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TREINAMENTO

PSICOTERAPEUTA DE 4ª
GERAÇÃO

AULA 1

LINCOLN POUBEL E
PEDRO RODRIGUES

Espinha Dorsal

Explica por evidência


os comportamentos AC
Análise do
comportamento
Método THP
Terapia e Treinamento
de Habilidades
Psicológicas
TCC
Terapia
Cognitivo THP
Comportamental

PP
Psicologia
Traz os procedimentos,
Positiva
intervenções por resultados

Traz metas por


parâmetros de
saúde psicológica
ALERTA: FUJA do efeito "sala de descompressão"!
Há uma crença que limita muitos psicoterapeutas ao processo clínico; que pode ser
também um motivo de descrédito da psicologia. É o que chamamos de "efeito sala
de descompressão".

Esse efeito caracteriza um ciclo vicioso de catarse, em que:

> O cliente passa a semana se estressando, tendo conflitos, passando por angústias,
perdas e problemas, porque a realidade dele está aversiva e frustrante;

> Ele chega na sessão e alivia-se ao ter uma catarse emocional com o terapeuta que
se coloca como um receptor, se valendo do argumento de que estão usando uma
escuta acolhedora e empática (o que é necessário, claro);

> Como o cliente sente-se bem, em curto prazo parece que a terapia o está ajudando;

> Mas o fato é que ele não está desenvolvendo habilidades psicológicas para atuar
diferencialmente na vida;

> Em longo prazo, voltando para sua realidade aversiva, os problemas e sintomas
retornam, reiniciando o ciclo de acúmulo de estresses.
Os pressupostos que podem estar por trás
desse efeito são:

> "terapia é um processo longo e lento mesmo"


A pessoa acumula
estresses
> "mudança acontece a partir de um processo
interno do paciente"
Despeja tudo
Volta para sua na sessão
realidade > "o terapeuta é apenas o catalizador do
Efeito "sala de
estressante, sofrimento do paciente".
descompressão"
frustrante ede
perdas
Sente-se aliviado
São crenças que atrapalham o profissional a
momentaneamente assumir a responsabilidade de entregar um
Não desenvolve por essa catarse serviço consistente que promova
repertórios
transformações na vida do cliente.
saudáveis

Vamos então ao conteúdo principal da aula.


Apresentaremos um passo a passo da 1ª
sessão em 3 tópicos, de forma teórico-
ilustrativa.
AÇÃO 1 - ACOLHIMENTO

> A primeira ação que o terapeuta deve prestar é o acolhimento. O


paciente pode chegar mais ou menos angustiado, talvez estável
ou desordenado pelas crises recentes que teve.

> O psicoterapeuta o convida gentilmente para entrar no


consultório e apresenta esse espaço como um lugar diferenciado,
dizendo que ele pode sentir-se à vontade pois esse não é um
espaço de julgamentos. Pelo contrário, é um espaço profissional
onde nós receberemos suas experiências, qualquer que sejam
elas.

>É importante também que o terapeuta apresente resumidamente


seu currículo e interesses profissionais. Logo em seguida, tome
dados básicos sobre o paciente, como idade, com que mora,
estado civil, profissão, rotina etc.

> É possível apresentar alguma noção teórica de como a terapia


pretende funcionar, fornecendo uma perspectiva técnica da sua
condução.
SIMULAÇÃO:

T: Olá Pedro, vamos ao nosso atendimento? Por favor, me acompanhe.


(O terapeuta pode aqui oferecer uma água, por exemplo, praticando uma
recepção gentil e confortável)

T: Como você chegou ao meu trabalho? Teve alguma indicação?

P: Eu sou vizinho de uma ex-aluna sua. Eu sabia que ela estudava psicologia
e ela falou que tinha um professor que atendia e era sua referência.

T: Você tem o nome dela? Porque eu quero agradecer essa confiança.

P: Sim, a Laura.

T: Ah sim. Vou mandar uma mensagem de agradecimento, se você não se


importar.

