e micro elementos minerais essenciais e micros essenciais em situações especiais*
90
nutricionistas. Analisar apenas um elemento geralmente fornece pouca
ou nenhuma informação, uma vez que na maioria das vezes ele pode estar
relacionado negativamente ou positivamente com outro.
91
Outra preocupação não menos importante na amostragem é o tipo
de material que será utilizado na coleta, deve ser dada preferência a material
de aço inoxidável. O uso de aço não oxidável , a exposição ao ar e o uso
de recipientes contaminados (cuidado com a reutilização de embalagens!)
são as principais fontes de contaminação de tecidos animais, enquanto que
para amostras de forragem, as principais fontes de contaminação são o solo,
poeira atmosférica e os procedimentos de coleta e de moagem. Segundo
McDowell (1992), mesmo utilizando moinhos com lâminas de aço inoxidável
há possibilidade de contaminação principalmente com Cr, mas ainda pode
haver contaminação por Ni, Co, Mn e Fe. Amostras de sangue podem ser
contaminadas com o anticoagulante utilizado, ou mesmo com a agulha de
coleta, o ideal é utilizar agulha de aço inoxidável. As tampas de borracha
utilizadas em tubos tipo “vacutainer” para sangue já foram importantes fontes
de contaminação de zinco. O uso de luvas plásticas para lidar com amostras
de tecidos é indispensável. Mesmo para amostras de alimentos pode haver
contaminação quando não se usa luva de borracha ( infelizmente o talco usado
em algumas luvas pode ser uma grande fonte de contaminação!). Para coletar
as amostras, é importante utilizar material de polietileno (sacos e frascos).
Sacos de panos e de papel podem conter nas cinzas até 2000 mg/kg de Cr,
Cu, Mn, Ni, Pb, Zn e até 100 mg/kg de Ag, Be, Co, Ga, Mo, Sn, Sr, V, Y e
Zr. Armazenagem de líquidos em vidros pode causar perda de Mn, Mo, Ni,
Ti e V. Armazenamento de material em vidro de boro silicato de sódio pode
contaminar as amostras com Na e B (MILES et al., 2001).
Na maioria das vezes a preocupação é apenas com a contaminação
da amostra, o que leva a valores superiores ao esperado, mas pode haver o
inverso, ou seja, o recipiente adsorver o elemento mineral, fazendo com que o
resultado seja inferior ao esperado, isto também é chamado de contaminação
negativa (MERTZ, 1986). Vários trabalhos já demonstraram que determinados
plásticos podem adsorver o selênio.
Atualmente é comum a utilização de geladeiras e freezers “frost-
free” para conservar amostras, neste caso há desidratação e a consequente
concentração da amostra, aumentando os níveis dos minerais.
Além de todos os cuidados acima descritos para com as amostras,
tem um ponto que geralmente não merece atenção e que tem causado grandes
perdas em resultados: a identificação inadequada das amostras. Não só
erros básicos como identificação do grupo e não das amostras individuais,
numeração repetida ou até mesmo ausente, mas também identificação com
marcadores não resistentes à água, umidade, congelamento etc. Também não é
raro a amostra estar devidamente identificada com códigos que se perdem após
a obtenção dos resultados.
92
CUIDADOS NO LABORATÓRIO
No laboratório é importante que a preparação da amostra seja feita em
local diferente da análise e que, principalmente a água seja além de destilada
(ou bidestilada), deionizada e armazenada com recipientes adequados
(polietileno). No destilador a água não pode entrar em contato com partes de
metal (principalmente resistência). Vidro e Pirex podem contaminar soluções
ácidas com Al, B, Ca, Fe, Pb, Li, Mg, Mn, Na, Si e Sc (Miles et al., 2001).
Uma das fontes mais comuns de contaminação no laboratório são os reagentes,
mesmo os reagentes “das melhores marcas” podem apresentar níveis elevados
de contaminantes, principalmente no caso do selênio. É importante checar os
níveis de garantia antes da utilização e sempre utilizar na análise o “branco”.
A poeira e a fumaça são fontes importantes de contaminação e podem
ser trazidas também pelo aparelho ar condicionado.