P: Tudo bem.
T: Mas... quero te garantir de antemão que tudo que acontecer aqui dentro
corre em sigilo profissional; de modo que a minha relação com a Laura é
somente profissional, sendo seu professor. Jamais compartilharia com
qualquer pessoa que seja qualquer informação que você me traga,
entendo que é confidencial. Então esse é um espaço para você se revelar
mesmo, colocar todas as suas questões; seguro de que está em uma
relação profissional.

P: Sim.

T: Também quero apresentar um pouco do tipo de trabalho que realizo; e


depois gostaria de conhecer algumas características suas e de como você
vive, antes da gente entrar no motivo que te trouxe aqui. Ok?

P: Ok.

T: Eu sou terapeuta cognitivo-comportamental há mais de 10 anos. Você


já ouviu falar sobre esse tipo de terapia? Sabe algo sobre psicologia?

P: Não, não leio sobre isso. Conheço bem pouco.


T: Então a psicologia vem ao longo dos anos se modernizando,
entendendo que tudo que os seres humanos fazem vem de um histórico de
experiências que nem sempre estamos conscientes de como aconteceu.
Mas a ideia é que, formando essa parceria de trabalho, quando houver
algum incômodo relacionado ao que você deseja trabalhar, você vai
registrar os elementos dessa experiência: onde está acontecendo, com
quem, em qual circunstância e, dentro disso, como você reage, tanto em
termos de interpretação, visões que teve ali, como se sentiu, o que você
fez para buscar o que pretendia, se conseguiu ou não esse resultado.
Então vamos começar a fazer uma ciência das suas experiências.
Psicologia é basicamente isso.
Pessoas têm suas experiências e, nelas, formam seus comportamentos.
Tentam viver com eles e eventualmente muitos deles são bons pra gente,
mas outros tantos podem não nos ajudar. Faz sentido?

P: Faz sim. Compreendo.


T: Isso é importante, porque existe uma parceria que vamos começar a
estabelecer. Eu vou trazer os conhecimentos da psicologia, os parâmetros
do que precisa ser desenvolvido, vou compartilhar tudo isso para você
verificar se é realmente isso que você está buscando ou precisando, e vou
trazer como a gente pode alcançar isso através dos recursos
terapêuticos. Compreende?

P: Sim, ótimo. Eu acho que até agora estou meio perdido, como se
estivesse tudo "embaçado", e não sei como orientar a minha vida. Acho
que isso vai me esclarecer.

T: Ok então. Se você não se importar daqui pra frente, eu gostaria de


tomar notas da nossa sessão com o intuito de ter esse registro sigiloso,
mas necessário para direcionar nossas sessões. Ok?

P: Sim, sem problemas.

T: Então, antes de mais nada, me fale seu nome completo.

P: Pedro _________________.
T: Quanto anos, Pedro?

P: 30 anos.

T: Você é casado ou solteiro?

P: Sou solteiro e moro sozinho há 5 anos, quando me formei.

T: Ah sim. Você se formou em que?

P: Engenharia da computação.

T: Você já namorou ou esteve em um relacionamento?

P: Sim, namorei por 2 anos, mas terminamos quando me formei e mudei


de estado, para cá no caso.

T: E me fale um pouco da sua família, seus pais, irmãos se os tiver.

P: Sim, minha família é de São Paulo. Lá moram meu pais, que são
casados, e minha irmã mais nova. Eu me mudei para cá justamente pela
oportunidade de emprego.
T: Ok. E como é a sua rotina? O que você faz ao longo da semana.

P: Sim. De segunda a sexta eu trabalho nessa empresa.

T: De que horas até que horas?

P: De 8h às 18h. Aí à noite costumo ficar em casa, assistindo filme, peço


comida por delivery. Quase não saio. Antigamente fazia academia, mas
parei. Hoje eu durmo cedo, então logo vou para cama.

T: Tem variações nesses dias? Faz algo diferente?

P: Tem sido bem isso mesmo.

T: E como você passa seus finais de semana?

P: Meus finais de semana eu passo em casa também, porque estou


trabalhando em um projeto pessoal. Um software que pretendo vender no
futuro. Tenho parceiros de outros estados. Cada um faz sua parte e nos
reunimos online. Então tiro o final de semana para empreender.
T: Além disso, faz algo diferente no final de semana?