Os vapores de ácido comuns nos laboratórios podem liberar uma
série de elementos (Cd, Cu, Ni, Pb, Zn etc.) existentes nas partes de metal,
como as maçanetas das portas, canaletas, canos, cadeiras etc. É importante
manter todo ácido em capela.
A limpeza do material utilizado na análise de minerais é de grande
importância, principalmente do material que é reutilizado, como os cadinhos,
vidraria e pipetas etc., o esquema para limpeza de material proposto por Miles
et al., (2001) é o que segue:
93
c) Pipetas: Deixar as pipetas por uma noite em um cesto dentro de
recipiente de nalgene em solução de detergente sem fosfato. Transferir o cesto
para um lavador sifonado e lavar por três vezes com água deionizada. Deixar
as pipetas por uma noite em tanque de nalgene contendo solução de HNO3
10%%, lavar três vezes em lavador sifonado com água deionizada e secar em
estufa com temperatura inferior a 90ºC.
ANÁLISES
Matéria Mineral
Não é raro encontramos em uma análise de alimentos o termo “matéria
mineral” ou “cinzas”. Nesta análise o material é queimado a temperatura
de 350 a 600º. C visando a destruição de toda a matéria orgânica (Ewling
e Charlton, 2005), que é transformada em CO2 e H2 O. Certa quantidade de
CO2 pode permanecer nas cinzas formando carbonatos com metais alcalinos,
nos produtos de origem terrestre forma-se K2CO3 e nos produtos de origem
marítima, ricos em sódio, forma-se Na2CO3 (SILVA e QUEROZ, 2005). Está
análise tem pouco significado na nutrição animal, principalmente quanto se
trata de plantas. Neste caso, a sílica geralmente está presente em grandes
quantidades. Em alguns alimentos como, por exemplo, farinha de carne
ou de peixe, a análise de matéria mineral é importante para saber se houve
adulteração das mesmas (osso em excesso). Também é importante ressaltar
que esta análise não é precisa uma vez que ocorre perda de mineral volátil
como o cloro, iodo e o selênio, além de poder possuir carbonatos como já
citado e ainda óxidos e sulfatos. Mas o principal ponto negativo é não informar
quais os minerais presentes. Em temperatura de 650º. C pode ocorrer perda de
I, K, Cu, Zn, PB e Se (MILES et al., 2001).
Digestão da amostra:
Há vários métodos de digestão de amostra, sendo os principais os
abaixo relacionados:
94
2) Digestão úmida: A digestão úmida tem como principal vantagem
não haver perdas por volatilização, podendo ainda ser realizada em pouco
tempo, em compensação possui várias desvantagens: uso de ácidos fortes que
necessitam de cuidados especiais, risco de explosão no caso do uso de ácido
perclórico, os ácidos se constituem em fonte de contaminação ao ambiente,
possibilidade de contaminar o ambiente, custo elevado. É indicada para
amostras de tecidos animais.
95
por espectrometria de massa (IDMS), fluorescência por raios-X (XRF),
espectroscopia de emissão ótica por plasma induzido (ICP-OES), espectroscopia
de massa por plasma induzido (ICP-MS e ICP-TOFMS), espectroscopia por
refletância infravermelha (NIRS), cromatografia gasosa com espectrometria de
massa, fluorimetria, fotometria de chama, eletrodo de íon seletivo etc. (Ewing
& Charlton, 2005).
Abaixo são apresentados os princípios dos métodos mais utilizados
atualmente.
2) Ativação por Nêutrons: Apesar de ser uma técnica que analisa multi-
elemetos, é cara e geralmente utilizada principalmente em centros de pesquisa,
por trabalhar com técnica de radio química. Nela, a amostra é bombardeada
com nêutrons e os elementos emitem radiação específica que é medida, por
isso, é bastante sensível (GILL et al., 2004).
96
um grande número de elementos ao mesmo tempo (KARACAN & ÇAGRAN
2009).
97
anteriores. Estes princípios são contemplados pelas Boas Práticas. Para que o
controle de qualidade seja efetivo, há a necessidade do engajamento de todos os
envolvidos, a começar pela direção do laboratório, até o responsável pela limpeza.