P: Às vezes decido tomar café da manhã em alguma padaria ou fazer uma


caminhada na lagoa.

T: Beleza. Então aqui estou conhecendo seu estilo de vida. Nossa rotina
pode revelar o que tem presente na nossa vida, o que nos agrada. Vamos
examinar mais isso em outro momento, porque agora, já conhecendo um
pouco mais você, gostaria de saber o que traz você aqui.
AÇÃO 2 - QUEIXA

> Agora o terapeuta parte para investigar a queixa do paciente. Nesse


momento o terapeuta pode abordar perguntando "o que vem acontecendo
com você?", "como você vem se sentindo?", "qual é o motivo da procura
por um atendimento?".

> Do geral para o específico, o terapeuta abre para o paciente se expressar


da maneira que preferir. Enquanto isso o profissional vai escutando e
identificando o nível de autoconhecimento do paciente.

>É fundamental encaminhar a queixa para exemplos concretos. Tão logo


pedir uma ou 2 experiências recentes que exemplifiquem o sofrimento,
conflito ou incômodo do qual se queixa.

> O intuito aqui é mapear detalhadamente os elementos que compõem a


experiência concreta, através da análise contextual-funcional,
identificando as vulnerabilidades psicológicas vigentes.
> Basicamente, as variáveis de uma contingência experiencial incluem:

(a) necessidades ou estressores - qual era o problema, qual era carência


ou motivação;

(b) situação - onde, quando, com quem, o que estava sendo falado, que
horas, o que tinha naquele contexto;

(c) pensar, sentir e agir - como interpretou, qual significado deu, como se
sentiu, o que fez ou falou;

(d) consequências de curto e longo prazo - qual foi o desfecho, ganhos ou


perdas, imediatos e futuros.

> Se o paciente não descrever espontaneamente cada variável, o terapeuta


ajuda-o a se observar e relatar a variável que estiver faltando;
SIMULAÇÃO:

T: Então agora vamos entrar naquilo que você veio buscar para trabalhar
em terapia. Para isso, vou utilizar um formulário para guiar o exame
dessa queixa, chamado "registro de interações".
Assim vamos identificar do que a experiência que você viveu é formada e
as variáveis que estão te afetando.
O objetivo é você aumentar a sua auto-observação.
Aqui vamos fazer juntos, mas durante a semana você poderá praticar isso
na sua vida quando as dificuldades aparecerem.
Aqui vou fazer junto para mostrar o que precisamos observar.
Esse é um ponto importante, Pedro, porque todos os meus conhecimentos
serão utilizados em cima das suas vivências.
Então se você não alimentar a terapia com as suas experiências pessoais,
eu não terei o que fazer; não oferecerei intervenções sem antes conhecer
o que você vive. Então vamos lá. Por que você está buscando um trabalho
terapêutico?

P: O que me motivou essa busca foi a ansiedade. Sinto ansiedade. Acho


que é algo que eu tenho mesmo dentro de mim.
T: Ansiedade. E como você observa sua ansiedade? Como ela se
manifesta?

P: Olha, a primeira coisa que eu lembrei aqui está relacionada ao meu


trabalho. Eu vim para cá por causa desse trabalho e quando eu monto um
projeto lá, preciso apresentá-lo nas reuniões. E aí começo a pensar que
eles não vão gostar do meu trabalho, vão me criticar e acabo travando.

T: Já temos um material aqui para trabalhar. Você tem uma última


situação em que isso aconteceu? Foi demandado um projeto e você se
sentiu ansioso com isso. Quando aconteceu pela última vez? Essa
semana? Semana passada.

P: Tenho sim um acontecimento desse que aconteceu na semana passada.


A gente tinha assumido um projeto de construir um software para uma
escola, que precisava de um programa para organizar seus dados de
secretaria. Fiquei encarregado desse projeto.

T: Quem te encarregou?
P: Meu chefe. Eu estava na frente desse projeto. E eu cheguei a um
protótipo, antes de mandar para o setor de teste. Mas no dia que eu tinha
que apresentar, estava tudo pronto, mas cheguei lá na sala, onde estavam
meus colegas. Eu até comecei a apresentar. Mas quando meu chefe
entrou na sala, comecei a me sentir trêmulo, achei que não tinha ficado
bom o suficiente.

T: Considerando essas sensações, o que mais você sentiu mudar no seu


corpo?

P: Além do tremor, comecei a gaguejar porque minha respiração ficou


alterada, comecei a suar, o coração disparou como se estivesse saindo do
meu peito. Essas foram as mais fortes.

T: De 0 a 100, considerando as reações que você já teve na vida, essa


ansiedade está em que posição, nesse contexto?

P: Eu daria 90.

T: Tá, perceba que eu registrei aqui, fazer uma apresentação de trabalho


para seu chefe e colegas. Pelo que você disse, posso até registrar como
uma ansiedade desempenho perante figuras de autoridade, referindo ao
chefe. Ok?
P: Isso.

T: Agora, imagine você lá no momento da apresentação, que pensamentos


passaram pela sua cabeça? Principalmente diante do seu chefe.

P: Vão me criticar. Não está bom o suficiente. Devia ter pedido mais
tempo de preparo. Não quero mais estar a frente de um projeto. É muita
responsabilidade.

T: Aprofundando mais esses pensamentos, se não estivesse bom o


suficiente, o que isso significa?

P: Significa que as pessoas não deveriam me dar atenção, eu não mereço


a atenção delas.

T: De alguma maneira isso revela necessidades. Parece que você


interpretou como se perdesse o respeito e admiração. Faz sentido?

P: Sim. Achei até que seria demitido. Mas no fundo gostaria de me sentir
bem, ser escutado e saber que gostaram do meu trabalho.

T: O que precisaria acontecer nesse contexto para você entender que


você está sendo admirado e respeitado?
P: Você falando eu percebo que eu já vou com muita expectativa de ser
elogiado. Enquanto eu estou só eu e o computador, programando o
projeto, fico imaginando o dia da apresentação e elogios que poderia
receber da empresa e do contratante.

T: Então poderia dizer que suas necessidades nesse contexto são receber
atenção das pessoas, ser elogiado e credibilizado por elas; e, ao mesmo
tempo, evitar críticas?

P: Exatamente isso.

T: Perfeito. Então você queria atender essas necessidades, mas foi


inundado por esses pensamentos e ficou ali com essa ansiedade te
travando e perturbando. Então como você lidou com essa situação? O que
você fez lá?

P: Eu estava apresentando a primeira parte do projeto. Eram 4 partes. Eu


terminei a apresentação da primeira parte, para não interromper no meio
e ficar feio. Mas aí eu disse que as outras partes precisavam de alguns
ajustes e que depois passaria para todos. Disse isso para terminar logo a
apresentação.
T: Então você está dizendo que terminou com sofrimento a parte que você
precisava concluir e as demais você se esquivou delas com uma desculpa.

P: Porque depois eu tenho que eliminar essa apresentação. Depois eu


procuro meu coordenador, mostro tudo, ele aprova e passa adiante logo.

T: Foi comum na sua vida você delegar? Explica para alguém para essa
pessoa explicar para outra. Mas no final das contas era você quem tinha
de abordar de forma direta a explicação com o destinatário.

P: Exatamente. Já fiquei muito triste com isso. Às vezes a pessoa nem me


citava e eu perdia o mérito da ideia.

T: Imagino que tenha sido bem desagradável. Percebo da forma como


você fala que isso foi te acompanha a bastante tempo.

P: Sim, isso aconteceu várias vezes na escola.

T: Finalizando aqui o exame, o que aconteceu logo depois que você


encerrou a apresentação? Qual efeito você percebe imediatamente?
P: Alívio.

T: Você fica aliviado em curto prazo. Tem outro efeito? Você evita a
crítica também, por exemplo?

P: Também. Como a apresentação fica pendente, eles ficam sem dados


para avaliar tudo.