O propósito do programa é monitorar o processo analítico e não o pessoal.
Além de constituir em uma ferramenta educacional, deve ser estabelecido
processo de validação. Os principais objetivos do controle de qualidade é
reduzir os erros analíticos a níveis aceitáveis, reduzir o trabalho para obter
dados confiáveis e prover uma base de dados para comparação de resultados.
O controle de qualidade é necessário para satisfazer o desejo do analista para
um trabalho de qualidade, para agir com responsabilidade com relação aos
descartes de resíduos e para gerar relatórios e documentação para uso imediato
e futuro, no interesse de todos. A motivação para que o controle de qualidade
seja eficiente é fundamental, ela é uma ferramenta de marketing muito forte,
além da qualidade dos resultados, as pessoas envolvidas tem sua reputação
melhorada, além do que os laboratórios sem CQ não sobreviverão!
Para implantação de um sistema de qualidade é imprescindível
conhecer a natureza dos erros, o sistema de medida e o que fazer para
minimizar os erros. No caso dos minerais, os principais pontos que influenciam
negativamente nos resultados já foram listados anteriormente, o conhecimento
de cada um deles é imprescindível.
98
Fig. 2 - Pobre acurácia e pobre precisão
99
Uma maneira prática para checar a precisão é analisar duplicada de
5% das amostras e para acurácia analisar 5% das amostras com fortificação
ou taxa de recuperação. É desnecessário ressaltar a importância do uso de
material de referência para as checagens. Para minerais é bastante utilizado
o material de referência (SRM-Standard Reference Materials) do NIST
(National Institute of Standards and Technology) do governo americano
(http://ts.nist.gov/srm). As amostras certificadas possuem erro desprezível e alta
precisão, uma vez que geralmente utilizam espectroscopia de massa ou ativação
por nêutrons e ainda geralmente são determinadas por no mínimo dois métodos
de análises aceitos, podendo ainda ter sido analisada por mais de um laboratório.
Segundo Miles (comunicação pessoal, 19971) para assegurar
qualidade na análise de minerais é importante observar os seguintes pontos:
100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARIN, J.S.; FERREIRA, J.S.F.; MELLO, P.A.; KNORR, C.L.; MORAES, D.P.; MESKO,
M.F.; NOBREGA, J.A.; KORN, M.G.A.; FLORES, E. M. M., Focused microwave-induced
comnbustion for diggestion of botanical samples and metals determination by ICP OES and ICP-
MS. Talanta, v. 94, p. 308-314, 2012.
GILL, S.; HEVIA, M.D. ; RESNIZKY, S. Selenium in bovine plasma, soil and forage measured by
neutron activation analysis. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 56, n. 2, p. 264-266, 2004.
HANÉ, A.; KOMOROWICZ, I.; ISKRA, M.; MAJEWSKI, W.; BARALKIEWCZ, D. Application
of spectroscopic techniques: ICP-OES, LA-ICP-MS and chemometric methods for studying
the relationships between trace elements in clinical samples from patients with atherosclerosis
obliterans. Anal Bioanal. Chem. , v.399, p. 3221-3231, 2011.
KARACAN, M.SZ. ; ÇAGRAN, F. Multielement determination in fruit, soaps, and gummy extract
of Pistacia terebinthus L. by ICP OES. Turk J. Biol., v. 33, n. 4, p. 311-318, 2009.
PHAN-THIEN, K.Y., WRIGHT, G.C.; LEE, N.A. Inductively coupled plasma-mas spectrometry
(ICP-MS) and optical emission spectroscopy (ICP-OES) for determination of essential minerals in
closed acid digestates of peanuts (Arachis hypogaea). Food Chemistry, v. 134, p. 453-460, 2012.
McDOWELL, L.R. Minerals in Animal and Human Nutrition, Academic Press, New York, 1992,
524 p.
MERTZ, W. Trace elements in human and animal nutrition, 5 ed. Academic Press, Inc. San
Diego, 1987, v. 1,480 p.
SILVA, D.J.; QUEROZ, A.C. de. Análise de Alimentos. Ed. UFV, Viçosa, MG, 233p, 2005.
101