T: Pedro, podemos identificar aqui uma armadilha. Porque a curto prazo


você evita crítica e sente-se aliviado, mas você nunca se livra dessa
ansiedade.

P: No mesmo dia eu cheguei em casa, chorei e fiquei me cobrando, me


culpando, me punindo de ter feito aquilo.

T: Como fica sua autoestima?

P: Fico muito mal comigo. Me sentindo um incompetente, imaturo.


Tecnicamente eu sei que fiz um bom trabalho, mas emocionalmente fico
travado.
T: Olha, chegamos a um bom panorama desse cenário. Vou te mostrar o
que você vai precisar observar com mais atenção. Lembrando que fazer
terapia é fazer uma ciência de si. Nós localizamos um contexto específico
que te gera ansiedade. É sempre importante analisar o contexto. Agora,
por exemplo, você está se sentindo ansioso?

P: Não. Estou bem.


T: Então nenhum pensamento te invade, não tem nenhum incômodo aqui,
não está querendo fugir de nada. Veja que os comportamentos não
ocorrem a todo tempo em qualquer lugar. Aqui você está tranquilo, se
expressando bem, espontaneamente. Mas nesse contexto de trabalho
você não conseguiu ter essa espontaneidade. Vejamos então as
vulnerabilidades dessa experiência. Um contexto de desempenho e
autoridade parece ativar essa ansiedade; também há necessidades a
atender, que deixam uma expectativa; há pensamentos que te inundam lá
na hora. E a gente se comporta de acordo com nossa história até ali.
Então ainda nessa sessão vou examinar com você o que do passado pode
estar relacionado a essa ansiedade. Porque você não nasceu se
comportando assim. As experiências vão formando certos gatilhos e
formar de reagir a eles. Faz sentindo até aqui?

P: Faz.

T: Ok. Esse exame que fizemos juntos, você poderá fazer em qualquer
lugar. Vou deixar esse formulário em branco com você para te guiar. Isso
é uma habilidade que você vai dominando quanto mais pratica. Mas vamos
pausar aqui para pensar no seu passado.
ALERTA: MUITOS PROFISSIONAIS FALHAM OU DEIXAM A DESEJAR NESSA
CONDUÇÃO PORQUE CONHECEM OS PRINCÍPIOS DA ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO, MAS NÃO CONHECEM OS PARÂMETROS PARA AVALIAR
A EXPERIÊNCIA HUMANA.

Os princípios explicam, os parâmetros avaliam.

Por exemplo, sabem que existem necessidades estabelecendo algum


reforçado como importante, esse o conceito de "operações
estabelecedoras"; mas não conhecem a lista de necessidades que um ser
humano pode ter, como necessidade de ser notado, admirado,
compreendido, apoiado, independente, realizado, cuidado e protegido.

Portanto, isso dificulta identificar ou levantar hipóteses sobre a


composição da experiência do paciente.

Outro exemplo, o profissional pode saber que os pensamentos podem


afetar negativamente uma experiência, mas não conhecem a lista de
distorções cognitivas, como filtro mental, catastrofização, personalização,
pensamento polarizado e leitura mental.
AÇÃO 3 - ATIVAÇÃO

⦁ O terapeuta buscará origens relacionadas à queixa.

⦁ Para favorecer essa ativação mnemônica, o terapeuta interroga ludicamente e


focalizando a variável emocional.

⦁ Para integrar a historicidade da pessoa e suas experiências, o terapeuta pode


usar uma técnica de desfusão identitária.
T: Gostaria de te convidar a fazer um exercício mental. Ok? Para você se
concentrar melhor, feche seus olhos. Faça um esforço de voltar ao
episódio que você me relatou.

Focalize aquela cena da forma mais realista que você puder. Uma imagem
clara daquele episódio.

Imagine disparar as sensações que você teve. Coração disparando,


tremores acontecendo, sua respiração acelerando. Seu corpo todo
ativado, diante do seu chefe.

Seus pensamentos de que "vão me criticar", "ninguém vai gostar", "não


está bom o suficiente", passando pela sua cabeça agora.

E você com uma necessidade de ser elogiado e não ser criticado, mas com
medo de que isso aconteça. Concentre-se então nessa ansiedade, o que
você sentiu.
Aumente o volume desse sentimento. Deixe-o tomar conta do seu interior.

Concentrado nesse sentimento, deixe que a sua mente flutue pelo túnel
da sua história até encontrar uma lembrança, uma cena que esteja
relacionada ao que você viveu como ansiedade.

Alguma cena que tenha algum grau de semelhança com o sentimento que
você teve. O que esse sentimento comunica da sua história? Quando você
chegar lá, confirme com um movimento de cabeça. Isso. Então me conte
que cena é essa, o que está acontecendo, o que você está fazendo, como
estão lidando...

P: Me lembrei de uma cena da escola. Teve um dia, eu tinha uns 7 anos.


Estávamos num festival de talentos. Os alunos iam fazer apresentações.

Alguns iam cantar, fazer teatro, dançar. Eu ia fazer mágica. Todos


estavam reunidos na quadra da escola e as apresentações estava
acontecendo uma atrás da outra.

Chamaram meu nome.


Fui fazer minha mágica usando cartas. Mas eu esqueci os passos.
Comecei a ficar nervoso. Achei que tinham descoberto o segredo do
truque. Comecei a me perder no procedimento.

Ouvi então alguns risos. Alguém gritou que a melhor mágica seria eu
sumir dali, porque eu era péssimo. Aí olhei para minha professora e ela
também estava rindo de mim.

Fiquei constrangido, tremia e gaguejei tentando explicar a mágica. E aí eu


corri da quadra. Fui para um corredor que não tinha ninguém. A
professora veio atrás, mas aquilo acabou com meu dia.

Eu tinha muita expectativa para essa apresentação. Achava que iria ser
impressionante o truque.

T: Além dessa ansiedade, você também ficou triste, chorou?

P: Sim. Chorei, fiquei escondido e desejei sumir mesmo.


T: Tá, quero que você congele essa imagem. Hoje não vamos fazer
nenhuma intervenção nela. Mas você consegue perceber como você
interpretou essa experiência com aquela idade de 7 anos?

O que você podia fazer nesse cenário, aos 7 anos, para lidar melhor essa
dificuldade? Pense em qual era a capacidade daquele menino de 7 anos?

Era um menino que não tinha a obrigação de ter uma experiência vasta
com públicos e saber lidar com todo tipo de imprevisto em
apresentações. Para alguém com 7 anos, ficar nervoso com a própria
falha é razoável?

Pois bem, quero que você considere isso. Mas agora voando pelo túnel do
tempo volte para o presente, deixando esse menino lá no passado, que é o
lugar dele. Volte para o eu adulto no momento presente, aqui no nosso
consultório. Quando você estive pronto, pode abrir os olhos.

P: [abre os olhos].
T: Perfeito. Quero compartilhar uma metáfora para ordenar esses
processos psicológicos que vivenciamos nesse exercício.

Porque você vai aprendendo a distinguir bem os comportamentos


formados na infância, que são próprios da criança, porque é o melhor que
elas podem fazer e não nasceram sabendo lidar com as variáveis do seu
mundo que não podem controlar; e os comportamentos atuais; do adulto
que você é e pode ser, colocando você em pé de igualdade com outras
pessoas.

Porque a criança é pequena e os outros são grandes e dispõem


consequências sobre ela. E isso condiciona reações a certos gatilhos
segundo o que foi vivido lá no passado.

Então vamos fazer uma "desfusão" entre o Pedro adulto e o Pedro menino.

Por isso trouxe uma metáfora. Imagine que dentro de você exista um
ônibus. Nele estão todas as suas versões do passado. Tem um Pedro
criança de 3 anos, de 4, 5, 8, 10, 15; até chegar ao Pedro atual de 30.
As versões do passado estão sentadas nas poltronas dos passageiros. A
versão atual, o Pedro de 30 anos, por sua vez, é o motorista do ônibus,
porque é ela que deve dirigir a vida atual, ela que existe hoje na sua
melhor forma.
Mas às vezes alguma versão anterior se levanta, pega o volante e dirige
ao seu modo. Isso é o problema. Uma criança dirigindo a vida de um
adulto.

Nessa hora a gente acaba agindo de forma infantil, porque essa criança
interior tomou o volante e fez do jeito dela.

P: Muito bom. Por isso que me sinto tão infantil. Parece que eu não sou
um adulto profissional.

T: Isso acontece mesmo com o ser humano. Por isso vamos fazer a
desfusão. Deixando as nossas versões no passado e fortalecendo o seu
eu adulto. Para você se sentir mais enfrentador, firme, convicto,
autoconfiante, assertivo, tolerante. Tudo isso vou te mostrando o
caminho de desenvolvimento, a partir das informações que você relata.
Por isso você precisa alimentar a sessão com esse compartilhamento,
como você fez hoje. Faz sentido?

P: Ótimo. Beleza.

T: Certo. Acho que vamos caminhar bem e ter uma boa parceria nesse
trabalho.

A ESCADA DE CRESCIMENTO DO PSICOTERAPEUTA


Psicoterapeuta
de 4ª
Geração
Avançado
Psicoterapeuta
de 4ª 6º degrau
Geração
Psicoterapeuta
cognitivo
comportamental 5º degrau
tradicional

Terapeuta de 4º degrau
1 coisa só

3º degrau
Acumulador

terapeuta 2º degrau
Eclético

1º degrau
1º degrau: o terapeuta eclético

Para fugir do estudo e da dedicação em trilhar um caminho, esse indivíduo


diz que usa tudo que viu na faculdade, todas as teorias a depender da
situação ou do cliente. Argumenta que cada cliente tem um perfil e então
requer uma técnica diferente. Faz uma "salada" teórica, uma mistura
inconsistente para ajudar as pessoas.

2º degrau: o terapeuta acumulador

Esse identificou uma corrente específica que entendeu ser boa, porém não
se dedica suficientemente. Fica acumulando materiais, mas não lê. Pensa
que estuda só porque segue canais ou assiste alguém falando sobre essa
corrente teórica.
3º degrau: o terapeuta de 1 coisa só

Essa pessoa até pode buscar capacitações ou cursos sobre uma linha
terapêutica, mas ela acaba desenvolvendo uma competência em um
método específico, como a terapia do esquema, a logoterapia ou o
mindfulness. Desenvolve-se em uma terapêutica ou algumas; e tenta tratar
todos os quadros com esses métodos. Pode tratar bem tudo que demanda
essas intervenções, mas sua atuação não é capaz de contemplar uma série
de outras queixas.

4º degrau: o terapeuta cognitivo-comportamental tradicional

Entendeu a consistência, epistemologia e estrutura de terapias orientadas


cientificamente. Busca uma formação em terapia cognitivo-
comportamental, chegando a conhecer suas 3 gerações. Mas fica com as
seguintes lacunas: (1) não sabe sistematicamente quais parâmetros
precisa desenvolver; (2) não sabe realizar um diagnóstico à luz do
histórico formativo, déficits comportamentais e variáveis mantenedoras do
funcionamento psicopatológico; (3) não sabe como integrar coerentemente
as gerações da TCC.
5º degrau: o terapeuta de 4ª geração

É um passo além, dominando o que é necessário para resolver as lacunas


citadas no degrau anterior: tem os critérios de saúde psicológica; domina
parâmetros do que investigar e desenvolver; diagnostica à luz do histórico,
déficits e mantenedores; integra de forma inteligente todo o arsenal de
procedimentos das gerações de TCC.

6º degrau: o terapeuta de 4ª geração avançado


Tem os domínios do anterior e se tornou um expert nisso. Desfrutando de


mais liberdade profissional, pois eleva o valor de suas sessões,
eventualmente monta a própria clínica, não atende por plano de saúde, tem
agenda lotada, divulgação consistente porque se tornou referência de
profissional que entrega resultados. Vive muito bem da psicologia clínica.

NESSE SENTIDO, CONVIDAMOS VOCÊS PROFISSIONAIS A


SUBIREM ESSA ESCADA CONOSCO NESTE ANO!!!

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